CLEMENT FREUD
E L B G R I M
ILUSTRAÇÕES DE NATHÁLIA VALENTE
E L B G R I M
Este livro foi desenvolvido na disciplina de Projeto Específico em Comunicação Visual do Curso de Design da PUC-Rio, de julho a dezembro de 2019. Orientação: Evelyn Grumach Coorientação: Suzana Valladares e Vera Bernardes Projeto gráfico e ilustrações: Nathália Valente
Título original: Grimble Copyright do texto © 1968, 1974, Clement Freud Copyright das ilustrações de Grimble © 1996, Nathália Valente Copyright da edição brasileira © 2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) CLEMENT FREUD Grimble / Clement Freud : ilustrações: Nathália Valente — 1ª edição — São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2019. ISBN: 978-85-66642-24-7 1. Ficção infantojuvenil inglesa. I. Blake, Quentin. II. Soares, Antonio de Macedo. III. Titulo. CDD: 028.5 14-12622 CDU: 087.5
2019 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHAWRCZ S.A Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32 04532-002 — São Paulo — SP — Brasil (11) 3707-3500 www.companhiadasletrinhas.com.br www.blogdasletrinhas.com.br /companhiadasletrinhas @companhiadasletrinhas
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CLEMENT FREUD ILUSTRAÇÕES DE NATHÁLIA VALENTE
Esta é a história de Grimble, um menino de mais ou menos dez anos. Parece incrível dizer que alguém tenha mais ou menos dez anos, mas Grimble era diferente. Seus pais, muito estranhos e geralmente desligados, raramente tinham certeza de alguma coisa. Grimble não tinha um dia certo de aniversário como todas as crianças: de vez em quando, seu pai e sua mãe compravam um bolo, colocavam algumas velas em cima e diziam: — Parabéns, Grimble, hoje você deve estar fazendo mais ou menos sete anos.
Ou: — Ontem você fez mais ou menos oito anos e meio, mas a confeitaria estava fechada. É claro que existem desvantagens em ter pais assim, como, por exemplo, ser chamado Grimble. Isto fazia com que todos sempre perguntassem... — Mas qual é seu verdadeiro nome? ... e ele tivesse que responder: — O meu nome é Grimble mesmo.
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O pai de Grimble era alguma coisa que tinha a ver com viajar, e sua mãe era uma dona de casa que gostava de estar com o marido sempre que possível. E Grimble ia pra escola. Geralmente, quando saía de casa pela manhã, seus pais ainda estavam dormindo e ele encontrava um bilhete no topo da escada: Ainda estamos dormindo. Favor pegar alguns trocados para o seu café da manhã.
Nunca era muito dinheiro, mas dava para Grimble tomar um refresco, comer uns pedaços de bolo e umas fatias de presunto no bar ao lado. Ele mesmo escolhia. Almoçava no colégio. Era a única parte organizada de sua vida. Salsichas com purê de batatas na segunda, terça, quarta, quinta, e carne assada com purê de batata às sextas-feiras. A sobremesa era igual todos os dias: biscorvete de chocolate – uma mistura de biscoito com sorvete de chocolate, que de chocolate não tinha nada. Aliás, isto não era nem sobremesa, pois servia de molho pra tudo.
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SEGUNDA-FEIRA Nossa história começa numa segunda-feira, quando Grimble chegou da escola, abriu a porta e gritou: — Cheguei! Ninguém respondeu. Então começou a procurar mensagens, porque seus pais sempre deixavam mensagens espalhadas pela casa. Nisso – e somente nisso – eles eram bons de verdade. Em cima da mesa da sala de jantar, no globo terrestre, encontrou dois papéis presos. Um, na Inglaterra, escrito “você”, e outro, no Brasil, escrito “nós”. Foi até seu quarto, onde encontrou um bilhete. Então, resolveu ir até o banheiro – e é claro que achou outro bilhete.
e esqueça d e s o Nã n s. os de te escovar
Você vai fazer todos os deveres de casa, não vai? P.S.: Não se esqueça de rezar antes de dormir.
Continuou andando pela casa e entrou na cozinha, onde encontrou mais um bilhete que dizia:
Chá na gel a deira , sanduíches vir a-se. no forno. Di t Pensando em como seus pais eram realmente extraordinários, não se esquecendo de lhe recomendar nada, Grimble chegou à porta dos fundos e viu mais outro bilhete e decidiu fazer uma modificação:
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Leiteiro: Não trag a (muito) leite po r 5 dias. Voltando à cozinha, sentou-se num banquinho e começou a pensar na vida. Cinco dias... cinco dias é muito tempo, muito tempo para qualquer pessoa, especialmente para um menino que nem mesmo tem certeza se está chegando o dia do seu aniversário. Afinal, seu último aniversario já tinha sido há muitas semanas. Grimble pegou um pedaço de papel, multiplicou 5 dias por 24 horas e descobriu que dava mais ou menos 100 horas – na verdade 100 e algumas horas. Decidiu comer, tentando fazer o tempo passar mais depressa. Abriu o forno, que estava cheio de sanduiches e pegou um de rosbife com geleia de damasco. Já estava meio duro, tal como acontece com sanduiches que foram feitos há algum tempo. Acendeu o forno para esquentar os demais e resolveu escrever um poema sobre a sua situação. E o poema ficou assim:
Minha situação: por Grimble mamãe viajaram Papai e chá Deixando sanduiches e ar Eu não consigo encontr Uma palavra para rimar Fim
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Não era um bom poema, e Grimble nem tinha levado muito tempo para escrevê-lo, então abriu a porta da geladeira e encontrou garradas e mais garradas de chá. Resolveu experimentar um pouquinho. O chá estava frio e sem graça. Então, pegou sua bola de futebol, foi para o quintal e treninou pênaltis “de esquerda”. É verdade que Grimble não sabia chutar de direita, mas também é verdade que poucos sabiam disso. Quando queria impressionar seus amigos e dar uma de atleta, dizia: — Venham ver eu chutar pênaltis de esquerda. E isso surtia um ótimo efeito. Depois de marcar cento e sete gols, voltou à cozinha para comer outro sanduíche. Abriu a porta do forno e o que viu era de deixar qualquer um desanimado. Os papéis que envolviam os sanduíches estavam queimados, toda a manteiga tinha escorrido pelas prateleiras do forno e pedacinhos de sanduíches e pasta de amendoim e mel e geléia de damasco, caldo de limão e queijo e rabanetes – tudo boiava na manteiga. Com uma colheirinha, Grimble provou a mistura, e, cá pra nós, até óleo de rícino era melhor. Foi aí que seus olhos deram com outro bilhete preso na parte interna da porta do forno. Estava só um pouquinho escurecido por causa da fumaça dos sanduíches queimados e dizia:
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e emergência vá a: d o m E cas osquito, M o d e r lf A r. S 9 Ru a da Volta, 2 es). (tocar 2 vez
, Sr. Plumitivo 46. e Rua do R tiro,
Tia Percy, e , 1 32 . Rua das Can las ação, Chefe da est Seu Arthur: na estação.
Loja de tortas erliosca. da Madame B
Para a vovó Mirinha, a tia Marlene e a Titá por me apresentarem essa história e nutrirem em mim tanto amor pelos livros. Para a mamãe, por sempre me apoiar, independente com o que seja e da nossa distância física. Para o meu mozão, por aturar todas as minhas crises de humor e ansiedade ao longo do processo. Para Evelyn Grumach, por ser minha orientadora, quem soube lidar comigo com doçura e firmeza durante todo o período. Para Suzana Valladares e Vera Bernardes, por co-orientarem o processo, sabendo que o projeto não seria o mesmo sem vocês. Para Clement, por ter criado esses personagens e esse universo. E por fim, para GRIMBLE, por ter aguentado os cinco dias sem os pais e terem me dado força para lidar com a distância dos meus.
Sou uma homenagem aos 50 anos de lançamento da minha primeira edição!!!! Fui produzido no verão de 2019 com a gráfica Trio Studio e impresso em papel offset alta alvura 120g, usando um mix de famílias tipográficas. Espero que tenha sido uma boa leitura!
GRIMBL
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Essa é a história de Gr im ble, um menino de mais ou menos dez anos. Pa rece incrível dizer que alguém tem mais ou menos de z anos, mas Gr im ble é diferente. Seus pais são inconsta ntes, imprevisíveis e ex cêntricos. Nem uma data de anive rsário fixa Gr im ble te m. Um dia, o menino acor da e co meça a encont rar bilhetes dos pais, um deles o avisando que tin ham ido para o Brasil. E agora? Tu do que ele po de faze r é se aventurar co m os cinc o en dereços que tem para ir em caso de uma emer gência.
ISBN: 978-85-66642-24-7
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