12 | Reportagem |
21 a 27 de outubro de 2015 | www.arquisp.org.br
Protagonistas ou coadjuvantes? Os idosos, que representam mais de 12% da população brasileira, têm muito a contribuir, mas nem sempre lhes é dado o espaço necessário Nayá Fernandes
nayafernandes@gmail.com
A experiência torna-se, cada dia mais, pré-requisito para muitas empresas na hora de contratar um novo funcionário. Mas e a experiência da vida? Pode-se dizer que tem sido igualmente considerada? Nem sempre valorizada é a experiência acumulada pelos anos, que marca a história de grande parte da população brasileira. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, apontaram um crescimento do número de pessoas acima dos 60 anos, passando de 12,6%, em 2012, para 13%, em 2013. Lygia Benvenuti nasceu nos anos 1950 na cidade de São Paulo. É voluntária na Associação Helena Piccardi de Andrade Silva (AHPAS), entidade sem fins lucrativos, destinada a oferecer acesso ao tratamento e apoio sociofamiliar a crianças e adolescentes com câncer, na capital paulista. “Nessa associação, participo do Grupo de Estudos Saudar, que se reúne para encontrar novas maneiras de beneficiar os atendidos da AHPAS”. Ela realiza palestras, conferências e debates voltados ao tema do envelhecimento. A entrevista, concedida ao jornal O SÃO PAULO, foi realizada por intermédio do Facebook, rede social na qual ela criou uma página intitulada “Vital Idade”, com propostas que promovam qualidade de vida às pessoas acima dos 60 anos. “O processo de envelhecimento humano sempre foi meu foco de interesse pessoal e profissional. Não tenho dificuldade com o acesso ao mundo virtual, mas reconheço que isso não acontece com a maioria dos idosos. Muitos não possuem condições de adquirir um equipamento e os que têm não conseguem utilizá-lo por falta de conhecimento. Estudos
comprovam que os idosos que acessam as redes sociais conseguem se socializar melhor e afastar o fantasma da depressão”, afirmou Lygia. A vida dessa paulistana cheia de entusiasmo e histórias para contar confirma a experiência de Seonio Lima, gestor de enfermagem do Bloco Cirúrgico Hospital IGESP. Para ele, o protagonismo pode ser verificado quando o idoso tem acesso à comunicação e à internet e procura manter relacionamentos sociais e projetos. “O envelhecimento é um fenômeno social e não impede a pessoa de contri-
com infraestrutura, lazer de qualidade e que gerem integração, transporte público adequado e assim, passam por situações constrangedoras e desrespeitosas”. Ele acredita que reeducar a sociedade é o caminho. “Com o respeito à frente, nenhum idoso se sentiria incapaz de algo e tudo seria tolerado ou discutido da melhor forma. Assim, evitaríamos humilhações e frustrações”, ressaltou Anésio.
buir para mudar o patamar econômico, inclusive no orçamento familiar. Sabemos que o idoso é o protagonista dentro de muitas famílias com poder aquisitivo baixo”, disse. Por outro lado, Anésio Lima Neto, psicólogo e diretor do Residencial Jardim do Carmo para a Terceira Idade, percebe que “o idoso tem hoje um papel de coadjuvante, sobretudo os das classes ‘C’ e ‘D’”. “Eles não conseguem bom atendimento em locais
muitos casos, a maioria. Atuam nas pastorais e atividades litúrgicas, nos encontros e ritos dominicais. Maria Garcia Parreiras, 71, mora há 43 anos no bairro da Freguesia do Ó e participa da Paróquia Nossa Senhora da Expectação, desde 1987. No grupo de canto, na preparação de eventos ou da festa Divino Espírito Santo, na equipe do dízimo e em outros serviços, ela está sempre presente. Motivada pela fé vivida na cotidianidade, Maria fez muitos amigos
Sempre é tempo de missão Nas comunidades grandes e pequenas da Igreja Católica eles são, em
durantes esses anos e se sente acolhida por todos, inclusive pelos jovens. “Ajudo no que posso, mas tenho a certeza de que não sou insubstituível. Porém, o que seria das comunidades se não fossem os idosos?”, pergunta. Contudo, ainda há muito a ser feito. Como padre e psicoterapeuta no Espaço Terapêutico Vivares, localizado na zona Leste da cidade de São Paulo, Cyzo Assis Lima fica impressionado ao ouvir alguns relatos: “Estou velho e não tenho nenhum sentimento de utilidade, pois já fiz o que tinha que fazer” de uma pessoa que só tem 67 anos; ou “Quando jovem você é dono do seu próprio nariz e quando velho não é dono nem mesmo do seu corpo. Até sua própria casa já não lhe pertence mais”, de uma senhora aos 73 anos. “É chocante que no Brasil, culturalmente falando, se associe velhice com enfermidade. Esta visão é responsável por tratar milhares de idosos como pessoas condenadas a caminharem para o óbito, quando se poderia viver anos ou décadas com sentido e alergia. O idoso é visto como alguém com um projeto de vida acabado e, às vezes, aceita passivamente e acriticamente a ideia de que seu mundo ficou limitado, pequeno, controlado”, lamentou. Ele afirmou que, devido a essa realidade, muitos adoecem, acabam tendo um acentuado consumo do álcool ou passam horas em frente à televisão. “Eu os vejo como pessoas com a ‘síndrome do tatu’. Existem os fatores sociais, econômicos etc, mas um grande fator é a falta de humanidade e amor”, continuou. Na Bíblia, há um personagem citado uma única vez, Simeão, mas em quem esse protagonismo pode ser identificado de maneira decisiva. O evangelista Lucas, no capítulo dois, reserva a ele um ministério cheio de significado. É Simeão quem toma Jesus nos braços, quando ele tinha 8 dias de nascimento, e bendiz a Deus. Considerado justo e piedoso, a missão de Simeão é uma profecia que ele comunica à Maria e José e, após a qual ele pode partir em paz. Durante toda a vida, ele esperou por este momento e sua trajetória foi uma oferta a Deus, coroada pela bem-aventurança de ver a salvação na encarnação de Jesus Cristo.