O que cada um pode fazer pelo ambiente

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Campanha da

| 22 a 28 de março de 2017 | www.arquisp.org.br

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biomas brasileiros e defesa da vida

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Práticas simples e cotidianas podem mudar, para melhor, a cidade Nayá Fernandes

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nayafernandes@gmail.com

iver na metrópole é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade para ser protagonista de ações que podem contribuir para o crescimento pessoal e coletivo. A Campanha da Fraternidade de 2017, ao abordar os biomas brasileiros, é um momento importante para a reflexão sobre o que cada um pode fazer para preservar o ecossistema presente nos grandes centros urbanos, onde os biomas originários estão, em grande parte, extintos. Na capital do Estado de São Paulo, a Mata Atlântica, principal bioma da região Sudeste, deu lugar à uma cidade plural, onde existem muitas iniciativas de grupos e comunidades que versam sobre a preservação da natureza. Questões como a falta de água ou a poluição dos rios e mesmo do ar podem ser amenizadas com a ação de uma sociedade participativa e consciente do seu papel. É possível incorporar no dia a dia atitudes que podem fazer a diferença quando o assunto é preservação do meio ambiente e, por consequência, melhor qualidade de vida para todos.

‘Planeta água’

Em 22 de março se comemora o Dia Mundial das Águas. O artigo 3 º da Declaração dos Direitos do Homem afirma que “a água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela,

não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano”. Por outro lado, situações como excesso de chuvas e enchentes são problemas enfrentados constantemente pelos moradores de grandes centros urbanos. E, falando em águas, como seria se a população paulistana pudesse desfrutar das orlas dos rios Tietê e Pinheiros também para o lazer? A despoluição dos rios é um tema que toca a todos, pois moradores e visitantes de São Paulo, em sua maioria quase absoluta, já passaram por suas marginais. Sueli Furlan, doutora em Geografia Física pela USP, defende que seria muito positivo “termos rios vivos em nossa cidade, como em muitas outras grandes cidades do mundo”. Ela ressaltou que o lazer poderia ser muito mais agradável numa cidade onde as águas dos rios são limpas. Além disso, “as pessoas gostam de apreciar e ficar perto dos rios. Muitos poetas cantaram sobre os rios. No rio Tamanduateí existiu a ‘Ilha dos Amores’. Não é poético?”, considerou em entrevista ao O SÃO PAULO. Sobre a falta d’água que afetou diretamente a capital nos últimos anos, Sueli afirmou que há vários fatores envolvidos, e seria errado afirmar que o clima é o único culpado. “Há muita água em nossa região. Estamos na maior metrópole do trópico úmido. É região de cabeceiras de drenagem, mas a intensa descaracterização dos rios mudou

toda a paisagem hídrica do planalto. Ocorre que o principal problema é a degradação da cobertura florestal no entorno dos reservatórios e matas ciliares e, de outra parte, a poluição por esgoto dos rios e da represa Billings” explicou. Atitudes simples, como deixar um espaço com terra e grama em

casa ao projetar uma construção, ou permitir que a árvore não seja cortada apenas por causa de reclamações da vizinhança, são ações que contribuem significativamente para o abastecimento de água na cidade. Isso porque a penetração das águas das chuvas no solo é um dos aspectos essenciais para manter cheios os

reservatórios de água, como explicou Mariano Caccia, doutor em Geografia Física pela USP e professor da Unesp. Ele analisou a questão da falta d’água em três aspectos: demanda, disponibilidade e distribuição. “A população, assim como as atividades do setor produtivo, crescem e necessitam de volumes cada

vez maiores de água. Além disso, o crescimento do acesso ao consumo verificado nos últimos anos também elevou o volume de água consumido na região metropolitana”, recordou. Por outro lado, Mariano avaliou que a quantidade de água disponível para tratamento e abastecimento público depende, primeiFotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

ramente, de dois aspectos naturais: a quantidade de chuvas e a área de captação dessas águas para armazenagem e utilização. “Ocorre que, para que tenhamos água disponível em maior quantidade e melhor qualidade, certos aspectos da cobertura do solo devem ser observados. Por exemplo, a contínua impermeabilização do solo impede que parcela considerável das águas das chuvas infiltrem, limitando a recarga dos aquíferos de subsuperfície. Assim, essas águas que abasteceriam as nascentes e olhos d’água que mantêm o fluxo dos rios com pequena oscilação ao longo do ano, secam durante as estiagens. Dessa forma, a reposição dos estoques de água armazenada passa a depender quase que exclusivamente da ocorrência frequente de episódios de chuvas. Portanto, a manutenção e preservação da vegetação e da permeabilidade do solo em áreas de mananciais é fundamental para a disponibilidade hídrica”, enfatizou Mariano.

E o Tietê, pode reviver?

Mariano Caccia também fez parte da equipe multidisciplinar que elaborou o Plano de Manejo da APA (Área de Proteção Ambiental) da várzea do rio Tietê. A equipe contou com professores e pesquisadores de diversos departamentos da USP e técnicos da Fundação Florestal de São Paulo, e realizou leituras, levantamentos, trabalhos de campo, análises e correlações. “O plano procurou impor limitações

à degradação dos últimos e importantes ecossistemas ainda existentes no alto curso do rio Tietê e seus afluentes, considerando não apenas a sua importância ecológica, mas também seu papel no sentido de garantir quantidade e qualidade da água para abastecimento público, o Sistema Alto Tietê”, explicou. Ele insistiu também que um aspecto “de suma importância é o papel que as várzeas, ou seja, os terrenos cultiváveis nas margens dos rios, desempenham enquanto área de contenção de águas durante a ocorrência de chuvas intensas, reduzindo os efeitos e os impactos das frequentes inundações que ocorrem a cada verão na cidade de São Paulo e municípios vizinhos”. Tais enchentes acontecem também devido à grande quantidade de lixo jogada nas ruas, o que causa o entupimento dos bueiros, responsáveis pelo escoamento das águas das chuvas. Além disso, o lixo gerado é levado pelas enxurradas e contribui ainda mais para elevar o volume das águas. O professor disse não ter dúvidas sobre a possibilidade de o Tietê ser um rio totalmente despoluído. “Sabemos quais são os problemas, e temos tecnologia e conhecimento para a tarefa. Os demais aspectos para viabilizar essa revitalização são: recursos e vontade política”, concluiu Mariano. Ele lembrou ainda que o projeto de despoluição do rio existe desde 1992 e, portanto, completa 25 anos sem resultados significativos.

9 ações que você pode fazer para preservar o meio ambiente na metrópole Nem tudo é responsabilidade do cidadão. Mas ele pode contribuir e muito. Iniciativas como separar o lixo para coleta seletiva ou iniciar uma atividade de jardins suspensos e hortas urbanas são práticas simples e que precisam ser cada vez mais

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Deixe o carro na garagem, caminhe, reveze carona, vá de bicicleta e, sempre que possível, utilize o transporte público – Os gazes e partículas liberados pela queima de combustíveis são um dos principais motivos da poluição do ar;

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Separe o lixo para reciclagem – Assim você ajuda a diminuir a quantidade de plásticos e outros materiais que não se decompõem com facilidade na natureza;

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Cuide bem do seu lixo – O lixo acumulado nas ruas é um grande problema ambiental, contribui para a proliferação de pragas e insetos e entope os bueiros em caso de chuvas. Em São Paulo são gerados 15 mil toneladas de lixo por dia, o que corresponde a 3.750 caminhões carregados diariamente;

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ampliadas. Tais hábitos geram resultados diretos e colaboram para a educação ambiental da população, mas sozinhos não são suficientes. De acordo com a avaliação de Mariano, “mudar essa realidade passa, necessariamente, por uma revisão de nos-

Economize água (sempre!) – Seja na hora do banho ou de escovar os dentes, ou ao optar por lavar o carro utilizando um balde e não a mangueira;

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sos hábitos de consumo, pelo despertar de nossas responsabilidades e de nossa cidadania, e por uma concepção de sociedade mais coletiva”. Sueli, por sua vez, considerou que todas as iniciativas que melhoram a qualidade do ambiente são importantes.

Reserve um pedaço de terra ou jardim ao projetar uma construção – A terra proporciona a penetração das águas das chuvas, que mantêm os lençóis freáticos;

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“Destaco as hortas urbanas que estão proliferando na cidade e cumprem a função ambiental e social, pois algumas seguem os princípios da agroecologia, que entre outros aspectos prega a alimentação sem venenos.”

Abra a janela e aproveite a luz do sol – Evite ao máximo desperdiçar energia elétrica, aproveitando a luz do sol e desligando aparelhos eletrônicos quando não estiverem sendo utilizados;

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Plante um ou vários vasos em casa – Se não for possível participar de projetos comunitários de horta urbana, por exemplo, cultive em casa vasos com hortaliças, como cebolinha ou manjericão;

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Não jogue óleo de cozinha ou lubrificantes na rede de esgoto – A ação pode provocar o entupimento do encanamento da casa e contaminar os rios. Estima-se que um único litro de óleo contamina cerca de um milhão de litros de água;

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Plante um jardim vertical em seu prédio ou casa – Esse tipo de iniciativa, além de contribuir com a despoluição do ar, torna a cidade esteticamente mais bonita.


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