Sabado nº 612

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NOCARROCOM MARCELO AFALARDODÉFICEEDETUDO

HelenaIsabel,aos64anos,ementrevistadevida

“ATÉTENHOPERNASPARACALÇÕES

MASTENHOPAVORAORIDÍCULO”

+

www.sabado.pt

Orlando da Costa e os filhos António (aqui com 16 anos) e Ricardo (9), na viagem a Margão, Goa, em 1978

N.º 612 – 21 A 27

DE JA NEIRO DE 2016 – €3 (CONT.)

A VIDA INCRÍVEL DO PAI DE RICARDO EANTÓNIO COSTA Poeta, comunista, publicitário e boémio, foi preso pela PIDE e passou aos filhos a paixão pela política. Mas hoje há uma muralha entre os irmãos. Orlando da Costa morreu há 10 anos

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EDIÇÃO

PRIMEIRO LIVRO ESGOTOU, 2.ª EDIÇÃ O JÁ NAS BANCAS

A MINHA LUTA, DE HITLER: SEGU NDO VOLUME COM COMENTÁRIO CRÍTICO, POR APENAS €2,90



Sumário

21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

Entrevista Abdullah Anas Ex-guerrilheiro afegão agora dá conferências

Dinheiro

Destaque Família Orlando da Costa e os filhos António e Ricardo

D.R.

QUEM É A PRIMEIRA MULHER A MANDAR NO FISCO EM PORTUGAL?

44 48 52 54 56

Mundo Terrorismo As vítimas portuguesas de ataques jihadistas

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Helena Borges (ao centro na foto) nunca deu uma entrevista e foge de fotógrafos. Vai ao Parlamento explicar os impostos dos mais ricos

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Os refúgios da Estrela Onde ficar, onde comer, o que comprar, o que ver: sugestões fantásticas para ir ver a serra da Estrela coberta de neve. Atenção a O Renascido nos cinemas e a Ficheiros Secretos de volta na TV.

ORLANDO, RICARDO, ANTÓNIO: OS COSTA A história do poeta e publicitário pai do primeiro-ministro e do director do Expresso Capa: Fotomontagem a partir de imagem do Espólio Orlando da Costa, Museu do Neo-realismo

Dinheiro Perfil Helena Borges, a mulher que manda no Fisco

60

Segurança Espiões Revelações explosivas do ex-presidente do IRN

62

Entrevista Poluição Livro Cinema Tendência

GPS

Sociedade Helena Isabel, actriz, 64 anos – e mãe de Agir 66 O ataque ao ambiente começou na Antiguidade 72 Espiritismo e homeopatia na História de Portugal 73 A Rapariga Dinamarquesa vista por um transexual 74 O primeiro talho vegan dos EUA 77

Família Viagem Três meses na Ásia com uma miúda de 2 anos

78

Desporto FC Porto José Peseiro, um benfiquista no Porto 80 AndreaBugnone Um esquiador português nos Olímpicos jovens 82 Artes Centenário Vergílio Ferreira não gostava de ser professor

83

Social Playboy Mansão das coelhinhas está degradada e à venda 86 Opinião

E mais... 4 8 12 13

Bastidores Editorial Do Leitor A Abrir

14 19 26 61

Nuno Costa Santos Pedro Marta Santos Obituários Helena Garrido

65 Eduardo Dâmaso 79 Dulce Garcia 88 Alexandre Pais

José Pacheco Pereira 10

Nuno Rogeiro 32

Alberto Gonçalves 90

www.sabado.pt Saúde

+ LIDAS

O trabalho pode estar a matá-lo

11 A 17 DE JANEIRO

Respirar ar reciclado, comer snacks à secretária, estar horas sentado... Por estas e por outras é que o escritório é um perigo.

01.DICAPRIOEXPLICASUSTO COM LADYGAGA Reacçãoao

Relações

na passadeira vermelha

Razões estranhas para se apaixonar Os cheiros, o animal de estimação, o olhar...

vídeoviral doGlobodeOuro

02. OS PIORES VESTIDOS DO GLOBO DE OURO Erros ALEXANDRE AZEVEDO

ARQUIVO DE RICARDO COSTA

Destaque

34

Portugal Na estrada com Marcelo Rebelo de Sousa Marcelo: “Não sou um candidato desnatado” Tino de Rans fala sobre o futuro da nação O estilo de liderança de Assunção Cristas As várias faces do ex-presidente do PS

Presidenciais Entrevista Curiosidades CDS Almeida Santos

60

28

OoperárioJosé deGuimarães:“Trabalhodas8hàs20h”

03. A MANTEIGA FAZ MESMO MUITO MAL? Talvez não

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Do director

21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

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BASTIDORES

Orlando, o pai de Babush e Babuló Costa

No dia de fecho da edição, António Costa ligou ao autor do artigo várias vezes, aproveitando curtos intervalos da visita oficial que estava a fazer a Cabo Verde, para falar do pai. Ricardo Costa autorizou a cedência das fotografias do processo da PIDE

á 10 anos assinei na SÁBADO o obituário de Orlando da Costa. E contei, numa página, a história do “da” que por sua vontade os filhos António e Ricardo Costa também têm mas não usam a separar o nome do apelido. Resuma-a agora: as duas letras queria-as Orlando da Costa com o propósito político de distinguir a sua família da de Santos Costa, ministro do Exército de António de Oliveira Salazar. Uma década depois da sua morte, a SÁBADO volta a este homem, hoje

H

RICARDO PEREIRA

Rui Hortelão 4

Os bombeiros que salvaram a equipa do GPS (esq.ª para a dir.ª): João Rodrigues, Daniel Almeida, Emanuel Costa, José Cabeças e Hélder Cantarinha

!

B 2a

EDIÇÃO

B O candidato quis tirar uma fotografia tipo passe numa loja nas Caldas da Rainha

Director

g

SÁBADOconduzidaporMarcelo Para encerrar a cobertura que a SÁBADO fez, nas últimas semanas, da corrida para Belém só faltava privar com Marcelo Rebelo de Sousa. O professor colaborou e, além de muitos episódios de campanha, o jornalista Vítor Matos entrevistou-o durante uma viagem de carro em que o próprio ia a conduzir. Uma entrevista e uma reportagem diferente, para ler nas págs. 44 a 51.

g

B

Na terça-feira, 19, dia de fecho da edição, o próprio António Costa ligou ao autor do artigo várias vezes, aproveitando curtos intervalos da visita oficial que estava a fazer a Cabo Verde, entre a ida à assembleia nacional e a audiência com o Presidente cabo-verdiano, para falar do pai. Um homem que tem uma história de vida incrível, para ler nas págs. 34 a 42.

com muito maior profundidade, porque além de poeta perseguido e publicitário, Orlando da Costa é pai do primeiro-ministro em funções e do actual director do Expresso. Os choques entre os dois irmãos também estão contados, mas a investigação de Pedro Jorge Castro começou nos arquivos. Foi lá que descobriu que o espólio de Orlando da Costa tinha sido doado ao Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, onde acabou surpreendido com cinco caixas com desconhecidas e muito interessantes fotografias nunca antes publicadas. Muitas delas pode vê-las nesta edição, bem como – graças à autorização que Ricardo Costa deu à Torre do Tombo– as que a PIDE lhe tirou quando o prendeu.

Jornalistas salvos da neve A equipa do GPS ia atravessar a serra da Estrela e escolheu o caminho mais rápido, pela Torre, num trajecto que poupa quase duas horas ao que a contorna. A meio da subida o tempo começou a mudar. A partir dos 1.400 metros a neve caía, era já noite e a visibilidade cada vez menor. Na Torre nem a estrada se via, entre o branco da neve e do nevoeiro. Tudo para levar aos leitores o que de melhor há para fazer na serra da Estrela. A solução foi ligar ao 112, que encaminhou o problema para o 117. Os jornalistas da SÁBADO/GPS eram os únicos no topo da montanha e a estrada tinha acabado de ser fechada. Valeu-lhes os bombeiros, que apareceram em 10 minutos. A eles o nosso obrigado! W

1.ºvolume esgotado ereeditado A edição do Mein Kampfsuperou as melhores expectativas. Muitos não conseguiram o livro, o que em menos de 48h nos levou a avançar para uma segunda edição do primeiro volume, que assim chega às bancas ao mesmo tempo que o segundo livro. Ambos foram traduzidos do alemão por Maria Lin de Sousa Moniz, doutorada em Estudos de Tradução, pela Universidade de Lisboa, e contam com comentários e notas do historiador D. C. Watt.


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Opinião

EDITORIAL Ficou provado que quantidade não quer dizer qualidade e que mais ideias nem sempre implica melhores ideias. E é dessas, e da capacidade de as pôr em prática que, após dois mandatos como os de Cavaco Silva, Portugal precisa urgentemente

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21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

E

Presidente não é salvador. E o BdP não salvanada ortugal volta às urnas no domingo para eleger o novo Presidente da República. Será mais um teste à saúde da nossa democracia, em geral, e à novidade de estarem a votação tantos candidatos, em particular. Será um teste à mobilização da maioria de eleitores de esquerda que suporta o Governo e aos de direita, porque não garantir a vitória à primeira volta pode colocar Marcelo Rebelo de Sousa em risco. Da primeira linha da campanha eleitoral, pouco mais fica do que a divisão anunciada do Partido Socialista – agudizada nos últimos dias pelos apoiantes de Maria de Belém e de Sampaio da Nóvoa – e a passividade táctica de Marcelo Rebelo de Sousa. Num segundo grupo, destacou-se a assertividade de Henrique Neto e as cassetes repetitivas de Marisa Matias, Edgar Silva e Paulo Morais. Os restantes candidatos evitaram, muitas vezes, que a campanha caísse num bocejo, mas trouxeram pouco de novo e, em alguns momentos, mostraram não estar à altura de uma candidatura presidencial quanto mais à do exercício de uma função de responsabilidade como a de Presidente da República. Ficou, assim, provado que quantidade não quer dizer qualidade e que a pluralidade de ideias nem sempre acrescenta mais ideias. Muito menos melhores. E é dessas, e acima de tudo da capacidade de as pôr em prática que, depois de dois mandatos como os de Cavaco Silva, Portugal precisa urgentemente. É fundamental romper com o passado, deixar de falar de “sistemas” e “pântanos”, deixar de repetir queixas vagas e cortar com a dependência patológica do Estado. É preciso criar condições para que o mérito individual que muitos portugueses já fize-

P

ram valer entre os melhores do mundo contagie o colectivo. É preciso acreditar que se temos hoje no activo, com reconhecimento internacional, dos melhores gestores (António Horta Osório e António Mexia), dos melhores arquitectos (Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura), dos melhores cientistas (António Damásio), dos melhores treinadores (José Mourinho), dos melhores futebolistas (Cristiano Ronaldo), das melhores modelos (Sara Sampaio) e até das melhores cidades (Lisboa e Porto), etc., não há razão para nos conformarmos com o País que temos sido colectivamente, para continuarmos todos juntos à espera que alguém nos salve da mediocridade, do pessimismo, das conveniências mesquinhas e da falta de ambição. Seja um Presidente da República ou da Comissão Europeia.

E Ninguémsabe de nadado BES Há muito que se percebeu que o Banco de Portugal (BdP) falhou na regulação do Banco Espírito Santo (BES), que no mínimo houve excessiva tolerância. E apesar de a solução encontrada para o banco ter sido a menos má que era possível à data e nas condições da resolução, é também evidente que a gestão subsequente do processo foi mal conduzida. Mesmo os mais crentes, se é que ainda resta algum, não têm vida fácil para manter a fé no governadorCarlos Costa, quando depois de anos a seguir de perto o BES se reconhece que, afinal, nem os problemas do banco se conheciam ao certo. Por mais incrível que pareça, é isto que o BdP assume na deliberação de 29 de Dezembro de 2015, divulgada a semana passada. “O Banco de Portugal prevê que o Novo Banco possa ter de vir a reconhecer imparidades e ajustamentos negativos adicionais nas suas contas anuais reportadas ao exercício de 2015” porque “o nível real de prejuízos do BES a 3 de Agosto de 2014 não foi integralmente absorvido pelos accionistas e credores do BES, tendo o nível de passivos transferido para o Novo Banco (…) sido excessivo, atendendo ao valor real dos activos correspondentes transferidos para o Novo Banco”. W



Opinião

ALAGARTIXA E O JACARÉ É uma lição para a esquerda portuguesa que o político português mais genuinamente irreverente seja da “esquerda da direita”, essa fórmula que traduz a distância real de Marcelo com um PSD que desata a salivar quando ouve algumas palavras

O Professor

José Pacheco Pereira 10

O

Lagartixa presidencial Marcelo Marcelo é Marcelo, não tem termo de comparação. Nele se juntam algumas qualidades que são raras e muitos defeitos bastante comuns. A dificuldade é saber até que ponto, se for eleito Presidente, pesarão mais as qualidades ou os defeitos. Não sei responder à minha própria pergunta, quando muito será um mix. Elegê-lo, ainda por cima com uma campanha como a que está a fazer, é por isso um risco, mas isso não chega como argumento para não votar nele. Marcelo não se leva a si próprio muito a sério, o que o coloca logo a uma enorme distância dos outros candidatos que se levam todos muito a sério. É uma virtude ou é um defeito? Na vida política portuguesa é uma enorme virtude, cheia que está de pomposidade, de salamaleques, de hipocrisia e falta de imaginação e medo da inovação. É uma lição para a esquerda portuguesa que o político português mais genuinamente irreverente seja da “esquerda da direita”, essa fórmula que traduz a distância real de Marcelo com um PSD que desata a salivar quando ouve algumas palavras. A candidatura de Marcelo tem uma forte motivação adversarial: é uma candidatura contra Passos Coelho. Esqueçam-se disso e não a entendem. Passos Coelho chamou-lhe um cata-vento com o expresso objectivo de não lhe permitir qualquer veleidade para se candidatar. Marcelo gere habilmente amores e ódios, silêncios e falas, princípios e oportunidades, posições e contraposições, não é de fiar, mas a gente sabe que ele não é de fiar e ele próprio também sabe que não é. Fará um esforço para mudar? Talvez ele sinta que deve ao País, mais do que sua candidatura, esse esforço de ser, na sua maturidade, diferente para melhor. Muitos portugueses lhe vão dar essa oportunidade, como deram a Cavaco Silva, por razões opostas. Cavaco era

respeitado e temido, Marcelo não é uma coisa nem outra, é estimado e aparece como um hiato no cansaço geral da política portuguesa. Mas, a lição de Cavaco Silva, ele deve-a ter sempre presente: se Marcelo fizer uma presidência diferente da que promete cairá ainda mais de cima do que Cavaco Silva. A candidatura de Marcelo é bastante solitária, e mesmo que ele tenha multidões na rua, ele “sente-a” como solitária e isso é bom, porque o espelho a que se vai ver na sua solidão não vai ser amável para ele. W

O

Sampaio da Nóvoa Nenhuma candidatura teve mais contra si do que a de Sampaio da Nóvoa. A candidatura de Nóvoa é que está mais próxima de ser a representação presidencial do “novo tempo” governativo que surgiu com o acordo PS com o BE e com o PCP. Só que foi lançada antes de este “novo tempo” se materializar, pelo que ficou sozinha na sua abrangência potencial, antes do tempo em que ela iria surgir. Daqui resultaram vários factores negativos. Um foi a desastrosa campanha eleitoral do PS à procura de um “centro” que não existia. Como a candidatura de Nóvoa estava à esquerda desse “centro”, ficou sozinha politicamente num período crucial de afirmação. Depois, Maria de Belém castrou o PS em termos presidenciais, criando uma diversão que só tinha uma eficácia: sabotar a candidatura de Sampaio da Nóvoa, o que talvez tenha conseguido. Por fim, se o PS tivesse apoiado Sampaio da Nóvoa em tempo, e se houvesse um élan resultante dos entendimentos à esquerda, podia não ter havido uma grande dispersão de candidaturas.

SUSANA VILLAR


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

Por tudo isto, ter feito renascer a sua candidatura, com o efeito da vitória no debate com Marcelo e, tarde e a más horas, estar a mobilizar o PS e o eleitorado da esquerda, foi um grande feito. A prova dos nove da candidatura de Sampaio da Nóvoa está em conseguir uma segunda volta. Depois se verá. W

O

Maria de Belém A candidatura de Maria de Belém tem um pecado original, mortal e não venial, se é que há graus de pecado: é uma candidatura de facção, nascida no contexto da revanche

segurista contra António Costa quando este estava no seu pior momento de campanha eleitoral, e incentivada e propulsionada pelo PSD e pelo CDS. Vale a pena voltar ao período entre a altura em que o seu nome apareceu até ao momento de anúncio formal de candidatura. Nessas semanas, Maria de Belém foi levada aos píncaros por jornais como o Observadorou o Sol, e pelos comentadores do PSD, Marques Mendes, Marcelo e outras variantes menores, incluindo vários deputados do PSD e do CDS, da ala ultraPAF. Foi elogiada a sua “coragem”, foi colocada com as setas para cima, foi aparentada com o fim da “aventura” Sampaio da Nóvoa. Objectivamente, o PS não está presente nesta campanha eleitoral por causa de Maria de Belém, o que é já em si uma derrota política. Não é o facto

de alguns dos seus apoiantes serem socialistas da esquerda que pode esconder que em todos os momentos decisivos e no tempo próprio Maria de Belém mostrou incomodidade com a actual solução governativa de quem se distanciou nos debates. W

O

Henrique Neto É a genuína candidatura da ala direita do PS, aquilo que a de Maria de Belém não é. Neto sabe ao que vem, tem vida e percurso próprio, agregou várias personalidades a si e pode vir a ter um resultado melhor do que o esperado, a julgar pelas sondagens. W

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Do leitor

Conselho de Administração Paulo Fernandes (Presidente), João Borges de Oliveira, Luís Santana, Alda Delgado, Pedro Araújo e Sá e António Simões Silva Directora Geral de Marketing Isabel Rodrigues Director Geral Comercial Hernani Gomes Directora Administrativa e Financeira Alda Delgado Director de Circulação e Assinaturas João Ferreira de Almeida Director de Informática Rui Taveira Director de Produção António Simões Silva Director de Recursos Humanos Nuno Jerónimo Directora de Research Ondina Lourenço

A história maldita do livro proibido

L Armanda Justino Oliveira de Azeméis

Fruto de uma infância miserável e ociosa, assistindo à violência do pai, Hitler, com o seu livro Mein Kampf, conseguiu incutir nos alemães o ódio aos judeus. O livro contém a base do genocídio. Ontem como hoje, os judeus não são considerados uma comunidade religiosa, mas sim uma raça empenhada em manter a pureza do seu sangue. Como Jesus Cristo, continuam vítimas de extermínio.

L

L

Gustavo Reis

Ademar Costa

Ferragudo

Póvoa de Varzim

Presidenciais

Bowie: Let’s Dance!

Estas presidenciais vão ter, provavelmente, o mesmo desfecho das últimas legislativas. Quem ficou no Governo foi o partido que ficou em segundo lugar. Seguindo o mesmo critério, se não houver nenhum candidato que ganhe com maioria, à primeira volta, o novo Presidente será o que ficar em segundo lugar na primeira volta.

Quando The Rise and Fall ofZiggy Stardust and the Spiders From Mars foi eleito um dos 50 melhores álbuns de sempre pela Rolling Stone, os amantes da música pop/rock estavam longe de imaginar o desaparecimento de David Bowie. (...). Bowie não teve a intervenção social de Bono, David Gilmour ou Bruce Springsteen. Poderia ter ido mais longe nas contradições dos sistemas capitalista e comunista. The World ofDavid Bowie, Under Pressure, Blackstar, The Rise and Fall ofZiggy Stardust..., Station to Station e Diamond Dogs ficam para a história do rock e glam rock. A Rolling Stone colocou-o em 23º lugar na lista dos Melhores Cantores de Todos os Tempos e em 39º na lista dos 100 Maiores Artistas do Rock de Todos os Tempos. Let’s Dance! W

Correcção No artigo Herdeiros que ficaram mal no retrato, publicado na última edição, referimos erradamente que António Lobo Xavier foi líder do CDS-PP. O advogado foi, sim, candidato à liderança do partido, em 1992, membro da direcção e deputado. As nossas desculpas ao visado e aos leitores. 12

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leitores@sabado.cofina.pt

Director Rui Hortelão (ruihortelao@sabado.cofina.pt) Subdirectoras Dulce Garcia (dgarcia@sabado.cofina.pt) e Dulce Neto (dulceneto@sabado.cofina.pt) Editor ExecutivoJoão Carlos Silva (joaosilva@sabado.cofina.pt) Directora Criativa e de Operações Joana Pais Vieira (jpaisvieira@sabado.cofina.pt) Redactor Principal Pedro Jorge Castro (pedrocastro@sabado.cofina.pt) Editores Ana Taborda (anataborda@sabado.cofina.pt) Ângela Marques (angelamarques@sabado.cofina.pt) Carlos Torres (cstorres@sabado.cofina.pt) Fernando Esteves (fernandoesteves@sabado.cofina.pt) Guilherme Venâncio (gvenancio@sabado.cofina.pt) Luís Silvestre (luissilvestre@sabado.cofina.pt) Nuno Paixão Louro (nunolouro@sabado.cofina.pt) Patrícia Cascão (patriciacascao@sabado.cofina.pt) Sónia Bento (soniabento@sabado.cofina.pt) Subeditores Alexandre Azevedo (alexandreazevedo@sabado.cofina.pt) Nuno Tiago Pinto (nunopinto@sabado.cofina.pt) Maria Henrique Espada (mespada@sabado.cofina.pt) Vanda Marques (vandamarques@sabado.cofina.pt) Grande Repórter António José Vilela (antoniovilela@sabado.cofina.pt) Redacção Ana Catarina André (anaandre@sabado.cofina.pt) André Rito (andrerito@sabado.cofina.pt) Joana Carvalho Fernandes (joanafernandes@sabado.cofina.pt) Leonor Riso (lriso@sabado.cofina.pt) Lucília Galha (luciliagalha@sabado.cofina.pt) Marco Alves (marcoalves@sabado.cofina.pt) Myriam Gaspar (myriamgaspar@sabado.cofina.pt) Raquel Lito (raquellito@sabado.cofina.pt) Rita Bertrand (ritabertrand@sabado.cofina.pt) Rita Garcia (ritagarcia@sabado.cofina.pt) Sara Capelo (saracapelo@sabado.cofina.pt) Susana Lúcio (slucio@sabado.cofina.pt) Tânia Pereirinha (tpereirinha@sabado.cofina.pt) Vítor Matos (vmatos@sabado.cofina.pt) Cronistas Alberto Gonçalves (alberto.goncalves69@gmail.com), Alexandre Pais (alexandrepais2013@gmail.com), Eduardo Dâmaso (eduardodamaso@cmjornal.pt), Helena Garrido (hgarrido@negocios.pt), João Costa (joaocosta@yap.pt), José Pacheco Pereira (jppereira@ gmail.com), Nuno Costa Santos (falarparadentro@sapo.pt), Nuno Rogeiro (nrogeiro@gmail.com), Pedro Marta Santos (pedromartasantos@sapo.pt) e Ricardo Adolfo Secretária da Direcção Catarina Gonçalves (catarina@sabado.cofina.pt) Ilustração Luis Grañena, Rui Ricardo, Susana Villar Infografia Filipe Raminhos e Ruben Sarmento Grafismo Nuno Martins da Silva (editor), Afonso Marques, Daniel Neves, Marta Cristiano, Marta Luz, Tiago Dias, Tiago Martinho (gráfico sénior) Tratamento de Imagem João Cruz e Ricardo Coelho Consultoria Linguística Manuela Gonzaga (manuelagonzaga@sabado.cofina.pt) Documentalista Anabela Meneses (anabelameneses@sabado.cofina.pt) Estatuto editorial (Leia na íntegra em www.sabado.pt) Assinaturas Telefone 210 494 999 Email assine@cofina.pt Correio Remessa Livre 11258 – Loja da 5 de Outubro – 1059-962 LISBOA (não precisa de selo) ou escreva para: Cofina-Serviço de Assinantes – Rua Luciana Stegagno Picchio nº 3 – 2.º Piso – 1549-023 LISBOA Preços de Assinatura PORTUGAL EUROPA RESTO DO MUNDO Semestral (26 edições) € 59,90 € 126,40 € 188,70 Anual (52 edições) € 119,80 € 236,70 € 362,90 2 anos (104 edições) € 200,20 IVA incluído à taxa de 6% Contactos Margarida Matos (Coordenadora), Sandra Sousa, Ana Pereira e Sónia Graça (Serviço de atendimento) Venda de edições anteriores Contacte-nos pelo 219 253 248 ou RevistasAnteriores@revistas.cofina.pt Marketing Sónia Santos (gestora) Publicidade Assistente Comercial Irene Martins Rua Luciana Stegagno Picchio nº 3, São Domingos de Benfica, 1549–023 LISBOA Telefone +351 210 494 102 – Fax + 351 213 540 392 ou + 351 213 153 543 Email publicidade@sabado.cofina.pt Produção Avelino Soares (director-adjunto), Carlos Dias (coordenador), Paulo Bernardino, José Carlos Freitas e Fátima Mesquita (assistente) Circulação Madalena Carreira (coordenadora) e Jorge Gonçalves Redacção Rua Luciana Stegagno Picchio nº 3, São Domingos de Benfica, 1549–023 LISBOA Telefone +351 213 185 200 – Fax +351 210 493 144 Sede: Administração e Publicidade Rua Luciana Stegagno Picchio nº 3 São Domingos de Benfica, 1549–023 LISBOA

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Eleita pelo sexto ano consecutivo newsmagazine do ano pela Meios & Publicidade


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

THINKSTOCK

Aabrir

SEGURANÇA INÉDITA NO IPO DO PORTO INSTITUIÇÃO GARANTE QUE PROTOCOLO DE CONTROLO DE BENS pretende tornar as medidas de segurança auditáveis. Revistas às pessoas e câmaras de vigilância preocupam doentes e médicos

“São tiques policiais sempre desagradáveis.” Jaime Teixeira Mendes, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos (OM), discorda assim do procedimento para controlo de bens aprovado pelo Conselho de Administração do Instituto Português de Oncologia do Porto, a 16 de Dezembro de 2015. “Como médico e elemento da OM, sou contra uma atitude destas. Podem até existir mais furtos, possivelmente de coisas menores, mas esta é uma situação confrangedora para doentes, visitantes e trabalhadores e não acredito que tenha muitos resultados.” O documento, a que a SÁBADO teve acesso, diz que as operações de controlo às malas ou sacos transpor-

tados pelas pessoas “poderão ser planeadas, de forma inopinada”. As revistas podem ter como origem informações anónimas e o controlo realizado, “obrigatoriamente, por pelo menos dois seguranças”. A SÁBADO apurou que os carros dos médicos também podem ser revistados. O Conselho de Administração explicou à SÁBADO que, “felizmente, no IPO-Porto, não se têm verificado eventos de furto ou intrusão significativos, mas, numa organização que se dispõe a ser auditada, todas as normas devem estar escritas, acessíveis e divulgadas internamente”. O núcleo do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro não recebeu queixas de utentes, mas sabe da imple-

g Sindicato dos Médicos do Norte diz que decisão tomada pelo IPO do Porto é inédita

mentação de revistas aleatórias e do aumento significativo de câmaras de vigilância. “Segundo sabemos, tem havido mais furtos abens do instituto e de doentes”, diz o presidente Vítor Veloso. O Sindicato dos Médicos do Norte também não teve queixas. “Mas o que está implícito no documento preocupa-nos”, assume à SÁBADO um dirigente. No dia 8, o sindicato aconselhou os sócios a exigirem sempre a presença da PSP em caso de revista e que seja feita num local público. Sobre a videovigilância, questionaram no dia 6 a Comissão Nacional de Protecção de Dados, para saber, por exemplo, “se todas as câmaras estão identificadas”. “O procedimento é comum ao que integra a regulamentação de outras unidades hospitalares e empresas privadas”, insiste o IPO. Uma informação contrariada pelas fontes ouvidas pela SÁBADO que dizem que a medida é inédita no País. “Se houvesse um número de furtos que justificasse estas medidas, a solução era chamar a Judiciária”, observou Teixeira Neves. CÁTIAANDREACOSTA 13


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O moralista

O Nuno Costa Santos Escritor

Realizador de aterragem Há uma nova espécie no pedaço: os que filmam aterragens com o telemóvel. Estacionam junto ao aeroporto, atrás da vedação, para captar o instante em que a máquina que atravessa os céus pousa no terreno. O que querem? Registar o manso voo do pássaro quando se aproxima do ninho? Não, isso não traz história. O realizador de aterragem quer tragédia para postar no YouTube. Quanto mais vento e tempestade, melhor – mais possibilidade há de produzir a curta-metragem perfeita e obter o maior número de likes. Em muitos de nós há um realizador de aterragem, alguém que narra num grupo de amigos, com certo prazer no timbre vocal, uma desgraça que editou mentalmente. Mas agora a vocação arranjou novos coretos onde se exibir. Faz parte da sociedade das partilhas em que nos afundamos com uma caipirinha estragada na mão. O Orson Welles de aeroporto, mal tem a obra-prima, manda o vídeo para as internetes em busca de miminho. Também o envia para as televisões (hoje parece haver uma rubrica diária sobre o assunto). Ganha, no café, o prazer do reconhecimento e os telespectadores ficam felizes por nunca lhes ter acontecido aquilo e com grada miaúfa da excursão do dia seguinte. O realizador de aterragem devia fazer muitas viagens cheias de turbulência. Ofereço-me para fazer o filme. W

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Iniciativa SÁBADO

OS VENCEDORES DO PASSATEMPO STAR WARS O júri teve como convidado especial Luís Alves, um dos portugueses da organização mundial de fãs Star Wars Legião 501. As melhores frases foram: o Manuel Maria Franco Frazão

o André Ferreira Viana

o André Gomes Barros

“Quando uma pessoa está triste na minha escola, eu uso o ‘lado bom da força’ para o alegrar, fingindo que sou uma ambulância a dizer TINÓ NI. Sou o Manuel Frazão e tenho 9 anos.”

“No Estabelecimento Prisional de Caxias, o lado bom da força é ter a SÁBADO como companhia e o boné da Star Wars como alegria.”

“Utilizaria o lado bom da força para proteger os meus companheiros de todos os males do universo.”

o José Luís Silva “Uso o lado bom da força para controlar a minha cadeira de rodas.”



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FERNANDO ESTEVES

A criada malcriada FACEBOOK.COM/ACRIADAMALCRIADA E SÁBADO.PT

Sobe S

Voto útil

Assunção Cristas Candidata à liderança do CDS

Mesmo sendo uma mulher de fé, a ex-ministra dificilmente acreditaria até há pouco tempo que a liderança do CDS lhe cairia ao colo tão cedo e de forma tão gratuita. Pode agradecê-lo a Portas, claro, mas também a... António Costa – se o primeiro-ministro não criasse a “geringonça” dificilmente o CDS mudaria de líder.

Para ti (lha)

Desce D Bruno de Carvalho Presidente do Sporting

O dirigente leonino padece de uma doença rara: perante uma câmara ligada e um microfone estendido desata espontaneamente a debitar disparates à velocidade da luz. No passado fim-de-semana, durante e depois do Sporting-Tondela, ofendeu o árbitro do jogo, que por acaso até fez um trabalho impecável. Até onde pode ir o ridículo?

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Bloco de notas digital para estudo dinâmico NimbleNotes propõe um novo método para estudar, melhorando o fluxo de trabalho na aprendizagem, através de flashcards gerados instantaneamente

ão existe uma fórmula mágica ou um método exacto para aprender. Mas há uma plataforma de estudo online, projectada para ajudar os alunos a estudar de forma mais eficiente. É particularmente útil para universitários com fontes de estudo digitais, permitindo criar folhas de revisão de uma forma fácil e com conteúdos multimédia.

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JOÃO COSTA, activador de marcas

Para começar, é necessário obter todas as informações sobre a matéria que se quer estudar. Depois, no NimbleNotes terá um editor simples e ao mesmo tempo rápido, para dar forma ao conteúdo reunido, em texto, imagens e vídeos. Outra funcionalidade interessante é a capacidade da plataforma para criar flashcards, isto é, pequenos cartões que auxiliam no resumo da matéria. Usam-se para a aprendizagem rápida, através da repetição, associação e memorização. Existe também a possibilidade de avaliar a produtividade das sessões de estudo, com várias opções para monitorizar o tempo gasto, e onde poderá visualizar o seu progresso com diferentes estatísticas. Explore em www.nimblenotes.com, ou em alternativa, conheça também www.examtime.com e www.goconqr.com.


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As frases da semana

F Nuno Melo, eurodeputado do CDS/PP, RTP

“Não haverá um partido feito de portismo sem Paulo Portas e o pior serviço que algum novo líder poderia prestar ao CDS seria repetir-lhe os gestos ou imitar o trajecto” F

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F

Assunção Cristas

Daniela Ruah,

Maria José Morgado

Celia Villalobos

“Somos tão diferentes, não temo comparações com Portas”

actriz, Lux

“Se o importante for continuar a discutir atavicamente a violação do segredo de justiça nunca chegaremos a lado nenhum”

“Que use ou não rastas, tanto me faz. Se estiverem limpas e sem piolhos, para mim está perfeito”

“Tenho uma personalidade muito fogosa e o Dave também. O nosso filho acalmou-nos. É óptimo ter filhos”

Ex-ministra da Agricultura, que se candidatou à liderança do CDS/PP, Expresso

F Marcelo Rebelo de Sousa

“Eles querem que eu me enerve mas eu conto até100. Equando chegara 100, a campanha acabou” Candidato presidencial, Expresso

F Henrique Raposo

“[Marcelo Rebelo de Sousa] passou as últimas décadas a transformar a política num anexo da stand-up comedy” Comentador, Expresso

Procuradora distrital de Lisboa, Expresso

F Ricardo Paes Mamede

F

“Estamos a cozer em lume brando. Daqui a 20 ou 30 anos olharemos para trás e será terrível”

Yoweri Museveni

Professor de Economia no ISCTE, i

Rui Moreira

“Em condição alguma aceitarei integrar uma candidatura partidária ou aceitarei cargos políticos em Lisboa. Nunca me condicionarão”

“Conheço Carlos Costa há 50 anos (…) e, se há uma pessoa por quem ponho as mãos no fogo, em termos de honestidade e integridade, é este governador”

F

Antigo ministro da Economia do PS, Diário Económico

Vera Jardim

Pablo Iglesias

“Pordesgraça, em Espanha não temos um PScomo o de Portugal” Líder do Podemos, Diário de Notícias

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“A pureza da raça, como defende Trump, é uma masturbação enferma e inexistente: a Natureza é uma orgia de misturas”

F GETTYIMAGES

Catarina Martins

“Pagamos cada vez mais para mandar cada vez menos. Eu diria até que estamos a ficar sem sistema financeiro nacional” Líder do BE, Expresso

F Francisco Louçã, ex-líder do BE, Público

“[Paulo] Morais foi membro do PSD durante 35 anos. Esteve portanto a vida toda num dos partidos que diz ser uma máquina de corrupção, mas nunca disse uma palavra. Um culpado? Um caso? Nada” PEDRO CATARINO

Daniel Bessa

Ex-líder do PSD, criticando as decisões do ministro da Educação, TVI

F

Alejandro González Iñárritu

F

“O espaço de tempo em que se pretende alterar regimes e orientações é de tal forma curto que mais parece um anúncio”

Porta-voz de Maria de Belém, i

F

Realizador de cinema, El País

Manuela Ferreira Leite

“Sampaio da Nóvoa tem um discurso muito cativante, muito bonito, mas de que a gente extrai pouca coisa”

“Mas alguma vez seria capaz de abandonar o bananal que plantei, agora que começa a dar frutos?” Presidente do Uganda desde 1986 e de novo candidato à reeleição, L’Express

F

Presidente da Câmara do Porto, que anunciou a sua recandidatura, Correio da Manhã

F

Vice-presidente do parlamento espanhol para o deputado do Podemos, Alberto Rodriguez, El País


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

MYRIAM GASPAR

F

O moralista

F

Rosie Huntington-Whiteley,

Pedro Passsos Coelho

modelo, The Herald

“Enquanto fui primeiro-ministro, resolvi muitas questões. Até uma verdadeira surpresa, a do Banco Espírito Santo”

“Fitness e bem-estar fazem parte da minha vida. Não acredito em dietas da moda. Ninguém quer ser a garota que pede a salada”

Ex-primeiro-ministro, Rádio Renascença

F Carlos Silva

“O dr. [Ricardo] Salgado era dono disto tudo e os outros administradores faziam de verbo de encher? Não acredito” Líder da UGT, i

F Bruno de Carvalho

“Só não lhe dei um chuto no rabo porque, olhando para a figura dele, tive medo que ele gostasse” Presidente do Sporting, referindo-se ao árbitro do jogo Sporting/Tondela que o expulsou do campo, Correio da Manhã

F Rufus Wainwright

“Estive a renovar a minha casa de Montauk e fiquei tão obcecado com os gastos que fui ver o meu psicólogo. Ele respondeu-me: ‘Tens de saber que não és rico’” Músico, El País Semanal

F Julião Sarmento

“Conheço as regras, tenho de viver nesse mundo [da arte contemporânea], mas não me interessa. Para um artista ser successful, é irrelevante o trabalho que faz” Artista Plástico, E Revista do Expresso

F Tony Carreira

GETTYIMAGES

“No meu País, hão-de valorizar-me quando tiver um pé para a cova” Cantor, que recebeu o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras do Governo francês, criticando a ausência do embaixador português, Diário de Notícias

O Pedro Marta Santos Jornalista e argumentista

Maricas e nazis AgoraqueiremoselegerumPresidente da República absolutamenteimprevisível,é mais importante do que nunca atenuar a crispação políticados últimos meses. Um dos maiores confrontos argumentativos da segunda metade do século XX opondo conservadores de direitaaliberais de esquerdasurgiu durante umasérie de 10 debates televisivos, no Verão de 1968, entre William Buckley Jr., paterfamilias de Ronald Reagan, e Gore Vidal, o intelectual iconoclastaque inspirou parte de uma geração do Partido Democrata. Além da mútua repelência ideológica, Buckley e Vidal cultivavam umaparticularacrimónia um pelo outro. Ambos se espalharam ao comprido no penúltimo debate: a propósito das duríssimas cargas policiais sobre manifestantes no decorrer do congresso das primárias do Partido Democrata em Chicago, Vidal acusou Buckley de serum “criptonazi”, ao que Buckley respondeu “Seu maricas, ou paras de me chamar criptonazi ou enfio-te um murro nacara.” Nas chamadas redes sociais, o “argumento do nazismo” é usado por tudo e por nada. A propósito, um advogado norte-americano chamado Mike Godwin postulou há 25 anos – ainda no tempo das chat rooms– aLei de Godwin: “Àmedidaque umadiscussão persiste online, sejaqual foro tema, aprobabilidade de uma comparação envolvendo Hitlerou os nazis aproxima-se dos 100%.” Talvez esteja na altura de se terminar a parvoíce das acusações mútuas de “fascismo” que continuam a ouvir-se, on e offline, dos dois lados da barricada ideológica nacional. Os cidadãos sensatos agradecem. W

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Veja


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt www.sabado.pt

c Os melhores pombos da Europa e Ásia IIIIIIIIIIIIIIIIIIII

Durante dois dias (16 e 17) milhares de pombos foram apresentados no encontro Mundial de Pombos-Correios, nos Jardins de Inverno de Blackpool, no Noroeste do Reino Unido. O evento, considerado um dos mais importantes do mundo, é organizado pela Associação Real de Pombos de Corrida e, todos os anos, junta os principais criadores do Reino Unido, mas também da Europa e da Ásia. As aves em competição – que totalizam quase 3.000 exemplares – são avaliadas em 32 categorias e são eleitas as melhores. Ao primeiro de todos é atribuído o título de Campeão Supremo da Grã-Bretanha – e o seu valor pode ascender aos 15 mil euros. FOTO ANDREW YATES / REUTERS


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Insólito NUNO PAIXÃO LOURO

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Dinossauros vendem preservativos

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Gatos na mesquita

REUTERS

A marca japonesa de preservativos Okamoto lançou um anúncio na televisão nipónica com dois dinossauros T-Rex a acasalarem. Quando a fêmea percebe que o parceiro não tem protecção, acaba de imediato com o acto.

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Aliviador de “stress”

Novos polícias urbanos

Nova Iorque ganhou a primeira cabine para os homens “aliviarem o stress” durante o dia de trabalho. Chama-se GuyFi e foi instalada pela empresa de artigos sexuais Hot Octopuss. Fica no passeio entre a Rua 28 e a 5ª Avenida (na foto) e tem, além de uma cortina opaca, um portátil com acesso à Internet.

A polícia do distrito de Jiangbei, na megacidade chinesa de Chongqing, recebeu 110 novos veículos para patrulhar o centro urbano de forma mais rápida e com a vantagem de poderem chegar onde as viaturas maiores não chegavam. Além de servirem para assegurar a manutenção da ordem pública, as patrulhas com os novos carros Dayang Chok são ecológicas, uma vez que são eléctricos e não poluem o ambiente. !

UMA PETIÇÃO PARA PROIBIR PIPOCAS NAS SALAS DE CINEMA NO REINO UNIDO FOI LANÇADA PELO INGLÊS MIKE SHOTTON DEPOIS DE ASSISTIR AO FILME STAR WARS. DEFENDE ESTE RADIALISTA DE 39 ANOS QUE, ALÉM DO BARULHO E DO CHEIRO, AS PIPOCAS DEIXAM AS SALAS SUJAS.

€1,3 M Valor de venda da antiga casa de banho pública de Spitalfields, uma movimentada zona no Leste de Londres e que tem uma vida nocturna muito activa. O espaço tem 60 metros quadrados e já foi uma discoteca, que acabou encerrada em 2012 devido a queixas sobre o ruído e o uso de drogas.

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Bombeiros abrem cinto de castidade

160 km sem a mulher

Em Eglwyswrw chove há três meses

Rosie desaparecida

Uma italiana de Pádua chamou os bombeiros para a ajudarem a abrir uma fechadura de que tinha perdido a chave. Quando lá chegaram, no entanto, perceberam que não se tratava de abrir uma porta, mas sim o cinto de castidade que a mulher usava – por vontade própria. 22

Mustafa Efe, imã da mesquita de Aziz Mahmut Hüdayi, em Istambul, tornou-se uma estrela da Internet por acolher na sua mesquita gatos de rua. O imã divulgou até um vídeo onde se vê uma gata a carregar um filhote na boca e a instalar-se com a ninhada no mimbarda mesquita, ou seja, no local onde o imã faz o sermão.

Um condutor argentino de visita ao Brasil esqueceu-se da sua mulher numa estação de gasolina e só deu pela falta 160 quilómetros depois, já no regresso à Argentina. O homem, que levava o filho no banco da frente, tinha parado para abastecer e a mulher, que dormia no banco de trás, acordou, saiu sem dizer nada e foi à loja. O marido regressou ao fim de umas horas.

1. A localidade no País de Gales com nome impronunciável está prestes a bater o recorde de 1932, quando esteve 89 dias debaixo de chuva ininterrupta. 2. A chuva teve início a 26 de Outubro e até levou os habitantes a rezar para pedir que acabasse. 3. A17 de Janeiro, ao fim de 83 dias a chover (e a sete do recorde), a população começou agora a rezar para a chuva continuar mais uns dias.

Cartazes com a fotografia de uma cobra mamba-negra, uma das mais venenosas de África, foram afixados em redor de King’s Cross, no centro de Londres, dizendo que Rosie, a cobra, iria procurar um local quente para dormir, mas avisando para o perigo de quem lhe tentar tocar. A sua mordida é conhecida como “o beijo da morte”.


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Indiscretos D.G., F.E., M.H.E., N.T.P., S.B.

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Testemunhas VIP nos vistos gold

D.R.

Ao longo da investigação do inquérito conhecido por vistos gold, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal não olharam a nomes quando acharam que era hora de inquirir alguma testemunha. Nos autos do processo estão os depoimentos de ministros como Paula Teixeira da Cruz (na foto) e Rui Machete; de secretários de Estado como João Almeida, Paulo Núncio, José Cesário, Pedro Jorge Gonçalves e Filipe Lobo D’Ávila; de presidentes de Câmara como Carlos Carreiras e Paulo Vistas ou diplomatas como Isabel Pedrosa e João Maria Cabral.

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Foi recentemente noticiado que o protocolo de Estado adquiriu peças de faqueiro, em prata, no valor de 74.778 euros, por ajuste directo. Mas isso não é nada! A 17 de Dezembro, a mesma entidade, através do Fundo de Relações Internacionais, comprou um serviço de

Alguém lhe explica o que é uma vichyssoise?...

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O EX-GOVERNANTE MIGUEL RELVAS APROVEITOU A TARDE DE DOMINGO PARA IR VER O FILME A RAPARIGA DINAMARQUESA. ACOMPANHADO DA MULHER, NÃO DISPENSOU UM BALDE DE PIPOCAS.

Se comerem mal, a Rita paga Rita Pereira andou pelo Alentejo e foi jantar ao Fialho, em Évora. A actriz fez uma foto com Amor Fialho, dono do restaurante, e publicou-a no Facebook. “Aconselho quem for a Évora a dar um salto a um dos melhores restaurantes de comida típica portuguesa. Se comerem mal ofereço-vos o jantar!!!”, escreveu.

k Quando um diário escreveu Pai de Paulo Portas entra na campanha de Nóvoa, Catarina Portas respondeu no Facebook. Assim: “O pai de Catarina Portas apoia Sampaio da Nóvoa, o filho de Nuno Portas apoia Marcelo Rebelo de Sousa e a irmã de Paulo Portas vai votar na brava Marisa Matias. A tradição ainda é o que era na família Portas (e o jornalismo português continua um bocado parvo).”

D.R.

Os Portas e os parvos

PEDRO GARCIA

Entre a comitiva da campanha de Sampaio da Nóvoa comenta-se que o seu desporto favorito é o “tiro ao Marcelo”. Todos os pretextos são bons para atacar – mesmo que de natureza gastronómica. No último domingo, num jantar de apoiantes, Nóvoa disse: “Estive vários anos a trabalhar em Belém [com Jorge Sampaio]. A trabalhar, não a comer vichyssoise ou sopas frias.” Talvez alguém devesse explicar a Sampaio da Nóvoa que a vichyssoise é... uma sopa fria.

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DUARTE RORIZ

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jantar Vista Alegre (270 pratos) e também cálices. Preço: 43.142 euros. A 9 de Dezembro, foi publicada no portal Base a aquisição de 250 cálices de Madeira, por 8.142 euros. Em Novembro fora já adquirido outro faqueiro, por 16.956 euros. Quando é o banquete?

PEDRO CATARINO

Agora já dá para jantar à grande


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Obituários DULCE NETO

Aureliano da Fonseca (1915-2015) Médico até aos 100 anos, é dele o hino da academia do Porto, Amores deEstudante. Primeiro português com a especialidade de dermatologia reconhecida, foi pioneiro na prevenção das doenças venéreas

aquele tempo, anos 50, os médicos usavam chapéu. Era um sinal de prestígio. Ele não. “Fui desobediente”. Só fraquejou uma vez. Um fabricante de chapéus de São João da Madeira, grato pela sua consulta, ofereceu-lhe um. Nesse dia todos repararam no adereço novo, e ele cansou-se. “Agora usas chapéu?, perguntavam-me. Peguei nele e nunca mais o usei”, contou numa entrevista à SÁBADO. Aureliano da Fonseca não ligava a símbolos de distinção mas ele tornou-se um símbolo da Universidade do Porto ao compor Amores de Estudante, o hino da academia. Isso foi no tempo em que era estudante, em 1937 e, num desejo ousado, propôs-se, e conseguiu, com mais dois colegas, reactivar o Orfeão da Universidade do Porto, criar uma tuna e uma orquestra de tango. O reitor chamou-lhes loucos mas deu-lhes uma sala de arrumações. Eles fizeram o resto. Aureliano, que tocava piano, criou com um amigo, Paulo Pombo de Carvalho, o tema que ainda hoje é cantado por tunas e outros grupos em todas as academias: “São como as rosas de um dia, os amores de estudante (...).” Nessa altura já se tinha decidido pela Medicina – “uma paixão”, não

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Fernando Ávila Da Arquitectura para a realização, estava na RTP desde 1987. São dele a série Conta-meComoFoie Crimena PensãoEstrelinha. Mesmo com um cancro trabalhava agora em DonosDistoTudo

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“uma profissão” e muito menos um sonho. Esse tinha outra cartografia. Nascido no Porto, a 25 de Fevereiro de 1915, filho único de um comerciante e de uma dona de casa, Aureliano decidiu no liceu que queria ir para a Índia. A culpa era de um professor de História que entusiasmava os alunos com as histórias dos descobrimentos no Oriente. “Pensei desta maneira: se for para a Marinha e se da Marinha for para o Exército posso ir parar à Índia”, disse ao projecto Porto Olhos nos Olhos. Aos 17 anos saiu de casa a dizer que ia para a Marinha, voltou matriculado em Medicina. Um médico amigo, que também lhe contava histórias, influenciou-o. Nada preocupado com as notas, “só estudava aquilo de que gostava”, licenciou-se em 1940 pela Faculdade de Medicina do Porto. Três anos depois era dermatologista: o primeiro português a ter a sua especialidade reconhecida pela Ordem dos Médicos e na Europa. Ainda pensou seguir o exemplo do João Semana de As Pupilas do SenhorReitor, de Júlio Dinis, e ir para o interior do País. Partiu para Lisboa, onde estagiou em dois hospitais e depois fixou-se no hospital militar D. Pedro V, no Porto. Aí interessou-se pelas doenças venéreas, como a sífilis, chegou a ter 40 internados com esse problema. “Os espertalhões antigos da tropa divertiam-se com a ingenuidade dos que vinham

“AS MULHERES DUVIDAM DO QUE OS HOMENS DIZEM MAS ACREDITAM EM TUDO O QUE A COSMÉTICA DIZ”

LUIS GRAÑENA

Um homem tranquilo, diziam os amigos. Licenciou-se em Arquitectura, em Lisboa, mas fez carreira na televisão, como realizador. Assinou sucessos como a série Conta-me Como Foi e Crime na Pensão Estrelinha, onde trabalhou com o amigo Herman José. E era com o humorista que Fernando Ávila filmava agora, no

da província e levavam-nos às prostitutas, que não tinham vigilância sanitária”, adiantou à SÁBADO. Foi então convidado a organizar aquilo a que hoje se chamaria educação sexual e então se designava acção antivenérea. Criou um centro no Porto onde os doentes não pagavam nada, nem sequer a medicação. “Fui a todos os colégios, incluindo os de freiras, foi um escândalo, os pais resistiram. Falava das doenças venéreas, comportamento dos homens, com pormenores clínicos. A minha filha de 7 anos ia comigo.” Criou cursos de Medicina no hospital militar, deu aulas na Faculdade de Medicina do Porto, onde se doutorara, entre 1955 e 1977 e no Brasil. A exercer no consultório privado e no S. João do Porto, apaixonou-se pela fotografia (tinha sempre uma máquina no carro) e escrevia. Tem vários livros, de científicos a de poesia (chamava-lhes versagens). Crítico do comércio da cosmética, desvalorizava o papel dos cremes: “As mulheres duvidam do que os homens dizem mas acreditam em tudo o que a cosmética diz.” Trabalhou até quase aos 100 anos, por gosto. Morreu no domingo, dia 17. Nunca se sentiu velho, garantiu ao Porto Olhos nos Olhos. “Um indivíduo pode ter 100 como eu, mas se tem curiosidade não envelheceu.” Ele tinha-a. Porque gostava de viver: “Uma coisa é caminharmos na vida porque gostamos, outra é porque somos obrigados.” W

programa Donos Disto Tudo. Na RTP desde 1987, não se ficou por um género, dirigindo de ficção a musicais, bailados e documentários – fez o primeiro sobre o fado. Exemplos: Corações Periféricos, Residencial Tejo, Passa porMim no Rossio e Maldita Cocaína. Morreu no sábado, dia 16, aos 61 anos, com cancro.


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Entrevista

Lutou contra os soviéticos no Afeganistão ao lado do comandante Massoud, dirigiu o Maktab al-Khadamat (Gabinete de Serviços) que recebia os combatentes estrangeiros e intermediou negociações de paz com os talibãs. Hoje dá conferências sobre o islão. Por NunoTiagoPinto

ABDULLAH ANAS

oi em 1985 que o argelino Abdullah Anas decidiu juntar-se aos mujahedin afegãos na luta contra a ocupação soviética. Tinha acabado os estudos islâmicos em Meca. Lutou ao lado do mítico comandante Ahmad Shah Massoud e em 1989 ocupou o lugar do xeque palestiniano Abdullah Azzam, criador do Maktab al-Khadamat (o Gabinete de Serviços que coordenava os milhares de combatentes árabes-afegãos) e mentor de Osama bin Laden, que convenceu a viajar para o Afeganistão. Ficou no cargo três anos. Altura em que, após a retirada soviética, se tornou um dos líderes expatriados da Frente de Salvação Islâmica argelina. Na última década dedicouse a dar conferências sobre o islão, publicou um livro sobre os árabesafegãos e, em 2006, chegou a intermediar negociações de paz entre o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai e os talibãs. Falou com a SÁBADO à margem de um workshop sobre terrorismo, promovido pelo Gabinete das Nações Unidas de Combate à Droga e Crime, em Dacar, no Senegal.

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F “Dávamosaos prisioneiros anossaroupa eanossa comida. No Corão, eles estãoaonível dospobres edosórfãos”

Ahmad Shah Massoud Líder político e militar afegão que dirigiu a luta contra os soviéticos. Foi assassinado pela Al-Qaeda a 9 de Setembro de 2001

Qual é a diferença entre os combatentes estrangeiros que, na década de 80, foram para o Afeganistão e os que vão hoje para a Síria para se juntarem a terroristas como o Estado Islâmico (EI)? Há duas grandes diferenças. Primeiro, quando criámos o Gabinete de Serviços, com o “padrinho” da jihad, xeque Abdullah Azzam, em 1984, pedíamos aos estrangeiros que fossem lá para lutar por uma causa. Quando o objectivo fosse atingido, a jihad terminaria. E o objectivo era apenas libertar o Afeganistão da União Soviética? Sim. No fim, se ainda estivessem vivos depois de os soviéticos retirarem do Afeganistão, os estrangeiros deveriam voltar aos seus países. A Al-Qaeda e o EI mudaram isso: eles usam os combatentes estrangeiros não só para um objectivo específico mas para a jihad global. A segunda grande diferença é que o xeque Azzam e o Gabinete de Serviços exigiam que os estrangeiros ficassem sob controlo dos afegãos. Não havia estrangeiros a liderar?

NUNO TIAGO PINTO

“Aindaestouem contactocom os meusprisioneiros”

Não e não era apenas em cargos de chefia. Também não havia estrangeiros a tomar decisões políticas, no contacto com os media, nas relações internacionais ou na diplomacia. Nada. Só havia afegãos a fazer o que eles viam como um interesse para o seu país. Isto mudou com a Al-Qaeda e o EI. Eles foram para a Síria e para o Iraque para impor a sua própria agenda. O povo sírio revoltou-se contra Bashar al-Assad porque queria democracia e liberdade. Mas a Al-Qaeda e o EI foram para lá para obrigar as pessoas a seguirem Ayman al-Zahawiri [sucessor de Bin Laden] ou Abu Bakr al-Baghdadi [autoproclamado califa do EI]. Mas muitos acreditam que os acontecimentos de hoje começaram no Afeganistão. Concorda? Já ouvi isso, mas não concordo: 98%


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das pessoas que conheço e que lutaram contra os soviéticos não estão no Iraque nem na Síria. Nem sequer na Somália.

Mas Osama Bin Laden é a principal personagem dessa história. Sim, e Bin Laden separou-se de nós em 1989 devido à sua nova opinião.

Mas os que fundaram a Al-Qaeda não são os mesmos que estiveram no Afeganistão na década de 80? O que mudou? Não. E é isto que as pessoas desconhecem. No Afeganistão, dividimos as gerações em duas. A primeira é a geração do Gabinete de Serviços e do xeque Azzam, que foi para o Afeganistão com o objectivo de ajudar os afegãos a libertarem-se do Exército Vermelho. Esse movimento começou em Dezembro de 1979 e terminou em 1992. Chamamos-lhe a jihad legítima. A segunda é do movimento talibã que lutou contra os antigos mujahedin. Esta geração, excepto Osama bin Laden, não lutou contra os soviéticos.

O que quer dizer? Pode explicar melhor qual foi essa mudança? Ele aproximou-se de um grupo que veio do Egipto chamado Jihad Islâmica Egípcia, liderado por Sayyed Imam Al-Sharif e Ayman Al-Zawahiri. Essas pessoas odiavam o xeque Azzam, recusavam-se a rezar atrás dele e nunca presenciaram a guerra contra os soviéticos. Bin Laden juntou-se a eles e deixou de servir a jihad de acordo com os princípios do Gabinete de Serviços e trocou-os pelos da jihad global. As suas casas de hóspedes e campos de treinos em Peshawar passaram a ser separados dos nossos. Bin Laden costumava ficar ou apoiar um campo de treino chamado Sada. Depois de se separar

g Abdullah Anas, fotografado no ano passado, em Dacar, capital do Senegal

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“Não havia estrangeiros a tomar decisões políticasou nasrelações internacionais. Só havia afegãos”

de nós criou outro campo em Jalalabad chamado Faruk. Bin Laden acabou por se tornar mais famoso do que Azzam... Bin Laden é mais famoso que Abu Bakr e Omar, que são pilares do islão, companheiros do profeta Maomé. Mas Azzam liderou toda uma geração. Qual era a real importância de Bin Laden entre 1984 e 1988? Osama nunca ficou permanentemente no Afeganistão e quando lá estava dividia o seu tempo entre Jedá [Arábia Saudita] e Peshawar [Paquistão]. Passava alguns meses em cada cidade. Todavia, quando estava em Peshawar, andava ocupado no Gabinete de Serviços com o xeque Azzam. Planeavam coisas em conjunto, visitavam líderes da jihad juntos e também campos de Q 29


21 JANEIRO 2016

Entrevista

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Q treinos como os de Sada e Khaldand, na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Foi assim até 1988 quando ele se afastou.

Argélia. Fiquei surpreendido por ouvir Zawahiri e o Estado Islâmico citarem essa frase do discurso só para justificar o seu terrorismo.

Ele era visto como um verdadeiro mujahedin ou apenas como alguém que tinha os meios para financiar a causa. Para mim, foi ambas as coisas.

Quais eram as suas principais funções no Afeganistão? Apenas uma pequena percentagem dos voluntários passou o tempo em combate. A maioria estava ocupada em Peshawar, em gabinetes e casas de hóspedes. Eu fiquei com Massoud de 1985 a 1992 no vale de Panshir. Estive com ele em todas as batalhas. Quantas travaram? Não me recordo. Lutei e ajudei a ocupar imensos quartéis ao lado dos combatentes de Massoud. As batalhas são sempre ofensivas ou defensivas. Estive em ambas durante o meu tempo. Peço a Alá (o Glorioso e o Exaltado) que seja misericordioso com os incontáveis mártires que enterrei nessas horríveis batalhas.

REUTERS

E você, porque foi para o Afeganistão? Para responder tenho que me referir à fé no Corão e ao próprio islão. Se fizer essa pergunta centenas ou milhares de vezes, vai obter apenas duas respostas. A primeira é para me tornar shaheed [mártir] e obter uma grande recompensa em Jennah [o paraíso]. A segunda é para obter a recompensa da jihad. Todos temos este sentimento e isso não começou no Afeganistão, em 1979. Aconteceu no passado e vai acontecer no futuro. Esta é uma fé que existe no Corão há centenas de anos. Os desafios que enfrentamos hoje são: em que contexto acontece? Onde? Como? E apesar de ter sido um dos fundadores desta ideia, sou o primeiro a pedir para pararem. Não porque a jihad terminou. O profeta disse que ela “vai continuar até ao além”.

g Osama Bin Laden foi um dos grandes financiadores dos mujahedin árabes-afegãos

Então porque pede que parem? Por três razões. Primeira: as pessoas que os combatentes estrangeiros querem ajudar não têm falta de combatentes. A Síria tem muitos soldados. Segunda: quando lá chegam, eles não vão necessariamente servir aquilo porque foram em primeiro lugar. Vão ver-se envolvidos na agenda do Estado Islâmico. Mas o EI está a dizer que na Síria podem viver numa sociedade verdadeiramente muçulmana, o autoproclamado Califado. Não é apenas para lutar. Isso é para recrutar pessoas. É um slogan. Mas quando lá chegam, não é necessariamente o que encontram. Já me cruzei com mais do que um. Foram recrutados com esses slogans e estão a tentar escapar. A terceira razão que eu menciono é que há muitos serviços de inteligência a ac30

Guerra A invasão soviética do Afeganistão durou entre 1979 e 1989. Nessa década, 20 mil estrangeiros juntaram-se à resistência

tuar na região. Eles estão a lutar entre si através desses combatentes. Na propaganda de recrutamento, estão também a utilizar os ensinamentos do xeque Azzam… Este é um dos conflitos entre nós e esta gente. Eles são selectivos e não são justos com o legado de Azzam. Um exemplo é a Al-Qaeda declarar que Ahmad Shah Massoud não era muçulmano para depois o assassinar. Azzam disse que Massoud era a única esperança para o Afeganistão. Isso é ser selectivo. Mas Azzam também disse que “se defender o nosso país é terrorismo, sim, somos terroristas”. Estava ao lado dele quando ele fez esse discurso em Panshir, em Setembro de 1988. Ele falou durante uma hora. E durante dois ou três minutos ele disse que a Rádio Moscovo costumava chamar aos mujahedin afegãos “basmath”, que significa terroristas. Ele estava a responder-lhes ao dizer que se lutar contra os soviéticos é ser “basmath”, sim, nós éramos basmaths. Foi num contexto. Tal como os franceses costumavam chamar fallaga aos combatentes na

Como é que tratavam os prisioneiros na época? Não fique surpreendido, mas ainda estou em contacto com os meus prisioneiros. Eles eram prisioneiros e nós lidávamos com eles ao mesmo nível. Costumávamos encomendar 20 ou 30 metros de tecido para fazer roupa e dávamos-lhes do mesmo. Comíamos as mesmas refeições. Antes, na batalha, sim, éramos implacáveis. Mas assim que se tornavam prisioneiros, o Corão muda-lhes os direitos. O prisioneiro de guerra está ao mesmo nível dos órfãos e dos pobres. Depois de algum tempo, enviávamo-los para casa. O nosso problema não era com o soldado. Acha que um militar americano sabe o que está a fazer em Kandahar? Não sabe. É um soldado. Se tiverem que lutar com eles, lutem. Mas não o metam em frente a uma câmara para separar a sua cabeça do corpo e gritar Alahu Akbar. Essa não é a nossa cultura. Não é a nossa jihad. Então não é inevitável que coisas horríveis aconteçam na guerra? Sim. O objectivo da jihad no Corão é garantir a vida. E o EI e estas pessoas estão a tornar a jihad morte, sangue e fumo. Não é nada disso. W


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Opinião

RELATÓRIO MINORITÁRIO Falando de exemplos históricos, as presidenciais podem repetir a vitória de Pirro de Freitas do Amaral em 1986, a derrota séria de Cavaco, em 1996, ou o seu triunfo estrondoso, em 2006. Mas há um cenário mais provável

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nou-se num triunfo de Pirro. No momento decisivo, Soares dobrou o número de votos, e ganhou por menos de 3% de avanço, com a abstenção em reduzidíssimos 22%. Mas mais facilmente tudo será agora como em 2006–2011, com os triunfos cavaquistas, ou como em 1996–2001, com o sampaísmo. Nos primeiros casos, à divisão no PS e na “esquerda” somava-se a candidatura então “natural”, “lógica” e “irresistível” de Cavaco (a de 1996 não fora nenhuma dessas coisas). Nos segundos, ante a desorganização, o desinteresse, o improviso, a divisão ou o desnorte das “direitas”, Sampaio dava a garantia de unir o PS e a percentagem necessária de “esquerda” para chegar a Belém à primeira. 2016 parece ser deste quilate. As últimas oito sondagens dão sempre Marcelo próximo da maioria absoluta (duas) ou muito acimadela(as restantes). Por outro lado, apesar da renovação da narrativa dos “sapos vivos”, não há divisão extensa nas “direitas”, e existe fractura profunda, e até confusão, Q

1986, 1996 ou 2006?

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ode ser, claro, como em 1986. Há trinta anos, a bipolarização “esquerda-direita” funcionou contra a última. Paulo Portas adolescente emocionou-se com a derrota do seu paladino, a“extrema-direita” votou no sapo vivo Freitas e aesquerda“pura e dura”, no vivíssimo batráquio Soares. Para o efeito, massas e barões ensaiavam amnésia, esquecendo-se de quando Freitas eraum “situacionista” e Soares “um homem daCIA”. Tal como agora, o PS “profundo” estava dividido entre candidatos: essencialmente Zenha, Soares e Pintassilgo. E a verdade é que a estrondosa vitória de Freitas na primeira volta tor-

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O Politólogo

Nuno Rogeiro nrogeiro@gmail.com

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Durante muito tempo, a Turquia não considerou o Daesh o seu inimigo principal, assim como, até ao colapso das Torres Gémeas, Washington minimizava Osama Bin Laden. Com o começo dos ataques directos no seu solo, e contra o importante peso turístico no PIB do país, Erdogan tem de reconsiderar. Está outra vez na linha da frente, como agredido. O monstro vizinho, minimizado durante anos, não é uma ficção. Não será uma “ameaça existencial”, mas existe. Essa a mensagem do “Estado da União” de Obama. O mesmo para a Indonésia, que estava prevenida. Há pelo menos dois grupos (o de Bahrum Naim e o de Abu Wardah Santoso) que querem a criação de uma “província distante” do “Califado” na Australásia. W

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A “província distante”


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LUSA

seguiu ser distante sem sobranceria, e irónico sem ofensa grave, e mostrou que pode conviver com muitas realidades. Terá sempre um amigo que é mais “comunista” do que Edgar, uma mulher mais “avançada” do que Marisa, um académico mais profundo do que Nóvoa, uma católica mais “progressista” e “consensual” do que Belém. E joga bem no tabuleiro contra a corrupção, do milagre das rosas e dos pobres, no constitucionalismo avançado e na telenovela. O que enerva os críticos é o facto de Marcelo poderagregaros votos dos investigadores e das donas de casa, dos que gostam dele como analista, dos que aprenderam com ele como professor, dos que o apreciam como espírito livre, mesmo que o maldigam como pessoa comum. Ou dos que o veneram como homem da rua, mesmo que não percebam o que pensa, o que diz e o que quer. Claro que um Marcelo em Belém não será seguro de vida para ninguém: nem para PSD/CDS (que estão em reconstrução), nem para António Costa.

Q nas “esquerdas” e no PS: só não se percebe quem será, desta vez, o Soares e o Alegre da história. Ninguém conseguiu, em campanha, ultrapassar a falta de notoriedade face a Marcelo, nem produzir demagogia positiva capaz de ressuscitar os apáticos das franjas e do “centrão”. Quanto a António Costa, preferiu a não ingerência, avisadamente. Já lhe bastam os outros Vietnames. Marcelo irritou muitos adversários por não cair nas ratoeiras mais óbvias: fugiu à caricatura “esquerda-direita”, não é candidato contra nem a favor do trono e do altar, não se enervou, con-

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Estou a ler Casas com Escritos, de Margarida Acciaiuoli, a história da habitação em Lisboa, e Política Externa Portuguesa, de Tiago Moreira de Sá. E ainda Ceuta, de Xavier de Figueiredo, e o fascinante OMacarrãodeEstaline, de J. Rönström e A. Ekman, sobre cozinha e História. Na ficção, AsPrimeiras HistóriasdeTrumanCapote, Desmobilizados, de Phil Klay, e Brooklyn, de Colm Tóibín (nafoto). Parapensar: Escritos sobre os Índios, do clássico António Vieira, JesusnoBancodosRéus, de David Limbaugh (desaconselhável a “progressistas”), de J.M. Russell, o razoável Um breve guia para os ClássicosFilosóficos, e a Jihad contra Riade, vista por T. Small e J. Hacker. É CaminhodeSangue. Nome apropriado. W

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Mesmo em conflito extremo, EUA e Irão mantinham formas de contacto sigiloso. Muitas vezes através da Suíça, a espaços por meio da Turquia. E o “sentimento antiamericano” quase não existe no povo persa. Por outro lado, embora pareça o inimigo mortal de Israel, o Irão é também a potência mais pragmática da região quanto ao “estado judeu”. Claro que há avanços e recuos. Depois de um ano de contactos secretos para libertar detidos dos dois lados, e o importante avanço nuclear, o caso dos marinheiros apresados ameaçava entornar a taça. Isso, e a persistência de Teerão numa capacidade militar balística, que legitimamente arrepia a região. Mas nada é para sempre, neste xadrez delicado. W

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Leituras em dia

D.R.

Xadrez entre as ruínas

Se ganhar com maioria esmagadora, face a um poder executivo minoritário e necessitado de negociações a olho, terá mais poder e influência do que Cavaco. Mas o seu estilo serádiferente: menos dramático, mas mais acutilante, mais opinativo, mas menos brusco, mais interventivo, mas só em casos-limite. Se Sampaio da Nóvoa passar à segunda volta, poderá aspirar a uma concentração dos votos de toda a “esquerda”, mas não é certo que, em compensação, uma parte do PS não vote maciçamente em Marcelo. Se for o caso de Maria de Belém na repetição, é certo que esta pode ir buscarmuitos votos às “direitas”. Mas também é certo que, face asi, Marcelo é capaz de pescarfundo nas “esquerdas”. Os cenários, as personagens e os intérpretes estão aí. Faltam só as pancadas (de Moliére). W

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Destaque

h Orlando da Costa e o seu cachimbo em Florenรงa, em 1962, numa pausa do Congresso de Escritores Europeus


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FAMÍLIA. ESCRITOR COMUNISTA ORLANDO DA COSTA MORREU HÁ 10 ANOS

OPAIBOÉMIODE * BABUSHEBABULÓ Foi preso pela PIDE, teve cinco livros proibidos pela censura, inventou anúncios para grandes empresas e adorava noitadas de conversa e copos com os amigos. Os filhos – o primeiro-ministro e o director do Expresso – passam o Natal juntos, mas raramente se encontram a sós e ergueram uma muralha para não falarem de política. PorPedro Jorge Castro

ARQUIVO DE RICARDO COSTA

*BABUSHEBABULÓ ERAMOS NOMES USADOS PELO PAIPARASEDIRIGIR, RESPECTIVAMENTE, AANTÓNIO ERICARDO COSTA

ESPÓLIO ORLANDO DA COSTA/MUSEU DO NEO-REALISMO

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ouco depois de o actual primeiro-ministro ter nascido, a 17 de Julho de 1961, a sua mãe e o seu padrinho de baptismo, o arquitecto Victor Palla, convocaram os respectivos cônjuges para uma reunião. Eram os quatro sócios numa empresa, mas a agenda deste encontro, em casa do arquitecto, era estritamente pessoal: a mãe e o padrinho tinham chegado à conclusão de que se tinham apaixonado, não sabiam bem o que haviam de fazer a partir dali, mas entendiam que o primeiro passo era partilhar o facto. Foi desta forma que o escritor Orlando da Costa, pai de António Costa, soube que o seu casamento estava em risco. No fim, em conversa apenas com a mulher, mostrou-se magoado: “Esta reunião foi de muito mau gosto.” Mais de 50 anos depois, a jornalista Maria Antónia Palla, mãe do chefe de Governo, recorda à SÁBADO esta história com algum receio. Não por o filho não apreciar particularmente que ela dê entrevistas, mas por desconhecer a sua reacção: “Ele nunca me perguntou pelo Victor Palla.”

g António Costa e o irmão Ricardo, a brincar no jardim da casa do pai, na praia do Carvoeiro. Hoje, um manda no Governo e o outro no Expresso

RICARDO COSTA: “A FAMÍLIA DO MEU PAI TINHA IMENSO DINHEIRO MAS ESTAVA A GASTAR OS ÚLTIMOS TROCOS”

Embora este episódio não seja referido, o dilema da mulher que sentiu amor por dois homens foi contado na sua biografia, escrita no ano passado pela jornalista Patrícia Reis. Maria Antónia ofereceu um exemplar ao filho, mas ele nunca fez qualquer comentário, ou por falta de tempo para ler ou, o mais provável, por ser tão reservado como era o pai a falar destes assuntos. O primeiro-ministro diz à SÁBADO que esse foi uma espécie de tabu do pai: “O meu pai era muito reservado em tudo, até sobre as nossas relações, quanto mais sobre as relações dele com a minha mãe. Foi um assunto que nunca abordou. Não achei que devesse ser eu a abordar.” Os pais de António Costa tinham-se conhecido 10 anos antes, no início da década de 50, ainda Maria Antónia andava no Liceu Francês. Quando o seu grupo de amigas via passar o estudante de Ciências Histórico-Filosóficas Orlando da Costa, atreviam-se: “Ele percebia que lhe achávamos graça. Chamávamos-lhe o Rajá.” Tinha as feições indianas que estão estampadas no rosto dos filhos e vestia-se de forma tão elegante que pa- Q 35


Destaque

Q recia um dandy. “Era um homem encantador”, recorda aquela que viria a ser a sua primeira mulher. Ele não se esqueceu dos piropos e, quando a viu no primeiro ano da Faculdade, apesar de já ser finalista, meteu-se com ela. Discutiram horas por causa do filme Milagre em Milão, de Vittorio de Sica. Trocaram o primeiro beijo junto a uma arcada à saída da faculdade, na Rua da Academia das Ciências. E começaram a namorar. Orlando da Costa morreu a 26 de Janeiro de 2006, faz agora 10 anos, mas a sua história é tão fascinante que não precisava de uma efeméride, nem de dois filhos influentes para ser contada. Ele próprio teve noção disso no fim da vida: organizou todos os seus papéis e fotografias e foi à Torre do Tombo consultar as suas fichas da PIDE (como a SÁBADO fez agora), para entregar todo o espólio ao Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, onde está organizado em 17 caixas. Nasceu em Moçambique em 1929. A família do pai, da elite de Goa, tinha sido tão rica que apenas um dos seus membros aceitou casar-se – os outros não queriam dividir as propriedades. Quando a mãe sofreu de tuberculose, veio de Goa com o marido para a Suíça, onde ficaram a viver durante um ano. “Tinham imenso dinheiro, mas estavam a gastar os últimos trocos”, conta à SÁBADO Ricardo Costa, director do Expresso e filho mais novo do escritor, assegurando que nem ele nem o irmão primeiro-ministro herdaram qualquer resto desta fortuna. Orlando tinha chegado a Lisboa em 1947 com um violino e uns poemas na mala, escritos depois de ter vencido um concurso de poesia no liceu. Envolveu-se no quotidiano da Casa de Estudantes do Império, onde conheceu alguns dos futuros líderes independentistas africanos, e não demorou até ter os primeiros choques com a PIDE. Esteve preso três dias em Novembro de 1950, por ter participado numa manifestação no monumento aos mortos da Grande Guerra. E em 1952, foi com outros 11 activistas a Albarraque recolher assinaturas para um abaixo-assinado a pedir ao Presidente da República que ninguém fosse perseguido por lutar pela paz. O objectivo parecia ingénuo, mas havia uma evidente intenção de contestar a ditadura. Só que, numa das casas, abordaram um sargento reformado

Retratos Orlando da Costa desenhado por...

Júlio Pomar 1

demasiado fiel a Salazar para ficar calado. E este tratou de avisar a PIDE, que enviou sete agentes para prender os jovens junto à estação de comboios.

José Dias Coelho

Maria Celeste Costa

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“SOU COMUNISTA, MAS GOSTO DE ME VESTIR BEM”, DIZIA ORLANDO DA COSTA. IA VÁRIAS VEZES COMPOR-SE FRENTE AO ESPELHO 36

Sempreem busca deum espelho Nas duas sequências de fotos de frente e de perfil à entrada da cadeia, Orlando da Costa surge com ar cuidado, na primeira de blazercom lenço e camisa branca, na segunda de fato e gravata. Continuou a ser um vaidoso pela vida fora. O seu amigo António Andrade conta à SÁBADO que, sempre que entravam num restaurante, o escritor fazia questão de ir ao espelho da casa de banho para arranjar a poupa e endireitar a gravata. “Sou comunista mas gosto de me vestir bem”, admitia. Os fatos e as camisas eram feitos por encomenda, coisa mais típica de burguês. Um dos seus editores, Manuel Alberto Valente, fixou, além de “uns olhos faiscantes que deixavam transparecer o brilho interior”, essa espécie de porte aristocrático: “Sempre bem arranjado, de bigode retorcido, a fazer lembrar as figuras dos paxás indianos.” A mãe de António Costa diz que o actual primeiro-ministro herdou do pai esta pequena vaidade: “Gostar de se vestir bem. Gostar de sapatos. Gostar de ter uma boa vida.” O próprio António, em vez de vaidade, prefere falar do “brio” do pai. Recorda-o sobretudo como “um homem de enorme tolerância e de grande sentido de humor”. E recusa apontar características que tenha herdado do progenitor: “Ninguém é bom juiz em causa própria.” “ÓToninha,ócara linda…” A segunda detenção de Orlando da Costa prolongou-se, segundo o juiz, devido ao risco de prejudicar a instrução ou de cometer novas infracções: “A sua conduta, quer no momento da detenção – desobedecendo e resistindo à autoridade – quer durante os interrogatórios leva a tal conclusão.” Maria Antónia e Orlando escreviam-se praticamente todos os dias. Ela ia duas vezes por semana à prisão entregar-lhe roupa, livros (para poder acabar a sua tese na cela) e comida (o filho Ricardo conta que o pai adorou toda a vida leite condensado, por ser uma das


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iguarias favoritas que recebia na cadeia). Quando chegava a Caxias, a jovem ouvia esta cantilena das presas: “Ó Toninha, ó cara linda, não ponhas a cara à Lua, porque a Lua nunca viu, cara linda como a tua.” Acha que era um código para avisarem o namorado de que ela estava ali, mas apenas lhe conseguia ver um braço a acenar. E em todo o período da detenção, só foi autorizada a vê-lo no Natal. Cá fora, tentava pressionar. Escreveu uma carta ao ministro do Interior, onde se identificava já como noiva de Orlando, a expor as dificuldades de carácter económico, físico e em matéria de estudos, que aquela detenção estava a representar para ambos. Também mobilizou 94 estudantes para subscreverem um abaixo-assinado. O próprio Orlando da Costa escreveu ao director da PIDE a queixar-

-se da injustiça da sua situação, mas obteve uma resposta seca: “Se acha que tem fundamento quanto diz, recorra ao tribunal competente.” Num dos interrogatórios, confirmou que era membro do MUD (Movimento de Unidade Democrática) juvenil, considerado pela PIDE “uma excrescência da associação secreta e subversiva que usa a designação de PCP”. Mas recusou responder a outras perguntas, mesmo depois de esbofeteado por um dos agentes. Só o libertaram ao fim de 157 dias de cárcere. Com medo de novas detenções, Maria Antónia decidiu que deviam casar-se, para poder ao menos visitá-lo na prisão. “Eu disse-lhe que realmente aquela vida assim não podia ser. Era muito penoso gostar-se muito de uma pessoa e não poder estar com ela. Acho que estava muito mais apaixonada por ele do que ele por mim”, compara a mãe do actual primeiro-ministro. Os pais de ambos reagiram mal: os dele porque foi o primeiro casamento misto naquela família cristã, os dela por ainda estar a estudar. Mas ela não ligou. Foram à conservatória, a festa foi um lanche com os pais e depois instalaram-se numa casa na Estrada de Benfica, mobilada com móveis feitos por um marceneiro que Orlando tinha conhecido na prisão.

Orlando, à esquerda, ao lado do irmão José. Em baixo, entre os seus pais, Maria Antónia Palla, a sua primeira mulher e mãe de António Costa

2 António Costa em bebé com o pai

3 Na primeira detenção pela PIDE, em 1950, ficou preso 3 dias

4 A segunda prisão, em 1952, foi mais longa: esteve 157 dias em Caxias

A MÃE DE ANTÓNIO COSTA CONVENCEU ORLANDO A NÃO IR PARA A CLANDESTINIDADE: “COMIGO NÃO CONTAS” 3

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ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO

FOTOS ESPÓLIO ORLANDO DA COSTA/MUSEU DO NEO-REALISMO

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Clandestinidade?“Ia serlogoidentificado” O escritor só aderiu formalmente ao PCP em 1954. Adoptou o pseudónimo “Soares”, segundo o depoimento feito à PIDE por outro militante. O seu controleiro era José Henriques Arandes, ou “Raul”. Entre os outros escritores comunistas do grupo encontravam-se Alves Redol, o “Vítor”, e José Cardoso Pires, o “Nunes”. O Partido desafiou Orlando da Costa a passar à clandestinidade e ele transmitiu essa proposta à mulher, mas Maria Antónia recusou: “Ele não aguentaria 24 horas sequer, era impossível, ia ser logo identificado, não era parecido com mais ninguém. Eu respondi-lhe: ‘Nem penses, não me casei contigo para essas vidas, não pertenço ao PCP, quero ter uma vida normal. Tu fazes o que quiseres, mas comigo não contas.’ Ir atrás só por ser mulher dele, agora que estava livre dos meus pais? Lá desistiu da ideia.” Mas continuou a afrontar o regime. Apoiou todos os candidatos da oposição ao Estado Novo e rubricou o seu nome nos principais abaixo-assinados contra Salazar. Em 1957, a PIDE pediu ao correio-mor para verificar toda a correspondência enviada ao pai e à mãe de António Costa, também ela já considerada desafecta ao regime. O pai de António e Ricardo Costa não conseguiu estabelecer-se como professor, porque a PIDE emitiu parecer negativo: “Não dá garantias de cooperar nos fins superiores do Estado.” Procurou então trabalho na publicidade – ele chamou-lhe uma vez “poesia por encomenda” – tornando-se um dos primeiros copywriters do País. Porém, antes de ser admitido, teve de passar num pequeno teste: imaginar uma campanha para as sopas Knorr. Transitou depois para a agência Marca, dos irmãos Anahory, onde rapidamente ascendeu a directorgeral. Foi dele o slogan da TAP “Através do mundo em boa companhia”, como refere Pedro Gentil-Homem, Q 37


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Q na sua tese de doutoramento em Design. Também trabalhou entre outras com a Ford, a Volkswagen, a Miele, a Nestlé, as Páginas Amarelas e a Mabor. Escrevia os guiões para os anúncios filmados por exemplo por José Fonseca e Costa. “Era um comunista a trabalhar com os capitalistas”, nota o filho Ricardo Costa. “Chegava num Mini verde, estacionava frente à agência por volta das 10 da manhã e ficava até tarde. Quando precisava de conceber anúncios, fechava a porta do gabinete, como se estivesse a escrever um livro, criava vários slogans e depois ia comentar com o resto da equipa”, recorda António Andrade, que entrou na agência como paquete e foi amigo do escritor até ao fim. Entretanto, o casamento com Maria Antónia sofreu o mais terrível dos golpes: a morte da primeira filha, Isabel, quando tinha 3 anos, num acidente a caminho da escola.

Onde fica Abril Aos meus filhos António Costa e Ricardo Costa tempo e lugar de lembrança tempo recanto de esperança sítio momento de esquecimento entre raiz e gesto de levantamento raiz é um falso calar na noite é calor arvorado a levante do vento gesto é sustento de quem se afoite na noite em vigília de armas e civilmente fazer a greve da fome ao largo da abastança lançar redes fundo com temperança temperada primavera dos anos setenta febril violenta de pasmo e alegria abril fica hoje nosso tempo dia a dia aqui fica e além nosso espaço e moradia FONTE: Vocações Evocações: poesia; Orlando da Costa, Ed. Caminho, 2004

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ARQUIVO DE RICARDO COSTA

Destaque

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1 O escritor comunista, de cachimbo, na sua Vespa

2 Com os escritores José Cardoso Pires (à dir.ª) e Urbano Tavares Rodrigues (de olhos fechados) em Itália

3 No seu gabinete na agência de publicidade Marca

4 Divertido, a simular um “fuzilamento”, como ele próprio chamou a esta foto, captada por Alexandre O’Neill

COMO PUBLICITÁRIO, FOI O AUTOR DO SLOGANDA TAP: “ATRAVÉS DO MUNDO EM BOA COMPANHIA.” ERA UM COMUNISTA A TRABALHAR PARA OS CAPITALISTAS

Nunca se recompuseram. Ainda avançaram para o segundo filho (António Costa), mas Maria Antónia sentia-se culpada: “Foi uma tragédia na nossa vida. São duas dores que se somam. A gravidez do António foi um tempo doloroso, tinha a sensação de estar a trair a minha filha, como se fosse uma maneira de renunciar a ela.” Enquanto o marido se refugiou no trabalho, Maria Antónia procurou a compreensão de um amigo do casal: “Quem me apoiou nessa fase muito difícil foi o Victor [Palla]. Ajudou-me a transformar a casa, ia comigo comprar coisas e almoçávamos ou jantávamos juntos.” O arquitecto Victor Palla, que frequentemente usava papillon, bigode e óculos, era amigo do casal há 10 anos, e companheiro de Orlando da Costa na tertúlia que às quartas-feiras se reunia no café Chiado, onde participavam também Fernando Namora, Vergílio Ferreira, Vasco Granja e Manuel Villaverde Cabral. “Porque gosto deste convívio? Pela mesma razão que gosto dos outros meus convívios: porque dá a possibilidade da compreensão e às vezes da amizade. E não há a censura!”, respondeu Orlando da Costa a um repórter do Diário de Lisboa. A partir de Junho de 1962, a PIDE ordenou a todos os postos de fronteira que informassem “urgentemente” sempre que Orlando da Costa e Maria Antónia saíssem do País: “Não [lhes] deve ser feita qualquer observação, a fim de não suspeitarem que estão a ser controlados.” Mas nesta altura já o casamento estava perto do fim. Depois daquele encontro a quatro onde ambos revelaram aos respectivos cônjuges o sentimento que os unia, Maria Antónia não sentiu qualquer esforço do marido para se reaproximarem. “Eram dois amores diferentes. Eu gostava imenso do Orlando. Tinha uma relação quase umbilical, profunda, era amiga dele. E não o traí. Apenas comunicámos um sentimento. Durante um ano houve muitas hesitações da minha parte. Eu estava muito apaixonada pelo Victor Palla, mas tinha uma pena enorme do Orlando, não podia causar-lhe mais sofrimento. Ele mostrou-se meu amigo, mas não estava apaixonado por mim.” Houve alguns conflitos depois da separação, segundo Maria Antónia: “Ele castigou-me um bocado, não dando quase nada de pensão, uma espécie de retaliaçãozinha.


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‘Foste tu que quiseste separar-te’, dizia ele. E eu: ‘Este dinheiro não chega para nada.’” Norankingdoslivrosproibidos No ano em que nasceu António Costa, o pai publicou o primeiro romance, O Signo da Ira. Todos os exemplares foram apreendidos pela PIDE, tal como tinha acontecido com os três livros de poesia anteriores: A Estrada e a Voz, Os Olhos Sem Fronteira e Sete Odes do Canto Comum. O mesmo viria a suceder a Podem Chamar-me Eurídice. Orlando da Costa é o sétimo autor português com mais livros proibidos pela censura (cinco no total), segundo uma investigação de José Brandão citada pelo Expresso em 2012 – e que surpreendeu o próprio Ricardo Costa. Em 1962, um ano após a edição e a apreensão, O Signo da Ira foi galardoado com o prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências, o que permitiu que o livro voltasse às livrarias, desta vez sem oposição do regime. O autor recebeu ainda 5 contos (€1.815 em valores actuais). O pequeno António Costa vivia durante a semana com a mãe e aos fins-de-semana ia para casa do pai, com quem jogava à bola ao domingo de manhã em Belém. Quando tinha 7 anos, nasceu o seu irmão Ricardo, filho do segundo casamento do pai, em 1964, com a bióloga marinha Inácia Paiva. Se António era tratado por Babush (rapaz), no dialecto concani, falado em Goa, Ricardo passou a ser Babuló (criança). Aos 10 anos, Babush deixou de querer dormir em casa do pai. Ia lá para as refeições, mas voltava para dormir na casa da mãe, onde tinha o seu espaço, com televisão no quarto, para fazer as críticas de TV pu-

O livro do pai que António Costa mais gostou de ler foi o último, editado em 2004: “É o que tem um estilo mais contemporâneo”, justificou à SÁBADO. O favorito de Ricardo Costa é o primeiro romance, O Signo da Ira

Cachimbo

blicadas no Século Ilustrado. Dava notas aos programas, mas, apesar de ser filho de um escritor e de uma jornalista, os seus textos – citados agora no livro António Costa, Os Meios e os Fins do LíderSocialista, de Miguel Marujo e Octávio Lousada Oliveira – foram publicados sem revisão, com erros de português, como “despesso-me”, “chatisse” ou “epnótizou”. A mãe diz que ele passou a escrever bem depois do 25 de Abril, para redigir os comunicados e panfletos nas lutas políticas em que se envolveu. Orlando da Costa nunca comentou o assunto com o filho António, explica o próprio chefe de Governo. “O meu pai não era do género de pai que fosse muito elogioso, enfim, pelo menos no que me diz respeito. Era um homem muito exigente. Tínhamos um 14, tinha pena de não termos um 15. Tinha um apurado sentido crítico. Relativamente a essas actividades infantis, nunca apreciou que tivesse qualquer tipo de actividade extra-escolar.” A relação com o irmão nessa fase inicial era marcada pela diferença de sete anos. Não havia assim tantos interesses comuns. Mas António tinha talvez alguns ciúmes do irmão: quando Maria Antónia Palla comentou a hipótese de entregar alguns brinquedos ou roupa que já não usava a Ricardo, o filho rejeitou: “Não!” Após o 25 de Abril, em Dezembro de 1977, Orlando da Costa pôde finalmente regressar à Índia e levou Babush e Babuló numa viagem a Nova Deli, Bombaim e Goa. Ricardo Costa tinha 9 anos, lembra-se de ter aprendido a jogar críquete com os primos e pouco mais. Já o primeiro-ministro recorda à SÁBADO a importância dessa viagem para o pai: “Foi a primeira vez que fui a Goa. Tudo era uma enorme surpresa, mas uma das coisas que mais me sensibilizou foi ver a forma como o meu pai reencontrava os seus próprios passos de infância e nos queria transmitir exemplos vivos da sua própria memória.”

Era uma das suas imagens de marca. O da imagem ficou para o seu grande amigo António Andrade, após a morte do escritor

Um trioa discutirpolítica A política cedo começou a ser uma paixão comum a ligar os dois irmãos e o pai, quando estavam juntos ao fim-de-semana ou nas férias. “Sempre discutimos muito política e falámos os três muito alto, o que às vezes era um horror para as outras pessoas”, admite Ricardo. Se António aderiu logo à Juventude Socialista, o irmão só se envolveu na política quando tinha 17 anos, para participar na campanha de Mário Soares em 1985. O Q

“A GRAVIDEZ DO ANTÓNIO FOI UM TEMPO DOLOROSO, TINHA A SENSAÇÃO DE ESTAR A TRAIR A MINHA FILHA”

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Q pai, apoiante de Salgado Zenha nessas presidenciais, perguntou-lhe porquê. “Eu expliquei e ele achou que eu expliquei bem. Tendo sido marxista, era heterodoxo no resto. Não tentava converter ninguém e dava-se com todo o tipo de pessoas. Tanto me levava à festa do Avante!, como ao balcão do Gambrinus para comer croquetes, que ele dizia que eram os melhores de mundo”, conta o jornalista. Amuralha chinesa entreosirmãos As carreiras dos dois irmãos na política e no jornalismo levaram-nos ao topo: um dirige um dos órgãos de comunicação mais influentes e é o principal comentador político da SIC; o outro, como chefe do Governo, tem o cargo mais decisivo do poder político. São, desde Novembro, os dois irmãos mais poderosos do País. Quanto mais poder foram tendo nos últimos anos, mais inevitáveis se tornaram os choques. O primeiro grave terá sido a divulgação pela SIC das escutas a António Costa no processo Casa Pia. “Eu não o avisei antes de a peça ir para o ar. E nunca falámos sobre isso, mesmo depois”, afirma o jornalista. O irmão passou a ter a partir daí uma postura mais fechada e desconfiada em relação à comunicação social. Em 2007, na campanha para as autárquicas, Ricardo Costa anunciou que não ia comentar o tema, faltando mesmo a um Expresso da Meia-Noite sobre a campanha. E em 2012, quando teve acesso a um relatório feito pelo ex-espião Jorge Silva Carvalho sobre si, Ricardo Costa enviou-o ao irmão por também ele ser aí referido. António Costa saiu em defesa do jornalista, exigindo publicamente explicações sobre o assunto. Na primeira das três vezes em que ponderou avançar para a liderança do PS, logo após a saída de Sócrates em 2011, António telefonou ao irmão, numa terça-feira, pouco depois das 8h da manhã, a dizer que estava a ser muito pressionado para se candidatar. “Ainda não sabia se ia, mas queria saber se isso tinha implicações na minha vida. Eu disse-lhe que não fazia sentido ele estar preocupado com isso”, recorda o jornalista. Diz que o irmão não lhe pediu conselhos. “Nem eu daria. Erguemos entre nós uma muralha chinesa, que não está escrita: não falamos de política. Talvez só uma ou outra vez de coisas antigas.”

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Destaque

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1 António Costa (à esq.ª) aos 16 anos em Goa, com os tios e os primos. O pai, ao lado da segunda mulher, Inácia, e o irmão Ricardo estão na ponta direita

A máquina de escrever Olivetti de Orlando da Costa foi substituída por um computador Compaq, oferecido em conjunto pelos dois filhos nos anos 90

Três anos mais tarde, quando desafiou António José Seguro, António Costa não avisou o irmão: “Candidatou-se de manhã e não me disse. Ele avança, eu estou na redacção e sou surpreendido.” Nesse mesmo dia, Ricardo Costa pôs o lugar à disposição, mas Pinto Balsemão, Pedro Norton e Luís Marques disseram-lhe que isso não fazia sentido. O Conselho de Redacção, idem. À noite, António ligou-lhe para saber se estava bem e ele respondeu que ia continuar à frente do Expresso. No dia seguinte, Ricardo Costa escreveu de impulso e publicou a “carta aberta a um irmão político”, com referências ao pai de ambos e às discussões políticas lá em casa, como quando António se virava para o pai e invocava “os seus amigos sectários”, numa referência aos comunistas: “Tu nunca foste jornalista e eu nunca fui político. Andámos e andamos em barricadas diferentes. E é assim que tem que ser. Temos a vantagem de saber que nunca teremos de fazer um frente-a-frente, mas temos a desvantagem de saber que o Expresso te vai cair em cima de quando em vez e que tu vais tentar cair em cima do Expresso.” António não resistiu a cair em cima do Expresso um ano mais tarde, enviando um SMS a destratar o subdirector João Vieira Pereira, por não ter gostado de uma crónica intitulada “Perigosos desvios do PS à direita”, sobre as propostas económicas da equipa socialista. Acusou-o indirectamente de “recorrer ao insulto reles e cobarde”, perguntou “Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece?” e concluiu:


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“Como não vale a pena processá-lo, envio-lhe este SMS para que não tenha a ilusão de que lhe admito julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António Costa.” O director do Expresso soube do SMS do irmão no domingo de manhã. Mais uma vez não falou com António Costa. “Era o mesmo que eu ligar-lhe quando [José] Sócrates se armasse em parvo com o Expresso.” João Vieira Pereira respondeu na semana seguinte, numa crónica com o título “É a liberdade, António Costa”. Denunciou o conteúdo do SMS e declarou: “Nunca fui atacado ou me senti tão condicionado por alguém com responsabilidades políticas.” Ricardo Costa publicou no Twitter que essa resposta tinha sido decidida em equipa. António Costa diz que não volta a falar com João Vieira Pereira, por ter denunciado uma conversa privada. E garante que não se arrepende de ter enviado a mensagem. [ver entrevista ao primeiro-ministro nas págs. 42 e 43] Piada na prenda deNatal O director do Expresso sabe que a qualquer momento pode voltar a haver problemas. “Itcomes with the brother. O Expresso é um jornal grande, tem uma direcção forte, editores fortes e uma redacção crítica. A cadeia de decisão é muito partilhada. Mas não sei se a situação é sustentável a médio prazo. Pode haver um momento em que considere impossível continuar em funções. Hoje é possível. Amanhã, logo vejo.” No ambiente informal da redacção, Ricardo Costa usa o sentido de humor e não poupa o próprio irmão, a quem já se referiu como “o Costa mau”. Não são propriamente os melhores amigos um do outro. Raramente se encontram a dois, resolvem os assuntos ur-

2 Orlando da Costa e o filho Ricardo na praia de Vale Centeanes, onde tinha uma casa

3 Babush e Babuló a posar para a foto em cima de um macho

4 Orlando da Costa (à dir.ª), com o jornalista Jacinto Baptista, foi boémio e adorava noitadas

“A TUA VIDA NÃO TERIA FEITO SENTIDO SE NÃO TIVESSES BEBIDO MUITO NUM CERTO PERÍODO”, DISSE-LHE RICARDO

gentes por telefone, não têm grandes interesses comuns além da política, até no futebol são rivais (António torce pelo Benfica, Ricardo pelo Sporting), mas encontram-se regularmente nas festas de família, em aniversários ou no Natal. Na véspera da posse como primeiro-ministro, António ligou ao irmão a perguntar se ele queria assistir, para dar o nome dele e permitir o seu acesso à sala reservada aos familiares no Palácio da Ajuda. Depois à noite houve um jantar de família e o director do Expresso foi lá ter. No último Natal, passaram a noite de 24 com duas dezenas de familiares em casa da mãe do primeiro-ministro. E no dia 25 jantaram em casa de Ricardo Costa. O chefe de Governo ofereceu ao irmão a trilogia As Mil e uma Noites, de Miguel Gomes. Ricardo retribuiu com uma prenda em forma de piada – três blocos de apontamentos pautados da loja A Vida Portuguesa, de Catarina Portas: um para tomar notas sobre o Bloco, outro sobre o PCP e outro sobre o PAN (os parceiros da coligação que suporta o Governo). Dez anos antes, em 2005, o último Natal de Orlando da Costa foi passado com os dois filhos, os netos e a segunda mulher em casa de Maria Antónia Palla. Tinha-lhe sido diagnosticado um tumor no esófago. O médico deu-lhe seis meses de vida e não andou longe. Foi o filho Ricardo que o acompanhou a essa consulta no Hospital dos Capuchos. O escritor quis saber se a causa do tumor era o tabaco, e ficou embaraçado quando soube que era o álcool. Foi Ricardo que o confortou: “A tua vida não teria feito sentido nenhum se não tivesses bebido muito num certo período.” Tentou desdramatizar, dizendo-lhe que era praticamente impossível ter vivido a vida que viveu, como escritor e publicitário, sem a parte boémia, sem todas as noites que passou a conversar e a beber nas várias tertúlias em que participava, ou, em casa, quando recebia Q

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h O escritor em sua casa com o filho jornalista

Q amigos como David Mourão Ferreira ou José Cardoso Pires e as conversas se arrastavam até ao nascer-do-sol. Tinha um prazer tremendo em conversar com as pessoas. Quando o amigo António de Andrade o levava à casa na Lapa depois de jantar, ficavam sempre duas horas a conversar dentro do carro: “Ele ficava a contar histórias, às vezes até era chato que eu queria-me vir embora para casa, mas não tinha coragem de dizer nada. Ia levá-lo às 11 da noite, à 1h ou 2h da manhã ainda lá estava à porta porque ele adorava conversar.” Era também em conversas destas que manifestava ao amigo, de forma afectuosa, o orgulho que sentia pelos filhos. Outras vezes relatava pequenos episódios. Sobre uma ou outra discordância política com António, encolhia os ombros: “Ele é chuchas [socialista], o que hei-de fazer?” E sobre o dia em que o filho Ricardo lhe apareceu de carro novo, soltou este comentário, misto de surpresa e choque: “Vê lá tu, apareceu-me de Mercedes.” Votarou nãovotarnoirmão Um dia depois de uma conversa de hora e meia num café de Belém sobre o pai e a relação com o irmão, Ricardo Costa enviou à SÁBADO um email sobre questões pendentes. Por exemplo, aceitou ceder sete fotos antigas, mas António apenas aparece numa: “Não posso dar mais do meu irmão, porque penso que isso caberia a ele e dependeria da vontade dele, que não sei qual é.” E aproveitou para clarificar uma das suas respostas da véspera, o que é interessante por mostrar que voltou a pensar no assunto e quis evitar qualquer interpretação errada. A pergunta era se, como eleitor, admitia votar contra o irmão. “Em relação ao meu voto, não sei se a minha ideia ficou clara. Podes usar o que eu disse, embora ache que tenha sido atabalhoado e confuso, ou as linhas seguintes, mais organizadas e claras: ‘Qualquer pessoa que me leia ou ouça na televisão sabe o que penso. Tenho uma formação de esquerda mas sou, na essência, profundamente liberal, quer nos costumes quer na economia. Isso faz com que não tenha um voto fixo nem ideológico. Posso votar no meu irmão ou não. Mas fico sempre contente com o sucesso dele. É meu irmão e duvido que esse sentimento algum dia mude, concorde ou não com o que ele pensa ou faz em cada momento.’” Na véspera, a resposta à pergunta sobre se seria capaz de votar contra o irmão não foi assim tão diferente, mas logo ao início, de rajada, saiu-lhe isto: “Se não fosse capaz, isso significava que não tinha aprendido nada com o meu pai.” W 42

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Destaque

Entrevistaa ANTÓNIOCOSTA O primeiro-ministro garante que deixou de ver os comentários do irmão. Ao telefone, de Cabo Verde, fala da conversa que tiveram antes de anunciar a sua candidatura ao PS, da carta que ele lhe escreveu e do caso do SMS. Por PedroJorgeCastro

“Escolhemos serirmãos” Disse publicamente que tinha falado com o seu irmão antes de anunciar a candidatura à liderança do PS. Pode descrever-me essa conversa? Sim, também falei com o resto da minha família, com a minha mulher, com a minha filha. As decisões que nós tomamos na vida implicam com as vidas dos outros. Tive de ponderar a vida do meu irmão, que era (e é) director do Expresso. Queria saber se era uma coisa que não lhe estorvava a vida. Quando decidimos a nossa vida temos de pesar as implicações para a vida dos outros, não é? Mas iria mudar a sua decisão se ele lhe dissesse que ia sair do Expresso? Bom, boa pergunta. [Pausa] Na altura fiz-lhe a pergunta e ele disse-me que não, pôs-me à vontade, disse que não tinha problema nenhum, que as pessoas já estavam habituadas. Depois telefonou-me a dizer que tinha posto o lugar à disposição e que o dr. Balsemão e a redacção tinham achado que não havia problemas e devia manter-se em funções. Menos um problema. O que achou da carta a um irmão político, que ele publicou no Expresso? Imagino que tenha lido. Claro que li. Li a carta como um aviso do que vinha aí.

Ele disse na carta que o vosso pai ficaria aflito se os dois filhos tivessem de colidir um com o outro. O meu pai sempre foi reservado nos seus sentimentos, mas iria ficar aflito. Voltaria a enviar aquele SMS ao subdirector do ExpressoJoão Vieira Pereira? [Em reacção a uma crónica no Expresso, ver texto principal] Obviamente que não porque a essa pessoa não tenciono voltar a falar ou comunicar de forma alguma. Uma pessoa que revela uma conversa privada é uma pessoa a quem nunca mais dirigirei a palavra na vida. Olhando para trás, está arrependido de ter enviado o SMS, tendo em conta o problema que causou? Não, não estou nada arrependido. Ficou preocupado por este caso ter deixado o seu irmão numa posição desconfortável? Não, nem sei porque há-de ter deixado o meu irmão numa situação desconfortável. Ainda se fosse fazer queixas ao meu irmão de um subdirector dele, isso aí… Mas nunca falei ao meu irmão sobre isso, isso faz parte da nossa regra. Como avalia a cobertura que o Expressofez da sua campanha e agora do seu mandato como primeiro-ministro? Não me compete a mim avaliar o


RUI GAGEIRO/FLASH

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Expresso, nem os outros órgãos de comunicação social. Custa-lhe ver o seu irmão, como comentador, fazer análises críticas sobre a sua prestação ou dizer que perdeu um debate ou que a campanha não lhe está a correr bem? Para que o meu irmão se sinta à vontade a dizer o que bem entende, tenho procurado não o ler. Para que ele não se sinta inibido. Não lê mesmo? Não leio mesmo. Não tenho lido as coisas que ele escreve nem tenho visto as coisas que ele diz na televisão. Houve outro episódio complicado antes, quando a SIC divulgou as escutas dos seus telefonemas no âmbito do processo Casa Pia em 2003. Sentiu-se magoado por ele não o ter informado antes de a peça ir para o ar? O meu irmão não tinha que me informar de nada. Entendi que a SIC tinha feito mal. Mas em relação ao meu irmão… é como tudo: as pessoas têm de separar a sua vida profissional da sua vida familiar. Se eu tivesse conhecimento que havia um mandado de captura contra o meu irmão também não ia avisá-lo. Cada um exerce as suas funções independentemente do quadro familiar. O meu irmão não tinha que me avisar nada do que a SIC ia pôr.

g “Tínhamos mães diferentes, nunca vivemos juntos, construímos a relação de irmãos por vontade própria”, garante o primeiro-ministro

F “A uma pessoa[João VieiraPereira] querevela umaconversa privadanunca maisdirigirei apalavra navida”

F “Posso dizer que os comunistas não comem criancinhas ao pequeno-almoço porque sou testemunha disso”

Conseguem não falar de política em contexto familiar? Procuramos mesmo não falar de política. Temos encontrado sempre forma de que a vida profissional de cada um de nós, por ser potencialmente conflituosa, não interfira na nossa relação. E que a relação que temos um com o outro também não perturbe as nossas vidas. Nunca ninguém teve dúvidas de que eu não sou fonte do meu irmão. Nunca ninguém teve dúvidas de que o meu irmão não vai ser simpático comigo por ser meu irmão. O seu irmão diz que ergueram uma muralha chinesa para não falar desses assuntos. Nem sempre é fácil porque os nossos interesses obrigariam a falar de política e de jornais. Obviamente nem sempre é fácil, mas aplicamos essa regra há muitos anos e tem funcionado bem. Que me recorde só uma vez há muitos anos, era Manuela Ferreira Leite líder do grupo parlamentar do PSD, fez uma declaração sobre um jornalista irmão de ministro. E o PSD teve de pedir desculpa pela forma como ela tinha falado. O meu irmão apanhou o Guterres a ir às escondidas ao Palácio de Belém tratar de uma remodelação do Pina Moura, mas felizmente eu nem sabia, ficou logo esclarecido que não

podia ser eu a fonte. A partir daí nunca mais ninguém teve dúvidas sobre a forma como funcionamos. Se me pergunta se é fácil, bom, nem sempre é fácil. Têm algum outro interesse em comum além da política? Nem ao futebol vamos juntos, ele é do Sporting, eu sou do Benfica. Mas nós somos irmãos porque optámos por ser irmãos. Com sete anos de diferença, tínhamos mães diferentes, nunca vivemos os dois juntos. Quer dizer, a relação de irmãos foi uma relação que construímos por vontade própria. Nós escolhemos ser irmãos, porque tínhamos todas as condições para cada um fazer a sua vida e não termos a relação que temos. O que achou da prenda de Natal que o seu irmão lhe deu, que creio terem sido três blocos para anotar as reivindicações dos três partidos que apoiam o Governo. Achei graça, achei graça. Acha que o facto de ser filho de um militante comunista facilita os acordos com os partidos à esquerda do PS, na câmara e agora no Governo? Não lhe sei dizer. Porventura sim. Posso dizer que os comunistas não comem criancinhas ao pequeno-almoço porque sou testemunha disso. W 43


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g Marcelo Rebelo de Sousa fotografado pela SÁBADO a conduzir o seu Mercedes em Espinho, no domingo, dia 17, a uma semana das eleições

REPORTAGEM. A CAMPANHA ATÍPICA DE MARCELO REBELO DE SOUSA

NAESTRADACOM UM Abraça, beija e afaga de forma nunca vista. Diverte-se. Mas foge de comentários que aborreçam An

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i o meu pescoço!”, grita o candidato estrangulado por um abraço de uma mulher em Espinho, que pula de felicidade com o beijo do professor, comentador, celebridade e estrela pop da política portuguesa. “O seu marido deve ser parecido comigo!”, ironiza ele. Chove. Estão cobertos de guarda-chuvas. “Chuva é alegria!”, diz Marcelo Rebelo de Sousa, com a resposta pronta para tudo (menos para criticar o Governo de António Costa). Entra no carro. A mulher histérica traz-lhe o marido. Ele sai do carro. “Olha, o marido! E é mesmo parecido comigo!” Abraços. Volta para o carro. Arranca. E comenta: “Ela queria dizer que o marido é igual a mim, mas eu acho que é muito diferente. Às vezes há sósias, mas ainda bem que ele apareceu ou ficava com a ideia toda a vida de que ela tinha um marido parecido.” Marcelo é isto: o candidato a Presidente da República, com hipóteses de ganhar, mais atípico de sempre, que não tenta, não se esforça, nem procura ter uma pose presidenciável.

A

RICARDO PEREIRA

De madrugada a ler emails Levou o próprio carro para a campanha. Conduz o seu Mercedes A180, com matrícula de 2015, enquanto explica à SÁBADO que a equipa só tinha dois carros e podia fazer falta um terceiro “se houvesse uma avaria numa comitiva tão pequena”. A viatura encaixa na narrativa da campanha low-coste é mote para histórias: “Já atropelou um texugo monumental, entre a Covilhã e Castelo Branco. Parecia que tinha espatifado um pneu, mas não. Era um plástico protector.” Uma sorte. Marcelo guia o carro em circunstâncias excepcionais – como reportagens para televisões – e no resto dos trajectos segue noutro Mercedes, um táxi de categoria A, pilotado pelo sr. Vítor, um taxista de Cascais que lhe presta serviços desde 1992. Tudo neste marcelismo é diferente do habitual em campanhas eleitorais. As sessões acabam cedo, entre as 19h e as 20h, não há bandeiras, tónio Costa. O candidato ao vivo e a cores. Por Vítor Matos FotosRicardo Pereira pins ou autocolantes (à excepção Q

AESTRELAPOP

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Q de um autocolante de um grupo de espontâneos das Caldas da Rainha, a dizer “Marcelo é Fixe” e que foi promovido por um velho socialista). O trabalho de Pedro Duarte, o director de campanha e ex-líder da JSD, consiste em pôr em prática o inverso das suas funções: em vez de garantir a mobilização partidária, deve assegurar-se de que ninguém mobiliza os militantes. Ao mesmo tempo, deve desincentivar dirigentes e autarcas de colagens excessivas ao candidato. Mas é inevitável: em Viseu, Aveiro, Santa Maria da Feira e Caldas da Rainha, teve os presidentes de câmara do PSD como cicerones. Segundo um dirigente do partido, Marcelo pedia “encarecidamente” para não aparecerem figuras nacionais. Mas iam surgindo algumas. O presidente de câmara de São João da Madeira – que terá eleições antecipadas também a 24 de Janeiro – foi de propósito a Santa Maria da Feira para ser visto ao lado de Marcelo. Não há almoçaradas ou jantaradascomício de carne assada, mas nem por isso Marcelo Rebelo de Sousa se deita a horas. Aos 67 anos, apesar de tudo, as olheiras são superficiais. À noite, no hotel, o solitário noctívago abre o computador portátil e da meia-noite e meia até às 4h da manhã dedica-se a outras actividades. É o membro da caravana com menos horas de sono. “Durmo quatro horas ou quatro horas e meia. Quando durmo cinco já não é mau”, diz à SÁBADO. “Leio os jornais online do dia seguinte até às 4h.” Já não lê imprensa em papel. Prefere as assinaturas digitais. Pela madrugada, responde a SMS e a dezenas de emails. “Recebo uns 80 a 100 emailspor dia e uma boa parte exige resposta. Tenho coisas para resolver da Fundação [Casa de Bragança] e da faculdade. E depois há as pessoas que me apoiam. Por pouco tempo que gaste é considerável. Passo uma a duas horas a responder às mensagens.” As acções de campanha nunca começam antes da 10h ou 10h30. Marcelo toma o pequeno-almoço no quarto: dois iogurtes naturais e duas bananas. “O potássio e o magnésio 46

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1 Sempre à vontade, mesmo quando visita doentes neurológicos num centro em Torres Vedras. Desta vez, não mergulhou

300 lugares em Leiria demoraram a encher. Foi preciso que chegassem autocarros mobilizados por um autarca das Caldas para que a sala se compusesse

MESMO EM CAMPANHA, MARCELO PASSA A MADRUGADA A LER JORNAIS E A RESPONDER A EMAILS

são bons para a campanha.” É hipocondríaco, toda a gente sabe. Exibese a entrar em farmácias durante as arruadas, a perguntar pelas novidades e a recomendar medicação a toda a gente. Toma todos os dias meio anti-histamínico por causa das mudanças de temperatura (tem uma rinite) e este ano precaveu-se com Bronco-Vaxon, desde Outubro, para “reforçar as resistências”. Seria sinal de que já se estava a preparar para uma campanha de Inverno?

Marcelo pára o carro e salta para os braços de quem passa. Se fosse outra campanha, dir-se-ia que era um desastre. A organização funciona numa espécie de caos controlado. “Já não falta muito!”, grita um homem. “Está ‘quaise’, está ‘quaise’”, diz ele. Rebelo de Sousa não ataca nem comenta adversários, jamais critica o Governo ou a esquerda, evita embaraços e compromete-se o mínimo. Com a samarra alentejana que usa nas andanças da Funda3


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2 Especialidade do candidato: o beijo repenicado a senhoras de uma certa idade

FOTOS RICARDO PEREIRA

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ção Casa de Bragança – um dos maiores proprietários no Alentejo – prossegue a vida num ofício novo em que é exímio: mostrar-se às televisões a distribuir “afectos”, miminhos ao povo, e a irradiar simpatia perante câmaras e microfones. Um “pirilampo luminoso”, classificou a sua mandatária de Viseu. Joga damas e faz de árbitro Tirando os discursos de fim de dia, a campanha é montada para demonstrar “a proximidade às pessoas” do suposto futuro Presidente. Não há outro assim, com naturalidade diante dos doentes neurológicos a fazer tratamentos numa clínica de luxo dedicada a pessoas com Parkinson e Alzheimer, em Torres Vedras. Pergunta tudo. Joga damas com uma enfermeira e uma doente. Dá instruções e faz de árbitro: “Coma aquela, coma, excelente!... Agora tem de comer esta, não tem outra hipótese… não, tanto não! Isso é batotice!... Agora você tem de fazer uma maldade, vamos tentar dar aqui uma golpaça… esta peça para ali.” Nas Caldas da Rainha entra numa loja para tirar fotografias tipo-passe. Passa a vida em pastelarias. Em Alcobaça está hora

Momentos insólitos... ...mas moderados. Não deu mergulhos nem recolheu lixo

A sandocha

A “marselfie”: foto com o candidato a PR, que manteve uma paciência infinita

Almoçou uma sanduíche e um Sumol depois de uma acção numa escola. “Adoro isto!”

SOBRE SUTIÃS E CUECAS NUMA LOJA EM VISEU: “OLHA, ROUPA AERODINÂMICA DE SENHORA”

Decidiu ir à missa, domingo, em Santa Maria da Feira sem avisar o pároco. Mas foi discreto

A missa

Andar à vela Na Nazaré, andou num barco para deficientes motores

Boxe terapêutico Encontrou dois amigos a fazer tratamentos num centro neurológico. Um deles treinava boxe

CudeJudas não é uma expressão muito presidenciável, mas Marcelo usou-a num tempo de antena para dizer que tinha de vir de longe para um doutoramento

“EU TENHO UMA QUASE HÉRNIA, MAS AINDA FICO MANCO OU PARALÍTICO, NÃO ME DEIXO OPERAR”, DIZ ELE A UMA IDOSA

e meia a falar de doçaria com a proprietária da Alcoa, que lhe manda bolo-rei pelo Natal. Escolhe três bolos atrás do balcão e esconde-se na cozinha com uma caixinha para ninguém o ver comer. Agarra na cara das velhinhas – “minha querida...” –, a quem aplica longos beijinhos repenicados. Toca, abraça, afaga: “Então essas doenças? Ai uma hérnia… não me fale nisso” – queixa-se a uma septuagenária na Marinha Grande. “Eu tenho uma quase hérnia, mas ainda fico manco ou paralítico, não me deixo operar…” Uma peixeira em Viseu diz-lhe que perdeu 100 mil euros no BES. Ele consola-a: “Eu sei que a justiça em Portugal é lenta, mas a justiça vai acontecer.” Ela contribui

para o espectáculo: “Se recuperar o dinheiro até faço striptease.” Marcelo encolhe-se: “Ah, isso também não é preciso…” Entra numa loja tradicional de roupa feminina com sutiãs e cuecas enormes: “Olha, temos aqui roupa aerodinâmica de senhora.” Para outra mulher: “Você tem uns olhos mais bonitos do que os meus.” Um homem em Aveiro diz-lhe para fazer um mandato com inteligência. Ele, cioso da sua massa cinzenta: “Pode-se ficar velho, mas não se fica burro.” Marcelo continua como já era no fim do liceu, quando António Mega Ferreira (futuro socialista) lhe escreveu no livro de curso: “E eis-nos enfim chegados a esta promessa eminente, faz gaffes, faz disparates, anda sempre contente.” Não é preciso montar encenações, como nas campanhas tradicionais. Marcelo transforma tudo num happening, admite um membro da comitiva. À noite, os discursos não apelam ao confronto nem procuram polémica. São anódinos, redondos, ditos em tom de homilia suave. Numa aula de História a alunos de uma escola secundária em Alcabideche, concelho de Cascais, teve de fazer pedagogia na sua área política a explicar aos jovens que a estratégia de António Costa “não foi politiquice” e que cumpriu as regras do jogo constitucional. A tónica foi sempre esta, para desespero da sua base de apoio. Marcelo tem a direita garantida e assim persegue o voto da esquerda. Não hostiliza. Na Lourinhã, pediu um aplauso para Manuel Alegre. A única crítica que se lhe ouviu teve a ver com as mudanças permanentes na Educação, para apelar aos consensos. A afinação com o Governo vai tão longe quanto isto, ao ser questionado sobre o futuro do governador Banco de Portugal: “Não deixarei de secundar o que o Governo entender fazer cá dentro e lá fora.” Este é o Marcelo candidato, que viu o seu amigo de infância e mandatário por Lisboa Eduardo Barroso – sobrinho de Maria Barroso e Mário Soares – a dizer que o sonho da mãe dele era vê-lo Presidente. Na entrevista que pode ler nas próximas páginas, ele nega. W 47


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Entrevistaa MARCELOREBELODESOUSA O candidato da direita que lidera as sondagens é uma personagem diferente do comentador viperino. Não vai pedir a António Costa um reforço dos acordos à esquerda, mas exige um entendimento “sólido” em Abril sobre o Programa de Estabilidade a apresentar em Bruxelas. Por Vítor Matos

dia tinha sido preenchido, em Viseu. A entrevista realizou-se ao fim da tarde, no hotel, depois de ter ido ao quarto responder a emails e preparar notas para o discurso. Comparado com o comentador, parece um descafeinado. Ele diz que, como Presidente da República, não será “herbívoro nem carnívoro”. Eis um novo Marcelo Rebelo de Sousa que acha “insensato especular sobre cenários”.

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Disse que só se candidatava se tivesse um sinal muito evidente da providência divina. Qual foi? Há um momento em que a pessoa pondera os prós e os contras e sente um dever muito forte de ser [candidato]. E eu senti esse dever muito forte de ser. Tomei em cima da hora a decisão de avançar e isso significa, para quem é crente… ponto final parágrafo. É uma descrição racional… Uns dirão que é uma ponderação racional, outros que é uma inspiração ou que é um imperativo do destino ou do fado. Para quem é crente, é um adicional que é um 48

F “Para quem é crente, éum [imperativo] adicionale um dever concreto como cristão servira colectividade” F “[Cavaco]teve um exercício solitário do podereao longo dasua vidapolítica não tevede fazer consensos”

dever concreto como cristão de servir a colectividade. Nos debates com Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém adoptou uma agressividade que não lhe era conhecida. Teve alguma coisa a ver com o seu trauma com o debate contra Jorge Sampaio, nas autárquicas para Lisboa em 1989, em que foi demasiado complacente? Ponderando o que ocorreu em cada um dos debates, teve a ver com a circunstância do momento. Acho que correu como previsto. Os comentários que ouvi dividem-se. Em relação à campanha, dizem-me que devia ser mais agressivo. Mas há dois filmes: o dos debates contrasta com o da campanha... Em relação aos debates: eu estava a passear em Santarém e uma senhora veio ter comigo e disse: “Ai achei que foi agressivo demais nestes últimos debates.” Aliás , nem foi aí, foi um cavalheiro, onde é que foi? Foi em... onde fui comer um doce e depois... foi em Vila Real... um interlocutor achava que não tinha sido suficientemente contundente. Não achei que tivesse um estilo agressivo.

RICARDO PEREIRA

“Não vou a correr dissolverse não se cumpriro défice”

Acusou Maria de Belém de querer ser psicóloga. Mas não é isso que conta num candidato à Presidência: o perfil psicológico da pessoa? Acho que o mais importante num PR é a maneira com ele vê a Constituição e o seu papel. Isso não tem a ver necessariamente com características psicológicas. Tem a ver com a maneira como se veste a pele jurídico-política: um estilo mais ou menos interventivo. Quando fala das suas diferenças em relação a Cavaco Silva não costuma identificá-las em termos de interpretação constitucional, mas de estilo e forma de estar na vida... Não. Em relação ao professor Cavaco Silva isso tem muito a ver com as pessoas, claro. Mas também com o percurso, com a experiência que foi diferente, com a extracção geracional e com a formação. Eu


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sou jurista e ele não é, e isso relaciona-se com a interpretação da Constituição. Não tem a ver com ser mais tímido ou extrovertido. Mas esse lado psicológico é fundamental para a relação com os protagonistas. Isso tem a ver também com o seu relacionamento com os protagonistas, com a sua história política e com a sua experiência. Imagine uma pessoa que tem uma experiência política de exercício mais solitário do poder e menos compartilhado, que ao longo da sua vida política não fez ou não teve de fazer consensos, que governou com maioria absoluta... ...está a falar de Cavaco Silva. ...na prática, acabou por não experimentar essas situações. Quem as experimentou e teve de as resolver está mais à vontade para enfrentar o País de hoje.

Ao estar sempre a dizer que é preciso fazer tudo para que o Governo de António Costa não caia, reforça a ideia de que o Governo é bastante frágil… Não. Significa que, qualquer que fosse o Governo, à saída de uma crise, no momento em que é preciso aguentar o País, qualquer Governo precisaria da colaboração e da solidariedade do PR. Mesmo que tivesse maioria absoluta. Um Governo tem dois desafios difíceis: construir todos os dias a sua base política de apoio, e fazer o equilíbrio entre medidas sociais inadiáveis e a não derrapagem financeira. Se ganhar as eleições pede a António Costa um reforço dos acordos parlamentares? Não. Não peço reforço dos acordos. O que existe existe, vou lá pedir… Abril vai ser um mês importante para o Governo, é quando é en-

g Marcelo garante que vai fazer tudo para o Governo manter a base de apoio e conseguir o equilíbrio entre as medidas sociais e o défice

F

“Não estou desnatado. O problema não éserdesnatado. O Presidente não é comentador. O PR éum árbitro”

tregue em Bruxelas o Programa de Estabilidade, que antevê os próximos orçamentos. Se perceber que não há um acordo sólido, o que vai fazer? Tem de haver um acordo sólido em torno daquelas ideias. A questão não se pode colocar pela negativa. Tem de haver! O País não se pode dar ao luxo de ter uma crise política a seguir a tudo isto que vivemos neste ano eleitoral. Portanto, significa que tem de haver um acordo em torno no plano de médio prazo apresentado em Bruxelas. E se não houver? Tem de haver. Mas se não houver? Não ponho sequer na minha cabeça a hipótese de não haver... Ao não ter na sua cabeça a hipótese de não haver, pode requerer uma intervenção mais Q drástica? 49


Q A minha ideia não é ter nenhuma intervenção mais drástica. A ideia é o Governo durar a legislatura. Estamos a colocar a hipótese de haver uma crise logo no primeiro ano da legislatura, veja o absurdo. Com essas posições, parece que está um bocadinho desnatado e descafeinado em relação à sua actividade como comentador. Não acha que as pessoas percebem isso? Não estou desnatado. O problema não é ser desnatado. O PR não é comentador. O PR é um árbitro. As pessoas sabem que pensa de uma determinada maneira. Sabem. Mas o Presidente não chega lá para fazer aquilo que agrada a uns e a outros. Não é para impor a força das suas ideias, a sua ideologia, a sua origem partidária. Não é para isso. É para ser árbitro mesmo. Neste casos é para ser um árbitro colaborante. Ficou preocupado quando o ministro das Finanças disse que poderíamos não sair do procedimento por défice excessivo? O primeiro-ministro continua a afirmar que é possível ficar abaixo dos 3% e que a solução do Banif é uma situação excepcional que a União Europeia aceita como tal. Acredito no que diz o primeiroministro e o Governo. Vai haver eleições e as pessoas gostavam de saber o que pensa. Certamente não vou a correr dissolver o parlamento por causa disso. Não me passa pela cabeça, senão já tinham sido dissolvidos vários parlamentos e havia eleições

50

20 16

RICARDO PEREIRA

P16REPORTAGEM

PR ES IDE NC IAI S

Portugal

gi Apesar de o amigo Eduardo Barroso ter dito que o sonho da mãe de Marcelo era vê-lo como Presidente, ele nega

F “O PRtem de assumiruma função de proximidade, não se trata de sermais carnívoro ou mais herbívoro”

em não sei quantos países, uma vez que acima dos 3% ficaram várias vezes não sei quantas economias, entre as quais a portuguesa. Vou ler-lhe umas frases, perguntar se concorda, e depois digo quem foi o autor: “Há uma relação inversa entre o protagonismo mediático do PR e a sua influência efectiva sobre o processo de decisão.” Concordo. Por isso disse que, enquanto PR, parte fundamental da minha intervenção será discreta e não pública. Concorda que “os que cedem à tentação de visibilidade fácil e vaidade efémera acabam fatalmente por perder margem de manobra?” Por isso digo que, se for eleito, o PR fará uma magistratura essencialmente discreta. Quem escreveu estas frases foi Cavaco Silva nos Roteiros VII, em 2013, definindo as características de um PR, que um professor apelidou de “herbívoro”. Achou que era uma “interpretação minimalista” dos poderes. Acontece que o seu tom de campanha não vai além disto e foge a tudo que seja um bocadinho mais carnívoro… O País está numa situação que nunca viveu até agora. Estou a falar

do que deve ser o papel do PR num momento que é diferente do que se viveu. Nunca houve uma situação tão complexa na Europa, uma saída da crise tão incerta, uma coesão social tão deslaçada e, a somar a isso, facto novo, uma divisão do País político em dois países, sem precedente na democracia. Isso faz com que o ideal seja um candidato herbívoro? Tem de ser um Presidente que saiba assumir uma função de proximidade com pessoas – não se trata de ser mais carnívoro ou mais herbívoro – e que tenha uma responsabilidade na formação de consensos de regime que é mais urgente. O PR pode ser confrontado com vários dilemas. Por exemplo: vê um governo a caminhar para o despesismo. O que faz? Acho insensato especular sobre cenários. Toda a vida especulou sobre cenários. Pois foi, mas não era candidato presidencial, podendo ser Presidente daqui a dias. Mas continua a especular para dentro, para si. Só não especula para fora. Não, não especulo, não especulo. Se um governo não cumprir os objectivos financeiros quer dizer


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que não faz nada, ou há um grau a partir do qual actua? Como imagina, não espera que vá dizer o que vou fazer perante situações que são meras hipóteses. Seria uma grande insanidade. É o que se espera do candidato… É o que não se espera de um candidato presidencial. Seria um candidato muito insensato se estivesse a assumir compromissos relativamente a meros cenários. Sobre a dissolução da AR ou a demissão do Governo, tem dito que a dissolução é uma decisão mais grave que a demissão, que exige o irregular funcionamento das instituições... Limito-me a dizer o seguinte: enquanto na demissão do Governo temos uma grave crise no funcionamento do sistema, na dissolução temos ainda que ponderar se não há outra solução governativa dentro do parlamento. Pode dar um exemplo de irregular funcionamento? Isso entrava no domínio da especulação. Entrava no domínio da interpretação dos poderes presidenciais. Deve haver apontamentos das suas aulas com esses exemplos. Não é adequado a um candidato a PR estar a fazer essa especulação. Não dava esses exemplos nas suas aulas, sobre o que entendia ser o irregular funcionamento das instituições? Nas minhas aulas eu não era candidato. Agora sou. Portanto, daqui a uma semana posso ter de enfrentar situações ao longo de cinco anos que são imprevisíveis neste momento e que são insusceptíveis e indesejáveis de especulação. Foi criado e educado para chegar aqui. O que diriam os seus pais se o vissem nesta circunstância? Acho que a minha mãe ficaria surpreendida. Fui formado e assumi muito cedo a ideia de uma carreira académica e cheguei ao topo dessa carreira. A minha mãe não tinha nenhuma expectativa, assim como o meu pai, que eu viesse a chegar a Presidente da República. W

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Portugal

20 16

P16PRESIDENCIAIS

PR ES IDE NC IAI S

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POSTAISDEBELÉM FUTILIDADES

DESCODIFICADOR “Sou candidato de várias áreas” “Socialista candidata sou eu!” [Maria de Belém, em reacção às palavras de Nóvoa]

O que quiseram dizer Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa Que se for preciso fazer uma luta na lama para definir quem é, afinal, o “dono” dos votos dos militantes do Partido Socialista, estão prontos para o combate. Contra o flirt intenso de Nóvoa com António Costa, Maria de Belém exibe como arma a sua relação madura e duradoura com o partido. Quem venceria?

MARCELO R. SOUSA

SAMPAIO DA NÓVOA

MARIA DE BELÉM

A samarra pujante que usou em várias acções de campanha tem sido um must indumentário. Confere-lhe pedigree popular, sobretudo no interior do País.

Para se proteger das temperaturas agrestes, o ex-reitor da Universidade de Lisboa tem optado por um anoraque da Gant de cor azulescura. Elegante e discreto.

A socialista tem caminhado pelas ruas em grande estilo, usando um casaco impermeável de uma conhecida marca de roupa de luxo: Armani

FREITAS DO AMARAL

Em 1986, quando concorreu contra Mário Soares, Diogo Freitas do Amaral passeou-se pelo País com um elegante sobretudo verde. Não chegou para ganhar

LUSA

[Sampaio da Nóvoa, durante uma arruada realizada no Cacém, no domingo, dia 17]

UMA ENTREVISTA SÉRIA AO TINO – SÓ PARA VARIAR Vitorino Silva fala sobre os grandes desígnios nacionais

Orlando Cruz é escritor e crónico candidato a político. É certo que até hoje o impacto que obteve com as candidaturas que já protagonizou a cargos de grande prestígio (as autarquias de Matosinhos e do Porto são dois exemplos) é proporcional à visibilidade da sua obra artística, mas Orlando garantiu, na apresentação da corrida a Belém, que chegara a sua hora. Finalmente a classe política “vigarista” ganharia um adversário à altura. Acabou por não ganhar. Vemo-nos em 2021, Orlando? 52

guém disse a verdade. A Finança é que manda. Se nos declarassem guerra, o que faria como Presidente? Usava os acordos internacionais. Mas ninguém vai declarar. Tudo farei para que o povo tenha paz, alegria e dignidade. Como? No caso dos bancos não faria o

LUSA

CEMITÉRIO DE CANDIDATOS

Vai passar à 2.ª volta? O povo vai votar com Tino nestas eleições. O que é para si a função presidencial? Dizer a verdade e estar sempre do lado do povo. Teria mantido o governo PSD/CDS? Teria. Não se mudam as regras a meio do jogo. Mas agora está, está. E teria enviado os Orçamentos do Estado de PSD/CDS para o Constitucional? Enviaria. O Tribunal é um órgão independente que respeito. Nin-

que fez o Cavaco. [Teria dito] a verdade. A sua arma para um “País mimoso” é falar a verdade? Não esconder nada. E quando não soubesse, perguntava a quem sabia. Já tem uma lista de conselheiros? Ia convidar valores nacionais: Adriano Moreira, Helena Sacadura Cabral. Não terminou Comunicação Social por causa do Inglês. As línguas são o seu calcanhar de Aquiles? Vou falar sempre em português. S.C.


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Portugal

ASSUNÇÃO CRISTAS. O ESTILO DE LIDERANÇA DA CANDIDATA À PRESIDÊNCIA DO CDS

A“RAPARIGADO SMS Desafiada via telefone por Paulo Portas para entrar no partido, a ex-

L

Estrela da televisão Recuemos no tempo. Poucos dias depois de Assunção Cristas ter aparecido pela primeira vez na televisão, em 2007, Paulo Portas almoça com Bagão Félix e pergunta-lhe se viu o Prós e Contras dessa semana, sobre o referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez. Quer ouvir a opinião do ex-ministro da Segurança Social acerca de uma professora desconhecida que se destacara nesse debate televisivo, a quem enviaria uma mensagem de telemóvel poucos dias depois. “A ideia foi desafiá-la para entrar no partido, achava que personificava bem os valores da democracia cristã. Aquilo foi pesca à linha do dr. Paulo Portas, não foi de arrasto”, recorda à SÁBADO. A história deu que falar nos corredores da sede do partido. Bagão Félix já a conhecia porque tinham feito 54

ambos parte de um movimento contra a despenalização da IVG, mas no CDS-PP ninguém sabia ao certo quem era Assunção Cristas. Nuno Magalhães recorda-se de ter chegado ao Largo do Caldas para uma reunião da Comissão Política e de ter cumprimentado “uma rapariga que desconhecia”. “Não sabes quem é?”, perguntou-lhe um colega. E acrescentou: “É a do SMS.” O SMS de Paulo Portas assinalou a chegada de Assunção à política. Poucos diriam que ao fim de oito anos estaria a concorrer para a liderança, mas fontes contactadas pela SÁBADO dizem que, entre os potenciais candidatos, “Cristas foi a que mais vontade mostrou.” E “essa determinação é essencial para ser líder”, afirma um colega da bancada parlamentar do CDS. Assunção assusta-se pouco com áreas que não conhece. Quando Portas a convidou para ministra, ela desafiou um amigo, colega de faculdade e padrinho de casamento, diplomata, que estava colocado em Tóquio: “Tens de vir para meu chefe de gabinete.” Duarte Bué Alves ainda objectou, quando soube que a área era a Agricultura e Ambiente: “Mas isso não é a minha praia...” Não teve sucesso: Resposta: também não era a praia dela. “Vamos ter de aprender juntos”, concluiu. Daniel Campelo, que não a conhecia e foi seu secretário de Estado, diz que foi isso que mais o surpreendeu: “Fiquei im-

h Numa sondagem, Assunção Cristas era a preferida para liderar o partido, com 51,3%. Nuno Melo reuniu apenas 27,5% e já desistiu da candidatura

PEDRO CATARINO/CM

egislativas, 2009: Paulo Portas anda em campanha com Assunção Cristas, praticamente desconhecida. Chama uma repórter da SÁBADO, faz questão de lha apresentar: “É a drª Assunção Cristas e fixe bem este nome, que ela ainda vai mandar no CDS.” Janeiro de 2016: com Portas fora da liderança, há uma sucessão por resolver e Cristas é candidata, até agora a única: “A decisão [de se candidatar] estava tomada há muito tempo”, assegura um próximo. Houve um compasso de espera, Cristas quis “aguardar pela reflexão de Nuno Melo” e manteve-se em contacto com ele. Mas já sabia que queria ser candidata – “sem angústias nem ansiedades”, diz a mesma fonte. Vai, muito provavelmente, mandar no CDS.

-ministra


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

” CHEGOU AO TOPO

é ambiciosa, obsessivamente organizada e nunca faz horas extras. PorAndréRitoeMariaHenriqueEspada

pressionado com a capacidade de aprendizagem dela em matérias que não conhecia. Lia os relatórios num dia e no seguinte sabia tanto ou mais do que quem os fizera.” Apolémica doAtlântico Um dos dossiês mais polémicos que teve de gerir enquanto governante foi a venda do Pavilhão Atlântico, que decorreu do processo de extinção da Parque Expo. Não mostrou dúvidas: disse a Vítor Gaspar, no início do mandato, que o pavilhão era para privatizar, não fazia sentido o Estado ser dono de uma sala de espectáculos. Levou a

Fora da política... ...Assunção Cristas gosta de cinema e até canta

Cinema Diz que é uma “fã contida” do cinema português. O último filme que viu? O Leão da Estrela

Música Costuma cantar para os filhos quando vai no carro. Músicas pouco infantis como as d’Os Quais, banda de Jacinto Lucas Pires

Social É das personalidades políticas mais apetecíveis para a imprensa cor-de-rosa. Depois do nascimento do último filho, foi fotografada na Volvo Ocean Race, ao lado do marido.

decisão a Conselho de Ministros (CM), escudada nos pareceres jurídicos e financeiros dos serviços, que apontavam na mesma direcção. Com três concorrentes, adjudicou a venda ao consórcio que integrava o dono da Música no Coração, Luís Montez, genro de Cavaco Silva, a equipa de gestão do Pavilhão Atlântico e um fundo de capital de risco, o BES PME. A decisão foi fortemente criticada devido às contas da Música no Coração: como tinha sido possível a um empresário afundado em dívidas (em 2012, quando comprou o negócio, a Música no Coração tinha capitais próprios e resultados líquidos de vários milhões negativos) celebrar um negócio com o Estado no valor de 21,2 milhões de euros? Até que ponto não tinha havido favorecimento a Montez por causa da sua ligação familiar a Cavaco? E o facto de o marido de Cristas – o gestor bancário Tiago Machado da Graça – ter entrado nos quadros do BES em Abril de 2012, três meses antes da venda, teria influenciado a decisão favorável ao banco então liderado por Ricardo Salgado? À SÁBADO, o marido da ex-ministra garantiu que a sua entrada no BES aconteceu “em circunstâncias normais”. A controvérsia não comoveu Assunção: fonte do seu então gabinete explica que “esteve sempre muito confortável com a decisão que levou a CM, estava escudada nos serviços”. No Governo, a sua rotina era variada: de manhã via o clippingdas notícias do dia no email, enviado pelos serviços, ouvia rádio no carro a caminho do Ministério, mas depois deixava o ruído informativo de lado. Usou pouco a sua secretária, preferia

USA O CARRO COMO ESCRITÓRIO: DESPACHA COM ADJUNTOS E ASSESSORES E VAI SEMPRE AO TELEFONE

Família É casada com Tiago Machado da Graça, de quem tem quatro filhos. Em Setembro de 2012 o marido fundou uma empresa de consultoria mas nunca teve qualquer actividade

FAZ REUNIÕES COM HORA FIXA PARA COMEÇAR E TERMINAR. RARAMENTE SE ATRASA

a mesa de reuniões. E estava pouco: reunia com os secretários de Estado em registo informal – tratavam-se por tu – depois dos conselhos de ministros, mas a pasta obrigava-a a deslocações frequentes. Usava o carro como escritório, despachando com adjuntos e assessores ou dando instruções por telefone. O trabalho nocturno era raro: fazia questão de estar em casa à hora do jantar para estar com a família. E as reuniões também tinham hora para terminar: “Não havia encontros a começar às 18h sem hora para acabar.” Quando teve uma filha, durante o mandato, chegou a fazer as reuniões com os secretários de Estado em sua casa. Era mais prático. Nuno Magalhães confirma: “Tem uma grande capacidade de trabalho mas a sua maior virtude é a organização. É muito metódica com a sua agenda e cumpre-a escrupulosamente, prepara bem o que quer dizer nas reuniões e a que horas vão terminar. É muito pontual.” O seu processo de decisão era em regra aberto e longo: ouvia muita gente, recolhia informação, delegava bastante e “não largava o osso”, como lembra José Diogo Vasconcelos que foi seu secretário de Estado Adjunto, e que aponta um exemplo: “Conseguimos, por exemplo, que Bruxelas aceitasse que o Alqueva fosse financiado com fundos estruturais, coisa em que ninguém acreditava. E foi preciso ser persistente. E foi preciso ver isso com o ministro Vítor Gaspar, depois com o primeiro-ministro, cá, depois fazer lobbying em Bruxelas em ‘n’ reuniões, a tentar e a voltar a tentar convencê-los. Ela é tenaz.” W 55


Portugal

esmo com gripe, ainda foi à campanha de Maria de Belém, de quem era um dos principais apoiantes nas presidenciais. Na segunda-feira almoçou fora, no Madeirense, em Lisboa. António de Almeida Santos morreu nessa noite, dia 18, quase a fazer 90 anos.

M

Olegislador-mor h Não se armava em modesto quando dizia com frequência ter escrito dezenas de leis em pleno Conselho de Ministros, à mão: “Dificilmente terá havido um legislador que tenha feito tantas leis e tão rapidamente.” Era vaidade, e era verdade. Num depoimento à Antena 1, um emocionado Vera Jardim recordou como por vezes lhe pedia para redigirem a dois uma lei e dividiam o trabalho. No dia seguinte ele trazia uma redacção diferente, mas sem criticar a anterior proposta do amigo.

Oamigodoseuamigo

ÁLVAROTAVARES/ARQUIVO DN

h Todos os anos, pelo Natal, Almei-

PS. MORREU O HISTÓRICO PRESIDENTE HONORÁRIO DOS SOCIALISTAS

AS SEIS FACES DE ALMEIDA SANTOS Foi advogado, ministro, fadista, e até Presidente da República por uns dias. Só não foi primeiro-ministro. Por Maria Henrique Espada 56

da Santos escrevia, à mão, 1.500 postais de Natal, a que juntava ainda um cartão pessoal, escrito de um lado e de outro. Com ele, tudo era pessoal e pessoalizado. Ele gostava de pessoas, dizem os amigos. Tanto, que se lhe colou a frase “aos amigos, tudo, aos inimigos, nada, aos restantes aplique-se a lei” – mas sem nunca se lhe localizar a origem. Se o disse, não se sabe onde ou quando. Colou-se-lhe também o rótulo de que metia cunhas, mas esse não recusou. Pelo contrário, justificou: “Confesso que uma vez ou outra ainda meto cunhas, mas não tanto agora. Era fácil dizer: tenha paciência, mas cunhas eu não meto. Mas isso é desumanidade, porque há ali uma aflição”, disse numa entrevista à SÁBADO, em Novembro de 2006.

Presidentedoparlamento h Foi um consulado afável (19952002), dava-se bem com muitos não socialistas, trocava bilhetinhos com várias bancadas. Mas o socialista Artur Penedos, seu amigo e que foi seu secretário da mesa da Presidência da Assembleia da


21 JANEIRO 2016 www.sabado.pt

República, lembra outro lado, o da exigência: “Nenhum diploma dava entrada sem que ele o visse. Nenhum. E às vezes mandava para trás, pedia correcção, aos grupos parlamentares e ao governo.” Era educado, não dizia “fizeram asneira”, sugeria “isto aqui ficava melhor se levasse uma volta neste sentido...” Gostava muito do que fazia ali, mas continuou a praticar outras coisas: nunca deixou, por exemplo, de fazer umas piscinas, mesmo em viagens oficiais.

j António de Almeida Santos morreu em sua casa, em Oeiras, no dia 18

bleia da República e até Presidente da República interino, quando Jorge Sampaio foi operado, em 1996.

câmara. Escreveu-lhe mais um dos seus bilhetinhos. Não recusava convites, mas que fossem menos, pedia: “Assim não tenho descanso!”

Ofadista

Família

Oderrotado

Casou cedo, com uma colega de curso. Marcou-o a morte trágica de uma filha

h Pôs cartazes pelo país a pedir 43%, teve 22%, no mais baixo resultado de sempre do PS, fruto, também, da ascensão do PRD, o novo fenómeno eanista da política portuguesa. O resultado de 1985 abriu caminho a 10 anos de Cavaco Silva como primeiro-ministro. Foi dos poucos cargos que não exerceu: foi ministro, presidente da Assem-

SE LHE PEDIAM CUNHAS, ACHAVA QUE SERIA “UMA DESUMANIDADE” RECUSAR

h Deixou Coimbra depois do curso de Direito, mas Coimbra nunca o deixou. Foi lá que tocou guitarra na tuna e cantou no orfeão (andou até em digressão em África) e continuou, mesmo já na política, a cantar fado de Coimbra. No Natal de 2000 gravou um disco com Dias Loureiro, Só Para Amigos, por brincadeira. Depois disso editou Coimbra no Outono da Voz. Como presidente da AR, numa viagem a Cabo Verde, acabou a cantar fado com o social-democrata Carlos Encarnação, “na praia da Boavista, com músicos que lá estavam”, conta o ex-presidente da câmara de Coimbra, um amigo de há muitos anos. Almeida Santos implicava-lhe com as gravatas, mas não recusava os convites da

Odescolonizador h Foi acusado, com Mário Soares, de ter sido um, ou o principal responsável pelos desastres da descolonização portuguesa, como ministro da Coordenação Interterritorial. Como advogado, em Moçambique, onde exerceu cerca de 20 anos, era próximo da oposição, defendeu independentistas moçambicanos. E era amigo da família rebelo de Sousa: o pai de Marcelo, Baltazar, foi governador em Lourenço Marques. Quando escreveu as suas Quase Memórias (do colonialismo e da descolonização), numa versão dos acontecimentos que também teve críticas, a preocupação era mostrar que a decisão foi mais de Melo Antunes do que dele ou de Soares. W PUB

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Mundo 1

ATENTADOS. OS PORTUGUESES VÍTIMAS DO EXTREMISMO ISLÂMICO

NOLOCAL ERRADOÀ HORAERRADA

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No 11 de Setembro de 2001 morreram cinco. Desde então, foram mortos mais sete. O último foi esta semana, no Burkina Faso. Por Fernando Esteves

6

Indonésia

2002 Diogo Ribeirinho h Visto pela última vez a dançar numa das discotecas da moda de Bali, o soldado pára-quedista, de 20 anos, encontrava-se de férias. Fazia parte da missão de paz das Nações Unidas em Timor-Leste quando foi apanhado pelo atentado de 12 de Outubro de 2002. O ataque, o mais mortífero de sempre em todo o Sudeste Asiático, com 202 mortos, foi atribuído à Jemaah Islamiyah, uma antiga rede indonésia com ligações à AlQaeda. O corpo de Diogo foi identificado através do ADN resultante das recolhas capilares. Foi o sexto português vítima de atentados islâmicos desde o ataque aos EUA, em 2001, em que morreram cinco.

1 Diogo Ribeirinho, pára-quedista de 20 anos, foi apanhado pelo atentado mais mortífero da história do Sudeste Asiático, com 202 mortos

2 André Silva (na foto que a mãe segura) estava de férias com três amigos em Marrocos. No dia em que morreu devia ter ido fazer um safari

3 Gilberto Leal foi raptado e executado pelo Movimento para a Unicidade e a Jihad

Marrocos

2011 André Silva h Passava pouco do meio-dia quando o jovem de 23 anos decidiu descontrair com mais três amigos na esplanada do café Argana, na praça Jamaa el-Fna de Marraquexe. De repente, o caos instalou-se: uma explosão provo58

5

ANDRÉ SILVA ENCONTRAVA-SE NUMA ESPLANADA EM MARRAQUEXE QUANDO UMA BOMBA EXPLODIU

cada pela Al-Qaeda fez 16 mortos e 20 feridos, quase todos estrangeiros. Nesse dia, os quatro amigos deveriam ter participado num safari, mas o estado febril de um deles fez com que ficassem por Marraquexe. Residente em Cadenazzo, na Suíça, o rapaz trabalhava no cantão de Ticino como marceneiro. O pai, de Tarouca, havia sido vice-presidente da Casa do Benfica em Cadenazzo.

Mali

2014 Gilberto Leal h “Em nome de Alá, está morto.” Foi desta forma que Yoro

Abdul Salam, responsável do Movimento para a Unicidade e a Jihad na África do Oeste, confirmou, em entrevista telefónica à France-Presse a morte do luso-descendente de 61 anos raptado em 20 de Novembro de 2012 por homens armados perto de Kayes (oeste do Mali), quando viajava, proveniente da Mauritânia, numa autocaravana. O grupo não preci-


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4 Maria da Glória Moreira estava numa praia tunisina quando o Estado Islâmico atacou e fez 39 mortos 4

5e6 Manuel Colaço Dias e Precília Correia foram vítimas dos ataques de Paris de Novembro de 2015

7 António Basto foi a mais recente baixa. Estava num restaurante na capital do Burkina Faso quando morreu

Tunísia

é perfeitamente segura, é a única democracia nos estados árabes.” E partiu, instalando-se no hotel Riu Imperial Marhaba, em Port El Kantaoui, 140 quilómetros a sul de Tunes, a capital. Estava na praia quando um atirador solitário a matou, e a outras 38 pessoas, num ataque que seria reivindicado pelo Estado Islâmico. “Além de todo o choque que uma situação tão drástica e tão violenta causa, torna-se quase irónico, tendo em conta que a minha sogra estava a recuperar de uma viuvez relativamente recente, e que estava a reaprender a viver – esta era a primeira viagem que ela fazia sozinha –, e tinha ido para um destino que lhe agradava particularmente, onde tinha boas recordações de ter estado com o meu sogro”, disse o genro.

2015

França

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sou quando e em que circunstâncias o refém foi executado.

Maria da Glória Moreira h Quando estava a programar a viagem, o genro disse-lhe: “Não vás, vai para a Grécia, as Canárias...” Maria da Glória, uma viúva de 76 anos, respondeu: “A Tunísia

2015 Precília Correia e Manuel Colaço Dias h Precília, uma luso-descendente de 35 anos, assistia ao

MARIA DA GLÓRIA MOREIRA TINHA IDO DE FÉRIAS PARA A TUNÍSIA PARA “REAPRENDER A VIVER”

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de Junho foi o dia em que, em 2014, o Estado Islâmico se autoproclamou “califado mundial”. Desde aí os atentados sucedem-se

PRECÍLIA CORREIA MORREU NO BATACLAN, PARIS, QUANDO ASSISTIA A UM CONCERTO

concerto da banda norte-americana Eagles of Death Metal no Le Bataclan, na noite de sextafeira, 13 de Novembro, quando a sala de espectáculos parisiense foi tomada de assalto por um grupo de terroristas do Estado Islâmico. Filha de pai português e mãe francesa, trabalhava numa loja da Fnac na capital. A última fotografia que colocou na página do Facebook tem a data de 23 de Julho. É de uma praia paradisíaca. Além de Precília, outro luso-descendente morreu nessa noite. Manuel Colaço Dias, de 63 anos, residia em França há 45 anos mas era natural de Corte de Pinto, uma aldeia a poucos quilómetros de Mértola, no Alentejo. Em Paris, trabalhava como motorista de uma empresa de transportes e turismo. Nessa sexta-feira tinha levado três pessoas ao estádio para assistirem ao jogo particular de futebol entre França e Alemanha. Terá morrido numa das explosões que ocorreram junto ao recinto.

Burkina Faso

2016 António Basto h É a mais recente vítima portuguesa da Al-Qaeda. Na sexta-feira, 15 de Janeiro, jantava com os colegas Arnaud Cazier e Eddie Touati no restaurante Le Capuccino, um local muito frequentado pelos estrangeiros que se encontram em Uagadugu, capital do Burkina Faso, quando o restaurante do Hotel Splendid foi alvo de um ataque terrorista. António, de 51 anos, estava casado com uma francesa, era pai de quatro filhos e encontravase no Burkina Faso ao serviço de uma empresa de transportes de Val-d’Oise. W 59


Dinheiro

PERFIL. GESTORA CHAMADA AO PARLAMENTO PARA EXPLICAR IMPOSTOS DAS FAMÍLIAS MAIS RICAS

AGORAÉ ELAQUE MA Depois de nove meses como interina, Helena Borges passou no teste. Sem aparato: nunca deu

elena Borges chegou ao restaurante depois das 15h – já todos comiam a sobremesa. Apesar de ser sábado, o trabalho atrasou-a para o almoço de Natal com os colegas em Almeirim. Antes de se fazer à estrada, a directora-geral interina do Fisco ainda parou para trocar o carro do Estado, com motorista, pelo seu, que conduziu até ao encontro. À mesa – entre bacalhau espiritual e lombo de porco assado, que acompanhou com vinho tinto –, não cedeu às provocações dos que a recordavam de que, em breve, o Governo teria de nomear alguém a título definitivo para o seu lugar. Era real a possibilidade de o PS querer emendar a escolha feita em Março pelo centrista Paulo Núncio, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Mas Helena não se mostrou incomodada. “Estava tranquila com a hipótese de voltar a ser apenas responsável pela Direcção de Finanças de Lisboa”, diz à SÁBADO um próximo. Afinal, continuava na corrida – e nem era estreante. Mais: somava às décadas de trabalho no Fisco a nova experiência. Acabou por ficar entre os três nomes entregues (numa lista por ordem alfabética) ao secretário de Estado, Fernando Rocha Andrade, pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CReSAP). Eram 31 candidatos. Aos 53 anos, tornou-se a primeira mulher em quase dois séculos a dirigir uma das maiores e mais poderosas casas da administração pública, onde trabalham 11 mil pessoas e que arrecada 40 mil milhões de euros por ano – 60% da receita do Estado.

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1 A gestora Helena Borges, 53 anos, é a 28.ª pessoa a dirigir a Autoridade Tributária e Aduaneira, mas a primeira mulher

2 O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Passos Coelho, Paulo Núncio, nomeou-a temporariamente para o cargo

3 O socialista Fernando Rocha Andrade sucedeu a Núncio e confirmou a nomeação de Helena Borges 1

FOI ESCOLHIDA PARA LIDERAR O FISCO ENTRE 31 CANDIDATOS – MAS JÁ TINHA CONCORRIDO AO CARGO OUTRAS VEZES

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Um amigo de longa data diz que a gestora, licenciada pelo ISEG, não celebrou. É discreta – nunca deu uma entrevista (recusou o pedido da SÁBADO) e sempre que pode faz-se substituir em eventos. Se está, esquiva-se a fotografias. Quando foi nomeada, todos os jornais usaram a mesma imagem. Nem terá Facebook: “Pedi amizade por engano a outra Helena Borges”, diz um colega. É mais frequente vê-la de saia (sempre abaixo do joelho) do que de calças; escolhe sapatos com saltos baixos e usa o cabelo solto, com risco ao lado. Mudou pouco na decoração do gabinete que herdou

Os maiores desafios Há vários dossiês delicados

Défice O cumprimento da meta de 3 por cento depende também da eficácia da AT. Privacidade As novas regras de controlo do acesso à informação sobre os contribuintes não reúnem consenso. E-fatura Vários contribuintes podem pagar IRS por não terem inserido no sistema despesas para dedução.


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Semanada

NDANO FISCO entrevistas e até foge das fotografias. Por Joana Carvalho Fernandes

O Helena Garrido Directora do Jornal de Negócios

Confiança e desigualdade CELESTE CARDONA DIZ QUE HELENA BORGES É “COMPETENTE, ATENTA, TRABALHADORA E ORGANIZADA”

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D.R.

de Janeiro

de António Brigas Afonso, no 2.º andar do número 10 da rua da Prata, de onde se vêem as obras de um dos hotéis Pestana CR7. Talvez nem repare nisso – não é fã de futebol. Em 2004, o marido, com quem vive há mais de uma década no condomínio privado Belas Clube de Campo, foi a Alvalade com o filho ver o Portugal-Espanha. Ela e as filhas, gémeas, dispensaram. Helena prefere concertos ou exposições. Explicações ao Parlamento Agora, os dias da 28ª directora-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira começam muito cedo – não é invulgar ter reuniões às 8h. A essa hora, mesmo que já tenha tomado café, aceita outro. No dia de fecho desta edição (terça-feira, 19) tinha agendada uma ida ao Parla-

José Azevedo Pereira, antigo director-geral do Fisco, e Helena Borges vão à Assembleia explicar os baixos impostos pagos pelos mais ricos

Os ricos Azevedo Pereira disse que há contribuintes com rendimentos elevados a pagar poucos impostos. O antigo director também vai ao Parlamento

mento para explicar o que se passa com o controlo dos impostos das famílias mais ricas – outra polémica que terá de gerir. Antigos colegas (incluindo superiores) elogiam-lhe a capacidade de trabalho. “Concilia apetência para coordenar com facilidade de relacionamento. É muito exigente, mas é informal, afável e pragmática”, diz um deles. Quando regressou aos Impostos (depois de um interregno entre 2002 e 2010), dormiu três ou quatro horas por noite até conhecer a fundo todos os assuntos. Helena Borges é descrita como eloquente e persuasiva. Privilegia a transparência: por regra, não recebe empresários ou gestores sozinha. E nas reuniões com estrangeiros opta por falar em português. A democrata-cristã Celeste Cardona era ministra da Justiça em 2002, ano em que Helena Borges entrou para a direcção-geral da administração da Justiça como subdirectora. “É competente, atenta, trabalhadora e organizada”, diz à SÁBADO a ex-ministra. Resistiria a vários titulares da pasta – do PS e do PSD. Em 2005, até foi nomeada secretária-geral adjunta. Responsabilidade: Unidade de Compras. “Acabaram-se os excessos na compra de mobiliário e de material informático”, recorda um colega. Paulo Macedo, seu antecessor nos Impostos e depois ministro da Saúde de Passos Coelho, elogiava-lhe o trabalho. Colegas e amigos de Helena Borges com quem a SÁBADO falou não lhe conhecem preferências partidárias. Um deles diz mais: “Ela tem pêlo na venta. Não vai fazer favores a ninguém.” W

Aselitesconfiammaisnasinstituições do que o resto da população, registando-se um maior afastamento entre uns e outros. São os resultados de um inquérito realizado em 28 países num universo de 33 mil pessoas pela Edelman, que o faz há 16 anos. Uma “desigualdade crescente na confiança” é como a consultora em relações públicas sumariza os resultados deste ano. A confiança no Governo, nas empresas, nos media e nas organizações não governamentais (ONG) aumentou em termos globais, registando os valores mais elevados desde 2012. Mas esta maior confiança teve uma progressão mais significativa nas elites que se afastam do resto da população. É nos Estados Unidos, Reino Unido e França que o fosso entre uns e outros é mais acentuado. O agravamento do fosso entre a visão do grupo com mais rendimento, educação e informação e o resto das pessoas constitui mais um sintoma do agravamento das desigualdades. E, na actual sociedade em rede, onde todos têm acesso à informação, cada um escolhe a sua fonte indicando o estudo que o grupo em que mais confiam, como fonte, é a família e os amigos. Num quadro destes, qualquer mudança que se pretenda fazer, liderada pelas elites, é especialmente dificultada. O que pode explicar o afastamento dos cidadãos da participação política, com a subida da abstenção, e a crescente simpatia por movimentos populistas. W

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Segurança

EXCLUSIVO. O INTERROGATÓRIO AO EX-PRESIDENTE DO IRN

ASREVELAÇÕES SOBREESPIÕES RUSSOSEMLISBOA António Figueiredo disse ao juiz Carlos Alexandre que tinha ajudado o SIS a apanhar um espião russo em Cascais e a vigiar outro em Lisboa. O magistrado ficou “perplexo”. PorNunoTiagoPinto

arlosAlexandre: Quando soube da existência desta investigação? AntónioFigueiredo: Pela comunicação social. CA: Então em que circunstâncias solicitou ao SIS [Serviço de Informações de Segurança] uma limpeza electrónica ao seu gabinete, a qual teve lugar a 27 de Fevereiro, após as 11h37? AF: O IRN [Instituto de Registos e Notariado] e o SIS têm um protocolo (…). No âmbito da colaboração que temos com o SIS, o IRN foi abordado pelo dr. Horácio e mais dois ou três oficiais dando conta de que numa determinada conservatória existia um problema muito sério, grave, de espionagem e que um funcionário do IRN estaria a passar informação sigilosa, informação crítica, sensível, para um determinado espião. CA:Diga o que tiver por conveniente (…) AF: O dr. Horácio e mais três ou quatro colaboradores deram-

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i O juiz Carlos Alexandre não acreditou nas explicações de António Figueiredo

-me conta que andavam a seguir há algum tempo um elemento de uma embaixada, que entendem que era espião e que se tinha encontrado com um determinado funcionário meu, da Conservatória do Registo Civil de Cascais. Penso que posso ir mais além, o espião era russo. Estaria a obter informação privilegiada, através de cópias, que não sabiam ao certo que tipo de informação teria sido passada (…). A primeira parte do interrogatório judicial a António Figueiredo – que não quis prestar declarações à SÁBADO – durou quase quatro horas. Mas apesar de o inquérito baptizado como operação Labirinto se debruçar em boa parte sobre suspeitas de corrupção e tráfico de influências na atribuição de Autorização de Residências para Investimento, conhecidas por vistos gold, o ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN) passou quase duas horas desse interrogatório, a 17 de Novembro de 2014, que a SÁBADO consultou

no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, a responder a questões relacionadas com a sua relação com elementos dos serviços de informações. Para o juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre, era necessário esclarecer se o varrimento electrónico feito ao gabinete de António Figueiredo representava uma interferência dos serviços secretos numa investigação judicial. O magistrado estava convencido de que essa acção se tinha realizado a 27 de Fevereiro de 2014 e se destinava a perceber se a Polícia Judiciária (PJ) ou o Ministério Público tinham colocado escutas no gabinete de António Figueiredo. Nessa data,


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Enquanto o SIS controlava as movimentações do espião na rua, na sede do IRN, à distância, uma técnica da secreta portuguesa passou a verificar quais os processos a que o funcionário acedia para tentar perceber qual era o objectivo do espião. “Chegámos à conclusão de que estavam a tentar obter dados concretos sobre pessoas, nascimentos, óbitos, para forjarem identidades”, conta à SÁBADO uma fonte que acompanhou o processo.

a PJ fotografou o então director do SIS, Horácio Correia Pinto, a directora do departamento de contraterrorismo e contravigilância, Maria João Coelho e o número dois do Departamento Operacional 4 (DO4), J. F. a chegar ao Campus da Justiça para um encontro com António Figueiredo. Mas a explicação do ex-presidente do IRN, sobre a operação que envolveu a descoberta de um espião russo pelo do SIS deixou o magistrado surpreso. “Isto causa-me a maior das perplexidades”, disse várias vezes. Mas a operação, divulgada pela SÁBADO em Abril do ano passado, ocorreu mesmo. A abordagem de

Horácio Correia Pinto – que a SÁBADO não conseguiu contactar – a António Figueiredo terá acontecido entre o fim de 2012 e o início de 2013. Foi o próprio ex-director do SIS que o confirmou nas declarações prestadas no Supremo Tribunal de Justiça no âmbito do inquérito instaurado para averiguar se ele teria cometido um crime de favorecimento pessoal. Nessa altura, já o SIS seguia há várias semanas um elemento da embaixada russa em Lisboa que se tinha aproximado de um funcionário da Conservatória dos Registos Civis de Cascais. Mas importava saber exactamente que informação estaria a ser acedida.

g António Figueiredo esteve quase um ano em prisão preventiva

ENQUANTO O SIS SEGUIA O ESPIÃO NA RUA, NO IRN UMA TÉCNICA ANALISAVA OS PROCESSOS A QUE ELE ACEDIA

SIS dá formação A situação em Cascais arrastou-se durante meses. Até que a operação – conduzida na época pelo actual número dois do SIS, Gil Vicente – culminou com a intercepção, em flagrante, do funcionário da conservatória de Cascais a transmitir informação ao agente russo. O caso foi depois comunicado ao primeiro-ministro e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros que, dias depois, chamou o embaixador da Rússia ao Palácio das Necessidades a exigir que o espião abandonasse o País – o que aconteceu. Quanto ao funcionário português, ao que a SÁBADO apurou, terá enfrentado um processo disciplinar que terá sido arquivado por não se ter provado que recebeu alguma contrapartida. Na sequência desta operação, o SIS realizou uma acção de formação junto de dezenas de conservadores para alertar para o valor da informação existente no IRN. Intitulada Valor e Sigilo da Informação do IRN, a formação ocorreu em dois momentos: em Lisboa, a 27 de Novembro de 2013, na qual estiveram presentes 50 pessoas; e no Porto, a 10 de Dezembro do mesmo ano, com a presença de 32 formandos. Ministrada pelos espiões A. B. e J. M., as sessões nunca trataram de casos concretos. “Foi tudo em abstracto”, diz à SÁBADO um dos presentes. Ainda assim, no fim da formação, todos tiveram de assinar um “acordo de confidencialidade e dever de sigilo”. No entanto, no interrogatório judicial, António Figueiredo não conseguiu convencer o juiz Carlos Alexandre. Muito menos quando Q 63


Segurança

Q afirmou que a visita do director do SIS às instalações do IRN estava relacionada com uma segunda situação que envolveria um espião russo, mas desta vez na Conservatória dos Registos Centrais, em Lisboa. CA: Isto causa-me a maior das perplexidades. Há uma investigação a decorrer, há um comportamento-padrão dos alvos, a partir do dia 22, 23, 24 [de Fevereiro], terá ocorrido um encontro entre pessoas e a seguir a esse jantar o comportamento-padrão das pessoas altera-se assazmente. Dois ou três dias depois há a noção por parte da PJ desta visita do dr. Correia Pinto acompanhado por dois ou três oficiais de informações ao Campus da Justiça. A PJ acompanha a visita, fotografa-a (…). AF: Em Fevereiro não houve qualquer varrimento. CA: Ai foram lá com uma mala e não houve nada? (…) Os senhores oficiais de informações, de acordo com a informação que existe no processo, faziam-se acompanhar de malas próprias para varrimento de comunicações. (…) AF: Não sei se levou malas. CA: São os oficiais da PJ que são pessoas a quem reputo credibilidade que dizem que viram. (…) São malas que fazem despistagem electrónica de comunicações. AF: As malas que foram levadas em Maio não têm nada a ver com as malas levadas em Fevereiro. CA: Houve então uma segunda visita do SIS. Na primeira não havia malas nenhumas. (…) É que se se comprovar que houve uma ingerência dos serviços de informações numa investigação criminal, isso é

1 O actual director do SIS, Adélio Neiva da Cruz, acompanhou a fase final da vigilância ao espião russo

2 O diplomata russo foi expulso de Portugal depois de apanhado pelo SIS

1

Identidade É no IRN que são feitas as identidades secretas dos espiões do SIS, do SIED e dos agentes infiltrados da Judiciária

NA SEQUÊNCIA DA OPERAÇÃO, O SIS DEU UMA FORMAÇÃO A DEZENAS DE RESPONSÁVEIS DE CONSERVATÓRIAS 2

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da maior gravidade e não poderei escusar-me a comunicá-la ao Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações. (…) Teria de ser para uma outra valência ou então é para rebentar com uma investigação criminal. AF: Senhor juiz, garanto-lhe que em Fevereiro não se fez qualquer tipo de varrimento com o meu conhecimento, durante o dia, à tarde ou à noite. (…) Estamos a falar de duas situações distintas. Uma era a do espião de Cascais (…). Outra tem que ver com os registos centrais em que a doutora Sandra Monteiro reúne comigo, com o dr. Horácio, para que se fizesse uma intervenção nos centrais, que se fez num ou dois fins-de-semana, para saber o que eles tinham andado a controlar porque andaram meses no encalço de uma relação de uma determinada pessoa com alguém dos centrais… Escutas relevantes Ausente de todo o interrogatório judicial, está uma escuta constante do processo que corrobora a justificação de António Figueiredo. Eram 15h36 de 12 de Fevereiro de 2014 quando o então presidente do IRN recebe uma chamada da responsável da Conservatória dos Registos Centrais, Sandra Monteiro – que não quis falar à SÁBADO sem a respectiva autorização do Ministério da Justiça –, que lhe diz que estava lá novamente aquele senhor da embaixada e que pediu para anotarem

3

os processos que ele consultasse. António Figueiredo respondeu que convinha fazer esse rastreio porque os responsáveis do SIS continuaram a fazer averiguações. Depois recordou a situação que já tinha ocorrido em Cascais, que era em tudo semelhante àquela e que o homem que estava naquele momento nas instalações era também espião. No mesmo dia, mas às 21h06, António Figueiredo comunicou a Horácio Correia Pinto que o indivíduo tinha voltado a estar nos serviços centrais. O então director do SIS mostrou-se preocupado, referiu que aquela era uma situação séria que envolvia mais pessoas mas que ainda estavam a recolher elementos para perceber a dimensão do caso e elaborar um relatório final. Durante o interrogatório, esta última escuta foi considerada fundamental pela


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Segredos da justiça 3 O juiz desembargador Horácio Correia Pinto era director do SIS na altura da investigação

Varrimento É uma operação que se destina a detectar se existe num determinado local algum aparelho de escuta

procuradora titular do inquérito, Susana Figueiredo. Foi por causa dessa escuta, disse, que foi tão “cautelosa” com a visita dos agentes do SIS ao IRN e manteve o relatório de vigilância da PJ num apenso confidencial que, por esse motivo, não pôde ser consultado pela SÁBADO. A magistrada mencionou ainda uma outra escuta em que António Figueiredo combina com Horácio Correia Pinto a visita de 27 de Fevereiro ao IRN e na qual sugere que Sandra Monteiro devia estar presente na reunião. Motivo: conhecia como os serviços funcionam, sabe quem está a trabalhar e a que horas, bem como os horários da segurança. O director do SIS concorda e diz que será necessário um elo de ligação porque depois vão precisar de entrar no edifício. Várias fontes ligadas ao caso garantiram à SÁBADO que a conservadora esteve mesmo na reunião, que serviu para preparar uma “intervenção” do SIS nos registos centrais e para avaliar o género de documentação que teria sido acedida pelo suposto agente russo. “Não houve qualquer varrimento nesse dia”, garante fonte das secretas. As vigilâncias prolongaram-se durante meses. Em Julho de 2014 ainda surgiam escutas em que António Figueiredo mencionava a presença do suposto agente russo nos serviços centrais. Contudo, ao contrário do que se verificou em Cascais, o SIS não chegou a comprovar que o funcionário da embaixada russa que

HORÁCIO PINTO DISSE AO LÍDER DO IRN QUE IAM PRECISAR DE ELO DE LIGAÇÃO PARA ENTRAR NOS REGISTOS CENTRAIS

Secreta António Figueiredo disse no interrogatório que uma semana antes tinha feito identidades secretas para agentes do SIED

A PJ CONCLUIU QUE ANTÓNIO FIGUEIREDO INSTRUMENTALIZOU O SIS. FONTE DOS SERVIÇOS DIZ QUE HAVIA RISCO

Táctica da guerra fria A usurpação de identidades é conhecida há muito

Os agentes do Serviço de Informações de Segurança concluíram que o espião russo estaria a tentar obter registos de nascimento e de óbito. Estes dados, verdadeiros, poderiam depois ser usados para criar identidades para outros agentes. “São os chamados ilegais. Muitas vezes vivem anos sem dar sinal de vida”, diz fonte das secretas.

se deslocava aos registos centrais para reunir sempre com o mesmo funcionário, por vezes durante horas, fosse mesmo um espião. A António Figueiredo só faltou explicar de forma convincente porque motivo pediu um varrimento electrónico ao seu gabinete, no 8º andar do edifício H do Campus da Justiça, que se terá realizado em Maio ou Junho de 2014. “Saltar daí [um espião russo] para a existência de escutas no seu gabinete vai um passo de gigante que não me entra na cabeça. (…) Ainda por cima contemporâneo das suas dúvidas sobre este processo-crime”, desabafou a procuradora Susana Figueiredo durante o interrogatório. O ex-presidente do IRN tentou justificá-la com a presença de uma pessoa no seu gabinete. Mas não convenceu os magistrados. Num dos vários relatórios feitos ao longo da investigação, a Polícia Judiciária escreveu que António Figueiredo simulou a existência de escutas ambientais no seu gabinete, “conseguindo assim ilegitimamente” que o SIS realizasse um varrimento ao seu gabinete, “garantindo-lhe que não existiam escutas de que pudesse estar a ser alvo no âmbito de uma investigação criminal em curso. Contudo, contactado pela SÁBADO, uma fonte do SIS garante que existia um “perigo concreto que justificou o varrimento” e que o serviço “não se deixa instrumentalizar”. W

O Eduardo Dâmaso Director Adjunto do Correio da Manhã

O regime e a banca Maismilhão menosmilhão todaa gentejápercebeuquesalvarbancosimplicauma pesada factura. De 2008 paracáos contribuintes jámeteram 13 mil milhões nos buracos financeiros dos bancos e vão continuar a pagar sem que alguém consigadizerquando acabao inferno. No meio da embrulhada geral que o BPN, BPP, BES e Banifrepresentam para o bolso de todos e para o regime, adivinha-se outraconsequência de enorme perversidade. A ideia de que tudo seria mais suportável se as pessoas que criaram acatástrofe fossem punidas na justiça não passa de umatrágicailusão. No BPN, primeiro caso em que houve um banqueiro preso preventivamente, o julgamento arrasta-se hácinco anos semqualquerestimativade chegaraumasentença. É o grande laboratório onde dá para perceber que o dinheiro empatado numa defesa que explore a natural morosidade da justiça é o melhor investimento para salvar as fortunas roubadas. Com a vantagem de pagar a advogados que somam aessacapacidade dilatóriaainfluêncianecessáriapara desenvolver defesas mediáticas, vantagem inestimável para acentuar a vitimização dos banqueiros aos olhos da opinião pública e remeter as culpas paraessaentidade abstractaque é a“supervisão” ou a“regulação”. No Banif vai repetir-se essa pescadinha de rabo na boca. Há-de haver uma comissão de inquérito que vai apontaraculpaàregulação, um ou vários inquéritos judiciais que terão os mesmos problemas de tipificação dos crimes numa lei feita pelos próprios infractores e que, portanto, não os prejudica, mais um ciclo de impunidade absorvido pela falta de memóriacolectiva. W

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Sociedade

Entrevistadevidaa HELENAISABEL

“Hámiúdas quetiram fotoscomigo porsera mãedoAgir” oi Miss Simpatia do concurso Miss Portugal, em 1970, cantou em vários festivais da canção, mas foi como actriz que se afirmou – primeiro no teatro, depois na TV. Aos 64 anos (faz a 6 de Fevereiro), Helena Isabel continua uma das mulheres mais bonitas do País. Última prova disso: é uma das protagonistas do anúncio mais recente de uma conhecida marca de calças de ganga. Discreta, como sempre em 47 anos de carreira, a ex-mulher de Paulo de Carvalho assume que não gosta nada de falar sobre a sua vida. Muito menos da do filho, Bernardo de Carvalho Costa, conhecido como Agir. Em breve, Helena Isabel estará em A Impostora, a próxima produção da TVI, como uma executiva da Foz do Porto, com sotaque e tudo.

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Vai fazer 64 anos. Para o ano, pretende fazer uma grande festa? Todos os anos digo que vou fazer uma grande festa e depois nunca faço. Porque na realidade não gosto de grandes festas, detesto ser o centro das atenções. Tem uma carreira longa, foi casada com um cantor muito mediático e agora o seu filho tornou-se uma estrela. Como conseguiu ser sempre tão discreta? É uma questão de feitio, não é nada estudado. Sou discreta por natureza, não gosto de dar nas vistas, apesar de ter escolhido esta profissão. Eu sei que faz parte, mas não me agrada, confesso. Durante imenso tempo, não aceitei ir ao Alta Definição [programa de entrevistas de Daniel Oliveira, na SIC] porque tinha de fa-

CARLOS RAMOS

Custa a acreditar, mas Helena Isabel está a dias de completar 64 anos. Com uma carreira longa, a actriz diz que já perdeu a conta às novelas que fez e confirma estar já a gravar a próxima. Não disfarça o orgulho quando fala do filho, a mais recente estrela da música nacional. Por Sónia Bento

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“Eunão gostavanada daquelas tatuagens todasdomeu filhoe continuoa nãogostar, masjáaceitei”

lar de mim e isso é uma tortura. Hoje ainda consegue almoçar tranquilamente com o Bernardo [Agir] num restaurante? Ai, não, é um desassossego! Claro que agora é pelo Agir e não pela Helena Isabel. Mas ele lida bem com isso, muito melhor do que eu. Há dias, aconteceu uma coisa muito engraçada, vieram umas miúdas pedir para tirar uma fotografia comigo, por ser a mãe do Agir. Estava à espera deste êxito tão grande do Bernardo? Não… Quero dizer, estava à espera que tivesse êxito porque ele é muito talentoso, mas a loucura toda que foi este ano que passou, não a imaginava. Mas estou muito orgulhosa e feliz porque ele trabalha muito e merece. O Bernardo vive para a mú-


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sica, completamente. Quando é que percebeu que era a música que ele queria para a sua vida? Tenho uma imagem, que me ficou muito marcada. Ele era muito pequeno, teria uns 9 ou 10 anos, e estava com uma viola a ouvir as músicas do Mark Knopfler [Dire Straits], e a fazer solos. Interessava-se por um tipo de música que não era próprio para a idade dele. Como era ele em criança? Era um miúdo muito dócil, apesar de ser vivaço ao mesmo tempo. Mas era bonzinho, nada difícil. Na adolescência é que deu mais problemas… Felizmente, teve-os na adolescência e não mais tarde… Como mãe, tive receios, mas também muita espe-

rança e correu bem… Como é que reagiu quando ele fez a primeira tatuagem ou piercinge lhe apareceu com rastas? A primeira não achei mal porque eu também tenho uma tatuagem e um piercing. Depois, quando aquilo se desenvolveu, já não gostei. Mas aconselhava-o no visual? Sim. Dizia-lhe tudo aquilo que os pais dizem aos filhos nestas circunstâncias: “Um dia, vais-te arrepender porque isso depois não sai mais.” Mas ele gosta e tive de respeitar. O Bernardo disse numa entrevista que a Helena chorava por causa disso e lhe dizia que ele parecia a Ana Malhoa. É verdade? Ai que horror, as coisas que ele diz! [Risos]. Nesse aspecto, o pai era mais descontraído. Eu não gostava

g Helena Isabel fotografada no estúdio de Carlos Ramos, na passada sexta-feira

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“Estavaà esperaque tivesseêxito porqueele [Agir]émuito talentoso, mas estaloucura toda, não imaginava”

nada daquelas tatuagens todas e continuo a não gostar, mas pronto já aceitei e nunca mais lhe falei nisso. Ele foi bom aluno? Foi, até certa altura. À medida que a música ia entrando na vida dele, a escola foi ficando para trás. Ainda vive consigo? Prefiro não responder a isso porque já estou a entrar na vida dele... O que é que não abdicam de fazer juntos? Não há nenhuma regra, mas não abdico de ele ir jantar lá a casa, pelo menos, uma vez por semana. Mas as nossas vidas são cada vez mais desencontradas. Por exemplo, ele no último Verão não teve um fim-de-semana livre. A última vez que viajámos foi há três anos, Q quando fomos a Londres. 67


Sociedade

Avida Q Gosta das músicas dele, vai aos concertos? Gosto. Sempre gostei. Já fui a dois concertos no último ano e adorei andar lá no meio das miúdas. Ele dá-lhe as músicas para ouvir e pede-lhe opinião? Isso sempre. Mal faz uma música, mostra-me logo e ao pai também. A Helena também é discreta a vestir. Sempre foi assim? Sou agora. Quando era novinha não era. Devo ter sido das primeiras em Portugal a usar hotpants, uns calções muito curtos que se usavam nos anos 70, e minissaias. Hoje, percebo que já não tenho idade para certas coisas. Não é que não me apeteça usar uns calções, até acho que tenho pernas para isso, mas não tenho é cara. Tenho pavor ao ridículo. Põe a hipótese de vir a fazer cirurgias plásticas? Não tenho nada contra, mas para já não penso nisso. Gosto muito da minha cara, mesmo já marcada. Mas manter-se assim dá trabalho. Um bocadinho. Vou ao ginásio duas ou três vezes por semana. Sinto essa necessidade, adoro suar, cansar-me, sair de lá dorida. O que mudou na sua alimentação? Sempre adorei comer e comia muito bem quando era novinha, mas como tenho tendência para engordar mudei os meus hábitos aos 20 e tal anos, numa altura em que ainda não havia essas preocupações. Como muitos legumes, grelhados e saladas, e é raro comer hidratos de carbono. Mas não sou nada radical. Mas também faz asneiras… Claro que faço! O pão com manteiga é a minha perdição. Vai ao médico e faz exames com frequência? Sim, com uma certa frequência. Não sou paranóica. As doenças degenerativas assustam-me horrores. Costuma dizer que, para se manter bonita, o mais importante é ter alegria de viver. O que é que lhe dá essa alegria? Muita coisa: a família, o meu filho, os amigos e o meu trabalho. Depois, fazer uma série de outras coisas que adoro, como pintar, desenhar, ouvir música, ler e ver séries. 68

1957 A actriz com a única irmã, Berta, sete anos mais velha

1965 Helena Isabel com 13 anos, quando fazia bailado

1970 Em cena na peça Cautela, Libertino com Ribeirinho, um dos seus “mestres”

1974 Helena Isabel com a mãe, com quem viveu até aos 27 anos

1975 Com alguns dos fundadores do teatro Adoque, como Rui Mendes e Henrique Viana

Onde é que pinta os seus quadros? Divido um ateliê com uns amigos e é lá que faço os meus abstractos, sobretudo jogos de cores. Pinto porque me dá prazer e é uma excelente terapia. Dou os meus quadros aos amigos e tenho outros em casa. Quem são os seus amigos? Tenho um grupo de pessoas de várias idades, com quem janto regularmente: o Heitor Lourenço, a Sílvia Rizzo, a Rita Salema, a Helena Sacadura Cabral, somos muitos. Os amigos são a família que nós escolhemos. É com eles que converso, troco ideias e me rio. O que é que a faz rir? Non sense, disparates, sobretudo. É engraçado porque não sou boa espectadora de comédia e enquanto actriz adoro fazer comédia. Tenho pena de não fazer mais. Como é que os seus pais a deixaram ir para o teatro aos 17 anos? Não foi fácil. Ser actriz não era bem visto naquela época. Mas era o que eu queria. Estreei-me na companhia de Teatro Alegre, no Variedades, com uma peça que se chamava Os Direitos da Mulher. Era uma comédia com o Henrique Santana, a Maria Helena Matos, a Lia Gama, o Henrique Santos e a grande Irene Isidro. Quem é que a puxou para o teatro? Desde pequena que tenho inclinação para as artes. Gostava muito de bailado e pratiquei durante muitos anos. Fazia pequenas peças lá em casa para a minha mãe e para as amigas dela. E os meus pais levavam-me muito ao teatro. Mais tarde, o meu pai teve uma sociedade com um grande empresário da época, o Vasco Morgado, que foi casado com a Laura Alves. Aí comecei a frequentar os bastidores, apaixonei-me por aquele mundo e surgiu uma vontade muito forte de estar ali. Os seus pais queriam que fosse o quê? Sei lá, tudo menos actriz. Como a minha irmã era assistente de bordo, começaram a tentar convencer-me a ir para hospedeira. Para mim também era uma hipótese, porque na época ser hospedeira da TAP era o


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sonho de qualquer rapariga. Mas o teatro falou mais alto. Como foi a sua infância? Normalíssima, muito feliz. Costumo dizer que não tenho traumas de infância. Fui uma aluna mediana, tirei o curso da Escola Lusitana feminina, que era para onde as meninas iam naquela altura. Mais tarde, estudei línguas, na Alliance Française e no British Council. Vivíamos em Lisboa, na Av. João XXI, com a minha irmã, a Berta, que é sete anos mais velha do que eu. A sua irmã, que é casada com o jornalista Joaquim Letria. Sim, pouca gente sabe disso… Damo-nos muito bem, somos grandes amigas. Foi para o Conservatório? Não. Fui uma autodidacta, mas tive a sorte de ter grandes mestres. Logo quando me estreei trabalhei com o Ribeirinho, que me ensinou a respirar, a colocar a voz, tudo. Depois, estive em cena durante um ano, no Capitólio, com a Laura Alves, que também me ensinou muito. Não pensou ter um nome artístico? Pensei, mas fazia-me impressão ter um nome que não fosse meu. Chamo-me Helena Isabel Correia Ribeiro. Helena Ribeiro não me soava bem, Isabel Ribeiro também não, então decidi que ficaria Helena Isabel. Entretanto, esteve em Londres. O que foi para lá fazer? A minha ida para Londres não teve nada a ver com a representação. Tinha 22 anos, vivia com a minha mãe e foi uma necessidade de afirmação, de morar sozinha, de conhecer outra cultura. Fui para lá vender roupa numa loja, em Oxford Circus, duran-

g Helena com o filho Bernardo, ainda com poucos meses, em 1988

Mais em sabado.pt

Veja aqui um excerto da entrevista com a actriz Helena Isabel

F “Fuipara Londres venderroupa numa loja, na época do movimento punk, e foi uma experiência importante” F “Devo tersido das primeiras mulheres a usarhot pants. Hoje percebo que já não tenho idade. Tenho pavorao ridículo”

te uns meses. Era a época do movimento punk e foi uma experiência muito importante para mim. Viveu com os seus pais até que idade? Vivi com a minha mãe até aos 27 anos. Os meus pais divorciaram-se quando eu tinha 17, e aí fiquei mais ligada à minha mãe [que morreu há 20 anos]. Tínhamos uma relação muito forte. Era a minha melhor amiga, conversávamos sobre tudo. Como uma das mulheres mais bonitas da época, teve muitos pretendentes? Acho que sim… Qual foi a maior excentricidade que alguém foi capaz de fazer para a conquistar? Não sei… Lembro-me de ter feito uma viagem à Sardenha e, quando cheguei ao hotel, tinha um ramo de flores enorme à minha espera enviado pelo meu namorado na altura. Esse namorado não era o Nicolau Breyner? No princípio dos anos 70, as revistas publicaram que estiveram de casamento marcado. Não, não era ele. Eu e o Nicolau tivemos um namorico sem importância e não me apetecia estar a falar disso agora. Sabe que na época as revistas também já escreviam coisas que não eram verdade. Apaixonava-se com facilidade? Ai sim, sempre fui muito de paixões pelos namorados, pelo trabalho, pelos amigos, por tudo. Só se casou uma vez, com Paulo de Carvalho, de quem se divorciou ao fim de 16 anos. Porque é que nunca mais se casou? Casar-me nunca foi uma ambição para mim, mas apaixonei-me e aconteceu. Durou 16 anos, o que se

pode dizer que foi um casamento de sucesso. Toda a vida fui muito independente e viver com alguém é muito difícil. Quanto mais velha estou, mais necessito do meu espaço. Em 1974 – ano em que Paulo de Carvalho venceu com EDepoisdo Adeus– concorreu ao Festival da Canção, com o tema Canção Solidão. Como é que lhe correu? Não correu mal nem bem, fiquei em 6º lugar. Foi uma experiência óptima porque gostava muito de cantar e porque me deu, nesse ano, a possibilidade de ir ao Festival da Eurovisão, a Brighton, ver os ABBA vencer. Mas foi a Brighton como jornalista. Sim, jornalista entre aspas. A revista Alcance convidou-me para ir a Brighton fazer uma crónica sobre a minha visão do Festival da Eurovisão. No festival da RTP, houve uma “rivalidade” entre as canções E Depoisdo Adeuse A RosaqueTe Dei, de José Cid. Qual era a sua favorita? A do Paulo de Carvalho, porque já na altura era muito amiga dele. Também gostava muito do José Cid, mas torcia pelo Paulo. É engraçado porque a revista Flama fez capa comigo e com o Paulo, nesse festival, em que apareço a dar-lhe um beijinho por ele ter sido o vencedor. E ainda voltou ao Festival da Canção mais quantas vezes? Mais três. Em 1980, integrada numa banda que era o SARL, depois em 1983, no ano em que o Herman também participou com A Cordo Teu Batom, e em 1984, no Quinteto Paulo de Carvalho. Nunca me considerei cantora, acho que foi um acidente de percurso. Entretanto, integrou a companhia do Teatro Adoque, que era conotada com o PCP, partido ao qual pertenceu. O que restou da sua ligação ao PCP? Ficou um grande respeito. Hoje em dia não me identifico, aliás deixei de me identificar com partidos. Naquela altura, era uma jovem revolucionária muito ingénua e pertencia a um grupo de actores que se identificava com o PCP e por isso cheguei a ser militante do partido. Depois desen- Q 69


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h A actriz mudou os hábitos alimentares aos 20 anos, “numa altura em que ainda não havia essas preocupações”

Com Nicolau Breyner numa cena da telenovela Origens

1995 Helena Isabel com Bernardo quando ele tinha 7 anos

1992 No Teatro Aberto, na peça O Marido Vai à Caça, com João Lagarto

2011 Na última peça que fez, As Encalhadas, com Maria João Abreu e Rita Salema

2013 Com a irmã durante uma viagem a Marraquexe

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CARLOS RAMOS

1983

Q cantei-me com a política. Cheguei à conclusão de que para os partidos o poder é mais importante do que as pessoas. Apesar de tudo, não estou arrependida, fez parte da minha vida, formou-me enquanto pessoa. Mas continua a ser de esquerda? Isso não mudou. Voto sempre, às vezes com pouca convicção. Em 1984, foi protagonista, com Rui Mendes, do filme OsAbismos daMeia-Noite, em que apareciam nus. Aceitou o papel sem hesitar? Queria muito fazer aquele filme. Tinha muita confiança no realizador, o António Macedo, com quem já tinha trabalhado 10 anos antes em O Princípio da Sabedoria. Ele explicou-me logo que havia essa cena, que na altura foi um grande escândalo, e muita gente ia ver o filme só por causa daquela cena que era tão rápida que nem se percebia muito bem. Li o guião e achei que não era um nu gratuito e que fazia sentido. Tornou-se ainda mais popular quando apareceu em OTalCanal, com Herman José. Tem saudades desses tempos? Não sou saudosista, nada, nada. Mas é evidente que foi um tempo muito bom. Foi aí que o Herman começou a partir cenários. Divertíamo-nos imenso e sentíamos que estávamos a fazer uma coisa diferente. Lembro-me da rábula dos caixões, que não conseguíamos gravar porque nos partíamos a rir, até o realizador. Era uma maluqueira completa. Desde a VilaFaia, em 1982, nunca mais parou. Já vai em quantas produções para televisão? Nunca contei, acredite. Mas são

muitas. A Vila Faia foi um marco, o início da ficção nacional feita de uma forma regular. Aí é que foi o meu grande salto em popularidade, uma loucura. Deixou de poder andar na rua? Lembro-me de uma vez sair de casa, à hora de jantar, e de estar uma senhora com a filha, à minha porta desde manhã, só para me verem sair e pedirem um beijinho. Aconteceu-me a mim e a colegas meus. Havia muita curiosidade em relação aos actores, o País parava para ver a Vila Faia. Continua a viver com angústia as fases em que não tem trabalho? Claro. Todos os actores vivem essa angústia, só não senti isso durante os cinco anos em que tive contrato de exclusividade com a TVI, que acabou o ano passado. Pensa na reforma? Um actor nunca se reforma. Em termos financeiros não me vai dar alívio nenhum porque as nossas reformas são tão pequenas que não nos permitem deixar de trabalhar. Como é a sua relação com o dinheiro. Em que gosta de o gastar? Faço os meus planos de poupança, mas não em bancos, ou seja, só gasto o que posso gastar. Tento ficar sempre com uma reserva para os períodos em que não trabalho. Mas mereço os meus miminhos. Que miminhos são esses? Viajar! Sempre que posso, vou a Nova Iorque, a minha cidade preferida, onde gosto de ir ao teatro, ao Metropolitan, às compras, tudo! A última vez que lá estive foi em Julho passado. Estou sempre a pensar na próxima ida. W


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SABEMOS ONDE NOS LEVOU CADA LINHA ESCRITA NESTE LIVRO. É POR ISSO QUE NÃO O PODEMOS IGNORAR.

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SÁBADO edita o Livro Mein Kampf - A Minha Luta, escrito por Adolf Hitler algunss anos antes de chegar ao poder e pôr em prática os seus ideais nazis antisemitass e racistas. O livro esteve proibido até agora. É com enorme sentido de responsabilidade e e a certeza de que ignorar não apaga a História, que lançamos este livro tão polémico o numa edição comentada e anotada pelo professor Donald Cameron Watt, historiadorr e professor na London School of Economics.

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tos sociais. E mais: o nível de presença de partículas nestes corpos não era muito menor do que o que se verifica hoje. São problemas “tão antigos quanto o próprio planeta”, sublinha Mark Z. Jacobson, professor da Universidade de Stanford, no livro AirPollution and Global Warming(a poluição do ar e o aquecimento global). “Vulcões, fumarolas, fogos naturais e areias do deserto contribuíram para a natural poluição do ar. Os humanos emitiram pela primeira vez poluentes quando queimaram madeira ou limparam as terras – aumentando a areia arrastada pelo vento.”

POLUIÇÃO. O RASTO QUE DEIXÁMOS ANTES E DEPOIS DE CRISTO

ASUJARO PLANETA DESDE OS EGÍPCIOS O homem fez lixo, aqueceu ferro e queimou carvão: e poluiu, sempre. O ataque ao ambiente não começou no século XX. Por Maria Espírito Santo

o colocar a massa nos fornos de argila esperavam uma coisa apenas: que cozesse, para juntarem o pão ao banquete do dia. O fumo que saía do forno fazia parte da paisagem: afinal, saía igualmente das minas e era produzido noutros trabalhos com metal. Mas o fumo escuro também afectava o ambiente e a saúde das pessoas. Isso mesmo, era a poluição do ar, milhares de anos antes de Cristo. É preciso ter em conta o meio – no Egipto não faltam areia ou tempestades para provocar problemas respiratórios – mas há mais. Muitas partículas microscópicas, que hoje associamos a doenças respiratórias e à poluição do ar, foram encontradas no tecido pulmonar de múmias. Foi a conclusão a que chegou Roger Montgomerie, da Universidade de Manchester, ao estudar 15 corpos diferentes, de pessoas de vários estra-

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g 2.120 mil milhões de toneladas de lixo produz a humanidade por ano. Em camiões dava para dar a volta ao mundo 24 vezes

OS HABITANTES DA ROMA ANTIGA CHAMAVAM AO AR QUE SE RESPIRAVA “CÉU PESADO” E “AR INFAME”

Sustenha a respiração A poluição vai do continente europeu ao asiático

Em Londres, em apenas oito dias a cidade já ultrapassou o seu limite legal de poluição, imposto pela União Europeia, para 2016. Na outra ponta do mundo, em Pequim, a má qualidade do ar levou ao fecho de escolas e negócios e ao cancelamento de voos. Por outro lado, a crise de poluição está a levar ao crescimento de outros negócios: no Canadá, por exemplo, surgiu a Vitality Air, uma start-up que vende garrafas de oxigénio à China.

Céu,terra eágua Há mais pistas na Gronelândia. Os cientistas descobriram gás metano nas amostras retiradas de blocos de gelo, e concluíram que quer o gado dos romanos quer a exploração intensiva dos campos de arroz chineses afectava a qualidade do ar, com a emissão desse gás. “Céu pesado” ou “ar infame” eram as expressões usadas pelos habitantes da Roma antiga. Stephen Mosley, da Universidade de Leeds, Inglaterra, lembra como um jurista, há mais de 2.000 anos, proibiu uma loja de queijos de emitir fumo para os andares de cima do edifício. Desde cedo se sujou o ar, mas também a terra e a água: na Idade Média, doenças como a cólera ou a febre tifóide mataram, culpa das más condições sanitárias e do lixo que contaminava a água. Mais tarde, foi a fundição de metal e de cobre que pesou o ar, assim como a combustão de carvão – que no século XVII já afectava a paisagem urbana, em Londres. Depois, com a Revolução Industrial, os automóveis sobrecarregaram o ar de monóxido de carbono, óxido sulfúrico e outros componentes. Os primeiros estudos químicos da atmosfera fizeram-se nos anos 30, mas os anos 70 foram decisivos. Foi a década em que Harold Johnston, geoquímico americano, sugeriu que alguns dos compostos (como os clorofluorcarbonetos presentes nos frigoríficos e os gases emitidos pelas aeronaves) estavam a afectar a camada do ozono. W


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HISTÓRIA. PORTUGAL ESOTÉRICO SAI ESTA SEMANA

SALDANHA, OGURUDA HOMEOPATIA O lado B do marechal revelou-se quando quis tratar um tumor. Mais tarde, o republicano Afonso Costa participou em sessões espíritas. PorRaquelLito 1

uma das artérias mais movimentadas de Lisboa destaca-se João Carlos de Saldanha: o marechal que viveu entre 1790 e 1876 e foi homenageado com uma estátua 33 anos após a morte. Esta é a versão oficial, que o mostra em pose de militar condecorado, e que em pouco ou nada condiz com o seu lado B: o de devoto da homeopatia. O interesse de Saldanha pela medicina alternativa não foi fugaz, começou antes da década de 1840. “Recorreu ao uso da homeopatia para debelar um problema de saúde. Confessou ter padecido de uma pleurodinia (dor muscular intercostal) e de um tumor”, revela à SÁBADO o historiador Joaquim Fernandes. O especialista em fenómenos da religiosidade popular e espiritualidade, com duas dezenas de obras publicadas na área, aborda a temática no Portugal Insólito, da editora Manuscrito, disponível nas livrarias a partir desta semana (quarta-feira, dia 20). No capítulo dedicado a Saldanha, o autor trata-o por “guru” da homeopatia”. “Guru” sem exagero: além de devorar literatura da especialidade, o militar e neto de marquês de Pombal insistia com o Rei D. Pedro V para que patrocinasse o ensino oficial da homeopatia nas escolas médicas. Apesar de algum ceptismismo, o monarca contribuiu com 15 mil réis

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1 O duque de Saldanha interessou-se pela homeopatia antes de 1840, quando recorreu a ela por motivos de saúde

2 Afonso Costa participava em sessões espíritas nos Olivais e em Paris

Cartas e fantasmas O manifesto de Saldanhae o lado paranormal de Afonso Costa

No manifesto O Estado da Medicina em 1858, enviado nesse ano a D. Pedro V, o duque de Saldanha escrevia: “A homeopatia está refugiada entre nós, no Porto, em Mafra e em Sintra.” O fantasma que surgia nas sessões de Afonso Costa era o da “menina Alexandre, envolta num véu de bruma”, diz o livro.

Maçon No seu currículo, Saldanha surge com o cargo de “grão-mestre da maçonaria”, revela o historiador

SALDANHA GARANTE TER FICADO CURADO DE UMA DOR MUSCULAR E DEUMTUMOR GRAÇAS À HOMEOPATIA

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para a impressão da Gazeta Homepática Lisbonense. O primeiro número saiu em 1859, na época em que foi inaugurado o consultório homeopático lisbonense, num segundo andar da Travessa da Parreirinha (na zona do Chiado). Saldanha foi presidente honorário do consultório. Omedium AfonsoCosta A dimensão esotérica de Afonso Costa (político dominante na implantação da República e por três vezes chefe do governo) manifestou-se, discretamente, em sessões espíritas numa casa em Santo António dos Olivais. “Alguns depoimentos pretendem que Afonso Costa se revelara um exímio medium na sua juventude. Teria transcrito ‘comunicações automáticas em idiomas desconhecidos’”, diz o historiador. Em meados da década de 20, os rumores ganharam consistência, quando o político, entretanto exilado em Paris, foi notícia na imprensa francesa. O jornal L’Intransigeant (imagem à esqª) revelava a sua participação em sessões espíritas na casa de madame e monsieurAlexandre, em Mantes. Nelas, chamaria o fantasma da filha do casal, falecida quatro anos antes. W 73


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REPORTAGEM. TRANSEXUAL ASSISTE AO FILME-SENSAÇÃO NOMEADO PARA

ARAPARIGA

AÇO

Samarah, antes Fábio, está confiante em fazer carreira

os maus momentos, a primeira imagem-postal que vem à cabeça de Samarah Oliveira é a de uma rocha. Fica numa encosta junto ao mar, na freguesia de Água de Pau, ilha de São Miguel, Açores, de onde é natural. A fotografia completa-se com o monumento ao lado, o convento de Nossa Senhora da Conceição da Caloura, associado ao culto de Santo Cristo dos Milagres. Não é que Samarah, de 25 anos, acredite em milagres, porque sempre se bateu por um objectivo. Ser mulher, apesar de ter nascido num corpo masculino e de ter crescido numa zona extremamente conservadora. Quando chega ao cinema Monumental, em Lisboa, na tarde do último sábado (dia 16), ninguém desconfia que ela em tempos foi Fábio Baganha. As cabeças masculinas viram-se para ela e é inevitável a comparação com o momento em que Lili sai do armário (a protagonista do filme que irá ver a seguir, quando esta chega, deslumbrante, ao baile dos artistas). Samarah caminha segura, com botas de salto alto e minissaia preta, sem perder a pose de inatingível. Em tudo é feminina, até nas medidas: calça 37 (outrora 39/40, mas os pés encolheram com os tratamentos hormonais), mede 1,62 m e pesa 57 quilos. Diante do ecrã, perde os filtros e emociona-se. A paisagem rural de Vejle, na Dinamarca, que abre o filme A Rapariga Dinamarquesa (inspirado em factos verídicos), lembra-lhe o seu porto de abrigo: a rocha açoriana. Vejle é pintada e re-

OS ÓSCARES

como canto

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Porquê Samarah? Fábio inspirou-se numa figura egípcia O diagnóstico de disforia de género exige a avaliação de duas equipas multidisciplinares (psicólogo, psiquiatra e endocrinologista). e a aprovação da Ordem dos Médicos

Produção

25 anos

Na véspera de assistir ao filme A Rapariga Dinamarquesa, fez uma sessão fotográfica para a SÁBADO. Trouxe as suas extensões

CALÇAVA O 39/40, MAS OS PÉS ENCOLHERAM COM OS TRATAMENTOS HORMONAIS – PASSOU PARA O 37

ALEXANDRE AZEVEDO

Idade média dos transexuais seguidos por Zélia Figueiredo


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ORIANAERAUMRAPAZ ra. Na matiné de sábado, comoveu-se a ver a transformação de Einar em Lili. Por RaquelLito

pintada pelo protagonista Einar Wegener – cujo desempenho valeu a Eddie Redmayne a nomeação para o Óscar de Melhor Actor, na semana passada. As cores sombrias esbatidas na tela, assim como os pântanos e as árvores despidas de folhas, reflectem os primeiros sintomas de mal-estar de Einar. Há 90 anos, o pintor iniciava uma viagem sem retorno, contra convenções e médicos que o davam como esquizofrénico, ou pervertido. Seria o primeiro transexual da história. Contudo, a transexualidade, clinicamente classificada como disforia de género (termo cunhado na última edição da bíblia da psiquiatria, o DSM V, de Maio de 2015) era algo bizarro para a época. Desconhecia-se que fosse possível o género do cérebro não bater certo com o do corpo.

Psiquiatra revela à SÁBADO mudança de mentalidades

Zélia Figueiredo, psiquiatra no hospital Magalhães Lemos, no Porto, tem acompanhado transexuais desde 2008. “As mais velhas podem ter recorrido à prostituição, mas isso já não acontece com a geração mais nova. Os pais costumam acompanhá-las nas consultas”, diz. Entre as pacientes, tem uma doutorada em Ciências Sociais.

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Atraída pela roupa das irmãs Da pintura, Einar parte para a roupa feminina. Começa timidamente por tocar nos tules de uma amiga bailarina, Ulla (Amber Heard). Depois, a pedido da mulher (Gerda, interpretada por Alicia Vikander), também pintora, posa com as meias e os sapatos de Ulla – esta cancela, em cima da hora, a sessão onde iria ser modelo de Gerda. Aí nasce o alter ego feminino de Einar: Lili. Alter ego porque, de início, o próprio refere-se a ela na terceira pessoa. O lado feminino de Samarah despontou aos 5 anos, quando colocava T-shirts na cabeça, para fingir que tinha cabelo comprido. No regresso da escola, entre os 8 e 9 anos, não resistia a experimentar,

Os pais vão à consulta

AOS 5 ANOS, SAMARAH JÁ USAVA T-SHIRTSNA CABEÇA, PARA FINGIR QUE TINHA CABELO COMPRIDO

i Lili Elbe, então Einar, começou por tocar timidamente nos tules de uma amiga bailarina. Depois, assumiu o look feminino

sempre às escondidas, a roupa das seis irmãs: saias e meias de lã. “Depois de me vestir, punha as bonecas delas no chão e começava a cantar fado no quarto”, conta Samarah à SÁBADO. Sonhava com palcos, queria ser cantora. A revelação à mãe Na adolescência, tornou-se insustentável ser Fábio. Tal como Einer, sentia-se incomodado com o órgão sexual e puxava-o para trás. O gesto saía-lhe por instinto. Também foi espontânea aquela primeira vez que se vestiu de mulher. Num fim da tarde, depois das aulas, foi ao quarto da irmã, abriu o saco com a roupa nova (um vestido preto de renda) e levou-lhe o batom pousado na cómoda. Seguiu para o seu quarto, maquilhou-se, vestiu-se e calçou as sandálias brancas de salto alto da mãe, que já tinha guardado há alguns meses. Era com este tipo de calçado que se sentia bem a fazer os trabalhos de casa. Naquele momento, com 16 anos, desfez as dúvidas: “Senti que queria ser rapariga. Um mês e meio depois, comprei uma peruca preta comprida, numa loja de Carnaval.” A mãe, Luísa Cabral, acabou por apanhá-la com a peruca. “Tu queres mesmo isso, não é?” “Sim.” Apesar de, ao primeiro impacto, ter ficado atordoada, a mãe revelou-se o seu maior apoio – no filme, é a mulher de Einar a acompanhá-lo até ao fim. Samarah tornou-se cada vez mais visível, pela roupa, pela atitude e pelos maneirismos quando passeava nas ruas de Ponta Delgada. Assumia-se na comunidade micaelense, Q 75


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ALEXANDRE AZEVEDO

Samarah gostava de ter estabilidade emocional. Teve três namorados, heterossexuais; está solteira há cinco meses

Q como atesta no documentário City Folk– Gente da Nossa Cidade, da RTP Açores, de 2014 (foto pequena). Aquela mulher vistosa, que nunca tropeçava nos saltos – nem sequer treinava para andar com eles, porque se ajustavam bem a ela –, queria ser reconhecida pelo público, mas não a qualquer preço. Estava confiante de que iria seguir uma carreira de canto, depois de ter passado pelo Conservatório Regional de Ponta Delgada, entre os 15 e os 19 anos; de ter sido finalista do concurso Açor Talentos, em 2011; e de

Cirurgia complexa Demora até nove horas e envolve três cirurgiões

O cirurgião plástico João Décio, pioneiro na técnica, explica: a cirurgia genital envolve três cirurgiões, enfermeiro e anestesista.

ter participado seis vezes no programa regional de entretenimento Atlântida. Através deste formato da RTP Açores, despertou a atenção de um mecenas que lhe financiou a gravação de um CD, nos Estados Unidos e uma digressão de três meses por aquele país. “Gravei nove temas de fado, dois deles originais. Os restantes eram covers.” Oprimeirotratamentohormonal Antes de se aventurar pelos Estados Unidos, Samarah já tinha dado provas de profissionalismo no comércio. Fidelizava clientes na loja de decoração onde trabalhava, das 9h às 18h, pela sensibilidade estética (mais um ponto em comum com Lili, que se evidenciou a trabalhar numa perfumaria). Samarah tinha (quase) tudo, faltava-lhe o acompanhamento especia-

A técnica consiste no enxerto de uma parte do intestino delgado da própria paciente.

Mais em sabado.pt

Veja o making of da sessão com Samarah Oliveira e a entrevista sobre o seu percurso

90 mil telespectadores viram City Folk – Gente da Nossa Cidade, onde foi abordado o caso de Samarah. O documentário, produzido pela RTP Açores, foi transmitido na televisão pública holandesa, NTR

São retirados os testículos e as peles do órgão sexual masculino para a construção da vulva e do clitóris. Se tudo correr bem, recupera a vida sexual em um mês.

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“Foi lindo”, comentou Samarah no fim do filme. Emocionou-se várias vezes

lizado. O primeiro relatório foi feito por uma psicóloga da unidade de saúde de São Miguel, em Dezembro de 2013, e corroborou a sua inserção social. “Com uma boa auto-estima, sociável e com o apoio da família, na sua maioria, esse será um processo favorável à sua integração”, lê-se no documento, dando-a como apta a fazer a mudança de sexo. Não havia recuos. Samarah entrara na fase de transição, passou a tomar hormonas. “Primeiro, senti vómitos e dores de cabeça. Depois senti um caroço no peito. Os pêlos caíram, os pés encolheram, perdi massa muscular, os dedos ficaram mais finos e a pele mais macia”, explica. Confessa, porém, ter cometido um erro crasso. A obstinação em ser mulher levava-a a automedicar-se. “Uma vez desmaiei durante 15 minutos. Acordei e pedi água.” O namorado de então, de 24 anos e heterossexual, aconselhou-a a moderar-se na dosagem. Passou a tomar dois comprimidos por dia. “Tem um percurso habitual de uma transexual, mas está com alguma dificuldade na transição. É crucial que faça a consulta com um endocrinologista especializado na área”, recomenda a psiquiatra Zélia Figueiredo, uma das mais experientes neste âmbito, quando contactada pela SÁBADO. A vida emocional de Samarah complicou-se quando o namorado, com quem perdera a virgindade, aos 20 anos, começou com as crises de ciúmes. “Bateu-me. Saí de casa dele, no Norte.” Regressou aos Açores, mas por pouco tempo – o necessário para juntar algum dinheiro, como caixa de supermercado. Estava determinada a prosseguir a sua transformação em Lisboa. Chegou há dois anos e começou a cantar covers em bares. Pelo caminho, fez um amigo inseparável, Bruno Guedes, 19 anos, técnico de turismo. “Quando a vi pela primeira vez pensei: ‘Que rapariga tão linda’, conta o próprio. Em paralelo, a artista procurou apoio especializado com um psiquiatra do hospital de Santa Maria. Samarah será Samarah em pleno em 2017, quando fizer a operação genital. W


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TENDÊNCIA. LOJA HERBÍVORA ABRE NO DIA 23

UM TALHO VEGAN?

Sem bichos no menu Por cá também há soluções para mudar a alimentação

É verdade. Os irmãos Aubry e Kale querem enganar carnívoros com salsichas e bifes de vegetais, seitan e especiarias. Por Maria Espírito Santo

h Kale está à esquerda e Aubry à direita. Ele é o que sofre mais com as piadas – kale é couve em inglês

também croquetes e bacon – são alguns dos alimentos que é possível encontrar na loja online O Talho Vegetariano. A empresa vende produtos à base de soja e tremoço biológico, da marca Vegetarische Slager, de origem holandesa. Em Portugal, é possível comprá-los em várias mercearias naturais em cidades como Lisboa, Porto, Viseu e Évora.

culinárias, para os amigos. Ela tinha trabalhado como agente de talentos e contabilista, ele servira às mesas. “No início toda a gente detestou a comida”, revelam à SÁBADO. Não pousaram a panela até chegarem às receitas que fazem os amigos felizes. Outro aliado de ouro é o pai, que come carne, prova tudo e diz-lhes se estão no bom caminho, na perspectiva de um omnívoro, claro. Foi por causa dele que, em 1993, trocaram Guame pela cidade de Bloomington, estado do Minnesota – o pai leu na Forbes que era “dos melhores sítios para criar uma família”.

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stufada ou na grelha. Ao pequeno-almoço, almoço, lanche ou jantar. De porco, frango ou vaca ou, então, de todos juntos. A carne, assim como o marisco, é obrigatória na dieta de um guamês – ou habitante de Guame, ilha do oceano Pacífico, descoberta em 1521 por Fernão de Magalhães. E Aubry e Kale não eram excepção. Como bons guameses, comiam carne a toda a hora. Pelo menos até decidirem tornar-se vegan – aí deixaram a proteína, mas não quiseram abdicar do sabor. Nem dispensar um suculento bife ou um filetmignon no ponto. Primeiro foi Aubry, 34 anos, que se tornou vegan, em nome dos direitos dos animais, depois o irmão Kale, 22, por culpa do excesso de peso. Como o que havia no mercado não os satisfazia, decidiram criar as suas receitas. Assim nasceu o The Herbivorous Butcher – ou talho herbívoro. Primeiro como projecto ambulante, agora como loja. A salsicha italiana tem tomate

Crepes e folhados mas

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seco, feijão, manjericão, paprica e pimenta preta. As costeletas da casa levam sumo de tomate, açúcar amarelo e cebola em pó. Há ainda salsichas, bacon, salame e almôndegas. A base para as carnes é a farinha de glúten (principal ingrediente do seitan), depois, misturamse vegetais, sementes e especiarias. Para comprar há ainda camembert, gouda ou mozarela (isso mesmo, queijos) feitos com leite de soja orgânico e óleo de coco. Foi há já quatro anos que Aubry e Kale começaram a fazer experiências

g O conceito foi pensado ao pormenor para replicar o ambiente do talho tradicional

“NO INÍCIO TODA A GENTE DETESTOU”, CONTAM SOBRE OS PRIMEIROS JANTARES COM AMIGOS

Kitpara iniciantes Apesar da variedade de produtos, ainda querem juntar o Spam ao currículo: “É o nosso Evereste”, brincam. A carne de porco enlatada, iguaria americana que acabou com a fome na Segunda Guerra Mundial, ganhou popularidade, nomeadamente em Guame – lá, cada pessoa consome cerca de 16 latas por ano. Também se inspiram noutras culturas – têm a salsicha portuguesa, que é muito picante, revelam. Na loja, que abre dia 23, encontrará 45 produtos (carnes e queijos), com preços entre os €4,50 e os €14. Se for aos EUA pode encomendar um vegan starterkit– kitde iniciação ao veganismo – com produtos para 24 refeições, seis snacks e receitas. W 77


Família

VIAGEM. LEIA O DIÁRIO DE BORDO NO SITE DA SÁBADO

D.R.

ADEUS, ATÉ DAQUI ATR

Saíram dos Açores, rumo à Ásia, com a filha, de 2 anos, a 12 de Janeiro. Só tencionam regressar no fim de Março – e isto se já não tiverem dinheiro para continuar. Por Tânia Pereirinha

Vacinasebrinquedos A bagagem foi reduzida, mas a saúde assegurada

Medicamentos

um primeiro momento, em Janeiro de 2015, tiveram vontade de desistir e de sair de São Jorge, ilha açoriana onde se conheceram e vivem desde então, com a filha Camila, agora com 2 anos e 9 meses. Ao fim de 8 anos a dar aulas na escola profissional local, Emanuel Silveira, 37 anos, ficou desempregado. Ingride Bettencourt, 33, psicóloga, não tinha o emprego como directora técnica na Santa Casa da Misericórdia da Calheta em risco, mas ainda assim ponderou largar tudo, em São Jorge não havia oportunidades, não

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FIZERAM ESCALA EM ISTAMBUL NO DIA DO ATENTADO QUE VITIMOU 10 TURISTAS NA PRAÇA SULTANAHMET

ficavam ali a fazer nada. Depois acalmaram-se e deram uma segunda oportunidade à ilha, de 53 km de comprimento por 8 km de largura. Tinham duas casas de férias, uma na Fajã de Santo Cristo, onde costumavam fazer stand-up paddle, outra na Fajã do Ouvidor, perto das piscinas naturais – decidiram pô-las a render durante o Verão. “Conhecemos imensas famílias de estrangeiros, jovens, também com filhos, que rentabilizavam casas nos seus locais de moradia e andavam a viajar pelo mundo. Em Setembro decidimos fazer o mesmo”, conta à

900 euros Febre tifóide, encefalite japonesa e hepatite A – foram vacinados os três ainda em Portugal

Mochila piggybackrider 90 euros Foi a única compra que fizeram para a viagem, para Camila poder ir de pé, às costas dos pais

Brinquedos 3 à escolha Ingride diz que a filha reagiu bem à limitação: levou um Nenuco, uma Minnie e um panda de peluche


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Lá em casa tudo bem

ÊS MESES

SÁBADO Ingride, ao telefone do lobby de um hotel de duas estrelas em Banguecoque, quatro dias depois de ter aterrado na Tailândia e após uma escala traumática em Istambul, na Turquia, exactamente no dia do atentado suicida que vitimou 10 turistas, na praça Sultanahmet. “Se não estivéssemos com a Camila, à hora das explosões, o mais provável é que andássemos a visitar a cidade. Como ela acordou mais tarde, atrasámo-nos a sair do hotel – e talvez tenha sido a nossa sorte.” Em Setembro de 2015, a ideia era passarem seis meses a viajar em família. Em Dezembro, Ingride e Emanuel perceberam que o dinheiro que tinham amealhado só devia chegar para 90 dias e restringiram o roteiro: “Em princípio regressamos no fim de Março, mas nunca se sabe... Estamos a pensar gastar, no máximo, 2.000 euros por mês, já com viagens, hotéis e comida incluídos. Não temos um

g Começaram na Tailândia, a seguir querem passar por Laos, Vietname, Camboja e Filipinas. Não têm roteiro fixo nem hotéis marcados

Acompanhe a viagem de Ingride, Emanuel e Camila em sabado.pt

INGRIDE PEDIU UMA LICENÇA SEM VENCIMENTO E EMANUEL SUSPENDEU O SUBSÍDIO DE DESEMPREGO

itinerário decidido ainda, só sabemos que queremos passar por Laos, Camboja e Vietname – e que o voo de regresso é pelas Filipinas. Vimos das ilhas e é nelas que nos sentimos bem, por isso queremos fazer um roteiro mais virado para o mar.” “A nossa filha vai ser feliz” Para poderem fazer a viagem, Ingride pediu uma licença sem vencimento e Emanuel, para não ser obrigado a apresentar-se no Centro de Emprego de 15 em 15 dias, a suspensão do subsídio de desemprego. Camila só teve de dizer adeus aos amigos da creche, que frequenta desde os 6 meses: “Há já uns meses que andava toda contente a dizer que ia ver os elefantes”, conta a mãe. Nem ela nem o pai têm dúvidas de que estes três meses serão de muito mais aprendizagem do que os dias na escola. “Está a experimentar uma série de coisas novas: nos Açores não há metro, nem comboio nem tuk-tuk. É um mundo novo, que ela está a descobrir em brincadeira permanente.” Para já, ainda com o sono trocado (“Acorda todos os dias às 3h da madrugada, a querer brincar”), Camila só tem torcido o nariz ao cheiro a comida que emana por todo o lado, nas ruas de Banguecoque. “Não trouxemos nada para ela comer, nem bolachas! Na primeira noite obrigou-me a ir de madrugada comprar barras de chocolate Kinder e, de resto, só tem comido muita fruta. Mas hoje já quis provar um prato típico: pad thai.” Como Ingride Bettencourt explica à SÁBADO – e tenciona repetir nas crónicas que vai assinar no site da revista – esta é uma viagem rumo à felicidade. “Temos um objectivo muito definido na nossa vida, que levamos de forma intensa: sermos felizes. Somos muito ligados à natureza, praticamos desportos radicais, não nos preocupamos com o futuro nem nos prendemos ao passado, vivemos o presente. Quando voltarmos não vamos ter dinheiro para ir jantar fora, não importa. A Camila, mais tarde, até pode não ter memórias gráficas da viagem, mas vai ser uma criança feliz.” W

O Dulce Garcia Subdirectora

Acorda-me depois de o Marcelo chamar o Uber – Domingo vai ser um dia especial. Estive aqui avere... – É dia de presidenciais. – É dia do reformado. Estou a pensar ir buscar a minha avó ao lar e levá-la a almoçar ao pé do rio. – Não vais votar? – Oxalá ela não se lembre que foi a 24 de Janeiro, em 1965, que morreu o Churchill. Ela e o meu avô adoravam o Churchill, até tinham um busto dele na sala. – Finalmente acaba-se este carnaval de campanhas e feiras com enchidos. Um tormento. – Também faz anos que a Marilyn Monroe se separou do Di Maggio, aquele jogador de basebol, e acho que começou aí a sua desgraça, coitada, linda de morrer e uma infeliz. – Ainda não sei bem se vou votar no Nóvoa ou no Marcelo. A minha mãe escolheu a Maria de Belém mas eu não tenho grande fé nela... – E foi a 24 de Janeiro de 1995 que arrancou o julgamento do O. J. Simpson, acusado de assassinar a mulher e o namorado dela, lembras-te? – Não, não me lembro. – Em 2011, no mesmo dia 24, um bombista suicida matou mais de 30 pessoas e feriu outra centena num aeroporto de Moscovo. – Tu eras capaz de votar no padre, por exemplo? – Oh pá, cala-te que esse assunto dá-me sono, de previsível que é o desfecho. Aliás, faz uma coisa: acorda-me quando o Marcelo apanhar o Uber para Belém. W

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Desporto

h Para que José Peseiro saísse já do Al-Ahly para o FC Porto foi preciso pagar 150 mil euros ao clube egípcio

FC PORTO. JOSÉ PESEIRO É O NOVO TREINADOR

UM ADEPTO DETOURADAS E DO BENFICA

No Real Madrid, no Sporting e na Arábia Saudita registou derrotas dramáticas. O único título foi conseguido no Sp. Braga: ganhou a Taça da Liga ao FC Porto. Por CarlosTorreseTiagoCarrasco


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MIGUEL BARREIRA

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no estádio de Alvalade). Treinou depois Al Hilal (Arábia Saudita), Panathinaikos e Rapid de Bucareste, chegando em 2009 à selecção da Arábia Saudita. Aí viveu outro momento dramático: falhou a ida ao Mundial 2010 ao sofrer um golo do Bahrein aos 93 minutos.

Em Maio de 2005, o Sporting de José Peseiro perdeu a final da Taça UEFA frente ao CSKA Moscovo

“QUANDO ESTAVA NO SPORTING QUERIA QUE O SPORTING VENCESSE MAIS VEZES DO QUE O BENFICA”

José Peseiro nasceu em Coruche há 55 anos. Como treinador, esteve em 11 clubes e na selecção da Arábia Saudita Soma

143 jogos (e 65 vitórias) como técnico em equipas da I Divisão portuguesa (Nacional, Sporting e Sp. Braga). Tem um título: a Taça da Liga de 2013

RECORD

a família, é tudo vermelho”, diz, divertido, o filho de um amigo de José Peseiro, que preferiu não se identificar. E não é só por serem todos adeptos do Benfica, mas também devido à ligação ao Partido Comunista. “Ele é militante do PCP, mas não gosta de o admitir em público”, conta à SÁBADO. O pai de José Peseiro, que já morreu, era dono do restaurante mais conhecido de Coruche (O Farnel), agora gerido pelo seu irmão Carlos. O pai fornecia os tachos e as panelas para fazer a sopa da pedra para a Festa do Avante! e doava a carrinha que levava todo o material do distrito de Santarém para o evento no Seixal. Além de sofrer pelo Benfica, Peseiro tornou-se um apaixonado pelas touradas. Ainda hoje, sempre que pode vai às corridas e é visto com frequência com os forcados de Coruche, vila onde nasceu há 55 anos. Apoia financeiramente o grupo – tem lá um sobrinho – e até já repreendeu o cabo por desacatos provocados pelos forcados. Foi no Grupo Desportivo O Coruchense que começou a jogar futebol, sendo capitão e líder da equipa. José Peseiro, que na terça-feira, dia 19, se tornou treinador do FC Porto, sucedendo no cargo a Lopetegui, é neto de camponeses (os avós cultivavam arroz nas lezírias). No 25 de Abril, a sua família lutou contra os latifundiários, daí a sua ligação ao PCP. Ricardo Santos, de 65 anos, amigo de infância de Peseiro e durante seis anos presidente d’O Coruchense, conta à SÁBADO que quando foi para a guerra em África foi a família Peseiro que ajudou a sua mulher a cuidar da filha de três meses: “Tenho por eles uma gratidão eterna. São pessoas humildes, com causas e valores.” A carreira de José Peseiro como treinador começou em 1992 (32 anos), no União de Santarém, seguindo-se União de Montemor e Oriental. Em 1999, chegou ao Nacional da Madeira, então na II Divisão B, e destacou-se: subiu à II Liga e dois anos depois alcançou a I Divisão, tendo ficado em 11º (ganhou ao Benfica e empatou com o Sporting). Em 2003, mudou-se para o Real Madrid, como adjunto de Carlos Quei-

Cincoderrotasemfinais Falhou na Taça do Rei, na UEFA e no acesso ao Mundial 2010

Como CSKA a vencer por 2-1, os jogadores do Sporting acertaram no poste duas vezes seguidas. Na resposta, os russos fizeram o 3-1 e venceram a Taça UEFA de 2005. Esta não foi a única derrota dramática de Peseiro. Em 2004, o Real Madrid perdeu a Taça do Rei no prolongamento. Já na Arábia Saudita, perdeu duas finais da Gulf Cup, uma nos penáltis e outra no prolongamento. E no apuramento para o Mundial 2010, a Arábia Saudita fez o 2-1 aos 91 minutos, mas sofreu o 2-2 aos 93. “Foi uma grande tristeza, mas a dor só acontece quando a felicidade está perto”, comentou Peseiro.

roz. A equipa estava bem lançada para ganhar o título, mas perdeu os últimos cinco jogos e acabou em 4º lugar (a 7 pontos do Valência, 2 do Corunha e 1 do Barcelona). O Real foi também eliminado pelo Mónaco na Liga dos Campeões e perdeu a final da Taça do Rei frente ao Saragoça (3-2). Na época seguinte foi para o Sporting e ganhou a alcunha de “treinador do quase”. Em quatro dias perdeu o campeonato (derrota por 1-0 no estádio da Luz, com golo de Luisão aos 85 minutos) e a Taça UEFA (3-1 frente ao CSKA Moscovo na final, disputada

“Euachoquetenhosorte” Sobre esses momentos, em 2010 disse no site MaisFutebol: “Os meus amigos dizem que tenho azar, mas eu acho que tenho sorte. Comecei na III Divisão e estou onde estou sem ter passado como jogador. Isso são coisas que marcam e que abalam, mas não podemos baixar os braços. Estou a acumular para que um dia a sorte ajude.” Em Abril de 2013, já no Sp. Braga, conseguiu o primeiro título: ganhou a Taça da Liga frente ao FC Porto (1-0, com um golo de penálti de Alan). Depois disso, voltou a emigrar, treinando no Al-Wahda (Emirados Árabes Unidos) e no Al-Ahly (Egipto), de onde saiu agora para o FC Porto. Admitiu a sua costela benfiquista, mas garantiu em 2009 ao jornal O Mirante: “Quando somos profissionais não existe clubismo. Quando estava no Sporting queria que o Sporting vencesse mais vezes do que o Benfica.” O amigo Ricardo Santos defende que, no Sporting, Peseiro nunca teve quem o protegesse. “Ao meu lado a ver os jogos ficavam o Pedro Barbosa, o Rui Jorge e o Paulo Bento. Estiveram toda a época a criticá-lo para lhe fazer a cama. Ouvi muitas vezes das bancadas: ‘Vai­te embora, torero.’” O único que o protegeu sempre, diz, foi o presidente Dias da Cunha: “Quando lhe quis dar o resto do montante da indemnização, ele recusou. Só um homem com os seus valores e com o seu coração faria isso. No FC Porto vai ter um balneário blindado e terá sucesso. Sou sportinguista, mas quero que o FC Porto seja campeão.” Quando José Peseiro treinava o Sporting, os seus amigos organizavam grandes romarias de Coruche para Alvalade para ir ver os jogos. Agora, conta um deles, vão passar a ir ver as partidas do FC Porto ao estádio do Dragão. O primeiro é já este domingo, frente ao Marítimo. W 81


Desporto

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ANDREA BUGNONE. PRODÍGIO EM PROVA ALPINA VIVE NA SUÍÇA

OPORTUGUÊSQUE JÁGANHOUNOESQUI Em 2012, deu a primeira vitória de prestígio a Portugal. Agora, vai aos Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude, uma estreia portuguesa. PorCátiaAndreaCosta

ma lesão nas costas afastou Andrea Bugnone das pistas de esqui de Fevereiro a Setembro de 2015. O contratempo foi um dos obstáculos que o jovem ultrapassou para entrar na história: vai ser o primeiro atleta português a participar nos Jogos Olímpicos (JO) de Inverno da Juventude. A segunda edição da prova realiza-se de 12 a 21 de Fevereiro, em Lillehammer, na Noruega, e Andrea vai competir nas provas de Slalom, Slalom Gigante, Slalom Combinado e Super-Gigante. Andrea Bugnone nasceu a 22 de Maio de 1999, em Genebra, Suíça, onde ainda vive. Filho de pai italiano e mãe portuguesa, Marta de Mello – é neto do já falecido empresário Jorge de Mello, do grupo

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José de Mello –, divide o seu tempo entre o estudo e os treinos, na cidade francesa de Megève. “Ao contrário dos outros desportos, os treinos do esqui alpino são mais centrados em estágios. Por isso, o Andrea consegue conciliar o desporto com a educação”, explicou à SÁBADO o director técnico da Federação Portuguesa de Desportos de Inverno (FPDI), Sérgio Figueiredo. O jovem completa a sua preparação com ginásio três vezes por semana, joga futebol num clube local e pratica ténis. Crowdfunding para competir A primeira vez que Bugnone surpreendeu foi em Janeiro de 2012. No Troféu Borrufa, um dos mais prestigiados das camadas jovens,

g Jovem é filho de pai italiano e mãe portuguesa. O avô materno é o falecido empresário Jorge de Mello

EM 2014, ANDREA ANGARIOU €16.200 NUMA CAMPANHA DE CROWDFUNDING

Um caso de sucesso Esquiador de 16 anos já tem um currículo assinalável

Em 2012, Bugnone foi eleito o melhor atleta jovem pela Federação Portuguesa dos Desportos de Inverno de Portugal. No seu currículo, conta com um 7.º lugar em Super-G no Campeonato da Europa Sub16 em 2014, e um 15.º em Super-G no Mundial sub-14, em 2012, entre outros.

subiu quatro vezes ao pódio, duas delas no lugar mais alto (Gigante e Super-Gigante). Foi a primeira vitória portuguesa numa prestigiada competição internacional. Dois anos depois, decidiu criar um projecto de crowdfunding: “Ajudem-me a financiar os meus treinos de maneira a esquiar por Portugal nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2016.” O apelo surtiu efeito e, de 11 de Setembro a 18 de Novembro de 2014, Andrea reuniu 16.200 euros, mais 200 do que o que procurava. Na página do projecto, apresentava os gastos da sua preparação – 29.700 euros, a maior parte para treinos e estágios. “Para competir ao mais alto nível, preciso de esquiar 130 a 140 dias por ano, numa média de 5 dias por semana na época de Inverno e seis a 10 dias por mês no resto do ano”, explicou Bugnone. “Na base, o investimento é pessoal. Por exemplo, nos JO as despesas de participação pertencem aos comités olímpicos, mas nas outras competições as despesas estão a cargo do esquiador”, diz Sérgio Figueiredo. “Acima de tudo, a FPDI dá apoio logístico.” O responsável técnico defendeu que um resultado bom e realista seria um lugar entre o top 10 e 20. “Mas na neve nunca se sabe”, alertou Figueiredo, recordando que esta prova é uma antevisão para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, na Coreia do Sul. W


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Afechar s livros iam debaixo do braço e as costas muito direitas. O olhar sempre em frente ou virado para o chão. Estava sozinho na maioria das vezes, via-se pela janela como dava as aulas a falar e caminhar de um lado para o outro sem olhar para os alunos e ficou-lhe colada a fama de severo e reservado pelos corredores do Liceu Camões, em Lisboa, onde deu aulas durante mais de 20 anos, até ao dia em que se reformou. Vergílio Ferreira faria 100 anos a 28 de Janeiro e, por muito que ele nem gostasse da profissão, não se pode recordar o escritor sem as memórias que deixou em centenas de estudantes. “Não, não gosto de dar aulas. Nunca gostei. Um antigo aluno (já o contei?) disse-me um dia que eu imitava muito bem o gostar”, desabafou o escritor num dos volumes do seu extenso diário, ContaCorrente, onde em vários momentos relata episódios do seu dia-adia nas aulas. Em jovem até era melhor aluno a ciências, mas aproveitou para rentabilizar o Latim que aprendeu no Seminário da Guarda e fez o Exame de Estado para o 1º Grupo do Ensino Liceal. Foi aprovado com 15 valores, como consta no seu primeiro registo de professor no Liceu Nacional de Faro em 1942.

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D.R.

Artes

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O senhor professor Vergílio Solitário. Severo. Deslumbrante. Como professor, Vergílio Ferreira deixou muitas memórias a recordar no centenário do seu nascimento. Por Catarina Homem Marques

g Visto nos corredores do liceu como um professor severo, Vergílio Ferreira nunca deixou de ser respeitado pelos alunos

PARA NUNO JÚDICE FOI “UM PRIVILÉGIO” TER AULAS DE GREGO COM O ESCRITOR

Chato, exigente e rigoroso A partir daí começou a dar aulas de Português, Literatura, Grego e Latim. Passou por Bragança, Évora (onde esteve 14 anos, inspirou-se para escrever Aparição e passou a ser conhecido e premiado enquanto escritor) e já chegou ao Liceu Camões, em 1959, com um estatuto que o distinguia dos seus pares, como prova a referência especial ao seu nome registada na acta do primeiro Conselho Escolar em que esteve presente. “Reza a lenda que ele e Mário Dionísio, o outro professor ilustre na época, se davam mal. Na verdade, o que se diz mesmo é que rosnavam quando se cruzavam nos corredores”, recorda Francisco Q 83


A fechar

Artes 1 Quando chegou ao Camões teve de preencher uma ficha para entregar na secretaria. Ainda está guardada, com a sua letra a anotar os seus dados pessoais e uma foto danificada

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Documento oficial emitido pelo Ministério da Educação a 4 de Março de 1959 para dar conta do início de actividade de Vergílio Ferreira como professor efectivo “do 1.º grupo do Liceu de Camões”

Exposição A Guarda em Vergílio Ferreira na Biblioteca Eduardo Lourenço, Guarda, até 31 Janeiro

Viagem

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Q Moita Pereira, actual professor de História no Liceu Camões, a escola que ainda guarda na sala gelada dos arquivos um dossiê especial com os papéis do professor-escritor e muitas histórias que passam de boca em boca.

Passeio literário a Melo e Gouveia, a 23 de Janeiro, dirigido por António Dias de Almeida

Exposição A partir de 28 Janeiro, a vida de Vergílio Ferreira é apresentada em Gouveia

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tude já estava para trás, pediu de propósito para ir entrevistá-lo. Vergílio Ferreira não se lembrava dele, “até porque era um professor muito impessoal, tratava-nos pelo número”, mas Pedro Rolo 4 Duarte tinha coisas para lhe dizer. “Foi engraçado porque ele ficou surpreendido quando lhe disse o que achávamos dele no Camões. Eu embirrava com ele. Até andei a distribuir cópias de um texto em que ele assumia que não gostava de ser professor. Mas tenho de reconhecer que os alunos dedicados devem ter tido experiências óptimas. Sabia muito daquilo. E aos 20 e tal anos

acabei por me apaixonar pela obra. Para mim foi o grande escritor do século XX.” Foi aluno de uma das últimas turmas que Vergílio Ferreira ensinou. “Tenho até ideia que ele saiu a meio do último ano, assim que conseguiu a reforma.” Já fazia horário reduzido e no Conta-Corrente registou o dia 10 de Junho de 1976 (Dia de Camões, talvez por acaso) como aquele em que decidiu pedir a aposentação: “Já corrigi o que espero que seja o último exercício escrito por um aluno. Teve nota positiva.” Nessa altura já ia dar aulas só de manhã. À tarde fechava-se em

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Cadernos, os espelhos da alma Sempre que ia ter uma aula de Português com o professor Vergílio Ferreira, o jornalista Pedro Rolo Duarte já sabia que tinha de ter o caderno diário a postos para a inspecção. “Era chato, muito exigente e rigoroso. Isso de pedir os cadernos a alunos de ensino secundário era mesmo à antiga. Achava que o caderno mostrava o que o aluno era por dentro, um espelho da alma”, recorda. Muitos anos depois, numa altura em que o “aluno baldas” da juven84

Ciclo Dedicado a Vergílio Ferreira e Mário Dionísio, a partir de 15 Fevereiro no CCB

Congresso Evento de cariz internacional sobre o escritor, de 29 de Fevereiro a 4 de Março na Universidade de Évora


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LUSA

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Livros

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FOTOS D.R.

O seu centenário traz várias edições comemorativas

casa e dedicava-se inteiramente à escrita, sempre à mão, na mesma letra pequena que tornou os seus sumários escolares famosos – por serem quase sempre ilegíveis. “Percebi na entrevista que lhe fiz que o ensino acabou por ser sempre uma forma de se manter ligado ao mundo. Se só tivesse a escrita acabaria por se sentir asfixiado.” Os momentos de paleio Apesar da falta de paciência assumida e da fama e do proveito de ser um professor exigente, outros alunos ficaram com óptimas recordações dessas aulas e da amizade que se construiu a partir daí. “Deu-me aulas de Grego e claro

Podiam ser mais, tendo em conta a vastidão da obra de Vergílio Ferreira em vários géneros, mas pela altura do seu centenário são 1.000 as frases escolhidas para constituírem uma edição especial numa selecção feita por Luís Naves. A Quetzal continua também a já assumida missão de reeditar a obra completa do escritor com novas edições dos livros O Caminho Fica Longe e de Rápida, a Sombra.

Ramalho Eanes, então Presidente da República, entrega ao escritor uma distinção por ocasião dos 50 anos da livraria Bertrand

4 Vergílio Ferreira nasceu em Gouveia e aos 17 anos era estudante no Liceu da Guarda

5 O professor Vergílio com os colegas do Liceu de Évora em 1933

6 O escritor, já reformado do ensino, sentado na sua biblioteca e rodeado pelos seus livros

7 que a fama de severo e solitário já o precediam, mas foi um privilégio. As aulas com ele foram uma espécie de deslumbramento. Dava o Grego durante 20 minutos e depois passava o resto do tempo a falar de tudo o que sabia sobre a tragédia grega, sobre a cultura, sobre os escritores. Eram aulas que nos abriam para a actualidade”, lembra Nuno Júdice. O também escritor era fã dos livros do mestre, que sempre o impressionaram pela “imensa liberda-

Em França na companhia do amigo Eduardo Lourenço, em Setembro de 1967

ERA MELHOR A CIÊNCIAS MAS APROVEITOU O LATIM DO SEMINÁRIO PARA O ENSINO

de” e que reconhece terem tido um grande efeito naquilo que ainda hoje escreve, mas não foi apenas por isso que as aulas de Vergílio Ferreira lhe deixaram uma marca forte. “Claro que era exigente, e é talvez por isso que ainda hoje consigo ler grego, mas ia muito além da matéria. Mais tarde tornámo-nos amigos, estivemos juntos em encontros literários, mas não pude nunca de deixar de o considerar um mestre.” Na mesma turma de Nuno Júdice andava também Hélder Godinho, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o primeiro a fazer um doutoramento sobre a obra de Vergílio Ferreira. “Foi, além disso, a primeira tese feita em universidades portuguesas sobre um autor vivo. É mais difícil, mas acredito que não se pode fazer nada bem feito se não nos interessar verdadeiramente. E Vergílio Ferreira sempre me interessou verdadeiramente.” Tal como o colega do Liceu Camões, Hélder Godinho recorda as aulas de Grego como uma experiência única. “Tinha muitas vezes o que ele chamava de momentos de paleio. E era aí que falávamos de cultura, de problemáticas variadas e em que havia de facto pensamento. É verdade que nunca foi uma pessoa expansiva mas entusiasmava-se e falava muito connosco. Não concebia o ensino de forma tecnocrática.” Ficaram amigos. Aparece referido também nos diários de Vergílio Ferreira por este se sentir “desconcertado” com tudo o que Hélder Godinho via na sua obra. O último dia em que se viram e almoçaram juntos acabou por ser também o dia em que o escritor morreu, 1 de Março de 1996, com 80 anos. “Acabou por morrer enquanto escrevia, que era o que ele queria. Sempre foi a grande paixão dele e acredito que só dava aulas porque não poderia viver da escrita. Não deixava de o dizer, mesmo durante as aulas.” Talvez por isso todos os alunos estejam de acordo numa coisa – o professor Vergílio Ferreira sempre foi “respeitado pela qualidade e não pelo medo”. W 85


A fechar

Social o

Vende-se mansão, A luxuosa casa que foi parque de diversões sexuais para as vedetas de Hollywood está degradada e foi posta no

mundo glamoroso que Hugh Hefner ergueu está a desmoronar-se. A Playboy, a revista erótica mais famosa do mundo, nunca vendeu tão pouco e, numa tentativa de reverter a situação, no ano passado deixou mesmo de publicar fotos de mulheres nuas. Agora é a mansão Playboy. A casa onde Hugh Hefner viveu com uma série de modelos e strippers – as coelhinhas –, e que ficou famosa pelas suas orgias, está à venda. A propriedade, em Holmby Hills, Los Angeles, Estados Unidos, está no mercado por 183,6 milhões de euros. O preço é um recorde, mas poderá estar inflacionado. É que, apesar dos 29 quartos e dois hectares de jardim, a propriedade não é renovada há 40 anos. E há mais: quem a comprar tem de conviver com Hugh Hefner até ele morrer. Aos 89 anos, o homem que na década de 60 revolucionou os costumes sexuais e se tornou no mais invejado do mundo, por passar os dias de pijama de cetim numa casa cheia de jovens mulheres voluptuosas, está velho e cansado. Hefner mal sai do casarão, que partilha com a mulher, Crystal, de 29 anos, a playmate de Dezembro de 2009. E, segundo outra coelhinha, Carla Howe, vive rodeado de enfermeiras. As festas excêntricas onde as maiores estrelas de Hollywood, como Warren Beatty, se divertiam, são coisa do passado. Os sofás da famosa piscina com gruta estão desbotados, os frigoríficos partidos e a mansão é arrendada para o lançamento de filmes. Veja aqui o casarão por dentro e por fora. W

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800 mil revistas por mês é o que a Playboy hoje vende. Nos anos 70, chegou a vender sete milhões de exemplares

Design A revista também era lida pelos artigos sobre design de interiores e pelas entrevistas a figuras como Jimmy Carter ou Fidel Castro

HUGH HEFNER VIVERÁ AGORA RODEADO DE ENFERMEIRAS


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com dono incluído mercado. Há uma condição: Hugh Hefner só sai de lá morto. Mesmo assim, é o fim de uma era. Por Susana Lúcio


A fechar

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Parecequefoiontem Observador

“Se não te enganas de vez em quando é porque não tentas” – Woody Allen, cineasta, Nova Iorque, 1935

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O clube do amor

Helena Isabel foi jornalista por uns dias Háquase42anos,aredacçãoda extinta revista Alcance convidou a actriz, e então ocasionalmente cantora, Helena Isabel – entrevistada nesta edição – para integrar a equipa de jornalistas que iria fazer a cobertura do Festival Eurovisão da Canção, que se realizaria no início de Abril de 1974. Fiz parte dessa comitiva, com Sena Santos e com o saudoso repórter-fotográfico José Tavares, que surgem na foto do escriba, aqui ao lado, já em Brighton, no sul de Inglaterra. ALenaficaraem 6.º lugarno Festival da RTP, ganho por Paulo de Carvalho – seu futuro marido, é assim a vida – com EDepoisdoAdeus, e já havia feito sensação, com a beleza que exibe ainda hoje, num concurso de Miss Portugal. No convite da Alcance existia, como se pode calcular, um alcance mais longo, mas a esperteza teve a pernacurtaporvontade daactriz, cuja colaboração se resumiriaadois ou três textos. E como a revista também não resistiu ao 25 de Abril, e às divergências de quem a produzia, a carreira jornalística de Helena Isabel ficou-se por aí. Para sorte dela, do espectáculo e em particular da televisão, meio no qual veio impondo repetidamente o seu talento – àfrente dos atributos físicos que alguns julgavam ser, háquatro décadas, tudo o que tinha para dar. Chapeau! W

C Jornalista

Alexandre Pais www.alexandrepais.pt

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gi No centro de imprensa, após o Festival; nas ruas de Brighton, com um grupo de jornalistas; e já em Londres, antes do regresso

i Na capa da Alcance, de Março de 1974, e reprodução parcial de um dos textos de Helena Isabel

Na Quadratura do Círculo, António Lobo Xavier revelou estar como Jorge Coelho e “gostardeles todos”. Referia-se à gente do CDS e não à do PS, claro. Eu peço imodestamente licença para me juntar a esse clube do amor, a propósito dos candidatos presidenciais. Na realidade, gosto de Marcelo e sinto-me órfão ao domingo à noite. Gosto de Nóvoa e do seu talento de malabarista do verbo. Gosto de Maria de Belém e da ideia de pôr os chefes de Estado que nos visitem a comer com os pobrezinhos. Gosto de Edgar Silva porque simpatizo com quem consegue viver na Lua. Gosto de Marisa por uma inconfessável atracção pré-senil. Gosto do senhor que nos faz lembrar o Zorro porque desde criança que detesto o estúpido sargento Mendoza. Gosto do homem que odeia a corrupção porque também eu sou contra a peste suína e não me sinto compreendido. Gosto de Henrique Neto pela ampla perspectiva de futuro e do Tino pelas palavras tontas. E gosto até do candidato restante, cujo nome se me varreu de momento, pela classe das fatiotas. Apesar deste amor repartido, irei votar Marcelo, afinal um rapaz da minha incorporação, fiel ao omeprazol em jejum e que, sabemos agora, também gosta de todos. W


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Em 1956, Estée Lauder, nickname de Josephine Esther Mentzer, lançou o creme que seria o embrião da gama Re-Nutriv. Chamou-lhe “uma mina de beleza”. Era caro, reconhecia, mas devolvia a juventude à pele como se esta tivesse 20 anos. Em 2010, Aerin Lauder, directora criativa, lançou, em homenagem à avó, o Re-Nutriv Ultimate Lift Age-Correcting Cream, A linha cresceu agora com quatro novos produtos: Ultimate Diamond Transformative Eye Creme e três versões de Ultimate Lift Rejuvenating. M.G. W

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Opinião

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Não me interessa saber se Sampaio da Nóvoa se licenciou em teatro, ou rendas de bilros. Ajulgarpelas suas intervenções públicas, a única coisa que estudou na vida foram as cantigas concorrentes ao Festival RTP nos anos 70, sobretudo as letras de Arydos Santos. À época, uma pessoa ouvia aquilo e perguntava: de que diabos estão paraali afalar? Ninguém respondia. O mesmo desconforto é suscitado no século XXI pela retórica do candidato presidencial, aqual partilhao tom presunçoso, saloio, desconchavado e em última instância infantil de versos como “Eraatarde mais longade todas as tardes que me acontecia” ou “Meu

irmão, minhaamêndoa, meu amigo”. Não há apenas o anatómico “Tudo no meu corpo é Minho, todo o meu corpo é Norte”. Há também a vinícola imagem do “saca-rolhas” que “puxa” por um “país sem amarras”, decerto ajudado pelos “cavalos-potência do conhecimento”. Há o presidente “que tem na cabeça o mapa do futuro” e é “das palavras e das causas” e, talvez a horas impróprias, “quer acordar Portugal”. E há as verdades indesmentíveis da “democracia que se faz na democracia” e do “cadapessoaaqui presente será um de nós”. E o apelo desesperado a não sei o quê que devemos agarrar “com as mãos inteiras e com o coração inteiro”. E há a misteriosa aversão a certo tipo de recipientes, já que o prof. da Nóvoa detesta “caixas de pensamento”, “caixinhas de formalismos” e “caixas clássicas” (?). Nesta linha, exige que se pense “fora da caixa” e agradece “contributos fora da caixa”. Literalmente, o homem não dáumaparaacaixa. Donde a necessidade de nos perguntarmos que espécie de gente, entre a população adulta, é capaz de levar a sério semelhante colectânea de pateguices. Agora a resposta existe, e é fácil: gente igualzinhaao prof. daNóvoa. No siteoficial dacandidatura, diversas “personalidades” que presumo célebres (não conheço 95%) explicam o que as levaaapoiartão patuscafigura. Dúzia e meia de exemplos chegam e sobram para se perceber com quem

estamos alidar. Um cavalheiro apoia-o “pelasuahumanidade”. Outro porque “é um presidente de futuro”. Outro ainda porque ele “faz a diferença que [sic] Portugal necessita para se reencontrar”. E não esqueçamos os que votam no prof. da Nóvoa “pela sua leveza”, por “incorporarairreverênciado artista, que usa as palavras como matéria-prima essencial”, “pela forma como fala da liberdade e do sonho”, por ser “um homem ousado que nos trás [sic] alegria e esperança”, por ser urgente “ver a cultura tratada como merece”, por possuir “uma ampla mundividência”, porque “com ele o futuro tem futuro”, porque resiste ao “austeristarismo” [sic], porque nos resgatará do “pântano anímico”, porque “dá lugar a amplos horizontes”, porque é “um amante de livros e bibliotecas”, porque é “uma luz”, porque regenera a “nação, apoucada e traída por arteiros e serviçais de uma Europa plutocrata”, porque é contra “as políticas fascizantes”, porque “é Abril na presidência”, etc. A terminar, o meu depoimento preferido, o dajovem que quer, “como quera juventude, perder a vergonha em deixar brilhar os olhos. Os olhos querem brilhar, o coração quer bater”, eira de milho, luar de Agosto, quem faz um filho fá-lo porgosto, lálálá. Se, catastroficamente, viesse a realizar-se, o tempo Nóvoa, perdão, novo seriaisto. E isto é um manicómio acéu aberto. W

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O bom

O mau

O vilão

Espectacular O sonho de sociólogo de Augusto Santos Silva é assistir a um espectáculo de Tony Carreira. Há coincidências espantosas: o meu é assistir a um espectáculo de Augusto Santos Silva. Principalmente aqueles realizados no ministério dos Negócios Estrangeiros e que incluem, logo a abrir, a compra de um faqueiro por 100 mil euros ou de um serviço Vista Alegre por 43 mil. Por azar, são restritos a convidados. E a segurança à entrada é severa com quem, como eu, não possui consciência social.

Um fantasma Durante anos, referi-me por diversas vezes a Assunção Cristas como a “ministra da UDP”. Notório exagero: a senhora é apenas uma socialista comum, do género que castiga com multas os “excessos” dos mercados. Numa entrevista, aliás, a dra. Assunção confessa partilhar com a esquerda o valor da liberdade, prova cabal de que não sabe o que isso é. Não espanta a sua chegada à liderança do CDS. Espanta que, num País assombrado pela ideia da “direita”, a direita nem sequer exista.

Manter o nível O Podemos espanhol distingue-se pelos dreadlocks de um deputado e o rabo-de-cavalo do líder. O rabo-de-cavalo veio apoiar a candidata do Podemos português. E disse que Marisa Matias é “uma pessoa normal”. Dez segundos depois disse que ela tem “algo mágico”: “nós, pessoas normais, caminhamos – a Marisa avança”. Ou seja, não disse coisa com coisa. Logo, integrou-se perfeitamente na campanha das “presidenciais”, uma coisa indigna de eleições para o condomínio.

JUÍZO FINAL Se, catastroficamente, viesse a realizar-se, o tempo Nóvoa, perdão, novo seria isto. E isto é um manicómio a céu aberto

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Os pupilos do senhor reitor

O Sociólogo

Alberto Gonçalves 90


O infinito é o limite. *

Fonte: ANACOM, 3º trimestre 2015.

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