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PRAZERES Sexo é parte integrante de toda a vida adulta
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SAÚDE Alzheimer: Sete dicas para um cérebro saudável
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AMIGOS FIÉIS Cuidados especiais a ter no Verão
EDITORIAL
Temor, humor, amor Mário Zambujal
E d ição Q u i nze n a l | 0 6 Ju nho 2013 | nº 03 | Ano 1 | € 0,95
A marcha é linda!
VOLUNTARIADO
“Lá vai Lisboa” pode bem ser o mote das marchas populares da capital. Se hoje são os mais novos que lhe dão corpo, a verdade é que são os seniores que lhe perpetuam o espírito > 18
DESPORTO
Atletas Veteranos Com 88 e 90 anos, dois atletas seniores provam que é possivel correr atrás de medalhas e arrecadá-las > 32
Um milhão de portugueses faz a diferença Já são mais de um milhão os portugueses voluntários que oferecem o seu tempo em prol de outros. A troco de nada. Nada, a não ser um impacto positivo e real na vida de quem mais precisa > 08 TARIFAS SOCIAIS
A mulher por detrás da luta
Quem pode ter desconto na luz e no gás?
Agitou a AR com a entrega de uma petição pela defesa dos pensionistas. Nos bastidores, a fundadora da APRe! só tem tempo para si e para os seus. Afinal, quem é a mulher que dá rosto à luta? > 16
Governo cria mecanismos de protecção aos consumidores economicamente vulneráveis. Saiba se tem direito às tarifas sociais e como pode apresentar o seu pedido > 14
MARIA DO ROSÁRIO GAMA
CIDSENIOR Movimento para a Cidadania Sénior
“É preciso defender os seniores” Alberto Regueira, fundador da DECO cria Movimento com vista à protecção do cidadão sénior contra a “discriminação de que é actualmente alvo”. Em conversa com o Jornal Sénior explica as motivações desta iniciativa > 12
2 EDITORIAL
CURTAS
JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Adiada actualização das rendas nos bairros sociais Mário Zambujal Director do Jornal Sénior
Temor, humor, amor “Cá por ela”- ou, escrito por ela, “cá por mim”- essa mulher - escritora de inteligência superior chamada Alice Vieira, exortava, no nosso número 2, os leitores e as leitoras a acolher cada edição deste jornal com um “enorme sorriso”. Nem podemos ambicionar melhor. O sorriso não é apenas uma alegre contracção do rosto, uma antecâmara do riso, perante algo que achemos “engraçado”. O sorriso é também o rictus facial que se desenha pela satisfação de um encontro com alguém do nosso agrado, recebido como boa companhia. As boas companhias comunicam o que se passa consigo ou em seu redor, formulam opiniões e críticas – mas também se manifestam pelo humor. Dos portugueses podemos agora dizer que não poucos andam (e compreensivelmente) mal-humorados, mas nunca hão-de perder o gosto pela sátira, a chalaça, a anedota - e, de permeio com queixas e temores - não faltarão momentos para o “enorme sorriso” e a sonora gargalhada. Há ainda aquele outro mas especial sorriso - o de contentamento de cada um consigo mesmo por consciência de praticar acções de amor. Tema central desta edição é o voluntariado. Cada vez são mais – todavia ainda poucos, a avaliar pelas necessidades e por esse moderno padrão de medições designado por “ média europeia” – os que se dedicam à causa nobre de ajudar concidadãos. Há muita e magnífica gente no tédio da desocupação, ensimesmada e temorosa de que não lhe apliquem mais uma facada nas pensões. Por circunstâncias várias – entre elas o desconhecimento de como proceder – não engrossaram ainda o louvável pelotão dos voluntários. Quando acontecer, hão-de descobrir – como descobriram alguns desocupados de quem sou amigo – uma nova razão para viver com utilidade e com a alegria sã de que daí resulta. Vivem-se – não há como ocultá-lo – tempos de temores, pelas ameaças e incertezas que empurram as pessoas a pensar, sobretudo, em si próprias e nos seus familiares. Todavia, há suficiente espaço no melhor da condição humana para doarem – com proveito próprio – alguma fracção de cada dia a esse trabalho sublime que é o voluntariado. Talvez seja o seu caso.
O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana não vai ter pronta a actualização de rendas dos bairros sociais em Dezembro, como estava previsto, segundo notícia avançada pela TSF. A conclusão do processo, que envolve 14 mil casas, acontecerá apenas em Junho de 2014. Ainda segundo a TSF, o presidente do instituto, Vítor Reis, admite que algumas casas dos bairros sociais se degradaram muito e que não é, por isso, “aceitável que um instituto público tenha os bairros num estado de degradação ver-
Publicada no DR proposta de lei que consagra salário mínimo na Madeira em 500 euros O Diário da República publicou na passada segunda-feira, 3 de Junho, a proposta de lei à Assembleia da República apresentada pela Assembleia Legislativa da Madeira, que consagra o aumento do Salário Mínimo Nacional para 500 euros naquela região. A proposta de lei, apresentada na sessão plenária de 8 de Maio da Assembleia Legislativa da Madeira, pelo PCP-M e votada por unanimidade, consagra o aumento da Retribuição Mínima Mensal Garantida na Região de 485 para 500 euros. A proposta, porém, terá de ser aprovada na Assembleia da República para entrar em vigor na Madeira. Álvaro Silva, dirigente da União dos Sindicatos da Madeira (USAM) afirmou na ocasião que o aumento “já vem tarde pois devia ter entrado em vigor em 2011, já que o Salário Mínimo deveria estar, actualmente em 550 euros. Taxas Euribor sobem a seis meses e mantém-se a três e 12 meses A taxa Euribor a seis meses, a mais usada nos créditos à habitação, subiu esta semana 0,001 pontos percentuais. Já as taxas a três e 12 meses mantiveram-se inalteradas nos 0,200% e 0,478%. O prazo a nove meses
Algumas rendas já revistas desceram, mas a maioria subiu. A média passou de 20 para 200 euros dadeiramente vergonhoso” O responsável diz que “falta muito trabalho” para o processo e que este adiamento na actualização era inevitável. Para o atraso, têm contribuído a alteração dos arrendatários, “entre 20% e 40%” das pessoas a viverem nas casas, actualmente, não são as
registou uma descida de 0,001 pontos percentuais fixando-se nos 0,389%. O BCE desceu a 2 de Maio a taxa de referência em um quarto de ponto percentual para um novo mínimo de sempre: 0,50%. Bigode de 40 cm vale primeiro prémio O XXI encontro de bigodes de Viseu premiou José Simão e o seu bigode, que mede 39 cm quando está esticado. Em declarações ao Jornal de Notícias, o vencedor do concurso diz que é adepto dos bigodes “com muito gosto” desde os 17 anos e adianta que, desde então, o seu já chegou aos 47 centímetros. O júri do XXI encontro de bigodes de Viseu, sempre no primeiro sábado de Junho, avaliou cerca de 60 bigodes e não hesitou em dar o primeiro prémio a José Simão. Este revela que um bigode pode dar tanto ou mais trabalho do que o cabelo de uma mulher, e a quantidade de laca e gel também não é diferente. Na reunião em Viseu havia bigodes para todos os gostos, mas o número de participantes tem vindo a diminuir. Os que ainda participam culpam a crise e lembram que as portagens saem muito caras. Bombeiros Profissionais pretendem avançar para os tribunais A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) pre-
mesmas “com quem foi assinado o contrato original”. Nestes casos o processo tem de ser refeito, ainda que na maioria quem esteja a viver no fogo em vez do inquilino inicial seja um familiar. O responsável adianta que o objectivo e a prioridade neste momento é mesmo o de conhecer o estado de conservação e apostar na renda apoiada para quem precisa. De referir que algumas rendas já revistas desceram, mas a maioria subiu. E há bairros onde a média de renda passou de 20 euros para os 200 euros.
tende avançar para os tribunais para contestar a falta de um estatuto próprio destes elementos, anunciou o presidente Fernando Curto, à margem do congresso da ANBP, realizado em Viana do Castelo esta semana. Em causa está a criação do Estatuto dos Bombeiros Profissionais e a implementação de uma carreira única, salvaguardando estes trabalhadores como Corpo Especial da função pública. Uma pretensão com “quase 20 anos”, recorda o presidente da ANBP, mas que tem vindo a ser “sucessivamente adiada”, pelo que ainda em 2013 o caso chegará a tribunal. “Já preparámos o processo em termos jurídicos para, de uma vez por todas, despertarmos esta questão. Para que isto se resolva, de uma maneira ou de outra”, sublinhou Fernando Curto. Como exemplo, o dirigente apontou a escolaridade mínima de ingresso nestes corpos, que no caso dos bombeiros sapadores está fixada no 12.º ano enquanto nos bombeiros municipais é exigido apenas o 9.º ano. Em termos de carreiras, os bombeiros profissionais podem ser sapadores ou municipais. Os primeiros operam em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal e Vila Nova de Gaia e os restantes em todas as capitais de distrito do País. “Se não sair o regime jurídico então avançamos mesmo para o tribunal, até porque é inconstitucional ter os mesmos funcionários tratados e avaliados de forma diferente”, rematou.
FICHA TÉCNICA: DIRECÇÃO Mário Zambujal EDIÇÃO Maria Assunção Oliveira (moliveira@jornalsenior.pt) REDACÇÃO Alexandra Peixinho Abreu (aabreu@jornalsenior.pt), Filipa Faustino Arenga (farenga@jornalsenior.pt) COLABORADORES Carla Rodrigues, Humberto Lopes, José Vegar, Leonor Xavier, Manuela Garcia, Marta Martins, Pedro de Freitas (Consultor Médico), Rui Tovar FOTOGRAFIA Rogério Martins (fotografia@jornalsenior.pt) ILUSTRAÇÃO António Pilar COLUNISTAS Alice Vieira, Leonor Xavier, Luís Filipe Pereira DIRECÇÃO CRIATIVA E DESIGN GRÁFICO Nelson Costa COORDENAÇÃO Helena Carvalho (hcarvalho@jornalsenior.pt) DIRECÇÃO COMERCIAL Ricardo Lamy (rlamy@jornalsenior.pt) PUBLICIDADE Mário Serra (mserra@jornalsenior.pt), David do Vale (dvale@jornalsenior.pt) MORADA Rua Duque de Palmela nº2, 2º Dto · 1250-098 Lisboa CONTACTOS Telefone: 00351 213301980 · Fax: 00351 213301986 · geral@ jornalsenior.pt · Apartado3801, EC Santa Marta · 1151-801 Lisboa PROJECTO EDITORIAL Begin Comunicação PROPRIEDADE ProsPerPagina - Edição de Livros e Publicações, Unipessoal, Lda IMPRESSÃO PROS – Promoções e Serviços Publicitários, Lda., Rua Duque de Palmela nº2, 2º Dto. · 1250-098 Lisboa DISTRIBUIÇÃO VASP - MLP - Quinta do Grajal - Venda Seca - 2739-511 Agualva Cacém Nº CONTRIBUINTE 510262988 Nº REGISTO ERC 126360 Nº DEPÓSITO LEGAL 358970/13 ISSN 2182-9233 PERIODICIDADE Quinzenal
06 JUNHO 2013 · JORNAL SÉNIOR
Desigualdades aumentaram na maioria dos países avançados As desigualdades de rendimentos aumentaram na grande maioria dos países avançados, defendeu a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que denuncia um aumento dos salários dos altos dirigentes e lucros de grandes empresas. Enquanto a economia mundial recupera lentamente da crise financeira, a maioria dos países emergentes e em desenvolvimento registam um aumento do emprego e uma redução das desigualdades dos rendimentos, contrariamente aos países de elevados rendimentos, indica o relatório anual da OIT sobre o trabalho no mundo. Ao contrário, as desigualdades de rendimentos aumentaram nas economias avançadas nos dois últimos anos, no contexto de um aumento do desemprego mundial, o qual deverá segundo a OIT passar de 200 milhões actualmente para 208 milhões em 2015. Ainda segundo o relatório, as desigualdades de receitas aumentaram entre 2010 e 2011 em 14 das 26 economias avançadas analisadas, nas quais se incluem a Dinamarca, Espanhas, França e Estados Unidos. Refere ainda que a remuneração dos quadros dirigentes subiu, de novo, em flecha em muitos países Negócio dos produtos naturais vale 200 milhões O mercado dos suplementos alimentares tem crescido nos últimos anos. De acordo com dados de 2010, este negócio já vale 200 milhões de euros e dá emprego a 10 mil portugueses, noticia o Diário de Notícias. Nos últimos 50 anos assistiu-se a um aumento de popularidade de alimentos ou produtos que com este selo e atraem cada vez mais portugueses. No entanto, apesar do crescente consumo não tem sido efectuado controlo de qualidade, admite o Ministério da Agricultura que tutela o sector. Actualmente, não é exigido à indústria a apresentação de provas da segurança alimentar, cabendo assim ao produtor a responsabilidade final. Os produtos são comercializados, sem receita médica em lojas de produtos naturais, ervanárias ou farmácias, apesar disso os suplementos não são tratados como medicamentos. São antes considerados géneros alimentícios. Por outro lado, a tendência de falta de controlo está a inverter-se e a União Europeia tem apertado as regras, especialmente no que respeita aos rótulos e às suas indicações terapêuticas. O objectivo é que os suplementos se distingam claramente de medicamentos. “Empresa” Facebook chega a Portugal O Facebook vai chegar a Portugal também ao nível empresarial. De acordo com o Diário Económico, o Facebook
SENIORES terá, pela primeira vez, uma operação no País, com uma equipa comercial residente, que será liderada por Paulo Barreto, ex-director da Google Portugal. O novo cargo do gestor será divulgado oficialmente este mês, a par das linhas gerais da estratégia da empresa para o mercado português. O Diário Económico adianta que esta escolha, assim como a contratação da Corpcom para fazer a comunicação da rede social em Portugal, reflecte a aposta do Facebook no mercado nacional, que se insere numa estratégia mais ampla de reforço da comunicação da rede social a nível global. O Facebook é uma plataforma de comunicação global que chega a mais de mil milhões de pessoas em todo o Mundo. Santarém acolhe 50ª Feira Nacional de Agricultura De 8 a 16 de Junho decorre, em Santarém, a Feira Nacional de Agricultura / Feira do Ribatejo, que celebra este ano a sua 50ª edição. Para além da mostra de agricultura, maquinaria e animais, em 2013 o certame inclui um programa comemorativo dos 50 anos. Na feira, os visitantes poderão ainda descobrir as novidades do turismo rural, provar vinhos e azeite, visitar uma nova área de exposição dedicada a plantas e flores de Verão e percorrer as muitas tasquinhas e restaurantes. A par destas iniciativas, existirá ainda uma vasta oferta de colóquios, seminários e workshops sobre ambiente, recursos energéticos, o futuro da agricultura, inovações tecnológicas, entre outras. Não vão faltar, por fim, as habituais actividades lúdicas, como provas equestres, exibições de campinos, largadas de touros, música popular e tradicional, concertos e outras animações. O ano passado, a feira foi visitada por 165 mil pessoas. Desafio da APEL Bertrand Chiado eleita livraria preferida de Lisboa Os lisboetas elegeram a sua livraria preferida da cidade de Lisboa. A Bertrand Chiado reuniu a preferência entre os cerca de 2500 participantes na votação online, conquistando o primeiro prémio. Pó dos Livros (2º prémio), Ler Devagar Lx Factory (3º prémio), Ferrin (4º prémio) e Leya na Barata (5º prémio) são as livrarias que também mereceram as escolhas dos lisboetas. O Prémio Melhor Catálogo é atribuído à Fnac Colombo, o Prémio Melhor Ambiente é conquistado pela Ler Devagar Lx Factory e o Prémio Melhor Atendimento é atribuído à Ler em Campo de Ourique. A Livraria Preferida foi uma acção lançada pela APEL, no decorrer do programa Ler em Todo o Lado, uma iniciativa conjunta da APEL e da Câmara Municipal de Lisboa - Bibliotecas Municipais de Lisboa no mês de Abril, com o objectivo de promover os hábitos de leitura junto de diversos públicos em diferentes locais e através das mais variadas acções.
500 MIL EUROS PARA APOIAR OS MAIS VELHOS. Um prémio para projectos que melhorem a qualidade de vida da 3ª idade. No âmbito da sua política de Responsabilidade Social, o BPI lança a 1ª edição do Prémio BPI Seniores que tem por finalidade apoiar financeiramente, através de donativos, projectos que promovam a melhoria da qualidade de vida e o envelhecimento activo de pessoas com idade superior a 65 anos. O Prémio BPI Seniores destina-se a todas as instituições sem fins lucrativos, com sede em Portugal, que apresentem um projecto contemplando um ou mais tipos de intervenção nas respostas sociais às pessoas com idade superior a 65 anos. O valor total dos donativos a atribuir é de € 500.000: um 1º prémio cujo montante pode ascender até € 200.000 e distinções até € 50.000 cada, para as restantes candidaturas seleccionadas.
Candidaturas até 15 de Junho. 800 22 33 44 (Todos os dias das 8h - 20h) www.bancobpi.pt /premiobpiseniores
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Comemorações oficiais do 10 de Junho começam domingo em Elvas As comemorações do Dia de Portugal voltam a ter início dia 09, num programa que além da cerimónia militar e sessão solene de dia 10 inclui uma sessão no cineteatro de Elvas e a inauguração de uma exposição. De acordo com notícia avançada pela Lusa, o arranque do programa oficial das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que este ano irão decorrer em Elvas, está marcado para as 10:30 de domingo, com a cerimónia militar do içar da bandeira e guarda de honra militar na Praça da República, de acordo com o programa divulgado pela Presidência da República. Depois, pelas 11:00, terá início a sessão solene de boas-vindas da Câmara Municipal de Elvas no cineteatro municipal, seguindo-se o descerramento da placa que assinala a inscrição de Elvas na lista do património mundial da UNESCO, que ficará colocada no Caste-
DR
Estado recebeu meio milhão de euros de recuperação mineira
palestras e workshops diversos. Mas informações através do 219 435 114.
A Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) distribuiu mais de meio milhão de euros de dividendos ao accionista único Estado, indica o mais recente relatório e contas daquela entidade, divulgado pela agência Lusa. Segundo o documento, os dividendos a entregar ao Estado, relativos ao exercício de 2012, ascendem a 570 mil euros e resultaram de um saldo liquido positivo de 900 mil euros, semelhante ao do ano anterior. A EDM detém a concessão pública da elaboração e condução de projectos de recuperação ambiental de zonas degradadas por antigas explorações mineiras abandonadas.
Workshop mostra quais os alimentos protectores contra o cancro
DR
Universidade Sénior da Portela procura professores voluntários A Portela Sábios, universidade sénior da Associação dos Moradores da Portela, situada na Portela de Sacavém (Lisboa), precisa de professores em regime de voluntariado. As áreas em que são necessários professores são: Direito, Alemão, Italiano e Filosofia. A Portela Sábios conta com cerca de 330 alunos em mais de 35 disciplinas, com professores em regime de voluntariado e todos com formação na área que leccionam, e desenvolve actividades diversas como passeios, visitas de estudo,
O Projeto Safira - Escolhas Informadas no Tratamento e Prevenção do Cancro vai mostrar “Como Fazer da Cozinha Uma Farmácia”, num workshop que decorre dia 9 e 10 de Junho, em Matosinhos, sobre os alimentos protectores contra a doença. Em declarações à agência Lusa, Gabriel Mateus, mentor do Projecto Safira, criado a partir da sua experiência como pai de uma criança com cancro, considerou que 30 a 40% de todos os cancros têm a alimentação como “origem do problema”. “Uma vez que o cancro está muito dependente de riscos externos que podem ser modificados, nomeadamente a alimentação, havia a necessidade de participarmos e contribuirmos com a divulgação deste conhecimento”, explicou. O workshop “Fazer da Cozinha uma Farmácia - O Papel da Alimentação na Prevenção do Cancro” será teórico-prático. No primeiro dia haverá uma exposição “exaustiva” sobre números e factos relacionados com a doença, como processos e mecanismos biológicos de vários tipos de cancro. “A parte teórica é bastante densa e será baseada em evidências e em recomendações oficiais de instituições públicas sobre tudo o que hoje se conhece sobre o assunto”, sublinhou. Governo quer apertar o cerco à exportação paralela de medicamentos O Governo vai apresentar uma proposta de lei para aumentar as coimas sobre a exportação paralela de medicamentos. Paulo Macedo, ministro da Saúde, em de-
clarações públicas, afirmou que as coimas em vigor “não são suficientemente dissuasoras”. O ministro reagia, desta forma, a um estudo da indústria farmacêutica que aponta a exportação paralela como uma das razões para as falhas de abastecimento de remédios nas farmácias portuguesas. “Não haverá contemplação na exportação de medicamentos quando os mesmos fazem falta aos portugueses”. Paulo Macedo não mencionou prazos para a apresentação da proposta de lei.
lo da cidade. À tarde, o Presidente da República irá deslocar-se ao Paiol de Nossa Senhora da Conceição, onde inaugura a exposição “Fortificação do Território - A Defesa e Segurança de Portugal nos séculos XVII a XIX”. Pelas 18:45, no museu de Arte Contemporânea de Elvas, irá decorrer a sessão de cumprimentos do corpo diplomático, seguindo-se um jantar oferecido pelo chefe de Estado, num hotel da cidade. Já no dia 10 de Junho, o primeiro ponto do programa será a habitual cerimónia militar, que este ano se irá realizar no Aqueduto da Amoreira. Às 12:00, no centro de negócios de Elvas, terá início a sessão solene comemorativa do 10 de Junho, que contará com intervenções do Presidente da República e do presidente do Conselho Económico e Social Silva Peneda, que este ano foi nomeado por Cavaco Silva para presidente da Comissão Organizadora do 10 de Junho.
de férias será oportunidade de viver uma “experiência cultural e gastronómica única”. Durante as duas semanas em que decorrer o programa, serão ministradas, nas respectivas escolas de hotelaria, no Algarve e Douro, acções de formação em inglês e português com chefes de cozinha portugueses. O programa inclui ainda visitas a lotas, mercados, caves ou salinas, para os participantes tomarem contacto com a diversidade dos produtos portugueses, que depois confeccionarão nas cozinhas das escolas.
DR
‘Taste Portugal’ traz férias com aulas de cozinha e visitas guiadas Passar as férias em Portugal irá agora permitir aos turistas nacionais e estrangeiros aprender a língua, ter aulas práticas de cozinha tradicional e conhecer o património do País. É este desafio do programa “Taste Portugal”, lançado pelo Turismo de Portugal. O programa, que custa mil euros, com alojamento, almoços, acções de formação e visitas guiadas, será desenvolvido nas escolas de hotelaria e turismo do Algarve, de 17 a 23 de Junho, e de Lamego, de 1 a 8 de Setembro. Em comunicado, o Turismo de Portugal refere que este pacote
Mudanças na Função Pública chegam ao Parlamento nas próximas semanas O secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino afirmou na passada terça-feira, 4 de Junho, que os diplomas que alteram o regime laboral na função pública devem dar entrada no Parlamento nas próximas semanas. “Os quatro diplomas deverão chegar ao Parlamento nas próximas semanas e o objectivo seria que os diplomas pudessem entrar em vigor no verão”, disse Hélder Rosalino, em conferência de imprensa no Ministério das Finanças, em Lisboa.
6 CORREIO
JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Este espaço é seu
DR
Caro leitor, este espaço é seu. Onde pode ver reflectidas as suas opiniões, críticas e sugestões. Faça-nos chegar, via correio electrónico, carta ou telefone, o seu parecer sobre o que lê aqui, o que gostava de ler e também - por que não? -, o que não gostou ou discorda. Pretendemos dar voz a todos os que nos acompanham quinzenalmente, levar a cada leitor informação útil e pertinente mas, sobretudo, tornarmo-nos num amigo que lhe fará companhia e o incentivará a viver melhor os melhores anos. Contacte-nos através do endereço electrónico geral@jornalsenior.pt ou por carta para o Apartado 3801, EC Santa Marta - 1151-801 Lisboa.
Ana Isabel Inácio Nunes
Jorge Ferreira, Coimbra
Neste momento sinto-me com 100 anos. Carrego o mundo às costas. Tenho um nó no estômago que só o chá que trago no termo me vai acalmar. Tudo porque gosto de cumprir horários. Sempre gostei. Ontem, às 10h15 da noite, já eu estava na cama, quase a dormir (sim, gosto de dormir cedo, vantagens de solteira sem filhos), quando me ligou a pedir para hoje de manhã ir com ele à oficina deixar o carro. Eu entro às 8h30m e pico o ponto. Ele disse que chegava às 8h15m e chegou quase às 8h30m. Do trabalho ninguém atende para avisar que chego mais tarde. Não sabia onde era a oficina. Andámos às voltas... Agora deixei o telemóvel no carro. Para já nem dizer que de manhã tive de ligar para o telemóvel (do telefone fixo) porque não encontrava o telemóvel. Tinha ficado dentro dos lençóis. (É o que dá fazer a cama à pressa). Dá para acreditar?! Chego finalmente ao gabinete e espreito os jornais do dia. Olha o Sénior! Deixa cá folhear isto antes que chegue o chefe. Ah, um texto da Alice! Deixa cá ver se consigo lê-lo antes que chegue a senhora marcada para as 9h30m. Nem tenho tempo de me sentar. A pressa é tanta que leio mesmo em pé. Que delícia! Já tinha saudades! É a sua cara! E de repente parece que o dia está agora a começar. E eu só tenho 20 anos. E nenhuma preocupação. Obrigada, Alice! Tenha um bom dia.
Quero endereçar os parabéns a toda a equipa que quinzenalmente faz chegar este jornal a todo o país (fazia-nos falta) e desejar as maiores felicidades. Se me for permitido gostaria de ver publicado este meu grito de revolta, que acredito seja o de muitos aposentados. Quando entrei para a Função Pública em Fevereiro de 1969, fi-lo com a espectativa de aos 55 anos de idade e 36 anos de serviço me poder aposentar com a reforma por inteiro, se assim o entendesse. A adolescência passei-a a trabalhar de dia e a estudar de noite. Em 2011 com 42 anos de descontos para a CGA, depois de sucessivos “desGovernos” terem desbaratado vários fundos de pensões (bancários, PSP, GNR, CGA, etc.) provocando por isso a tão falada falta de sustentabilidade da Segurança Social, decidi, antes que se agravasse ainda mais as “penas” sobre quem tantos descontos fez e com a espectativa traída, solicitar a reforma antecipada, mesmo com penalização. Foi-me concedida em Junho de 2012. Com a perspectiva de refazerem esses cálculos retroactivamente, será lógico que o “machado” cairá novamente sobre a minha “pobre” pensão. Tem, assim lógica que me devolvam o meu lugar na função pública, com a mesma categoria que eu tinha, pois as regras se mudam para uns têm que mudar para todos. Se mudarem, efectivamente os cálculos das pensões retroactivamente QUERO O MEU LUGAR DE VOLTA.
Há textos difíceis de começar. Este é um caso. Bloqueado por uns instantes, nem sei que adjectivo escolher: velhos, idosos, seniores... Mas há que não ter medo das palavras, e eu usarei neste texto, sem rebuços, a palavra velhos, mas com toda a força que ela tem. No sentido de já terem percorrido um longo caminho, com muitos obstáculos naturalmente, e terem
Hugo Lourença, 67 anos
António Pires
Após ver o Sénior na banca á venda foi amor á primeira vista. Tenho 67 anos, pensionista, e sou assíduo leitor de jornais, mas na realidade sentia uma lacuna que neste momento se desvaneceu. O melhor elogio que vos posso dar é que comecei a guardar o Sénior, e já vai no segundo exemplar. Parabéns e continuação.
Obrigado pelas Dicas do Dr. Pedro de Freitas. A página “Prazeres” do nosso Jornal Sénior é um Centro de Ajuda, que nos estimula à sua leitura, nos recorda a juventude e nos esclarece da nova juventude dos 60 e mais umas primaveras de luz e flores. Não compreendi e não aceito o novo acordo ortográfico, uma decisão de falta de respeito, pelos nossos autores, escritores e poetas e pelo nosso povo. Tão grande alteração só poderia ser sustentada com um referendo, assim não passou de uma patetice de mau gosto. A Língua Portuguesa é o nosso património é a nossa Pátria. Durante vários anos estudei latim, uma Língua Mater, com o seu conhecimento torna-se mais fácil entender e aprender o Francês, o Espanhol, o Italiano, o Romeno e o Provençal, ou seja, as línguas novi-latinas. Se tivesse existido um pouco de engenho ao administrar o ensino do latim no antigo liceu desde o 1º ciclo até ao 7º ano e continuar até aos nossos dias mesmo com as alterações do ensino, e mantendo esta disciplina, (apesar de ser considerada morta), os resultados seriam bem diferentes. Na gramática, a parte morfológica, a sintaxe, tradução, retroversão e as declinações. O conhecimento semântico das palavras na sua evolução, de certeza que o Património da Língua Portuguesa estava mais rico e consistente. Vamos aguardar pelos resultados dos próximos exames que se aproximam, certamente serão animadores. Bem-haja Dr. Pedro de Freitas.
DR
Maria Ventura Apesar de ainda não me considerar sénior, nos meus quase 61 anos, já frequento a Unisseixal. É com muito prazer que compro e leio o Sénior desde o primeiro momento. Aproveitando o artigo sobre os novos fornecedores de electricidade, gostaria de denunciar um caso que está a acontecer na margem sul. Andam pessoas, porta a porta em nome da EDP, para fazer a transição do contrato de fornecimento EDP Universal, para EDP Comercial, contactei a EDP para confirmação e foi-me dito não haver da parte da EDP qualquer empresa subcontratada para tal. Sabemos todos que os seniores são mais vulneráveis a este tipo de burlas. Seria bom o vosso jornal analisar e falar sobre o assunto na próxima edição. Muito obrigada, muito sucesso e bem hajam pela iniciativa.
DR
José Manuel Pina, Lisboa
chegado, e ainda bem que chegaram, a esse bonito estádio da vida. Um tempo em que já não se deve ter pressa, ter stresse, ter ansiedade, ter preocupações, ter esforços inúteis e desnecessários. Deve ser um tempo de calma, tranquilidade, mordomias, de ter o direito de fazer o que se quer e apetece, de ter o direito a exigir e a pedir responsabilidades aos outros, quer dizer, aos mais novos que eles. Eles é que são os superiores, os que mandam, os sábios, os que sabem. Os demais observam, escutam, reflectem e aprendem. Eu recordo-me do livro de Cícero, Diálogos sobe a velhice, que li há uns tempos, e que belas páginas de prosa e reflexão sobre a idade maior. Recomendo vivamente a sua leitura, a todos. E depois temos também a tradição ancestral e muito respeitada que nos chega de África, e de outros lugares longínquos, seguramente, onde os velhos, os anciãos, têm um lugar primordial e único, portanto inalienável, de guardiões dos mistérios da vida, da visão das coisas e do mundo, da inteligência, da experiência e, palavra de sentido maior, da sabedoria. E é exactamente dessa sabedoria dos mais velhos que todos, os mais novos, necessitamos com urgência. Uma sabedoria que nos leve a não seguirmos por determinados caminhos ou a incorrermos em determinados erros. A sabedoria dos mais velhos que é vital para iluminar o caminho daqueles que ainda estão verdes ou hesitantes no percurso a fazer. Uma sabedoria de experiência feita que pode avisar ou acautelar ímpetos e intenções. Os velhos, a par das crianças, são o grupo etário que mais me desperta a atenção e emoção, porquanto os mais vulneráveis, os mais atingidos, os mais indefesos, às vezes, muitas vezes, muito incapazes. Acho que lhes devemos toda a estima, todo o respeito, e devemos estar sempre dispostos e disponíveis, com toda a humildade do mundo, para os escutar. Eles podem sempre dar-nos grandes lições!
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Voluntariado: trabalho sem remuneração, sem obrigação e em prol de outros
Fazem porque querem e fazem a diferença
Todos os dias, milhares de voluntários oferecem o seu tempo em prol de outros, a troco de nada. Nada, a não ser um impacto positivo e muito real na vida de outras pessoas, nas suas comunidades e na sociedade em geral. Afinal, nada é muito – não é por acaso que altas taxas de voluntariado sejam uma marca dos países desenvolvidos europeus. Portugal está no fundo da lista, mas já são mais de um milhão os que trabalham sem retribuição em nome de uma sociedade para todos. E todos ganhamos com isso. Texto: Filipa Faustino Arenga
Mais de um milhão de pessoas; 368,2 milhões de horas de trabalho; 4% de todas as horas trabalhadas; um valor equivalente a 1% do produto nacional bruto: estes números impressionantes referem-se ao voluntariado em Portugal, em 2012, segundo um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística. Em média, cada português acima dos 15 anos dedicou 29 horas por mês a trabalho voluntário, ou seja, trabalho sem remuneração, sem obrigação e em prol de outros que não os elementos do seu agregado familiar, seja no contexto de organizações (formal) ou por iniciativa própria (informal). Ainda que os números globais pareçam animadores, Portugal está muito abaixo da média europeia: os 11,5% da população que se dedica ao trabalho voluntário é menos de metade da média europeia, que se situa nos 24% da população. Nestes resultados europeus, apurados por um eurobarómetro em 2011, parece, de resto, haver uma ligação entre o desenvolvimento socio-económico dos países e o trabalho voluntário das suas populações. Na Holanda, que lidera a lista dos 27 países da União Europeia, a percentagem da população que oferece trabalho voluntário está nos 57%, a que se seguem a Alemanha e a Dinamarca. Portugal situa-se em antepenúltimo, depois da Roménia e da Grécia e apenas seguido pela Bulgária e pela Polónia. No seguimento do Ano Europeu do Voluntariado, que se celebrou em 2011, foi elaborado um relatório com as directrizes propostas para a estimulação, facilitação, enquadramento legal e reconhecimento do trabalho voluntário na Europa. Neste documento são referidos os campos nos quais o trabalho voluntário acrescenta valor – para o indivíduo, para as comunidades e para a sociedade. No plano económico, o relatório aponta para a necessidade de haver ferramentas objectivas de análise do impacto deste trabalho, por forma a valorizá-lo, dar-lhe visibilidade, divulgá-lo e oferecer às organizações que o promovem as condições para desempenhar esse importante papel. O documento caracteriza o voluntariado enquanto actividade essencial ao desenvolvimento das socieda-
des, logo ao desenvolvimento económico, e destaca a empregabilidade adicional dos indivíduos que a ele se dedicam. Em Portugal, foi recentemente aprovado, em Conselho de Ministros, o Plano Nacional para o Voluntariado 2013-2015, assente na ideia de que o voluntariado é “essencial para uma participação e cidadania activas”. As 39 medidas constantes do plano têm por objectivo “o reconhecimento das actividades de voluntariado, a sensibilização dos cidadãos para a importância e valor do voluntariado e a necessidade de dar meios aos organizadores de actividades de voluntariado para melhorar a qualidade das mesmas, promovendo a criação de um ambiente propício ao exercício do voluntariado”. Em todo o país, são muitas as associações e outras organizações que contam com o trabalho voluntário para desenvolver as suas actividades, nas mais variadas áreas de intervenção: ambiente, pobreza, educação, saúde, exclusão social, desporto, animais, cultura, entre muitas outras. Em Portugal, nas diferentes faixas etárias, as taxas de trabalho voluntário situam-se entre os 11 e os 13%, à excepção dos cidadãos acima dos 65 anos, dos quais apenas 7,3% revelaram ter participado neste tipo de actividade. No entanto, para os idosos – mais experientes, com um grande capital social para partilhar – o voluntariado oferece vantagens adicionais, tais como a sensação de pertença, o sentimento de utilidade, o contacto social, o empoderamento cívico ou a manutenção da actividade física e intelectual. Em tempo de crise, em que os mais fracos e desprotegidos sentem ainda mais os efeitos das assimetrias sociais e económicas, este papel social assume ainda maior importância. A quem não sabe o que fazer para melhorar o mundo em vive, basta olhar em volta. Num contexto social e económico que valoriza, acima de tudo, os lucros materiais e a posição individual, os que olham e decidem agir, em vez de apenas reclamar ou até ignorar, podem ser chamados de heróis. Há lugar para todos, todas as aptidões, todas as capacidades, todas as vocações, todas as necessidades – como demonstram as histórias seguintes de seniores que assumiram esse compromisso.
O valor do voluntariado Para o indivíduo - Auto-estima, confiança, sentido de valor individual, sensação de pertença na sociedade; - Novas competências e desenvolvimento pessoal e profissional; - Desenvolvimento dos valores sociais e oportunidade de trabalhar em conjunto com outras pessoas; - Aumento da inclusão social; - Fortalecimento do papel cívico e impacto na sociedade; - Possibilidade de criar respostas sociais inovadoras para fazer face aos problemas da sua comunidade. Para as comunidades - Transformação das comunidades; - Solidariedade entre pessoas de diferentes idades, habilitações, estratos socio-económicos, etnias, etc...;
- Aumento da confiança, compreensão e respeito entre diferentes grupos; - Desenvolvimento de redes com o potencial de exercer pressão sobre as políticas e tomada de decisões; - Desenvolvimento de comunidades saudáveis – as fundações de um país próspero e justo. Para a sociedade - Contra-balanço à tendência social de valorização do dinheiro, dos mais ricos e dos ganhos económicos; - Produção de capital social, soluções inovadoras, coesão social, progresso, solidariedade; - Desenvolvimento de uma sociedade civil saudável, activa e participativa; - Reforço do trabalho conjunto em torno dos mesmos objectivos para o país e para o mundo.
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06 JUNHO 2013 · JORNAL SÉNIOR
“Eu queria fazer o que sempre quis fazer e nem sempre pude: ajudar os outros, ajudar é o que me faz sentir bem. A vida só tem sentido quando a gente olha para os outros, quando ajudamos os outros e não nos fechamos na nossa concha”. voluntariado multifacetado
Hermenegilda Cruz Pinto
“A vida só tem sentido quando a gente olha para os outros” Texto: Humberto Lopes Fotografia: Humberto Lopes
“Não consigo lembrar-me de alguém de quem eu não goste”. Talvez não haja muita gente que possa afirmar, de forma tão peremptória, uma tal disponibilidade para reconhecer no outro inquestionável nobreza ou condição digna da dádiva incondicional do voluntariado. A afirmação carreia também nas entrelinhas a humildade de quem se esquiva a julgar os demais e, ao mesmo tempo, num registo de modéstia, o reconhecimento de que o trabalho de voluntariado desenvolvido nos últimos dezoito anos, tantos quantos Hermenegilda Cruz Pinto tem de reforma, foi sempre um trabalho colectivo, e que todos os participantes, amigos ou não, repartem entre si mérito dos sucessos.
Hermenegilda Cruz Pinto (ou D. Gilda, como é carinhosamente tratada na Figueira da Foz), a caminho dos 79 anos, tem um percurso de vida exemplar, a que a opção pelo voluntariado, após a passagem à reforma, se vem juntar como peça de um puzzle incompleto. Mesmo durante os anos em que esteve no “activo”, na Conservatória do Registo Civil de Montemor-o-Velho e nas câmaras municipais de Montemor, Barreiro e Figueira da Foz, o seu espírito voluntarioso ultrapassava muitas vezes as meras atribuições profissionais. Estava sempre disponível para ajudar a resolver problemas burocráticos. “Se me iam pedir uma informação, eu não me limitava a encaminhar, agarrava no telefone e falava logo com quem pudesse resolver depressa a situação.” Com naturalidade, portanto, o mundo do voluntariado pareceu-lhe um caminho óbvio no momento da reforma.
A primeira iniciativa nessa nova fase da vida foi a criação de um espaço lúdico e formativo para crianças e gente sénior. Para além do preenchimento dos tempos livres das crianças, havia actividades de formação para pessoas que tinham, também, terminado a actividade profissional. Já nessa altura era um trabalho partilhado com outros voluntários. “Eu tinha muitas professoras conhecidas”. Houve experiências na vida profissional de Hermenegilda Pinto que se viriam a revelar seminais. “Enquanto fui funcionária da Câmara lidei muito com emigrantes e fazia-me sempre uma grande impressão o que eles contavam, o que eles passavam lá fora”. Mais tarde, ao observar as condições de vida e os obstáculos burocráticos enfrentados pelos imigrantes em Portugal, ficou sensibilizada para, sempre em colaboração com outras pessoas (“são tantos nomes que tenho medo de me esquecer de alguém”), ajudá-los a enfrentar as dificuldades. A língua era um dos primeiros entraves à integração desses estrangeiros, na maioria provenientes da Europa de Leste. Foram organizadas aulas em horário pós-laboral, com docentes voluntários. “Eu tinha muitas professoras conhecidas, todas elas foram de uma dedicação extraordinária”. O apoio passou também pela ajuda na obtenção de trabalho. Aí valeu-lhe a rede de relações sociais construída durante o tempo de actividade profissional. “Eu tinha sido chefe de contabilidade na Câmara e conhecia muita gente, donos de empresas, e consegui arranjar trabalho para alguns”. A família foi sempre um dos focos de acção de Hermenegilda Pinto, pelo que cedo se apercebeu de outro domínio em que os imigrantes precisavam de atenção. “Depois começaram a trazer as mulheres… Elas vinham e não conheciam ninguém, eu dava-lhes apoio no hospital para ter os bebés”. Um dos aspectos mais delicados para a vida dos imigrantes em Portugal (a par da questão da equivalência de diplomas académicos, que foi também objecto de atenção) era o da legalização. “Entrar nos serviços de estrangeiros não era fácil, mas conseguíamos ultrapassar as burocracias”. Tal como para resolver outros
problemas, valia a determinação e assertividade: “A gente telefonava e dizíamos que tínhamos um grupo e que íamos lá ter uma reunião com eles…”. O conceito de integração subentendia um amplo espectro de actividades que favorecessem o mais possível a percepção da realidade portuguesa. “Começámos a fazer passeios com eles, a Fátima, ao Mosteiro da Batalha, etc. Eram muito atentos e interessados em tudo o que era arte e história”. Da Associação Viver em Alegria à Universidade Sénior da Figueira da Foz No contexto dessas actividades emergiu a ideia de uma estrutura mais estável e com outro nível de organização. Apareceu, assim, a Associação Viver em Alegria, que Hermenegilda Pinto ajudou a fundar. “Começámos a sentir a necessidade de transformar aquilo numa associação, porque assim podíamos beneficiar de outras ajudas, que não tínhamos”. O apoio a um grupo social particular como o dos imigrantes inseria-se no objectivo genérico de realizar acções de solidariedade social, abrangendo actividades de “protecção da infância, família, comunidade, população activa e idosos”. O apoio à maternidade e à paternidade responsáveis, e a promoção de cuidados materno-infantis são outros dos objectivos que mobilizam os voluntários da associação, e para os reforçar foi fundado o Centro de Apoio à Vida Drª Natércia Crisanto (figura central na dinamização destas actividades na comunidade), um serviço vocacionado para o atendimento e acompanhamento a mulheres grávidas oriundas de famílias carenciadas e em situação de vulnerabilidade emocional e social. As componentes de formação e de ocupação do tempo dirigidas a gente de mais idade acabaram por evoluir no sentido da constituição da Universidade Sénior da Figueira da Foz, frequentada hoje por várias dezenas de alunos, entre os quais Hermenegilda Pinto. Apesar de se declarar “feliz por tudo quanto fiz”, nem tudo são rosas na sua opinião. “Não me revejo muito neste mundo; antigamente havia mais solidariedade familiar, as pessoas juntavam-se mais e apoiavam-se”. Por essa razão considera muito útil este tipo de iniciativas, sobretudo na medida em que quando falham os mecanismos da coesão familiar e da solidariedade institucionalizada, estão criadas condições para que o voluntariado acabe por se tornar numa necessidade, senão mesmo numa urgência.
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
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Margarida Fernandes, voluntária da Liga Portuguesa Contra o Cancro
Fazem-me desenhos, escrevem... Quando partem, até ao portão do IPO mantenho a postura de voluntária, mas depois dos portões, fico lavada em lágrimas
“Recebo muito mais do que dou”
Texto: Filipa Faustino Arenga Fotografia: Rogério Martins
No Instituto Português de Oncologia de Lisboa, trabalham diariamente 90 voluntários. Ao todo são 340, distribuídos pelas mais variadas áreas de apoio, conforme necessidades, vocação e aptidão. O voluntariado no IPO é gerido e organizado pela Liga Portuguesa Contra o Cancro. Por semana, são 1436 horas oferecidas pelos voluntários, “essenciais, não ao funcionamento do hospital, mas à humanização dos serviços. É essa a nossa função”, diz Margarida Fernandes, voluntária no serviço de Pediatria do IPO. Margarida é voluntária desde 2008, ano em que se reformou de uma carreira atarefada ligada à educação que não lhe permitia outras actividades. “Quando me reformei, pensei logo em fazer isto, porque já o queria fazer há muito tempo mas não tinha como. Em 1980, estive internada no IPO. Desde essa altura que sabia que queria vir para aqui e para a pediatria.” Nem todos têm o que é preciso Os voluntários do serviço de pediatria apoiam as crianças e os pais numa das piores fases das suas vidas. Não há férias. São três turnos de três horas, todos os dias, mas muitas vezes prolonga-se até ser necessário. Apoiam nos almoços e jantares, fazem companhia, brincam e dão suporte emocional aos pais. Para além disto, alguns voluntários cumprem um importante trabalho de retaguarda, seleccionando, arrumando e lavando brinquedos, bem como seleccionando e arrumando roupas para as crianças e familiares. O IPO destina-se a pessoas que sofrem de cancro. Pela simples natureza da situação, é fácil compreender que nem todos,
mesmo os que têm vontade de ajudar, conseguem lidar com a situação, a vários níveis. Margarida explica que, por isso, os candidatos a voluntários no IPO “são sujeitos a um rígido processo de selecção e formação”. Antes de mais, os interessados devem inscrever-se junto da Liga. Depois, vão a uma entrevista, na qual já é feita uma pré-selecção de que resultam os chamados estagiários, que passarão depois por três serviços diferentes ao longo de sete meses, que terminam com uma avaliação de cada um dos formadores dos serviços. Os que revelam ter o que é preciso são colocados nos serviços que necessitem ou nos que mais gostaram. “Temos de ter essa preparação e sensibilidade. O voluntário tem de saber o que fazer e o que não fazer.” O que não fazer inclui, por exemplo, “perguntar aos pais que tipo de cancro os filhos têm. Só sabemos os que os pais nos contam ou os enfermeiros comentam, mas é indiferente, todos têm o mesmo.” O serviço de Pediatria do IPO acolhe crianças dos 0 aos 16 anos: um universo vasto de linguagens, reacções e níveis de compreensão. Também isto tem de ser assimilado pelos voluntários. “Claro que brincamos com os bebés, mas até aos dois, três anos, é mais necessário o acompanhamento psicológico aos pais.” O peso da doença não é só física, é também emocional, e não apenas para os doentes. “É uma doença que, quando ocorre nas crianças, cria uma grande destruturação familiar. Se é filho único, há uma grande culpabilidade, todos os pais se sentem muito culpados. Os que têm mais filhos sentem culpa de não poder acompanhar os outros que têm em casa, muitas vezes longe daqui. Isto provoca muitas separações, é uma situação muito pesada. Às vezes digo aos pais: vão namorar, vão beber um café, passem um bocadinho, juntos.” O IPO de Lisboa
acompanha crianças de todo o Sul, Madeira, Açores e ainda países africanos de língua oficial portuguesa. “Um voluntário só pode ouvir” Trabalhar diariamente com crianças que padecem de uma doença que termina vezes demais em morte não é fácil, mas Margarida sente que faz o que tem de ser feito, mesmo quando é difícil. “Conhecemos as crianças todas, fazemos festas de anos, tentamos minimizar ao máximo o sofrimento delas, mas às vezes não é possível...” Quando confrontada com a questão de como lida com as perdas e o sofrimento das crianças, Margarida fala devagar e baixinho, cada frase claramente repleta de significados e memórias, boas e más. Mas não fala em morte, usa sempre o verbo “partir”. “Ver partir aquelas crianças é uma dor enorme. E há aqueles com quem criamos uma ligação especial. Aliás, são as crianças que nos escolhem, criam uma empatia especial com um voluntário ou outro. Fazem-me desenhos, escrevem coisas, uma vez um colocou uma fotografia minha na mesa-de-cabeceira. Quando esses partem, até ao portão do IPO mantenho a postura de voluntária do IPO, mas depois dos portões, fico lavada em lágrimas.” No entanto, reforça: “Mas até ao portão do IPO sou voluntária e como tal não posso demonstrar as minhas emoções.” Também é algo que se treina na formação e para o qual os voluntários têm de ter atenção. Tal como a absoluta confidencialidade de tudo o que vêm e ouvem. “Um voluntário só pode ouvir”, sublinha Margarida. “A nossa função é ouvir, não comentar nem dizer disparates como ‘está tudo bem’. Não somos tontos nem fazemos dos pais tontos. Conversar, estar disponível, ouvir todos os seus problemas – porque naquelas alturas tudo sai.
Nós só podemos tentar pegar em alguma coisa e a partir daí distraí-los e mudar a conversa. Ouvimos coisas terríveis.” Apesar de tudo isto, nunca pensou em deixar de ser voluntária no serviço de Pediatria do IPO. “Dá-me muito. É uma grande paixão. Não é só saber que estou a fazer algo de útil, porque o voluntariado é isso, mas não é só isso que sinto. Sinto que é o que recebo, não é o que dou. Recebo muito mais do que dou”, afiança. Com o seu empenho, Margarida acabou por tornar-se também coordenadora dos voluntários da região Sul da Liga e o trabalho de gestão, confessa, “às vezes, deixa-me muito irritada. Mas quando entro para a pediatria saio de lá com um sorriso. É uma paz. Parece um contra-senso, mas é real. Ali estou com as crianças, dou-lhes de comer, faço palhaçadas, eles abraçam-me, dão-me beijinhos, ou então fico a falar com os pais. Se falto à pediatria fico doente, até porque sei que as crianças estão à minha espera. Mas tento sempre passar lá e dou-lhes uns beijinhos.” IPO integra vários serviços de voluntariado São muitos os serviços no IPO proporcionados por voluntários, muitos deles funcionando todo o ano, sem interrupções. Logo à entrada, as guias, que acolhem os doentes e familiares por todo o espaço hospitalar. Também o serviço de acolhimento dá apoio aos doentes em consulta e tratamentos e apoia nas refeições e visitas. O serviço de biblioteca distribui livros e jornais. No serviço de cabeleireiro, as voluntárias, muitas delas cabeleireiras profissionais, lavam, cortam e rapam os cabelos dos doentes e, além disso, ajudam a escolher e ensinam a utilizar os lenços e as próteses capilares vendidos a preço inferior ao de mercado. Ainda há o cantinho, que funciona como espaço de convívio, onde são oferecidas bebidas quentes e bolachas. No serviço de costura, as voluntárias confeccionam próteses mamárias provisórias para as doentes mastectomizadas e ainda fazem xailes de lã para oferecer às doentes que passam o Natal internadas. Também há o serviço de flores, que coloca à cabeceira dos doentes um cravo. O serviço de visita, como o nome indica, faz visitas aos doentes, em especial aos que não têm as têm. Existem também os visitadores, um grupo de voluntários, constituído apenas por homens, que visitam e apoiam os doentes a quem foi retirada a laringe.
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06 JUNHO 2013 · JORNAL SÉNIOR
Celestino Nélson
O senhor dos recados
Não dirige nem representa instituições de solidariedade social e não se enquadra no conceito clássico de voluntário. Não abraça causas contra a exclusão, a pobreza, o preconceito ou a violência dentro de portas. Mas melhora a vida dos idosos num dos bairros mais típicos de Lisboa. Texto: Carla Rodrigues Fotografia: Rogério Martins
Ninguém como ele sobe e desce tantas vezes as ruas do Bairro Alto, em Lisboa. Manhã cedo, aí pelas sete, levanta-se e pouco depois já está a calcorrear a calçada da Rua da Rosa, onde vive há anos num quarto alugado. Por onde passa vai olhando para cima, a ver se alguma vizinha precisa dele. A frase de ordem costuma ser: “Ó Nélson, chega aqui”. Ontem fartou-se de fazer recados para três idosas. Uma pediu-lhe que fosse à padaria buscar pão, outra que fosse à mercearia comprar os legumes para a sopa que ia fazer ao almoço e a terceira que fosse pagar a conta da água. Coisas simples que facilitam o dia-a-dia de quem já não tem boas pernas para andar ou para enfrentar os lanços de escadas, por poucos que sejam, que separam a porta da rua da de casa. E a troco de quê? De nada. Celestino Nélson - é assim que gosta que lhe chamem, embora todos o tratem por Nélson – oferece o seu tempo porque faz-lhe impressão saber que perto de si “há pessoas que moram sozinhas e não têm quem as socorra”. De resto, acrescenta, procurando desvalorizar o que faz pelos vizinhos, “não tenho mais nada que fazer, tenho todo o tempo do mundo e faço com ele o que bem me apetecer. Se for a dar a mão aos mais necessitados, tanto melhor. Não me cai nada ao chão por isso”. Também faz compras para os restaurantes e bares É de manhã que Nélson trata dos assuntos dos outros e sem sequer precisar de sair do bairro. Todos os recados são feitos aqui perto - a mercearia, a padaria, a frutaria, o talho. Só o pagamento da água, luz e telefone é que exige deslocações maiores: “Vou ali abaixo aos Restauradores, à Loja do Cidadão, quando ainda está dentro do prazo limite de pagamento. Quando está fora, então aí tenho que ir mesmo à EDP e assim”. E os recados não são só para “as senhoras velhinhas do bairro”. Também faz compras para os restaurantes, bares e outros estabelecimentos co-
merciais. “Desço à Bica e sigo directo para o Mercado da Ribeira. Adoro lá ir pá. Os produtos ali expostos, tudo fresquinho, até apetece comer. É lá que compro tudo o que me pedem. Não pode é ser muita quantidade, porque só tenho duas mãos”. Vai a pé mas, se vem com as mãos carregadas de sacos, regressa de autocarro. Um dos bares que recorre aos préstimos de Nélson é o Maria Caxuxa. Não há dia que Nélson, por volta das seis da tarde, hora a que o Maria Caxuxa abre, não apareça à porta a perguntar se precisam que vá até ao mercado. E são raras as vezes que prescindem dos seus serviços. Diz um empregado: “Geralmente pedimos-lhe que traga as coisas de consumo diário aqui no bar, como pão e fruta. Não servimos refeições, apenas bebidas. O pão é para os clientes comerem torrado. As frutas são para colocar nos cocktails, nas caipirinhas, nas sangrias.” De alguns restaurantes, Nélson recebe “pequenas compensações, um almocito ou um jantarito de vez em quando, ou então uma cervejita”: “Se me dão, não recuso”. Quem, como ele, recebe uma reforma de 365 euros, não pode de facto recusar uma refeição.
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A frase de ordem costuma ser: “Ó Nélson, chega aqui”. Ontem fartou-se de fazer recados para três idosas
Só à tarde é que me dedico ao lazer Das idosas que vivem sós e com pensões ainda mais baixas que a dele, não aceita nada. A maneira desprendida com que fala da ajuda que lhes presta, dá ares de que não tem consciência do bem que faz por elas. “Não é nada de especial. Não me custa nada desenrascar as pessoas. Não tenho mais nada que fazer.” Até tem: falar do Benfica, uma das suas maiores paixões, com os amigos no café do Lisboa Clube Rio de Janeiro, onde costuma parar depois do almoço. Nélson não usa telefone, mas se alguém o quiser contactar basta aparecer durante a tarde neste clube da Rua da Atalaia que o mais certo é encontrá-lo. “As obrigações, faço-as de manhã. De manhã despacho tudo. Os recados, quero eu dizer. Só à tarde é que me dedico ao lazer. Venho para aqui, para o clube, bebo uma imperialzita, converso, dou as cartas. Isto tem tardes animadas, sabe? Passo aqui bons bocados. Quando
joga o Benfica então... ó pá, é uma festa!. Celestino Nélson é daquelas figuras que marcam. Toda a gente que vive, trabalha ou frequenta o Bairro Alto o conhece. Não só por causa dos recados, que começou a fazer quando se reformou, em 1997 – “trabalhei muitos anos numa agência de publicidade, onde também andava aos recados, e depois arranjei emprego numa livraria, onde era ajudante de motorista” - mas, sobretudo, por causa das marchas populares, outra das suas grandes paixões: “Fui durante muitos anos o porta-estandarte, mas agora deixei-me disso. É preciso dar a vez aos mais novos”. Já lá vai o tempo em que de Maio a Junho Nélson ensaiava todos os dias das quatro da tarde às nove da noite, sem interrupções, na sala que existe para esse fim no
Clube Rio de Janeiro. Sabia tudo de cor e salteado, as letras das canções e os passos de dança, mesmo assim não arredava pé enquanto o ensaio não acabasse: “Eu adorava aquilo, pá. Ó se adorava. Mas o meu tempo já passou. Foram mais de 40 anos nisso. Já chega”. Olha para a rua, pela janela do clube, e atira: “Ainda não fizemos as decorações para o Santo António. Mas se vier cá no próximo fim-de-semana, vai estar tudo mais animado e colorido. O bairro fica muito bonito em Junho.” Bonito, cheio de folia e a cheirar a sardinha assada. Olha para o relógio. São quase seis. Está na hora de dar outro giro. Acaba a cerveja num golo e sai para a rua, cigarro apagado no canto da boca. Desce a rua da Atalaia e desaparece na primeira curva.
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
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Os seniores têm vindo a ser objecto de uma ofensa mesquinha, discriminatória e portanto ilegal
CIDSENIOR – Movimento para a Cidadania Sénior
“É preciso defender os seniores” Constituído formalmente a 5 de Junho de 2013, o Movimento para a Cidadania Sénior foi criado com o objectivo de proteger o cidadão sénior contra a “discriminação de que é actualmente alvo”. Alberto Regueira, presidente do CIDSENIOR e fundador da DECO é o rosto desta iniciativa. Texto: Alexandra Peixinho Abreu Fotografia: Rogério Martins
Alberto Regueira tem 75 anos de idade. Diz com orgulho que tem uma vida cheia de trabalho, de projectos que o motivaram. Fundador e vice-presidente da DECO (sócio número 2), foi Presidente da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, e teve uma vida na função pública. Diz também que tem uma longa carreira contributiva de 47,5 anos, iniciada em Novembro de 1961 e concluída em Abril de 2009. O CIDSENIOR – Movimento para a Cidadania Sénior é o seu
novo projecto, que começa a germinar na sua cabeça nos finais do ano passado. “Comecei a perceber, através de um conjunto de intervenções de várias fontes, nomeadamente por parte do Governo, que se estava a tentar denegrir, a minimizar, a diminuir os seniores portugueses. Quase como se de uma “peste grisalha” se tratasse. Os seniores têm vindo a ser objecto de uma ofensa mesquinha, discriminatória e portanto ilegal, com vista a reduzir drasticamente os seus rendimentos e condições de vida”, reforça Alberto Regueira. E não está sozinho nesta percepção. Da comissão insta-
ladora do CIDSENIOR , que ontem foi constituído formalmente, fazem parte José Augusto de Alarcão Troni, antigo advogado consultor do Banco de Portugal, ex-presidente dos CTT, ex-presidente da INATEL, secretário de estado da educação e do ensino superior (1987 – 1992); Maria Alexandra Costa Gomes; Tenente-General José Garcia Leandro; Embaixador José Rosa Lã e Jorge Morgado, secretário-geral da DECO. São seis a que já se juntaram 120 sócios, todos considerados seniores, claro. Para estes cidadãos, os seniores portugueses não estão a ser tratados com o respeito que mere-
cem. “Os seniores constituem, na nossa e em qualquer outra sociedade, um repositório de saberes e competências que ninguém consciente pode minimizar e muito menos rejeitar”, afirma. São, na sua maioria, a “guardaria” afectiva dos muito jovens (netos, entenda-se), são muitas vezes o garante de muitas Organizações Não Governamentais pelo apoio activo que prestam em regime de voluntariado. Além de que “muitos dos cidadãos seniores mantêm-se activos e profícuos nos mais variados campos da ciência e da cultura e da actividade económica”. Por isso vão ser criados grupos de trabalho que possam debruçar-se sobre os mais variados temas que dizem respeito a esta franja da população: questões relacionadas com economia, legislação e saúde, para já, contando para cada uma delas com membros com formação especializada nestas áreas. O objectivo deste movimento é ganhar a força necessária para que os direitos fundamentais dos seniores sejam cumpridos. DECLARAÇÃO DE PRINCIPIOS Na apresentação pública do CIDSENIOR, que teve lugar ontem – 5 de Junho – no Palácio da Independência em Lisboa, foram entregues dois documentos: Declaração de Princípios e os Estatutos do movimento, que a organização acredita serem relevantes para que a população sénior se reveja no seu conteúdo e se “junte a este movimento pelo combate pela defesa da dignidade da cidadania sénior e também pelo que ainda podem dar ao seu país, em nome do interesse nacional”. Na Declaração de Princípios dá-se particular relevo à “redução drástica dos rendimentos e condições de vida” que Alberto Regueira considera ser “uma ofensa mesquinha e discriminatória aos seniores portugueses”. De onde se pode destacar que “as pensões de que vinham
a desfrutar resultavam de longas carreiras contributivas, enquanto mantiveram o exercício de funções profissionais, quer no sector público, quer no sector privado. O princípio geral era o de o salário ser objecto de um desconto específico para financiar a futura pensão, e que o montante desta dependeria do número de anos de exercício profissional, bem como da remuneração salarial recebida, esta dependente do grau de exigência da função desempenhada. Na intenção, que tudo sobreleva, de cortar na despesa pública, os seniores têm sido objecto de reduções drásticas do seu rendimento anual, pelo confisco e absorção pelo IRS dos chamados “subsídios de Natal e de férias” e pelo agravamento tributário (incluindo redução de pensões, novos escalões de tributação do rendimento, restrição drástica de benefícios fiscais), tudo em paralelo com o que acontece aos demais rendimentos do trabalho da população activa. Aí as razões de queixa só são dissemelhantes das da população de outras faixas etárias na medida em que o seu definitivo afastamento do mercado de trabalho os torna particularmente vulneráveis à diminuição de rendimentos que lhes é imposto. Esta ofensiva é resistível e torna-se, pois, indispensável levantar a luva que sem pejo foi atirada à face dos seniores”. PRÓXIMOS PASSOS Até ao final do mês de Junho é objectivo do CIDSENIOR organizar uma mega conferência onde sejam discutidas questões tão prementes para vida dos reformados como sejam os cortes nas pensões, a tão falada “contribuição extraordinária de solidariedade” e outras medidas que têm vindo a ser anunciadas pelo Governo. Questões relacionadas com a Caixa Geral de Aposentações e a sua convergência para o regime geral da Segurança Social não serão esquecidos. Neste encontro, que marcará o início da agenda do Movimento para a Cidadania Sénior está prevista a realização de uma mesa redonda de onde sairá a “base” da actuação do CIDSENIOR e que dará origem à elaboração do caderno de encargos. A associação a outros movimentos seniores não está excluída, desde que “caminhem para um objectivo comum”, frisou Alberto Regueira.
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14 CONTAS À VIDA
JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
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TARIFAS SOCIAIS
Quem pode ter desconto na luz e no gás? A entrada no mercado liberalizado de electricidade e de gás tem provocado um aumento significativo nas contas da luz e do gás. No sentido de salvaguardar os consumidores considerados “economicamente vulneráveis”, o Governo criou mecanismos de protecção aos mais necessitados. Saiba se tem direito às tarifas sociais e como pode apresentar o seu pedido. Texto: Alexandra Peixinho Abreu Fotografia: Rogério Martins
Com o fim do mercado regulado de electricidade e gás, no final do ano passado e que implica a extinção gradual das tarifas reguladas para todos os clientes, as facturas da luz e do gás têm sofrido aumentos significativos. Na última edição do Jornal Sénior explicámos que estes aumentos se devem, sobretudo, às tarifas transitórias com preços agravados que servem para incentivar a mudança para o mercado livre de electricidade e de gás. Tarifas, essas, que são fixadas pela ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos – e que sofrem alterações a cada três meses. Esta mudança no mercado da electricidade e também do gás levou o Governo a considerar fundamental proteger os
consumidores “economicamente vulneráveis”, para os quais criou três mecanismos específicos de protecção. A saber: a Tarifa Social de Electricidade, a Tarifa Social de Gás Natural e o Apoio Social Extraordinário ao Consumidor de Energia (ASECE). O Apoio Social de Electricidade ao Consumidor de Energia e a Tarifa Social de Electricidade e do Gás Natural são apoios que têm como objectivo permitir às famílias reduzirem as suas despesas e equivalem a um desconto nas facturas, fixado pelo Governo, ficando por isso libertas das tarifas transitórias aplicadas pela ERSE. São medidas inseridas na linha de actuação prevista no Programa de Emergência Social e pretendem garantir aos consumidores o acesso ao serviço essencial de fornecimento de electricidade e gás natural, nomeadamente, assegurando preços compatíveis com a
sua situação sócio-económica. “Estes três apoios sociais são cumulativos e garantem, no âmbito do processo de liberalização dos mercados da electricidade e do gás natural, o acesso dos consumidores economicamente vulneráveis a estes bens essenciais”, refere a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos. Quer isto dizer que o mesmo consumidor pode beneficiar dos três apoios ao mesmo tempo. COMO SOLICITAR A APLICAÇÃO DAS TARIFAS SOCIAIS? Se já é um cliente abrangido pelo regime de tarifa social, então está automaticamente abrangido pelo ASECE sem que nada tenha que fazer para validar o acesso ao apoio extraordinário. Se ainda não é o seu caso pode fazê-lo directamente junto do seu comercializador
de electricidade e gás natural. São os próprios comercializadores que, a seu pedido, verificam junto das instituições de Segurança Social competentes se já é beneficiário de alguma das prestações sociais previstas na lei que possibilitam a aplicação do ASECE. Para poder usufruir deste apoio social precisa de ser beneficiário de uma destas prestações sociais: rendimento social de inserção; subsídio social de desemprego; 1.º escalão do abono de família ou pensão social de invalidez. A manutenção e aplicação do Apoio Social Extraordinário ao Consumidor de Energia são verificadas e confirmadas anualmente pelos próprios comercializadores junto da Segurança Social. A actualização desta informação é feita automaticamente sem haver necessidade de intervenção por parte dos clientes. Os comercializadores de luz e gás são
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obrigados a prestar esclarecimento sobre as tarifas sociais e sobre a aplicação do ASECE, pelo que deve contactá-los e dar início ao seu processo. O ASECE é calculado mediante a aplicação de um desconto em percentagem nas facturas da luz e gás natural aos clientes finais que foi fixado pelo Governo em 13,8%. GOVERNO LANÇA CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO O Governo anunciou recentemente que vai lançar uma campanha cujo objectivo passa por reforçar o conhecimento público da existência das tarifas sociais de luz e gás e promover a divulgação dos mecanismos de salvaguarda e apoio, tendo em vista a sensibilização dos clientes economicamente vulneráveis. Para tal os ministérios da Economia e da Solidariedade Social assinaram já um protocolo que também envolve a Direcção-Geral da Energia e o Instituto da Segurança Social para que a mensagem seja do conhecimento de todos os que podem vir a usufruir destes apoios sociais. Segundo o secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, um levantamento efectuado pelo Governo levou à conclusão que “o sistema não é burocrático e não é difícil”, tratando-se de uma questão de falta de informação sobre as tarifas sociais. Artur Trindade disse que “existem cerca de 90 mil clientes de tarifa social de energia quando o Governo estimava cerca de 600 mil numa primeira fase e revisto para 300 mil numa segunda fase”. Para o governante é necessário que a população mais vulnerável saiba que o apoio social à tarifa pode atingir um desconto superior a 20%, mediante a avaliação de cada caso. As tarifas sociais, que se destinam a clientes de electricidade e gás natural em situação de carência socioeconómica, têm que ser requerida ao comercializador de electricidade (EDP Universal e Galp), que comprova a situação junto da Segurança Social. Além de um desconto na factura de electricidade, a tarifa social protege os consumidores dos aumentos do preço da electricidade que, neste caso, são inferiores e fixados anualmente pelo Governo, em vez de três em três meses como são as tarifas transitórias aplicadas pela ERSE. E QUEM NÃO TEM DIREITO A TARIFAS SOCIAIS? Neste caso o melhor mesmo é mudar o quanto antes para o mercado liberalizado de electricidade e de gás. Pois como já referimos na edição anterior, o aumento que se tem verificado nas facturas, desde o início do ano, devem-se em grande parte às taxas transitórias agravadas que servem para incentivar a mudança do regulado para o liberalizado. E como deve fazê-lo? Na mudança
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para o mercado liberalizado, os consumidores devem começar pela pesquisa dos fornecedores existentes, as tarifas que propõem e as condições. De seguida, comparar as diferentes propostas. Após a escolha do fornecedor, é importante obter informações sobre as condições do contrato. Convém dar particular atenção à existência de um período de fidelização e eventuais penalizações caso desista antes do final do prazo estabelecido. Para efectivar a contratação, basta seguir as instruções dadas pelo fornecedor eleito. Este tratará da passagem de uma empresa para outra, sem prejudicar o consumidor, já que não pode ocorrer a suspensão do serviço. Após a celebração do contrato, o mesmo é submetido
a uma validação pela entidade que gere o processo de mudança. Trata-se de um processo rápido que visa verificar dados técnicos e comerciais referentes ao local de fornecimento. Assim que o processo for validado, o novo fornecedor envia uma carta ao cliente a informar o dia a partir do qual o serviço fica activo. Envia, também, as condições do contrato. Se o contrato for celebrado à distância, tem, a partir desse momento, 14 dias para cancelá-lo caso, por exemplo, encontre uma oferta ainda melhor. Se a carta do novo comercializador não aparecer, convém contactá-lo e perguntar qual a data de início de contrato. Resta confirmar a mudança nas facturas e se não houve sobreposição de datas.
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ASECE e Tarifas Sociais
Fonte ERSE
QUEM PODE PEDIR A APLICAÇÃO DAS TARIFAS SOCIAIS? A tarifa social é aplicável aos clientes de electricidade e gás natural que se encontrem numa situação de carência sócio-económica, comprovada pelo sistema de Segurança Social. Estes clientes devem ser beneficiários de uma das seguintes prestações sociais: - Complemento solidário para idosos - Rendimento social de inserção - Subsídio social de desemprego - 1.º escalão do abono de família - Pensão social de invalidez
Exemplo Electricidade
Exemplo Gás
Consumidor médio no conjunto de clientes com potência contratada da 3,45kVA
Consumidor médio no conjunto de clientes com consumo anual até 500m3
Para efeitos de aplicação das tarifas sociais, devem ainda estar reunidas as seguintes condições:
Valor médio da fatura sem tarifa social e sem ASECE (IVA a 6%): 25,43 € por mês (305,16 €/ano)
- Ser titular de contrato de fornecimento de electricidade
Valor médio da fatura sem tarifa social e sem ASECE (IVA a 6%): 25,44 € por mês (305,28 €/ano) Valor médio da fatura sem tarifa social e sem ASECE (IVA a 23%): 29,52 € por mês (354,24 €/ano) Valor médio da fatura com tarifa social e sem ASECE (IVA a 23%): 28,79 € por mês (345,53 €/ano) Valor médio da fatura com tarifa social e com ASECE (IVA a 23%): 24,81 €
Valor médio da fatura sem tarifa social e sem ASECE (IVA a 23%): 29,51 € por mês (354,12 €/ano) Valor médio da fatura com tarifa social e sem ASECE (IVA a 23%): 26,54 € por mês (318,48 €/ano) Valor médio da fatura com tarifa social e com ASECE (IVA a 23%): 22,88 € por mês (274,56 €/ano)
- O consumo de electricidade destinar-se exclusivamente a uso doméstico, em habitação permanente - A instalação ser alimentada em baixa tensão, com uma potência contratada que não ultrapasse 4,6kVA - A instalação de gás natural deve ser alimentada em baixa pressão com um consumo anual inferior ou igual a 500m3
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Faculdade em 1967, aqui fiquei, aqui me formei e casei. A greve académica de 1969 foi o meu primeiro despertar para uma atitude mais participativa. Fiz greve com a oposição da família, que era muito tradicional, religiosa e conservadora, estávamos no tempo do fascismo, o meu pai estava sempre a dizer: “não assines, não vás, não participes.” JS - Como se deu a mudança de casa dos pais para a Faculdade? Lembra-se de algum momento que a tenha impressionado? MRG - Éramos três irmãs, veio uma tia viúva viver connosco para Coimbra. Havia uma vontade justa dos estudantes, que queriam ter uma participação activa na Universidade. O anormal era não terem essa participação. Tomei a minha primeira atitude política quando no Festival de Arezzo o maestro nos proibiu de actuar com a batina abotoada, em sinal de luto académico. Revoltada, não cantei. Houve um momento que marcou o resto da minha vida, em termos de opções e de participação cívica. Arrepia-me lembrar aquela sessão em que o Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra, pediu para falar em nome dos estudantes, quando lá estava o Presidente da República Américo Tomaz, e não o deixaram falar. “Tenho de tomar uma atitude activa,” pensei. Veio o primeiro exame, eu disse: “não vou”. “Então, páras de estudar,” disse o meu pai. “Eu páro de estudar, mas não vou,” respondi-lhe eu. Por causa disso, tive de repetir o segundo ano da Faculdade e até a minha tia percebeu que naquele ambiente, com a PIDE na Universidade, a polícia por todos os lados, íamos mesmo embora. Depois, a partir daí, passei a fazer escolhas.
MARIA DO ROSÁRIO GAMA
A mulher por detrás da luta Texto: Leonor Xavier
Casada, dois filhos, uma neta de quem fala com ternura, uma família de cumplicidades, amigos de vida inteira. Envolvida em certezas de afecto, tem a força da razão que a anima, presença firme quando publicamente solta a voz, sem medo de defender, debater, discutir. Desde os anos de estudante na Universidade de Coimbra, as palavras Liberdade, Luta, Justiça, União são para Maria do Rosário Gama as primeiras e as fundamentais, muito além de todas as outras que nos oprimem e desgostam. Pela sua experiência como presidente do conselho executivo da Escola Infanta D. Maria, já em 2008 era figura
principal na disputa entre professores e ministério, quanto à política educativa do Governo. Em Outubro passado, concretizou a ideia de um movimento cívico, independente de partidos e sindicatos, para a expressão daqueles três milhões e meio de portugueses que acredita serem hoje o alvo principal das mais duras medidas de austeridade. Assim nasceu a APRe!, movimento de aposentados pensionistas e reformados. Em Maio, Maria do Rosário agitou a Assembleia da República, quando nas bancadas os manifestantes da associação entoaram Grândola Vila Morena e a entrega de uma petição com 13.500 assinaturas, afirmava a união dos pensionistas em luta pelos direitos consagrados na Constituição. Em acção cons-
tante, distinguiu-se no programa “Prós e Contras” e foi por estes dias convidada a pronunciar-se sobre “Libertar Portugal da Austeridade”, entre os notáveis reunidos na Aula Magna da Universidade de Lisboa. Entre audiências políticas, reuniões, entrevistas, declarações, notas e comunicados de imprensa, Maria do Rosário não se deixa dominar. Guarda um tempo para si e para os seus. Está disponível para todos os que a procurem. Sabedoria sua, de mulher madura. Jornal Sénior (JS) - Qual é a sua formação? Maria do Rosário Gama (MRG) - Formei-me em Biologia. Sou alentejana de Viana do Alentejo, vim para Coimbra fazer a
JS - Houve muitos estudantes com a sua atitude? MRG - Nós somos uma geração que esperou o 25 de Abril, que ficou marcada. Uma geração que lutou contra o poder uniformizado na universidade. Que lutou pelo Estado social, pela melhoria dos cuidados na saúde, pela melhoria da formação dos alunos. Nós contribuímos para estas mudanças, porque éramos uma geração formada de pessoas mais habilitadas do que a maioria, nessa época. JS - Tem saudades desse tempo? MRG - Hoje não sei se há saudosismo mas acho que há um menor sentido da realidade, era importante que as universidades acompanhassem a própria evolução do conhecimento. Os alunos são mais infantis, têm mais solicitações. Há um desinvestimento cultural. JS - O que fazer contra esta situação? MRG - Quando eu era professora, o que pedia aos meus alunos era a leitura diária de um jornal. Nem que não leiam as notícias e só leiam os títulos, é importante que os alunos abram um jornal para saberem o que se está a passar. Alguns programas de televisão fazem perguntas sobre a actualidade, e muitas pessoas confun-
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JS - Hoje, as suas causas são outras. MRG - É preciso dizer que os reformados são um terço da população, perto de três milhões e meio de pessoas. E que entre esses há um milhão com pensões abaixo dos 300 euros por mês. JS - Como nasceu a APRe!? MRG - Fui professora durante 38 anos, reformei-me em Março de 2011, fiz a APRe! em Outubro de 2012. Tive um carcinoma e fui operada no dia 3 de Outubro. Recebi uma visita de amigos, um deles falou de uma lei do Orçamento de Estado que ia ser arrasadora para os reformados. Virei-me para o meu marido e disse-lhe: “Temos de fazer alguma coisa.” Ligou-me também uma grande amiga a dizer que precisávamos de avançar com uma associação. A cobertura foi rápida porque a propósito da minha intervenção na Escola Infanta D. Maria, a SIC fez um programa sobre a escola. Falou-se sobre os aposentados e as pessoas se juntarem, e a SIC divulgou a primeira reunião, em 22 de Outubro. Veio gente de Lisboa, Cascais, Porto, Braga, Leiria, Coimbra. Numa sala de 150 lugares apareceram 500 pessoas. Pensei: é isto que as pessoas querem, é este o momento. Já temos perto de 4.500 inscritos, a pagar a jóia de 5 euros e a cota anual de 12 euros. Quem ganha menos de 500 não paga cota.
dem os cargos políticos, não distinguem o Presidente da República do Primeiro-ministro.
bra, onde estive sete anos na Escola de Educadoras de Infância, e daí fui para a Escola Secundária Infanta D. Maria.
JS - Na sua geração isso não acontecia? MRG - Enquanto estudantes estávamos a par dos acontecimentos, talvez por andarmos nessa luta comum contra o fascismo.
JS - Uma escola muito especial? MRG - Esteve desde sempre no primeiro lugar do ranking. Eu sou contra os rankings ou o modo como são feitas as avaliações das escolas. A falta de certos dados pode dar informação errada para as pessoas, porque o meio social e o acesso à informação são diferentes nas escolas. É preciso lembrar que há escolas que têm alunos de classe média, com acesso a todos os apoios e que há escolas da periferia, em que muitos meninos têm de ajudar os pais no trabalho. No Infanta Dona Maria tínhamos um corpo docente muito bom e a escola pensava mais nos alunos do que nos professores. Tínhamos apoios diversificados, havia regras e os horários eram feitos em função dos alunos. Ocupavam as manhãs ou as tardes, para que os alunos tivessem tempos livres. Era uma escola com alunos de classe média alta, com maiores expectativas de estudo e uma forte componente de escola paralela.
JS - Como seguiu no seu trabalho, já acabado o curso? MRG - Comecei em Coimbra, depois em Leiria, fui eleita presidente do conselho directivo de uma escola secundária, tinha 20 anos. JS - A sua capacidade de liderança foi muito cedo reconhecida… MRG - A eleição deu-se por votação nominal. Era uma actividade dirigente, mas havia uma direcção colegial, com a participação de vários professores. Depois fui parar a Estremoz, porque me enganei nos códigos dos concursos. Mas já estava casada, morava em Coimbra. Não mudei para Estremoz e concorri a uma escola primária nas Caldas da Rainha. Eu não queria separar-me do meu marido, entretanto foi aberta uma vaga de Filosofia, ele tinha feito o curso de Filosofia, concorreu e foi também para as Caldas. Esse ano foi importante para mim, porque os professores da escola davam-nos muita formação, eu tinha de fazer essas acções de formação nos concelhos à volta das Caldas, e conheci grupos de pessoas com muita experiência profissional. Voltei para Coim-
JS - …componente de escola paralela? MRG - Quer dizer que os alunos tinham explicações, além das aulas. JS - Nunca teve problemas de indisciplina? MRG - Quando ouvia barulho, interrompia as aulas. Aconteceu várias vezes. É cada vez mais difícil controlar alunos indisciplinados.
JS - Que sentimento tem, que emoção a leva a lutar tanto, uma vez mais? MRG - Esta violência brutal sobre as pessoas, quando precisamos de tranquilidade. Dizem-nos que há um buraco de 4,3 milhões nas pensões do estado, vou escrever uma nota à imprensa, porque estas notícias são uma manipulação permanente e as pessoas não estão informadas sobre o que se passa. Tem havido um abuso brutal da parte de uns governos que tiram dinheiro da Segurança Social para fins a que não se destinam. Os dados publicitados pela imprensa fazem o jeito ao governo, dizem apenas respeito aos descontos dos subscritores e não incluem os 23,75% da entidade patronal que é o Estado. JS - Já tem muita gente a trabalhar consigo? MRG - Somos nove na Direcção: professores, especialistas em seguros, uma bibliotecária, uma gestora… Somos todos diferentes, vamos desde o PSD até ao Bloco. A APRe! é um verdadeiro movimento de cidadania. Estes movimentos são barómetros da sociedade, é importante dar voz a quem os incorpora. JS - O que deve fazer um professor, nesses casos? MRG - Primeiro, tem de ter competência científica e depois autoridade, o que implica um relacionamento com os alunos que não admita falta de respeito. Era preciso que as famílias tivessem outra ideia sobre a escola, para que os alunos percebessem que aquele espaço institucional não é um frete, não é um espaço de obrigação e de brincadeira. Devia haver uma mudança de estratégia dos programas da escola.
JS - Para acabar, quer deixar um recado? MRG - Acabo a dizer: Apre! Basta! Deixem-nos viver com tranquilidade os anos que ainda temos para viver! JS - Um pedido? MRG - Que as pessoas se mantenham firmes não se deixem dividir por esta pressão do Governo que quer confrontar os públicos e os privados, que tenta uma divisão entre os jovens e os velhos.
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Garra, paixão e bairrismo nas marchas populares de Lisboa
A minha marcha é linda! “Lá vai Lisboa” pode bem ser o mote das marchas populares da capital e o denominador comum a todas as freguesias que no dia de Sto. António desfilam graça e orgulho, na Avenida da Liberdade. Uma tradição antiga e que vai passando de geração em geração. Se hoje são os mais novos que lhe dão corpo, a verdade é que são os seniores que lhe perpetuam o espírito. Na marcha, nos bastidores ou nas bancadas, marcam presença ano após ano e todos eles garantem: “a minha marcha é a mais linda!” Texto: Filipa Faustino Arenga e Maria Assunção Oliveira Fotografia: Rogério Martins
Em pleno castelo de São Jorge fica uma oficina que todos conhecem como “casa dos arcos”. Aqui, José Ferrão, nascido e criado na freguesia do Castelo, constrói os arcos que desfilarão, no dia 12, Avenida da Liberdade abaixo. Serralheiro reformado da Lisnave, hoje, aos 74 anos, é o mais velho colaborador da marcha do Castelo. “Eu até sou novo, tinha um colega mais velho que este ano já não foi capaz de vir.” José é o primeiro a começar a trabalhar na marcha. Tudo começa com um projecto em papel. “Quando vejo o boneco, já sei como vai ficar montado. Geralmente não aprecio o que faço, não me considero um artista. Mas tem havido coisas muito bonitas”, diz, humildemente. Não esconde, no entanto, o orgulho que tem no que faz e apressa-se a explicar que o que vemos ainda não está acabado. “Aqui falta uma figura e ali ainda leva umas luzes”, vai apontando. “O trabalho que isto dá, as pessoas não têm noção...” Ao longo dos 24 anos que tem dedicado às marchas, a evolução dos materiais permitiu que o seu trabalho, e o dos marchantes, fosse aliviado. “Quando comecei, era tudo em arame e papel. Cheguei a fazer arcos com 30 quilos, para se iluminarem tinham de levar baterias de carro. Agora, os arcos são mais leves. Primeiro veio a esferovite, depois a fibra de vidro. Não sei o que aparecerá mais.” Outra evolução foi a das pessoas, no bairro e na marcha. “Antes, as pessoas aqui no Castelo sentavam-se à porta de casa, ouviam rádio e conversavam umas com as outras. Depois, a televisão matou tudo e muitas das pessoas que agora cá vivem já nem são daqui.” Ainda assim, não há falta de gente na marcha do Castelo. “O nosso bairro está deserto de gente nova, mas já tivemos mais dificuldade em arranjar pessoas, agora temos muitas. Olhe, temos um marchante que foi viver para Loures e nunca falha”. Já José nunca marchou. “Gosto das marchas, mas do que eu gosto mesmo é de fazer. E, falando a verdade, nunca vejo as
Carlos Alberto, Carlos Pessoa e Carlos Lourenço são três seniores nos bastidores da marcha de Santa Engrácia
cha, sinto os pelos dos braços levantar. Se não sentir, alguma coisa não está bem.” Mas nem tudo depende apenas do valor do esforço, acredita: “Nunca digo que é para ganhar, mas tenho sempre fé. Há bairrismo e outras coisas que não devia haver – facilidades e conhecimentos –, mas nós vamos vivendo na nossa modéstia e ganhamos o que ganharmos”. Apesar do trabalho duro, não pensa abandonar a sua paixão tão cedo. “Continuarei enquanto puder. Não sei se, para o ano, a minha saúde me permite, mas não me preocupa, não sou insubstituível. Enquanto for vivo hei-de estar, pelo menos, nas bancadas a torcer pela minha marcha.” “O bichinho das marchas” outras marchas, só vejo a minha, só por isto: antes de entrarem na Avenida, tenho de lá estar a montar, quando chegam ao fim, tenho de lá estar para desmontar. Sou bairrista, mas não sou faccioso”. É quando o Castelo marcha pela Avenida que José avalia o seu trabalho. “Quando vejo a mar-
Aos 61 anos, Adalberto Faria diz que tem “o bichinho das marchas”, mas só marcha há dois anos. Alfacinha de gema, representa o bairro de São Vicente. “Ao ver as marchas, sempre sonhei entrar”, diz, com emoção. Encontrámo-lo numa noite fria e chuvosa de Maio, o que não demoveu a ele nem às
dezenas de outros marchantes de todas as idades que se reuniram para mais um ensaio diário, ao ar livre, no campo de jogos da Voz do Operário. “Quando visto a farda, sinto um enorme respeito pelo bairro e tento que me respeitem também”, declara. Apesar da rotina
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Adalberto Faria
diária de ensaios, Adalberto defende que “não há dificuldade nenhuma porque o que é feito com amor não custa”. O primeiro lugar da competição parece escapar sempre a São Vicente mas, para Adalberto, isso é o menos importante. “Nunca ganhamos mas empenhamo-nos e fazemos valer o respeito por São Vicente, que é um bairro com muita história. E a dançar é que se vê, na Avenida é que sabemos.” Relativamente aos resultados dos anos anteriores, considera que “merecíamos melhor, não se percebe, mas há outros factores envolvidos...” Enquanto conseguir, garante, continuará a levar toda esta paixão para a Avenida da Liberdade. “Mas só se tiver saúde, porque se for para fazer má figura, prefiro ficar na bancada”. Por seu turno, Luís Barros sofre nos bastidores. Com 62 anos, pertence à organização da marcha de São Vicente há mais de 20. “Nunca me deu para marchar mas organizar não é fácil, é preciso muita paciência. A maior dificuldade é o dinheiro para os materiais e para as pessoas que ajudam na realização de arcos, fardas e adereços. “Há gente que ajuda mas também temos de pedir empréstimos aos comerciantes da zona.” Para além disso, explica, “tem que haver quem trate da papelada, dos músicos, das costureiras, e tudo isso.” É uma actividade que consome tempo e implica dedicação. “Acho difícil as gerações mais novas pegarem nisto, a não ser que recebam um ordenado, o que é impossível porque dá sempre prejuízo.” O trabalho que dá, no entanto, não é obstáculo para o líder associativo. “A melhor parte disto é o gosto que se tem a fazer, é uma grande paixão.” E previsões para este ano? “Estamos com muita fé, na coreografia, nas roupas, tudo!” Quem me acaba o resto? Ao contrário das outras, a marcha dos Mercados não representa um bairro nem concorre ao pódio. “Representamos os vendedores de todos os mercados de Lisboa, portanto, no fundo, representamos toda a cidade”, analisa João Mourão, figurinista de 62 anos com quem falámos no Mercado 31 de Janeiro, o quartel-general da marcha.
João Mourão
O espírito da marcha dos Mercados está ligada, portanto, a estes locais e a sua imagem pretende invocar os trajos e tradições dos comerciantes típicos. Nesta senda, João sublinha que “é uma marcha completamente diferente das outras”. “Estamos agarrados aos conceitos de como se faziam os fatos antigamente, as gregas, os frisos, os tecidos de algodão. Aqui não fazemos dourados nem prateados.” Apesar de a associação estar a perder associados, devido ao estrangulamento do comércio, a esta marcha não falta participantes, incluindo seniores – “começando pela madrinha”, diz João. Anita Guerreiro amadrinha os Mercados desde 2006 e é a mais antiga madrinha das marchas de Lisboa. Encontrámo-la, com a sua vivacidade habitual, a provar o vestido que usará na noite de Santo António – um modelo em cetim azul petróleo com uma ligeira cauda. A seu lado, desfilará João de Carvalho, padrinho da marcha há já alguns anos. “Aqui ninguém me chama de Anita, sou a madrinha”, diz, sorrindo, a fadista alfacinha, enquanto reclama por chumaços. Este ano, a inspiração dos figurinos recaiu nas vendedeiras de peixe. Entramos numa sala onde repousam os fatos dos anos anteriores, bem como os deste ano. João pega com delicadeza nas peças de roupa que compõem a farda da marcha dos Mercados e vai explicando: “tentámos representar tudo o que tem a ver com a figura da peixeira. A saia, em gorgorão de riscas brancas e azuis, com a grega; a camisa de gola grande, mangas largas e detalhes de brilho que lembra o movimento das ondas; uma ‘sogra’, a rodilha onde se colocava a canastra; por fim, o lenço de cabeça que se transforma em avental.” E não é só graças à sua vida e carreira ligada à moda que João sabe do que fala. “Sou lisboeta. A minha avó vivia aqui em frente e eu via muitas peixeiras assim vestidas. De manhã, com o frio, usavam o lenço na cabeça, e depois, na venda, punham o lenço em cima da saia e transformava-se em avental. Foi nisso que peguei.” Os homens vão vestidos de pescadores, com calças arregaçadas e camisas de xadrez. Para dar vida aos seus figurinos, as cores e
padrões têm de ser genuínas, mas “é cada vez mais difícil encontrar bons tecidos, parecidos com os tradicionais, porque a indústria têxtil portuguesa está quase morta e a maioria dos tecidos vem da China”. A marcha vai incluir uma cena de mercado, em que Anita Guerreiro lançará um tradicional “Quem me acaba o resto?”, um pregão tradicional das praças de peixe. “As marchas brilham mais com gente jovem” De Santa Engrácia sabe-se que é uma freguesia pequena. Que apenas leva oito anos nas lides das marchas que ditam o dia de Santo António, padroeiro de Lisboa. E que desfila, a par das “famosas”, graças ao esforço e carolice de um grupo de pessoas integrado num pequeno clube, que já foi grande, e que honra o ofício que lhe dá nome: Operário Futebol Clube. À cabeça desta associação desportiva estão três “Carlos”. Todos seniores, os três ex-colegas de profissão na área bancária. São recentes na organização desta marcha mas experientes nestas lides. Carlos Lourenço, 64 anos, assume a direcção do clube e gere a logística – complexa – que uma marcha exige. “Foi graças ao Operário que a marcha de Santa Engrácia não desapareceu. Porque somos bairristas, porque nos está no sangue a raça e orgulho de desfilar na Avenida. São cinco minutos para conseguir reflectir com justeza todo o trabalho que aqui investimos. De borla”, reforça. Dos 27 mil euros que a Câmara atribui a cada marcha, parte do “bolo” é investido nas costureiras, nos figurinos, no ensaiador e nos músicos. “Os marchantes andam lá porque a marcha é deles, porque são a alma do desfile. São o melhor que a marcha tem. Não recebem nada”. Já Carlos Pessoa, de 66 anos, encarregue de articular “a máquina” diz ser exigente com a escolha dos temas, a elaboração dos arcos, a escolha dos músicos, letristas e compositores. “Não é fácil encontrar temas originais todos os anos, cingindo-nos à história desta freguesia, sem beliscarmos o património histórico das outras. Não é fácil acertar nos temas
José Ferrão
musicais e fazer deles hinos de Lisboa, que outrora faziam parte do reportório de grandes artistas, como Amália Rodrigues, Hermínia e outros”, afirma. E culpa a Rádio pela fraca divulgação da música portuguesa e pelo desinteresse pela música popular. Também Carlos Pessoa vai marchando nos bastidores de forma graciosa. “Todos os anos juro que é o último. Já me sinto velho para estas andanças” – justificação que pode estar na origem de já serem poucos os “veteranos” que ainda por lá andam. “As marchas brilham mais com gente jovem. Os mais velhos deram lugar aos filhos e netos”. Mas no dia 12 de Junho estão lá, na Avenida. A puxar pela sua marcha. A vibrar com orgulho do bairro de onde são oriundos. “Nas bancadas”, afirma Carlos Pessoa. “No meio da multidão a gritar jargões”. Faltava o testemunho do terceiro Carlos, Alberto de seu apelido, o mais velho dos três. 70 anos. O que sobra, então, da marcha que lhe compita dar seguimento? "Sou o papel de embrulho”, diz a brincar. Soubemos que dá apoio onde lhe pedem para estar. Mas o seu tempo é praticamente dedicado em exclusivo ao clube que “sustenta” esta marcha. “Graças a este clube, Santa Engrácia desfila como as outras. Não interessa se ficamos em primeiro ou em último. Temos ficado em lugares distantes dos cimeiros, mas não quero entrar em ‘políticas’”, desabafa. Refere que nem sempre os critérios de avaliação são os mesmos para todas as marchas. “Há quem nos avalie sem sequer nos ver marchar na Avenida. Mas não importa. O que interessa é que naquele dia somos grandes como os outros. Temos os mesmos cinco minutos de glória e o resto é conversa. De tudo, tudo, o que mais me enche o peito é ver o Operário Futebol Clube erguer a marcha”. Uma pequena estrutura ligada ao desporto que recebe e treina miúdos de muitas instituições como Casa do Gaiato e Casa Pia, a mesma que Vasco Santana resumiu como “o Operário” numa época em que o Regime fazia cruzes a esta designação por considerá-la “vermelha” e que teve como sócio número 13 Marcello Caetano. “E ainda fazemos a marcha”, remata.
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A vida depois das câmaras de televisão Durante anos foram os rostos da estação pública. A popularidade de então deu lugar ao actual quase anonimato. Sem os holofotes por perto, fomos saber da vida que levam e como encaram a passagem dos anos: Cesário Borga, Isabel Ayres e Fátima Medina. Texto: Manuela Garcia Fotografia: Rogério Martins
Quando no final do ano passado foi ao programa Praça da Alegria, como surpresa, exibiram imagens suas desde os primeiros anos da RTP, na década de 70, até à actualidade. Ver-se com 30 e poucos anos não traz nostalgia ao jornalista Cesário Borga. “Gostei de me ver como era e gosto de me ver como sou, aceito-me muito bem”. E sobre a passagem do tempo, vai mais longe: “Sinto o poder, a importância e a vantagem da acumulação de coisas que não sabia nessa altura. Nessa altura fazia outras coisas, nomeadamente no plano físico”. Mais do que uma actividade intelectual, para este jornalista, esta profissão é também uma actividade física, já que exige capacidade de resistência à adversidade e ao cansaço. E é por isso que ainda hoje faz caminhadas, natação e anda de bicicleta. Na altura em que transitou do Diário de Lisboa, em 1974, para a RTP, já era repórter com nome firmado. Nunca optou pela apresentação de telejornais ou pela entrevista regular, antes preferiu a rua, a reportagem. E nessa época “não havia a tradição de os jornalistas aparecerem muito” frente às câmaras. “Não havia formação e a gente procurava encontrar o nosso caminho, falando com os outros, vendo como os outros faziam, especialmente os franceses”. Mas assim que passou a ser reconhecido, sublinha, “comecei a encarar isto com uma grande naturalidade, nunca me preocupei excessivamente com a imagem, um repórter é sempre uma pessoa mais descontraída”. Sempre fez “maquilhagens mínimas” para aparecer frente às câmaras e quando fazia directos da rua “não utilizava nada”. Importante era não aparecer “com um ar daqueles tipos que estão a ser procurados pela polícia”, afirma entre risos.
A mim ninguém me apanha A experiência de correspondente em Espanha foi “muito marcante” a nível profissional, “de uma entrega muito forte, em todos os planos”. Nesses sete anos, entre 1998 e 2005, “uma coisa que me aconteceu todos os dias, sem falhar um, é que acordava sempre às sete da manhã em Madrid. Mesmo que me tivesse deitado às cinco. Acordava porque punha o desper-
tador. Ouvia na rádio o noticiário das sete, sabia que em Lisboa eram seis da manhã e dizia: A mim ninguém me apanha, se houver alguma coisa de importante sou eu que os vou acordar”. Para mergulhar completamente na cultura espanhola leu muitos livros, ia de amiúde ao teatro, era aí que estava a “dicção fantástica e um discurso muito construído”. Quando ouvia uma frase pela primeira vez, anotava-a no bloco ou no telemóvel e mais tarde estudava-a. É por isso que ainda hoje pelo sotaque identifica tanto um andaluz como um basco, um catalão ou um galego, ou até mesmo se for das ilhas Canárias. Nestes anos de Madrid, o grande tema da altura era o terrorismo e a ETA. “Se às 3-4 da manhã rebentava uma bomba e era preciso sair, acordava o operador e íamos por aí abaixo. Era a disponibilidade absoluta, não pelo contrato com a RTP, mas um modo de estar na profissão e na vida”. Para onde quer que fosse, Cesário e o operador de TV levavam sempre a câmara. Até mesmo para tomar uma bica. “Chegámos a apanhar um atentado da ETA, que é uma coisa única, quando íamos levantar as credenciais para a ARCO (Feira de Arte de Madrid) porque não tínhamos mais nada para fazer. Ficava próximo do aeroporto e, no caminho, vimos uma fumarada. A rádio não estava a dar
nada, chegámos primeiro que a polícia e que os outros jornalistas. Porquê? Porque não precisámos de ir a casa buscar a câmara ou o microfone”. E aqui reside o motivo que agarrou Cesário Borga durante tantos anos a esta profissão: a intuição e a emoção. E depois destes sete anos de comunicação mais directa com o telespectador, não se pense que tivesse ficado o gosto de aparecer no pequeno ecrã. Quando regressou à RTP escolheu investir na coordenação de um programa de grandes reportagens. “Não tenho a nostalgia da câmara. A televisão nunca me consumiu e, mais, nunca me deu aquela ideia de vedeta. Nada disso.” Hoje dedica o tempo ao ensino do jornalismo e à escrita. Está com Joaquim Vieira a organizar a Fotobiografia da História da Televisão em Portugal e já está a escrever o segundo livro de ficção, onde regressa mais uma vez a Espanha. Como o próprio afirma, depois de viver da forma intensa num país vizinho, acontece o seguinte: “Mentalmente a minha fronteira, grosso modo, está nos Pirenéus. Um fim-de-semana: se é para sul, vamos direito à fronteira e vamos até Sevilha”, remata.
O peso da popularidade Quando em 1978 a RTP fez um concurso para locutoras de continuidade, concor-
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Cesário Borga
Não tenho a nostalgia da câmara. A televisão nunca me consumiu e, mais, nunca me deu aquela ideia de vedeta. Nada disso reram mais de três mil candidatas. No final ficaram cerca de uma dezena. Isabel Ayres e Fátima Medina eram duas delas. Isabel, com 21 anos e a cursar germânicas, estava longe de imaginar o peso da popularidade. O trabalho de locução era rotineiro e “um bocadinho aborrecido”. E justifica: “Tínhamos de estar na abertura da emissão, continuar durante a emissão e tínhamos ainda de fechá-la; olhe, eu aproveitava para estudar”. Como tinha de estar sempre uma locutora destacada e uma outra de piquete, acabavam por conviver sempre aos pares. “Fizemos uma pequena família, sempre que nos vemos é uma festa”. E conta com entusiasmo: “Mantive sempre contacto com a Isabel Bahia porque é minha vizinha. Na semana passada fui almoçar com a Fátima Medina, já não nos víamos há imenso tempo e encontrei num concerto, na Fundação, a Tere-
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Nunca funcionei bem com a exposição, não gostava de ser reconhecida na rua, tentava não dar muitas entrevistas em que me expusesse, gostava do low profile sa Cruz, que saiu da locução e foi para o jornalismo, tal como a Fátima”. Mas depressa o círculo da popularidade começa a fechar-se sobre Isabel, que não lida bem com o facto de ser reconhecida por toda a gente. “Nunca funcionei bem com a exposição, não gostava de ser reconhecida na rua, tentava não dar muitas entrevistas em que me expusesse, gostava do low-profile”. E ao fim de quatro anos, aproveita a abertura de um concurso interno para a parte de produção e abandona o pequeno ecrã. Organizada como sempre foi, a adaptação às novas funções no departamento de musicais e eruditos acabou por se dar sem sobressaltos. Mais tarde, em 1989, haveria de ser convidada para dirigir a produção do Ballet Gulbenkian, que entretanto foi extinto. Transitou como produtora da fundação onde actualmente trabalha. Sem os holofotes da televisão sobre si, Isabel Ayres assume que tem uma vida “ super tranquila; com um trabalho extremamente forte em termos de carga horária, posso dizer que, felizmente, tenho uma vida sem sobressaltos”. Ainda assim, continua hoje a ser reconhecida na rua. “Não identificam imediatamente de onde mas a cara é-lhes familiar”. Outras pessoas chegam mesmo a reconhecê-la pela voz. Depois dos breves anos como rosto da televisão pública, afirma que não lhe ficaram os modos de ter de estar com uma imagem impecável. Com o passar dos anos, e as alterações do corpo, assume que “é natural, é um envelhecimento que tem de acontecer. Quando saio à rua arranjo-me normalmente como qualquer pessoa, não fiquei de todo agarrada àquela necessidade de a pessoa estar sempre muito agradável, muito penteada, muito maquilhada, aliás, porque praticamente quase não uso maquilhagem, tenho isso bem resolvido”. E quanto a intervenções estéticas, não põe de lado a hipótese de um dia vir a fazer mas “seriam sempre intervenções muito pontuais, muito pequeninas”. Até porque considera que uma cara com algumas rugas é mais “confortável do que uma cara esticada”.
Isabel Ayres
continuidade e mais tarde de jornalista, na televisão estatal. Afirma sempre ter lidado bem com a popularidade. Habituada desde os 20 anos a ser reconhecida por todos, por só existir a RTP e serem “poucas vedetas”, a rua afirma “era um lugar de grandes demonstrações de afecto, mas nenhuma privacidade”. E sempre procurou o equilíbrio entre o que deixava que se soubesse e o que dizia respeito à vida privada. “Sempre achei que tudo o que dizia respeito à profissão podia ser divulgado porque era, por profissão, partilhado com o público. Quan-
to à vida privada, partilhei a alegria dos nascimentos das minhas filhas, mas tudo quanto dizia respeito à minha privacidade, pura e simplesmente não falava disso”. E dá exemplos muito concretos: “Quando me divorciei, a Imprensa só soube passado mais de um ano e nunca dei nenhuma entrevista a especular sobre motivos da separação”. Mais, “nunca comentei o meu laço familiar com um tio que foi um homem admirável, cultíssimo, com grande humanidade e humilde, que dedicou a vida a uma causa, com quem tive o privilégio de privar e trocar pontos de vista e que se chamava Álvaro Cunhal”.
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As rugas que vão aparecendo contam pequenas histórias da nossa vida
Fui muito mimada pela Imprensa Fátima Medina desempenha, hoje, com desenvoltura e entusiasmo a assessoria da presidência do Supremo Tribunal de Justiça mas é uma cara conhecida do grande público por durante 28 anos ter desempenhado funções de locutora de
E o facto de estar constantemente a ser escrutinada pelo público apenas lhe trouxe uma necessidade “de estar bem na imagem, mas sem estar aquilo a que eu chamo a brincar ‘tipo árvore de Natal’ com mil brincos, colares, pulseiras”. Isto porque na relação com o telespectador, considera, “o público iria distrair-se com o brinco excessivo, os vestidos mais apropriados para festa do que para trabalho, e não iria ouvir o mais importante: a informação que a RTP tinha para dar nessa noite, e mais tarde, alguns noticiários de que fui apresentadora”. O que nunca dispensou foi o “rimel”, afirma por entre risos. Sobre os dias de fama e glória de figura pública, diz apenas que foi muito mimada pela imprensa e hoje sente-se bem na sua pele e no anonimato. E para esse equilíbrio houve uma pessoa fundamental. “A minha Mãe, que foi uma mulher inteligentíssima, sempre me deu orientações de equilíbrio e bom senso que me foram úteis; quando eu entrei para a RTP, sempre me disse para não me habituar às mordomias de ser uma figura pública, com a simpatia do público, o vestuário múltiplo e as facilidades. Para sempre ver isso como um período transitório, para viver bem mas sem ficar dependente; e eu nunca me senti fragilizada com o facto de não aparecer no ecrã”. Quanto às marcas que o tempo vai deixando no corpo, afirma não ter muitas razões de queixa, mas “não lhe vou dizer que é uma coisa muito boa”. Confessa que recentemente em conversa com Simone, chegaram à conclusão que nenhuma tinha ainda aderido às cirurgias plásticas ou ao botox “por acharmos que as rugas que vão aparecendo contam pequenas histórias da nossa vida”. E embora não critique quem faça essas intervenções, porque “a imagem é uma forma de comunicação”, assume que lhe causa “impressão ver nas revistas, muitas caras conhecidas que perderam expressão ou que ficaram bem piores”.
Fátima Medina
Actualmente lida todos os dias com jornalistas e o gosto pela comunicação está-lhe colado à pele. Sobre as recentes entrevistas que deu em televisões, confessa “venho sempre com a sensação de ter visitado a família, em que as saudades e o afecto predominam”. E o público, que continua a reconhecê-la na rua por vezes pede-lhe “Gostava tanto de a ver! Quando volta ao ecrã?”. Não é uma possibilidade completamente descartada, mas para já estimula-a estar num “Tribunal Supremo onde se exerce Justiça, um dos pilares fundamentais da democracia, e em que o cidadão não deve deixar de acreditar”.
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22 PRAZERES
JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
O corpo e o envelhecimento
Cecília Meireles “Retrato” Pedro de Freitas MD, PhD Médico Sexologista Clínico Doutorado em Sexologia Clínica (EUA) Professor Associado da AACS (EUA) pfreitas1957@gmail.com
Eu sou da geração do baby boom, à qual pertencem todos os que nasceram entre 1945 e 1962 e que têm uma característica em comum: recusam-se a envelhecer! Identifico-me a 100% com esta geração e com este facto. Sou daqueles que não se revêem com o belo poema de Cecília Meireles que, apesar de brasileira e oriunda de uma cultura do samba e não do fado, tão bem ilustra o que (infelizmente) muitas e muitos sentem em relação ao seu processo de envelhecimento. Talvez este sentimento lhe tenha sido “geneticamente” passado pela avó portuguesa dos Açores que a criou… A nossa geração tenta levar ao limite do possível a juventude, mantendo por vezes vestuário, passatempos, hobbies e actividades que nas gerações
anteriores seriam consideradas “pouco próprias para um senhor ou uma senhora desta idade”. A partir do momento que nos metem o epíteto de “meia-idade” (conceito obscuro e que em bom rigor deveria começar aos 40 e tal, dada a esperança média de vida…), querem-nos com isso dizer que seria suposto tornarmo-nos invisíveis. Esta invisibilidade, que muitos se auto-impõem, é como o bicho da madeira:
corrói devagarinho… Mas muitos nunca serão velhos, mas sim homens e mulheres que envelhecem dando continuidade aos seus projectos existenciais, continuam a cantar, dançar, a criar, a estudar, a procurar a felicidade e o prazer, transgredindo normas e tabus. Por oposição, existem muitos outros que optam por essa invisibilidade social e se isolam, deprimem e perdem qualidade de
vida. A escolha é nossa: ou decidimos como Bertrand Russel sentirmo-nos aprisionados num corpo velho ou, pelo contrário, sentirmo-nos mais livres, seguros e de bem com a nossa imagem. O nosso corpo é o mediador entre a mente e o mundo. Como o mundo é relativamente imutável, temos que “re-arranjar” a nossa mente para que o nosso corpo continue a ser visto/sentido por nós como o era em idades mais jovens. Sigmund Freud disse que “a beleza da vida provém do seu carácter fugidio” o que além de ser uma verdade incontestável, nos deveria orientar para a necessidade de vivermos o melhor possível com o que temos hoje, corpo incluído! Se pararmos para reflectir um pouco acerca do conceito de beleza, chegamos rapidamente à conclusão que beleza é um julgamento, e julgar é ligar duas ideias diferentes. Se a sociedade nos diz que a beleza pertence ao corpo jovem, então, e por oposição, o corpo velho pressupõe feiura! E é de facto esta a percepção que muitos têm, jovens e menos jovens. Para mim, “beleza é ao mesmo tempo conhecimento e poesia, história e meditação, substância do visível e sentido da vida... É ao mesmo tempo essência e ciência... Para Platão, a beleza está associada à harmonia, que é essencialmente ritmo, do qual provêm as proporções... (ela) é irredutível a qualquer análise, pois associa o indizível ao dizível, o invisível ao visível... Associa unidade e complexidade" (Random, Michel in O Belo). Como “dicas” finais sugiro que nos foquemos na desmistificação destes mitos e estereótipos negativos. Tente manter-se (ou tornar-se) o mais saudável possível. Visite o seu médico regularmente, cumpra a prescrição, faça actividade física regular assim como uma alimentação adequada. Escolha a companhia de pessoas que se sintam bem na sua pele, independentemente da idade. Deixe-se “contagiar” pelo bem-estar dos outros com o seu corpo. Não deixe de acreditar e interiorizar que a expressão sexual é parte integrante de TODA a vida de adulto e que o nosso corpo é o instrumento fundamental para tal. Se por fim não conseguir atingir estes objectivos sozinho/a, e chegar à conclusão de que necessita de ajuda profissional para obter um melhor enfoque na sua imagem corporal, isto em nada é diferente do que ir ao Médico de Família para tratar a hipertensão, os níveis altos de colesterol ou ainda as dores reumáticas… DR
Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas, e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por conta desta mudança Tão simples, tão certa, tão fácil Em que espelho ficou perdida A minha face?
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Alzheimer Portugal recomenda: “Lembre-se da sua memória”
Sete dicas para um cérebro saudável A doença de Alzheimer e outras demências afectam 160 mil pessoas em Portugal, quase todas acima dos 65 anos de idade. Ainda que pouco se saiba acerca da doença e de como tratá-la, acredita-se que a promoção da saúde e da actividade do cérebro retarde o seu aparecimento e efeitos. A Alzheimer Portugal recomenda que trate da sua memória através de boas escolhas no estilo de vida. DR
Texto: Filipa Faustino Arenga
A doença de Alzheimer é, conforme explica a associação Alzheimer Portugal, “uma demência que se traduz numa deteriorização global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas”. Ou seja, caracteriza-se pela perda de memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras funções do cérebro. Esta perda progressiva afecta o comportamento, a personalidade e a capacidade funcional da pessoa doente. Segundo dados divulgados recentemente pela Direcção Geral de Saúde (DGS), estima-se que em Portugal existam 160 mil pessoas com demências, na sua maioria Alzheimer. Crê-se que esteja ligada à formação de placas que impedem a transmissão dos sinais entre as células do cérebro. Segundo a Alzheimer Portugal, “os sintomas iniciais da doença de Alzheimer incluem perda de memória, desorientação espacial e temporal, confusão e problemas de raciocínio e pensamento. Estes sintomas agravam-se à medida que as células cerebrais vão morrendo e a comunicação entre estas fica alterada”. O cérebro é um órgão do qual ainda pouco se sabe. Apesar dos muitos estudos realizados e em curso, as razões para o desenvolvimento da doença de Alzheimer e outras demências são ainda desconhecidas no seu todo – da mesma forma, também as formas de prevenção e de tratamento. Sabe-se, no entanto, que é a partir dos 65 anos que se encontra a esmagadora maioria dos casos de Alzheimer.
Segundo dados da DGS, é considerado, internacionalmente, que cinco a sete por cento da população com mais de 65 anos sofra de demências – percentagem que duplica a cada intervalo de cinco anos, isto é, mais de 10% da população entre os 70 e os 75 anos tem problemas demenciais, como Alzheimer. O impacto na vida individual do doente, na vida das famílias, na economia e na sociedade fazem deste um problema de saúde pública urgente, em especial tendo em conta que existem cada vez mais pessoas idosas, o que leva a prever que, provavelmente, existirão cada vez mais pessoas com este problema. É uma situação que não tem tido a atenção política e social que merece, como frisou Álvaro Carvalho, director do Programa Nacional de Saúde Mental, aquando do anúncio, há duas semanas, da preparação de um plano nacional de intervenção na área das demências, com o objectivo de prevenir o avanço destas doenças e melhorar as respostas sociais e institucionais aos doentes e famílias. Já esta semana, a Santa da Misericórida de Lisboa lançou dois prémios de investigação científica na área das neurociências (ciências ligadas ao cérebro e sistema nervoso central), um dos quais dedicados à investigação sobre doenças neurodegenerativas ligadas ao envelhecimento tais como o Alzheimer e o Parkinson.
“Lembre-se da sua memória” A importância da genética, do ambiente e do estilo de vida no aparecimento da doença de Alzheimer continua por
esclarecer de forma definitiva. A componente genética, por enquanto, não se pode manipular, no entanto, o estilo de vida é algo que as pessoas podem controlar. Optar por hábitos saudáveis e manter o cérebro activo promovem a saúde do cérebro, retardando o envelhecimento do mesmo e o aparecimento das demências. A Alzheimer Portugal sublinha que, ao longo da vida, as pessoas “se lembrem da sua memória”, ou seja, tomem medidas por forma a prevenir os factores considerados significativos no desenvolvimento da doença. Trata-se de ter em conta factores considerados importantes na prevenção e retardamento do Alzheimer. Segundo a associação, “não há garantia de que, adoptando estas sete dicas, não irá desenvolver doença de Alzheimer. No entanto, os estudos têm vindo a evidenciar que as pessoas que adoptam estilos de vida saudáveis têm um risco reduzido de vir a desenvolver demência.” São estas as sete recomendações:
Lembre-se do seu cérebro É importante manter o cérebro activo, por forma a fortalecer as ligações entre as células cerebrais. • Desenvolva actividades que envolvam novas aprendizagens; • Pratique jogos de raciocínio (como palavras cruzadas e puzzles de letras e nú-
meros), xadrez, damas ou cartas; • Leia, escreva, converse, use o computador, aprenda uma nova língua ou frequente um curso; • Participe em actividades culturais, por exemplo assistindo a jogos ou concertos, visitando museus ou galerias de arte, entre outros; • Descubra passatempos de que goste e dedique-se a eles, seja pintar, bordar, costurar, fazer carpintaria, etc.; • Inove e mantenha-se activo, mesmo em casa, por exemplo cozinhando novos pratos ou dedicando-se à jardinagem.
Lembre-se da sua alimentação Uma alimentação equilibrada e saudável promove um cérebro saudável. . Reduza as gorduras saturadas, ou seja, escolha lacticínios e carnes magras (como o frango), evite a manteiga, fritos e doces; • Prefira alimentos com gorduras insaturadas, como o azeite, óleo de girassol, abacate, azeitonas, nozes, sementes e peixe; • Ingira alimentos ricos em ómega 3, presente por exemplo na soja, margarina e peixe (especialmente os gordos, como o salmão, a cavala, o atum e a sardinha); • Inclua na sua alimentação alimentos ricos em antioxidantes, tais como ameixas, uvas, passas, mirtilos, espinafres, couves de bruxelas, brócolos, beterraba, abacates, laranjas, pimenta
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vermelha, cerejas, kiwis, cebolas, milho e beringelas; • Também nas bebidas, dê atenção às que contêm antioxidantes, como o chá verde, os sumos de fruta, legumes e vinho de tinto (moderadamente); • Ingira alimentos ricos em ácido fólico, por exemplo laranjas, morangos, bananas, espinafres, espargos, couves de bruxelas, repolho, couve-flor, lentilhas, feijão, grão-de-bico e cereais integrais; • Não se esequeça da vitamina E (presente em alimentos como óleos vegetais, nozes, vegetais de folha verde ou cereais integrais) nem da vitamina B12 (carne, frango, peixe, leite e ovos).
Lembre-se do seu corpo Diz, e bem, a velha máxima: mente sã em corpo são. A actividade física estimula a circulação sanguínea para o cérebro. Estudos demonstram que quem se exercita regularmente tem menos probabilidades de desenvolver doenças cardíacas, derrames e diabetes – condições também associadas ao desenvolvimento de demências. Portanto: • Faça pelo menos 30 minutos de exercício físico por dia. Tudo vale desde que faça o coração bater com mais força: andar, dançar, correr, andar de bicicleta, nadar, passear pelo jardim, etc.; • Treine a resistência e força muscular, por exemplo, com exercícios com pesos. Isto fortalece os músculos e a coordenação de movimentos e ainda mantém a densidade óssea; • Trabalhe a flexbilidade e o equilíbrio, praticando actividades como a dança, alongamentos, tai-chi, pilates ou ioga.
Lembre-se da sua saúde Procure regularmente o seu médico e realize check-ups de saúde. Ao fazê-lo, conseguirá detectar eventuais problemas mais cedo, facilitando o tratamento e as consequências. • Controle a sua pressão arterial; • Controle o seu colesterol; • Controle os seus níveis de açúcar no sangue; • Controle o seu peso.
ou torne-se voluntário; • Saia e converse com os seus vizinhos, amigos ou mesmo com os trabalhadores do supermercado ou café a que habitualmente vai.
Lembre-se dos seus hábitos Maus hábitos e excessos são negativos para a saúde física e mental. • Não fume; • Não consuma bebidas alcoólicas em grandes quantidades; • Durma bem e descanse quando precisar: dormir é essencial à saúde.
Lembre-se da sua cabeça Proteja a sua cabeça de traumas, reduzindo assim os riscos de desenvolver demência. . Evite bater com a cabeça; . Use sempre cinto de segurança; . Atravesse sempre na passadeira; . Use sempre capacete quando andar de mota, bicicleta ou outras actividades passíveis de resultar em quedas ou impactos.
“A magia das sete dicas” A Alzheimer Portugal sublinha que “a magia das setes dicas está na forma como elas funcionam em conjunto”, potenciando os seus efeitos. A sua memória estará em melhor forma quanto mais associar as setes dicas. Por exemplo: • Passeie o cão e fale com as pessoas no jardim. • Faça palavras cruzadas com um vizinho. • Leia e faça parte de um clube de leitura.
Lembre-se da sua vida social Ter uma vida social activa, participar em actividades de lazer e conviver com outras pessoas ajuda a manter o cérebro saudável. • Mantenha o contacto com a família e amigos; • Participe em clubes sociais, culturais ou outros grupos; • Envolva-se em trabalhos comunitários
• Participe em actividades desportivas num clube recreativo; • Faça uma caminhada com um grupo de amigos; • Partilhe um passatempo com os seus netos; • Disfrute de uma refeição saudável com a família ou amigos.
Alexandre Quintanilha
“Há muito marketing à volta do Alzheimer” O Jornal Sénior conversou com o reputado cientista português acerca do cérebro e das razões que levam ao desenvolvimento do Alzheimer.
DR
Jornal Sénior (JS) - Por que razão é o Alzheimer uma doenças dita do envelhecimento e o que acontece no envelhecimento que propicia o desenvolvimento desta patologia? Alexandre Quintanilha (AQ) – O que se sabe, é que há uma correlação muito grande entre o depósito de placas de amilóide, que é uma proteína produzida pelo corpo, em vários locais do cérebro e a perda de memória nos humanos. Ainda há grande dúvida – é uma vasta discussão – se são as placas que levam à perda da memória, interferindo nos mecanismos de condução dos nervos no cérebro, ou se são as placas que, por razões que não conhecemos bem, se depositam nos nervos que já estão “estragados”. À medida que os tecidos envelhecem há uma capacidade de reparação das células que se vai tornando cada vez menos eficiente. Por exemplo, as pessoas a partir de uma certa idade começam a ter manchas na pele. Isto é lixo celular que deixámos de eliminar e vão-se depositando em vários sítios. Todos os nossos tecidos estão cheios de depósitos de lixo – células que morreram, DNA que se estragou... Com o envelhecimento, os mecanismos de limpeza deixam de funcionar e há quem pense que as placas de amilóide possam ser também uma espécie de lixo, proteínas alteradas, que se vão depositando nos nervos. Se imaginarmos os nervos, que conduzem os sinais eléctricos, como tubos, e se pensarmos que os tubos começam a ter uma acumulação de lixo deixam de funcionar tão bem. Mas não temos a certeza absoluta que sejam as placas a razão da perda da memória e há, aliás, uma série de resultados na revista Science: há um ano atrás tinha saído uma determinada droga que parecia remover estas placas mas este ano quatro grupos diferentes tentaram reproduzir os
resultados, sendo que três deles não conseguiram e outro apenas parcialmente. Ainda assim, considera que mesmo que as placas sejam removidas isso não terá influência na memória. JS - Qual é o rácio estilo de vida/genética no desenvolvimento do Alzheimer? AQ - Ninguém faz a mais pequena ideia. Há muito marketing à volta disso: tomar antioxidantes, tomar uma data de drogas que possam interferir na acumulação das placas... Há muita conversa. De facto, as pessoas suspeitam que haja uma componente genética, como, aliás, nas doenças dos pezinhos, que eu costumo chamar de alzheimer dos pés, em que também há uma acumulação de placas que fazem com que as pessoas deixem de ter sensação nos pés. Há também a suspeita de que haja factores ambientais, que se chama agora de factores epigenéticos, que influenciam o ligar ou desligar dos nossos genes. Isto é uma coisa que as pessoas, em geral, não percebem: em todas as nossas células, de todo o nosso corpo, temos o mesmo DNA e, no entanto, umas são de fígado, outras de pele, de osso, ou seja, as células ligam e desligam os genes que precisam no sítio certo. Portanto, saber se a certa altura é um efeito das próprias células que se estão a degenerar ou se é um efeito da produção de variantes da proteína que se depositam com mais facilidade, ninguém sabe. Gostaríamos que houvesse uma componente ambiental, e suspeito que se descobrirá que sim. Agora, se é mais importante ou menos uma que a outra, não sabemos. Só sabemos que há as duas componentes porque são as que conhecemos. Se calhar, um dia, vamos descobrir outras componentes que ainda não conhecemos e que ajudem a explicar.
26 MUITO POR CONTAR
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VÍTOR CARVALHO
“Não fui por minha vontade para a reforma” Texto: Leonor Xavier Fotografia: Rogério Martins
“Nasci numa aldeia perto de Arganil no dia 15 de Junho de 1949, os meus pais eram de lá, mas estavam em Lisboa, o meu pai tinha um táxi. Nasci em Arganil por acaso, porque naquela altura era normal as mulheres irem ter os filhos à terra. Vim para Lisboa com quatro ou cinco dias, no meu bilhete de identidade sou natural da Freguesia de Santa Catarina. Ainda ontem adormeci a pensar na evolução da minha vida. Até aos 9 anos vivi num pátio na Calçada do Combro, ao lado da Igreja, depois vim para a Rua da Paz, onde morei até me casar, quase aos 20 anos. Casei em Dezembro de 1968 e logo em 12 de Janeiro de 1969 fui para a tropa, para Elvas. No dia 21 de Maio de 1970 nasceu a minha filha, em Julho fui mobilizado para ir para Moçambique, e embarquei no navio Niassa em 21 de Novembro. Cheguei a Nacala no dia 21 de Dezembro e regressei para Lisboa a 28 de Fevereiro de 1973. Estive três anos na guerra. Pelo meio, em Setembro de 1971 vim quarenta dias de férias, para ver a filha, que já tinha um ano e picos. Quando acabei a tropa, ainda pensei em não vir para Lisboa, mas como o meu pai tinha um táxi, fiquei. Fui convidado para trabalhar em
Moçambique como electricista bobinador, na fábrica Socaju em Nacala, e também para um outro trabalho em Cabora Bassa, ainda bem que lá não fiquei, porque em 1974 dá-se o 25 de Abril e muita gente voltou. Trabalhei com o meu pai nos táxis em 1974
Eu tinha 54 anos na pré-reforma, não fui por minha vontade para a reforma. Mas convidaram-me. Ao fim de 43 anos de descontos, tinha direito ao mesmo valor do salário por inteiro. Ainda foi numa boa altura: tive os dez melhores anos dos últi-
o Francisco. Também passeio muito com eles. A mais velha ficava muito connosco, era a primeira neta. Às vezes passam os fins-de-semana, mas não pode ser de mais. Há um ditado muito antigo: “as sogras não devem vir de tamancos nem de chinelos,” o
e 1975, o meu filho nasceu em 18 de Maio de 1974. Depois fui trabalhar para os TLP, os Telefones de Lisboa e Porto que é hoje a Portugal Telecom. Fiquei até 2004, quando passei a pré-reforma e agora em Outubro de 2011 passei à reforma.
mos 15. Depois de me reformar o maior tempo que tenho é para dar apoio aos meus filhos e netos. Tenho quatro netos. O que faço? À 3ª e 5ª feira vou buscar o Matias ao colégio e vou com ele á ginástica ou vou buscá-lo à natação, nesse dia também levo
tamanco é vir de longe, o chinelo é estar todos os dias. A minha mulher trabalha dois dias por semana num consultório médico. A família para mim é o principal valor, a minha sogra é viva, tem 82 anos, mora em Almada, é raro o fim-de-semana em que não va-
mos visitá-la. A Maya ainda é minha prima. Eu leio os jornais, todos os dias compro o Correio da Manhã e leio o Diário de Notícias no café, leio também os jornais desportivos. ÀS 2as e 4as faço hidroginástica na piscina de Campo de Ourique. Tenho dois amigos que são mesmo amigos, um deles era comissário de bordo da TAP, comprou uma fazenda no Brasil, teve azar, assaltaram-no. Todas as 6as feiras almoço em casa dele, é como um irmão. Eu e a minha mulher viajamos muito. Todos os anos. No Caribe conhecemos tudo: Jamaica, Cuba, República Dominicana, Brasil,. E mais Tenerife, Espanha, Itália, França. A maior parte das vezes vamos sozinhos. Temos uma casa de férias em Arganil. Não a casa onde nasci, mas uma casa de família, que comprei a um tio meu. Sou do Sporting, lá em casa dizemos que quem vem para a nossa família tem de ser do Sporting. Estou desiludido com esta política porque esta sobrecarga de impostos está a flagelar os portugueses e não vai ter fim. Tenho muito receio em relação à Segurança Social. Não sei se daqui a meia dúzia de anos vai haver dinheiro para nós. Mas nem tudo é mau. O IPO onde tenho ido com uma pessoa da minha família é um exemplo. Tudo funciona bem. Os médicos, a enfermeiras, as auxiliares, os tratamentos.
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Segurança & Privacidade”. E isto porque me apercebi que, à semelhança das crianças e jovens, os seniores também constituem um grupo vulnerável, susceptível a muitos dos riscos online que as crianças e os jovens também podem estar expostos, mas com algumas especificidades muito próprias, nomeadamente, a exposição à fraude financeira online.
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Redes sociais, claro Mas com cuidado Estar presente numa rede social permite atenuar o isolamento, rever velhas amizades e fazer novos amigos. Mas estar online acarreta riscos, sobre os quais falámos com Tito de Morais, fundador do MiúdosSegurosNa.Net, que começa agora a trabalhar com os mais velhos e a ajudá-los a utilizar a internet em segurança. Texto: Alexandra Peixinho Abreu
A internet veio mudar para sempre a forma como comunicamos. À distância de um botão podemos ir a todo lado, pesquisar sobre todo o tipo de informação, interagir com diversos grupos de pessoas. Se com a televisão abrimos uma janela para o mundo, com a internet podemos verdadeiramente entrar e interagir com esse mundo. De forma rápida e sem sair de casa. Mais recentemente, com a criação das redes sociais, das quais se destaca o popular Facebook, tornou-se mais fácil a partilha de informação, acompanhar a
vida de familiares, reencontrar velhas amizades e fazer novos amigos. Acima de tudo, estar online permite atenuar o isolamento. Estima-se que em Portugal haja mais de um milhão de utilizadores do Facebook com mais de 50 anos, sendo que 250 mil têm mais de 65. Mas se por um lado, estar presente nas redes sociais fecha as portas da solidão, por outro há que ter em conta que quem por lá anda não está livre de riscos. Como tal, convém ter alguns conhecimentos básicos sobre segurança na internet, especialmente, segurança nas redes sociais. Tito de Morais, fundador do MíudosSegurosNa.Net – um projecto
que tem como objectivo promover a segurança online das crianças –, começou, recentemente, a focar atenção e a trabalhar com a população mais idosa. Jornal Sénior (JS) – Começou por trabalhar com a segurança online relacionada com as crianças. Por que razões sentiu necessidade de estender esse trabalho aos mais velhos? Tito de Morais (TM) – O trabalho com seniores começou na família, a ensinar alguns membros a usar o computador e a internet. Depois, sobretudo através da página do projecto MiúdosSegurosNa.Net ou do meu perfil pessoal no Facebook fui recebendo pe-
didos de conselho e ajuda sobre as mais variadas questões. Estes contactos, associados à presença e perguntas de avós em muitas das sessões de sensibilização/ formação em que participo no âmbito do projecto MiúdosSegurosNa.Net levou-me a conceber acções de sensibilização/formação especificamente orientadas para este target. Neste momento, estamos a promover dois tipos de acções: - Sessões de sensibilização: “Segurança & Privacidade na Internet Para Seniores” e “Redes Sociais & Segurança Para Seniores”; - Workshops: “Segurança & Privacidade na Internet Para Seniores” e “Facebook Para Seniores:
JS – Quais as principais dificuldades que os seniores sentem na utilização da internet? TM – O primeiro grande obstáculo que, infelizmente, ainda se verifica e que tem de ser resolvido previamente é o analfabetismo. Sobretudo nos mais idosos, ainda há quem nunca tenha aprendido a ler e/ou a escrever. Noutra fase, temos uma grande faixa da população qualificada profissionalmente, mas que nunca escreveu à máquina, por exemplo. Para esses, o teclado e o rato são o grande obstáculo. O facto de o computador permitir fazer a mesma coisa de várias formas, é também algo que, geralmente constitui um obstáculo, obrigando o formador a simplificar a abordagem. Daí que estas acções se destinem a seniores que já sejam utilizadores e que já saibam navegar na internet, usar o e-mail e programas de conversação como o Skype e redes sociais como o Facebook. JS – Quais os maiores riscos dentro da faixa etária mais sénior? TM – De uma forma geral, os riscos a que os seniores podem estar expostos online são os mesmos que enfrenta qualquer utilizador da internet. Aquilo a que chamo os 5 “Cês”: Conteúdos, Contactos, Comércio, Comportamentos e Copyright (Direitos de Autor). No entanto, os seniores são particularmente vulneráveis a conteúdos falsos ou enganadores, tais como rumores, boatos, propaganda e desinformação que exploram credulidade e ingenuidade dos seniores para se expandirem através da internet. Conteúdos indesejáveis, tais como vírus e outras maleitas, nomeadamente, as que visam a obtenção ilícita de dados pessoais. Contactos com pessoas mal-intencionadas que exploram vulnerabilidades emocionais dos seniores, geralmente para os explorarem financeiramente e, por último, fraudes ou práticas comerciais não éticas JS - Relativamente às redes sociais, quais as principais di-
Tito de Morais
Dicas para uma utilização SEGURA dA internet - Visite, verifique e compreenda como funcionam as definições de segurança e privacidade das suas contas online (e-mail, redes sociais, etc.). O que não entender, não arrisque. Pergunte a alguém em quem confia que passos deve dar. - Não forneça demasiada informação pessoal privada nos perfis que cria nas suas contas online para evitar que os seus dados possam ser usados por criminosos. Normalmente, os dados pessoais deixam escapar muita informação de caracter íntimo e esta pode ser usada para ganharem a sua confiança com má-fé. - Não abra anexos e ligações em mensagens provenientes de pessoas que não conhece, pois podem conter vírus e outros perigos que podem resultar no roubo de dados pessoais ou no uso das suas contas para fins criminosos. - Nunca envie dinheiro em resultado de pedidos de auxílio em mensagens que recebe por e-mail, mensagem instantânea,
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ficuldades que os seniores enfrentam? TM – As redes sociais concentram num único local um vasto leque de oportunidades, mas também os cinco “cês” que já referi. As principais dificuldades resultam do desconhecimento do funcionamento das definições de privacidade e segurança disponibilizados pela generalidade das redes sociais e que geralmente são complexas para os seniores. Seria muito importante que cada utilizador das redes sociais, antes de iniciar a navegação, tivesse a consciência que há alguns passos de segurança e privacidade que convém acautelar. mensagens de chat ou outras. Muito provavelmente alguém assumiu o controlo da conta de alguém da sua confiança para o enganar. Confirme primeiro por telefone. Em caso de dúvida, não arrisque. - Nunca forneça os seus dados de acesso a serviços bancários e financeiros quando seguir uma ligação, pois poderá tratar-se de uma página falsa. Para aceder a serviços bancários, financeiros e até ao e-mail e a redes sociais, faça-o sempre a partir de um atalho ou de uma pesquisa no Google. Os dados de acesso às suas contas são sempre fornecidos pelo banco, confirmados no momento de cada transacção online, não devendo por isso ser mudados. - Seja desconfiado antes de clicar. Não forneça o seu número de telefone ou telemóvel para concursos online ou em resposta a mensagens de SMS, pois provavelmente os concursos serão falsos e pode ficar subscrito a serviços com encargos regulares. - Se é bom de mais para ser verdade, então provavelmente é mentira. Não forneça os seus dados pessoais ou bancários a troco de ofertas, concursos ou pechinchas de coisas que não planeava comprar.
JS – Quais as motivações que levam os mais velhos a recorrer às redes sociais? TM – Sobretudo atenuar o isolamento a que por vezes estão sujeitos. O contacto com familiares distantes, reencontrar velhas amizades e fazer novos amigos são, por ventura, as principais motivações. O entretenimento proporcionado pelos jogos também são uma motivação importante e aí vemos muitas vezes avós a usar os jogos para socializar online com os netos. A publicação de fotos, vídeos e a partilha, entre amigos, de momentos agradáveis das suas vidas também são uma motivação.
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Benefícios das redes sociais - Aumentar sociabilidade e paz de espírito, mantendo-se em contacto com família e amigos, estejam ou não distantes geograficamente. Criação de novas amizades. - Partilha de momentos agradáveis com familiares e amigos, através da partilha de textos, fotos e vídeos. Não se esqueça das definições de privacidade que lhe permitiram apenas mostrar o que quiser a quem quiser. - Sentido de pertença a uma comunidade, através da participação em grupos, ajudam a promover uma cidadania activa e a combater a depressão. - Oportunidades de aprendizagem, aquisição de novas competências, educação e exercício intelectual. - Partilhar experiência e conhecimento com outras gerações. - Poupanças resultantes do usufruto de ofertas, promoções, cupões e descontos online desde que se certifique que as páginas não são falsas.
Consultório Rodoviário ACP
Renovação das Cartas de Condução
CONTEÚDOS ACP
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Provavelmente muitos condutores circulam com a carta de condução caducada sem o saber, porque não a renovaram dentro dos prazos obrigatórios. Desde 2008, a lei alterou as datas de revalidação das cartas de condução. Para que não tenha más surpresas, verifique se a sua carta está válida. Caso contrário, e na pior das hipóteses, pode ter que voltar à escola e tirar a carta como se fosse a primeira vez. Quando tenho que renovar a carta? Quando completar 50 anos, depois aos 60, aos 65, aos 70 e, posteriormente, de dois em dois anos. Estas são as regras em vigor, a partir de 2008. O que me acontece se não revalidar dentro dos prazos previstos? A carta perde a validade. Quais são as penalizações? São várias e dependem do tempo em que a carta estiver caducada. E se estiver caducada há menos de dois anos? É considerado uma contra-ordenação, pode ter que pagar uma multa entre 120 e 600 euros. Se for há mais de dois anos e menos de cinco? Nesse caso é como se a carta não existisse, sendo, portanto, considerado crime. Se for fiscalizado pelas autoridades pode ser detido e alvo de um processo-crime com pena que pode ir até dois anos de prisão e pagamento de uma multa até 240 dias. Para voltar a conduzir terá que tirar novamente a carta através de um exame por auto propositura - que dispensa a inscrição numa escola de condução – onde são avaliados os seus conhecimentos sobre o Código da Estrada durante um exame prático. E se for há cinco anos ou mais? A solução é regressar a uma escola de condução e repetir todo
o processo de aprendizagem, como se fosse tirar a carta pela primeira vez. Que tipo de documentos tenho que juntar ao processo de renovação da carta? Antes de mais, convém ter os seus dados atualizados. No momento de a renovar, junte uma fotografia a cores recente, o bilhete de identidade e cartão de contribuinte, ou cartão de cidadão. Tenho que ir ao médico? Sim, porque a revalidação da carta implica sempre a realização de exames médicos onde se avaliam as condições físicas e mentais do condutor. Como são esses exames? De forma global, incidem sobre os antecedentes clínicos dos condutores nomeadamente doenças cardiovasculares, diabetes, perturbações do foro psicológico e doenças do foro neurológico. Consta que o tempo de espera para realizar esses exames médicos é longo, atrasando todo o processo de renovação da carta. No ACP, não. Os sócios não correm esse risco porque contam com um grupo médico alargado que dá resposta a todas as solicitações, sem demoras. Graças a um atendimento rápido e personalizado, em menos de uma hora, os serviços de documentação do clube tratam da renovação da carta e, no final, os sócios saem com uma guia válida para poderem conduzir em Portugal.
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Vêm aí os russos!
O momento em que Eusébio converte o “penalty” contra a URSS no Mundial-66
Bronze de Londres e prata do Rio sempre à conta da União Soviética TEXTOS Rui Tovar A propósito deste confronto decisivo, curioso será recordar os anteriores duelos com a URSS e, mais tarde, Rússia, de quem nos mantivemos afastados (futebolisticamente, claro), durante largo tempo. O primeiro contacto entre as duas federações, mesmo considerando as provas de clubes da UEFA, foi o célebre jogo para o Mundial-66, que nos valeu a conquista do 3º lugar na importante competição. O feito, de tão profundo significado, faz parte hoje do nosso património competitivo e até as gerações que não o viveram de perto têm dele, pela sua permanente evocação ao longo dos anos, perfeito conhecimento. O triunfo sobre a então União Soviética (2-1) constituiu a justa compensação, depois dos influentes e muito britânicos jogos de bastidores que forçaram à realização do encontro com a Inglaterra em Londres, quando o mesmo estava aprazado para Liverpool, onde a nossa selecção já se encontrava. Foi uma equipa nacional já de rastos, com cinco jogos (aquele seria o sexto) em 15 dias, que de-
frontou a URSS do guardião Yachin, principal obreiro das grandes proezas do futebol soviético da década de 60. E logo aos 10’, foi possível assistir-se à grande manifestação de “fair-play” protagonizada pelas duas maiores figuras em confronto, quando Eusébio, depois de ter batido o “aranha negra” na transformação de uma grande penalidade, saudou efusivamente o seu adversário, que, de imediato, lhe retribuiu o cumprimento. Um gesto que, face à indisciplina e até violência que tinham caracterizado boa parte dos outros jogos, foi devidamente sublinhado na altura como exemplo a seguir. A URSS ainda chegou ao empate mas, no 2º tempo, Portugal garantiu a vitória com um golo de Torres, mesmo ao “fechar da loja”, apesar da periclitante condição física de quase todos os “Magriços”, cujos responsáveis técnicos não apostaram na rotatividade do plantel (dos 22 convocados para o Mundial, só 15 foram utilizados). Como se não bastasse já o inconveniente de os regulamentos então vigentes não autorizarem substituições... A onda de euforia pela selecção que percorreu o país nesse inesquecível ano de 1966 só encontrou paralelo com a carreira vitoriosa da equipa nacional no Mundialito de 72 organizado pelo Brasil. Nessa altura, o país irmão comemorava os 150 anos
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Ainda não se apagaram os ecos de uma época desconcertante e já as baterias apontam para nova frente de combate, com a Rússia, desta vez, por alvo. É isso, o tempo é agora de selecções e a nossa não faz a coisa por menos: os russos! Não que não tenhamos experiência para nos confrontarmos com o colosso de leste em matéria de futebol, o balanço entre ambos até nos é favorável, mas uma coisa é o currículo, o histórico como agora se diz, outra, bem diferente, é a actualidade, o tempo presente, que é o que conta e que está longe de se mostrar de feição. Falamos, claro, do apuramento para o Campeonato do Mundo de 2014 a cumprir no Brasil, para cuja fase final o nosso adversário parece cliente já garantido. Mas enquanto a Rússia está quase lá, nós, bem ao nosso jeito, nem cá nem lá estamos, antes pelo contrário, consumados que estão alguns deslizes que nos atiraram para este limbo classificativo que só um “play-off” a preceito é capaz de nos redimir. Este jogo que agora se avizinha vai, pois, ser de primordial importância com vista ao nosso futuro na prova e a sorte é que, Rússia à parte, não temos mais ninguém a incomodar-nos seriamente, se excluirmos Israel (quem diria?), com quem, de resto, empatámos em Telavive. Se a lógica imperar nesta ponta final e a inspiração e talento não nos abandonarem de vez, o factor-casa pode ajudar-nos a chegar ao tal 2º lugar, que ainda permite sonhar com a travessia do Atlântico e reeditar a saga de Cabral. Ora aí está um belo eufemismo para dizer, tout court, que ainda temos francas hipóteses de ir ao Mundial. RT
Eusébio e Yashin: uma amizade entre “gigantes” que extravasou os relvados
de independência, desde que D.Pedro IV, lá das margens do Ipiranga, soltara o histórico grito de insurreição que conduziria à autonomia do território e à coroação do mesmo D.Pedro como 1º Imperador do Brasil. Para festejar tal evento, a Confederação Brasileira de Desportos levou a cabo respeitável certame, com 20 selecções participantes, mais do que qualquer Taça do Mundo então comportava, mas ao qual aplicou o rótulo de “Mundialito”, um diminutivo que só a modéstia dos organizadores poderá explicar. A partida com a URSS foi a sétima, última da 2ª fase, depois de carreira invulgarmente vitoriosa de que o empate com o Uruguai surge como excepção. Outro empate com os soviéticos já dava para chegar à final, mas a
equipa portuguesa fez questão de se transcender, arrancando nova vitória, com um golo de Jordão, que atirou Portugal para o jogo mais desejado, com o Brasil. Liderada por José Augusto, a selecção tinha por base a equipa do Benfica e era reforçada com Peres e Dinis, além de Laranjeira e Mourinho. De todos eles, apenas Jaime Graça, Eusébio e Peres estiveram presentes em 66 e 72, embora Peres não tenha sido utilizado em Inglaterra. Para lá da excelente atitude competitiva, foi notícia também a forma como os repórteres radiofónicos brasileiros trouxeram até nós o som dos jogos, em relatos pitorescos que marcaram uma época e fizeram escola. E com a vitória nos Brasis, Portugal passava, nas estatísticas, a vencer a URSS por 2-0.
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DOIS JOGOS QUE VI DE PERTO
Chalana é derrubado por Borowski no jogo da Luz DR
Jordão engana Dassaev e garante o apuramento para o Euro-84
so em relação à URSS. Nesse dia 13 de Novembro de 83, o Estádio da Luz rebentava pelas costuras. O triunfo de Portugal garantia-lhe o passaporte para França e o ambiente era de grande tensão. Apesar de não ter trazido adeptos, a selecção soviética tinha a apoiá-la reduzida mas ruidosa falange, empunhando uma tarja onde se dava conta da “solidariedade internacional”. Noutro sector da bancada, um cartaz rezava “South Korea Airlines: Bum!”, assim recordando o grave incidente de meses antes quando a força aérea soviética abatera um avião sul-coreano, num gesto de bem pouca solidariedade. Quanto ao jogo, Portugal foi superior desde o início. Com o quarteto defensivo do FC Porto (João Pinto, Eurico, Lima Pereira e Inácio) e o meio-campo do Benfica (José Luis, Carlos Manuel e Chalana), além de Jaime Pacheco, a nossa equipa apostou no ataque, para o que contou com o enorme talento de Jordão e Gomes. Aos 41’, Chalana foi carregado por Borowski e o árbitro, o francês Georges Konrath, assinalou de pronto a grande penalidade que Jordão, sem dar hipóteses a Dassaev, converteu no único golo da partida. (A TV
viaria ainda, já na 2ª parte, uma bola ao poste). Os últimos minutos foram de autêntica histeria. Toda a equipa técnica (Cabrita, José Augusto, Toni e Morais) não parava de olhar para os relógios, os seus e o do estádio, e todos berravam instruções, Toni negava-se, antes do apito final, a avançar com considerações ao repórter de serviço em campo (que era este que se assina), sob o argumento de que “dava azar” e Lobanovski, colérico, no outro banco, gritava ordens para dentro do campo sem parar. Quando Konrath apitou para o final, foi grande a festa entre a família portuguesa. Era o 1º apuramento para um Campeonato da Europa. Lobanovski, que, antes, se recusara a falar à RTP, manteve essa atitude logo após o jogo (nessa altura não havia, como hoje, as conferências de imprensa), delegando a confirmação num antipático senhor de gabardina, apesar das insistências em cirílico do Carlos Fino, que me acompanhava, em o demover. Assim, e perante a escassa informação prestada pela equipa soviética, foi forçoso referir, à laia de justificação, que aquela fora toda a verdade a que tivéramos direito. E foi mesmo. RT
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A RTP permitiu-me que assistisse ao vivo e bem por dentro aos dois jogos com a URSS para a fase de qualificação do Euro84. Lembro-me até de ter entrevistado em estúdio o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Romão Martins, logo após o sorteio que nos atribuiu, para além da União Soviética, a Polónia e a Finlândia como adversários. Para aquele dirigente, à nossa selecção não restava qualquer hipótese de apuramento e, confesso, fiquei perplexo perante tamanha descrença, pese embora a dificuldade da empresa. Se o excesso de confiança é atitude que nunca prezei, a total falta dela também sempre se me afigurou pouco recomendável. Para o desfazer das dúvidas, que avançassem as tropas! O primeiro encontro foi em Moscovo, em Abril de 83. Para um jogo a disputar na 4ª feira, a saída verificou-se no sábado (!), com escala e dormida em Zurique e chegada ao hotel da capital soviética no domingo ao fim da tarde, após largas horas no controlo alfandegário do aeroporto. Era o tempo em que a selecção de Esperanças acompanhava a equipa principal nestas deslocações, já que actuava no dia anterior para o “Europeu” da respectiva categoria. A permanência em território soviético prolongou-se, pois, por tempo demasiado e disso se queixaram os jogadores. Problemas com a alimentação (a tal falta de fruta – mas fruta mesmo, daquela que se serve à mesa – reclamada por Bento) até à ausência de condições mínimas de apoio (os jogadores não puderam desfrutar dos habituais banhos e massagens após as sessões de treino) foram algumas das lacunas que afectaram a equipa. O que, naturalmente, não serviu de desculpa para a fraca exibição produzida, bem expressa na pesada derrota por 0-5 e que levou mesmo a acaloradas trocas de acusações entre treinador e jogadores. O ambiente então criado acabaria por apressar o abandono de Otto Gloria como técnico principal, o que se verificaria dois meses depois.
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Da goleada de Moscovo à grande festa da luz
SALDO É POSITIVO
Um trio de respeito: José Henriques, o guarda-redes no Mundialito-72; Fernando Cabrita, o técnico principal no Euro-84; e Eusébio, a grande figura do Mundial-66. A União Soviética ainda não os terá esquecido.
Mas nem tudo estava perdido. Um triunfo em casa, ante a Finlândia, e outro, em Wroclaw, com a Polónia, colocaram Portugal às portas do apuramento. O técnico soviético Lobanovski, temendo o desfecho, tinha-se
oferecido para orientar a equipa polaca, pretensão que fora de imediato rejeitada. E foi entre rumores de algum facilitismo da Polónia no jogo com Portugal que os nossos chegaram ao dia D com apenas um ponto de atra-
mostraria, depois, que a falta se registara, sim, mas fora da área e o próprio juiz acabaria, mais tarde, por reconhecê-lo. Seria, contudo, um triunfo merecido, uma vez que Portugal não abrandou o ritmo e Jordão, sempre ele, en-
Ao cabo de oito jogos realizados com URSS/Rússia, o balanço é francamente positivo. Se frente à URSS o total apresenta três vitórias contra uma derrota, com a Rússia por adversária os números são igualmente favoráveis (duas vitórias, um empate e uma derrota). Até nos golos a selecção nacional conseguiu, vinte e três anos depois, a desejada retificação. Aos 0-5 de Moscovo replicou com 7-1 no apuramento para o Mundial-2006. E como na fase final do Euro2004 também vencemos os russos (2-0), só falta ver se a tendência agora se confirma com uma resposta adequada ao 0-1 da primeira volta.
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José Canelo, atleta veterano
“Ele aí vai. Tic, tic, tic” Tínhamos ouvido falar dele. Que ganhou todas as provas de atletismo veterano. Dentro e fora do País. Que vive no Entroncamento, terra de fenómenos. Que fala “pelos cotovelos” e que o olhar lhe brilha sempre que conta a história de cada medalha. Fomos ao seu encontro e apanhámo-la na estrada, equipado a rigor, a correr com a ligeireza de quem se recusa ceder à idade. Durante a conversa confirmamos a “língua solta” e o olhar aceso. Texto: Maria Assunção Oliveira Fotografia: Rogério Martins
“Ninguém acredita na idade que tenho”. Resposta enviesada à pergunta sobre a idade que carrega nas pernas. “Vai chamar-me mentiroso, mas já são 88 anos e nas corridas ninguém consegue ganhar ao José Canelo”, diz este atleta veterano. E quanto às origens faz questão de ser preciso: “Toda a gente diz que sou do Entroncamento. Pois não sou. Só de coração, porque a terra que me viu nascer foi Elvas”. Primeiro esclarecimento de José Canelo, que da vida tem uma memória cronológica e cheia de detalhes. “Sou por isso alentejano. Criado por pais pobres e órfão de mãe muito novo”. E acrescenta que foi a vida dura do pai – homem do campo – que o levou a pegar nos livros e querer ser alguém na carreira militar. O primeiro na sua classe, se possível. “Tinha necessidade de ser o melhor. Sem mãe e com o meu pai a trabalhar de sol a sol para levar seis escudos para casa, esforcei-me por ter uma vida melhor. Agarrei-me à vida militar. Nos exames finais fui o primeiro classificado. Ganhei o gosto pela vitória”.
“As botas pesavam mais do que eu” Foi parar ao Entroncamento contra vontade. “Coisas internas da tropa. Ao princípio não queria vir para aqui, mas por cá fiquei a cumprir o meu dever”. Conta que o melhor dia da semana era a sexta-feira: dia de educação física. “O comandante, Milton Borges, é que me puxou para o atletismo. Ele e um alferes médico que era doente pelo desporto. E foi assim que comecei, há precisamente 51 anos, a competir nas provas militares de corta-mato. Tinha de correr com a farda. As botas pesavam mais do que eu. Estávamos em 1962 quando apanhei esta mania.” Um vício, que lhe ficou para vida: o de ir ganhando terreno, de deixar todos para trás e ser o primeiro a cortar a meta. “E depois são as palmas, o carinho de quem nas bancadas me agradece o esforço, o suor. As palmadas nas costas.” Não é para menos. José Canelo detém um palmarés invejável, parte dele conquistado na idade sénior. Além do recorde mundial dos 3.000 metros em pista coberta – alcançado em 2010 na Bélgica – exibe na estante da sala muitas medalhas e troféus que lhe contam a história desportiva: campeão
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Campeão mundial, no escalão M85, nos 8km de corta-mato, 10.000, 5.000 e 1.500m e campeão da Europa de veteranos nos 800, 1.500, 5.000 e 10.000 metros. mundial, no escalão M85 (maiores de 85 anos), dos 8km de corta-mato, 10.000, 5.000 e 1.500 metros e campeão da Europa de veteranos dos 800, 1.500, 5.000 e 10.000 metros. “Tomei-lhe o gosto. Não há quem me apanhe. Assim que dão o sinal, ele aí vai, tic, tic, tic, direitinho à meta”.
“E canto e choro, porque me comove a ouvir ‘A Portuguesa’” Diz que o segredo está no controlo da respiração. E na cabeça vazia de preocupações. E conta que a corrida mais custosa terá sido a primeira que fez fora do País. “Quando me disseram que ia à Hungria, disse logo que não”. Tinha medo do avião. Nem na tropa se fez às nuvens. “Vim de Angola de navio, 30 dias de viagem. Mas lá de avião é que não”. Mas foi à Hungria, em 2010, rendido à ambição de se sagrar o melhor, também lá fora. Trouxe quatro medalhas. As que havia para trazer. “Ninguém reparou que as pernas me tremiam”. As mesmas que lhe corresponderam no ânimo e na vontade de ganhar. E passou-lhe o medo de voar. Bélgica, Alemanha, Grécia, Estados Unidos, Espanha, são alguns dos países onde já correu e de onde trouxe troféus e títulos. Países onde fez ouvir o nosso hino nacional, vezes e
são. Comecei tão novo a descontar para a Caixa Geral de Aposentações, levei uma vida inteira de descontos e agora é tirar, é tirar, é tirar.
“Tenho genica e vontade de ir mais longe” vezes sem conta. “Eu represento Portugal como qualquer atleta. Levo a nossa bandeira ao céu quando subo ao pódio. E o Hino. E canto e choro, porque me comove a ouvir ‘A Portuguesa’. Diga-me lá se não é triste que ninguém nos ajude com um patrocínio?” Sem apoios, sem patrocinador vale-lhe o reconhecimento da ANA – Associação Nacional de Atletismo Veterano e o empenho do clube regional que representa, o CLAC - Clube Lazer, Aventura e Competição, do Entroncamento. Terra que o acolheu como seu. Que já lhe deu prova de orgulho ao homenageá-lo, atribuindo o seu nome a uma nova pista de atletismo com seis faixas para corridas de velocidade, uma pista de saltos e uma área para lançamento do peso. “Foi muito bonito o que me fizeram”. É ali que treina. Três vezes por semana, que o médico proibiu as corridas diárias desde que a próstata lhe fez das suas. “Mas fora essa coisita que me apareceu na altura, estou fino. Vou ao médico uma vez por ano fazer a revisão. Como os carros. Não tenho segredos, não faço dietas, não tomo medicamentos, nem suplementos. Sou saudável, no que os 88 anos me deixam. Não me posso queixar”. Durante as corridas diz que pensa na vida. “Com alegria, que eu sou muito positivo. Só ando meio triste agora por causa dos cortes na pen-
Outros desgostos? Diz terem sido poucos, ainda que a vida fosse de trabalho e de luta. “A morte da minha Lurdes foi o pior deles. Foi há 25 anos”. Velou na doença da mulher. Colou-se na ilharga da cama até que a levaram para o cemitério. “Aprendi, nesses seis meses de doença, a cozinhar, a fazer a lida da casa. Porque tinha um neto para criar. E não lhe falhei. Foi nos estudos até onde ele quis. Disse-lhe que comeria uma sopa alentejana todos os dias para lhe pagar os livros, mas que se andasse a passeá-los, acabava-se. Hoje é arquitecto. Tenho outro, gestor, mas está com a mãe em Lisboa. Precisou menos de mim, embora também o ajudasse”. Diz ter motivos para ser feliz, para estar satisfeito com o que a vida lhe destinou. “Tenho genica e vontade de ir mais longe. Às Olimpíadas de Veteranos ainda este ano, se lá chegar. A todas as provas onde me chamarem. Até que me falhem as pernas. Até que me falte força”, remata. Despedimo-nos. Calcorreamos três quarteirões de ruas até ao local onde havíamos deixado o carro de reportagem. Ainda não tinha deitado a mão à chave aparece José Canelo, em passo de corrida, ligeiro e sem esforço com um telemóvel na mão: “Esqueceu-se do seu telemóvel menina. Estava a ver que tinha que correr até Lisboa. E ia!” Não duvidamos.
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Participou nos primeiros Campeonatos Europeus de Veteranos, marcou presença em competições europeias de Ar Livre, Campeonatos do Mundo de Ar Livre, Mundiais e Europeus de Pista Coberta. E em todas arrecadou medalhas.
Adriano Gomes, atleta veterano
Um verdadeiro cavalheiro Adriano Gomes tem 90 anos e uma altivez na postura só, habitualmente, reconhecida a gente nova. É um atleta. E o verbo ser conjuga-se orgulhosamente no presente já que ainda compete. Ainda pratica atletismo. Cá e lá fora. E ainda traz medalhas para casa. Para nós. Texto: Maria Assunção Oliveira Fotografia: Rogério Martins
Nasceu em Janeiro de 1923, em Lisboa. Passou a infância na quinta dos avós em Sacavém e mudou-se para o centro da cidade aos 10 anos para concluir a 4ª Classe. Aos 11 anos começou a trabalhar no restaurante da família e deixou a escola. Tinha porte atlético, era ágil de pernas e possuía a resistência física que a adolescência imprime. O gosto pelo desporto levava-o a ler jornais, a percorrer as páginas desportivas, a sonhar como as competições. Levado pela curiosidade de ler os matutinos, com 15 anos viu um anúncio no jornal: Sport Lisboa e Benfica – o seu clube do coração - ia organizar uma prova de captação de Atletismo para formar uma equipa de corta-mato. “Não era tarde nem era cedo. Decidi participar”. E fê-lo com ganas de quem queria mostrar valor. Acabou a prova em sexto lugar, de entre
mais de 40 participantes. Por ser menor não pôde federar-se. Primeiro desgosto. Restava-lhe esperar, paciente, pela maioridade. Porém, os treinadores do Benfica convidaram-no a entrar no clube e manter-se a treinar esses três anos até poder participar em provas oficiais. “Valeu-me ainda a possibilidade de me tornar sócio do Benfica. Estávamos em 1939”.
“Apanhei o jeito e só pensava nas medalhas” Finalmente, aos 18 anos, Adriano faz a sua estreia oficial. Numa prova de 700m consegue um honroso segundo lugar e obteve, ainda, a primeira vitória na prova de estafeta de 3x700m. Seguiram-se os primeiros títulos nacionais no Campeonato Nacional de Principiantes, nos 1.000m e na prova de estafeta 3x1000m. “Estava lançado. Apanhei o jeito e o gosto na linha da frente e só pensava nas medalhas”, afirma orgulhoso.
Aos 21 anos a vida militar estragou-lhe os objectivos. “Aquilo só ia servir para me atrasar. Pensei que se me portasse bem e me dedicasse a sério me libertassem dos deveres”. E assim aconteceu. Saiu da tropa após 10 meses, graças ao bom comportamento e com dois louvores. Atleta nas horas vagas, Adriano não deixava de cumprir as suas obrigações no restaurante dos pais. Mas o fito era o atletismo, era a internacionalização, que acabaria por chegar num encontro Portugal vs. Bélgica, tendo sido seleccionado para competir em 800 e 1.500m. Aos 26 anos desviou atenções das corridas e colocou olhos naquela que diz ser “a mulher da sua vida”. Felisbela Pontes seguia-o nas bancadas e o namoro acaba em casamento. Até hoje. Dele resultaram duas filhas, quatro netos e dois bisnetos. “Era um homem lindo, alto, de olhos azuis muito vivos. As raparigas andavam de olho nele mas fui eu quem conseguiu agarrá-lo”, diz Felisbela com ar altivo. Companheira de vida e de ambições, incentivou-o aos 30 anos a tirar um curso de massagista. No Benfica, claro. Aos 33 anos passou para a secção de Hóquei em Patins e deixou de ter tempo para poder treinar atletismo, retirando-se da modalidade. “Tinha uma família a cargo e precisava de me dedicar a coisas mais sólidas, que me permitissem levar dinheiro para casa. As medalhas eram acessórias”, conta. Mas fica a história de um percurso. Um palmarés digno de registo. Foi recordista de Portugal da Estafeta Olímpica (800400-200-100) com Matos Fernandes, Eugénio Euleutério e Tomás Paquete. Foi Campeão Regional e Nacional várias vezes, tanto individual como colectivamente representando sempre o S.L. Benfica. Representou Portugal em competições internacionais. Como desportista e amante de várias modalidades, manteve-se activo e experimentou o andebol e o râguebi, onde também conquistou títulos de Campeão Nacional e Regional.
Massagista do corpo de bailado da Gulbenkian Ganhou fama de bom massagista e o seu nome ultrapassou o meio desportivo. Em 1958 foi convocado para tratar uma estrela internacional de Ballet inglesa, integrada no corpo de bailado da Fundação Calouste Gulbenkian, que se encontrava lesionada e corria riscos de não poder actuar. Adriano “deitou-lhe as mãos” e conseguiu que o bailarino brilhasse numa actuação “memorável”, como gosta de recordar. “Fiz um bom trabalho com ele, de tal forma que fui convidado pessoalmente pelo Dr. Azeredo Perdigão, o presidente da Fundação Gulbenkian, para começar a trabalhar nesta área”. Torna-se assim o único massagista responsável pelos corpos de Ballet Clássico e Moderno da Fundação. Mas outras figuras lhe passaram pela marquesa, entre elas, o antigo Presidente da República Américo Tomás, Eusébio e Coluna. Corridas, só nos tempos livres e nas férias. Mas o gosto ficou e levou-o, já sénior, a fundar o Clube de Veteranos de Atletismo, ac-
tual Associação Nacional de Atletismo Veterano (ANAV). Corria o ano de 1969. Voltou às pistas com 46 Anos. Nunca mais parou até hoje, com 90 anos. Participou nos primeiros Campeonatos Europeus de Veteranos, em Itália, marcou presença em competições europeias de Ar Livre, Campeonatos do Mundo de Ar Livre, Europeus de Pista Coberta e Mundiais de Pista Coberta. “Guardo com carinho todas as medalhas que recebi. E foram muitas”.
“Sou na essência um desportista” Aos 83 anos, a idade pregou-lhe uma partida e por conta de uma hérnia inguinal nunca mais correu como antes. “Mas não deixei o atletismo. Em 2009, o Benfica decidiu constituir uma equipa master de Atletismo e fui o primeiro a inscrever-me e a competir pelo meu clube”. Recentemente, participou como atleta no escalão M90, no Campeonato Europeu de Atletismo Veterano, em S. Sebastian, Espanha. Venceu duas medalhas de prata nos dois últimos dias de competição, na final de lançamento de dardo e em arremesso de peso. Contou ainda com um segundo lugar nos 3.000 metros e arrecadou uma medalha prateada no lançamento de martelo e do dardo. “Já não sou o que era, porque a idade não perdoa. Mas sou na essência um desportista, um atleta. E um bom atleta”. Refere-se ao reconhecimento internacional de “pessoa de excepção” assente no Prémio Fair Play da Associação Europeia de Veteranos. Um prémio justo a um verdadeiro cavalheiro que dedicou a sua vida ao desporto. O episódio conta-se rápido: Nos campeonatos europeu de ar livre, realizados na Hungria, Adriano Gomes terminou em 3º lugar na prova do Martelão M85 com 8,28m ficando a 22cm dos 8,50m exigidos para ter direito ao Bronze. Os juízes não se aperceberam do facto e chamaram-no ao pódio para receber a medalha. Após a cerimónia, o atleta apercebe-se que não tinha feito a marca mínima exigida e por iniciativa própria foi devolver a medalha à organização. “Honestidade, acima de tudo”, afirma aprumado. Decidiu o comité que seria Adriano Gomes a receber o Prémio de Fair Play respeitante a 2010.
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34 DESPORTO ACTUALIDADE
JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Vieira resiste às pressões e segura Jorge Jesus no Benfica
José Mourinho certo no Chelsea por quatro anos DR
Jorge Jesus vai continuar a ser o treinador da equipa de futebol sénior do Benfica. Apesar do colapso dos encarnados no final da época (perderam, em três semanas, a Liga Europa, o campeonato nacional e a Taça de Portugal), Luís Filipe Vieira, presidente do clube da Luz, manteve-se determinado em não ceder às pressões de quem pretendia um novo técnico para o emblema de Lisboa e decidiu renovar o contrato com Jorge Jesus. Este último já assinou um novo vínculo com o Benfica válido para as próximas duas temporadas. Em quatro anos, Jesus conduziu os encarnados à conquista de um título nacional e ao triunfo, em três ocasiões, na Taça da Liga. De saída da Luz deverá estar o avançado paraguaio Óscar Cardozo, que empurrou Jorge Jesus após a derrota na final da Taça de Por-
Breves
Neymar é a nova estrela do campeão Barcelona
Presidente do clube da Luz mantém a confiança no actual técnico, que já renovou até 2015
tugal (1-2) frente ao Vitória de Guimarães, no Estádio Nacional, no Vale do Jamor. Alguma imprensa tem vindo a garantir
que Jorge Jesus não conta com Óscar Cardozo no plantel do Benfica para o biénio 2013/2014.
DR
timas semanas, o clube portista encaixou 70 milhões de euros com a venda dos passes, ao Mónaco, de França, do médio internacional português João Moutinho e do extremo, este internacional colombiano, James Rodríguez. Num outro campo, e no que diz respeito a reforços, o FC Porto já assegurou, para a temporada 2013/2014, as aquisições de Josué (ex-Paços de Ferreira), Licá (ex-Estoril), bem como do jovem mexicano Diego Reyes, um promissor defesa-central.
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Bruno de Carvalho promete “mudança” e apresenta Jefferson Jefferson, defesa-esquerdo brasileiro de 24 anos, que em 2012/2013 se notabilizou com a camisola do Estoril, foi já oficialmente apresentado como reforço do conjunto de futebol sénior do Sporting para 2013/2014. Uma das questões do momento, em Alvalade, envolve o jovem extremo Bruma, mais um dos talentos da formação dos verdes e brancos que é, já, muito cobiçado por clubes
estrangeiros. Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, parece não querer facilitar a saída de Bruma, cuja renovação passa, nesta altura, por um impasse. Em 2012/2013, o “supersónico” Bruma mostrou toda a sua classe e potencial ao serviço dos seniores dos leões, então sob o comando técnico de Jesualdo Ferreira, entretanto já substituído por Leonardo Jardim.
O Sporting sagrou-se vencedor, pela 14.ª vez no palmarés, da Taça de Portugal de andebol. Os leões derrotaram na final da competição, em Tavira, Algarve, no domingo, dia 2 de Junho, o campeão nacional FC Porto por 30-28, após prolongamento.
Benfica e Sporting em vantagem no futsal
Benfica campeão europeu de hóquei em patins no Dragão
Defesa-esquerdo brasileiro, presidente do Sporting e Augusto Inácio, este de regresso a Alvalade
Neymar, avançado internacional brasileiro, ex-Santos, assinou contrato com o Barcelona, campeão espanhol de futebol, até 2018. Aos 21 anos, o passe de Neymar custou 57 milhões de euros ao clube catalão. O astro canarinho já foi apresentado, entretanto, perante quase 60 mil pessoas e em pleno Camp Nou, o estádio do Barça.
Sporting conquista Taça de Portugal em andebol
Pinto da Costa mantém a dúvida quanto ao nome do treinador do FC Porto A pergunta impõe-se, desde logo: Quem será o treinador principal do tricampeão nacional FC Porto para a próxima época desportiva 2013/2014? Será Vítor Pereira, um outro técnico, estrangeiro, ou mesmo um outro treinador português? Uma dúvida que só será desfeita nos próximos dias. Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente dos dragões, já revelou publicamente que o nome do próximo treinador principal da equipa de futebol dos azuis e brancos será anunciado “até ao dia 12 de Junho”. Nas úl-
Os rumores deixaram de o ser e transformaram-se, nos últimos dias, numa certeza. O treinador português José Mourinho deixou o Real Madrid, de Espanha, e está de regresso a Inglaterra e ao Chelsea, clube londrino com o qual firmou um contrato válido por quatro épocas.
Depois do Sporting, do FC Porto e do Òquei de Barcelos, o Benfica tornou-se, no passado dia 2 de Junho, domingo, na quarta equipa portuguesa de sempre a conquistar o título de campeão europeu de hóquei em patins (Liga Europeia). Na casa do rival FC Porto, o Dragão Caixa, os encarnados da Luz, treinados por Luís Sénica — que recentemente tinham perdido naquele mesmo rinque o título de campeão nacional da modalidade, precisamente para o FC Porto —, derrotaram o conjunto portista por 6-5, após prolongamento e graças a um golo, “de ouro”, da autoria do hoquista João Rodrigues, no seguimento de um primeiro remate de Diogo Rafael. Dezoito anos depois, o Benfica regressou à final da mais importante prova europeia de clubes e conseguiu, assim, na cidade Invicta, garantir a conquista da primeira Liga Europeia da modalidade na história do emblema lisboeta.
O Benfica, campeão nacional em título, e o Sporting, vencedor da fase regular do nacional, estão a uma só vitória de se qualificarem para a final do play-off do campeonato português de futsal. No sábado, dia 1 de Junho, os encarnados derrotaram, em Vila do Conde, o Rio Ave, por 5-2, enquanto os leões, por seu turno, foram ganhar de forma clara ao pavilhão do Fundão por 6-1.
Pilotos portugueses dão cartas no estrangeiro Miguel Oliveira, piloto português, alcançou no último domingo, em Mugello, no Grande Prémio de Itália na classe de Moto 3, o melhor desempenho de 2013, até ao presente, no Mundial, ao concluir a corrida na quarta posição. Um outro português, António Félix da Costa, encontra-se no terceiro lugar da classificação do campeonato World Series By Renault 3.5. No último fim-de-semana, dias 1 e de 2 de Junho, respectivamente, o piloto obteve um segundo e um quarto posto nas duas corridas que tiveram como palco o circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica. A World Series By Renault 3.5 é a rampa de lançamento rumo à Fórmula 1, a disciplina máxima do automobilismo mundial.
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36 AMIGOS FIÉIS
Parasitas, golpes de calor, desidratação e escaldões são alguns dos riscos
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
Cuidados especiais a ter no Verão
O Bobi e a Tareca adoram o Verão: ele fica feliz com os passeios mais longos, ela fica a torrar ao sol durante horas. Mas com o calor vem também a maior proliferação de parasitas como pulgas, carraças e mosquitos, causadores de doenças graves e potencialmente fatais. O calor, a maior necessidade de hidratação e a exposição solar excessiva também são preocupações a ter nesta altura do ano. Prevenir é simples.
Texto: Filipa Faustino Arenga
Pulgas Coça, coça, coça... Quando os vemos coçar-se e mordiscar-se sem consolo pensamos de imediato em pulgas. As pulgas podem ser responsáveis por mais que comichão, sendo que já esta é preocupante, estando ligada a um nível elevado de stresse: as constantes picadas podem diminuir o apetite, a qualidade do sono e o humor dos animais, entre outros. Sendo as pulgas parasitas que subsistem do sangue sugado dos outros animais, podem também ser motivo de anemia grave. Para além disto, tanto cães como gatos podem ser alérgicos à saliva do parasita, levando ao aparecimento de dermatite alérgica, ou seja, uma inflamação da pele, muito desconfortável. Por fim, as pulgas podem transmitir outros parasitas, como as ténias, que têm um impacto muito negativo na saúde do Bobi e da Tareca.
Prevenção: • Mantenha os animais protegidos com soluções tais como coleiras anti-pulga, sprays ou gotas de aplicação na pele; • Aja de imediato se reparar em sintomas de infestação, aplicando um produto específico no animal e desinfestando locais de propagação, como camas e sofás; • Tenha especial atenção à cama e locais de repouso dos animais, onde os ovos
podem ser visíveis; • Mantenha-lhes o pêlo curto; • Dê menos banhos, uma vez que estes diminuem a acção dos repelentes aplicados.
Carraças As carraças são mais comuns no campo, onde muitas famílias se deslocam em férias ou a passeio, aproveitando o bom tempo. Tal como os seus donos, o Bobi e a Tareca sofrem com a erliquiose, mais conhecida por febre da carraça. A erliquiose é uma grave infecção transmitida por carraças contaminadas com bactérias do género ehrlichia e provoca anemia, hemorragias, petéquias (pontos vermelhos decorrentes de hemorragias de pequenos vasos sanguíneos), aumento do volume do baço, alterações neurológicas e de comportamento, insuficiência renal, perda de peso e inflamações oculares, entre outras. Leva ainda a uma baixa imunidade, o que aumenta o risco do animal de estimação desenvolver outras doenças. A pequena carraça pode ainda transmitir a babesiose, causada por uma bactéria que parasita os glóbulos vermelhos causando anemia. Os sintomas podem incluir febre, fraqueza e apatia.
Prevenção: • Evite os locais mais propícios a carraças, em especial na época seca, como campos, jardins e locais onde a vegeta-
ção seja mais densa; • Aplique solução repelente específica ou coleira anti-parasita, respeitando as indicações no rótulo; • Depois das saídas, verifique o pêlo do cão ou gato em busca de carraças; • Se encontrar uma carraça, remova-a o mais depressa possível, mas de forma correcta: usando luvas, lave previamente o local afectado com água e sabão; em seguida aplique álcool onde a carraça está fixa, por forma a que esta se retraia; depois, retire cuidadosamente, com movimento gradual, a carraça com uma pinça, confirmando se não ficou nenhuma parte da carraça ainda presa ao animal. Se tiver ficado, tente tirar com a pinça ou leve o animal ao veterinário. • Por fim, desinfecte a área, lave as mãos e monitorize a saúde do animal. As técnicas populares que incluem fósforos acesos, vaselina, azeite ou outros óleos não resultam e fazem com que a carraça, ou partes da mesma, permaneça presa ao animal.
sita que se localiza, especialmente, na medula óssea, gânglios linfáticos, baço, fígado e pele. Em Portugal estima-se que haja 110 mil cães com esta doença, muitas vezes sem ser detectada. O cão é o principal hospedeiro afectado com leishmaniose, mas gatos e roedores podem também ser infectados. O parasita é transmitido por mosquitos e os sintomas passam por um aumento dos gânglios linfáticos, crescimento exagerado das unhas, queda de pêlo, úlceras e descamação da pele, emagrecimento, atrofia muscular, sangramento nasal, anemia, alterações dos rins, fígado e articulações, entre outros. A leishmaniose é crónica e um animal infectado, mesmo depois de tratado, deve ser alvo de controlo veterinário regular. Cães que passem muito tempo no exterior, tenham o pêlo curto, sejam de raças exóticas ou tenham idades acima dos dois anos correm mais riscos de contrair esta doença – mas todos são susceptíveis, mesmo que não estejam em nenhum destes grupos.
Dirofilariose Mosquitos O Bobi e a Tareca também têm de se preocupar com os mosquitos. Para além do incómodo da picada, os mosquitos são responsáveis pela transmissão de duas doenças fatais: a leishmaniose e a dirofilariose.
Leishmaniose A leishmaniose é causada por um para-
Também a dirofilariose é transmitida através da picada do mosquito, que transmite a cães, gatos e furões as larvas do parasita dirophilaria immitis. Estas têm a forma de filamentos e viajam através da corrente sanguínea, alojando-se em órgãos como o coração ou os pulmões, onde acabam de se desenvolver. Os vermes danificam os vasos sanguíneos e reduzem a capacidade de con-
AMIGOS FIÉIS 37
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06 JUNHO 2013 · JORNAL SÉNIOR
Água, água, água! No Verão o perigo de desidratação é ainda maior. Nunca é demais repetir que, faça frio ou calor, esteja em casa ou em passeio, deve sempre ter água limpa à disposição do seu amigo. Se previr que o deixará sozinho durante algumas horas, deixe mais taças cheias para evitar que um descuido o deixe sem água, em especial nos dias quentes.
tracção cardíaca, resultando em doença cardiopulmonar severa. Os sinais de dirofilariose em gatos e cães incluem tosse, vómito, perda de apetite, letargia e dificuldades respiratórias, mesmo em exercícios ligeiros. Os gatos podem até morrer subitamente devido à dirofilariose. Acresce que os vermes adultos (cinco a sete meses após a infecção) podem acasalar e produzir mais larvas, que provocam uma reacção do sistema imunitário que pode danificar gravemente outros órgãos. Todos os cães e gatos podem contrair esta doença, mesmo os que saem pouco, pelo que, em especial se apresentarem estes sintomas, é muito importante fazer o rastreio desta doença grave através de exames veterinários.
Prevenção: • Evite o contacto com mosquitos, por exemplo, evitando passear ao pôr-do-sol, quando estes insectos estão em maior actividade; • Evite passeios junto a charcos ou lagos, locais de grande concentração de mosquitos; • Use repelentes específicos, como coleiras, sprays e gotas de aplicação na pele; • Mantenha o Bobi e a Tareca saudáveis e com um sistema imunitário forte; • Vacine o Bobi contra a leishmaniose canina.
Golpe de Calor Nem a Tareca nem o Bobi transpiram
como os seus donos, pela simples razão de que não possuem glândulas sudoríparas espalhadas pelo corpo, apenas em locais como as almofadas das patas ou no focinho. Isto significa que têm uma muito menor capacidade de regular a sua temperatura corporal e que, em situações de calor excessivo ou stresse, podem chegar a temperaturas perigosas e até mortíferas. Chama-se a isto hipertermia ou golpe de calor. O primeiro sinal é a respiração ofegante. Outros sintomas preocupantes são híper-salivação, saliva espessa, gengivas vermelho-escuras, tremores musculares, vómitos, diarreia, falta de coordenação motora, desmaios e convulsões. Cães e gatos com focinhos mais curtos são mais susceptíveis. Se o Bobi ou a Tareca estiverem expostos a muito calor ou em ambientes pouco ventilados, é muito importante que os donos estejam alerta para um possível episódio de golpe de calor. Antes de mais, há que retirá-los do calor ou da exposição solar, oferecer água e arrefecer-lhes as patas e o pescoço com toalhas molhadas ou água fresca. Mas atenção, água muito fria ou gelo podem ser prejudiciais nesta fase dado que arrefecem o animal depressa demais. Se o seu amigo estiver com convulsões ou desmaiado, não deve forçar a ingestão de líquidos e deve mantê-lo num local acolchoado e junto ao chão. Em seguida, deve levá-lo de imediato ao veterinário. Dependendo da gravidade e do tempo de resposta,
a hipertermia tanto pode ser superada rapidamente e sem sequelas como também pode matar. Prevenir é essencial.
Prevenção: • Evite passear o Bobi nas horas mais quentes do dia; • Nunca deixe os seus amigos sozinhos no carro com os vidros fechados, mesmo em dias amenos; • Vá tendo atenção à Tareca quando a transportar na caixa transportadora, uma vez que é um ambiente muito pouco ventilado e onde, para além disso, ela poderá estar em stresse, aumentando o risco de hipertermia; • Ao viajar de carro com animais, faça paragens frequentes para verificar o seu bem-estar, dar-lhes água e permitir-lhes apanhar ar fresco, nem que seja colocando a caixa transportadora à sombra e de forma a circular mais ar; • Evite exercício físico exigente ou passeios longos nos dias quentes e escolha locais com sombra; • Evite áreas com exposição solar directa pois esta pode aquecer o chão ao ponto de provocar queimaduras nas patas; • Ofereça sempre água fresca ao longo dos passeios; • Tosquie o seu amigo se este tiver pêlo comprido ou muito espesso.
Queimaduras solares e cancro de pele Sabia que tanto o Bobi como a Tareca
podem “apanhar um escaldão” e até contrair cancro de pele? Podem, em especial se forem brancos e tiverem a pele muito clara ou rosada ou se, mesmo não tendo a pele clara, tiverem zonas claras como o nariz ou as orelhas. Cães tosquiados e gatos carecas estão também em maior risco. Tal como acontece com os donos, os sinais incluem ligeira vermelhidão nas zonas afectadas e desconforto. Se esta situação se verificar, o seu amigo deve ser levado ao veterinário. Aplicar gel 100% natural de aloe vera alivia os sintomas do escaldão, mas os efeitos podem ser duradouros e graves, como é o caso do desenvolvimento de cancro de pele. Enrijecimento da pele, descamação e comichão são sinais de alerta e devem ser imediatamente estudados pelo médico por forma a ser possível atacar a doença a tempo.
Prevenção: • Evite a exposição ao sol durante as horas de maior risco (11h-16h); • Aplique protector solar para animais nas zonas de pele clara (alguns componentes dos produtos para humanos são tóxicos para animais); • Na tosquia, evite rapar completamente o pêlo; • Se o Bobi gosta de ir à praia ou a outros locais com muita exposição solar, talvez seja boa ideia comprar-lhe uns óculos de sol para cão. Também existem fatos de protecção UV para cães.
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JORNAL SÉNIOR · 06 JUNHO 2013
PORTO FORMOSO - AÇORES
Um chá no meio do oceano De como a visita a um museu se faz com a natureza por perto, calcorreada ao longo de antigas veredas bordejadas por falésias e percorrendo caminhos de pé posto, quase sempre com o Atlântico no horizonte. Texto: Humberto Lopes Fotografia: Humberto Lopes
É um segredo mal guardado, o que equivale a dizer que não é, enfim, segredo algum: o arquipélago dos Açores é um dos mais belos do mundo. De há uns bons dois
lustros para cá que vem coleccionando referências elogiosas na imprensa internacional e distinções particulares, como a que o classificou entre os dez melhores destinos mundiais (numa lista de mais de uma centena) para a prática do ecoturismo. Já em Janeiro deste ano, o jornal britânico The Guardian dedicou aos Açores
(uma vez mais) encomiásticas linhas, relevando uma dezena de actividades de eleição. Na lista está, em segundo lugar e a seguir à observação de cetáceos e aos mergulhos no mar com a companhia de golfinhos, o trekking e as caminhadas à volta de crateras vulcânicas ou ao longo de veredas litorais. Um outro galardão, anunciado há dias, é o de melhor “destino verde”. É o segundo ano consecutivo que o prémio, iniciativa da European Coastal and Marine Union, é atribuído ao arquipélago. Para estas nobres e merecidas nomeações contam a preservação do ambiente natural (ainda que transfigurado por mão humana, com os seus bosques de criptomérias, as fiadas de hortênsias à beira dos caminhos e as pastagens em quadrícula), a qualidade urbana dos povoados e, ainda, esse entrave natural à massificação do turismo que é a volubilidade da meteorologia. O fenómeno é também uma das causas das maravilhosas e inesperadas mutações da luz açoriana, que confere tantas vezes à paisagem configurações que duram o tempo de um abrir e fechar de olhos e que são bênção e ex-libris das ilhas. Aqui está, justamente, uma das razões que fazem da vadiagem do andarilho um labor tão proveitoso. Anda-se por aqui e por ali e a paisagem muda continuamente com os passos e com a luz. Raul Brandão, habilíssimo paisagista do arquipélago, escreveu um dia sobre esse admirável dom da luz açoriana: “Mais um
momento e o drama chega ao auge: um crepúsculo em que a gente vê as cores despenharem-se num abismo uma atrás da outra - o azul, o roxo, o lilás - enquanto o horizonte se incendeia. Tudo isto, diante dos meus olhos deslumbrados, escurece, torna-se violeta, afoga-se em névoa, morre num estertor violeta e cinzento. E por trás dos montes já negros, levanta-se, aumenta e nunca mais cessa a fumarada prodigiosa das nuvens...”.
Miradouros de mirar mar e terra Larga-se da Ribeira Grande e o panorama do litoral, do lado esquerdo, oferece-nos a vista da Ponta do Cintrão e, logo adiante, da Ponta Formosa. A costa norte de São Miguel e os seus ziguezagues de arribas e calhetas preenchem o resto do horizonte, até às terras do Nordeste. Entre os dois promontórios estende-se a Baía de Santa Iria, que se começa a descortinar melhor depois de passarmos o acesso à Ribeirinha e ao farol da Ponta do Cintrão. A primeira paragem é o miradouro de Santa Iria, situado sobre a enseada e com uma boa vista dos morros arredondados do Cintrão. Mas o miradouro, um dos mais simpáticos da costa norte da ilha, vale sobretudo pelo soberbo panorama a nascente. Se o dia for luzente e sem nevoeiros, podemos ver com nitidez quase toda a porção norte da ilha, o Pico da Vara, o ponto mais elevado de São Mi-
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06 JUNHO 2013 · JORNAL SÉNIOR
Um século de tradição
guel, umas quantas línguas de terra a meter-se pelo mar adentro e a Ponta da Ajuda a esticar-se no Atlântico como se fosse a cauda de um grande lagarto. Depois do miradouro e relida a placa comemorativa de um episódio da guerra civil entre miguelistas e liberais, tomamos uma estrada secundária que vai descendo até tornear os montes da Ladeira da Velha e seguir depois para a freguesia de Porto Formoso. Justifica-se o atalho pela estância balnear da Praia dos Moinhos, uma pequena praia de areia vulcânica, cor de cinza. A enseada mostra-se amiúde de águas plácidas, cortejando, amáveis, as falésias, tão distantes do timbre alteroso que Nemésio gostava de reconhecer no Atlântico. Como confessou o autor de “O Corsário das Ilhas”, um pessoalíssimo retrato do arquipélago, “a verdade é que só amo o mar rebentado e colérico, principalmente o das praias e dos recifes: detesto cor-
dialmente este mar enrolado (...), esta coisa estranha e estólida como um olho sem pálpebra, que já não tem nada que olhar”. A dois passos da Praia dos Moinhos tem início o trilho da Ladeira da Velha, que atalha uma zona onde se terá desenrolado o recontro entre as facções miguelista e liberal e expira junto o mar, à beira dos vestígios de umas antigas termas. Com algumas passagens de pé posto e embora íngreme aqui e ali, o caminho não oferece perigosidade e foi rematado com corrimões nos trechos mais difíceis. Tal como para outros trilhos, convém sempre confirmar se não está encerrado para manutenção. Nos últimos anos têm vindo a ser recuperados muitos trilhos no arquipélago, antigas vias de comunicação entre os povoados, como elemento fundamental para o desenvolvimento do ecoturismo. Existem em São Miguel algumas dezenas
de trilhos, sobre os quais se pode obter informação nos postos de turismo ou junto da Associação dos Amigos dos Açores (www.amigosdosacores.pt), que organiza periodicamente caminhadas e tem um completíssimo catálogo de roteiros muito bem documentados. O passeio que se segue realizar-se-á, justamente, em Porto Formoso, no próximo dia 22. A etapa seguinte leva-nos de novo à Estrada Regional 24, que liga a Ribeira Grande ao Nordeste, e chegamos à Fábrica de Chá de Porto Formoso. Da esplanada do seu museu, dedicado à cultura do chá na ilha de São Miguel, reavemos a vista sobre o litoral e a Ponta Formosa, desta feita com o bordado ritmado da plantação de chá em primeiro plano. O sítio é mais um notável miradouro, com o privilégio de podermos degustar uma chávena de chá açoriano com os olhos perdidos no azul do Atlântico.
Há algumas semanas atrás a plantação de chá da Fábrica de Porto Formoso encheu-se de gente trajada com vestimenta tradicional, blusa bordada, saia de chita, avental, xaile, chapéu de abas largas e lenço vistoso, para uma recriação da colheita manual do chá, tal como se fazia na primeira metade do século passado. Participaram muitas dezenas de figurantes, a maioria apanhadeiras, entretidas em conversas de sabor popular, em vetustas cantorias e, claro, a recolher para dentro dos cestos as folhas de chá. A iniciativa da segunda mais antiga produtora de chá da ilha (a pioneira mora ao lado, é a da Gorreana), agendada sempre para a primeiro sábado de Maio, pretende assinalar o início oficial da colheita, que decorre até Setembro, e evocar uma tradição de trabalho que tem pelo menos um século e que já foi forte em São Miguel, quando eram bastante mais as plantações que ocupavam boa parte da região. Os Açores são a única região da Europa onde se cultiva chá. Em finais do séc. XVIII e início do seguinte também havia plantações na Terceira, mas hoje praticamente só em São Miguel sobrevive a produção. A cultura do chá terá sido introduzida na ilha por volta de 1820, ainda que haja notícia da chegada da planta ao arquipélago em meados do séc. XVIII, trazida pelas naus que regressavam do Oriente. Bem documentada está a chegada da planta nos finais do século XVII, embarcada do Brasil. A Fábrica de Chá de Porto Formoso iniciou a produção nos anos 20 do século passado e mantém uma reduzida área de plantação. Produz chá preto nas variantes Orange, Pekoe e Broken Leaf. O processo de fabrico pode ser seguido pelo viajante no pequeno museu, que conserva um acervo de utensílios e equipamentos antigos. A toda a hora há visitas guiadas (iniciadas assim que se forma um grupo com número suficiente de interessados) que familiarizam os visitantes com o mundo do chá micaelense e que terminam com uma prova do chá produzido em Porto Formoso.
A História divide os louros com a lenda
dar os “factos” às urtigas, por vezes através de inverosimilhanças, outras vezes arregimentando exageros e tipificações dos feitos e personalidades das personagens. O caso é que os acontecimentos de Agosto de 1831, quando as forças liberais de D. Pedro IV, chegadas da Terceira, venceram a guarnição miguelista local, têm a sua versão em forma de lenda. A narrativa, que não ambiciona explicações do combate, refere-se a uma velha que pare-
ce representar na história, o conservadorismo ilhéu, ao tempo ao lado dos absolutistas. A dada altura, quando os liberais se lançaram na subida da abrupta ladeira, a mulher pôs-se a empurrar enormes pedregulhos encosta abaixo. A proeza não teve repercussão visível no desfecho, mas durante algum tempo terá persuadido os liberais de que os aguardaria lá em cima um enérgico batalhão de miguelistas. Sugere-se na lenda que a audaz senhora
(fiel miguelista) tinha a crença de que os liberais não passavam de uns perigosos bandoleiros . O sentido da história parece ser, tão-só, realçar a bravura e a determinação do povo micaelense, representado simbolicamente neste episódio por alguém que (tal como a sua congénere heroína de Aljubarrota) logrou desencantar forças sabe-se lá onde para fazer rolar pela ravina os tais “enormes pedregulhos”.
A História, com maiúscula, não se furta ao sufrágio e à discussão, nestes tempos pós-modernos, e acaba confrontada com a “verdade” da lenda que é uma forma de explicar quanto aconteceu e quanto disso ficou entranhado no presente. A lenda, como o sonho, fala do real por outros meios e gosta de man-
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Universidades Sénior abertas a qualquer pessoa com ou sem escolaridade
“Universitária” mais idosa tem 96 anos O que são Universidades Sénior, quem as pode frequentar, que disciplinas integram e, sobretudo, qual o papel social e cultural que desempenham junto da população idosa são questões que levámos a Luís Jacob, fundador e actual presidente da RUTIS, organismo onde já estão registadas 210 universidades que contam com um total de 35 mil alunos. Seniores. A mais velha tem 96 anos. Entrevista: Maria Assunção Oliveira
Jornal Sénior (JS) - Em que consiste uma Universidade Sénior? Luís Jacob (LJ) - A universidade sénior ou academia sénior ou universidade da terceira idade é um espaço onde os maiores de 50 anos podem aprender e partilhar os seus conhecimentos, adquirir novas competências e socializar, de uma forma informal. As Universidades Sénior (US) estão abertas a qualquer pessoa, independentemente do seu grau académico, com ou sem escolaridade. JS - Como funcionam e em que organismo se integram? LJ - As Universidades Seniores têm que estar sempre ligadas a uma instituição sem fins lucrativos ou a uma entidade pública. Existem US em associações criadas exclusivamente para o efeito ou inseridas em instituições já existentes como Misericórdias, Rotários, Cruz Vermelha, associações culturais, Juntas de Freguesia, escolas profissionais, etc.. O regulamento do funcionamento das US foi aprovado em Reunião Magna das Universidades Seniores e estabelece como as US se organizam. JS - As US são independentes, autónomas na sua gestão? LJ - As US são totalmente independentes na sua gestão e organização mas para serem reconhecidas pela RUTIS tem que seguir cinco regras: 1) Serem uma instituição sem fins lucrativos legalmente constituída. 2) Oferecerem um mínimo de cinco disciplinas semanais para maiores de 50 anos. 3) Trabalharem essencialmente com professores voluntários. 4) Terem um seguro escolar para os alunos. 5) Seguirem o regulamento das US.
JS - Como e por quem são definidas as disciplinas? LJ - As disciplinas são escolhidas pelas universidades conciliando os professores disponíveis e os interesses dos alunos. A alternância entre o papel de aluno e professor é frequente e incentivada. As disciplinas mais comuns são: a informática, cidadania, inglês, história, saúde, artes decorativas e desporto. A música e o canto são actividades muito presentes nas US, assim como o teatro. Temos universidades com disciplinas mais invulgares como: aprender andar de bicicleta, veterinária, astronomia, enologia, construção de brinquedos tradicionais, canalização, árabe ou cultivo de ervas aromáticas. De salientar que 30% dos professores têm menos de 40 anos. JS - Quantas US existem e quantos alunos têm no total? LJ - Na RUTIS estão registadas 210 universidades, o que corresponde a 35 mil alunos e quatro mil professores. Neste momento estão a ser analisados os processos de mais dez novas US.
JS - A percentagem de mulheres que frequenta as US suplanta o número de homens. A que se deve esta diferença? LJ - Em média 75% dos alunos são mulheres. Penso que isso se deve à maior disponibilidade das mulheres para a cultura, para a entreajuda e para o voluntariado. Os homens estão normalmente mais focados no trabalho e quando se reformam tem mais dificuldade em participar em actividades fora do contexto profissional. JS - Quanto custa aos alunos participarem em acções de formação da US? LJ - Em média 12 euros por mês mais o seguro anual de 6 euros. A mensalidade mais cara que temos na RUTIS é de 25 euros. Normalmente esta mensalidade dá acesso a todas as disciplinas, embora em algumas se possa pagar um extra, como por exemplo na natação.
JS – Quem pode frequentar as US e qual a média de idades dos alunos? LJ - Qualquer pessoa com mais de 50 anos que tenha vontade de conviver, ensinar, aprender pode integrar as US. Mas o principal grupo etário com maior participação é dos 65 aos 75 anos. A aluna mais velha de que temos conhecimento tem 96 anos.
JS - Que apoios financeiro têm as Universidades Sénior? LJ - Os apoios das US vêm essencialmente dos próprios alunos, das autarquias (câmaras e juntas de freguesia) e de algumas empresas locais. Mas penso que, tendo em conta todo o trabalho desenvolvido pelas US, estas mereciam ter mais apoio quer das autarquias quer dos privados. Porque se muitas autarquias já apoiam as US com convicção, há ainda algumas que ignoram o nosso trabalho. A RUTIS irá publicar em breve um estudo sobre a relação entre as autarquias e as US.
JS - E qual a média de escolaridade dos alunos? LJ - Varia muito de local para local. Temos universidades em que a maioria dos alunos tem a chamada 4ª classe, como temos universidades em que todos os alunos são licenciados. Mas o mais frequente é existirem pessoas com diferentes níveis de escolaridade na universidade.
JS - Que balanço faz do desempenho, adesão e crescimentos das US? LJ - O desempenho tem sido notável. Em 2001 existiam menos de 15 US e actualmente existem mais de 210. Tem sido um crescimento constante e contínuo ao longo destes anos. Temos colaborado em vários estudos, nomeadamente teses de mestrado e doutoramento, que confir-
mam que frequentar as US torna as pessoas mais felizes, com menos sintomas e sinais de depressão, menos dependentes da medicação, mais sociáveis e mais cultas. O impacto das US nas comunidades é também muito relevante. Este crescimento e adesão só acontecem porque, de facto, as US respondem a uma necessidade premente das comunidades onde de inserem. JS - Qual a estratégia de crescimento ou desenvolvimento para 2013/2014? LJ - Para 2013/2014 o nosso grande objectivo é começar um processo de certificação das US, medida que foi aprovada pela maioria das US presentes na última Reunião Magna. Este processo vai permitir a qualquer sénior saber que US estão a trabalhar correctamente. Durante este período estivemos a reunir recursos e meios e posso indicar que iremos mesmo começar esse processo em Outubro. No início do próximo ano vamos criar a Rede Ibero-americana de Universidades Seniores com parceiros de Espanha e da América do Sul e Central. Outros objectivos que temos são o reconhecimento oficial por parte do Estado da importância das US e que as US colaborem mais com a comunidade onde estão inseridas, que sejam verdadeiros polos de cidadania e inclusão social. Gostaria também que as US ajudassem mais o País e os seniores a ultrapassar este período difícil que estamos a viver, e que já se sente nas próprias US, com todo o seu saber e dinamismo. JS - Há pouco falou do reconhecimento das US. O que tem feito o Governo pelas US? LJ - A primeira vez que o Governo reconheceu as US foi em 2007 quando o antigo ministro Vieira da Silva assinou o protocolo de cooperação entre o Ministério do Trabalho e Segurança Social e a RUTIS,
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ainda em vigor. Depois disso, e apesar de termos insistido incessantemente, não foi possível ir mais longe. Actualmente, temos tido por parte do ministro Mota Soares e da sua equipa bastante receptividade às nossas propostas, nomeadamente no estabelecimento de um enquadramento legislativo para as US e no reconhecimento do papel das US e da RUTIS no envelhecimento activo. Posso afirmar que será assinado, em breve, um novo acordo entre o Ministério e a RUTIS que visa facilitar estes processos. De realçar igualmente que temos tido desde a criação da RUTIS, em 2003, um óptimo relacionamento com os antigos e com o actual director do Centro Distrital de Segurança Social de Santarém, Dr. Tiago Leite, e que tem sido importante para este trabalho junto do governo central.
JS - Que vantagens tem uma US em ser membro da RUTIS? LJ - A principal vantagem é mesmo fazer parte desta rede e desta família e, como tal, trabalhar em conjugação de esforços com as restantes US. As outras vantagens prendem-se com poderem usar a denominação “Universidade Sénior”, que é uma marca registada e só pode ser usada pelos membros da RUTIS. Podem ainda co-organizar e participar nos nossos eventos, beneficiar das nossas parcerias, como é o caso do seguro escolar sénior, estar presente nos nossos sites e receber formação e informação. Têm ainda maior poder/capacidade de atracção/visibilidade e organização, beneficiar de projectos de economia de escala, ter acesso a actividades a que de outra forma não acederia por falta
JS - Que actividades desenvolve? LJ - Actividades de animação que congregam em grandes eventos todas as Universidades Sénior que queiram participar: os dois Festivais anuais de Teatro Sénior, os
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JS - Falando em Santarém, por que é que a sede da RUTIS é em Almeirim? LJ - Faço a pergunta ao contrário. E porque não em Almeirim? Existem várias razões, sendo que a principal é porque os três primeiros encontros nacionais foram em Almeirim e a US que deu origem à RUTIS foi
tisénior”, temos um site permanentemente actualizado e estamos a trabalhar no desenvolvimento do projecto da TV Sénior e do programa de gestão de alunos. Ajudamos a criar novas US, proporcionamos formação aos dirigentes das UTIs, organizamos congressos e seminários e procuramos parcerias para as US e para os alunos.
promover o envelhecimento activo e a cidadania dos seniores. Lembrar Portugal (e a nós mesmos) que os seniores existem e recomendam-se! Actualmente a RUTIS está representada num Órgão de Estado, o Conselho Económico e Social e faz parte de diversas organizações nacionais e internacionais, como as Nações Unidas. A RUTIS tem uma Assembleia Geral, um conselho fiscal e uma direcção como todas as associações. Tem ainda um Conselho Consultivo e um Conselho Geral, composto por todas as US, que é o órgão que delibera sobre a organização e funcionamento das US em Portugal e que reúne anualmente em Outubro. A Mesa do Conselho Geral é composta actualmente pelo presidente da RUTIS e pelos dirigentes da US de Lagos, Setúbal, Gondomar e Amadora. Ao todo colaboram com a direcção da RUTIS, mais de 40 pessoas.
Aconteceu… US de Proença-a-Nova visita Museu Isilda Martins Os alunos e professores da Universidade Sénior de Proença-a-Nova realizaram na passada semana a sua primeira visita, que contemplou o Museu Isilda Martins, na Sobreira Formosa, assinalando o Dia Nacional das Universidades Seniores. O projecto inclui já, além do grupo inicial, uma segunda turma que tem aulas no Centro de Artes e Ofícios de Sobreira Formosa. Esta Universidade, que visa dinamizar actividades sociais, educacionais e culturais em ambiente informal, abrange pessoas com idade superior a 50 anos. Para já são 38 os alunos que frequentam as aulas a cargo de 11 professores, que colaboram em regime de voluntariado. Além da vertente formativa, o projecto contempla a realização de passeios, convívios intergeracionais, workshops e tertúlias e a comemoração de dias festivos.
Universidade Sénior de Vieira do Minho comemora 2º aniversário
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Em média 75% dos alunos são mulheres. Talvez pela maior disponibilidade destas para a cultura. a Universidade Sénior de Almeirim. Depois porque sendo a RUTIS uma entidade nacional Almeirim é um local central para a maioria das US e com óptimos acessos. E depois há sempre a vantagem de se poder comer a famosa sopa da pedra. JS – Falou da dinâmica e funcionamento das Universidades Sénior, todas elas integradas e associadas a uma rede, a RUTIS. Que instituição é esta, como surgiu e como se organiza? LJ - A RUTIS é uma instituição de utilidade pública que foi criada em 2003 em Almeirim durante o III Encontro Nacional de Universidades da Terceira Idade pelos dirigentes das 30 Universidades Sénior presentes. O papel da RUTIS foi desde início o de congregar, representar, desenvolver e ajudar a dinamizar as US,
três Festivais anuais de Grupos Musicais Seniores, a Gala anual de Dança Sénior, o Concurso anual de Cultura Geral e os encontros nacionais e regionais (o último encontro nacional ocorreu em Elvas no dia 25 de Maio e juntou 1.500 pessoas de 45 Universidades). Publicamos a revista “Ru-
de capacidade de execução (participação em projectos europeus). JS – Quer deixar uma última mensagem para os nossos leitores? LJ - Gostaria de agradecer. Um enorme obrigado a todos os dirigentes, professores e alunos das Universidades Sénior que têm feito um trabalho notável em prol da educação, cidadania e melhoria da qualidade de vida dos seniores portugueses. Obrigado aos nossos parceiros que acreditaram e acreditam no nosso projecto, com destaque para os dirigentes, autarcas, para a Fundação Montepio, para a Rádio Sim e para a SIC Esperança. Por fim, convido todos a visitar o nosso site, www.rutis.pt ou a universidade mais perto de si e a perceber porque é que os nossos alunos seniores são pessoas mais felizes.
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A Universidade Sénior de Vieira do Minho, criada pela Câmara Municipal de Vieira do Minho em 2011, acaba de festejar o seu 2º aniversário. Este dia foi assinalado com a celebração eucarística abrilhantada pelo Grupo de Canto Coral e um almoço convívio. Apesar de contar apenas com dois anos de existência, a USVM é já uma força de grande dinâmica. Prova disso são as várias participações e presenças em inúmeras actividades recreativas, educativas e culturais. O leque de disciplinas ao dispor é diversificado e recheado de animação: Tecelagem, Actividade Física e Desportiva, Inglês, Expressão Dramática, Psicologia, Cavaquinhos, Grupo de Canto Coral, Arte do Gancho, Informática, Danças de Salão, entre outras. De referir, ainda, que conta já com 88 alunos, sob a divisa:” A Árvore do Saber não tem idade!”
Acontece… Baile das Margaridas no Porto No dia 12 de Julho, pelas 20:30h, vai realizar-se o primeiro baile da US Agitar (Porto), na Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Será um momento de convívio e diversão para todos os associados, formadores, família e amigos que se queiram juntar a este evento, mas também uma oportunidade de angariação de fundos para a associação. Mais informações em www.agitar.pt.
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36 horas de Cultura
As melhores propostas culturais activas no País pada de vitela. Já no Largo do Intendente Pina Manique, está a Casa Independen-
Selecção de José Vegar
Em todas as edições, o Jornal Sénior escolhe para si as melhores propostas culturais activas no País. A ideia é construir um roteiro simples e atraente, que o ocupe da tarde de sexta-feira até ao fim da noite de sábado. As ideias mudam de edição para edição, conforme a oferta que está disponível. No entanto, é ponto assente que todas as manifestações de cultura serão contempladas, da música ao desporto, passando pela arte, pelo teatro, pela literatura e por todas as outras. A alma alimenta-se também dos nobres produtos gastronómicos, do vinho e dos seus parceiros, e assim sendo incluímos também sugestões de restaurante, bares e hotéis.
Alentejo, ou mais precisamente Beja, está já a decorrer mais uma edição do Festival Internacional de Banda Desenhada, que leva à cidade gente de todo o país, e também um número considerável de visitantes espanhóis. Este ano, a estrela presente é Jean Claude Meziéres, mas há outras boas propostas na Casa da Cultura, na Biblioteca Municipal e no Museu Jorge Vieira. Em Braga, o cada vez mais interessante Theatro Circo recebe um
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para contemplar o Tejo, e garante ainda várias oportunidades de paragem, nos restaurantes e bares da zona. Em Braga, a Mata do Bom Jesus continua a ser um
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te, que oferece um gin tónico com frutos silvestres. Em Setúbal, na majestosa avenida Luísa Todi, uma boa opção é a 490
Sexta-feira, 18 h
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Tem sido um ano muito difícil, e as boas notícias parecem continuar escondidas, tal como este Verão português. Mas, apesar de tudo, o sol lá vai fazendo algumas aparições mais ou menos constantes, e o tempo, tal como a sociedade nacional, vai aquecendo. A ideia é aproveitar o que temos de melhor, assim como uma espécie de contrabalanço ao que vamos enfrentando de pior. Em Portugal, durante muito tempo a esplanada não foi um local para estar e ver. De há uns anos para cá a paisagem, felizmente, mudou e cada vez mais este tipo de locais se torna constante. É como se a rua voltasse a ser tomada pelos portugueses. Em Lisboa, todos os Verões surgem novas propostas, que tentam aliar uma boa oferta no campo das bebidas a algumas propostas fora do comum nos menus. No Largo dos Jerónimos, em Belém, surgiu há pouco tempo o Eléctrico Banana Café, ali bem perto dos Pastéis de Belém. Há algumas boas
Taberna STB, que tem à disposição dos seus amáveis clientes um petisco original: bolinhos de farinheira. Em Espinho,
quarteto de música de câmara que interpreta obras de Dvorak e Schumann. Em Lisboa, estamos nos dias finais de um festival imperdível, o Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas. Alguns dos principais interpretes mundiais
a esplanada da Casa Papagaio continua a ser uma referência obrigatória.
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Sexta-feira, 21 h A noite de sexta-feira deve ser o mais belo começo do merecido fim-de-semana. Felizmente, propostas não faltam um pouco por todo o País. A Sul, na capital do Baixo
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destas artes estão em Lisboa, o que por si só justifica uma ida. A programação está disponível em www.fimfalx.blogspot.pt.
Sábado, 10 h
propostas para acompanhar as bebidas que a estação pede, tal como uma taça de bolacha com fruta e iogurte, ou, para os mais tradicionais, uma primorosa em-
excelente pulmão verde da cidade, ideal para passear em família, e descobrir algumas espécies arbóreas raras e preciosas. O mesmo se poderá dizer, na vizinhança de Setúbal, da serra da Arrábida. O pas-
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Tal como a explosão das esplanadas, também é hoje é muito mais fácil andar a pé ou de bicicleta nas nossas cidades. Os percursos estão assinalados, as vias pedestres e ciclovias são aceitáveis, e os automobilistas começam a ter, lentamente claro, um pouco mais de respeito pelos outros ocupantes das ruas e estradas. Em Lisboa, uma boa escolha é o novo Terreiro do Paço e a muito de fresco reaberta Ribeira da Naus. É um bom passeio
seio poderá ser feito sem ajuda de conhecedores, mas é de notar que hoje existem várias empresas especializadas na zona. Para quem está em Beja, é a altura ideal para dar um salto à Reserva de São Gonçalinho, à saída de Castro Verde, onde a Liga para a Protecção da Natureza preserva várias espécies de aves, especialmente as abetardas. DR
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Sábado, 15 horas
lhos de Júlio Resende, Fernando Calhau e Manuel Cutileiro, entre outros. No Convento do Pópulo há um curso de pintura
Na tarde de sábado, aconselha-se alguma protecção do sol. Para os lisboetas, há duas opções inevitáveis. A primeira é a exposição de fotografia do mítico Sena da Silva, no torreão nascente da Cordoaria Nacional, na Junqueira. Durante várias décadas do século passado, António Sena da Silva fotografou Lisboa e os lis-
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boetas de um modo singular, bem como alguns dos principais momentos políticos e sociais da vida portuguesa. As dezenas de fotografias expostas são, assim, um testemunho de todos nós. A segunda opção mostra-se no Museu Berardo, inserido no Centro Cultural de Belém, e dá pelo nome de “O Consumo Feliz”. É uma reunião bem trabalhada de cartazes pu-
de azulejo organizado pela edilidade. Em Beja, claro, o tempo deve ser ocupado em mais uma exposição do festival de banda desenhada.
Sábado, 20h30 Saciado o espírito com as propostas culturais consumidas, é tempo de acarinhar também os sentidos relacionados com a gula. Em Lisboa, os mais clássicos devem rumar à Taberna da Rua das Flores
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blicitários do século XX, que permitem descobrir a originalidade dos criativos, mas também o tipo de mensagens a que os consumidores eram sensíveis. Os cartazes vão de 1900 aos anos 80 do século passado, e pertencem à colecção da James Haworth & Company, uma empresa publicitária britânica. Em Braga, existem também duas opções. A primeira tem como destino a Casa dos Crivos, onde
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(21 3479418) e pedir umas saborosas iscas com elas. No território da inovação, o chefe Sá Pessoa abriu o Cais da Pedra em Santa Apolónia (218871651), onde partilha uma longa lista de hambúrgueres, que vão dos de carne, aos feitos com peixe e vegetarianos. Em Setúbal, no Arte e Tempero (960120332) foge-se ao tradicional
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está uma exposição de pintura colectiva, em que podem ser encontrados traba-
peixe grelhado, e oferece-se porco preto e sushi, entre várias outras possibilidades.
Destaque
No Fado e Na Vida no Teatro Tivoli Ela é a única mulher portuguesa a dedicar-se profissionalmente à guitarra. Ele é um dos fadistas revelação, precursores do novo fado. Juntos pela música, dentro e fora de palco, complementam-se. Marta Pereira da Costa e Rodrigo Costa Félix sobem às tábuas do Teatro Tivoli para apresentar um conceito diferente de espectáculo. No Fado e na Vida é um diálogo musical intimista e profundo, firmado no Fado tradicional mas com breves incursões por outros sons e outras influências. Uma viagem pela alma e pelos "Fados de Amor" que ambos têm apresentado em vários palcos pelo mundo fora. Os instrumentais mais marcantes da Guitarra Portuguesa e as mais recentes composições de Marta Pereira da Costa juntam-se aos sucessos cantados por Rodrigo Costa Félix, numa parceria que tem despertado o interesse dos vários quadrantes da cultura portuguesa e não só. Emotivo, intenso, vibrante e apaixonante. O Fado e a vida, num espectáculo único.A acompanhá-los, nomes incontornáveis como Pedro Pinhal na viola de fado e Frederico Gato no baixo acústico. No Fado e na Vida tem lugar dia 28 de
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Junho no Teatro Tivoli BBVA, a partir das 21h30. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais com preços que variam entre os 10 e 20 euros.
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Mosquitos manipulados
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Se, como muita gente, pensa que terça-feira é o melhor dia da semana para comprar bilhetes de avião, está na altura de rever o assunto. Segundo a análise de Steven Puller e Lisa Taylor, publicada no Journal of Economic Behavior & Organization, os bilhetes comprados aos fins-de-semana são, em média, 5% mais baratos do que nos dias úteis. A comparação foi feita em relação a bilhetes idênticos, para voos nos Estados Unidos, de ida e volta sem paragens, excluindo primeira classe e os períodos de férias e feriados.
O desconto varia conforme o tipo de bilhete e os investigadores alertam para o facto de as conclusões poderem não ser relevantes para quem quer apenas ir de A a B pelo menor preço. Pelo contrário, a sua análise dirige-se a quem faz a mesma viagem regularmente e pode beneficiar dos preços mais baixos ao fim-de-semana. A explicação encontrada para o fenómeno é que as companhias aéreas procuram atrair com preços mais baixos quem pode – ou não – viajar por lazer aos fins-de-semana, já que quem viaja a trabalho acaba por comprar os bilhetes independentemente do preço, uma vez que está obrigado a fazer a viagem.
Numa das primeiras tentativas bem-sucedidas de engenharia genética de mosquitos, cientistas do Howard Hughes Medical Institute (HHMI) alteraram a forma como os insectos respondem aos odores, incluindo o cheiro das pessoas e do repelente de insectos DEET. A pesquisa não só demonstra que os mosquitos podem ser geneticamente manipulados, mas abre o caminho para entender porque é este insecto tão atraído por seres humanos, e como bloquear essa atracção.
A senhora das moscas e dos mosquitos Leslie Vosshall estudava moscas da fruta há muitos anos mas, quando o genoma
Força do hábito maior que a vontade Ao contrário do que muitas vezes se pensa, não são só os maus hábitos que são difíceis de combater – os bons hábitos, felizmente, também não se perdem. Cinco estudos publicados este mês no Journal of Personality and Social Psychology (EUA) apontam para o facto de qualquer hábito, seja ele bom ou mau, ser um espaço de segurança, ao qual recorremos especialmente quando estamos cansados. Ou seja, como constataram Wendy Wood e David Neal, da Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidis da América, se tivermos o hábito de comer um pequeno-almoço
saudável, uma altura de maior stresse não nos vai fazer comer donuts ou outra goluseima de manhã por “não conseguirmos resistir à tentação do açúcar”.
Menor esforço Segundo os investigadores, o importante não é tanto a força de vontade que temos para resistir, mas a existência de um hábito, ou seja, algo que façamos repetidamente e quase sem pensar, porque em alturas de maior cansaço, com menos recursos disponíveis, procuramos rotinas que não exijam grande esforço – queremos fazer o que sempre fizemos, porque não temos energia para mais nada. Ora, se o que sempre fizemos é bom para nós, o perigo é mínimo, mas se os nossos hábitos são pouco saudáveis, é fácil que tenham consequências graves. Por isso, os investigadores recomendam que nos foquemos mais em criar hábitos positivos do que em treinar a força de vontade para resistir aos donuts ou outras tentações em momentos de crise ou de stresse.
dos mosquitos foi sequenciado, voltou a atenção para este animal, pela sua importância na transmissão de várias doenças. Mas não esqueceu o trabalho anterior e voltou a analisar o olfacto: se as moscas são atraídas pelo cheiro da fruta, os mosquitos são atraídos pelos humanos. E, como a sua equipa já tinha feito com as moscas, Vosshall alterou o gene responsável pela resposta aos odores e confirmou a sua hipótese: com esta modificação, os mosquitos deixaram de preferir os humanos a outros animais. O próximo passo na pesquisa é perceber se deixaram de receber o 'bom' odor humano ou todos os cheiros, e que os atrai especialmente nas pessoas – e, esperemos, acabar com essa atracção, muitas vezes fatal.
GPS vibrante
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Recolha: Marta Martins
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Bilhetes mais baratos aos fins-de-semana
Tendo em conta a paixão por bicicletas que se tem registado nos últimos anos em Portugal, e que parece não diminuir, uma ideia publicada recentemente na revista New Scientist pode ter grande futuro no país. Trata-se de um cinto para ciclistas, que dá instruções de navegação através de vibrações.
Olhar em frente A grande vantagem em relação a um GPS convencional é a possibilidade de manter a cabeça levantada e olhar em frente, apreciando mais o caminho e evitando os perigos - uma questão fundamental na segurança de quem pedala. Nos testes comparativos, os utilizadores do cinto demonstraram muito melhor conhecimento do percurso que tinham acabado de fazer do que os ciclistas que usavam um GPS comum. O produto está a ser desenvolvido por Haska Steltenpohl, do La-
boratório de Sistemas Inteligentes da Universidade de Amsterdão, na Holanda, e não deverá demorar muito até ser comercializado.
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Pavilhão de Seda Num cruzamento assombroso entre Tecnologia e Natureza, uma equipa de investigadores do Mediated Matter Research Group, no MIT Media Lab, em colaboração com o Professor Fiorenzo Omenetto (TUFTS University) e o Dr. James Weaver (WYSS Institute, Harvard University), criou em computador uma estrutura de 26 painéis de fio de seda, onde depois dispuseram 6.500 bichos-da-seda que, por sua vez, fiaram sobre
LEDs salva-vidas Na Baixa Califórnia (México), a ciência está a ajudar simultaneamente a população e as tartarugas que circulam naquelas águas. John Wang, da Universidade do Hawai, nos Estados Unidos da América, e Jesse Senko, da Universidade do Arizona (EUA), preocupam-se com a quantidade de tartarugas apanhadas nas malhas das redes de pesca naquela área. Ao longo dos anos, o número de tartarugas tem diminuído drasticamente na região, e aquela é a última zona onde podem ser encontradas. Mesmo assim, centenas ficam presas nas redes dos pescadores locais, de tal forma que há uma Praia dos Mortos, assim chamada pela quantidade de cadáveres de tartarugas ali encontrados.
a armação uma gigantesca cobertura de seda, com um efeito prodigioso. Toda a instalação foi controlada ao pormenor, incluindo as trajectórias do sol, que ditaram a localização, tamanho e densidade de aberturas no interior da estrutura – isto porque os bichos-da-seda são atraídos pelas zonas escuras, pelo que foram ‘encaminhados’ pela abertura controlada das janelas de forma a obter o efeito desejado. Se os tivessem deixado no local, estas verdadeiras impressoras naturais teriam produzido cerca de um milhão e meio de ovos e, potencialmente, outros 250 pavilhões com uma estrutura de tamanho semelhante.
Mais CO2, mais árvores
Em estreita colaboração com as comunidades locais, os biólogos imaginaram e desenvolveram um sistema de iluminação das redes de pesca com luzes LED, que tem apresentado resultados muito animadores. Segundo os seus cálculos, a iluminação das redes afasta as tartarugas, de tal forma que se registam quedas de 50% nas capturas involuntárias. Ao mesmo tempo, as luzes parecem ter o benefício acrescido de atrair os halibutes, que são os verdadeiros alvos dos pescadores. Os cientistas esperam que esta experiência mostre que a luta pela conservação das tartarugas não tem de prejudicar as vidas dos pescadores, antes pelo contrário, todos saem a ganhar. (www.grupotortuguero.org).
Sendo certo que tem inúmeros efeitos nocivos, o aquecimento global do planeta terá alguns efeitos positivos. Segundo um estudo apresentado por Randall Donohue, a publicar na revista Geophysical Research Letters, da American Geophysical Union, o aumento do dióxido de carbono na atmosfera tem feito crescer a vegetação no sudoeste da América do Norte, o interior da Austrália, o Oriente Médio e algumas partes da África – é o chamado efeito de fertilização do CO2. A equipa analisou imagens de satélite, apurando o aumento de folhagem ocorrido entre 1982 e 2010 – tendo em conta o aumento do CO2 em 14% neste período, previram que a folhagem teria crescido entre 5 a 10%; os dados confirmaram um crescimento de 11%, excluin-
do a influência de outros factores como a precipitação, a temperatura do ar, a quantidade de luz e mudanças de uso da terra. A equipa procurou sinais de fertilização por CO2 em áreas áridas porque a cobertura de folhas em lugares quentes e húmidos, como as florestas tropicais, é quase tão extensa quanto pode ser e é improvável que aumente com altas concentrações de CO2. Em lugares quentes e secos, por outro lado, as plantas podem responder ao alto nível de CO2 gerando mais folhas para melhor aproveitar este recurso. Donohue alerta para um outro efeito desta modificação: os tipos de vegetação que dominam nessas regiões podem vir a alterar-se, como no caso de árvores que estão (já) a ocupar zonas até aqui pantanosas.
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I S S N
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DR
CRÓNICA
DIGO EU... Leonor Xavier Toca o telefone, é a minha amiga T. Liga-me à primeira hora da manhã, como sempre. Nem preciso de ouvir a voz do outro lado, nem de perguntar quem fala, sei que é ela. Já nem tenho que dizer um “olá, bom dia, e então?”, que mal damos por nós e já a conversa segue, solta. A minha querida amiga T. é fiel, firme, não falha nem me falta. Não há vez que eu não sinta ternura por esta amizade, não têm conta os momentos em que dou por mim a pensar na quentura de coração que ela me dá, e que me vai compensando das preocupações, das perdas, das tristezas. Às segundas-feiras, a T. tem novo recheio de assuntos. Podem ser boas ou más notícias, conforme os seus estados de espírito. Pode ser um ou outro pequeno segredo de maledicência, um diz-que-diz sobre vidas alheias. Ou pode ser uma questão de fundo. Uma questão existencial. Estrutural, como agora se diz, para sublinhar a verdadeira importância de um determinado assunto. Hoje, era assim o caso. E o caso era a velhice. Ou o envelhecimento. É este o conceito que lhe tomou o pensamento, depois de uma conversa com uma outra amiga com quem regularmente a T. se encontra para almoçar. Como já se sabe, a T. gosta de sair e de conviver, fala com as mais diferentes pessoas, anda pela vida como se o mundo fosse um espectáculo permanente, num cenário sempre a mudar, feito de cores, formas e emoções. O que explica a variedade de assuntos que a ocupam e que gosta de comentar comigo. E eu, que a conheço como a palma das minhas mãos, já sei que a truculência do começo da semana me entra pela casa, com o primeiro toque do telefone fixo. Ah já me esquecia de dizer que a T. só usa o telemóvel para recados curtos e urgentes, desde que leu uma assustadora reportagem sobre as consequências cancerígenas daquelas ondas telefónicas em todos os aparelhos, marcas e modelos, da primeira até à última geração. A amiga da T. leu todo o primeiro número do jornal Sénior e gostou, acabou logo o segundo, reservou todos os próximos no quiosque da esquina. E assim, naturalmente, a conversa das duas ao almoço foi sobre a velhice, o ser velha, o envelhecer ou o processo de envelhecimento. Ambas à beira dos 60 anos, uma mais assustada do que a outra, contaram que começam a comprar livros que as esclareçam sobre os pequenos sinais de que uma mudança lhes está a acontecer, no corpo e na alma. De repente, a marca da ampola que fortalece os cabelos toma imensa importância, ou a
loja onde se vende chá diurético, ou o contacto da melhor dieta, da melhor nutricionista. Falam sobre sedução, ideia que nunca as tinha feito pensar, e daí derivam, com alguma precaução, para sexo, será que se irá apagar o desejo algum dia? A T. acha que sim, será um alívio. A amiga acredita que não. Sobre a memória, trocam exemplos de pequenos esquecimentos, que não parecem simples distracções e podem ser sinais de debilidade. A T. que não encontrava o carro no estacionamento. A amiga, que deixou as chaves de casa na mesa do café. E de repente, sem razão nenhuma, a amiga fica alterada, conta-me a T.. Não quer desenvolver mais a conversa, como se pudesse segurar o tempo ela reage. Até parece
zangada, quando recusa a ideia de participar numa tertúlia para debater esta passagem de vida. A T. disfarça e desvia-se da possível discussão, para dizer à amiga que sobre a quarta idade, das pessoas dos 80 e dos 90 anos, já muito ela sabe. O que acontece entre os 60 e os 75 anos é o que lhe interessa. A descrever-me toda a conversa, a T. fala-me com a tal vivacidade de segunda-feira que já me estimula para o resto do dia. Hoje limitei-me a ouvi-la. Amanhã vou dizer-lhe que, havendo saúde, o exercício da alegria, temperado com inteligência e bom senso em doses certas pode ser uma boa fórmula de abertura para a discussão sobre o envelhecimento.