Ecodixit edição especial

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Artigos elaborados por alunos de Mestrado em Economia no âmbito da unidade curricular, Macroeconomia

O Índice Big Mac nos países americanos ...................................................................................... 3

Bens Transacionáveis e Não-Transacionáveis em Portugal ............................................................ 5

Sudden Stop na Zona Euro ........................................................................................................... 6

Sudden-Stop – Evidência em Portugal .......................................................................................... 7

Subprime, uma realidade dos dias de hoje? ............................................................................... 10

As Bolhas Financeiras e o Caso do Dubai ................................................................................... 12

Conhecer a Crise ........................................................................................................................ 14

Assegurar a Estabilidade de Preços ............................................................................................ 16

Ficha técnica: Título: EcoDixit – Edição Especial Data de saída: Janeiro de 2014

Publicação exclusiva online

Colaboradores Edição: Ana Ferreira, Cristina Faria, Hugo Pereira, Viviana Ferreira

Universidade de Aveiro, Departamento de Economia, e Fábio Marques Gestão e Engenharia Industrial

Grafismo: Ana Ferreira, Sara Fernandes, Cristina Faria e Fábio

E-mail: neec@aauav.pt

Marques

Periodicidade: Edição Especial

Nota: Alguns artigos encontram-se ao abrigo do novo acordo 2 ortográfico, de acordo com a vontade dos próprios autores.


O Índice Big Mac nos países americanos O índice Big Mac é um instrumento que serve para avaliar se as moedas dos diferentes países estão nos níveis corretos. Este índice tem por base a teoria da paridade do poder de compra (PPP), que mede quanto é que uma dada moeda consegue comprar, em termos internacionais (normalmente em dólares). Como na maioria dos casos os bens e serviços apresentam preços diferentes consoante o país em que são transacionados, é necessário que seja feita uma comparação entre o poder de compra e o custo de vida local. O índice Big Mac é baseado no preço dos hambúrgueres Big Mac, nas diversas economias onde este é transacionado. Por exemplo, nos EUA, um Big Mac custa 4,56 USD e na China, o mesmo Big Mac custa 2,61 USD. De acordo com o índice Big Mac, o iene está subvalorizado em cerca de 43%, relativamente ao dólar americano. Apesar de permitir comparações entre todos os países que comercializam o Big Mac, este índice não foi concebido como sendo um medidor certo e preciso, mas antes como uma simples consideração acerca da paridade do poder de compra e as taxas de câmbio em vigor nas diversas economias. Relativamente aos países americanos, é possível verificar que apresentam oscilações muito significativas, comparando o preço de um Big Mac em cada país (Argentina, Canadá, Brasil, Chile, Colômbia, Gronelândia, México, Peru, Uruguai e Venezuela) com o preço do Big Mac nos EUA.

Venezuela

Uruguai

EUA

Peru

México

Gronelândia

Colômbia

Chile

Brasil

Canadá

60 50 40 30 20 10 0 -10 -20 -30 -40 Argentina

variação, em dólares

Variação relativa do preço do Big Mac, em relação à média do dólar jul 2011 - jul 2013

É possível verificar que há divergências bastante acentuadas entre os preços do Big Mac nos diferentes países: a Argentina, o Chile, a Colômbia, o México e o Peru apresentam preços que crescem mais do que a média, contrariamente ao Canadá, ao Brasil, à Gronelândia, ao Uruguai e à Venezuela, cujo crescimento de preços se situa abaixo da média. É de salientar a performance da Venezuela, cujo preço do Big Mac cresceu quase 60 dólares abaixo do dos EUA, entre julho de 2011 e julho de 2013. No entanto, é importante avaliar a evolução do preço do Big Mac, no mesmo período, nos diversos países:

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Preço do Big Mac, em dólares 7 6 5 4

Jul/11 Jul/13

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A Venezuela é, de facto, o país onde o Big Mac é mais caro, de entre o conjunto de países apresentado. Em julho de 2013, um Big Mac custava 7,15 pesos venezuelanos na Venezuela, seguindo-se 5,28 reais no Brasil e 5,26 dólares canadenses no Canadá. Do lado contrário, o país onde é mais barato comprar um Big Mac é o México (2,86 pesos mexicanos), seguido pelo Peru (3,59 sol novo) e pela Argentina (3,88 pesos argentinos). De forma percentual, é possível concluir que, em 2013, existe: 

Subvalorização: O peso argentino está subvalorizado em 15%, o peso chileno em 14%, o peso colombiano em 2% e o peso mexicano em 8%, relativamente ao dólar americano;

Sobrevalorização: O dólar canadense está sobrevalorizado em 15%, o real em 16%, a coroa dinamarquesa em 8%, o sol novo em 21%, o peso uruguaio em 9% e o bolívar venezuelano em 57%, relativamente ao dólar americano.

De um modo geral, quando existe desvalorização de uma moeda, esta pode tornar-se subvalorizada, quando comparada com o valor da moeda de outros países. Isto ocorre, principalmente, quando o governo de um país pretende estimular a competitividade da sua economia, tornando os preços dos bens internos mais baratos, relativamente aos preços dos bens nos outros países. Uma desvalorização da moeda nacional fará com que a taxa de câmbio real desvalorize, fortalecendo a competitividade internacional. A sobrevalorização da moeda existe quando a taxa de câmbio de uma moeda excede aquilo que o mercado está disposto a pagar. É possível que ocorra quando os bancos centrais compram mais quantidade de uma determinada moeda, tornando-se prejudicial para o comércio internacional, na medida em que torna as exportações do país mais caras. É um conceito aplicado, essencialmente, a nível internacional: considera-se que uma moeda está sobrevalorizada se a procura privada para essa moeda é inferior à oferta privada total (os bancos centrais estão a comprar a diferença, corrigindo o valor da moeda através da intervenção cambial) ou se o valor da moeda exceder a paridade do poder de compra.

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É de salientar que, ambas as medidas de subvalorização/sobrevalorização, só podem ser tomadas se o país em causa emitir a sua própria moeda. Referências 

http://financial-dictionary.thefreedictionary.com/Currency+Overvaluation

http://www.bruegel.org/nc/blog/detail/article/1005-what-does-the-big-mac-say-about-euro-areaadjustment/

http://www.economist.com/content/big-mac-index

http://www.investopedia.com/terms/b/bigmacppp.asp

http://www.investopedia.com/terms/b/bigmacppp.asp Liliana Abrantes, nº mec:49764 Maria Laranjeira, nº mec:70271

Bens Transacionáveis e Não-Transacionáveis em Portugal Desde a adesão à União Monetária, Portugal incorreu numa política monetária excessivamente expansionista, conduzida por uma redução da taxa de juro nominal. O objectivo desta redução focava-se na melhoria dos resultados das empresas, com a criação de mais emprego, mais exportações e mais riqueza para o país, o que mais tarde se traduziria em nova receita fiscal que compensaria a redução inicial de impostos. Contudo, durante o mesmo período, com a entrada de fundos estruturais e de coesão, assistimos ao crescimento significativo do setor não-transacionável. A produção dos bens associados a este setor gerou empregabilidade, mas a economia não cresceu como o esperado e não foi criada riqueza como inicialmente se perspetivou, o que originou uma quebra nas receitas do Estado. Os bens e serviços não-transacionáveis têm de ser produzidos internamente, uma vez que a sua transacção em mercados internacionais não é económica, ou é mesmo impossível. O exemplo com mais relevância é o sector imobiliário, que dinamiza uma economia local, mas dificilmente servirá como fonte de moeda estrangeira. Em Portugal, existe um desequilíbrio comercial externo, em virtude das importações superarem as exportações, o que se deve, em grande medida, ao aumento da produção dos bens não-transacionáveis (bens não suscetíveis de exportação). O acréscimo da produção desse tipo de bens gerou uma maior procura de recursos (nomeadamente trabalho) para este setor, com reflexos no crescimento dos salários. Tal crescimento, não sendo compensado por aumentos de produtividade no setor dos bens transacionáveis (bens suscetíveis de exportação, como é o caso do setor automobilístico), conduziu a um agravamento dos custos unitários do trabalho, o que prejudicou a rentabilidade do setor (cujos preços de venda são contidos pela concorrência internacional), reforçando o desequilíbrio da balança comercial.

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A aposta excessiva em bens não-transacionáveis é, de facto, uma das razões da crise portuguesa, pelo que o país deve apostar num novo modelo económico baseado na produção de bens transacionáveis – um modelo que possa gerar credibilidade e confiança, de modo a reduzir, significativamente, a necessidade de financiamento externo. Referências: 

“A aposta dos portugueses nos bens não-transaccionáveis” [Consult. 10-Dezembro-2013]. Disponível em WWW:

<URL:

http://notaspensadas.wordpress.com/2011/12/20/a-aposta-dos-portugueses-nos-bens-nao-

transaccionaveis/> 

“A economia portuguesa e os bens transaccionáveis” [Consult. 10-Dezembro-2013]. Disponível em WWW: <URL: http://economico.sapo.pt/noticias/a-economia-portuguesa-e-os-bens-transaccionaveis_97434.html>

“Transformar bens não transaccionais em bens transaccionáveis” [Consult. 10-Dezembro-2013]. Disponível em WWW:

<URL:

http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/transformar_bens_natildeo_transaccionais_em_bens_trans ccionaacuteveis.html> Daniel Oliveira, nº mec:60128 Tânia Pereira, nº mec:49675

Sudden Stop na Zona Euro Nos primeiros 10 anos de vida do euro, existiu uma visão optimista, onde se afirmava que a moeda única era esperada para fazer com que a balança de pagamentos fosse irrelevante entre os Estados membros da zona euro. Giavazzi e Spaventa (2011), Wolf (2011), Sinn (2012) e Carney (2012) defenderam a ideia de que a crise do euro provinha de uma crise fiscal do balanço de pagamentos. Por sua vez, Jean Pisani-Ferry e Silvia Merler, afirmaram que uma discussão sobre o balanço de pagamentos não é suficiente clara, sendo até uma estratégia incorrecta, uma vez que a current account na zona euro se tinha ajustado de uma forma lenta e parcial, e que a relação entre os saldos do TARGET2 e a balança de desequilíbrios de pagamento permanece confusa. Através da metodologia de Calvo, que se baseia em dados mensais e que proporciona uma comparação rigorosa e sistemática da experiência na zona euro, Merler e Ferry afirmam que o sudden stop ajuda a identificar os efeitos de contágio, mostrando como a inversão dos fluxos de capitais se espalha entre os países em crise. Afirmando ainda terem identificado três sudden stops na zona euro. Tendo o primeiro ocorrido durante a crise financeira global, em que o aumento de aversão ao risco e o entupimento do mercado interbancário afectou tanto a Grécia como a Irlanda. O segundo ocorreu na primavera de 2010, em que o acordo entre o FMI e a União Europeia marcou o início de um

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terceiro episódio grego o que provocou um efeito de contágio em Portugal e na Irlanda. O terceiro e último sudden stop identificado por esta dupla, ocorreu no final de 2011 que envolveu a Itália, Espanha e Portugal. Merler e Ferry defendem que a substituição dos influxos de capital privado por influxos públicos ajudou a acomodar déficits em contas correntes persistentes num contexto em que os mercados de capitais não estavam mais dispostos a acomodá-los. Assim, em 2006, a Comissão Europeia afirmou que Espanha, Portugal e Grécia (países com grandes déficits) haviam sido financiados através de empréstimos bancários e de títulos de carteiras de dívida, uma vez que o investimento estrangeiro directo era muito limitado, ficando estes países vulneráveis ao desenrolar dos fluxos de capitais. Perante isto, Merler e Ferry concluíram que uma união monetária como o euro está mais próximo de um sistema de taxas de câmbios fixos entre os países do que de uma economia totalmente integrada. Referências: 

http://www.bruegel.org/publications/publication-detail/publication/718-sudden-stops-in-the-euro-area/

http://www.rei.unipg.it/rei/article/view/97

http://www.voxeu.org/article/public-capital-flows-replacing-private-flows-eurozone-what-it-means-policy Joana Martinho, nº mec: 58378

Sudden-Stop – Evidência em Portugal Com o alastramento da introdução do euro nos países europeus, o dinheiro começou a fluir das economias mais desenvolvidas para os países da periferia, nomeadamente Portugal. Verificou-se que os fluxos de capitais globais aumentaram de forma abrupta nas últimas décadas, ao que é explicado, pela literatura, pelos factores “push” que representam as melhorias nas características do risco e do retorno dos activos emitidos pelas economias emergentes ajudando a atrair capitais do exterior; factores “pull” que por sua vez, orientam o capital para fora, reduzindo a atractividade de empréstimos a países devedores industrializados; e liberalização financeira. Foi sempre considerado que os fluxos de capitais produziam benefícios para os países das economias menos desenvolvidas, nomeadamente, promovendo a competitividade do sector financeiro do país e auxiliando o país a alcançar uma melhor alocação de capital incrementando o crescimento. No entanto, os fluxos de capital são voláteis e podem tomar dimensões superiores à dos mercados financeiros de um país, acarretando uma certa instabilidade que por si constitui um elevado risco para a economia. Assim, e tomando esta questão em consideração, os fluxos de capital podem constituir problemas como o crescimento empobrecedor de um país, o overheating (constitui um elevado e rápido crescimento da produção, podendo originar influências negativas) e por fim o sudden-stop, ou por outras palavras, a desaceleração repentina de fluxos de capital. A crise global é o último de uma série de eventos que mostraram que os governantes precisam de estar atentos para os riscos e maximizar os benefícios dos fluxos de capital.

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Devido em parte a esses riscos, o FMI publicou vários estudos sobre os fluxos de capital em que o primordial objectivo é ajudar os países a colher os benefícios dos fluxos de capital. Voltando a nossa atenção para o sudden-stop, verifica-se que a crise financeira de 2008 trouxe a consequência desagradável do fim dos fluxos de capital e fez desmoronar-se a ideia de que os países da união monetária não iriam passar por crises na balança de pagamentos, mais concretamente na balança de conta corrente.

Portugal 0,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 -5,0 -9,2

-10,0 -15,0 -20,0

-11,6 -13,9

-11,0

-12,4 -15,9

-17,2 -17,1

-18,4

-17,2

-21,7

-25,0

Figura 1 – Balança Conta Corrente (2001 – 2011)

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Nesta sequência, constatou-se que diversos países de mercados emergentes passaram por uma desaceleração repentina nos fluxos de capitais privados para as economias de mercados emergentes (sudden-stop),entre eles, Portugal. A crise financeira asiática do final dos anos 90 também foi um triste lembrete sobre como o capital estrangeiro pode tornar uma crise financeira emergente muito mais grave. Surge assim a pertinente questão: quais as implicações destas interrupções de fluxos de capital e como as resolver?”

Figura 2 – Saídas de Capitais, 2002 – 2011(% PIB 2007)

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O sudden-stop reflecte-se, por norma, nas perdas de reservas internacionais, e na diminuição no défice da conta corrente, o que origina um panorama negativo sobre a produção e o emprego originando uma contracção da procura

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agregada o que leva a uma diminuição no preço relativo dos bens não transaccionáveis relativamente aos transaccionáveis.

Figura 3 – Episódios de Sudden Stop (2007 – 2011)

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Na primavera de 2010, Portugal teve o seu primeiro, curto, sudden-stop. Já a Irlanda sofreu um sério sudden-stop que levou o país a pedir apoio junto do exterior. Mais tarde, no final de 2011 ocorreu mais uma interrupção nos fluxos de capital para Portugal.

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Dado o nível de integração dos mercados financeiros da zona euro, os efeitos do sudden-stop, podem colocar em perigo todo o sistema e colocar em risco a sobrevivência da moeda única. Torna-se imperativo estudar se o sudden-stop é um resultado das crises soberanas, ou se o seu impacto é mais amplo. Aqui critica-se a falta de dados detalhados que possibilite proceder a um estudo/análise formal. Futuramente, deveria ser tomado em conta as crises internas na balança de pagamentos que a zona do euro passou, por indicar um sinal de fraqueza e como um convite para reformular as suas estruturas. É necessário que se adoptem políticas como: a esterilização, o controlo de capitais, a liberalização comercial, a dolarização e as flutuações (apesar da política de flutuações deixar dúvidas se os países emergentes estarão dispostos a aceitar as flutuações através dos países industrializados). Em suma, para evitar que Portugal volte a cair no risco de mais ataques, é necessário uma maior integração dos mercados e das políticas.

Referências : 

Sudden stops in the Eurozone, Jean Pisani-Ferry, Silvia Merler, 2 April 2012

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Large Capital Flows: Causes, Consequences, and Policy Responses, Alejandro López-Mejía, FD Set 99

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Fonte: Eurostat, (online data codes: bop_q_eu, bop_q_euro and bop_q_c), ECB), 4 dezembro 2013

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Fonte: Sudden stops in the Eurozone, Jean Pisani-Ferry, Silvia Merler, 2 April 2012 Catarina Lopes, nº mec:41804 Raquel Antunes, nº mec:47469

Subprime, uma realidade dos dias de hoje? Atualmente vivemos num período inevitavelmente conturbado e é notória a quantidade de notícias com que somos canhoneados diariamente por parte dos meios de comunicação social sobre mil e um acontecimentos negativos que vincam no rosto desta geração, o pessimismo face ao futuro, o desespero por um emprego e a impotência sentida ao perceber que o dinheiro não chega para pagar todas as despesas.

Cada vez mais a palavra crise tem-se traduzido num sufoco constante na economia mundial, tornando-se, cada vez mais, numa barreira à estabilidade do sistema financeiro e ao crescimento económico do nosso país bem como do resto do mundo. Este é um panorama que preocupa as Administrações púbicas, nomeadamente Governos e o Banco Central Europeu, levando-as a intervir severamente com o claro objetivo de recuperar o emprego, manter o bem-estar social e evitar que os diferentes países entrem em recessão. É visível a constante diminuição das receitas e o aumento significativo das despesas traduzindo-se, claramente, numa era de endividamento público, essencialmente na Europa.

O acesso fácil ao crédito, por partes das instituições bancárias, foi o primeiro fator de inclusão no mercado hipotecário daquele segmento de agentes económicos que, pelas normas de concessão de crédito das instituições privadas e 1

públicas, não tinham condições de suportar com os seus respetivos financiamentos, as chamadas hipotecas subprime . Do núcleo de novos devedores inseriam-se os que não possuíam rendimento, trabalho ou património compatível com as suas hipotecas, designados por ninjas. Uma grande parte deste grupo não possuía sequer condições para apresentar a documentação mínima necessária para a abertura do crédito imobiliário, seja por serem residentes ilegais ou mesmo por terem ficado inadimplentes, contribuindo assim, para a formação de uma bolha imobiliária.

Como marco inicial da crise internacional salienta-se a falência da New Century Financial Corporation em abril de 2007, o segundo maior credor de hipotecas do tipo subprime. Posto isto, Bernanke, presidente do FED - Banco Central Americano, afirmava que “ (...) o efeito dos problemas no segmento subprime sobre o mercado imobiliário como um todo será, provavelmente, limitado e não esperamos consequências significativas (...) para o resto da economia ou do

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De acordo com Iedi (2008), as hipotecas subprime consistiam em empréstimos imobiliários concedidos a indivíduos sem histórico de crédito ou com histórico de inadimplência, ou seja, em geral, famílias de baixos rendimentos.

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sistema financeiro”. Com níveis de empréstimos elevados, milhares de ninjas a recorrerem ao crédito e tendo em conta o panorama económico do país seria a crise do subprime limitada?

Seguiu-se a decisão inesperada por parte do maior banco francês, o BNP – Paribas, em agosto de 2007, de suspender os resgates de três grandes fundos imobiliários sob sua administração. Tal acontecimento veio gerar o pânico junto dos mercados financeiros levando a que os Bancos Centrais interviessem de modo a evitar uma crise de proporções sistémicas.

Depois disto, Bernanke já manifestava alguma apreensão, alertando mesmo que “ (…) vários eventos que se seguiram à crise do subprime levaram os investidores a acreditar que o risco de crédito poderia ser maior e mais difundido do que se pensava anteriormente (…) A liquidez foi reduzida significativamente e as taxas de risco (spreads) aumentaram (…) ”.

A crise continuou e em 2008 atingiu mesmo o seu auge com a quebra do Bear Stearns, o quinto maior banco americano. Posto isto, o FED, de modo a evitar a falência do mesmo, assumiu US$ 30 biliões de créditos e facilitou a sua aquisição por parte do JP Morgan Chase, provocando uma alteração dramática no marco regulatório do sistema financeiro norte-americano. Esta atitude conseguiu distanciar as expetativas mais pessimistas sobre a permanência da crise, sendo enfatizada pelo crescimento do PIB da economia americana. Com esta situação Paul Krugman diz que o pior da crise financeira já havia passado. No entanto, mais tarde, rumores de que outro grande banco de investimento, o Lehman Brothers, se deparava com dificuldades, veio abalar o otimismo.

A queda dos preços de diferentes ativos, a baixa de liquidez no mercado interbancário norte-americano e as hipotecas subprime foram os que contribuíram para a crise que se mantem até aos dias de hoje.

Fonte: Relatório de visão e desenvolvimento BNDES, 2008

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Referências: 

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro/E nsaioEconFinanceira.pdf;

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/visao/v isao_50.pdf. Carla Monteiro, nº mec:61901 Sílvia Pinho, nº mec:59834

As Bolhas Financeiras e o Caso do Dubai Atualmente é trivial o conhecimento de que longos períodos de crise arrasam ciclicamente a economia mundial e cada vez mais se tem verificado a sua ocorrência e magnitude, desde meados da década de noventa, sendo habitualmente designados por bolhas financeiras ou simplesmente bolhas.

Designado no passado como “crashs bolsistas”, este conceito está intimamente ligado a práticas de natureza especulativa por parte de diversos agentes que assumem posições de compra e de venda nos mercados financeiros e revela uma particular evidência em Bolsas de Valores Mobiliários. Esta situação ocorre essencialmente pelo simples facto de existirem pessoas com pouco conhecimento do funcionamento do mercado e que não usufruem da informação de que dispõem, uma vez que a atração pelo lucro e o receio pelas perdas levam a que sejam tomadas posições pelas tendências do mercado, sem observar que existe uma sobrevalorização de determinado ativo.

Do ponto de vista económico, uma bolha financeira corresponde a incrementos muito acelerados, e sem justificação económica racional, do preço de um determinado ativo, – como é o caso de ações, títulos de futuros de petróleo ou trigo ou hipotecas imobiliárias titularizadas – seguidas de quedas repentinas e muito profundas da cotação do título em causa, até atingir o valor económico real desse mesmo bem, uma vez que os grandes investidores, que entendem realmente os mecanismos do mercado, se apercebem que o seu valor não corresponde à realidade e passam então a desfazer-se das suas posições. Quando isso ocorre, a bolha estoira, já que todos seguem a tendência e querem vender. Deste modo, ocorrem perdas financeiras extremamente elevadas e efeitos negativos colaterais na economia da área local envolvida, nomeadamente pela diminuição da produção, do nível de emprego, do investimento e da procura por determinados bens de consumo.

Um exemplo real que retrata claramente este conceito é o caso do Dubai que corresponde a um dos sete emirados e à cidade mais habitada dos Emirados Árabes Unidos (EAU), com aproximadamente 2,106 milhões de habitantes em 2013. As receitas do Dubai são provenientes do turismo, comércio, setor imobiliário e serviços financeiros e é interessante verificar que, atualmente, ao contrário do que se passava há bem pouco tempo, a dependência direta do Dubai do rendimento do petróleo é de apenas 4% do produto interno bruto (PIB), o que não acontece, por exemplo, no Abu

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Dhabi que possui uma receita petrolífera muito maior. Neste sentido foi essencial a criação de um importante e poderoso setor bancário formado por uma rede de instituições nacionais e estrangeiras que se encarregaram de gerir a enorme liquidez acumulada ao longo do tempo proveniente de receitas petrolíferas, que antigamente eram expressivas.

O Dubai, que há cinquenta anos atrás não passava de uma vila pequena e de pouca importância, transformou-se, de repente, numa indústria de turismo internacional de alto luxo, atraindo, com as suas obras megalómanas, um elevado número de pessoas com um padrão de consumo elevado.

Figura 1: O Dubai em 1990 e em 2003. Fonte: http://www.marxist.com/images/stories/uae/dubai_1990_2003.jpg

Considerado como a “joia da coroa” dos EAU, alavancou um projeto para tornar esta cidade num paraíso de especulação financeira e imobiliária. Poucas cidades no mundo podiam igualar o número de arranha-céus e outras gigantescas construções. Centros comerciais nasciam como cogumelos. Os hotéis estavam repletos de turistas, onde as taxas de ocupação superavam habitualmente os 80%. Deste modo, osentimento do mercado era que os preços subissem constantemente, vendendo ao mundo uma imagem estável e vigorosa da economia do Dubai, o que levou a que o investimento fosse estimulado e atingisse um aumento de 78% do índice de preços imobiliários, entre o primeiro trimestre de 2007 e o de 2008. Nesta altura, era comum ouvir histórias de investidores que lucravam mais de 20% num único dia, apenas procedendo à compra e venda de propriedades que ainda não tinham sido construídas sequer. Contudo, de repente, a Dubai World, “holding” controlada pelo governo, responsável pela transformação do Dubai num centro financeiro e comercial

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regional, declarou, em Novembro de 2009, uma moratória sobre a sua dívida de 59 mil milhões de dólares por seis meses (até Maio de 2010). O fluxo de dinheiro subitamente secou e as grandes empresas bloquearam pagamentos. Entre os principais credores da Dubai World estão o Barclays, o BNP Paribas, Deutsche Bank, HSBC, Citibank, Goldman Sachs e Mitsubishi Financial e por esse motivo o problema do Dubai tomou sérias proporções a nível mundial, o que veio constatar a falsa expansão económica do Dubai, baseada na ilusão gerada pelo crédito barato que se vendia um pouco por todo o mundo. Deste modo, conclui-se que a procura se devia a interesses financeiros do lado dos investimentos e não à procura por moradias e apartamento necessários na realidade. De repente o pânico começou a dominar o mercado e o índice de preços imobiliários obteve uma queda de 8% no final de 2008, em relação ao trimestre anterior. No primeiro trimestre do ano seguinte ele caiu novamente mais 41% e assim se verificou o rebentar de uma bolha especulativa que foi alimentada durante algum tempo. Posto isto, a inesperada crise económica que se fez sentir no Dubai em 2008 fez jus ao célebre provérbio “quanto maior é a subida, maior é a queda”. Contudo, projetos excêntricos não têm faltado a este emirado, como a abertura do maior centro comercial do mundo para 2016, que conta agora com o apoio de Abu Dhabi para recuperar a sua solvabilidade e que terá de ceder alguns dos seus ativos. Pede-se agora um crescimento económico sustentável para esta cidade e não algo proveniente de bolhas especulativas. Rita Martins, nº mec: 59342 João Pinto, nº mec: 60260

Conhecer a Crise De todos os acontecimentos que fizeram parte da história da Economia Mundial, pode-se destacar a Grande Crise vivida em 1929 que se assemelha com a que vivemos nos dias de hoje. Para percebermos melhor o conceito Crise, que em parte retrata a sociedade atual, é importante perceber quais foram os seus efeitos no passado e quais as semelhanças com o presente. Como se explica o início da Crise... Após a Primeira Guerra Mundial, a Europa encontrava-se fragilizada fazendo com que os EUA se afirmassem mundialmente através do sector industrial, conseguindo produzir para todo o mundo. Este aumento do volume das exportações levou a um crescimento económico positivo neste país, proporcionando aumentos salariais e maior propensão a consumir. Esta tendência de crescimento foi invertida, no início da década de 20, devido a três factores: o agravamento da inflação e forte tendência de desvalorização da moeda na Europa, a diminuição da procura externa, à especulação da Bolsa através do aumento das taxas de juro. A quebra no crescimento leva a altas taxas de juro aliadas a uma diminuição dos preços com o propósito de escoar os seus produtos remanescentes da era próspera, atraindo investidores de todo o Mundo até às Bolsas Americanas. A

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especulação financeira provoca então o consumo em massa apesar da oferta continuar superior à procura. É nestas condições que, ao falir a primeira empresa em Inglaterra, são retirados os capitais britânicos da Bolsa de Nova Iorque, na chamada Quinta-feira mais negra do história do capitalismo. A partir daqui tudo de mau acontece.

O Economista Benjamin Bernanke retrata de forma exímia a Grande Depressão. O seu artigo escrito em 1983 mostra que a crise monetária além de ter efeitos na oferta de moeda também o teve na Macroeconomia, reduzindo a qualidade de alguns serviços financeiros principalmente, os intermediários de créditos. O mau funcionamento das instituições financeiras acontece devido a choques exógenos. O sector mais afectado foi sem dúvida a banca: os problemas bancários provocaram diminuição dos depósitos e aumentos das precauções nas reservas. As famílias e empresas sem personalidade jurídica pertenceram à classe de investidores mais prejudicados devido à queda dos empréstimos bancários. Como solução recorreram ao crédito comercial de agências de crédito não-bancárias, sendo que estas melhoraram a sua posição relativamente aos bancos. Ao nível da Macroeconomia, esta crise financeira teve efeitos sobre a procura agregada, isto é, a limitação ao crédito fez com que potenciais investidores da economia não conseguissem recursos, reduzindo a viabilidade efetiva da partilha de risco aumentando a dificuldade em financiar grandes investidores.

Fazendo um balanço desta Grande Depressão deparamo-nos que os acontecimentos passado estão contextualizados com os atuais, nomeadamente a Crise que se iniciou em meados de 2008 até aos dias de hoje. Olivier Blanchard (2009) afirma que o início da crise actual teve génese numa bolha imobiliária que teve efeitos diretos no mercado financeiro, isto é, houve no aumento dos prémios de risco e limitações no acesso ao crédito, tal como no passado. Foi também observado fortes quedas no preço das ações e no consumo, sendo dois mecanismos que impulsionaram a crise financeira. A Crise pôs em causa economias avançadas, tornando-as emergente e alterou a estrutura social tanto em 1930 como nos dias e hoje. Referências: 

Bernanke, B. (1983).Non-Monetary Effects of the Financial Crisis in the Propagation of the Great Depression. The American Economic Review, Vol.73, No.3,pp. 257-276.

Blanchard, O. (2009). The Perfect Storm. Finance & Development. Vol.46, No. 2. Ana Luísa Freitas, nº mec:42485 Viviana Ferreira, nº mec:49451

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Assegurar a Estabilidade de Preços Diz-se que Lenine terá declarado que a melhor forma de destruir o sistema capitalista era pela perversão da moeda. Através de um processo inflacionário continuo, os governos podem confiscar, de uma forma secreta e não visível, uma parte importante da riqueza dos seus cidadãos.(J. M. Keynes). Um novo fator na equação da inflação é a crescente “globalização” da produção. Á medida que avança a integração dos EUA nos mercados mundiais, as empresas, internamente, descobrem que os seus preços são restringidos pelos preços dos concorrentes internacionais. Durante períodos de inflação os preços e os salários não variam todos á mesma taxa, ou seja, ocorrem variações nos preços relativos. Os efeitos da inflação passam por: uma redistribuição do rendimento e da riqueza entre os diferentes grupos, e por, distorções nos preços relativos e nas quantidades produzidas dos diferentes bens, ou por vezes, no produto e no emprego da economia como um todo. Quando as pessoas devem dinheiro, um aumento acentuado dos preços é para elas um lucro caído do céu. Mas se for credor e tiver ativos em hipotecas a taxa de juro fixa ou em obrigações de longo prazo, um amento súbito dos preços deixá-lo-á mais pobre dado que o montante nominal com que o vão reembolsar vale muito menos do que o montante que tinha emprestado. O Dilema da Deflação A experiência histórica e a análise macroeconómica sugerem que a deflação combinada com taxas de juro reduzidas pode gerar sérias dificuldades macroeconómicas. Uma suave deflação, em si mesma, não é especialmente prejudicial. Mas as deflações, em geral, desencadeiam problemas económicos dado que podem conduzir a uma situação em que uma política monetária se torna imponente. Normalmente, se os preços começam a cair devido a uma ressecção, o banco central pode estimular a economia, aumentando as reservas bancárias e reduzindo as taxas de juro. Mas se os preços estão a diminuir rapidamente, então as taxas de juro reais podem ser relativamente elevadas, e com uma taxa de juro real elevada o investimento pode ser banido, com consequências depressivas. A deflação verificou-se com alguma frequência no seculo XIX e no início do século XX, mas quase desapareceu no final do século XX. No final dos anos 1990, o Japão entrou num período de deflação sustentada. Isto causado, em parte, por uma queda dos preços dos ativos, em especial dos terrenos e das ações anonimas, mas também devido a uma prolongada ressecção. As taxas de juro de curto prazo passaram a ser praticamente nulas após 2000. Por exemplo, o rendimento de um depósito bancário a um ano era de 0,032% ao ano em meados de 2003, o banco do Japão parecia imponente perante a deflação e as taxas de juro nulas. Susana Pereira, nº mec:67036

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