2014
Um rio afogado em concreto
Espaços fragmentados as margens do ribeirão Roni Paiva Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Paulista Unip Ribeirão Preto 27/5/2014
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FACULDADE UNIP CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Roni Paiva
Um rio afogado em concreto Espaテァos fragmentados as margens do ribeirテ」o.
TFG ETAPA 2 RIBEIRテグ PRETO 2014
2 FACULDADE UNIP CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
RONI PAIVA
Um rio afogado em concreto Espaços fragmentados as margens do
ribeirão. Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo, da UNIP, apresentado na modalidade Teórico-conceitual, como requisito parcial para a conclusão da disciplina TFG. Orientadores: Professora Carolina, Professora Valéria. TFG ETAPA 2
Ribeirão Preto 2014
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RESUMO A partir de uma análise de dados concretos e subjetivos coletados a partir de visitas in loco, tendo como embasamento fontes primárias, sensações e questionamentos sobre a área objeto deste estudo, obteve-se a proposta aqui apresentada. Para se pensar em um projeto de intervenção, pontos importantes devem ser considerados, tais como a história, a malha urbana, a localização, os usos existentes e principalmente os usuários da área em questão.
APRESENTAÇÃO
FIGURA 1: IMAGENS DA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES PASSADO FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP
O presente projeto trata-se do trabalho de conclusão de curso, desenvolvido pelo aluno Roni Paiva, da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paulista de Ribeirão Preto, cujo objetivo é apresentar uma proposta de revitalização do espaço degradado e reutilização do espaço público da área objeto deste estudo e uma transformação na paisagem da cidade de Ribeirão Preto.
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Conceito de Paisagem [...] a paisagem é claramente uma ordem espacial imposta ao ambiente – construído ou natural. Portanto, ela é sempre socialmente construída: é edificada em torno de instituições sociais dominantes (a igreja, o latifúndio, a fábrica, a franquia corporativa) e ordenada pelo poder dessas instituições.[...] a paisagem dá forma material a uma assimetria entre o poder econômico e o cultural. [...] o termo “paisagem” diz respeito à chancela especial de instituições dominantes na topografia natural e no terreno social, bem como a todo o conjunto do ambiente construído, gerenciado ou reformulado de algum modo. No primeiro sentido, a paisagem dos poderosos se opõe claramente à chancela dos sem poder – ou seja, à construção social que escolhemos chamar de vernacular, ao passo que a segunda acepção de “paisagem” combina esses impulsos antitéticos em uma visão única e coerente no conjunto. A pós-modernidade diz respeito à recente inversão das identidades sócio espaciais entre paisagem e vernacular que tais mudanças implicam. Com o enobrecimento e as novas construções nos velhos centros das cidades, o que restou da residência unifamiliar particularmente arruinada, vernacular, é revisto como paisagem investidode poder cultural. ZUKIN; Sharon. Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder. P .87
INTRODUÇÃO
FIGURA 2: IMAGENS DE RIBEIRÃO PRETO FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP
DO
PASSADO
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Ribeirão Preto, um rio, uma cidade, Origem do Nome do "ribeirão" (córrego), que atravessa a cidade, chamado de Preto. A capital do café torna-se a Petit Paris Por aproximadamente 50 anos (1890-1940), Ribeirão Preto viveu a glória da época do café. A pequena vila atravessou uma série de transformações urbanas que além de impactar significativamente a vida de seus habitantes a tornou referência e centro de projetos de modernização, reformulando assim sua paisagem e estrutura arquitetônica. No início, as estradas de ferro eram necessárias para atender os interesses pessoais dos ricos fazendeiros da região que, ao interligarem os principais municípios paulistas ao Porto de Santos, eram utilizadas para transporte e escoamento da produção de grãos. O crescente desenvolvimento econômico da região, fomentado pelo comércio cafeeiro ocasionou as primeiras alterações dos cenários urbanos da cidade de Ribeirão Preto. Através de seu desenvolvimento, surge a necessidade de atender a demanda de um novo mercado consumidor que crescia paralelamente à principal atividade econômica da cidade. A grande circulação de comerciantes de café, populares e outras mercadorias naquela região, foi aos poucos criando a necessidade de se pensar nas primeiras alterações arquitetônicas que pudesse ampliar o local e ainda fornecer outros serviços à população circulante.
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O Quadrilatero Central
FIGURA 3: VISTA AÉREA QUADRILÁTERO CENTRAL FONTE: WWW.GOOGLE EARTH.COM.BR
“O primeiro corredor comercial do Centro de Ribeirão Preto foi a rua General Osório, que atualmente abriga o Calçadão. A partir da General Osório, o comércio foi se espalhando para outras ruas dentro do Quadrilátero Central. Apesar da abertura dos shoppings e de importantes setores comerciais como o Boulevard, o pólo da avenida da Saudade nos Campos Elíseos e o da avenida Dom Pedro 1º no Ipiranga, o Centro continua sendo uma referência para Ribeirão e cidades vizinhas num raio de até 100 km. O sistema de transporte de Ribeirão Preto parte de um núcleo, o quadrilátero central, delimitados pelas avenidas, Nove de Julho, jerônimo Gonçalves, Francisco Junqueira e Independência, todas com fluxo bastante intenso. A partir desse quadrilátero, eixo de circulação, distribuem o trafego paras demais áreas das cidades.” Fonte: site www.transerp.com.br
FIGURA 4: RUA GENERAL OSÓRIO PRIMEIRO CORREDOR COMERCIAL DE RIBEIRÃO PRETO
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FIGURA 5 IMAGEM DA RUA GENERAL OSÓRIO NO QUADRILÁTERO CENTRAL
Por volta de 1890 Ribeirão Preto já se mostrava mudada. O crescimento econômico concedeu ao pequeno povoado força política significativa. O dinheiro que circulava rapidamente nas mãos dos grandes cafeicultores era um “convite à aventura política, social e boêmia”. Nessa mesma época chegava às terras roxas um cidadão francês vindo da Argentina, François Cassoulet, que viria a ser um dos primeiros responsáveis pelas inovações culturais e de entretenimento da cidade. Segundo Rubem Cione: livro “História de Ribeirão Preto” vol.1 “François Cassoulet foi nosso grande civilizador e era apenas um europeu deslumbrado com o nosso sertão”.
FIGURA 6: IMAGEM DE FRANÇOIS CASSOULET FONTE: LIVRO “HISTÓRIA DE RIBEIRÃO PRETO” VOL.1 DE RUBEM CIONE.
No início do desenvolvimento econômico de Ribeirão Preto, os ricos coronéis não tinham onde gastar seu dinheiro. Apoiados nas ideias inovadoras apresentadas por François Cassoulet dos tempos boêmios em que viveu e frequentou a alta sociedade europeia, os barões do café passaram a gastar boa parte de seus rendimentos em jogatinas, mulheres, bebida e cabarés. Surge nessa época, 1897, a fundação do Teatro Carlos Gomes, primeiro
8 centro cultural da cidade e que por quase cinquenta anos foi palco dos encontros políticos e culturais da alta sociedade ribeirão-pretana.
FIGURA 7: TEATRO CARLOS GOMESFONTE:WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP
FIGURA 8: TEATRO CARLOS GOMES, INAUGURADO EM 1897 E DEMOLIDO EM 1946
FIGURA 9: IMAGEM DO CASSINO ANTÁRCTICA
9 Em paralelo, a fundação do Cassino Antarctica, que funcionava como centro de luxúria e submundo da sociedade ribeirão-pretana. No auge do desenvolvimento, os ricos homens da cidade tinham condições suficientes para atender aos luxos franceses de suas esposas, que representava para ele certa importância, e também sustentar suas amantes, fazendoas portar o mesmo luxo. Em trechos extraídos do SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – São Leopoldo, 2007, o progresso atingia todos os setores da vida pública e se manifestava das formas mais diferentes possíveis. Nas revistas e jornais eram publicadas imagens deste “progresso” e desta civilização. As “elites” de Ribeirão Preto, eram formadas por um grupo de homens poderosos e influentes no poder público, cujas relações entre si envolviam laços de riqueza e cordialidade. Também mantinham laços de afinidade pessoal e de grandes negócios com importantes capitalistas estrangeiros. “Local de passagem para as tropas que comercializavam o sal e o ouro das Minas Gerais para o litoral e de um pequeno comércio de gênero alimentícios, revelou suas potencialidades por Martinho Prado, importante coronel do município que, por volta de 1877, redefiniu o mito da terra prometida, apontando a região possuidora da terra roxa para a plantação de café – como a Canaã dos novos tempos. Contudo, foi nas décadas republicanas de 1890 e 1900 que as lideranças municipais passaram a importar-se com a imagem da cidade frente às demais urbes e vislumbrar a possibilidade de executar uma série de intervenções para transformar Ribeirão Preto em um centro urbano civilizador e exemplar.” (PAZIANI, 2004:18)
FIGURA 10: MAPA AÉREO DE RIBEIRÃO PRETO DESTACANDO O CENTRO
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A Evolucção e Alterações do Quadrilatero Central Os ares modernos recém chegados à cidade provocaram a dissipação de um ativo comércio com pequenas profissões e indústrias alterando o cenário do “quadrilátero central”. A modernização e o crescimento demográfico da cidade ocasionam significativo aumento do número de construções na zona sul que mais tarde se tornará uma nova centralidade. Assim, a pequena vila começa a se expandir com a criação de novos bairros, surgindo novos indícios de seu desenvolvimento. O Quadrilátero Central começa a apresentar novas características arquitetônicas. Dentre as alterações do Quadrilátero Central surge a construção de novos edifícios como o Teatro D. Pedro II, Edifício Palace Hotel, Edifício Meira Junior que juntos formam o chamado Quarteirão Paulista. O primeiro prédio do conjunto arquitetônico do Quarteirão Paulista foi o Palace Hotel, inaugurado em 1926 para ser o primeiro hotel “classe A” de Ribeirão Preto. O prédio foi fechado em1992, tombado no ano seguinte e em seguida restaurado.
FIGURA 11: ANTIGO PALACE HOTEL FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP
O Teatro Pedro II foi fundado em 8 de outubro de 1930 e carrega mais de sete décadas de história. Hoje o prédio deixa recordações para os mais antigos, além de ser o terceiro maior teatro de ópera do país em capacidade de público com 1.580 lugares. Entre os episódios que marcaram o teatro está o incêndio, em 1980.
FIGURA 12: TEATRO PEDRO II PASSADO E PRESENTE FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PH
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“Nos dias atuais, além da importância arquitetônica e cultural, o Quarteirão Paulista atrai muitos turistas, inclusive de outros países, pela fama da Choperia Pinguim, abrigada no Edifício Meira Junior. A tradição da choperia existe desde 1936, quando foi inaugurado sua primeira unidade instalada na parte de baixo do
Edifício
Diederichsen,
onde
atualmente
funciona
uma
loja
de
souvenires.
A fama do chope cremoso e sempre gelado ganhou fama e atrai personalidades da televisão e da música brasileira. Entre anônimos e famosos a choperia recebe um milhão de clientes por ano .” Fonte: Folha de S.Paulo 31/08/2010.
FIGURA 13: IMAGEM DO EDIFICIO DIEDERICHSEN 1936 2009
FIGURA 14: IMAGEM DO EDIFÍCIO MEIRA JUNIOR, ATUAL CHOPERIA PINGUIM
Porem os avanços econômicos e a especulação imobiliária que surgiram na região polarizada por Ribeirão Preto não trouxeram apenas benefícios e desenvolvimento econômico. Ribeirão Preto assim como a maioria das cidades passou por intenso processo
12 de degradação de sua área central. Segundo VAZ, José Carlos, PÓLIS INSTITUTO DE ESTUDOS, FORMAÇÃO E ASSESSORIA EM POLITICAS SOCIAS,
“A degradação de áreas urbanas centrais é um fenômeno bastante comum em cidades que adquirem um porte grande ou mesmo médio. As áreas centrais começam a ser substituídas por outras regiões da cidade na função de centro de atração de investimentos e de consumo de setores mais abastados. ”
Em muitas cidades brasileiras, devido a essa degradação do centro e a migração para novas áreas da cidade a sede da prefeitura em muitos casos abandona o centro e segue para outra região com intuito de valorizar aquela área e induzir o crescimento naquela região, porem o que percebemos em Ribeirão, apesar dessa migração para novas centralidades, a sede da prefeitura se manteve na região central, com isso a cidade de Ribeirão ainda mante muitos órgãos públicos no centro.
FIGURA 15: PALÁCIO RIO BRANCO, PRÉDIO QUE ABRIGA O GABINETE DA PREFEITURA DE RIBEIRÃO PRETO FONTE: CLEYTON CASTELANI/G1
Apesar da formação de novas centralidades, principalmente nos eixos das vias de entrada e saída da cidade, o centro antigo ou o Centro Principal não perdeu sua importância no contexto sócio econômico intra urbano e no cotidiano das pessoas, pois a área central concentra as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada. (ARANHA-SILVA, 2007)
O processo de descentralização não é interessante à sociedade, pois as áreas centrais já são dotadas de infraestrutura que nesse caso acaba sendo subutilizada. Outro fator importante dos centros é a localização, os centros das cidades assim como Ribeirão Preto tem um espaço privilegiado, conta com melhor oferta de transporte coletivo, concentra grande parte do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico, enfim a degradação do centro vai além dos aspectos econômico, pois os efeitos influenciam diretamente e negativamente na história e na cultura da cidade. Segundo VAZ, José Carlos ¨
13 “Historicamente, muitas intervenções nas áreas centrais das cidades ocorreram sob a ótica de ações de embelezamento ou de grandes projetos de renovação urbana. Estes últimos alteraram radicalmente a configuração das áreas e exigiram grandes investimentos. Essas intervenções se caracterizaram por sobrepor os aspectos funcionais e os interesses imobiliários a outros fatores que um governo preocupado com a qualidade de vida e a valorização da cidadania não pode ignorar. Como reação a isso, nas últimas décadas vem se consolidando a metodologia de revitalização urbana. ”
Revitalização Urbana “O termo revitalização remete a um conjunto de medidas que visa criar nova vitalidade, a dar novo grau de eficiência a alguma coisa, em suma reabilitar. Esse processo incide sobre um objeto previamente definido. Posteriormente, se faz necessário um estudo deste objeto, por meio de projetos coordenados pelas instituições responsáveis pela revitalização e financiamento. (VARGAS, Heliana Comim; CASTILHO, Ana Luisa Howard de. Intervenções em centros urbanos).” “O processo de revitalização está ligado à produção cultural das cidades, sendo importante fator da evolução urbana, atuando, por exemplo, na transformação dos núcleos urbanos em cidadesempresa-cultura, impulsionados pelo capital cultural, em meio a um planejamento estratégico voltado ao mercado. (ARANTES, Otília Beatriz Fiori; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos B. A cidade do pensamento único. 2 . ed. Petrópolis: Vozes, 2000.) “
Segundo (LEFEBVRE, 1991), podemos entender como produção do espaço a interrelação entre o homem e a natureza, da qual resultam as características de um local. Essa produção decorre de um trabalho humano contínuo que visa alterar a paisagem, satisfazendo o interesse dos que detêm o poder de influenciar a ocupação do espaço. Esse poder, por sua vez, depende de uma série de fatores, como regime econômico, político e histórico. A alteração de qualquer desses fatores cria, para o homem, novos interesses e necessidades, modificando seus objetivos e a maneira como irá ocupar o espaço. Ao longo da história, um dos fatores que mais influenciou a ação humana foi o modelo econômico capitalista. O espaço então é transformado em mais um produto a ser oferecido à sociedade de consumo, como um objeto de marketing criado e oferecido de acordo com o interesse de cada um. Surgem, dai, estratégias para agregar valor à paisagem, tornando-a um produto mais atrativo e rentável. “No contexto de “mercantilização da cultura”, os centros históricos possuem notável valor comercial porque trazem agregados a si características históricas e culturais singulares que satisfazem o gosto das camadas mais ricas da população, dispostas a pagar por um espaço cultural diferenciado. Isto gera um processo de elitização do espaço denominado gentrificação. ” (ARANTES, Otília Beatriz Fiori; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos B. A cidade do pensamento único. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.p.33)
14 Segundo (Bidou-Zachariansen, 2006:24). Inicialmente a gentrification dizia respeito a um processo atrelado às cidades anglo-saxãs, ela se generalizou, tornando-se “a política em numerosas cidades” (Smith Bidou-Zachariansen, 2006:29), isto é, uma “estratégia urbana global”. Assim, o que antes era produto da ação de forças imobiliárias e de atores privados, transformou-se, em inúmeras cidades do mundo, em políticas urbanas de revalorização das áreas centrais, com o objetivo de torná-las mais atrativas economicamente. É dentro desse contexto, e pautando-se, além de Smith, em autores como Zukin, Featherstone e Harvey, que se conceitua gentrification “Como aquelas intervenções urbanas voltadas ao city marketing ou à transformação de degradados sítios históricos em áreas de entretenimento urbano e consumo cultural. Objetivando modernizar recursos potenciais para melhor inserção na ‘concorrência intercidades’ (Fortuna, 1997) ”, “através do uso estratégico do patrimônio, a mais recorrente característica dessas intervenções urbanas tem sido uma (re)localização estética do passado, cujo padrão alterado de práticas que mimetizam o espaço público torna o patrimônio uma mercadoria cultural, passível de ser reapropriada pela população e pelo capital (Leite, 2006:24.) ”
Completando o pensamento sobre a cidade e a imagem das cidades, (ROGERS, 2008: p. 1/22)
considera que como “habitat da humanidade”, constituíram-se no grande agente
destruidor do ecossistema e de ameaça à sobrevivência da própria humanidade. Ele constata que, atualmente, as pessoas se lembram das cidades muito mais como cenário de automóveis e de edifícios, do que por suas ruas e praças – espaços coletivos –, muito mais pelo isolamento social, poluição, medo da violência, local de consumo e pela busca insaciável de lucro do que pela comunidade, participação, espírito cooperativo, beleza e prazer. A democracia se faz representar equivocadamente por comunidades segregadas. Ao mesmo tempo em que as cidades reúnem e potencializam energia física, intelectual e criativa, que abrigam grande concentração de famílias e que facilitam o trabalho e o desenvolvimento cultural, são elas prejudiciais ao meio ambiente em detrimento de todos.
Refletindo Revitalizar o centro da cidade, envolvendo a população e os diversos setores interessados, além de ser importante economicamente, é um instrumento de resgate da paisagem da cidade e da identidade da cultura local. “(...) A cidade é a corporificação da sociedade, em sua forma deve se sempre vista em relação a nossos objetivos sociais, Os problemas das cidades de hoje não são o resultado de um
15 desenvolvimento tecnológico excessivo, mas de uma excessiva aplicação equivocada. [...] (ROGERS, 2008: p. 1/22) ”
Avenida Jeronimo Gonçalves, Área de Intervenção e seu contexto histórico na cidade de Ribeirão Preto.
FIGURA 16: AVENIDA JERONIMO GONÇALVES 1960 FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PH
FIGURA 17: IMAGENS ATUAIS DA AVENIDA JERONIMO GONÇALVES FONTE: HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/TURISMO
A área em questão compreende A avenida Jerônimo Gonçalves que se inicia na confluência da Av. Fábio Barreto com a Av. Dr. Francisco Junqueira e segue na direção sudeste, paralela as ruas José Bonifácio e Augusto Severo, a área para proposta de
16 intervenção também engloba o entorno imediato que compreende as ruas Amador Bueno se estendendo até a avenida Caramuru. Localizada na região central da cidade de Ribeirão Preto, denominado Quadrilátero Central, que abrange a área urbana situada entre as avenidas Nove de Julho, Independência, Francisco Junqueira e Jerônimo Gonçalves.
FIGURA 18: LOCALIZAÇÃO DA AVENIDA NO QUADRILÁTERO CENTRAL
Segundo levantamento de dados no site do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto a Av. Jerônimo Gonçalves é a avenida que margeia o "córrego ribeirão" denominado Preto; o nome da cidade de Ribeirão Preto advém desse córrego. A referida avenida foi um dos primeiros referenciais viários da cidade, no seu entorno foram instalados ao longo do tempo inúmeros edifícios, equipamentos e complexos comerciais, industriais e de transporte, como, por exemplo, a estação Ribeirão Preto da Cia. Mogiana e seus armazéns, rotunda, etc.; fábricas de cerveja (Antarctica e Paulista), Mercado Público Municipal, hotel Brasil e Terminal Rodoviário. Dentre os edifícios e equipamentos históricos importantes citados acima podemos destacar:
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Estação Ribeirão Preto (Mogiana)
FIGURA19: IMAGENS DA ANTIGA ESTAÇÃO MOGIANA 1960 FONTE: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PH
Em 23 de novembro de 1883 foi inaugurada a Estação Ribeirão Preto. A primeira Estação foi construída provisoriamente nas proximidades da antiga chácara Vila Lobos do local hoje ocupado pelo início da Avenida Caramuru. No final de 1884 foi inaugurada a estação definitiva, localizada próxima às margens do Ribeirão Preto (córrego), de frente para a Rua General Osório. Contava com Seção de Despachos de Encomendas, Área livre para Passageiros, Telégrafo, Sala de Espera e Restaurante. Em agosto de 1967, entretanto, a Mogiana e a Prefeitura firmaram um acordo para a derrubada das instalações e a construção, por parte da ferrovia, da estação rodoviária no local.
FIGURA 20: IMAGEM DO LOCAL ONDE FOI CONSTRUÍDO O TERMINAL RODOVIÁRIO NA AVENIDA JERÔNIMO GONÇALVES
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Cervejaria Paulista
FIGURA 21: OBRAS DE CONSTRUÇÃO DA FÁBRICA DA CIA. ANTARCTICA PAULISTA, INAUGURADA EM 11 DE AGOSTO DE 1911 FONTE: HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP?PAGINA=/SCULTURA/ARQPUBLICO/FOTOS/G ALERIA.HTM.
FIGURA 22: IMAGENS DE RÓTULOS COMERCIALIZADOS PELA ANTIGA CERVEJARIA FONTE: HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP?PAGINA=/SCULTURA/ARQPUBLICO/FOTOS/G ALERIA.HTM.
A Cia. Paulista foi fundada em 25 de abril de 1913, A primeira fábrica foi instalada à Rua Visconde do Rio Branco (esquina com rua Barão do Amazonas) e, em 18 de abril de 1914, foi inaugurada a nova fábrica, construída a Avenida Jerônimo Gonçalves, às margens do Ribeirão Preto, próxima a Estação da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro. Na margem oposta do mesmo córrego estava instalada a fábrica da Cia. Antárctica Paulista, também fabricante de bebidas e sua principal concorrente. Em 1927, a Cia. Paulista investiu na compra de terrenos e antigos edifícios localizados à Praça XV de Novembro e, em 1930, inaugurou um Teatro de Ópera, um Edifício Comercial e um Hotel (o chamado Quarteirão Paulista, tombado pelo Condephaat). Estes
19 investimentos, pioneiros, lançaram vultuosas somas na economia local, em plena crise e foram ainda responsáveis por lançar as bases do que viria a se tornar baseada a economia local até os nossos dias: uma cidade prestadora de serviços. “Localizados no centro histórico de Ribeirão Preto, os edifícios da antiga fábrica, construídos pelo arquiteto-construtor Baudílio Domingues, foram tombados pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico Turístico do Estado de São Paulo), pelo CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto) e atualmente encontra-se em processo de tombamento pelo IPHAN. Nesse sentido, foram cedidos em comodato pela FEMSA, detentora da marca Kaiser, para a São Paulo Film Commission, mantenedora dos Estúdios Kaiser de Cinema, para implantação do seu centro de produção audiovisual e para desenvolver atividades culturais. As obras de restauro, reformas e adequação foram viabilizadas pelo Governo do Estado de São Paulo (Secretaria de Estado da Cultura – ProAC), Prefeitura de Ribeirão Preto e também pelo setor da construção civil desta cidade Desde o encerramento das atividades da Kaiser na cidade, a sirene instalada na torre ficou
desativada
desde
que
soou
pela
última
vez,
em
1992.”
.
(Postado
por CERVISIAFILIA acessado dia 23/05/2014.)
Hotel Brasil
FIGURA 23: IMAGEM DO HOTEL BRASIL FONTE: HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP?PAGINA=/SCULTURA/ARQPUBLICO/FOTOS/G ALERIA.HTM
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FIGURA 24 :IMAGEM DO HOTEL BRASIL ATUAL FONTE: HTTP://WWW.FOTOLOG.COM/LUISCLEBER/71128112/
Construído na esquina da rua General Osório (atual nº 20), com a Av. Jerônimo Gonçalves (atual nº 463), o Hotel Brasil foi arrendado ainda nos anos 1930 por José Antônio Chinês, imigrante chinês. Posteriormente foi arrendado por Pedro Sinivaldi, imigrante italiano e, Antônio Sacramento, imigrante português que locou o hotel até o ano de 1945. Em seguida os irmãos da família Belíssimo: José, Felipe e Antônio permaneceram a frente dos negócios até falecerem. Mais tarde, os filhos de Antônio Belíssimo, Paulo, José e Luiz ficaram como sucessores do arrendamento até o ano de 1982. O último locatário do Hotel Brasil foi o Sr. Sebastião Gualberto Machado e seus filhos Marco e João Gualberto (organização Hoteleira Machado de Campos Ltda.) Atualmente as obras de restauro do Hotel Brasil foram embargadas pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural da cidade (Compac), devido os proprietários e os responsáveis pelo restauro não apresentarem o projeto de intervenção.
Mercado Municipal O
Mercado
Municipal
começou
a
ser
construído
em
1899.
Inaugurado em 1900, o prédio do Mercadão estava localizado no quadrilátero entre as ruas São Sebastião, José Bonifácio, Américo Brasiliense e avenida Jerônimo Gonçalves. Exibia uma arquitetura grandiosa para a década. Alto, cobertura envidraçada, feito de tijolos de barro, o prédio original do Mercado Municipal difere muito do Mercado Municipal de hoje. Assim que passou a funcionar, tornou-se um marco para a cidade. Abastecia muitas famílias de todas as classes sociais da cidade e região. No Mercado Municipal encontrava-se de tudo, alimentos, suprimentos, calçados, roupas, tecidos até ferramentas.
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FIGURA 25: IMAGEM DO ANTIGO MERCADO MUNICIPAL FONTE: HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PHP?PAGINA=/SCULTURA/ARQPUBLICO/FOTOS/G ALERIA.HTM
Durante oito anos o grupo Folena & Cia, concessionário do imóvel, explorou o local, até que a Prefeitura indenizando o grupo em "120 contos de reis" e tomou posse do imóvel.
Reconstrução O antigo prédio foi atingido pelas enchentes, características da cidade, mas em 7 outubro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, um curto circuito foi o motivo do grande incêndio
que
destruiu
o
prédio,
tornando-o
inabitável.
Comerciantes que atuavam no Mercado, viram-se obrigados a se mudarem para barracas na Av. Francisco Junqueira. O mau cheiro e a falta de higiene eram constantes e por isto foram obrigados a desativar seus comércios por falta de espaço adequado ao tipo de serviço. Em 1956, surgiu a proposta da construção de um novo Mercado Municipal. Após 16 anos da tragédia, o então prefeito, Costábile Romano inaugura o prédio. A partir do dia 28 de setembro de 1958 o novo prédio do Mercado Municipal retomou impulso econômico e até então se mantém, apesar de desgastado e envelhecido. Projetado pelo engenheiro Jaime Zeiger, o novo prédio passou a exibir uma arquitetura moderna, inovadora para época. Com 4.150 metros quadrados divididos por um corredor principal, cinco corredores secundários, a parte externa, revestida por pastilhas foi presenteada com a obra do artista Bassano Vaccarini. Na década de 90, o Mercado
22 Municipal passa a ser responsabilidade da Coderp - Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto. Atualmente com 152 boxes que oferecem os mais diversificados produtos nos 4.150 metros quadrados de área construída. Tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) em 1993 como Patrimônio Histórico através da lei Municipal nº 6.597 e em 08 de novembro de 2004 a lei municipal nº 10.250, declara o Mercado Municipal ponto turístico do município.
FIGURA 26: MERCADO MUNICIPAL ATUAL HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/CODERP/MERCADO/I01MERCADO.PHP
Terminal Rodoviário
FIGURA 27: TERMINAL FONTE: IMAGEM DO AUTOR
23 As obras de construção da Estação Rodoviária transcorreram num período de 5 anos; os 15 mil metros quadrados de área construída tiveram um custo de 12 milhões de cruzeiros (moeda corrente em 1976). A construção esteve a cargo da empresa Balbo Construtora. A inauguração oficial da Rodoviária foi em 29 de outubro de 1976 e contou com a presença de 2 mil pessoas.
Marp x Camara Municipal
FIGURA 27 MUSEU DE ARTE DE RIBEIRÃO PRETO MARP, ANTIGA CAMARA MUNICIPA FONTE: WWW.CIDADEDERIBEIRÃO.COMO.BR
Inaugurado em dezembro de 1992, está localizado no antigo prédio da Câmara Municipal. É o responsável pela organização do Salão de Arte de Ribeirão Preto Funciona de terça a sexta-feira das 9h às 18h. Sábados e domingos, das 12 às 18h.
FIGURA 28: CAMARA MUNICIPAL FONTE: WWW.CIDADEDERIBEIRÃO.COMO.BR
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A cidade a partir de um rio, a partir de uma avenida Importantes Transformações do ribeirão Preto ao longo dos anos
AVENIDA JERONIMO GONÇALVES, IMAGEM MODIFICADO PELO AUTOR
“Muitas cidades brasileiras cresceram ao longo dos seus rios, algumas de maneira semelhante, já que o início do desenvolvimento no país os rios mostravam se diferenciais controlavam o território, forneciam alimento, poderiam ser utilizados para o transporte de pessoas e bens, já era uma fonte de energia e era também um local para o lazer.” (COSTA, 2006).
Segundo
(COY, Martin (2003)
a relação rio-cidade revela-se sendo um aspecto primordial
para o desenvolvimento urbano. A disponibilidade de água constituía sempre um dos principais fatores para o estabelecimento definitivo e a localização específica de povoamentos humanos. Neste sentido, os rios não forneceram somente a água como recurso escasso para a população ou para a agricultura irrigada, mas serviram também como os principais meios de comunicação, como vias de transporte para as mercadorias etc. Portanto, a dinâmica do desenvolvimento de uma cidade tem muito a ver com as funções do seu rio, a importância fluvial revela-se, via de regra, na organização espacial da cidade. “O rio, as pontes e as suas margens (revitalizadas) formam uma paisagem urbana específica e podem dar uma identidade inconfundível a uma cidade. São as beira-rios – suposto que o acesso esteja assegurado – que convidam para passeios e que oferecem potencial para as mais diversas atividades” (cf. HAAS 2005)
25 Na década de 20 a Avenida Jeronimo Gonçalves por margear o córrego Ribeirão, sofria com as constantes enchentes, a parte baixa da cidade que compreendia toda a avenida e seu entorno teve de passar por inúmeras obras afim de minimizar os problemas gerados principalmente aos comerciantes e aos moradores que tinham suas residências próximas ao rio. Segundo dados levantados no Arquivo Histórico de Ribeirão Preto, Em 1927 foi tão grande a enchente que as águas do Ribeirão Preto penetraram em habitações e armazéns, ocasionando sérios prejuízos ao comercio estabelecido na avenida Jeronimo Gonçalves, rua José Bonifácio e nas ruas transversais.
FIGURA 28: ENCHENTE NA AVENIDA JERONIMO GONÇALVES HTTP://WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/CODERP/MERCADO/I01MERCADO.PHP
Segue abaixo uma descrição de obras realizadas no passado na região da Avenida Jeronimo Gonçalves seguindo uma ordem cronológica, afim de demonstrar como foram as obras naquela região, dados tirados do site do arquivo público e histórico de ribeirão preto. “1897: Investimentos em garantias sanitárias contra a febre amarela. Obras: saneamento dos córregos, rasgando, retificando e alargando os leitos, aterramento das margens e saneamento dos extensos pântanos que circundam a cidade por meio de valetas e drenos que encaminham para os referidos córregos as águas estagnadas. Em Cravinhos foram igualmente realizadas obras de saneamento, drenagem e retificação do Ribeirão Preto. Neste ano de 1896 foram iniciadas as obras do Hospital de Isolamento. Construção do restante do caes no córrego Ribeirão Preto em frente ao aterro da Praça Schmidt executado pela Cia. Mogiana, executado também o aterro da margem esquerda do córrego. Ainda no mesmo relatório há citação da mudança do leito do córrego Ribeirão Preto realizada em 1894.
26 1905: Obras de "saneamento e embelezamento" realizadas: término do calçamento da Rua General Osório (conhecida como rua da estação) com a Alvares Cabral até a Estação da Cia. Mogiana de Estrada de Ferro. Construção da ponte de alvenaria de pedra e arco na rua General Osório esquina com Jerônimo Gonçalves em substituição da ponte de madeira. Foram aterradas as margens do "ribeirão" Preto, da Duque de Caxias até a barra com o córrego Retiro. A Cia. Mogiana executou o caes do Ribeirão Preto desde a rua São Sebastião até a ponte da linha férrea próxima ao bairro República. Foram ainda realizadas obras de retificação do Ribeirão Preto na Vila Bonfim. 1920: "Fica por executar a completa retificação do Ribeirão Preto desde a cidade até além da Vila Bonfim, medida reclamada para o saneamento da baixada onde reina a palustre". 1925, "A empreitada para a retificação de parte do ribeirão Preto no trecho compreendido entre a ponte do extremo da rua Jeronimo Gonçalves e o pontilhão da Estrada de Ferro metalúrgica, foi contratada pela Companhia Metalúrgica Brasileira por 40 contos, inclusive a indenização à viúva Estavam e filhos, consistente numa bomba de motor para captação de água do ribeirão na irrigação da Chácara Flora, de propriedade deles. A restante retificação daí em diante ainda se fará este ano. Este serviço de indiscutível necessidade e utilidade para o saneamento de toda a vargem compreendida entre aquela ponte e a rua Capitão Salomão, evitará d'ora avante as enchentes do Ribeirão e, portanto, os prejuízos dos proprietários desse trecho de terreno, até então inutilizado pelas constantes inundações". 1927: Saneamento - A Prefeitura Municipal incumbiu o Engenheiro Dr. Salomé Queiroga para fazer estudos necessários, este indicou a retificação do córrego Ribeirão Preto desde a Jeronimo Gonçalves até a Estrada de Ferro da Metalúrgica e aterro de partes baixas do referido córrego. 1928: refere-se a execução de obras de canalização do Ribeirão Preto até a junção com o córrego do Retiro. 1929, obras de canalização do Ribeirão Preto que corta a cidade do bairro República até a av. do Café (nota- atual av. Francisco Junqueira); refere-se ainda a retificação do Ribeirão Preto da rua Duque de Caxias até a av. do Café e, aterro da margem esquerda do ribeirão. ”
A Jeronimo Gonçalves de Hoje, o passado mandando lembranças. “Nos últimos anos, as pressões para o ajuste às normas do mercado global têm criado programas de reestruturação urbana surpreendentemente similares. (...) Em qualquer região do mundo, a paisagem resultante é, ao mesmo tempo, mais similar ou global, e mais diferente ou local do que antes parecia ser” (Zukin, 2000b:105).
Com relação à área, pode-se concluir pelo levantamento, que ações de intervenção já foram iniciadas com projeto de obras ante enchentes na Avenida Jerônimo Gonçalves,
27 dando um maior respiro para os comerciantes da região. Mas ainda é só um início dentro de tudo que a área necessita, visto que a área é um celeiro de patrimônios históricos, praças centenárias, eixo viário importante para a cidade, local de usos variados, como comércios, serviços, institucionais, lazer e cultura. Entre as principais obras na Avenida podemos citar através de fontes do site da prefeitura municipal de Ribeirão Preto os dados técnicos da obra ante enchente que foi dividida em fases, iniciando no ano de 2009.
FIGURA 29: AVENIDA REVITALIZADA 2011
A obra foi dividida em quatro etapas:1ª etapa: obras da rotatória Amin Calil até a rua Visconde do Rio Branco; 2ª etapa: obras em 380 metros na avenida Jerônimo Gonçalves, no trecho entre as ruas Visconde do Rio Branco e Martinico Prado;3ª etapa: obras do trecho entre a Avenida Jerônimo Gonçalves, entre a Lafaiete e a Rua Ana Neri; 4ª etapa: do canal do Córrego Laureano ao lado do Parque Maurilio Biagi- abertura da Avenida Álvaro de Lima - acesso à Vila Virgínia – até a Rua Ana Néri. Nesta 4ª etapa foram realizados os mesmos trabalhos das etapas anteriores, ou seja, as intervenções no córrego, que tiveram a tarefa de triplicar a vazão, de 80 para 250 m³, e o aprofundamento do canal em rocha em 1,5m, alargamento do córrego em 6m, passando de 8m para 14 m. Os serviços também contemplaram terraplenagem, construção das estruturas e fundações do canal, pavimentação asfáltica, construção de guias, sarjetas, execução de micro drenagem, construção de rede de elevação de água e esgoto e substituições de pontes ao longo do trecho. “Os comerciantes da região central sentiram o reflexo das obras, iniciaram reformas em seus estabelecimentos vislumbrando dias melhores, sem temer novas enchentes”
28 Destacou o secretário de Obras, Abranche Fuad Abdo. Já os moradores da Vila Virgínia, região da avenida Álvaro de Lima, que sofriam a cada chuva que chegava, tiveram seus imóveis valorizados, sem contar que, com a abertura da via, o acesso ao centro ficou mais fácil e rápido. Intervenções no córrego tiveram a tarefa de triplicar a vazão, de 80 para 250 m³, e o aprofundamento do canal em rocha em 1,5m, alargamento do córrego em 6m, passando de 8m para 14 m.”
FIGURA30: IMAGENS DA OBRA ANTE ENCHENTE 2010 FONTE: SITE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO
FIGURA31: IMAGENS DA OBRA ANTE ENCHENTE 2010 FONTE: SITE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO
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FIGURA31: IMAGENS DA OBRA ANTE ENCHENTE 2010 FONTE: SITE DA PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO
Referencias Projetuais Madri rio
FIGURA 32:IMPLANTAÇÃO PROJETO MADRI RIO ESPANHA FONTE: HTTP://WWW.GOMADRID.COM/BEACH/
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O projeto Madri Rio faz parte de um amplo projeto de revitalização de vias as margens do rio Manzanares com a construção de um Parque Linear com 500 mil m2. O projeto Madrid Rio, realizado entre 2004 e 2007 é considerado um dos mais importantes em termos de transformação urbana na Espanha. Ele foi responsável pelo soterramento de alguns trechos da rodovia (que margeia o rio Manzanares), bem como pela criação de novos acessos e túneis de interligação, o que melhorou as conexões da via com diversos bairros da cidade, e desses com a região central de Madri. O soterramento da rodovia permitiu a liberação de 50 hectares de área na porção Oeste da rodovia, abrindo a possibilidade para a construção do parque Madrid-Río. Assim, por sobre a via enterrada, hoje há uma grande área de lazer com ciclovias, praia artificial, quadras esportivas e diversos equipamentos públicos. O projeto de urbanização integrou bairros, possibilitou a reabilitação do rio Manzanares e seu entorno, requalificou antigas pontes e adotou modernas soluções para reuso de água.
FIGURA 33 : IMAGENS DO PROJETO MADRI RIO, PRAIAS URBANA S FONTE:HTTP://WWW.GOMADRID.COM/BEACH/
Entre os equipamentos de esporte e lazer, destaca-se a "Playa de Madrid", com três áreas aquáticas de formato oval: uma com jatos de água com altura e efeitos variados, outra com um lago de água pulverizada e, por último, mais uma área com 3 cm de profundidade, onde as pessoas podem se estender e se refrescar durante os dias de calor.
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FIGURA 34 : IMAGENS DO PROJETO MADRI RIO, VISTA AÉREA FONTE:HTTP://WWW.GOMADRID.COM/BEACH/
Proposta: Revitalização do Rio Cheonggyecheon Ano: Julho de 2003 Seul, Coréia do Sul
FIGURA 35: IMPLATAÇÃO DO PROJETO
Em 2002, o então prefeito de Seul, Lee Myung-bak, deu início às obras de revitalização do canal. Primeiro, foram retirados a avenida e o viaduto, bem como definidas alternativas para realocar os comerciantes irregulares.
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FIGURA36 :IMAGENS DO PROJETO EM SEUL
FIGURA 37:IMAGENS DO PROJETO
Seul também ampliou a malha de transporte público e fez mudanças no fluxo dos veículos que circulavam pelo centro da cidade. Como resultado, houve aumento do número de usuários optando por novos sistemas de transporte e na mudança de hábitos de viagem.
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FIGURA38 :IMAGENS DO PROJETO FONTE: PLANETA INTELIGENTE
FIGURA39 :IMAGENS DO PROJETO FONTE: PLANETA INTELIGENTE
Objetivar, Planear, Pretender, Projetar-se, Tencionar, Visar. A transformação na realidade do rio em Madri e em Seul , transformando o rio em um espaço de convivência e valorização urbana, serve de premissas para meu projeto de revitalização do ribeirão preto, pois assim como citado nas referências anteriores o rio era totalmente invisível e escondido sobre o concreto , minha proposta é fazer do rio um local interativo entre cidadãos e ambiente aquático, incorporando-o à vida da sociedade: passear, trabalhar, estudar, fazer compras e negócios. Executar todo o processo de ligação com atrações históricas, reestruturação total da área do rio. Com base nos levantamentos, nas referências, o meu entendimento sobre a cidade, sobre como intervir, porque intervir, entendo que um projeto arquitetônico deve visar soluções
34 criativas e adequadas à sociedade ao local, cidade, possibilitando uma implantação voltada aos requisitos urbanos, ao conforto e necessidades dos usuários. O espaço urbano deve ser acessível onde se produz e onde se reúne toda diversidade, onde toda a sociedade coexista e se relacione. Com base nos levantamentos históricos da Avenida em questão, levando em consideração toda sua importância no contexto da cidade, esse projeto reflete minha interpretação do espaço e a aplicação de ideias que se organizaram em busca de um espaço ideal. Tenho como ponto principal e foco de projeto a valorização do rio Ribeirão, pois não posso deixar de atribui-lo toda a importância que o mesmo tem em relação ao desenvolvimento da área, e o desenvolvimento da cidade, porem a proposta para área é ampla e abrange toda sua extensão.. A proposta inicial foi pensada e dividida em fases.
Fase 1: Alargamento do leito do rio, trazendo o mesmo à vista, a vida, para que as pessoas possas interagir com o rio, criando no seu entorno, ciclovias, novas e modernas passarelas, fontes de agua que remetera a uma praia urbana no coração da cidade , um paisagismo que contemple o rio, com nova iluminação, novas áreas de pedestres pois um dos pontos importantes é o fluxo de pedestre da região e como manter esses pedestres no local utilizando e contemplando a área, novos pisos e um entorno que dialogue com a cidade e com os edifícios históricos da área O rio passara de coadjuvante para protagonista na paisagem da Avenida Jeronimo Gonçalves. Fase 2: O local do atual terminal Rodoviário mudara de local, saindo da Avenida Jeronimo Gonçalves e passando para a Avenida Francisco Junqueira onde se encontra o prédio da antiga Cervejaria Antarctica. A avenida Francisco Junqueira tem uma ligação direta com a Jeronimo Gonçalves pois as duas tem um entroncamento na esquina da antiga fábrica, com o deslocamento do Terminal para essa área, o fluxo será garantido e dará um grande respiro para a área de intervenção, tirando a imagem da Jeronimo de avenida com função rodoviarista. Como o edifício da cervejaria é um bem tombado meu projeto manterá toda a estrutura atual do prédio, sendo utilizado seus antigos galpões para lojas de comerciantes da rodoviária, somente será construído uma estrutura nova para atender os guichês de passageiros e as salas de embarque e desembarque, não alterando assim a estrutura histórica do edifício. O local onde se encontra o atual Terminal será parte do projeto de alargamento do rio ribeirão, onde será construído uma área de praia urbana. É importante frisar que, em geral, a revitalização de áreas centrais depende da promoção de novas imagens para locais tidos como decadentes ou de má fama, seguindo esse conceito penso que não somente propor novos usos, mas trazer a imagem e a importância da Avenida para a sociedade, requalificando seu entorno, exaltando sua história e criando na sociedade sensações, vontade de estar lá.
Conceito Inicial
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FIGURA 1: IMAGEM ATUAL DA ÁREA
Transformação pensamento inicial Explicando as primeiras idéias: Primeiro ponto: Com a proposta de aumentar o leito do rio, primeiramente estudei um ponto para transferir o atual Terminal Rodoviário, e transferir o atual UBDS para outro local criando uma área de parque que une a Praça Francisco Shimdt até o Parque Maurílio Biagi, como mostra a figura 2
FIGURA 2: IDÉIA INICIAL
Segundo ponto: Cheguei a conclusão que um ponto ideal para o novo Terminal Rodoviário será na antiga fábrica da Cervejaria Antártica, pois hoje o edifício se
36 encontra vazio com um projeto de se transformar em um shopping, que na minha opinião descaracteriza totalmente a área, com o novo terminal rodoviário no edifício, o projeto propõe não alterar a estrutura e a característica do edifício e somente criar um anexo onde seria as salas de embarque e desembarque. O sentido da Avenida Jeronimo Gonçalves , Francisco Junqueira Caramuru será alterado na altura da Praça Francisco Shimidt, o novo sentido será desviado pela atual rua Severo na Vila Tibério, passando entre o novo Parque Linear e a Vila Tibério, não alterando a rotina dos moradores pois na rua em questão o uso é comercial e de serviços. figura 3, 4
FIGURA 3: EVOLUÇÃO DA PROPOSTA
FIGURA 4: NOVO TRAÇADO DA AVENIDA
37 Terceiro Ponto: Criar 谩reas de estacionamentos ao lado do CPC, passarelas saindo do Mercado Municipal e CPC. Criar na parte mais alta do terreno um complexo de Restaurantes e Museu que contemple a hist贸ria do local. figura 4, 5
FIGURA 4: ESTACIONAMENTOS, PASSARELAS, MUSEU E RESTAURANTES
FIGURA 5: ESTACIONAMENTOS, PASSARELAS, MUSEU E RESTAURANTES
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Considerações finais do Autor Não é apenas concreto, não é apenas espaço sem vida esquecido as margens de um velho rio, o centro, a avenida, a rua, todo esse espaço vive, tem arte, tem cultura, tem história, história contada através do tempo, através de suas rugas cravadas nas fachadas dos seus sobrados, palacetes, hotéis com suas fachadas ecléticas de um período de riqueza e glamour. O centro é muito mais que pessoas indo e vindo freneticamente cumprindo horário, o centro o mercado municipal, o terminal rodoviário, a velha fabrica, a praça, estão todos ali, dia, a dia nesse cenário urbano, rico, critico, simplesmente a espera de reconhecimento, esquecidos por todos sem exceção. Culpamos as autoridades, os políticos, o poder público pela falta de manutenção e pela desvalorização dessas áreas, transferindo assim nossa parcela de culpa. Em visitas a Avenida Jeronimo Gonçalves, as ruas José Bonifácio e as ruas que compreendem o entornam da região da baixada, podemos sentir toda essa força, toda essa história saindo assim de uma zona de conforto e vivenciando a realidade do local, a reais necessidades, as cores, os sons, as imagens, enfim, podemos sentir a rua, o mercado, o hotel, sentir o medo ou receio ao se deparar com usuários de drogas na Praça Francisco Schimdt, a prostituição acontecendo ao vivo no meio da tarde e sem nenhum pudor, todas essas sensações só se sentem vivenciando, estando lá, e essa é a base para se projetar, para poder diagnosticar os problemas e as potencialidades, para a partir daí determinar as diretrizes de intervenção, não se projeta, não se cria, não se discute uma intervenção a qualquer área que seja, sem antes sentir, usar, entender, não se intervém ou requalifica um espaço para manter os usuários existentes, mas sim para mante lós e conquistar novos usuários, novos olhares novas perspectivas.
Bibliografias ZUKIN, Sharon. Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder. In Arantes, Antonio Augusto. O espaço da diferença. Campinas, Papirus, 2000.pp 80-103 (ARANTES, Otília Beatriz Fiori; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos B. A cidade do pensamento único. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.p.33) (VARGAS, Heliana Comim; CASTILHO, Ana Luisa Howard de. Intervenções em centros urbanos). Coy, Martin (2003b): Tendências atuais de fragmentação nas cidades latino-americanas e desafios para a política urbana. – Ibero-americana, 3, 11: 111-128. VILLAÇA, F. Espaço interurbano brasileiro. São Paulo: Studio Nobel, 1998. Ribeirão Preto: A Dinâmica da Economia Cafeeira de 1870 a 1930, de Luciana Suarez Galvão Pinto. José Carlos Vaz: PÓLIS INSTITUTO DE ESTUDOS, FORMAÇÃO E ASSESSORIA EM POLITICAS SOCIAS VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano brasileiro. São Paulo: Studio Nobel, 1998. Ribeirão Preto: A Dinâmica da Economia Cafeeira de 1870 a 1930, de Luciana Suarez Galvão Pinto. OLIVEIRA, J. H. C. Ribeirão Preto na República Velha: economia e riqueza através das transações imobiliárias, 2006. Tese (Doutorado em História)– FHDSS, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2006. p. 201A CIDADE. Ribeirão Preto (SP), domingo, n. 3.585, 16 jan. 1916, p. 2. (Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto). JAYME, Lúcia de Rezende. Nas sombras das luzes educacionais: as escolas isoladas em Ribeirão Preto (1890-1920), 2007. Monografia (Conclusão de Curso)– CUBM, Ribeirão Preto, 2007. (PAZIANI, 2004:18) CIONE, Rubem. História de Ribeirão Preto. Volume IV. Ribeirão Preto: Legis Summa, 1996.
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Sites Consultados http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/coderp/mercado/i01mercado.php fonte:http://www.gomadrid.com/beach/ Fonte: Site da prefeitura municipal de Ribeir達o Preto Fonte: WWW.RIBEIRAOPRETO.SP.GOV.BR/SCULTURA/ARQPUBLICO/I14INDEX.PH Fonte: Planeta Inteligente