Altavila Videiras 3

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Amavale Associação de Moradores e Amigos do Vale das Videiras

AltavilA

videiras Comunicaçã o em Comunidade Vale das Videiras — Verã o 2016 — No 3

Vertentes de um Vale que tem a Vida como Vocação


Editorial A biodiversidade das Videiras está presente em vários momentos desta 3ª edição do Altavila, que também traz o tema da imigração italiana e procura contar vivamente a saga de Manoel Congo, entre outras histórias que surgem como vertentes de um Vale que tem a vida como vocação. O importante tema da sustentabilidade ambiental está na matéria com o biólogo Gustavo Martinelli, que estudou em profundidade as flores raras das montanhas da região. As realizações da Amavale em 2015, desde o início uma instituição parceira desta publicação, evidenciam que uma ação coletiva cada vez mais organizada em torno da associação de moradores é fundamental para avançar diante dos desafios sociais, educacionais e ambientais que ainda fazem parte do dia a dia da comunidade. Com as grandes e médias cidades já saturadas de carros, prédios e fábricas, um lugar como as Videiras, onde se anda de bicicleta e reinam os galos, as noites estreladas e os quintais, ganha enorme importância para uma existência conectada, não aos celulares, mas aos ciclos da Natureza. No Vale, moradores e visitantes de todas as idades sentem enorme prazer ao, simplesmente, caminhar na mata ou tomar banho de rio. Entretanto, mesmo pleno de natureza, o Vale sofre os efeitos do mundo moderno. Um exemplo é o uso indiscriminado de celulares e das poderosas ferramentas digitais que capturam o imaginário dos jovens despreparados para lidar com o que há de positivo nas redes sociais. Outro efeito negativo da modernidade é o descarte inconsequente do lixo. O Vale precisa dar passos na direção de uma coleta seletiva eficaz, separando os resíduos recicláveis e reutilizáveis e praticando a compostagem do lixo orgânico. Já em 1980, o cineasta francês Jean-Luc Godard alertava para os perigos de uma sociedade que cria produtos de alto impacto ambiental. Em frase memorável, ele pergunta: quem precisa de mísseis atômicos e copos de plástico? Compartilhe suas ideias e ações de sustentabilidade nas reuniões da Amavale. Maurício Collier, pela equipe do Projeto Altavila Agradecemos a contribuição e as fotografias de Beth Vieira (maritaca comendo coquinho e Ângela Lima de bicicleta), Telma Silveira (pássaro azul, Lua cheia e bouganville amarelo), Luiz Binato (Galpão Caipira ao anoitecer e trio de ciclistas), Yara Carvalho (alunos na formatura do 9º ano da Escola Municipal), professores Alcides e Branca (antiga igreja católica) e Sandra Paiva (vista do Vale a partir de um quarto da pousada Rancho da Ferradura). Agradecemos também a colaboração de Selma de Souza, Aline Azevedo, Diogo Bernardes e profa. Vanilda Curitiba.

email de contato: altavila.info@gmail.com Esta é uma publicação do Projeto Altavila Comunicação em Comunidade Editores - Maurício Collier e Carmen Lúcia Carvalho Projeto Gráfico - M.W. Collier Design Distribuição Gratuita e Dirigida Periodicidade trimestral 1.000 exemplares Impressão - Editora Gráfica Jornal da Cidade - Petrópolis

fala, Zé ero começar agradecendo a ajuda que recebi dos associados e da comunidade das Videiras durante estes dois anos à frente da Amavale, sem dúvida uma ajuda decisiva para alcançar as metas estabelecidas para o meu mandato, que ora se encerra. Seria impossível citar nominalmente todas as pessoas que colaboraram para o sucesso da Amavale: os associados que contribuíram com recursos financeiros e, também, os que compartilharam seus saberes na forma de palestras, aulas, cursos, mutirões etc. Essa contribuição significou desenvolvimento e preservação para o Vale. Não posso deixar de agradecer à direção que me acompanhou neste percurso —Loreto Figueira, Regina Baptista, Francisco Paladino, Daniel Ribeiro e Eurico Vilella, bem como aos funcionários da Amavale: Selma de Souza, Maria Amélia Guerra, Aline Azevedo e Ricardo Fonseca. Somente com a dedicação e o compromisso que a diretoria e os funcionários imprimiram à associação foi possível concretizar as metas propostas. Após dois anos à frente da Amavale, o bastão da presidência foi entregue à Loreto Figueira, à frente da associação no biênio 2016–2017. Com a criação do “Conselho Consultivo”, Loreto e sua Diretoria terão um apoio mais efetivo e representativo para a realização das propostas sociais, educacionais e ambientais que estão sendo gestadas para os próximos anos. ero agradecer também ao Carlinhos do Horto, que plantou voluntariamente dezenas de mudas de árvores às margens da RJ-117. A todos, mais uma vez, agradeço o apoio que recebi. e 2016 seja um ano de realizações, saúde e paz. E que continuemos a preservar de forma cada vez mais sustentável o paraíso chamado Vale das Videiras. Forte abraço, José Felipe

Presidente da Associação de Moradores e Amigos do Vale das Videiras 2014/2015

Plantio de Arvores Com uma iniciativa digna de registro, o Carlinhos do Horto, há 13 anos proprietá rio do POTES E CAIXOTES, plantou voluntariamente 66 mudas de á rvores à s margens da RJ-117, da Fazenda das Videiras até o Horto, no centrinho. Com o tempo, cerejeiras, patas de vaca, escovas de garrafa, quaresmeiras e ipê s rosas vã o garantir uma estrada mais mais bonita e arborizada. Seu pró ximo passo será o plantio de mudas de á rvores frutıf́eras, chamando mais pá ssaros para a regiã o. Carlinhos acredita que, dentro dos seus saberes e na medida do possıv́el, cada morador pode dar a sua contribuiçã o para um Vale melhor. Exemplo a ser seguido.


Programa da 3ª Idade da Amavale

Em dois momentos do passeio, as senhoras do Vale e a equipe do Programa da 3a Idade no Rio de Janeiro: acima, no Jardim Botânico e, na foto abaixo, na Praia do Leme

Entre as realizações da Amavale, em 2015, deve ser destacado o Programa da Terceira Idade, que completa 10 anos. É um justo reconhecimento à dedicação e ao trabalho da equipe, coordenada pela fisioterapeuta Gisele Barros, com apoio do trabalho da prof. Zenóvia Yosub, dos profissionais do Posto de Saúde e demais colaboradores. Sobretudo, é preciso registrar a determinação com que as senhoras participam do projeto. Divulgar os resultados contínuos desta iniciativa é uma obrigação, pois se trata de uma referência e um exemplo prático a ser seguido pela comunidade. Desde 2005, é possível perceber o impacto positivo sobre a vida destas senhoras que viram o Vale crescer. Em encontros semanais, as senhoras compartilham experiências, atividades lúdicas, aulas de tricô e tecelagem, além de passeios trimestrais fora do Vale. Também fazem parte da programação, sessões de fisioterapia com a Gisele e cuidados de saúde preventiva com os demais profissionais do Posto, como medição da pressão arterial e prevenção e controle de diabetes. Este acompanhamento proporciona uma experiência de pertencimento e uma convivência comunitária com reflexos significativos na autoestima e na melhoria das condições de saúde física, mental e emocional do grupo.

aniversários, as festas de Páscoa, dia das Mães e Natal são comemorados com lanches especiais e pequenas lembranças para cada participante. Este ano o passeio do grupo, em van contratada pelo programa, foi ao Jardim Botânico no Rio de Janeiro. Este projeto faz parte das atividades da Amavale e é totalmente custeado pelas filhas de d. Tereza Carvalho, idealizadora, promotora e patrocinadora do projeto durante muitos anos.

Para as senhoras que residem distantes da Amavale ou têm maior dificuldade de locomoção, o programa disponibiliza o transporte. Os

Amavale sob nova direção Maria de Lourdes Figueira, a nova presidente da Amavale, tem uma vida digna das melhores guerreiras. em vê a discreta e natural elegância da esposa do Felipe Figueiras não pode imaginar que ela tem uma surpreendente experiência de vida. Com casa nas Videiras há mais de 20 anos, todo mundo a conhece como Loreto. Bióloga de formação, ela tem em seu currículo profissional uma longa trajetória no IBAMA. Entre os muitos desafios de sua carreira, trabalhou 2 anos no pantanal matogrossense em meio a onças e sucuris, onde sua principal e nada fácil função diária era capturar, classificar, marcar e monitorar os hábitos de manadas de queixadas, os perigosos porcos-do-mato que andam em bandos de até 40 indivíduos e são conhecidos pela força brutal de suas mandíbulas.

Com profunda experiência no resgate de animais ameaçados e no manejo de unidades de conservação, é possível perceber que a Amavale está mais uma vez em ótimas mãos, uma linhagem de administradores atentos que começou com d. Teresinha Cunha e teve no Zé Felipe um realizador exemplar. Para seu mandato de dois anos, Loreto tem como meta inicial elaborar um “diagnóstico” ambiental, social e educacional da região. Para ajudá-la nessa tarefa, ela conta com o apoio do Conselho Consultivo, uma equipe de especialistas em diversas áreas de atuação que trabalha voluntariamente em benefício do Vale. Loreto também conta com a adesão da população em torno da Amavale. Com um maior número de participantes atuando em conjunto com a associação, o trabalho da nova presidente tem tudo para avançar. Associe-se, participe das reuniões e compartilhe suas ideias para um Vale melhor.


Associação de Moradores e Amigos do Vale das Videiras

FOTO TELMA SILVEIRA

Amavale

Amavale CUIDANDO DO VALE QUE TEM A VIDA COMO VOCAÇAO

O ano de 2015, apesar da crise polıt́ica e econô mica que se instalou no Brasil, nã o impediu a Associaçã o de Moradores e Amigos do Vale das Videiras de atuar com o vigor de sempre, um padrã o que faz parte do material gené tico da Amavale desde a sua formaçã o, há quase 30 anos. De janeiro a dezembro, ao promover iniciativas sociais, educacionais e ambientais no Vale, sua atuaçã o fez toda a diferença. As reuniõ es com a comunidade aconteceram durante todo o ano, debatendo os problemas e identi icando as expectativas e necessidades da populaçã o. Na colô nia de fé rias, no inıćio do ano, crianças e jovens realizaram diversas atividades lú dicas: elas pintaram, desenharam e praticaram esportes. A Reforma do parquinho aconteceu em dezembro e, até fevereiro de 2016, novos brinquedos serã o comprados. A Mú sica no Coreto, no primeiro sá bado de cada mê s, apresentou artistas de diversas tendê ncias musicais. O Bazar de Artesanato, realizado na sede da Amavale em dois inais de semana de dezembro, foi criado para que artesã os e artistas plá sticos locais tenham espaço para comercializar seus produtos. A Campanha “Boa Visã o”aconteceu no dia 14 de novembro: mais de 150 exames de vista gratuitos foram realizados, incluindo a confecçã o de ó culos a preços populares. Aos sá bados, à s 19h, a programaçã o do Cinema, no subsolo do Armazé m das Videiras, incluiu ilmes para todos os gostos e faixas etá rias, principalmente para as crianças. No dia 12 de dezembro, a Festa de Natal da associaçã o reuniu mais de 150 crianças na Arena. Alé m de atividades recreativas orientadas pelo prof. Leandro Azevedo, foram distribuıd ́ os cachorros quentes, algodã o doce, sucos e muitos presentes para a criançada. CURSOS e AULAS Curso Bá sico de Elé trica – Atravé s das aulas do engenheiro elé trico e prof. Má rio Maia, 3 turmas concluıŕam o curso em 2015. Na gastronomia, o Curso de Padaria do prof. Ricardo Gonzalez també m formou 3 turmas, contemplando mais de 20 alunos com uma certi icaçã o de excelê ncia. Na mú sica, atendendo à demanda da comunidade, as aulas do mú sico Jorge Luiz bene iciaram os jovens interessados na arte de tocar violã o. No inal do ano, os alunos deram um concerto para a comunidade.

piqueniques nos ins de semana e feriados, com direito a refrescantes banhos de rio. Os eventos realizados com o apoio da Amavale, e que tiveram o Espaço Comunitá rio como base logıśtica, alé m de gerar receita para a associaçã o de moradores e para o comé rcio local, reforçam a vocaçã o desportiva do Vale: APTR – corrida de Montanha; Montanha CUP – de Mountain Bike; Enduro Bike – Down Hill de Mountain Bike; Test the Best – promovido pela Specialized Bikes. A Amavale també m promoveu e incentivou importantes mutirõ es de limpeza e restauro das estradas da regiã o. Em abril, um grupo de voluntá rios coordenados pela associaçã o recolheu mais de 270kg de lixo. O conserto da Estrada do Prata, em julho, també m foi feito por um mutirã o, que reformou as vias entre o centrinho e o Quinzinho Portuguê s. A Amavale contribuiu com parte do material utilizado no trabalho. Em junho foi inaugurada a “Feirinha das Videiras”. Organizada pela associaçã o de moradores, a Feirinha reú ne em mé dia 16 barracas a cada sá bado, das 10h à s 14h. Os agricultores da regiã o agora tê m a oportunidade de escoar sua produçã o de hortifrutigranjeiros e caseira, oferecendo gelé ias, doces, compotas, queijos, cachaças, lores, hú mus, tudo feito artesanalmente. Alé m de se tornar uma atraçã o turıśtica, a Feirinha é uma fonte de renda extra para a comunidade. Desde outubro, na ú ltima 5ª feira de cada mê s, a associaçã o providencia a coleta de lixo nas estradas locais contratando o caminhã o do Carlos Valente (tel. 2225-1852) e um ajudante. Para a retirada do “lixo vegetal” das lixeiras, o caminhã o do Zinho (tel. 2225-1465) teve de ser contratado, pois a Comdep nã o retira entulho de obra e “lixo vegetal ” das lixeiras. A Amavale continua a recolher o lixo e a limpar regularmente as lixeiras do centro. Atravé s de ofıćio enviado à prefeitura de Petró polis, a Amavale conseguiu que a Comdep passe a coletar o lixo “comum ” até o Quinzinho Portuguê s. E també m instalou grandes lixeiras no Som das Aguas e na Igreja Cató lica, bem como 8 latõ es de lixo a ixados em pontos estraté gicos do Prata.

ARENA – ESPAÇO COMUNITARIO TERESINHA CUNHA Ao adquirir a Arena e torná -la uma á rea pú blica destinada ao lazer da comunidade, a Amavale fez uma reforma completa no agora Espaço Comunitá rio Teresinha Cunha. A reforma icou pronta em junho a tempo de sediar a Festa de Sã o Joã o, um sucesso que levou mais de 1.000 pessoas ao evento, apesar do frio enregelante amenizado pelo quentã o, pela fogueira e, sem dú vida, pelo calor humano que foi o ponto alto da festa. As obras na Arena contemplaram a instalaçã o de banheiros masculinos e femininos, a reforma do palco, da pista de dança e do camarim, a construçã o de um galpã o e de uma arquibancada, com escadas de acesso e bancos de madeira, para dar mais conforto e comodidade ao espaço que está aberto para receber eventos sociais, esportivos e culturais. A compra de uma geladeira, de um fogã o e de uma churrasqueira permitem a utilizaçã o da Arena para

Equipe de oftalmologistas e técnicos da Rios Óticas Brasil que esteve nas Videiras para um dia de exames de vista gratuitos, beneficiando mais de 150 moradores que compareceram à sede da Amavale. Um outro dia de consultas está previsto para fevereiro. Confirme o agendamento pelo tel. (24) 2225.3002 ou na sede da associação.


OUTRAS AÇOES da AMAVALE: * Restauraçã o da Ponte do Prata; * Envio de mais de 30 ofıćios, em especial aos prestadores de serviços pú blicos, como a empresa de telefonia Oi e a concessioná ria de energia Ampla, geradoras de reclamaçõ es entre seus usuá rios, alé m de ó rgã os pú blicos como a secretaria de transporte, que acabou por colocar mais um ô nibus no horá rio de pico matinal;

* Em dezembro, a Amavale deu inıćio a obras de melhoria na comunidade do Salgado, começando pela reforma da casa da d. Eva, que estava em condiçõ es precá rias. O objetivo é executar obras de saneamento bá sico, a reforma das casas e o plantio de á rvores para proteger a comunidade de deslizamentos de terra;

* A associaçã o continua apoiando o trabalho voluntá rio da neurologista infantil dra. Carla Gikovate, que atende à s crianças com di iculdades de aprendizado e orienta suas famıĺias a adotar os melhores procedimentos;

* Ao assumir os custos de impressã o do Altavila Videiras, a Amavale contribui para que o jornal tenha a qualidade de grá ica de uma revista, que agora será trimestral. Com seu conteú do editorial voltado para divulgar as boas prá ticas da regiã o e contar a histó ria do Vale atravé s do relato de vida de seus pró prios moradores, o Altavila Videiras procura contemplar as diversas vocaçõ es culturais do Vale.

Projeto Alcançar Uma parceria entre a Amavale e o Projeto Alcançar, coordenado pelo prof. Leandro Azevedo, está mexendo com o Vale. Utilizando as instalaçõ es da Academia ao Ar Livre, das quadras poliesportivas da Amavale e do Espaço Comunitá rio Teresinha Cunha, o Projeto Alcançar oferece cinco atividades para a populaçã o: Futebol, Vô lei, Judô infantil e adulto, Boxe Fitness, Giná stica Localizada e Zumba. Crianças, jovens e adultos estã o aderindo à s aulas, a maioria gratuita, pois já percebem os efeitos bené icos de movimentar o corpo sob a orientaçã o dos professores de educaçã o fıśica vinculados ao projeto. A proposta alcança cerca de 70 moradores. A chegada dos tatames, uma conquista pessoal do Daniel Ribeiro, diretor da Amavale, vai permitir a implantaçã o das aulas de judô , considerado pela UNESCO —departamento da Organizaçã o das Naçõ es Unidas voltado para a infâ ncia— o principal esporte para a formaçã o do cará ter e o pleno desenvolvimento de crianças e jovens. O judô , alé m de reforçar o respeito entre seus praticantes, é um dos esportes que mais medalhas olım ́ picas conquistou para o Brasil. Na regiã o de Petró polis, o Projeto Alcançar existe desde 2004 oferecendo atividades esportivas para as comunidades de Araras, Roseiral, Vila Rica, Fazenda Inglesa, Duques e Bairro da Gló ria. No Vale das Videiras, os horá rios e as modalidades disponı-́ veis podem ser conhecidos na sede da Amavale ou pelo telefone (24) 2225.3002. Participe. O projeto é aberto para toda a comunidade. A pá gina www.facebook.com/amavalevideiras també m vai disponibilizar as informaçõ es.

Acima, na Academia ao Ar Livre, alunos e professores do Projeto Alcançar, parceria da Amavale com o prof. Leandro Azevedo que oferece uma série de atividades esportivas para os moradores do Vale. No alto, na já tradicional Festa de Natal promovida pela Amavale, que este ano contou com a participação do prof. Leandro e sua equipe na coordenação de atividades e brincadeiras para as crianças e seus familiares, que compareceram em grande número ao Espaço Comunitário Teresinha Cunha.


FOTO MARIA AMÉLIA GUERRA

A rica biodiversidade do Vale Pauta da 2ª edição do Altavila

atual modo humano de viver é uma arma de destruição em

Videiras, a Worsleya rayneri

massa: ainda agimos como exterminadores do futuro.

(na foto acima), conhecida como “Rabo de Galo” ou “Imperatriz do Brasil”, é uma flor rara, restrita às montanhas do Vale das Videiras e de Araras, na região de Petrópolis. Um estudo do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, coordenado pelo biólogo Gustavo Martinelli, levou a Imperatriz do Brasil a ser incluída, em 1983, na Lista Oficial Brasileira de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção na categoria Criticamente em Perigo.

O biólogo Gustavo Martinelli é cético em relação à expressão “desenvolvimento sustentável”. De acordo com o pesquisador, não devemos imaginar que o problema são os outros. Cada membro da espécie humana, considerada a mais inteligente do planeta, deve repensar seu modo de vida e perceber o quanto está contribuindo —ou não— para a sustentação da vida na Terra. Reflorestamento, proteção de nascentes, consumo consciente, compostagem de resíduos orgânicos, reciclagem de

Com doutorado em Ecologia pela Universidade de St. Andrews,

embalagens e reutilização de objetos “velhos” não podem ser

do Reino Unido, o biólogo Gustavo Martinelli recebeu o

expressões vazias de significado: são atitudes diárias de pessoas

ALTAVILA VIDEIRAS em sua sala no Jardim Botânico para falar do

físicas e jurídicas. O perigo é real e imediato. Cuidar do Planeta

trabalho que, a partir de 1980, foi desenvolvido no Vale das

significa começar pelo próprio quintal, o Vale das Videiras.

Videiras. Com base em sua pesquisa e nos resultados do projeto Flora dos Campos de Altitude, foram definidas 12 montanhas

FOTO LUIZ BINATO

da região que apresentavam ocorrência da Imperatriz do Brasil. Com o objetivo de identificar as principais ameaças à flor, os pesquisadores percorreram as doze montanhas, classificando as formações rochosas de acordo com a inclinação, presença de espécies exóticas, indícios de fogo, urbanização do entorno, integridade da vegetação e direção geográfica da encosta. Foram encontradas 21 subpopulações da Imperatriz do Brasil distribuídas em uma área de apenas 200 km2. Três em cada quatro dessas subpopulações estavam sob algum tipo de ameaça. Os ecossistemas de montanha compõem cerca de 25% da superfície dos continentes, muitas vezes apresentam flora e fauna preservadas em meio a uma paisagem impactada e formam

Montanhas, como as do Vale das Videiras, são verdadeiros

verdadeiros arquipélagos de biodiversidade. Mais da metade da

arquipélagos que guardam condições de vida específicas,

população do planeta depende direta ou indiretamente dos

possibilitando o surgimento e a conservação de espécies

recursos montanos, em especial da água. Entretanto, as monta-

raras e fragmentos de vegetações muito antigas de alta

nhas estão cada vez mais sujeitas a pressões: especulação imo-

riqueza biológica. A rápida variação de altitude e o relativo

biliária, pecuária em larga escala, manejo irresponsável de

isolamento das montanhas garante a multiplicidade do

terras, uso do fogo para queimar “lixo” vegetal, entre outras

reino vegetal, favorecendo uma biodiversidade que não

agressões à sua integridade. Para se ter ideia da antiguidade, da raridade e da importância da

pode mais ser encontrada em nenhum outro lugar. A imperatriz do Brasil e outras plantas encontraram nos

Imperatriz do Brasil, se fosse um animal ela seria um dinossau-

morros do Vale seu último refúgio. Destruir ou conservar

ro vivo… O pior é que as ameaças que esta e outras flores raras,

estes habitats é uma escolha que depende da vontade

como orquídeas e bromélias, vêm sofrendo atingem não somen-

humana. Não é somente o reino vegetal que está em

te o reino vegetal, mas todo um ecossistema essencial à vida. O

perigo: mas a própria vida no Planeta.


Pá tio Videiras das

No Vale das Videiras existe um lugar em que arte, fotografia, impres-

edição, com mais de 15 mil exemplares vendidos. No livro, ela compar-

são em louça, joias artesanais, livros de plantas medicinais, mandalas

tilha seu extenso e embasado saber sobre plantas medicinais, conside-

indianas e temperos vikings convivem em completa harmonia com

rando que este conhecimento deve ser divulgado o máximo possível,

dormentes de trilhos de trem, canhões e violinos: é o Pátio das Videi-

pois o uso da flora para tratamento de doenças é um “Patrimônio da

ras, a concept store de Ângela Lima, esta metamorfose ambulante que

Humanidade” que existe há milhares de anos. Ângela está preparando

vive no Vale há 26 anos fazendo um pouco de tudo o que existe em

saraus culturais e oficinas de arte para depois do Carnaval. Vale a

matéria de se sustentar com uma multiplicidade de talentos.

visita.

Mais do que loja conceito, o Pátio das Videiras é um ateliê de portas

FOTOS BETH VIEIRA

abertas, aonde você chega com um projeto e sai com um móvel customizado ou tem aulas de marcenaria e faz o seu próprio trabalho em madeira sob orientação desta mulher que cresceu brincando na marcenaria do padrinho, Oto Werner. Ângela é talento e força em estado puro, a confirmação de que é possível viver com autonomia e criatividade longe dos grandes centros urbanos. Fisioterapeuta por formação, artista plástica por vocação, agricultora orgânica por devoção, Ângela nasceu na Zona da Mata mineira, um

Ângela em dois momentos: com o canhão a ser restaurado e na plaina, em seu laboratório... labor oratorium, local de trabalho e oração.

local de misticismo e oração, neta de avó rezadeira e bisavô idem. Ela não se enquadra nos limites da especialização que tomou conta das profissões depois da Revolução Industrial: ela tenta recuperar o espírito renascentista —a explosão artística e cultural originada na

Aos domingos, quando menina, ela via os empregados de sua casa dançando jongo na cozinha. Ela ouvia histórias do bisavô, que benzia boiadas inteiras de

Florença do século XV, que tem em Leonardo da Vinci o seu mais

uma vez e deixava os pastos coalhados de bernes. Ela vê as plantas em níveis

conhecido e genial adepto. Seu sítio no Vale leva o nome do projeto

quânticos. Ela sempre esteve à frente de seu tempo. Ela é Ângela Lima, agora

Avatar, homenagem ao movimento internacional dedicado à construção de um paradigma multicultural de ocupação planetária.

à frente do Pátio das Videiras, combinação de loja, ateliê e espaço cultural, a mais nova atração comercial e filosófica do Vale.

ando alimentação orgânica ainda não era valorizada, Ângela já abastecia o 1º minhocário de Petrópolis, um projeto da prefeitura que, em 1992, a premiou pelas matrizes de morango cultivados sem agrotó-

Ateliê do Juca

FOTO MAURICIO COLLIER

xicos. Em outra atividade inovadora para a época, ela participou do Circuito das Artes de Itaipava com criações artísticas elaboradas em madeira de demolição, uma proposta sustentável que passou a ter valor mesmo há pouco tempo. O uso de plantas medicinais surgiu em tenra idade, ao acompanhar a avó pelo interior das Minas Gerais. D. Maria Júlia, por meio de rezas e simpatias, cuidava de gente e de bicho, sem distinção e sem cobrar pelo trabalho. No Vale, Ângela mantém a tradição da avó, assim como mantém a tradição do avô de cultivar a terra com respeito aos ecossistemas. O amor pela terra se estende aos animais. Colaborando com o Projeto Vira Lata, implantado por Beth Vieira e Patrícia Baptista, Ângela desenvolveu uma linha de camisetas, à venda no Pátio das Videiras, com 100% da renda revertidos para esta iniciativa voluntária que alimenta e cuida dos cães e gatos abandonados no Vale. Como editora e consultora científica, Ângela colaborou com a edição de um livro sobre plantas que hoje é uma referência para leigos e pesquisadores. Trata-se do 1º Anuário de Plantas Medicinais, já na 2ª

E por falar em madeira, o Ateliê do Juca, localizado próximo ao ponto final do ônibus e ao lado do famoso Bar da Adriana, é um verdadeiro achado. No ramo desde os 14 anos, ele é um marceneiro de mão cheia, um artista que engrandece o Vale com a sua arte. Seus móveis são reconhecidos pela alta qualidade de acabamento e design aprimorado. Juca reforma e customiza móveis antigos e, sempre que é possível, utiliza madeira de demolição e restos de obra.


Na noite de 5 de novembro de 1838 se deu a fuga dos escravos da Fazenda Freguesia, Vila de Paty do Alferes, comarca de Vassouras, interior da província do Rio de Janeiro. Eles arrombaram as senzalas, libertaram homens e mulheres e fugiram com víveres, facões, armas de fogo e ferramentas prontos para enfrentar o seu destino.

Seus líderes entraram para a História como autores de uma das maiores insurreições realizadas em terras fluminenses. Estas páginas são dedicadas a Manuel Congo, Mariana Crioula, Pedro Dias Angola, Vicente Moçambique, Antônio Magro Angola, Justino Benguela e tantos outros que lutaram —e continuam lutando— pelo mais sagrado dos Direitos Humanos: a Liberdade.

A saga de Manuel Congo: do coração da África negra às trevas da escravidão Capturado no Congo, região central da África onde predominam povos da etnia banto, o jovem foi amarrado e forçado a caminhar até o litoral em meio a dezenas de homens e mulheres de todas as idades, incluindo crianças. Nas imediações de um dos portos construídos pelos portugueses na costa ocidental africana, as “mercadorias” foram armazenadas à espera do navio. Postos a ferros no porão do tumbeiro, os cativos cruzaram o Atlântico em direção ao Brasil —percurso que não durava menos de um mês e podia tirar a vida de um terço da “carga”. Assim como os 2 milhões de africanos escravizados que —estima-se— chegaram vivos ao Rio de Janeiro entre os séculos XVI e XIX, o jovem capturado no Congo passou por um período de quarentena no Mercado do Valongo, área central da capital brasileira, até ser comprado pelo capitão-mor Manoel Francisco Werneck, proprietário da Fazenda da Freguesia, localizada na vila de Paty do Alferes, comarca de Vassouras. A vasta região de Vassouras incluía Miguel Pereira, Valença, Paracambi e Paraíba do Sul e plantava 70% do café colhido no Brasil —o principal produto de exportação do Império no século XIX. O jovem africano foi batizado e recebeu o nome de Manoel Congo porque não era raro o escravo receber o nome de seu proprietário e um sobrenome referente à sua região, povo de origem ou mesmo à “profissão” que exercia. Conta-se que Manoel Congo cresceu forte, homem de pouca fala e sorriso escasso. Tornou-se hábil ferreiro, característica cultural dos povos banto, exímios artífices de armas e ferramentas de metal. Ao seguir a arte de forjar o metal de seus ancestrais, Manoel Congo tornou-se escravo de alto valor para seu proprietário e um líder entre seus pares. Consta nos autos do tribunal de Vassouras que o motivo da fuga dos escravos da Freguesia foi a morte de Camilo Sapateiro, amigo de Manoel Congo, assassinado torpemente por um feitor da fazenda. Ao perceber que o autor do crime não seria punido, Manoel e outros escravos teriam organizado a insurreição, que acabou levando um número estimado entre 300 e 500 homens e mulheres a escapar da Freguesia e de outras fazendas de Paty do Alferes e tomar o rumo da serra de Santa Catarina —o atual Vale das Videiras.

do a Serra do Mar. O próprio porto fluvial de Iguaçu —atual Nova Iguaçu— era parte do “Caminho Novo”, a Estrada Real que ligava Minas Gerais ao Rio, utilizada pelos tropeiros e suas mulas para descer com o ouro e subir com mercadorias. Na época da fuga de Manoel Congo (1838), “variantes” da Estrada Real já existiam em bom número —e a atual rodovia Washington Luís é um exemplo dessas variantes que, atravessando a Serra do Mar, ligavam a capital ao interior. Outros caminhos foram abertos com o intuito de fugir da fiscalização (dos pedágios) das estradas oficias. alquer um deles poderia ter sido a rota de fuga dos escravos para chegar a um dos quilombos da Baixada Fluminense. O numeroso grupo e a quantidade de mantimentos e ferramentas encontrados tornaram lento o avanço dos fugitivos, facilitando sua captura. De acordo com o relatório oficial, os escravos levavam “mais de 20 arrobas [cerca de 292 kg] de açúcar, muito fubá, farinha, toucinho, carnes, mais de 20 galinhas, 5 perus e 2 carneiros vivos, grande quantidade de utensílios de cozinha, machados, foices, enxadas, cavadeiras, ferramentas de carpinteiro, de ferreiro, uma bigorna, 40 a 50 caixas com roupa … grande quantidade de jornais velhos para cartuchame [as folhas de jornal acondicionavam a pólvora para as armas], cento e tantas esteiras, numerosa quantidade de mantas de dormir e cerca de 60 mil réis em notas e cobre”. A relação indica que os fugitivos pretendiam ou montar um quilombo ou se dirigir para um dos existentes. Interessante notar a presença de uma bigorna que, embora pesada, era ferramenta essencial para um ferreiro como Manoel Congo. No dia 10 de novembro, cinco dias após a fuga, 160 homens da 13ª Legião, sob o comando de Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, partiram de Paty em perseguição aos fugitivos. O juiz de Paz José Pinheiro de Souza Werneck seguiu com a tropa, que pernoitou na Fazenda Maravilha, também pertencente ao capitão-mor Manoel Francisco Werneck, proprietário da maioria dos escravos foragidos, entre eles “16 carpinteiros, 5 ferreiros, 6 pedreiros, banqueiros de açúcar e outros bons escravos”. Ao amanhecer do dia 11, a tropa avançou pela serra de Santa Catarina até a “Pedra do Silveira”, uma possível referência à gruta.

Os motivos que deram origem à fuga e o destino final dos fugitivos não ficam inteiramente claros. A hipótese de que os foragidos pretendiam montar um quilombo em uma gruta na serra de Santa Catarina é remota, dada a proximidade com Paty e também porque o local é mais um aglomerado de enormes pedras do que propriamente uma gruta, segundo constatou a equipe do Altavila Videiras em visita guiada por Diogo Bernardes, nascido e criado no Vale e profundo conhecedor da região.

Não seria uma tarefa impossível alcançar a Baixada Fluminense cruzan-

wikipedia

A possibilidade de que os fugitivos pretendiam alcançar um dos quilombos da Baixada Fluminense é mais plausível, argumento dos historiadores João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, publicado no livro “Liberdade por um fio: História dos ilombos no Brasil”. Em meados do séc. XIX, os quilombos da Baixada Fluminense —em especial os de Iguaçu e do Gabriel— eram importantes núcleos de resistência negra e nunca foram inteiramente debelados por incursões de captura. As características geográficas da região, cercada de pântanos e áreas alagadas, tornaram esses quilombos praticamente invulneráveis.

Africano do Congo retratado por Johann Moritz Rugendas. O pintor germânico, que esteve no Brasil acompanhando uma missão científica, no século XIX, adotou uma abordagem étnica para um registro fiel do povo brasileiro.


Máscara da região do Rio

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

Congo, África

O encontro da tropa com os fugitivos levou ao confronto. Cento e cinquenta dos fugitivos, aquilombados na mata, deram combate perfazendo uma linha de tiro e gritando: “Atira cablocos, atira diabos!” O relato descreve a morte de 2 policiais e o ferimento de outros dois. A tropa, com maior número de homens armados, devolveu o fogo, matou 20 quilombolas e deixou outros 7 feridos. Sem poder fazer frente à grande quantidade de armas de seus oponentes, os revoltosos se embrenharam na mata, gerando uma perseguição interrompida pelo cair da noite e pela chuva que desabou. Outros 7 fugitivos teriam sido mortos antes do encerramento das buscas.

central. Foto de Vincent Everarts/EPA. Exemplo de arte em metal do povo banto publicado no site do jornal inglês The Guardian.

N

Neste primeiro combate, Manoel Congo, encontrado ferido, foi capturado. Mariana Crioula, uma “escrava de estimação” da fazenda Freguesia, não se entregou até ser dominada “à cacete” entre gritos de “Morrer sim, [se] entregar não!” Outros 22 quilombolas foram presos. O destino dos foragidos, como atestado pelo próprio Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, seria a “Serra das Araras”.

o alto da página anterior, lança africana da Idade do Ferro. Ao contrário dos habitantes indígenas que ocupa-

vam o território onde se constituiria o Brasil e estavam

na Idade da Pedra (Neolítico), muitos povos africanos já fundiam, refinavam e forjavam metais desde o início da Era Cristã. As realizações tecnológicas dos banto é bem documentada na obra “Black in

Esta narrativa tem como base a Dissertaçã o do professor de Histó ria Eliseu Jú nio Leite de Vargas, formado pela UERJ e com mestrado pela

Science: ancient and modern”, de Van Sertima (1983), que descreve os resultados da experiência do antropólogo Peter Schimidt e do

UFRRJ. Com o tıt́ulo de INSURREIÇAO QUILOMBOLA E ORDEM SENHORIAL:

engenheiro Donald Avery, da Universidade de Brown, nos Estados

QUILOMBO EM VASSOURAS, NO VALE DO PARAIBA FLUMINENSE, EM 1838, o prof.

Unidos. Schimidt e Avery reproduziram a tecnologia —usada há 2

Eliseu mostra que a fuga de escravos de Paty do Alferes faz parte do con-

mil anos pelo povo Haya, da etnia banto— para produzir aço em

turbado cená rio social e polıt́ico que o Impé rio brasileiro vivia, já que a abdicaçã o de D. Pedro I em favor de seu ilho D. Pedro de Alcâ ntara, ainda menor de idade, levou o Brasil a ser governado por regentes durante 9

fornos que atingiam temperaturas de 200º a 400º Celsius a mais do que os fornos europeus do século XIX.

anos. A fragilidade do governo levou a diversas revoltas, incluindo a dos escravos Malê s na Bahia e a de Carrancas, em Minas Gerais, que eclodiram no Brasil entre 1831 e 1840, ano em que D. Pedro II assume como imperador. A pró pria regiã o de Vassouras vivia sob tensã o, pela disputa de terras fé rteis e por sé rias desavenças entre os grandes fazendeiros locais. Agradeço ao prof. Eliseu, assim como à prof . Vanilda Curitiba, pelo material que me foi cedido. Manoel Congo foi o ú nico escravo a ser executado pelos crimes de insurreiçã o e homicıd ́ io. Ele foi enforcado em Vassouras pouco menos de um ano apó s a fuga. Outros escravos receberam penas “menores” —50 chibatadas por dia até completar 650... O fazendeiro Manoel Francisco Werneck també m morreu cerca de um ano depois da fuga, mais ou menos na mesma é poca da morte de Manoel Congo. Nos depoimentos colhidos pelo tribunal, alguns escravos se referiram ao lıd ́ er da fuga como Pai Congo, indicando que ele poderia ser igualmente um lıd ́ er espiritual. De acordo com o testamento do fazendeiro, ainda faltavam mais de 50 escravos de sua propriedade. Eles nunca foram recapturados.

Meninos pescando no rio Congo, África, imagem do fotógrafo belga Kris Pannecoucke, de outubro de 2015. O rio Congo,

Mauricio Collier

segundo maior em volume dágua do mundo, perdendo apenas wikipedia

para o Amazonas, corta por mais de 4mil km a região central africana até desaguar no Atlântico. Este rio ainda é um ambiente familiar a muitos jovens do povo banto, como pode ter sido para Manoel Congo em sua infância. Ao lado de Zumbi dos Palmares, dos caciques tupinambá que enfrentaram os portugueses e tantos homens e mulheres que viveram e morreram lutando pela liberdade, Manoel Congo é um herói brasileiro. No Vale das

Acima, outras duas imagens do Rugendas. Ele e outros pintores europeus que visitaram o Brasil, como Jean Baptiste Debret, retrataram homens e mulheres africanos de diversas etnias. Acima, a partir da esquerda, representantes dos povos Benguela e Angola.

Videiras há uma placa em homenagem aos líderes da insurreição de 5 de novembro de 1838. Com as consequências sociais da escravidão ainda bastante evidentes em pleno séc. XXI, esta é uma luta que, certamente, não terminou.


Era uma vez um Vale distante... No quarto final do século XIX, a proibição do tráfico de escravos imposta pelos ingleses, a pressão dos movimentos abolicionistas brasileiros, a ascenção de outros países exportadores de café e a queda dos preços do produto nos mercados internacionais levaram a indústria cafeeira no país a enfrentar acentuado declínio. Com as dificuldades financeiras dos fazendeiros, a mão de obra italiana remunerada, que já começara a chegar ao Brasil para substituir os escravos nas lavouras de café antes da abolição, encontrou as fazendas da outrora próspera região de Vassouras em franca decadência. Sem recursos para pagar suas dívidas trabalhistas com os colonos italianos, muitos fazendeiros desmembraram suas terras, passando-as para famílias italianas, em geral as glebas mais distantes e menos férteis. Assim surgiram as fazendas na serra de Santa Catarina —antiga denominação do Vale das Videiras. Ao contrário das fazendas da região de Vassouras, localizadas em áreas mais baixas, quentes e planas, as fazendas de Santa Catarina —Piedade, Monte Alegre, Pau Grande, Sant'Anna, Santa Rita, Cachoeira, Santa Catarina, São Pedro da Juréia— não eram propícias ao cultivo do café devido à altitude, ao clima frio e à geografia montanhosa. Os irmãos Raphael, Salvador e Arthur Rispoli, naturais da vila de Praiano Vetere, e Francesco Imbelloni, nascido em Castellucio Inferiori, receberam os quinhões mais representativos de Santa Catarina e deram início ao plantio da uva. As mudas originais teriam vindo de Mastroberardino ad Atripalda, na província de Avellino, um dos mais importantes vinhedos do sul da Itália. Com a ajuda de imigrantes de Avellino e o incentivo da família Imperial

brasileira, chegaram ao Vale as primeiras mudas da uva Aglianico. Grande parte dessas mudas teria se perdido diante dos rigores da longa viagem de navio. Das mudas sobreviventes, poucas conseguiram vingar graças às diferenças climáticas e de solo, do ataque de formigas e da falta de trato adequado. A espécie de uva escolhida, muito refinada, também teria sido um equívoco. Os Imbelloni perderam suas mudas mas, com a ajuda de imigrantes italianos do interior de São Paulo, a família obteve mudas de uma variedade de uva conhecida no Brasil como Isabel. Tudo indica que essa variedade, bem mais rústica e já adaptada aos rigores climáticos da serra gaúcha, teve uma melhor adaptação à serra de Santa Catarina e alguns dos parreirais teriam sobrevivido até a década de 1940. A primeira referência ao nome “Vale das Videiras” foi encontrada em um mapa apócrifo, datado de 1946. O mapa registra a existência de uma estrada de terra interligando Araras a uma região denominada “Vale das Videiras”. Ultrapassando uma garganta a 1.263 metros de altitude, chamada de “Garganta da Ponte Funda”, a estrada seguia ao lado do riacho da “Ponte Funda”, que percorria o terreno da Fazenda Santa Catharina e desembocava no rio Fagundes. Segundo o mapa, a “Garganta da Ponte Funda” seria o montante divisório entre os municípios de Petrópolis e Vassouras. A partir de 1950, o Vale das Videiras sofreu seguidos desmembramentos, surgindo fazendas menores, sítios, chácaras e até um loteamento, que veio a obter registro em Petrópolis quando a localidade deixou de pertencer a Vassouras.

Pesquisa realizada pelo site www.valedasvideiras.com.br

A rotina do lavrador Osvaldo Leocádio, casado com d. Judite e pai de cinco filhos, era dura no final da década de 1960. Uma vez por semana, ainda de madrugada, depois de colocar seus produtos agrícolas em três ou quatro cavalos, ele dava início à jornada de mais de 20 km entre a Vargem do Coelho e Paty do Alferes, onde havia uma feira em que seu Leocádio vendia as verduras e os legumes que cultivava. Os filhos pequenos aguardavam ansiosos a volta do pai, pois ele sempre chegava com alguma novidade, geralmente deliciosas roscas e bisnagas. em conta é d. Cleuda, filha mais velha do casal, relembrando os momentos de uma infância difícil, época em que carreteis de linha vazios e sabugos de milho eram os brinquedos das crianças do interior. Desde os 7 anos, Cleuda e os irmãos ajudavam o pai, na lavoura, e a mãe, na árdua rotina de uma casa sem energia elétrica. Em um Vale sem farmácia ou posto de saúde, os remédios eram as ervas medicinais colhidas na mata, muitas vezes preparadas e receitadas por rezadeiras. Ônibus não tinha. Tinha a Kombi do seu Darcy, único meio de transporte até o Malta, onde se tomava o ônibus para Araras. A população dependia das condições da estrada de terra, que ficavam impraticáveis na estação chuvosa, de novembro a março. Cleuda começou a estudar aos 12 anos. Na ida e na volta, por vezes com um café ralo no estômago, ela percorria a pé os 5 km entre a sua casa e a escola, que funcionava em um anexo da igreja de Santa Catarina. Uma única sala de aula, pequena e escura, comportava 5 turmas de séries diferentes. Como professora, ela teve d. Jandira e, depois, a Branca e o Alcides.

Seu Antô nio e d. Cleuda em um de seus raros momentos de lazer nas montanhas do Vale. Eles prosperaram graças a uma vida inteira de muito trabalho. A foto é da ilha do casal, Telma Silveira.

Da infância, Cleuda também se lembra do Felizardo, um rapaz de Secretário que vendia pão no Vale. Felizardo chegava com dois burrinhos. Com o primeiro, que seguia na frente e despontava sozinho pela Conceição, vinham dois balaios cheios de pão. O burrinho, que de burro não tinha nada, sabia direitinho o caminho e parava diante das casas ou na beira da estrada em que os moradores já o aguardavam para pegar a quantidade de pão de que precisavam. O burrinho com os balaios de pão seguia de casa em casa, em sua lenta e incansável jornada Vale adentro. Montado no outro burrinho, Felizardo surgia logo depois e, contando com a honestidade dos moradores, recebia o pagamento que lhe era devido. Eram outros tempos, quando a palavra dada valia mais do que ouro…


No Vale das Videiras, a educação formal começou informalmente, no final do século XIX. Depois do jantar, fazendeiros como Américo Fernandes Ribeiro, conscientes da importância de educar os filhos, foram os primeiros professores, ensinando a numerosa prole a ler, escrever e realizar as quatro operações aritméticas. A primeira professora a dar aulas regulares foi d. Virgulina. Ela dava aulas na fazenda da Cachoeira, dos Rispoli, até a família doar parte de suas terras para a construção da igreja, que era não mais do que uma capela. Nas fazendas havia horta, pomar, criação de animais, plantava-se café, moía-se cana de açúcar em pequenos engenhos manuais. Sem energia elétrica, o ferro de passar roupa era movido a carvão e lavavase roupa em beira de rio. As fazendas produziam quase tudo o que precisavam, com exceção do sal e do querosene, para os lampiões. Este era o cenário em que d. Virgulina dava aulas. ando a escola passou a funcionar em uma sala no terreno da igreja, dona Heron assumiu o posto de professora e diretora, até chegar a vez da professora Luiza Helena —mais conhecida como Branca, uma das netas de Américo Fernandes Ribeiro. Branca e seu marido Alcides tem lugar de destaque na história

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da educação no Vale. Eles davam aula na sala anexa à igreja, que no início era um cubículo de 28 m2. Vinte e oito metros

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O Vale em cinco momentos. Foto 1. A primeira igreja, dedicada à Santa Catarina de Alexandria, construída em terreno doado pela família Rispoli. Foto 2. O jovem Zezé, atualmente responsável pelo transporte escolar, dança com a noiva caipira na festa de São João. Foto 3. A equipe de futebol comandada pelo professor Alcides, além de craque de bola, também era boa no manejo de enxadas, pás e ferramentas usadas nas aulas práticas de agricultura, parte importante do currículo escolar. Foto 4. Branca e alunos na frente da antiga escola. Foto 5: No cavalo, o prof. Alcides diante do primeiro armazém do Vale, do seu Darcy Fernandes Ribeiro, que também implantou um sistema de Kombis, único meio de transporte público disponível. As Kombis enfrentavam com dificuldade a estrada de terra, que ficava intransitável com as chuvas de verão. D. Teresinha Cunha foi uma das mais atuantes defensoras do asfaltamento completo da RJ-117.

quadrados! Branca e Alcides sabem a medida exata até hoje porque o casal ensinava matemática medindo a sala. A falta de recursos para a educação, um estigma que até hoje assola muitas escolas públicas brasileiras, era o principal problema da escola. Tudo era ensinado na prática. Para demonstrar que o oxigênio é um elemento essencial para a combustão do fogo, um copo vazio era emborcado em cima de uma vela acesa, levando a chama a se extinguir. A respiração vegetal era demonstrada com a utilização de um saco plástico, que envolvia uma planta até o plástico apresentar gotículas de água. Como não havia lápis coloridos ou tinta, os professores pediam que os alunos levassem flores, colhidas no entorno das casas: maceradas em água, as flores produziam cores variadas, usadas para desenhar e pintar. Alcides, além de ter sido o primeiro professor de Educação Física do Vale, dava aulas no curso de alfabetização e no 1º ano primário, nomenclatura oficial da época. Branca dava aulas para o 2º, 3º e 4º anos primários. Com dois quadro-negros, um de cada lado da sala, eram 5 turmas diferentes para 2 professores. Eles introduziram noções de educação ambiental no currículo escolar, a semana olímpica, com diversas modalidades esportivas, e o saudável hábito de levar as crianças do então quase inacessível Vale das Videiras para memoráveis passeios, o que incluía viagens a Petrópolis e ao longínquo Rio de Janeiro. Além do fortalecimento da escola como instituição, a comunidade percebeu a necessidade de se criar uma associação de moradores, que teve d. Teresinha Cunha como 1ᵃ presidente e a Branca como secretária. A Amavale nasce com esse DNA social e educacional, que é sua marca registrada. Conscientes de que deveriam atuar cada mais na melhoria da educação, a Amavale comprou e cedeu, à prefeitura de Petrópolis, o terreno onde hoje funciona a Escola Municipal Américo Fernandes Ribeiro, atualmente dirigida pela profᵃ. Luciana Carvalho.


Partindo do Vale das Videiras e aproveitando as características geográficas da região, a equipe do Galpão Caipira, coordenada por Luiz Binato, criou trilhas de mountain bike para diversos níveis de preparo físico e técnico, de iniciantes a profissionais. A sinalização por cores, como nas pistas de esqui, vai orientar e facilitar a vida dos ciclistas em todos os percursos. Através de iniciativas como as do Galpão Caipira, o Vale das Videiras está sendo configurado em sua vocação como polo de ecoturismo e turismo de aventura, o que inclui, além do mountain bike, speed bike, trekking e corridas de montanha.

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G A L E R I A

Armazém das Videiras Estr. Almte. Paulo Meira, 8400 Loja 5 - Vale das Videiras Petrópolis/RJ

Alé m da vocaçã o esportiva, o Vale també m vai aprimorando sua vocaçã o artı́stica graças ao consistente trabalho realizado pela Galeria de Arte A2, leia-se o fotó grafo publicitá rio Alexandre Salgado e o advogado André Faoro. Promovendo exposiçõ es que em nada icam a dever ao eixo Rio-SP, a dupla trabalha com artistas que tê m obras exibidas até em Nova York. Um exemplo do alto nıv́el da Galeria A2 pode ser visto na exposiçã o da artista plá stica Ana Durã es (de ó culos, na foto acima) ao lado da produtora cultural Maria Sô nia Madureira de Pinho. As duas estã o diante do monumental painel em homenagem ao Vale (sã o 104 painé is, pintados um a um) que Ana Durã es elaborou em seu ateliê do Vale. A artista icou nacionalmente

Obra de Marcus André, também contemplado com exposição na A2 em 2015: o artista plástico carioca teve seu trabalho reconhecido pela Pollock-Krasner Foundation Inc. Grant, New York.

conhecida quando se tornou ghost painter do personagem Salvador, da novela Impé rio, de Aguinaldo Silva, exibida pela Rede Globo em 2015. Para lidar com o personagem esquizofrê nico, ela voltou sua pesquisa para a Art Brut e, usando carvã o, tintas pasteis e acrıĺicas, reproduziu em seus quadros o inconsciente conturbado do personagem vivido pelo ator Paulo Vilhena. Recentemente, a Galeria A2 brindou o pú blico do Vale com uma exposiçã o de fotogra ias em P/B do fotó grafo e cineasta Walter Carvalho, o “mago da luz” com mais de 70 longametragens na carreira, incluindo Lavoura Arcaica e o antoló gico Central do Brasil, alé m de premiadas sé ries para TV, como Amores Roubados e O Rebu.

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