O Plano de Brasília

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SUMÁRIO Contexto Histórico....................................5 O Concurso.................................................9 Lúcio Costa...............................................17 Projeto Vencedor......................................19 Plano Piloto...............................................21 Cidades Satélites......................................24 Diagnóstico Atual....................................25 Taguatinga.................................................26



Na época colonial, em torno de 1700, já se discutia, na Corte portuguesa, a possibilidade de mudança da capital da Colônia brasileira. A intenção era contornar sérios problemas, como os constantes ataques de piratas e de outros países europeus que intencionavam ocupar parte do nosso território, a facilidade de contrabando e o clima da costa, que favorecia o surgimento de epidemias. Outra razão não menos importante era a percepção de que a população se agrupava no litoral “como se estivesse sempre olhando nostalgicamente o continente europeu”, quando se fazia necessário, por razões políticas, ocupar territórios propiciados pelo Tratado de Tordesilhas e encontrar riquezas minerais, especialmente ouro. No final do século XVIII, em 1789, o movimento em prol da Independência do Brasil conhecido como Inconfidência Mineira, insatisfeito com

a Coroa e liderado pelo mais tarde reconhecido herói nacional Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, incluiu, entre seus objetivos, a mudança da capital do Rio de Janeiro para São João del Rey (Minas Gerais), no sudeste do país. Outros intelectuais e ativistas políticos advogavam a mesma ideia em distintas tribunas. A Independência do Brasil chega em 1822. O jovem príncipe herdeiro, Dom Pedro I, filho do Regente Dom João VI, que retornara a Portugal, proclama a Independência aconselhado pelo Ministro José Bonifácio de Andrada e Silva, após jurar que atuaria como príncipe constitucional. O notável Andrada, que desenvolveu um papel importante na redação da primeira Constituição, faz uma contundente defesa da construção de uma nova capital com o fim de estimular a economia e o comércio do País. Sugere os nomes “Petrópolis” ou “Brasília”.

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A criação de Brasília também contou com um elemento místico: em 1883, Dom Bosco, fundador da Ordem dos Salesianos, tem um sonho em que prevê o nascimento de uma rica e próspera civilização entre os paralelos 15° e 20°, exatamente onde Brasília está hoje. Mas somente com a Constituição republicana de 1891 é dado o primeiro passo concreto e consistente para essa mudança, com a criação de uma comissão encarregada de estudar e demarcar o local em que se ergueria essa nova capital. A comissão, encabeçada pelo astrônomo e engenheiro belga Luiz Cruls, diretor do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, era composta por 22 experts em topografia, fontes de energia, clima, geologia, fauna, flora etc. Os trabalhos começam em junho de 1892 e são concluídos em junho de 1893. A chamada “Missão Cruls” faz o primeiro e valioso documento técnico sobre o Planalto Central de Goiás (atual Estado dentro do qual se encontra Brasília), contendo um mapa em que aparece desenhado um quadrilátero com a inscrição “Futuro Distrito Federal”. É o famoso documento chamado de “Quadrilátero Cruls”. Em 1922, nas comemorações do centenário da Independência, o Congresso Nacional brasilia oscaraprova definitivamente a criação da nova capital federal. Exatamente nesse “quadrilátero”, em setembro daquele mesmo ano, é colocada a primeira pedra da construção (a pedra fundamental), a poucos quilômetros de onde seria levantada finalmente a cidade.

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No fim dos anos 40, Juscelino Kubitschek largou a medicina após se tornar prefeito de belo horizonte, onde realizou importantes obras de infraestrutura projetadas por Oscar Niemeyer e em 1956 torna-se presidente do brasil, com seu plano de metas, que incluía a construção da nova capital brasileira. Já nos anos de 1956 a 1960, ocorreu a mudança da capital do Brasil, do Rio de Janeiro para o Planalto Central, que requereu uma enorme quantidade de recursos financeiros, materiais e humanos.

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O CONCURSO PARA A ESCOLHA DO PROJETO O Concurso para o Plano Piloto da Nova Capital do Brasil – o Concurso para Brasília – foi polêmico e controvertido, ao contrário do que pensam muitos que lêem as descrições brandas da escolha do projeto de Lúcio Costa. Mas, apesar dos embates ocorridos entre 1956 e 1957, seu desfecho oferece algo mais que a concepção de uma capital. Denota, fundamentalmente os posicionamentos sobre as escolhas e, principalmente sobre os processos delineados naquele momento de euforia e ufanismo. Têm predomínio as decisões políticas autoritárias; o uso ideológico da construção de um emblema nacional; e da retórica modernista. Apesar de os projetos apresentados, na sua totalidade, representarem a diversidade e riqueza da cultura urbanística, o processo que transcorreu para a avaliação desse conjunto demonstra um cenário menos consensual e mais contraditório. Um início contraditório Em Jataí, Goiás, a 4 de abril de 1955, Juscelino Kubitschek é interrogado por um cidadão em meio ao seu discurso público. Afirmando que iria cumprir, rigorosamente, a constituição se eleito presidente, JK é questionado por Antonio Carvalho Soares – o Tinoquinho – se ele transferiria a capital federal para o interior de Goiás, como mencionava a constituição. Afirmativo, o candidato compromete-se, pela primeira vez, e num discurso público, a transferir a capital federal para o Planalto Central (2).

Descrita assim, como um acaso, a biografia de JK privilegia o entusiasmo de uma Nova Capital, porém obscurece parte do processo de sua aceitação. Juscelino Kubitschek, e o próprio Israel Pinheiro – futuro presidente da NOVACAP e primeiro prefeito de Brasília –, quando deputados, foram alguns dos debatedores políticos que, nas discussões da Câmara (entre 1946 e 1948), defenderam uma possível transferência da capital federal somente se fosse destinada ao estado de Minas Gerais (no Triângulo Mineiro), origem eleitoral de ambos. A negativa ao Planalto Central como destino final seria redundante em pelo menos mais uma situação pública. Posteriormente ao seu cargo de governador, no início da campanha presidencial, Juscelino, assim como os demais candidatos, foram questionados sobre a construção de uma Nova Capital, quase todos negaram tal hipótese por representar encargos financeiros e esforços políticos desgastantes. Apenas o candidato Adhemar de Barros assumiu que transferiria a capital para o interior do país. Mas, após a visita em Jataí, Brasília deixava de ser um discurso político em meio à campanha para se tornar na Meta-Síntese do governo. Entretanto houve uma forte ressonância contrária à construção, vinda, sobretudo das lideranças oposicionistas – que não eram raras nem tampouco silenciosas. Certamente Carlos Lacerda foi seu maior opositor, e a UDN o partido que mais se mobilizou contra tais imperativos. 9


Entretanto, a iniciativa de Lacerda em criar uma CPI para Brasília fracassou diante dos desajustes partidários. Influenciaram, ainda, as acusações de que os próprios udenistas estavam envolvidos com corrupção durante a construção da Nova Capital, afinal o partido participava de cargos estruturais dentro da empresa. Mas as críticas permaneceram e encerraram bons argumentos para não se tomar esse capítulo da transferência como consensual, mas, ao contrário, polêmico e controvertido. Apesar da oposição, foi um deputado udenista, Emival Caiado em 1956, quem propôs a data de 21 de abril de 1960 para a inauguração da cidade. Mineiro, visava agradar seus eleitores ao coincidir a data comemorativa de Tiradentes à inauguração de Brasília.

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Novacap – o principal instrumento que garantiu a construção de Brasília Sem dúvida, a NOVACAP, Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, foi o principal instrumento de JK na efetivação da Nova Capital. Sem a sua criação, nem o Concurso, nem a construção poderiam ter sido concebidos e concretizados em tão pouco tempo. Criada em 1956, proposta em 19 de setembro e aprovada no dia 24 do mesmo mês, ela significou o passo final de todas as Comissões criadas desde o século XIX para a transferência da Nova Capital. Seus objetivos centravam-se no planejamento e construção da Nova Capital; nas negociações de posse e empréstimo de imóveis da área; e na coordenação de todos os projetos e obras necessárias para a construção da cidade. Para a NOVACAP foi instituído um estado de ex-


ceção, onde o presidente JK mantinha completa autonomia e controle sobre as decisões fundamentais da Companhia, como por exemplo contratar construtoras dispensando processo licitatório. Sua finalidade, no início das ordenações, foi estabelecer um concurso nacional para a escolha de um plano urbanístico definitivo para a Nova Capital. Anteriormente, na Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, em 1955, A. E. Reidy e R. Burle Marx haviam proposto a vinda de um estrangeiro que ficasse responsável pela coordenação do projeto, que cabia à Subcomissão de Planejamento Urbanístico. Le Corbusier já havia declarado interesse, por meio de correspondência ao presidente da república, de participar do projeto da Nova Capital brasileira. Entretanto tal hipótese fora descartada por Juscelino, devido ao caráter nacional do projeto. Até mesmo a idéia de um concurso internacional desejado pelo presidente não correspondia ao contexto de euforia e fama dos profissionais nacionais.

Em 1956, JK decide atribuir o cargo de Diretor do Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora a Oscar Niemeyer, e lhe atribuir a função de projetar toda a cidade. Niemeyer negou-se ao compromisso, porém sugeriu duas novas possibilidades: 1. de criar um concurso nacional, com a participação do IAB na organização, para a escolha do melhor projeto urbanístico; e 2. o compromisso de projetar todos os principais edifícios administrativos da cidade. Aceitas as propostas do arquiteto, JK confere à NOVACAP a elaboração do Edital do Concurso. Edital do concurso – pouco elucidativo e muito flexível Quando consultado pela NOVACAP, o IAB enviou ao presidente da república um manifesto, agosto de 1956, que propunha um concurso nacional para eleger o profissional que coordenaria os trabalhos de planejamento e execução do Plano Regional e de Urbanização da Nova Capital. O manifesto propunha, dentre outros elementos, a base da comissão julgadora: 1 representante da presidência da república; 1 da classe dos engenheiros; 2 do IAB; e 3 urbanistas estrangeiros, todos indicados pelo presidente da república. Foi sugerida uma lista dos possíveis representantes estrangeiros: Walter Gropius, R. Neutra, Percy J. Marshall, Max Lock, Alvar Aalto, Clarence Stein, Le Corbusier e Mario Pane. Tornou-se evidente que a seleção dos projetos deveria estar vinculada aos preceitos modernos internacionais, resultado inevitável uma vez que 4 dos 7 jurados, ao menos, teriam 11


filiação ao movimento (a lista dos estrangeiros não deixa dúvidas quanto ao intuito em defender o modernismo como base para a seleção do projeto vencedor). A partir de então a NOVACAP mobilizou-se em efetivar o edital para o concurso nacional. Organizado por Israel Pinheiro, Ernesto Silva, Oscar Niemeyer, Raul Pena Firme e Roberto Lacombe, foi publicado em setembro (3) de 1956. O Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, assim denominado, previa mínimas soluções para uma idéia urbanística: “3. O Plano Piloto deverá abranger: a. traçado básico da cidade, indicando a disposição dos principais elementos da estrutura urbana, a localização e interligação dos diversos setores, centros, instalações e serviços, distribuição dos espaços livres e vias de comunicação (escala 1:25.000); b. relatório justificativo” Cabe destacar que o termo Plano Piloto é decorrente de uma carta de Le Corbusier ao Marechal José Pessoa em que o arquiteto franco-suíço discutia o contrato entre ele e o governo federal para a elaboração do seu Plan Pilote para a capital, em 1955. Posteriormente incorporado ao edital, o termo tornou-se conhecido como a área definitivamente destinada à Nova Capital. Outras definições decorreram, igualmente, antes do Edital e foram por ele incorporadas, como a população de 500.000 habitantes e a localização da área de 5.000 km², definidas pelo decreto 671A, aprovado pela Câmara em 1949. Os edifícios da cidade não faziam parte do escopo do trabalho – comprovando a proposta de Oscar Niemeyer como o principal arquiteto dos edifícios administrativos. O júri seria presidido pelo presidente da NOVACAP, e contaria com 2 representes da Companhia; 1 do IAB; 1 do Clube de Engenharia; e 2 urbanistas estrangeiros. 12

Ao edital, sucederam várias críticas. Em resposta, uma carta do presidente da NOVACAP, Israel Pinheiro, e uma circular do Diretor Oscar Niemeyer redirecionavam algumas definições do edital. As principais foram: prorrogação da entrega dos planos para 11 de março de 1957; definição de uma represa na cota 997; locações do Hotel, do Palácio Presidencial, e do aeroporto – todos em construção –; definição da população em 500.000 habitantes; transferência de apenas 30% dos funcionários dos ministérios, mantidas a estrutura vigente; e plena liberdade para a apresentação do projeto proposto. Apesar de pouco esclarecedor e pouco restritivo, o edital conformou-se num direcionador de algumas das principais características da cidade, uma vez que se tornava obrigatório incorporar tais definições. A polêmica na entrega das propostas Ao final do prazo, foram inscritos 62 concorrentes, onde constavam profissionais vinculados aos mais estreitos laços modernistas a arquitetos de farta expressão acadêmica. Nessa lista podem ser encontrados nomes como o próprio Paulo Antunes Ribeiro, que se tornaria membro do júri; e de Lúcio Costa, que diversas vezes havia negado qualquer hipótese de participação no concurso ao ser convidado por outros arquitetos e escritórios. Uma única mulher concorrente, Sonia Marlene de Paiva; e algumas construtoras e firmas especializadas em engenharia. Carlos Frederico Ferreira,


Luiz Saia, entre outros conhecidos, inscreveram-se, porém não participaram com projetos. Lúcio Costa, apesar de suas negativas em concorrer, participou do Concurso, entretanto esteve desvinculado de qualquer equipe. Uma ausência, contudo, deve ser comentada. Convidado a participar da Subcomissão de Planejamento Urbanístico da Nova Capital, A. E. Reidy polemizou, juntamente de R. Burle Marx, ao defender a vinda de um arquiteto estrangeiro para coordenar o planejamento da cidade. Após essas instabilidades causadas na NOVACAP e diante do quadro que se formava a favor de Oscar Niemeyer, Reidy negou-se a se inscrever no Concurso. Conhecido arquiteto e ativo profissional, sobretudo, na carreira pública do Rio de Janeiro, o arquiteto não depreendeu esforços para um objetivo que julgava inalcançável. Por muito tempo no silêncio, essa ausência ficou sem maiores explicações. Porém, o depoimento de Carmem Portinho – uma das pioneiras no planejamento da Nova Capital – desponta uma possível versão sobre esse episódio. Para ela, o concurso foi um jogo de cartas marcadas (4). Entre mistérios e muitos esforços, as 26 equipes entregaram, no dia 11 de março de 1957, os projetos para o julgamento. Mas uma última polêmica assombrou a avaliação dos planos. A entrega havia sido marcada, pela NOVACAP, para as 18

horas daquele dia, segundo telegrama enviado por Ernesto Silva em complementação aos dados faltantes do edital. Entretanto, o depoimento do próprio Lúcio Costa atesta que seu projeto fora entregue por sua filha, nos últimos minutos do expediente, quando se encerravam os trabalhos. Essa versão é comprovada por Maria Elisa, em depoimento, e foi tema de uma reportagem no jornal carioca Folha da Manhã, que divulgava, antes de sair o resultado oficial, o plano de Costa como o vencedor. “Lúcio Costa foi o último concorrente a entregar seu projeto, depois das 23 horas do dia 11, quando os demais o fizeram antes das 18 horas, apesar de que o edital da concorrência apenas determinava data, sem especificar hora” (5). O edital realmente não especificava horário para a entrega, porém o telegrama enviado para todas as equipes limitava o horário para as 18:00h. O fato em nada mudou o cenário do julgamento, que somente seria alterado se algum dos concorrentes registrasse uma queixa oficial diante de alguma prova existente. Porém, o ocorrido não passou da manchete de jornal e encerrou o conturbado clima de disputa para o plano piloto da Nova Capital. Composição do júri – reflexos da cultura modernista A composição do júri antecipava a conotação do julgamento, já que os escolhidos para realizarem a seleção eram pessoas, em geral, com bom relacionamento com Oscar Niemeyer. Essa definição contemplava, senão defensores, simpatizantes do movimento modernista: Israel Pinheiro, presidente da NOVACAP, entretanto sem direito a voto; Paulo Antunes Ribeiro, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil; Luiz Hildebrando Horta Barbosa, representante da Associação dos Engenheiros; Oscar Niemeyer e Stamo Papadaki, dois representantes do departamento de urbanismo da NOVACAP, sendo este último o responsável 13


pela edição das primeiras obras de Niemeyer no exterior, além de ser professor da Universidade de Nova Iorque; William Holford, assessor de Urbanismo do Governo Britânico, um dos responsáveis pelo plano regulador de Londres e planejador da capital da Rodésia; e André Sive, arquiteto francês conselheiro do Ministério da Reconstrução. Esses dois últimos estrangeiros substituíram Maxwell Fry, presidente dos CIAM’s e colaborador do plano de Chandigarh, e Charles Asher, titular da cadeira de ciências políticas do Brooklin College, que, convidados, não puderam participar do corpo de jurados.

ciplina e atenção aos projetos apresentados; os estrangeiros, da simpatia de Oscar Niemeyer. E coube ao inglês William Holford a predominância dos argumentos que definiram o vencedor.

De fato as escolhas do júri refletiram os princípios modernistas ainda em voga no Brasil, e o resultado dos finalistas comprovava esse predomínio. Os demais projetos não ganharam mais que alguns dias de exposição nos salões do MEC, apesar da riqueza e importância de suas contribuições.

Na primeira reunião, dia 12, os jurados reuniram-se para analisar o conjunto das 26 propostas. Diante de tamanha diversidade, Sive propôs uma pré-seleção para definir uma relação menor de concorrentes a fim de facilitar o processo de premiação. Paulo Antunes sugere, em contraposição, uma avaliação mais aprofundada, porém prevalece a sugestão do francês. Assim, o júri define um conjunto de 10 projetos a serem melhor analisados. No dia seguinte, 13, novamente o júri se reúne para avaliar os trabalhos escolhidos. Sive sugere que se estabeleça uma listagem mínima de critérios para a seleção, e enumera quatro itens fundamentais: a. topografia; b. densidade; c. integração; e d. plástica. Diante da necessidade de uma avaliação ainda mais aprofundada sobre os dez escolhidos, segundo Holford, é acatada a idéia de Paulo Antunes, de que o dia 14 fosse destinado a apreciações individuais e que no dia seguinte o júri se reunisse para a elaboração do relatório final. E assim prosseguiu. Nessa análise Paulo Antunes considerou que aos dez escolhidos fosse acrescido mais um plano, o de número 11, com marcação a giz. Entretanto, no dia 15, Oscar Niemeyer apresenta a Paulo Antunes um relatório em que já estavam definidos os vencedores, relatório esse elaborado pelos estrangeiros. Sem espaço para opinar e discordando dos procedimentos, o representante do IAB nega-se a assinar tal relatório e abandona o local.

Discordância na escolha do vencedor Conturbadas desde o primeiro dia, 12 de março, as reuniões do júri ocorridas no MEC – cenário perfeito para o desfecho de um processo secular – sempre estiveram bipolarizadas nas figuras de Paulo Antunes Ribeiro e dos estrangeiros William Holford e André Sive. O primeiro gozava de dis-

Diante da situação, Israel Pinheiro sugere a Paulo Antunes que elabore um relatório separado a ser anexado ao relatório final dos demais jurados. Nesse relatório, no dia 16, o representante do IAB expõe sua opinião; os fatos ocorridos desde o dia 12; e apresenta uma solução: a composição de uma equipe formada pelos membros dos

Niemeyer, diretor de urbanismo da NOVACAP, esperava do projeto vencedor uma cidade monofuncional, setorizada e eficiente. A escolha passou por uma seleção direcionada do ponto de vista dos princípios vigentes e, assumidamente, baseou-se nos argumentos do inglês William Holford, que dizia estar procurando uma idéia de cidade administrativa, pois não se tratava de um concurso de detalhes. Assim, a 16 de março de 1957 foi declarado o plano de Lúcio Costa o vencedor do Concurso, seguido por mais seis equipes que dividiram o segundo e terceiro prêmios. No dia 25 do mesmo mês, a decisão foi publicada no Diário Oficial.

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onze projetos previamente selecionados (6) (os dez escolhidos pelo júri além do projeto por ele escolhido e acrescido à lista) para formarem uma comissão responsável pelo planejamento da Nova Capital. Sugestão não acatada, prevalece o relatório do júri, com a aprovação de Oscar Niemeyer e Luiz Hildebrando Horta Barbosa. Dessa seleção, foi declarado vencedor o projeto de Lúcio Costa, assinado por todos os membros, exceto Paulo Antunes Ribeiro. As críticas sobre o resultado do concurso Após a divulgação dos resultados sucederam-se diversas publicações em jornais e revistas especializadas, divulgando e criticando a forma de escolha. As críticas redundaram quanto à forma sumária de apresentação do projeto de Lúcio Costa (algumas folhas datilografadas seguidas de croquis feitos à mão) e dos investimentos de algumas equipes que apresentaram dezenas de pranchetas e maquetes. Outras reportagens voltaram-se à rapidez na escolha dos finalistas e no processo de seleção, que contava com figuras sempre ligadas à pessoa de Oscar Niemeyer, colocando em discussão a validade e a competência de tal concurso. Foi inevitável a publicação, ainda, da atitude de Paulo Antunes Ribeiro e o questionamento daquilo que de fato haveria por trás de tamanha discussão. Em geral, as críticas foram diminuindo e restaram apenas algumas matérias elogiosas ao plano vencedor. A escolha do júri foi, evidentemente, baseada nos critérios modernistas de cidade, abordando em cada plano suas características estritamente racionais, monofuncionais, de zoneamento e cir-

culação. Para o júri, importava a arquitetura da cidade, e em poucos momentos foram tratadas as questões realmente urbanísticas, seus instrumentos e resultados. Vistos desse foco, todos os escolhidos parecem dialogar diretamente, e tão somente, com essas posturas vanguardistas internacionais. Porém, a análise dos projetos finalistas e dos demais concorrentes demonstra a peculiaridade de cada um, a relação de elementos diversificados e, portanto, uma riqueza de resultados ainda maior que apenas a restrição ao ciclo modernista. Conhecê-los, portanto, significa avançarmos aos olhares do júri de 1957 e identificarmos em cada plano apresentado as partes, os fragmentos das experiências e teorias do urbanismo nacional que no conjunto representam a disciplina urbanística desenvolvida no país. Um panorama dessa categoria, que juntou profissionais de diversas áreas e conhecimentos até então poucas vezes articulados, ajudou a sedimentar um modelo de ação urbanística e forneceu subsídios para o seu prosseguimento como disciplina consolidada e autêntica no Brasil. Propostas dialéticas Ao lado dos finalistas, os demais projetos concorrentes evidenciaram a expressão urbanística nacional ao confluir referências e experiências nacionais e estrangeiras. Estabeleceram relações entre uma cultura local atualizada e as referências internacionais históricas e vanguardistas. Buscando um diálogo entre matrizes muitas vezes contraditórias, esses projetos gozaram da destreza autoral ao traduzir, em concepções para uma capital federal, os anseios de uma sociedade ideal. 15


Os finalistas ficaram assim classificados: 1º lugar – Lúcio Costa 2º lugar – Arquitetos Associados – Boruch Milmann, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves 3º e 4º lugares – MM Roberto / Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar, Luis Roberto Carvalho Franco 5º lugar – Carlos Cascaldi, João Vilanova Artigas, Mário Wagner Vieira da Cunha, Paulo de Camargo e Almeida / Henrique E. Mindlin e Giancarlo Palanti / Construtécnica S/A – Milton C. Ghiraldini

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Biografia

• Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa Nascido em Toulon, na França no dia 27 de fevereiro de 1902. • Faleceu no dia 13 de junho de 1998 no Rio de Janeiro. • Foi pioneiro na arquitetura modernista do país, ficou conhecido mundialmente pelo projeto urbanístico do plano piloto de Brasília. • Arquiteto, Urbanista, estudioso, teórico da arquitetura e conservador do patrimônio. • Formou-se em arquitetura em 1924, na Escola Nacional de Belas Artes - Enba, no Rio de Janeiro. • Entre 1922 e 1929, mantém um escritório de arquitetura associado a Fernando Valentim e realiza inúmeros projetos e obras orientados predominantemente pelo estilo neocolonial, de teor nacionalista, e eventualmente pelos preceitos ecléticos internacionais. • Em 1929, casa-se com Julieta Modesto Guimarães (Leleta), e, em meio a uma crise profissional, muda-se com ela para Correias, nos arredores de Petrópolis, Rio de Janeiro. Lá, descobre a Casa Modernista, de Gregori Warchavchick publicada na revista Paratodos, reforçando sua insatisfação com a arquitetura acadêmica.

• Em 1930, volta para o Rio de Janeiro, convidado a trabalhar como assessor de obras do Itamaraty e, após a Revolução de 1930, é nomeado diretor da Enba, por Rodrigo Melo Franco de Andrade, onde consuma sua “conversão” ao movimento moderno e realiza uma importante reviravolta no ensino da escola. • Os historiadores consideram que sua atuação nesse projeto foi fundamental para a eclosão e consolidação da arquitetura moderna brasileira. Em setembro de 1931, em razão da forte reação conservadora, é exonerado do cargo de diretor. Entre 1931 e 1933 associa-se a Warchavchik, para realizar projetos importantes como o Conjunto Residencial da Gamboa e a Residência Alfredo Schwartz, de 1932. • Em 1935-1936, é convidado pelo ministro Gustavo Capanema a conceber o projeto da nova sede do Ministério da Educação e Saúde - MES, tarefa em que trabalhou associado a um grupo de arquitetos cariocas com a coordenação de Le Corbusier. • Em 1939, Lúcio Costa foi coautor do pavilhão brasileiro para a Feira Universal de Nova York, juntamente com Oscar Niemeyer e Paul Lester Wiener. Esse edifício, bem como o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, 1939 (projetado em parceria com Niemeyer), e o Conjunto da Pampulha, é considerado o marco inaugural da arquitetura moderna brasileira, sendo o primeiro arranha-céu no mundo a realizar integralmente os “cinco pontos da arquitetura moderna” idealizados por Le Corbusier. 17


• Em 1937, passa a trabalhar como diretor da Divisão de Estudos e Tombamentos - DET, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan, criado nesse ano. Deve-se a ele a definição de critérios e normas de classificação, análise e tombamento do patrimônio arquitetônico brasileiro, bem como a definição de critérios para a intervenção em centros históricos. Soma-se a isso seu projeto para o Museu das Missões, no interior do sítio arqueológico de São Miguel, no Rio Grande do Sul. O texto Documentação • Nesses anos, ao mesmo tempo que ainda realiza projetos importantes, desliga-se progressivamente da atividade projetual para concentrar-se nas tarefas de pesquisa do serviço público, no Sphan, depois Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, onde se aposenta, em 1972. • Venceu o concurso para o projeto urbanístico do plano piloto de Brasília, em 1957. • Em 1987, Brasília é considerada Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco. 18


A concepção do projeto de Lúcio Costa buscava “integrar o triângulo equilátero, vinculado à arquitetura desde a mais remota antiguidade com a técnica oriental milenar”, passando por modelos urbanos como os de Piccadily Circus, Times Square, Campos Elísios, as pequenas ruas de Veneza, “tudo isso associado à técnica paisagística de parques e jardins”. Essas referências denotam a preocupação em integrar soluções espaciais historicamente legítimas, mas revisadas com a tecnologia contemporânea em um esforço de atualização do conhecimento acumulado. O plano urbanístico de Lucio Costa inclui um texto de excepcional simplicidade: o “informe do Plano Piloto”, composto de uma planta geral e uma série de perspectivas e pequenos esboços. O ponto de partida era o caráter da cidade, que não deveria ser concebida somente como “simples organismo capaz de cumprir satisfatoriamente e sem esforço as funções vitais próprias de uma cidade moderna qualquer”.

na, lírica e funcional”. Em seu plano urbanístico, eliminou os cruzamentos para que o tráfego dos carros fluísse livremente e concebeu os edifícios residenciais com um traçado uniforme, sobre pilotis, para não impedir a circulação das pessoas. Uma cidade com amplas avenidas e vasto horizonte, valorizando o paisagismo e os jardins. O projeto de Lucio Costa partiu do traço de dois eixos que se cruzam em um ângulo reto, como uma cruz. Os dois eixos foram chamados de Eixo Rodoviário e Eixo Monumental. O Eixo Rodoviário, que corta as áreas residenciais do Plano Piloto, foi levemente arqueado para dar à cruz a forma de um avião, o que permitiu o nascimento das “asas” Sul e Norte. Enquanto o Eixo Monumental, com 16 quilômetros, seria destinado aos edifícios oficiais e aos monumentos, o Eixo Rodoviário foi dividido do seguinte modo: do lado leste, os edifícios públicos e o palácio do Governo Federal; no centro, a estação rodoviária e a torre de tevê; e do lado oeste, os edifícios do Governo do Distrito Federal.

Lucio Costa planejou uma Brasília moderna, olhando para o futuro, mas ao mesmo tempo “rural e urba19


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1 – Nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz. 2 – Procurou-se depois a adaptação à topografia local, ao escoamento natural das águas, à melhor orientação, arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo no triângulo equilátero que define a área urbanizada

3 – Estrutura do Eixo Rodoviário, formado por pistas centrais de trânsito direto (Eixão) e pistas laterais (“Eixinhos” Leste e Oeste), com as alças de acesso às Super Quadras residenciais, viadutos e “tesourinhas” para ordenamento e distribuição do tráfego sem cruzamentos. 4 - Viadutos na região central de Brasília, em torno da Plataforma Rodoviária, e as áreas de vegetação mais densa, ou “pulmões” da cidade, acima das “asas” sul e norte, dos dois lados do Eixo Monumental. 21


5 – O cruzamento desse eixo monumental, de cota inferior, com o eixo rodoviário-residencial impôs a criação de uma grande plataforma liberta do tráfego que não se destine ao estacionamento ali, remanso onde se concentrou logicamente o centro de diversões da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes etc. 6 - Detalhamento dos fluxos de trânsito no nível térreo da Plataforma Rodoviária. 7 - Relação da Plataforma Rodoviária com os grandes eixos Rodoviário e Monumental; e as vias secundárias e de serviços, em níveis separados

8 - Detalhes de vários setores de Brasília — Setor Comercial, Setor de Diversões, Super Quadras residenciais e Esplanada dos Ministérios, especificando as “tramas viárias” não conflitantes para pedestres, automóveis, caminhões e serviços urbanos.

9 – Localização do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, formando com o Congresso Nacional a Praça dos Três Poderes, ao final da descida do Eixo Monumental, em rampa e em degraus (terraplenos), desde a Torre de TV.

Veja-se agora como nesse arcabouço de circulação ordenada se integram e articulam os vários setores. Destacam-se no conjunto os edifícios destinados aos poderes fundamentais que, sendo em número de três e autônomos, encontraram no triângulo equilátero, vinculado à arquitetura da mais remota antiguidade, forma elementar 22

apropriada para contá-los. Criou-se então um terrapleno triangular, com arrimo de pedra à vista, sobrelevado na campina circunvizinha a que se tem acesso pela própria rampa da autoestrada que conduz à residência e ao aeroporto (fig. 9). Em cada ângulo dessa praça — PRAÇA DOS TRÊS PODERES — localizou-se uma das casas,


ficando as do Governo e do Supremo Tribunal na base e a do Congresso no vértice, com frente igualmente para uma ampla esplanada disposta num segundo terrapleno, de forma retangular e nível mais alto, de acordo com a topografia local, igualmente arrimado de pedras em todo o seu perímetro. A aplicação em termos atuais, dessa técnica oriental milenar dos terraplenos, garante a coesão do conjunto e lhe confere uma ênfase monumental imprevista (fig. 9). Ao longo dessa esplanada — o Mall dos ingleses —, extenso gramado destinado a pedestres, a paradas e a desfiles, foram dispostos os ministérios e autarquias (fig. 10). Os das Relações Exteriores e Justiça ocupando os cantos inferiores, contíguos ao edifício do Congresso e com enquadramento condigno, os ministérios militares constituindo uma praça autônoma, e os demais ordenados em sequência — todos com área privativa de estacionamento, sendo o último o da Educação, a fim de ficar vizinho do setor cultural, tratado á maneira de parque para melhor ambientação dos museus, da biblioteca, do planetário, das academias dos institutos, etc., setor este também contíguo à ampla área destinada à Cidade Universitária com o respectivo Hospital de Clínicas, e onde também se prevê a instalação do Observatório. A Catedral ficou igualmente localizada nessa esplanada, mas numa praça autônoma disposta lateralmente, não só por questão de protocolo, uma vez que a Igreja é separada do Estado, como por uma questão de escala, tendo-se em vista valorizar o monumento, e ainda, principalmente, por outra razão de ordem arquitetônica: a perspectiva de conjunto da esplanada deve prosseguir desimpedida até além da plataforma, onde os dois eixos urbanísticos se cruzam.

10 - Disposição geral da Esplanada dos Ministérios e, em nível inferior, a Praça dos Três Poderes. 11 - Apresenta a visão da Torre de TV a partir da Esplanada dos Ministérios, por trás de uma Plataforma Rodoviária de perfil baixo, ladeada pelas fachadas de prédios dos setores de Diversão Sul (Conic) e Norte (Conjunto Nacional). 12 - Mostra o aspecto da Torre de TV na concepção de Lúcio Costa.

13 - Mostra a concepção da “Unidade de Vizinhança”, formada por quatro Super Quadras, com espaços alternados para veículos e para pedestres, reunindo os equipamentos urbanos básicos dentro de espaços acessíveis ao pedestre, sem cruzar vias de trânsito motorizado. 14 - Mostram a “cortina” verde destinada a proteger as áreas residenciais do ruído das vias motorizadas. 15 - apresenta um exemplo de segregação entre as vias para automóveis e ônibus, e as vias para caminhões e demais serviços urbanos 23


CIDADES SATÉLITES Brasília é hoje uma cidade desenvolvida. Um de seus grandes crescimentos, foi o econômico. Hoje em dia, a capital, é considerada a terceira cidade mais rica do Brasil, mostrando ter o seu Produto Interno Bruno bem alto, o que antes não havia. A principal atividade econômica de Brasília, é resultante da sua função administrativa, há uma grande dependência do Plano Piloto para a economia local. Duas atividades muito feitas lá, é a agricultura e também a avicultura. Isso tudo, foi melhorando ao longo do tempo, ao longo do desenvolvimento da capital, ao longo do crescimento populacional também. O crescimento populacional de Brasília foi intenso desde sua construção. Ela foi uma cidade planejada para habitar 500 mil habitantes, um número muito pequeno comparando com a sua população de hoje em dia. Seu número de habitantes nos dias de hoje é de 2,6 milhões. Muitos migrantes de outras regiões do Brasil começaram a migrar para a capital em busca de trabalho, o que ajudou muito para esse enorme crescimento demográfico. Porém, não eram todos que tinham condições de viver no Plano Piloto, ou seja, o plano onde tudo era mais caro. A maioria desses migrantes, ajudaram a construir a cidade, ou seja, eram trabalhadores, e estes acabavam morando nas chamadas cidades satélites, que eram periferias, mas muito conhecidas como um local onde as pessoas apenas dormiam, já que passavam o dia trabalhando no Piloto. Esse crescimento das cidades satélites, ficou conhecido por um crescimento desordenado da capital. As cidades satélites, ao contrário de Brasília, não foram planejadas. Foi basicamente um erro e descuido nos planos de Lucio Costa. A questão foi que Brasília foi construída para certo número de pessoas e esse número não foi suficiente para a quantidade de pessoas que foram para lá. Aque24

les que migraram de todos os cantos do país para conseguir trabalho e condições de vida melhor, aqueles próprios que construíram a cidade, os trabalhadores de mão de obra, acabaram ficando sem ter onde morar pois a cidade já estava ocupada pra quem foi planejada, deputados, governadores, todos da política e sua família e isso levou a essas pessoas se agregarem aos redores do plano piloto. Principais cidades satélites ao redor do plano piloto acima e abaixo a data de criação: 1956 – Candangolândia 1958 – Taguatinga 1959 – Cruzeiro 1960- Brasilândia, sobradinho e gama 1968 – Guará 1971 – Ceilândia 1989 – Samambaia, Paranoá 1993 – Santa Maria, São Sebastiao, Recanto das emas e Riacho Fundo

São cerca de 19 cidades satélites e passaram a ser consideradas favelas localizadas a pelo menos 30km do plano piloto. Temos o exemplo de Ceilândia, com cerca de 600 mil habitantes de classe media baixa, a cidade não possui sequer prefeito e as administrações publicas são indicadas pelo governo com economia baseada no serviço publico, bens de serviço e comercio interno, pois grande parte de seus moradores trabalha no plano piloto o que faz a cidade ser considerada cidade dormitório. Ceilândia não é uma favela, pelo menos não toda, há a tentativa de ocupar ao máximo o espaço publico, porem seu interior possui usuários e droga, tráfico e criminalidade elevada. Existem escolas publicas atendendo a demanda da população, porem hospitais, segurança e transporte público são problemas.


Mesmo com todo o seu planejamento a cidade de Brasília apresenta um grande problema: superpopulação. Em seu projeto inicial, foi planejado que nem todos viveriam no Plano Piloto, sua capacidade seria de apenas 500 mil habitantes, porém hoje em dia a capital abriga 2.500.000 pessoas. Devido a esse grande problema, novos problemas passaram a ser gerados, como a poluição, a grande falta de empregos, o trânsito, os diversos problemas de saúde. Outro problema na cidade, é que, como qualquer outro grande centro urbano, planejado ou não, a desigualdade é algo muito presente, por mais que tenha seu alto índice de desenvolvimento humano. Isso acaba sendo um

problema, assim como a corrupção, que também é outro muito frequente. Já os pontos positivos são outros. Composta por avenidas largas, sem trânsito, a cidade de Brasília é estruturada, e presenciou um crescimento ordenado evitando o caos presente em cidades como São Paulo. Os planos e os investimentos feitos em Brasília, deram a ela a ordem e a organização resolvendo problemas urbanos, diminuindo a criminalidade, a falta de hospitais, escolas, e moradia. E não é coincidência que Brasília é considerada a cidade com mais qualidade de vida para se viver no país.

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Em relação ao Plano Piloto, são claras e até obvias as diferenças. Não apenas pelo fato de o Plano Piloto ter sido planejado, mas por as cidades satélites terem sido completamente abandonadas. Entrevistados nos disseram que eles são considerados como ‘’indesejados’’. Hoje,

são poucas as cidades satélites que tem infraestruturas para garantir uma vida aos habitantes como o Plano Piloto oferece. Moradias, as superquadras, hospitais, clubes, colégios, teatros, igrejas, ou seja, espaços públicos em boas condições e espaços de lazer, que são coisas que fazem falta para os habitantes das cidades satélites e é oque mais se encontra no Plano Piloto.

TAGUATINGA: A NOVA CAPITAL DO DISTRITO FEDERAL Planejada para ser apenas cidade-dormitório de Brasília, Taguatinga virou, no dia 2 de janeiro, a capital de fato do Distrito Federal. A mudança reforça simbolicamente o isolamento econômico, social e burocrático de Brasília, inaugurada há 46 anos e que abriga só os quatro bairros mais ricos e o aparato do governo federal. O recém-empossado governador José Roberto Arruda (PFL) inaugurou na última semana o novo centro administrativo do DF, que funcionará em um antigo quartel de polícia reformado em Taguatinga. 26


Com isso, a cidade-satélite vai centralizar o governo local. As três cidades (que não são assim consideradas oficialmente) naquela região -Taguatinga, Ceilândia e Samambaia- têm juntas 751,8 mil habitantes, ou 37,6% da população do DF. Taguatinga surgiu em 1958, dois anos antes da inauguração da capital, por pressão popular. Fica em um local onde ônibus carregados de migrantes eram obrigados a dar a volta. Muitos desciam naquela região para tentar a sorte, mas não encontravam lugar para morar no Núcleo Bandeirante e Candangolândia, as cidades “temporárias” que deveriam ser desmanteladas em 1960, mas viraram satélites também. Taguatinga havia sido planejada por Lucio Costa, parceiro de Oscar Niemeyer. Mas deveria sair do papel em 1970, dez anos após Brasília, para alojar, no máximo, 25 mil pessoas. Hoje tem dez vezes isso. O “inchaço” do DF já era fato em 1958, quando o presidente Juscelino Kubitschek ordenou que Taguatinga fosse regularizada e lotes distribuídos. “O Plano Piloto deve seguir sua função original, de ser capital do país. Mas o povo está aqui, e o governo precisa estar perto do povo”, completou. Arruda diz que seu gesto vai mudar a dinâmica socioeconômica do DF, a começar pelos carros e ônibus que engarrafam as vias de acesso ao Plano Piloto de manhã. Pelo sim, pelo não, Arruda usou helicóptero para ir trabalhar nesta semana. Simbolicamente, a mudança do governo do DF reverte o preconceito contra os trabalhadores que

migram diariamente ao centro. O metrô, cuja primeira linha ligou Taguatinga ao Plano Piloto, foi criticado em meios de classe média alta pelo temor de que aumentaria a criminalidade. No imaginário nacional, Brasília é uma ilha administrativa, afastada da realidade social do país. Seu índice de desenvolvimento humano estava em 0,936 em 2002, ficando próximo ao de países desenvolvidos como EUA e Holanda, conjunto na faixa de melhor qualidade de vida. O índice do Brasil naquele ano era de 0,757. A renda por pessoa em Brasília também é alta: R$ 1.770. O DF é dividido em “regiões administrativas”, que separam bairros e cidades-satélites. Os bairros Lago Sul e Lago Norte, por exemplo, às margens do Paranoá, abrigam casas de alto padrão. Já a Asa Sul e a Asa Norte são as “asas” do avião concebido por Niemeyer -e têm desde quitinetes populares a apartamentos caros. O DF também incorporou duas cidades de Goiás, Brazlândia e Planaltina. E para manter a exclusividade dos “lagos” e das “asas”, surgiram as satélites. A maior e mais emblemática é Ceilândia. Seu nome deriva da CEI (Campanha de Erradicação de Invasões). Taguatinga, com vida econômica própria, se descolou da pecha de dormitório. Tem forte comércio e edifícios por toda a cidade. Não é o caso de outras satélites mais recentes, loteadas por governos passados para moradores sem casa própria, e por anos pouco mais que aglomerados de casas humildes. De imediato, o QG de Arruda em Taguatinga teve um efeito prático. 27


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