Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia
90 anos de hist贸ria 1921 - 2011
_SFMC_90 anos.indd 1
9/1/2012 23:24:41
Sociedade Fluminensede Medicina e Cirurgia
90 anos de história 1921 - 2011
Autores
•Wilson Paes (in memoriam) •Sylvia Marcia Paes •Welligton Paes •Geraldo da Silva Venancio (in memoriam) •Osvaldo Cardoso de Melo •Walter Siqueira •Nélio Artiles •Angela Vieira •Jair Araújo •Almir Nascimento
Orelhas •Marco Aurélio França de Alvarenga Textos Literários
•Sebastião Siqueira •Vilmar Rangel •Walter Siqueira
Coordenação Gráfica •Welligton Paes •Neusa Martini Siqueira Diagramação: •Luiz Carlos Lopes Gomes Revisão •Vilmar Rangel
_SFMC_90 anos.indd 2
9/1/2012 23:24:41
“E assim a história continua”... Ao acrescentar dez anos à edição do documentário “80 anos de história”, a SFMC busca manter viva a sua trajetória como instituição que, congregando a classe médica do município, ingressa no nonagésimo ano de fundação sustentando sua fidelidade aos ideais de colocar-se, sempre, a serviço da população. Estamos falando de atividades exercidas com alto cunho não apenas científico, mas também social e comunitário, porque se alicerçam nos valores éticos de seus membros e na visão estratégica de seus dirigentes. A velocidade com que os fatos se sucedem em todos os campos da atividade humana, os avanços científicos constatados numa atividade de características tão dinâmicas, e a saudável conscientização quanto à responsabilidade social esperada dos profissionais que atúam nos diferentes setores da coletividade, justificam plenamente esse cuidado com o registro histórico. Não pode haver dúvida de que é por meio do testemunho dos contemporâneos que a posteridade terá a oportunidade de acesso a informações fidedignas. Tal atitude permite que se estabeleça uma compreensão mais lógica e equilibrada dos acontecimentos, facilitando, por via de conseqüência, sua correta interpretação. A presente edição — “90 anos de história” — atualiza e amplia alguns dados presentes na
_SFMC_90 anos.indd 3
9/1/2012 23:24:41
edição anterior (de 2001). Com isso, a SFMC mantém o compromisso de divulgar suas realizações e comemorar o ingresso de novos associados em seus quadros. Assim se consolida e avança uma instituição que contabiliza tantos feitos importantes, ao longo de quase um século. Um outro registro se impõe. O trabalho que reconstitui a história dos 80 anos da SFMC, assinado pelo Dr. Welligton Paes, contou com a preciosa ajuda do seu saudoso irmão, Dr. Wilson Paes (falecido em 2009), sendo mantido na presente edição praticamente na íntegra, já que apenas recebeu ligeiros ajustes de revisão. Este esclarecimento se faz necessário por uma questão de inteira justiça, já que, por excesso de modéstia, embora dotado de vasta cultura e invulgares dotes oratórios, o Dr. Wilson transferiu ao irmão, na oportunidade, a autoria única do texto. Em verdade, ele foi um dedicado colaborador durante sua montagem, debruçando-se nas pesquisas com notáveis empenho e disposição. Cumpre também mencionar que nesse intervalo de dez anos ocorreu o falecimento (em 2002) de um outro baluarte da SFMC, da medicina local e da sociedade como um todo: Dr. Geraldo da Silva Venâncio, profissional de reconhecidos e festejados méritos, que fez de cada centro cirúrgico um santuário. Sua história de vida foi marcada por exemplos edificantes de competência e honradez, notabilizando-se também por seu espírito humanitário, atendendo à indigência e doando seus conhecimentos a vários hospitais. Deixou gravada sua atuação em momentos decisivos da história da medicina campista, seja na epopéia da criação da Faculdade de Medicina de Campos, seja por ter presidido por 25 anos a Fundação Benedito Pereira Nunes, mantenedora da referida escola, seja ainda pela liderança demonstrada na construção do Hospital-Escola
_SFMC_90 anos.indd 4
9/1/2012 23:24:41
Álvaro Alvim. O texto de sua autoria, que figura na edição “80 anos de história”, é mantido intacto na presente publicação. Investida de natural orgulho e consciente da responsabilidade de dar sequência aos seus desígnios, a SFMC caminha confiante em direção ao seu centenário, adotando como divisa a frase-otimismo e premonitória do inesquecível Dr. Geraldo Venâncio: “E assim a história continua”... Vilmar Rangel
_SFMC_90 anos.indd 5
9/1/2012 23:24:41
SFMC 90 anos de história
Angela Regina Rodrigues Vieira Clínica Médica Presidente da SFMC (2008/2011)
6
_SFMC_90 anos.indd 6
9/1/2012 23:24:41
SFMC 90 anos de história
Apresentação Drª. Angela Regina Rodrigues Vieira
No ano em que comemoramos os 90 anos da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia resolvemos colocar no papel estes 10 anos que se passaram desde a 1ª edição da história da nossa Sociedade. Alguns colegas que fizeram a 1ª edição já se foram, mas com certeza, lá de cima, sentem-se orgulhosos com o fato de que nosso coordenador, Dr. Wellington Paes, pessoa que mais sabe da nossa história e da história de nossos colegas, aceitou fazer a atualização deste livro, juntamente com nosso querido mestre da poesia, Dr. Walter Siqueira, e sua filha, a jornalista Neusinha Siqueira. Com esta edição sobre os 90 anos da SFMC, como disse anteriormente, o Dr. Conte, continuamos a História.
7
_SFMC_90 anos.indd 7
9/1/2012 23:24:41
SFMC 90 anos de hist贸ria
8
_SFMC_90 anos.indd 8
9/1/2012 23:24:41
SFMC 90 anos de história
Índice •Prefácio....................................................................................................11 Wilson paes ((in memoriam) •Tratando do espaço para cuidar do homem: a importância do trabalho de médicos e engenheiros sanitaristas em Campos dos Goytacazes....................16 Sylvia Marcia Paes •Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia 1921/2011....................24 Welligton Paes •História da Fundação Benedito Pereira Nunes e de suas instituições: Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Álvaro Alvim......................80 Geraldo da Silva Venancio (in memoriam) •História da Fundação Benedito Pereira Nunes e de suas instituições: Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Escola Álvaro Alvim.................154 Jair Araujo Junior •A importância política da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia* ..................................................................................................................236 Osvaldo C. Cardoso de Melo •A Psiquiatria em Campos dos Goytacazes.............................................242 Sebastião Siqueira •A Morte dá lugar à Vida............................................................................247 Welligton Paes e Walter Siqueira •A Arte de Curar...........................................................................................254 Dr. Walter Siqueira •Louvor*..................................................................................................258 Vilmar Rangel •Onde Andará o Meu Doutor?......................................................................260 Autor desconhecido
9
_SFMC_90 anos.indd 9
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
Wilson Paes
Ginecologista e Obstetra Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes Membro da Academia Campista de Letras 10
_SFMC_90 anos.indd 10
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
Prefácio Wilson Paes (in memoriam)
Jamais dei à minha pessoa tanta importância que fosse levado a pensar ser um dia convidado para prefaciar a obra ou os escritos de alguém. Creio mesmo que a concretização de tal idéia só foi possível por tratar-se da História da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, na qual me vejo inserido há quase cinquenta anos. Por mais inexpressiva que tenha sido minha participação na história dessa Sociedade no transcorrer da segunda metade do século XX, bastaria a convivência com tão ilustres colegas, muitos dos quais autores desta história, para tornar-me partícipe e testemunha da mesma. O registro e a interpretação da caminhada do homem, seus grupamentos sociais e suas organizações no decorrer do tempo, divide, segundo Clemente Zamora, o pensamento humano em duas categorias: o grupo dos “idealistas”, para os quais a realidade emerge do mundo abstrato dos conceitos e das idéias, deixandose muitas vezes levar-se pelo entusiasmo e o grupo dos “materialistas”, que subordinam os conceitos e as ideias a uma realidade objetiva e comprovada, mantendo-se fiéis e atentos aos conceitos de Seignobos: “Pas de document, pas d’históire”. 11
_SFMC_90 anos.indd 11
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
Nesta história da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, que antes de qualquer outro tive o privilégio de conhecer, deparei-me com estas duas categorias de escritores. Uma condição comum os iguala, a de pertencerem todos à Sociedade sobre cuja história escrevem, não traduzem o que ouviram ou o que viram à distância, mas agem como integrantes e artífices da mesma. Até mesmo a professora Sylvia Marcia, estudiosa pesquisadora da história de Campos, que no início desta obra prepara a tela e esboça o pano de fundo para o surgimento das associações médicas no alvorecer do século XX, não foge a esta condição comum, por ser filha e sobrinha de médicos. Louvemos aqui a iniciativa do presidente Francisco Almeida Conte, que, ciente e preocupado com o conceito universal de que povo sem memória é povo sem história, transporta para a octogenária Sociedade que preside esse seu zelo, e faz com que os próprios convivas desta casa de médicos registrem para a posteridade suas vivências. É uma história que apenas tem início, cabendo ao tempo e às gerações futuras continuá-la. Repete-se aqui a história do povo de Deus, que, iniciada por Moisés muito tempo depois da partida de Abraão da Caldéia, continua sendo escrita por cada um de nós a cada hora e a cada dia de nossa existência. Para gáudio da classe médica campista, existem em seu seio intelectuais da categoria de Welligton Paes, que, de forma semelhante à dos copistas dos tradicionais mosteiros da Idade Média, preocupa-se com a procura e guarda de documentos históricos, daí a riqueza de informações que empresta aos oitenta anos de história da S.F.M.C., indo desde a sua fundação por Inácio de Moura, em 1921, passando pelo registro e comentário de suas 12
_SFMC_90 anos.indd 12
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
várias diretorias ao longo destes anos, e encaminhando-se finalmente para a apreciação de aspectos individuais artísticos e culturais de muitos dos membros desta tradicional Sociedade. A grandeza e a importância de uma Sociedade Médica como a nossa estão na razão direta do trabalho que ali se realiza somado aos valores individuais dos membros que a compõem. Sobre isso discorre bem o colega Osvaldo Costa Cardoso de Melo, ao registrar a importância política da S.F.M.C., ao longo dos seus oitenta anos, na história de Campos e do Estado do Rio de Janeiro, assinalando, em rápidas mas precisas pinceladas, alguns momentos relevantes e até mesmo épicos vividos pela mais antiga e gloriosa associação médica do Estado, onde inclusive por muitos anos, pontificou a figura ínclita de seu saudoso pai Dr. Oswaldo Luiz Cardoso de Mello. “Medice, tu es sacerdos”: o sacerdócio médico não se restringe ao limitado espaço da cabeceira do enfermo ou dos corredores de hospitais. Seu território é vasto e vai além, muito além; a paciência, a perseverança, o saber ouvir, o bom senso, a liderança, são algumas das qualidades intrínsecas deste médico sacerdote, aqui bem representadas por Geraldo Venancio, a quem poderíamos acrescentar os conceitos de Ivolino de Vasconcelos: “Ser médico é consubstanciar, antes de tudo, o Homem que as essenciais virtudes do íntegro caráter, prudência, fortaleza, temperança e justiça – devem exortar por igual à consciência hipocrática”. Na história por ele escrita sobre a Fundação Benedito Pereira Nunes, filha primogênita e dileta da S.F.M.C., vê-se o homem despojado do tempo, da vida e dos seus interesses particulares, para entregar-se de corpo e alma à sua paixão maior, a Fundação. Faz-nos até lembrar a lendária figura de Otelo, o rei mouro, capaz 13
_SFMC_90 anos.indd 13
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
de entregar-se à morte por acendrado amor e ciúmes de sua amada. Foram vinte e cinco anos de sua preciosa existência dedicados à F.B.P.N., os que merecem ser lidos com atenção, para melhor se entender esta doce história de amor e serviço. O médico, por uma natural sensibilidade aprimorada no exercício de sua ciência - arte e por sua própria formação cultural e humanística, dificilmente se detém nos limites áridos e pouco convidativos de sua profissão. Facilmente o encontramos reluzindo no mundo da política, do jornalismo, da literatura, das artes, ou no exercício das mais variadas lideranças. O quadro social da S.F.M.C. não foge a essa assertiva, e Welligton Paes muito bem documenta essa verdade. O psiquiatra e “imortal” da Academia Campista de letras, Dr. Sebastião Siqueira, mostra a sua habilidade com a pena e na autenticidade dos fatos que conta pitorescamente. O colega Walter Siqueira é bem a síntese do que acima dissemos; às suas qualidades de médico, somam-se ainda as de escritor, poeta, jornalista e renomado intelectual. Dotado de uma prosa fácil e atraente, constitui-se num dos melhores “papos” desta maravilhosa Campos, “Usina de Sonhos”. Com uma verve própria, recheada de humor e espirituosidade, passeia com facilidade da piada ou anedota até a poesia. Partilhar do círculo de suas amizades é um privilégio. Lê-lo, apreciar e sentir a graça e a beleza de seus escritos é um prêmio. Sua presença nesta história da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia era imprescindível. A fim de permitir aos leitores situarem-se como personagens da história e não pretender fazer deste prefácio uma história paralela, faço aqui ponto final. Ave, Conte! 14
_SFMC_90 anos.indd 14
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de hist贸ria
15
_SFMC_90 anos.indd 15
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de hist贸ria
Sylvia Marcia Paes
Professora de Hist贸ria Diretora do Museu Campos dos Goytacazes Membro da Academia Campista de Letras 16
_SFMC_90 anos.indd 16
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
Tratando do espaço para cuidar do homem: a importância do trabalho de médicos e engenheiros sanitaristas em Campos dos Goytacazes. Sylvia Marcia Paes A região de Campos dos Goytacazes foi originalmente habitada pelos indígenas Goitacá, chamados assim pelos seus vizinhos, os indígenas tupi, e significando corredores da mata ou índios nadadores, definição que bem se enquadra a essa nação, habitante da planície alagada. A efetiva colonização da região somente iria começar quando o então Governador do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, em 1648, conseguiu a doação das terras da Capitania de São Tomé, ou da Paraíba do Sul. A povoação prosperou, fundando-se a Vila em 1677. Com a riqueza econômica baseada na criação de gado no século XVIII, pode se alicerçar a agroindústria açucareira. A cidade cresceu e se desenvolveu. As construções de sobrados e solares confortáveis se espalharam por todas as áreas próximas ao Rio Paraíba do Sul. Uma poderosa aristocracia agrária surgiu da atividade açucareira e passou a influir na política e no poder do Império. Por sua importância, Campos recebeu quatro vezes a visita de D. Pedro II. 17
_SFMC_90 anos.indd 17
9/1/2012 23:24:42
SFMC 90 anos de história
Contudo, a cidade continuava à mercê das águas estagnadas em alagados, lagoas e brejais, colocando em risco a saúde da população. As doenças mais comuns eram aquelas associadas aos “miasmas” emanados dessas áreas alagadiças, tais como doenças dos pulmões e vias aéreas, responsáveis pelos altos índices de mortalidade depois da epidemia de cólera. Era preciso tratar a cidade para cuidar da saúde da população. Winslow, Charles-Edward Amory (1877–1957) define assim a saúde pública: “A arte e a ciência de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde e a eficiência física e mental mediante o esforço organizado da comunidade. Abrangendo o saneamento do meio, o controle das infecção, a educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização de serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e pronto tratamento das doenças e o desenvolvimento de uma estrutura social que assegure a cada indivíduo na sociedade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde”. Tradicionalmente, saúde pública é a aplicação de conhecimentos (médicos ou não), no sentido de organizar sistemas a serviços de saúde. Hoje se entende que essa área focaliza suas ações a partir da ótica do Estado, como formas de organização social e política das populações. A preocupação com a saúde no Brasil praticamente inexistiu nos tempos de colônia. A própria cidade do Rio de Janeiro, sede do governo, não tinha qualquer saneamento básico e, assim, várias doenças graves, como varíola, malária e febre amarela, espalhavam-se facilmente. A chegada da família real portuguesa, em 1808, e suas necessidades, acabaram, de certa forma, forçando a criação 18
_SFMC_90 anos.indd 18
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
das duas primeiras escolas de medicina no país: o Colégio Médico Cirúrgico, no Real Hospital Militar, em Salvador/BA, e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, sendo essas as únicas medidas governamentais, até a República. Contudo, com o advento da República iniciou-se a construção do Brasil moderno, baseado no ideal de progresso e de ruptura com o passado, ideias presentes nos discursos de médicos, engenheiros sanitaristas e intelectuais. Couberam aos médicos a intervenção nos hábitos e nos costumes, principalmente da população pobre urbana, e aos engenheiros sanitaristas as reformas urbanas que implicavam também em reformar as condições de moradia. No início dos anos 30, entra em cena uma nova geração de sanitaristas no campo da saúde publica brasileira. Nesse momento foram criados o Ministério da Educação e Saúde (1953) e os Institutos de Pensões. Mas foi somente no final da década de 80, a partir da nova Constituição Federal (1988), que foi determinado ser dever do Estado garantir saúde a toda a população e, para tanto, criou-se o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do Sistema. Na Campos dos Goytacazes do século XIX, a saúde pública era uma preocupação real, frente a uma geografia de planície recente, sujeita a áreas alagadiças, e portanto, não favorável ao estabelecimento humano dos mais saudáveis. Benedito Gonçalves Pereira Nunes (1864-1934), nascido em Campos dos Goytacazes, formou-se na Escola de Medicina do Rio de Janeiro (1887), tendo concentrado seus estudos em duas especializações: a saúde pública e a higiene. Assim, Pereira Nunes trouxe para Campos o novo discurso higienista, recentemente inaugurado na Europa. Na abertura do século XX, no ano de 1901, o médico 19
_SFMC_90 anos.indd 19
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
Pereira Nunes assumiu a presidência da Câmara Municipal de Campos. Mais tarde foi prefeito da cidade, entre os anos de 1928 e 1930. Foi venerável da maçonaria nos períodos 19031905 e 1926-1927. Como médico, Pereira Nunes preocupava-se com as questões sanitárias vividas pela população campista. Quando presidente da Câmara Municipal, solicitou ao engenheiro e conterrâneo, Saturnino de Brito, a elaboração de um projeto de saneamento geral para a cidade. A peste zomba da todas as defesas agressivas e defensivas postas em prática, com esforço e dedicação das autoridades sanitárias. As condições higiênicas da cidade são más, quer na maioria dos prédios sem ar e sem luz, quer no subsolo infiltrado pelos escapamentos de fezes na rede de esgotos pela contínua falta de água para a perfeita diluição dos excretos e seu fácil escoamento. (O Monitor Campista, 07/01/1901, apud PEIXOTO, 2005) O projeto para Campos foi iniciado, em 1902, com a confecção de planta geral da cidade, que inaugurou uma nova leitura sobre o espaço urbano, percebendo-o como um organismo em crescimento, assim como o território sobre o qual o engenheiro deveria intervir, procurando redefinir as condições de salubridade da cidade. Em consonância com os projetos urbanos. Pereira Nunes fez inaugurar a Praça São Salvador e a Policlínica-Maternidade, onde hoje está sediada a Faculdade de Medicina de Campos, integrada à Fundação que o homenageia Benedito Pereira Nunes. Companheiro de ideais do médico Pereira Nunes, Fran20
_SFMC_90 anos.indd 20
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
cisco Rodrigues Saturnino de Brito, nascido em julho de 1864, em Campos dos Goytacazes, é considerado um nossos mais importantes engenheiros sanitaristas, tendo participado do processo de implantação do urbanismo moderno no Brasil. Conduziu reformas nas principais cidades brasileiras, no final do século XIX e início do século XX, nas quais deixou a sua marca de racionalidade técnica e econômica. Saturnino via e analisava a cidade, interpretando os problemas e apontando soluções, planejando o espaço e prevendo as futuras expansões da cidade. ...“as condições ambientais que propiciavam a ocorrência de surtos epidêmicos, com efeitos nefastos sobre a economia, a população e, também, sobre os valores morais dos moradores”. Seu invento mais conhecido foi o tanque fluxível, utilizado no Brasil e em toda a Europa no século XX, só abandonado depois da década de 1970. Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, “pioneiro da Engenharia Sanitária e Ambiental no Brasil”, foi eleito pelo Congresso da “Associação Brasileira de Engenharia Sanitária” e Ambiental, por unanimidade, Patrono da Engenharia Sanitária Brasileira. O plano de saneamento e expansão elaborado para Campos dos Goytacazes por Saturnino de Brito, anunciava a sua preocupação com a necessidade de educar a população nos “bons princípios da higiene”, dentro dos ideais positivistas da Ordem para o Progresso. Saturnino trabalhou seu plano em três partes. Primeiro, fez um levantamento da planta topográfica, comparando as plantas já existentes e examinando as condições ambientais do município e da cidade. Depois, estabeleceu o estado dos rios, 21
_SFMC_90 anos.indd 21
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
lagoas, pântanos, analisando as condições climáticas, examinando também a situação das estradas, das ruas, das praças, fazendo assim, um diagnóstico detalhado, a partir do qual indicou as soluções. Por fim, dedicou-se à questão da moradia, chamando a atenção para o valor da integridade higiênica e ressaltando que a higiene do domicílio é tão importante quanto a salubridade das cidade (Peixoto, 2005). Mas foi o Prefeito e também médico, Dr. Luiz Caetano Guimarães Sobral (1915), quem implementou quase que totalmente o projeto sanitário de Saturnino. Construiu o Novo Mercado Municipal, o Matadouro-Modelo, o Triturador de Lixo, fechou com muros o Cemitério do Caju, alargou o calçamento de ruas na área central, construiu diques e muralhas ao longo do Rio Paraíba do Sul. Além disso, também na área central, retirou cortiços e desapropriou prédios insalubres e terrenos. Graças ao “Projeto Urbanístico” de Saturnino de Brito, que mais tarde foi quase que totalmente implantado pelo Prefeito Dr. Luiz Caetano Guimarães Sobral, diminuiu consideravelmente a quantidade de epidemias que assolavam nossa terra, mostrando que “quando a capacidade se une à competência, o desenvolvimento é certo!”. Foram médicos e o engenheiro sanitarista que, somando conhecimentos e dedicação, curaram os males miasmáticos pantaneiros em nosso município.
22
_SFMC_90 anos.indd 22
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
Referências Bibliográficas BRITO, Saturnino de. Projeto e relatórios: saneamento de Campos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus. Uma Veneza no sertão fluminense: os rios e canais em Campos dos Goytacazes. CUNHA, Neiva Vieira da. O espírito do sanitarismo: narrativas de profissionais da saúde publica dos anos 30, Rio de Janeiro; s.n; 2002. 292 p. ilus. Tese apresentada à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, para obtenção do grau de Doutor. FARIA, Teresa Peixoto. O papel dos médicos e engenheiros na modernização da área central da cidade de Campos dos Goytacazes, no início do século XX. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo. Santos de Antigamente. Disponível em http://www.novomilenio.inf.br/santos/fotos096.htm SOUSA, Alberto; NOGUEIRA, Helena de Cássia e VIDAL, Wylnna. Inovação no urbanismo brasileiro da Primeira República - O traçado de Saturnino de Brito para a expansão da capital paraibana. Revista Vitruvius. Arquitextos ISSN 1809-6298, 070.07 ano 06, mar 2006.
23
_SFMC_90 anos.indd 23
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de hist贸ria
Welligton Paes
Ginecologista - Obstetra Memorialista - Bibli贸filo Membro das Academias Campista de Letras e Pedralva Letras e Artes 24
_SFMC_90 anos.indd 24
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia 1921/2011 Welligton Paes O patrimônio da história médica de Campos registra em 1878 a mais célebre polêmica científica aqui desenrolada – a propósito do beri-beri, doença observada entre nós desde 1872 –, e quase desconhecida por médicos da época, que a confundiam com outras entidades mórbidas. Por falta de associações científicas ou de publicações médicas, era na imprensa diária que se agitava a discussão do assunto, atraindo dentro em pouco novos contendores à arena dos debates. Por iniciativa do Dr. Francisco Portela, foi realizada uma reunião de médicos desta cidade, a fim de estudar “o aparecimento do beri-beri neste município, com relação às suas causas, natureza e tratamento”. Para instalar este inquérito científico, em que se devia ouvir e estudar o depoimento de todos os interessados na questão, reuniramse, em 18 de junho de 1878, vários médicos e farmacêuticos. A assembléia presidida pelo Dr. Almeida Barbosa, decano dos médicos presentes, aprovou por unanimidade uma proposta do Dr. 25
_SFMC_90 anos.indd 25
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
Lourenço Maria de Almeida Batista (mais tarde Barão de Miracema), para criação de uma associação médicofarmacêutica, que deveria compreender não só a missão científica, como também a beneficente. Fundada na data acima, necessitou a “Sociedade Médico-Farmacêutica e Beneficente de Campos” de mais 8 meses para sua organização definitiva. Em 15 de fevereiro de 1879, foi solenemente inaugurada com 23 sócios fundadores. Não possuía sede própria, e funcionava ora na Beneficência Portuguesa, ora na Santa Casa de Misericórdia, naquela época localizada na Praça São Salvador, esquina da Avenida 15 de Novembro. Vários temas médicos foram debatidos e discutidos. Os mais destacados oradores foram os Drs. Francisco Portela, Almeida Batista e João Batista de Lacerda, pai e filho. Seu primeiro presidente foi o Dr. Almeida Batista, que, na solene inauguração, pronunciou magnífico discurso, justificando que aquela instituição era destinada ao estudo e à defesa dos interesses médicos, nos seus aspectos científico, moral, econômico e social. Barbosa Guerra, um dos mais notáveis pesquisadores da história campista em seus vários ramos, em discurso pronunciado na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, em sessão de 22 de outubro de 1939, data comemorativa do centenário do ilustre campista, diz em um trecho: “Não quero me estender aqui a acentuar reminiscências de tudo o que fez o Dr. Almeida Batista nesta associação médica, em prol do engrandecimento da medicina, em suas interessantes discussões sobre o beri-beri, febre amarela, loucura palustre. O notável médico e cirurgião havia conquistado reputação profissional que ia além de nossas fronteiras, motivo porque – por seu eminente valor pessoal – ascendeu 26
_SFMC_90 anos.indd 26
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
ele à elevada situação na fidalguia do Império, recebendo duas honrosas distinções: a primeira, em 1873, quando, por serviços prestados à humanidade, foi nomeado por alvará de D. Pedro II, Moço Fidalgo da Casa Imperial, com exercício. A outra, em 1888, quando a Princesa Isabel, então Regente do Império, lhe conferiu o título de Barão de Miracema, em carta imperial.” Apesar de a Sociedade contar com ilustres nomes, foi se enfraquecendo por múltiplos motivos e desapareceu. Após vencidos 43 anos da primeira sociedade médica em Campos, surgia, em 24 de janeiro de 1921, a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (SFMC), fundada por um grupo decidido e entusiasta de nobres colegas, constituído por: Presidente – Ignacio de Moura Vice-Presidente – Benedito Gonçalves Pereira Nunes 1.º Secretário – Osvaldo Luiz Cardoso de Melo 2.º Secretário – João Garcia Júnior Tesoureiro – Antonio Bastos Tavares Bibliotecário – Otaviano de Brito Deixemos que o professor Dr. Décio Parreiras(1) descreva o aparecimento da entidade, com alguns acréscimos do jornalista e sócio benemérito da SFMC, Latour Arueira. “Era uma tarde de dezembro. Ia chegando ao fim o ano de 1920. Tarde de ouro. E os poentes doirados da planície conversavam sobre saudade... num salão de jantar, mesa de finos cristais e panos delicados, que traíam a velha fidalguia campista das mãos femininas que os compuseram. Na residência do Dr. Luiz Caetano Guimarães Sobral, (1) Nascido em Niterói, sobrinho do grande pintor Antonio Parreiras, clinicou algum tempo em Campos. Retornou a Niterói, especializou-se em higiene no Instituto Oswaldo Cruz. Mais tarde, tornou-se catedrático de doenças tropicais e infecciosas da Faculdade Fluminense de Medicina, onde fui seu aluno.
27
_SFMC_90 anos.indd 27
9/1/2012 23:24:43
SFMC 90 anos de história
o encontro em homenagem ao festejado cirurgião Professor Dr. José Mendonça, da Academia Nacional de Medicina, em visita a Campos.” Latour Arueira, em trabalho publicado sobre Chapot Prevost(2), escreveu, sem admitir contestação, tudo o que foi a assistência fraterna, médica, cirúrgica, profissional com que o professor Dr. José Mendonça acompanhou os últimos meses de vida do notável Chapot Prevost(1), Este resistiu durante meses a aceitar a via cirúrgica, indicada logo no primeiro dia da assistência médica. Aos 43 anos, Chapot foi medicinar no céu. “O professor Dr. José Mendonça, à refeição, dizia a Pereira Nunes, a Luiz Sobral, a Manhães Filho, a Ignacio de Moura, a Garcia Júnior, a Décio Parreiras, a outros convivas, do seu encantamento pelo que vira e ouvira no nosso meio médico campista, que não tinha, no entanto, ainda, o seu órgão de representação, a sua organização de classe. Deflagrou-se a centelha. O campista reage de pronto e com segurança às excitações desta ordem. E, já à sobremesa, terminando um brinde, Ignacio de Moura, afiançava ao visitante que a velha idéia seria uma realidade.” E o foi, em 24 de janeiro de 1921 (repita-se), às 16 horas, no salão nobre da Santa Casa de Misericórdia de Campos. A Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia recebeu o sol da vida e é das mais antigas do Brasil. E nenhuma outra, mesmo que contestada a provocação, poderia ter feito o monumento que representam a Policlínica, a Maternidade e o Hospital Infantil, incorporadas para a implantação da Faculdade de Medicina de Campos, (2) Nascido em Cantagalo; No Rio de Janeiro havia separado as xifópagas Maria e Mariana, em 20 de maio de 1900.
28
_SFMC_90 anos.indd 28
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
em 14 de outubro de 1967. Não havia sede própria, e as reuniões ocorriam nos salões dos hospitais da cidade. Só mais tarde foi construída a Policlínica “Admardo Torres” (nome dado em homenagem ao seu grande benemérito). Ata da Fundação (transcrição) – 1ª sessão – “Aos vinte e quatro dias de janeiro de 1921, às 16 horas, no salão nobre da Santa Casa de Misericórdia de Campos, reuniram-se 21 membros da classe médica dessa cidade, com o fim de fundarem a sociedade médico-cirúrgica. Foi escolhido unanimemente, para presidir a essa primeira reunião preparatória, o Sr. Dr. Ignacio de Moura, cabendo as funções de secretário ao Dr. Décio Parreiras, tomando ambos posse dos respectivos cargos. O Sr. Dr. Ignacio de Moura, em longa oração mostrou os fins da reunião e terminou considerando fundada a sociedade médico-cirúrgica de Campos. Outrossim, declarou sócios fundadores todos os médicos residentes em Campos e mais os professores Drs. Alvaro de Barros e Linneu Silva, catedráticos, respectivamente, de neurologia e oftalmologia da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Em seguida, propôs os nomes dos Srs. Drs. Demerval Rosa, Eduardo Manhães e Décio Parreiras para elaborarem, conjuntamente, os estatutos. O Dr. Eduardo Manhães lembra a necessidade da nomeação de cinco membros para redigirem os estatutos, no que é contrariado pelo Dr. Demerval Rosa, que limita esse número a três, consoante as praxes adotadas até aqui em sociedades congêneres. O sr. presidente resolve de acordo com a última 29
_SFMC_90 anos.indd 29
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
proposta. O Sr. Dr. Cruz Alves pede que se oficie a todos os membros da classe médica campista, comunicando-lhes a fundação da nova Sociedade. O Sr. Dr. Alberto Cruz secunda as idéias do Dr. Cruz Alves, pedindo, entretanto, que se deixe para outra sessão a criação da Sociedade, sob o fundamento de que, não obstante o número avultado dos presentes, à sessão faltavam alguns médicos eminentes, que se sentiriam felizes de testemunharem este velho objetivo da classe. O Sr. Dr. Alberto Cruz ergue-se mais uma vez, dizendo-se representante do Sr. Dr. Luiz Sobral, que, concorde com os fins da assembléia, homologaria todas as suas decisões. O Sr. Dr. Custódio Siqueira, acompanhando-o, lê uma carta do Sr. Dr. Severino Lessa, justificando a sua ausência. No mesmo sentido fala o Sr. Dr. Antonio Pereira Nunes para explicar a falta do Sr. Dr. Benedito Pereira Nunes. Após pequeno silêncio, pede a palavra o Sr. Dr. Custódio Siqueira, congratulando-se com o corpo clínico ali presente pelo advento da nova Sociedade, produzindo um discurso que deixou viva impressão pelo cuidado da forma e profundeza dos conceitos. Nada mais havendo a tratar, foi levantada a sessão.” Assinada pelo Secretário interino – Dr. Décio Parreiras. ••• A primeira grande obra da SFMC foi a construção da Policlínica, que nas comemorações do 5.º aniversário da Sociedade, em 24 de janeiro de 1926, era inaugurada. A Folha do Comércio do mesmo dia, noticiando sobre a inauguração da grandiosa obra, diz: “Era um sonho, uma 30
_SFMC_90 anos.indd 30
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
utopia a palpitar na alma eternamente moça de Pereira Nunes, que foi o incansável jardineiro dessa floração extraordinária.” Para a construção daquela obra, a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia foi auxiliada, além da significante ajuda de Admardo Torres, pelo Governo do Estado com uma subvenção de 50.000$, numerosos donativos e benefícios realizados nos nossos teatros. No andar superior do prédio funcionará a SFMC, estando instalada, em seções especiais, a sala das reuniões, gabinete do presidente, biblioteca, secretaria, etc. Ainda o diário Folha do Comércio do dia 24 de janeiro de 1926 registrada – Essa douta agremiação científica, que hoje completa o seu 5.º aniversário, e que é motivo de justo orgulho para a nossa cidade, tem os seus estatutos devidamente registrados no Ministério do Interior, com todas as formalidades legais, e publica mensalmente um boletim contendo o relatório de todos os trabalhos efetuados e memórias apresentadas pelos sócios. Foi considerada de utilidade pública por lei estadual votada na Assembléia Legislativa no ano de 1923 e, por lei federal, na Câmara dos Deputados em 24 de julho de 1924. Para os mais interessados na história, afirmamos que o majestoso edifício da Policlínica, sede da SFMC, ergueu-se nos terrenos do antigo cemitério do Quimbira. Esses terrenos, outrora pertenceram à Santa Casa de Misericórdia, que os doou à Prefeitura Municipal. Foram cedidos à Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia pelo prefeito Dr. Luiz Sobral. Quatro meses após a fundação da SFMC, era fundada em maio de 1921, em Niterói, a Sociedade Médico Cirúrgica Fluminense, que teve vida efêmera. Em 10 de outubro de 1927, era instituída a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Niterói, que, numa autotransformação, muitos anos depois, faria aparecer 31
_SFMC_90 anos.indd 31
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
a Associação Médica Fluminense. Em novembro de 1922, a nossa SFMC delegou ao sócio Phocion Serpa, residente na Capital, amplos poderes para representar essa Sociedade na criação da Associação Médica Brasileira. Latour Arueira, estudioso da nossa história, revela que a Associação Médica Brasileira tentou absorver a SFMC, que reagiu, não aceitando ser conquistada, nem quis cometer autocídio. Preservou sua tradição, sua importância, sua magnífica edificação social, que Miguel Couto declarou não encontrar em nenhuma parte do mundo. Em junho de 1921, era editado, pela primeira vez, o Boletim, que registrava tudo que ocorria nas reuniões da Sociedade, como os informes científicos, as visitas de colegas feitas à Sociedade, saudações e discursos de posse, campanhas comunitárias etc. Até 1946 foi editado regularmente. Por motivo desconhecido, o Boletim ficou adormecido por 34 anos. Em 1980, o presidente Luiz Augusto Nunes Teixeira, em companhia de um grupo de colegas, propôs ressuscitá-lo e promover o resgate de sua memória, seguindo as ideias iniciais de Ignacio de Moura. A primeira Diretoria da SFMC teve a predestinação da posteridade. E relembramos, com amor e saudade, os nomes que a constituíram desde o seu início. Notáveis colegas sentaram-se nas cadeiras da presidência, discutindo não só doenças, mas campanhas preventivas, política médica, eventos científicos e uma gama de assuntos de interesse da comunidade. Nos primeiros anos da Sociedade, três nomes se destacaram não só na presidência, como na própria história 32
_SFMC_90 anos.indd 32
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
da medicina, da cultura e da política de Campos: Ignacio de Moura, Benedito Gonçalves Pereira Nunes e Oswaldo Luiz Cardoso de Melo. A Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e seus Presidentes ••• 1 - Ignacio de Moura O nosso primeiro presidente, além de respeitado médico cirurgião e obstetra, era jornalista e considerado por muitos como o mais famoso cantor lírico da planície. O seu poema A “Cidade de Campos” é uma das mais belas páginas da nossa poesia. Muitos foram os biógrafos deste notável campista. É mais do que justo incluir o nome de Latour Arueira, escritor, jornalista, pesquisador, acadêmico e sócio benemérito da Sociedade (por relevantes serviços prestados à classe médica de Campos) nas comemorações do seu 80.º aniversário, transcrevendo o seu trabalho: “Ciência e Arte em Ignacio de Moura”. “Desde quando ingressei na imprensa, projetei escrever sobre Ignacio de Moura. Cresceu-me a vontade ao ser sócio benemérito da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, de que fora primeiro presidente, em 24 de janeiro de 1921. Médico suplente de Deus e poeta de elevadíssima sensibilidade, era Ignacio de Moura, ainda, o jornalista seduzido pela vocação e o professor que deixava o discípulo falar por sua vez. Nasceram e morreram anos e eu sempre ouvindo coisas assim: ‘os três representantes da grandeza poética de Campos 33
_SFMC_90 anos.indd 33
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
são: Azevedo Cruz, Ignacio de Moura e Rodrigues Crespo’. Não poucos, mudavam a ordem, indicando Ignacio de Moura na precedência, sem qualquer diminuição para outros magníficos poetas da ‘terra predileta do luar como Verona’: Teixeira de Melo, Max Vasconcelos, Flamínio Caldas, Anfilóquio de Lima, Walfredo Martins, Manuel Moll... Em Niterói foi cumprida a nossa promessa, espontaneamente feita pelo meu coração. Apresento uma recopilação do simples trabalho, ainda inédito. Ignacio de Moura teve o seu natal em Campos, no dia 12 de agosto de 1875. E, em Niterói, a 26 de dezembro de 1926, antes de sentir que a morte é a curva do céu, disse: ‘o meu consolo é que a ciência não está sujeita às leis da nossa fragilidade. Nós vamos e a ciência fica’. Fez os preparatórios no centenário Liceu de Humanidades de Campos. Diplomou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1897, tempo em que o ‘know-how’ se conquistava no estrangeiro. E Ignacio de Moura realizou estudos de especialização em Paris, Viena e Berlim, principalmente em cirurgia e obstetrícia. É impressionante como o sábio médico e o primoroso poeta conseguiu ter outras atividades. Em 3 de abril de 1907 fundou e dirigiu o jornal ‘O Tempo’, editado até 22 de dezembro de 1911, societário do seu cunhado Obertal Chaves. Foi diretor do Liceu de Humanidades e Escola Normal de Campos e seu professor. E ainda Administrador Regional dos Correios e Telégrafos do Estado do Rio de Janeiro, passando a residir em Niterói. O exigente Múcio da Paixão, no seu ‘Movimento Literário em Campos’, diz: “Desde os tempos de estudante, dominado por um pronunciado temperamento literário, Ignacio de Moura, compôs muitos versos e artigos, seções, variedades, folhetins, que foram publicados na imprensa diária e acadêmica do tempo”. 34
_SFMC_90 anos.indd 34
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
No sesquicentenário ‘Monitor Campista’ estudou profundamente a reforma da instrução pública do Estado do Rio, realizada no ano de 1900, quando também começou a iluminar as colunas da revista ‘Aurora’ com uma extensa e brilhante colaboração poética. Ao tempo de Ignacio de Moura não havia residentes, internos, acadêmicos fingindo de doutores, bolsas de estudos, tudo rendendo dinheiro e gerando greves. O estímulo da servidão à arte de curar era a certeza da afirmação de Miguel Couto de que ‘a medicina é a profissão do sofrimento’. E, assim, não perguntava o médico quem era o doente, mas onde estava o doente. Um episódio exprime o conceito de Ignacio de Moura como cirurgião renomado. Sabemos que mestres de medicina irradiaram luz da sabedoria em sua época e ficaram consagrados. Daniel de Almeida foi na cirurgia um sol assim. Ia a Campos nas férias caçar codornas. Mas sempre procurado para operar. Um dia confessou: ‘Vocês aqui em Campos só deviam chamar-me para caçar codornas, porque para operar vocês têm aqui um profissional melhor do que eu; que é o Ignacio’. Recorda o professor Garcia Júnior do presidente primeiro da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia: ‘em primeiro lugar Ignacio de Moura foi o arquiteto, o dínamo, a força, a coluna mestra, a expressão mais alta do grande movimento coordenador da classe’. E que fascinante retrato faz Garcia Júnior de Ignacio de Moura: ‘a reação rápida, a resposta viva e brilhante, o revide instantâneo eram habituais em Ignacio. Da existência dessa fosforecente centelha é a prova a defesa da tese inaugural. Escrevera ele sobre o regime vegetariano, advogando-lhe as virtudes e as vantagens. O professor Nuno de Andrade, dono do verbo, o mais eloqüente e chistoso do corpo de professores de então, arremete, numa longa tirada, contra as deficiências 35
_SFMC_90 anos.indd 35
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
energéticas dos alimentos vegetais, invocando a força dos carnívoros – do leão e do tigre – detentores do cetro das matas. E a resposta de Ignacio de Moura, tranqüila, voltados os olhos para o chão, fulmina o famoso Nunes de Andrade: ‘é que vossa excelência confunde, lamentavelmente, ferocidade com força. Os animais mais fortes são: o elefante, o touro, o cavalo, todos sabidamente herbívoros’. Ignacio de Moura (Nhozinho) deixou a sua ‘folgada vida de homem de bem’, como eram chamados os solteiros, em 1903, casando-se com Olívia Chaves de Moura (Mocinha). União de duas famílias tradicionais, queridas de Campos. Sete foram os filhos do casal, pela ordem de nascimento: Tasso, professor, nascido na Áustria e registrado em Campos; Nadir, Nídia, poetisa, autora do livro ‘Três ciclos de poesia’ destacada em ‘Autores e Livros’, suplemento literário dirigido por Múcio Leão; Ignacio, médico; Aloysio, poeta que em 1999 editou uma coletânea com o título de “Versos dispersos” do seu pai, advogado, jornalista e radialista, diretor da Rádio Sociedade de Friburgo; Carmen e Maria. Levou-o a medicina para Bariri, Estado de São Paulo, em 1914. A saudade reclamou intensamente e o poeta compôs uma canção de louvor à terra campista, altamente amorosa e fortemente sociológica. É a sua ‘A Cidade de Campos’ (22 estâncias de 4 versos). No poema ‘A Cidade de Campos’ Ignácio de Moura colocou estes versos: ‘Nossos filhos serão mais úteis e felizes às artes se entregando e aos estudos agrários. É deles o caminho, a escola de aprendizes: em vez de bacharéis, façamos operários.’ 10 anos depois, a 18 de janeiro de 1924, o estadista Nilo Peçanha, respondendo à saudação do operário Evaldo Melo, dizia ao povo que o aclamava: ‘Confiai em vosso futuro. O 36
_SFMC_90 anos.indd 36
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
Brasil de ontem saiu das academias, mas o Brasil de amanhã sairá das oficinas’. Era uma paráfrase: o ex Presidente da República Nilo Peçanha declamava em prosa os versos do poeta Ignacio de Moura, mantendo sua idéia original. Escrevendo em prosa com extrema desenvoltura, fazendo rebrilhar a graça como Anatole France, Rabelais, Emilio de Menezes, é na composição de versos que está espontâneo o talento literário de Ignacio de Moura, pela sua fascinante organização poética. Produziu muito e três livros poderia ter deixado publicados, como testemunhos de sua medicina, do seu jornalismo e da sua poesia. Não quis Deus que Ignacio de Moura voltasse a Campos, a não ser para a propriedade do minifúndio do campo santo, onde ‘as casas estão fechadas e todos estão dormindo’, como cantou o poeta João Rangel Coelho. Em ‘A Cidade de Campos’, Ignácio de Moura manifestou esta vontade: ‘Abandonei-te um dia, e esse crime ainda exerço e custa a nostalgia imensa que me pune. Quero ver-te e rever-te, idolatrado berço, Que a cinza de meus pais e meus avós nos une.’ Merecia o monumento fúnebre de Ignacio de Moura ter uma inscrição assim, complementando a escultura de uma cruz, um coração e uma âncora: ‘Se grande fora a FÉ que inspirava aos seus doentes na ESPERANÇA de salvá-los, maior foi a sua CARIDADE para com eles’.” O Dr. Ignacio de Moura presidiu a Sociedade por pouco tempo. Por motivos particulares afastou-se, e a presidência passou a ser ocupada pelo seu vice, Dr. Benedito Gonçalves Pereira Nunes, que logo depois foi eleito presidente, tendo como vice o Dr. Severino Lessa. ••• 37
_SFMC_90 anos.indd 37
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
2 - Benedito Gonçalves Pereira Nunes Nasceu em Campos, onde fez o curso primário e o preparatório. Seguiu para a Capital e formou-se em medicina. Sua colação de grau teve a presença de S.M. o Imperador D. Pedro II, que, em dezembro de 1887, pela primeira vez, realizava a formatura da primeira doutora em medicina no Brasil – Drª Ermelinda Lopes Vasconcelos, natural do Rio Grande do Sul. Com o diploma retornou à planície, onde se estabeleceu. Em pouco tempo angariava a simpatia e a confiança dos seus clientes. Teve uma das maiores clientelas em seu tempo. Na sua época, era difícil não encontrar alguém de uma família que já não tivesse batido às suas portas, para um socorro de emergência ou um conselho ou uma orientação. Inteligência das mais brilhantes, Pereira Nunes encantava a todos que o ouviam, palestrando ou discursando, tendo sido, sem nenhum favor, um dos grandes conhecedores da língua portuguesa. Na ciência, na literatura, no magistério, na imprensa, na administração da causa pública, isto é, como médico, literato, professor de física e química do nosso Liceu de Humanidades de Campos, jornalista, vereador, presidente da Câmara, prefeito de Campos e Niterói, deputado estadual e federal, Pereira Nunes foi um exemplo de trabalho e liderança. Pereira Nunes fez política com dedicação – não essa política nossa atual, em que se busca, com raríssimas exceções, apenas vantagens pessoais, sem idealismo, onde o nepotismo desenfreado e o preço do mandato são mais importantes do que servir. Ninguém o excedeu em trabalho e amor à sua terra. Foi um apaixonado pelas causas de Campos. Na presidência da Câmara, com as atribuições de 38
_SFMC_90 anos.indd 38
9/1/2012 23:24:44
SFMC 90 anos de história
órgão executivo no triênio 1901-1903, reabriu o Mercado Municipal, instalado no quadrilátero – ruas Andradas, Marechal Floriano, Oliveira Botelho, Tte. Cel. Cardoso, conseguindo solução amigável para a pendência judiciária então existente com a Companhia Melhoramentos de Campos, sua concessionária; substituiu por um elegante gradil de ferro a cerca de arame do jardim da Praça São Salvador; inaugurou a Biblioteca Municipal (com obras de adaptação do antigo edifício do Corpo de Bombeiros); nos distritos rurais, principalmente na baixada, realizou obras que muito contribuíram para o seu desenvolvimento. Como prefeito, no período 1926-1929, atraiu para Campos a Companhia Telefônica Brasileira, calçou a paralelepípedos as ruas Barão de Miracema e Goitacazes, etc. Político, foi dos mais hábeis e prestigiosos, sendo deputado estadual e federal, líder da bancada fluminense, na Câmara. Foi um ótimo administrador, devendo-lhe a capital do Estado as primeiras medidas de modernização, que imprimiram aspecto diverso da velha, antiquada metrópole fluminense. Dr. Décio Parreiras, orador oficial da solenidade de inauguração da Galeria da Saudade, em 24 de janeiro de 1938, sobre Pereira Nunes, disse: “Apesar da fragilidade do seu físico e da amenidade do seu trato, foi um dos maiores guerreiros que a população campista tinha para expor à morte, pela sua cultura aprimorada de médico e pelo sadio otimismo de seu feitio de lutador, não conhecendo o desânimo e mostrando, mesmo na derrota, as características de uma vitória. Deu-nos sempre, na superioridade de seu espírito, a noção perfeita de como se devia viver e na sua velhice, sempre verde, o exemplo da relatividade dos fatos e das coisas, praticando o bem, socorrendo o necessitado, amparando os que dele se acercaram. Foi uma figura notável e singular de médico. 39
_SFMC_90 anos.indd 39
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
Onde Pereira Nunes, porém avultou, cresceu e transbordou na nossa admiração e nosso conceito foi na presidência desta Sociedade (SFMC), e na construção deste edifício e da Maternidade de Campos, onde talvez não haja uma trave, um degrau, uma porta que não merecesse dele e do incansável Dr. João Manhães, uma especial atenção, mostrando aos moços o que podem realizar e construir os que vivem do ideal e da esperança. Tomamos-lhe de assalto uma de suas mais antigas e povoadas habitações, onde, à noite, se ouviam as rapsódias e cânticos com que ela embalava os seus súditos, desde 1850, a velha e tradicional necrópole dos Quimbiras, sobre a qual nos achamos. E, tripudiando dela, Pereira Nunes, Severino Lessa, Ignacio de Moura, entre outros, resolveram erigir uma maternidade em cima de um velho cemitério. Determinaram substituir um túmulo por um berço, trocaram o símbolo máximo da materialidade, que é a ossatura humana, por mulheres em cujo ventre se processa a gestação, símbolo máximo da vida.” Faleceu em 15 de dezembro de 1934, viveu 70 anos. Seus funerais tiveram as proporções de um acontecimento social, tendo sido a urna funerária conduzida à mão pelas ruas Barão de Miracema, Salvador Corrêa, Voluntários da Pátria, 15 de Novembro até ao cemitério, onde discursaram o Dr. Abelardo Vasconcelos, o padre Abelardo Falcão, os jornalistas Ulisses e Claudinier Martins. À passagem do cortejo fúnebre pela Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (que ele ajudou a criar e por muitos anos foi seu presidente), proferiu o Dr. Augusto Guimarães, eloqüente e sentida oração. Muito ainda se poderia escrever sobre este notável campista. Foi presidente nos anos de 1922 a 1927, ininterruptamente, e novamente de 1932 a 1933. ••• 40
_SFMC_90 anos.indd 40
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
3 - Luiz Caetano Guimarães Sobral O terceiro presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia foi Luiz Caetano Guimarães Sobral – 1928-1929 – nome até hoje lembrado, tanto como bom médico como correto administrador. Na vida pública, além de prefeito de Campos durante três gestões, foi também deputado estadual. Para o professor Leonardo Vasconcelos Silva, pesquisador e conhecedor da nossa história, Luiz Sobral foi o grande responsável pela reforma urbana em Campos no início do século XX. Fez um trabalho semelhante ao que o prefeito Pereira Passos realizou no Rio de Janeiro, no tempo que esteve à frente da prefeitura –1903-1906. Acompanhando a história, vamos encontrar dois fatos que ligam o seu nome à classe médica campista. Primeiramente, como já citamos, a sede da SFMC está erguida num terreno cedido pela Prefeitura, na gestão de Luiz Sobral, para a construção da Policlínica; a outra ligação está no nome do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina de Campos, denominado, merecidamente, Luiz Sobral. ••• 4 - Ovídio Manhães Em 1930 e 1931, ocupou a presidência o Dr. Ovídio Manhães, nascido na última década do século XIX. Era um médico voltado para as obras filantrópicas. Entre as obras de vulto de que participou, citamos a construção da Maternidade de Campos, em cujo prédio hoje se encontra a Faculdade de Medicina de Campos. Foi 41
_SFMC_90 anos.indd 41
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
ele o primeiro Diretor da Maternidade, obra inaugurada em dezembro de 1934. ••• 5 - Abelardo Bastos Tavares Abelardo Bastos Tavares foi empossado na presidência em 1934, saudado pelo seu antecessor, Dr. Benedito Gonçalves Pereira Nunes, que, emocionadamente, apresentou um relatório da sua última gestão (1933). Vamos pinçar alguns trechos desse histórico relato: “Está terminado o grande e importante edifício – do hospital especializado – onde deve funcionar a ‘Maternidade’. É justo que, aqui nestas linhas, fique consignado que para execução desse extraordinário cometimento – a ‘Sociedade’ encontrou em dois homens políticos o maior amparo e o mais eficiente auxílio. Dois grandes e bons fluminenses concorreram eficazmente para a construção e acabamento da nossa Maternidade – que se vai inaugurar. Foram os ilustres: Manuel Duarte, presidente do Estado, e comandante Ary Parreiras, interventor. A Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia – representada por sua diretoria e uma comissão de consócios eleitos para este fim, contrataram com a casa Lohner o instrumental e mobiliário para completa instalação da Maternidade – que se tornará um hospital especializado modelar –, dentro das possibilidades para 40 leitos – para que foi projetado. Antes de terminar essa exposição, seja-me lícito dirigir algumas palavras ao novo Presidente bem como ao Diretor da Maternidade. Serão palavras de saudação e um apelo veemente para o futuro dessa nova instituição, levada a efeito pela Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Não concorri para a eleição da nova diretoria. Nenhuma intervenção tive e nem 42
_SFMC_90 anos.indd 42
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
poderia ter no pleito, devido ao meu estado de saúde. Vi, entretanto, com muito prazer e enorme satisfação, que todos meus amigos decisivamente firmaram na pessoa do Dr. Abelardo Bastos Tavares e dos seus companheiros a escolha para a nova administração. Em meu nome e no dos companheiros da diretoria que ora finda o seu mandato, felicitamos aos novos eleitos, fazendo um apelo ao novo presidente, bem como ao atual diretor da Maternidade, para que, sem temores, prossigam na preocupação de dar às duas instituições ‘Policlínica e Maternidade’ a personalidade jurídica de uma fundação – separando a existência dessas instituições beneficentes de uma associação de classe, circunstância essa que poderia até prejudicar as finalidades de ambas. A Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, como fundadora daquelas instituições, – terá sempre na administração dessas casas seu elemento técnico em maioria, conselho que se completará com os membros designados pelo governo ou indicados pelos seus cargos: Prefeito, Juiz de Direito, Diretor de Rendas Estaduais e outros elementos à escolha do governo, e o que mais for resolvido na sua organização, já em andamento.” Na gestão de Abelardo Bastos Tavares além da inauguração da Maternidade, era criada a Fundação Policlínica e Maternidade. Foi Abelardo Bastos Tavares que se bateu, em sessões memoráveis, (vejam as atas) contra a entrega da Policlínica ao Governo Municipal que queria instalar ali o Centro de Saúde. Mais tarde, na presidência, estigmatizou a então deficiência do mesmo Centro, e apagou para sempre a possibilidade da Policlínica e da Maternidade serem entregues aos governos. O grande acontecimento da sua gestão foi, sem dúvida, a inauguração da Maternidade, embora o destino, 43
_SFMC_90 anos.indd 43
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
no seu traçado imutável, não tenha permitido que Pereira Nunes presenciasse a concretização do seu grande ideal. E por uma coincidência histórica, no dia 15 de dezembro de 1934, dia fixado para a inauguração da Maternidade, a morte implacável fulminou-o. A inauguração foi transferida para 23 do mesmo mês. A primeira criança nascida na Maternidade recebeu merecidamente o nome de Benedito, que veio ao mundo a 29 de dezembro, tendo recebido de presente um elegante berço. ••• 6 - Oswaldo de Menezes Póvoa Em 1935, a presidência da Sociedade foi ocupada pelo Dr. Oswaldo de Menezes Póvoa, um dos mais respeitados médicos campistas, que, tendo dedicado sua vida dedicada à profissão, ocupou também diversos cargos em entidades médicas e sociais. Pouco tempo antes de terminar seu mandato, foi discutido longamente e aprovado o Estatuto da Fundação Policlínica e Maternidade, pela qual as duas Casas se constituíam economicamente independentes, embora continuassem orientadas e fiscalizadas pela Sociedade. Foi presidente também da Fundação Benedito Pereira Nunes por 12 anos. Naquela época, o corpo clínico da Maternidade e da Policlínica era escolhido pelo Plenário da SFMC. Também sob a sua presidência a Sociedade realizou, em 1935, em Campos, a 1.ª Jornada Médica do Estado do Rio, que reuniu 58 profissionais dos mais renomados da “velha província”. ••• 44
_SFMC_90 anos.indd 44
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
7 - Oswaldo Luiz Cardoso de Melo Em seguida, assumiu a presidência o Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, cargo que desempenhou durante cinco anos (de 1936 a 1940). Em 1960, foi novamente eleito e mantido no cargo, por reeleições, por mais cinco anos. Foi um dos sócios fundadores da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e seu 1.º Secretário. Ocupou a 2.ª Secretaria por duas vezes, e a Vice-Presidência em 1928 e 1929. Fez parte da comissão que construiu a Policlínica Admardo Torres, inaugurada nas comemorações do 5.º aniversário da SFMC – janeiro de 1926, e nela instalou o primeiro Serviço de Oftalmologia e Otorrinolaringologia de Campos. Chefiou esse Serviço até 1932, tendo sido Diretor da Policlínica durante os anos de 1928 e 1929. Em 1936 voltou a chefiar o Serviço de Oftalmo-ORL da Policlínica, fazendo-o até janeiro de 1941. Em 1935 foi nomeado médico efetivo do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência, onde instalou e chefiou o Serviço de Oftalmologia e ORL. Em 1963 entrou em licença, tendo aquele Hospital, até o seu falecimento, mantido o seu nome como Chefe do Serviço. Foi um dos fundadores, em 1939, da Associação de Proteção à Infância de Campos (APIC), da qual foi Presidente de 1942 a 1943. Foi membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, membro correspondente da Academia Brasileira de Medicina Militar, e sócio efetivo da Associação Médica Fluminense, da qual foi 2.º Vice-Presidente no período de 1962 a 1963. Na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia teve uma atuação de destaque desde a sua fundação, quando foi 1.º Secretário. No relatório de um ano de existência 45
_SFMC_90 anos.indd 45
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
da Sociedade, ele diz: “Malgrado o pessimismo de uns e apesar das dificuldades naturais a uma empresa que se inicia, eu vos posso afirmar que foram brilhantes os 12 primeiros meses de existência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Assim era de se esperar. A classe médica de Campos não se podia deter ante tão grande empreendimento. Era forçoso levá-lo adiante.” A classe médica de Campos, através da SFMC, além da Policlínica Admardo Torres, construiu a Maternidade Zina Duarte e o Hospital Infantil Antonio Pereira Nunes. Para prover a manutenção das três unidades assistenciais, instituiu a Fundação Policlínica e Maternidade de Campos, depois Fundação Policlínica, Maternidade e Hospital Infantil de Campos, e, finalmente, com a nomenclatura atual, a Fundação Benedito Pereira Nunes. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo assumiria a Presidência da Fundação Benedito Pereira Nunes após o fechamento da Maternidade e do Hospital Infantil, por insegurança técnica, motivo que redundou na ocorrência de dois casos consecutivos de tétano materno-infantil. Quando, em 1964, sob sua presidência, nasceu na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, em memorável Assembléia Geral, a ideia trazida pelo Dr. Almeida Gusmão, de implantação de uma Faculdade de Medicina em Campos, foi ele um dos articuladores da indispensável reforma dos Estatutos da Fundação Benedito Pereira Nunes, de modo a ampliar as suas finalidades que eram de assistência à maternidade e à infância, ao ponto de permitir também a manutenção de ensino médico e paramédico, de forma que aquele patrimônio imóvel, fechado há 4 anos, pudesse ser utilizado como sede da futura Faculdade de Medicina de Campos. Para as obras de adaptação dos prédios à nova finalidade, conseguiu, já na condição de Secretário de Saúde e Assistência do Estado do Rio de Janeiro, em 1966, 46
_SFMC_90 anos.indd 46
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
que o ilustre Governador Theotônio Ferreira de Araujo Filho liberasse a verba de 200 mil cruzeiros das contas devidas pelo Estado ao Município de Campos, quantia essa proposta pelo então Prefeito Rockefeler F. de Lima e aprovada pela Câmara de Vereadores de Campos, concedida mas não liberada pelo Interventor Marechal Paulo Torres. Em 1967, por indicação da Fundação Benedito Pereira Nunes, então presidida pelo ilustre Dr. Geraldo da Silva Venancio, foi escolhido para ser o primeiro diretor da Faculdade de Medicina de Campos e, por aprovação unânime do Egrégio Conselho Federal de Educação, foi aceito por “notório saber”, como Professor Titular de Otorrinolaringologia, magistério que nunca chegou a exercer por ser ela, àquela época, disciplina do 5.º ano médico e por haver ele falecido antes do primeiro aniversário da nova escola médica. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo foi figura de destaque na história médica, cultural e política de Campos. Era um apaixonado pela nossa história. Defensor incansável das tradições de Campos, criticava sempre o abandono e a destruição dos nossos solares. Era possuidor de grande cultura humanística. Foi Vereador, Prefeito, Deputado e Secretário de Interior e Justiça e de Saúde e Assistência do Estado do Rio de Janeiro. Pertenceu à Academia Campista de Letras, como sócio fundador. Ocupou a cadeira n.º 32, que tem como patrono Nilo Peçanha. Colaborou na imprensa campista, em diversos jornais. Era um exímio orador, freqüentemente requisitado para saudar visitantes ou convidados. Dirigiu saudações aos Professores Raul David de Sanson, Hugo Pinheiro Guimarães, Heitor Carrilho, Leitão da Cunha, Benedito Montenegro, Otavio Rodrigues Lima, Rinaldo Delamare, Pedro Nava, Cesar Perneta, Ivo Pitanguy e outros. Em Osvaldo Luiz Cardoso de Melo é difícil divorciar o médico do homem público, do administrador, do estadista, do 47
_SFMC_90 anos.indd 47
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
cultor das letras e das artes, do patriota. Ele se dava inteiro às causas que abraçava. No dia seguinte ao seu falecimento, o seu amigo Osvaldo Lima diz em um trecho de sua belíssima crônica: “Há árvores que morrem de pé porque a mão dos homens não tem a coragem de mover-se para abatê-las. Muda o cenário em torno e elas continuam. Não incomodam. Não afeiam. Pelo contrário, embelezam. E são alvo de uma espécie de culto. À sua sombra se sentam e se abrigam gerações e gerações. Assim era o Dr. Cardoso de Melo, sempre adaptado e receptivo em relação às transformações do plano intelectual.” ••• 8 - Antonio Pereira Nunes No período de 1941 a 1944, ocupou a Presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia outro notável campista, Antonio Pereira Nunes, filho do grande Benedito Gonçalves Pereira Nunes. Em Campos, só fez o curso primário e o início do ginasial. Transferiu-se logo para o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Formado em medicina, integrou a missão médica brasileira que seguiu para a França, na primeira guerra mundial. Em 11 de novembro de 1918, dia do armistício, com os olhos cheios de lágrimas e o coração latejando na fronte, o Dr. Antonio Pereira Nunes, hasteou o Pavilhão Nacional do Brasil em praça pública. Terminado o conflito, veio para Campos. Fez-se médico da Leopoldina. Serviu também na Profilaxia Rural e foi médico da Higiene da Prefeitura. Chefiou a Assistência Médico-Social da Usina São José. 48
_SFMC_90 anos.indd 48
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
Como profissional, foi um verdadeiro médico de família, aquele que não fazia apenas Clínica Geral, mas ainda era conselheiro dos seus clientes, com cujas dificuldades se solidarizava. Além de orador de largos recursos, foi exímio violinista, tendo tocado até na orquestra do Teatro Orion, como colaborador gentil em atuações eventuais. Benedito Pereira Nunes idealizara três edifícios em terreno da rua Alberto Torres, esquina da rua Voluntários da Pátria, onde pudesse abrigar a Policlínica, a Maternidade e o Hospital Infantil. A morte não deixou concluir o seu sonho. Ascendendo à Presidência da SFMC, o seu filho Antonio Pereira Nunes se deu à tarefa enorme de erguer o Hospital Infantil. E o fez à custa da mais exaustiva campanha. Trabalhou como um verdadeiro apóstolo. Foi Secretário de Educação do Governo do Interventor Lucio Meira. Nomeado diretor-presidente da Caixa Econômica Federal do Estado do Rio, permaneceu no cargo por muito tempo, realizando boa administração. Foi membro fundador, como o seu antecessor Dr. Cardoso de Melo, da Academia Campista de Letras. ••• 9 - Renato Nunes Machado Em janeiro de 1945 ocupou o cargo de Presidente da SFMC Renato Nunes Machado, tendo como Vice João Afonso Souza Vale e 1.º Secretário Dióscoro Vilela. Assumiu prometendo envidar os maiores esforços para que a Sociedade continue a desenvolver as suas atividades científico-sociais, sempre em maior escala e com os melhores resultados em benefício da classe. 49
_SFMC_90 anos.indd 49
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
Foi um ano de reformas: reforma dos estatutos, reforma do mobiliário. Foi na reforma dos estatutos que o presidente atestou mais uma vez seu prestígio e sua força de vontade. A reforma compreendida pelos seus antecessores, somente pôde ser efetuada durante o mandato de Renato Machado. Foi um dos mais dedicados e intrépidos timoneiros da Sociedade. Contribuiu para colocar toda a classe nos seus postos de amparo e de defesa. ••• 10 - Edgard de Vasconcelos Alvarenga Em 1946 assumiu a Presidência, Edgard de Vasconcelos Alvarenga, tendo Abelardo Vasconcelos como Vice e Pinto Filho como 1.º Secretário. No início de sua gestão foram realizadas as comemorações do 25.º aniversário da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. O ano de 1946 ficou assinalado, também, como o ano do 2.º Congresso Médico do Estado do Rio, realizado em Campos, com pleno sucesso. Reuniramse nada menos que 25 vezes, repetindo em cada reunião o interesse pelo desenvolvimento cultural da classe e pelo amparo à coletividade. O Congresso trouxe a Campos grandes valores médicos do País. Em 1947 foi novamente escolhido presidente, por votação, como é de praxe, tendo como Vice, Edgardo Nunes Machado, e como 1.º Secretário, Ewerton Paes da Cunha. Em novembro de 1947, a SFMC recebeu festivamente o Professor Lopes Rodrigues, ocupante da Cadeira de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, anteriormente ocupada pelo ilustre sábio e nosso conterrâneo Alvaro de Barros. 50
_SFMC_90 anos.indd 50
9/1/2012 23:24:45
SFMC 90 anos de história
Edgard V. Alvarenga, campista, nascido nos primeiros anos do século XX, fez o secundário no conhecido Liceu de Humanidades de Campos. Em 1921, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, colando Grau em 1926, após brilhante curso. Fez diversas viagens de estudos à Europa e publicou vários trabalhos científicos em revistas médicas. Foi membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Era pessoa muito especial para nossa família. Além de médico, respeitado conselheiro. Aprendi a admirá-lo desde minha infância, quando presenciei algumas vezes chegando de trem a Murundu para atender nossos pais ou outros parentes. Atuava como um verdadeiro médico de família. ••• 11- Francisco José Pinto Filho Em janeiro de 1948, nova eleição e outra diretoria tomou posse: Presidente – Francisco José Pinto Filho; Vice – Luiz Brandão Filho; 1.º Secretário – Acyr Bello de Campos. A saudação ao presidente eleito foi feita pelo Dr. José Rufino Filho. Nessa gestão, várias Conferências foram realizadas na Sociedade. Estiveram presentes, entre outros, os professores Lemes Lopes, Aluizio de Paula, Osolando Machado e Antonio Pinto Vieira, do Hospital de Câncer do Rio de Janeiro. O Dr. Pinto Filho além de Presidente da SFMC, foi Diretor do Hospital Infantil, Presidente da L.B.A. e Presidente da APIC. Pinto Filho, sem abandonar os seus inúmeros clientes, 51
_SFMC_90 anos.indd 51
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
encontrou tempo para dedicar-se à causa pública. Foi um político competente. Acima dos interesses pessoais e até partidários, para ele, estava o bem-estar da coletividade. Foi um modelo para muitos. ••• 12 - Acyr Bello de Campos Acyr Bello de Campos foi o Presidente eleito para o exercício 1949/1950. Vice – José Rufino Filho, 1.º Secretário – Alberto Hammerli. A grande realização desta gestão foi a participação da Sociedade no III Congresso Médico do Estado do Rio de Janeiro, realizado em setembro de 1949, em Petrópolis. Campos, sob a chefia do Presidente Acyr Bello de Campos, participou com um grupo numeroso, formado pelos drs. Abelardo Vasconcelos, Ary G. Barbeitas, Ary Viana, Barbosa Guerra, Herculano Aquino, Domingos de Azevedo, Pinto Filho, Plinio Bacelar da Silva, Pedro Pereira Pinto e Edgard Alvarenga. Na sua presidência, recebeu a visita de vários colegas médicos conferencistas, como os Professores Paulo Gouveia e Alvaro de Bastos. No seu mandato também ocorreu a posse do nosso querido mestre Dr. Geraldo Venancio. Acyr Bello de Campos, além de renomado médico, foi um primoroso poeta. Pertenceu à Academia Campista de Letras, onde ocupou a cadeira do grande republicano histórico, o campista Pedro Tavares. Conversamos poucas vezes, mas o bastante para sentir o quanto era culto e educado, um gentleman. ••• 52
_SFMC_90 anos.indd 52
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
13 - José Rufino de Carvalho Filho Em 1950, exerceu a presidência da SFMC José Rufino de Carvalho Filho, tendo como Vice Edgardo Machado e 1.º Secretário Abelardo do Nascimento Vasconcelos. A Diretoria foi saudada pelo sócio Renato Nunes Machado. A posse solene teve a presença de várias autoridades do município e da Banda Musical Lyra Guarany. Em 15 de maio, o sócio Dr. Luiz Brandão Filho, em brilhante e emocionado discurso, lamentou a morte de Vital Brasil, uma perda para o país e para o mundo. Nos últimos meses de sua gestão (final de 1950) debateu-se, em várias sessões, o Convênio da Prefeitura com a Santa Casa sobre o Pronto Socorro. Em sua gestão veio a Campos o Professor Waldemar Berardineli, recebido na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia para uma palestra. José Rufino de Carvalho Filho, após um curso brilhante no nosso Liceu, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde seu talento colocou- o entre os mais destacados da turma de 1935. Freqüentou os serviços de clínica médica dos Professores Aloisio de Castro e Eliseu Guilherme. Foi interno do Hospital Pro-Matre, completando sua formação médica, na convivência do Grande Mestre, Professor Fernando Magalhães. José Rufino Filho foi admitido como sócio na SFMC em junho de 1937, sendo saudado por Oswaldo de Menezes Póvoa. Foi sócio efetivo da Academia Campista de Letras. ••• 53
_SFMC_90 anos.indd 53
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
14 - Abelardo Nascimento Vasconcelos Em janeiro de 1951, com a presença de elevado número de associados, de representantes de várias entidades e da Banda Musical Lyra Guarany, tomou posse a nova Diretoria, constituída por: Presidente Abelardo N. Vasconcelos; Vice – Ari Barbeitas; 1.º Secretário – Acyr Bello de Campos. O orador da solenidade foi o sócio Edgardo Machado. Em sessão extraordinária realizada na Sociedade, aprovou-se a indicação de um delegado entre os sócios à Assembléia das Associações Médicas dos Estados. Foi aclamado o nome do sócio Acyr Bello de Campos. Várias conferências foram realizadas no período pelos professores Décio Parreiras, Joaquim de Brito, Vilela Pedra, Mario Pinotti e pelo líder espiritualista Pietro Ubaldi, que foi saudado por Alberto Hammerli. O presidente Abelardo N. Vasconcelos era membro da Academia Campista de Letras. Foi homem de cultura apurada e zeloso da nossa língua. Pertencia à elite cultural médica de Campos, junto com seus colegas: Rinaldi Antunes, Cardoso de Melo, Dióscoro Vilela, Acyr Campos, Barbosa Guerra, Henrique Caspary, Pereira Nunes, Paes da Cunha e Mário Ferraz Sampaio. ••• 15 - Antonio Pereira Nunes Em janeiro de 1952, novamente assumiu a Presidência Antonio Pereira Nunes, para um exercício de 2 anos (1952 e 1953). No início de sua gestão, duas figuras exemplares 54
_SFMC_90 anos.indd 54
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
foram homenageadas e receberam diplomas de sócios beneméritos: Maria Queiroz de Oliveira (Finazinha Queiroz) e Luiz Caetano Guimarães Sobral, ilustre médico. Em abril do mesmo ano, o sócio Domingos Azevedo critica o charlatanismo que campeia impune nesta cidade, e sugere um pedido da Sociedade, junto ao Serviço de Fiscalização da Medicina. Debateu-se, em várias sessões, a redação dos Estatutos da Associação Médica do Estado do Rio de Janeiro, ainda em fase de formação. Em 7 de julho, a sessão ordinária foi transformada em sessão solene “in memorian” do consócio Luiz Caetano G. Sobral, em conjunto com a Sociedade Fluminense de Gastroenterologia. Em 1953, foi também debatida em várias sessões a questão conhecida na época como “Caso SAMDU”. A SFMC saiu em defesa dos médicos e reagiu à altura contra a manobra da chefia do SAMDU de demitir quatro colegas. ••• 16 - Alberto Hammerli Em janeiro de 1954, elegeu-se nova diretoria. Assumiu Alberto Hammerli, com Woldemar Leite na Vice. Como acontecia em todos os anos, ocorreu também eleição das comissões permanentes. O presidente da sessão, Antonio Pereira Nunes, após tecer elogios ao presidente eleito, lamentou a situação em que se encontrava a Sociedade. Disse que a SFMC se achava abandonada e relegada a um plano inferior. Falou da fase áurea da Sociedade, quando os casos clínicos eram debatidos com entusiasmo e os trabalhos publicados nos 55
_SFMC_90 anos.indd 55
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
seus boletins. Sentia-se feliz em ver uma nova diretoria sendo eleita, e confessou que poucas sessões foram realizadas no ano anterior. Realizou-se reforma do mobiliário da sala principal, com doação das cadeiras estofadas e estilizadas, feita pela Sra. Maria Queiroz de Oliveira. Em maio foi realizada a 1.ª Conferência Regional de Saúde do Norte Fluminense. Na mesma gestão foi realizada uma grande mesa redonda sobre “Tuberculose Infantil”, sob presidência do Prof. Walter Teles. ••• 17 - Plinio Bacelar da Silva Coube a Plinio Bacelar da Silva presidir a SFMC por três períodos: 1955/1956, 1959/1960 e 1965/1967. Na última gestão renunciou no último ano, assumindo o seu vice Wilson Paes, que imediatamente marcou nova eleição, realizada pela primeira vez no mês de novembro (1967). Lamentamos a falta do livro de atas no período de 1955 a 1961. Por razões óbvias, desconhecemos os fatos importantes ocorridos no referido período. Citaremos os presidentes e dados biográficos. Plinio Bacelar da Silva nasceu em Campos. Fez seus estudos básicos no tradicional Liceu de Humanidades de Campos, de onde saiu em 1930 para ingressar na Faculdade Nacional de Medicina, por onde diplomou-se em 1935. Foi uma das excepcionais personalidades médicas que passou pela presidência desta Sociedade. Em 1965, ao assumir mais uma vez a presidência, foi saudado pelo colega Luiz Carlos Silva, que disse em um trecho do seu vibrante discurso: “Médico símbolo de 56
_SFMC_90 anos.indd 56
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
vocação, cultura e experiência sólidas, adquiridas no tempo e pela modéstia. Estudioso e interessado em nossos problemas, com opiniões sadias e formalizadas, homem de ação e de luta, autêntico líder em sua classe, credor de nossa gratidão e admiração, torna-se no momento atual, precisamente agora, o homem certo no lugar exato.” Precisava-se, naquela ocasião, de alguém que ajudasse a tornar realidade o sonho da criação da Faculdade de Medicina de Campos e, nessa hora, ninguém melhor que Plinio Bacelar. Em 22 de março de 1991, data do seu aniversário, a Academia Pedralva Letras e Artes realizou um Ato Público em homenagem ao saudoso médico, intelectual e Membro Efetivo daquela Academia. A solenidade contou com uma palestra do médico e sócio benemérito, Wilson Paes, que discorreu sobre a vida e a obra do homenageado. Iniciou a palestra afirmando: “Longe de mim a mais leve pretensão de tornar-me biógrafo de tão ilustre colega. Se a biografia, por si, já é uma das mais difíceis modalidades literárias, no caso presente tornar-se-ia ainda mais complexa pela pobreza de recursos do pretenso biógrafo e pela riqueza de detalhes do biografado.” Fundou em Campos, juntamente com outros colegas, a Sociedade Fluminense de Gastroenterologia e Nutrição, da qual foi, em várias oportunidades, seu presidente e sempre eterno incentivador. É rico e extenso o seu curriculum. Presidiu e secretariou inúmeros Congressos, Conferências, Simpósios e Mesas Redondas. Foi figura de destaque no meio intelectual campista. Prosador, poeta e trovador, Plinio era também dotado de um apurado senso de humor. Membro efetivo da Academia Pedralva, participou de vários eventos culturais, era assíduo participante do Salão Campista de Trovas, concurso de âmbito nacional, que se realiza-se, ainda, de dois em 57
_SFMC_90 anos.indd 57
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
dois anos, no qual marcou presença entre os trovadores de todo Brasil. Como grande trovador que era, fez parte, por muitas vezes, da Comissão de Seleção. Publicou em 1981, “Trovas, Troças & Cia.” e, em 1988, “Coisas da Arca da Velha”. Faleceu em 25 de novembro de 1989. ••• 18 - Woldemar Leite Em 1956, um fluminense nascido em Bom Jardim, assumiu a presidência da SFMC – Woldemar Leite. Formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina, com especialização na área de Clínica Médica e Ginecologia/Obstetrícia. Em janeiro de 1942, foi empossado como membro da nossa Sociedade e, na ocasião, saudado pelo colega e seu amigo Antonio Pereira Nunes. O colega Walter Siqueira, que conviveu com o nosso Dr. Leite nos tempos do ambulatório “Mário Caldas”, disse que todos tinham uma grande admiração pelo colega por Woldemar Leite: “Ele era de uma serenidade imperativa, de voz quente e mansa, pouco discursivo, mas não chegava a ser monologal. Era antes de mais nada, muito positivo. Nas horas difíceis de folga (era muito solicitado na sua clínica ambulatorial) reunia-nos num canto e contava coisas da clínica e muitas vezes hiláricas...” como a seguir: – Uma vez atrasou-se para atender a uma paciente. E já sendo tarde da noite, tipo madrugada, foi assim mesmo... Chegando lá, bateu na janela e não querendo identificar-se como doutor, com simplicidade, respondeu à voz feminina que de dentro perguntara: 58
_SFMC_90 anos.indd 58
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
Quem é? É o leite! Exclamou. Foi quando a voz retrucou: Põe na janela... Diziam que eu era um dos 17 (dezessete) torcedores do América F.C. Até o locutor e compositor Ary Barroso, que eu ouvia com carinho e admiração, colado no rádio, pelas suas preciosas transmissões, disse que a torcida do América cabia numa Kombi. Amaldiçoei-o e nunca mais ouvi as suas irradiações. Faleceu em Campos em 1977. Era avô do nosso colega Oldemar José T. Barbosa Leite. ••• 19 - Lourival Martins Beda Em 1957, foi eleito Lourival Martins Beda, que presidiu a Sociedade por dois períodos seguidos: 1957/1958 e 1958/1959. Beda, como era conhecido, nasceu em Campos, e seus pais eram naturais de Recife. O seu pai, também médico, depois de exercer a profissão em Recife, veio para o Rio de Janeiro e, posteriormente, decidiu residir definitivamente em Campos. Rapidamente integrou-se à sociedade campista, prestando assinalados serviços à comunidade, não só como médico, mas como membro atuante de sua classe. Seguindo a carreira do pai, Beda diplomou-se pela Faculdade Fluminense de Medicina, e fez residência no Hospital Central do Exército, onde chegou a ser capitão. Especializou-se em Cirurgia Geral e Pneumologia. Cursou também administração hospitalar. Logo veio para Campos, sua terra natal, aqui estavam as suas raízes, seus amigos 59
_SFMC_90 anos.indd 59
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
da época do Liceu, sua família. Aqui iria se tornar um extraordinário médico, herdeiro de um nome invulgar no seu tempo. Beda foi responsável direto pela construção do Hospital Ferreira Machado, na época da inauguração (1952), com o nome de Sanatório. Foi seu primeiro diretor, transferindo para o novo hospital os 24 doentes do antigo Isolamento, que ficava ao lado do Cemitério do Caju. Era um moderno estabelecimento e referência de tuberculose para toda a região Norte-Fluminense, Minas e Espírito Santo. Ainda na área médica, Beda foi coordenador do serviço do INAMPS, dirigiu o Hospital São José, atuou no Posto de Saúde e trabalhou em quase todos os hospitais de Campos. Sua principal característica profissional era o espírito humanitário, que o acompanhou durante toda a carreira. Na parte social e política teve também uma atuação marcante. Foi presidente do Conselho Deliberativo do Americano F.C., sócio efetivo e presidente do Lions Clube de Campos. Político influente, por duas vezes VicePrefeito no Governo José Carlos V. Barbosa, no 1.º e no 2.º mandatos. À frente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia atuou de maneira equilibrada, sempre visando o interesse da sua comunidade e defesa da classe. Possuía excelente relacionamento com os seus colegas. ••• 20 - Wilson Paes Como já foi mencionado, em 1959/1960 a presidência da SFMC foi ocupada por Plinio Bacelar da Silva e o período de 1960/1965 por Osvaldo Luiz Cardoso de 60
_SFMC_90 anos.indd 60
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
Melo, retornando Plinio em 1965/1967. Substituiu Plinio no último ano, Wilson Paes. Este, em sua rápida passagem pela Presidência da SFMC, tornou-se peça importante na implantação da Faculdade de Medicina de Campos, visto que, acumulando também a função de membro efetivo da Comissão de Implantação da Faculdade, possibilitou uma perfeita e total integração entre as duas entidades, abreviando as soluções e as necessárias autorizações para as reformas e adaptações que se faziam necessárias, inclusive na sede da Sociedade, tornando-a mais funcional, de modo a atender às necessidades da futura escola médica. ••• 21- Mario de Mattos Goulart Em 1968, foi eleito Mario de Mattos Goulart que, em sucessivas eleições, permaneceu até 1975. Em quase todo o período teve como vice-presidente o Dr. Wilson Paes. No primeiro ano de sua gestão realizou-se em Campos o IX Congresso Médico Fluminense. Em 1969, houve um inexplicável recesso no primeiro semestre, ao contrário do segundo, que registrou várias sessões clínicas realizadas. Em 1970, os professores Bedran e Petrucelli falaram sobre “Coagulopatia”. No mesmo ano, em parceria com o Laboratório Pfizer, a SFMC promoveu a Semana do Diabético. Em maio de 1972, em sessão extraordinária, foi tratada pela primeira vez, a possibilidade de implantação das UNIMEDs no Norte Fluminense. Em dezembro do mesmo ano, os sócios da SFMC deliberaram sobre a constituição 61
_SFMC_90 anos.indd 61
9/1/2012 23:24:46
SFMC 90 anos de história
de comissões encarregadas de estudar e dar seus pareceres sobre os assuntos abaixo relacionados: 1) Ante-projeto da reforma dos estatutos, elaborado pelo colega Barbosa Guerra; 2) Implantação da UNIMED em Campos; 3) Fundação do Sindicato Médico de Campos, quando foi debatida em várias sessões a necessidade da sua implantação, atendendo à situação funcional dos médicos, frente aos vínculos de subordinação à Consolidação das Leis do Trabalho. 4) Fundação do Clube Médico de Campos; 5) Votação de títulos de sócios honorários concedidos “ad referendum” da Assembléia. O associado Osvaldo Costa Cardoso de Melo propôs um ciclo de Estudos sobre as condições médico-sanitárias da cidade de Campos. O assunto mereceu comentários de Wilson Paes, vice-presidente da SFMC e, na época, Secretário de Saúde do Município. Em maio de 1975, em Assembléia Extraordinária, foi discutida a criação do “Clube Médico de Campos”. Mário de Mattos Goulart era natural do Rio de Janeiro, diplomou-se em 1939 pela Faculdade Nacional de Medicina, especializando-se, a seguir, em Urologia e Proctologia com os professores Baena e Silvio D’Ávila, ambos na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Iniciou a carreira em Campos e foi recebido, em início de 1942, na SFMC, sendo saudado por Oswaldo Póvoa. Além de presidente da SFMC por longo período, exerceu vários cargos de chefia em Campos, nos Hospitais e no INPS. Era um homem simples, acessível, comunicativo, alegre. Trabalhou em vários hospitais de Campos, mas a Santa Casa de Misericórdia era o seu templo, e a ela se dedicou com amor e espírito sacerdotal, tendo sido, inclusive, seu 62
_SFMC_90 anos.indd 62
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
Vice-Provedor. O trabalho gratuito não lhe preocupava, mas sim o bom nome da Santa Casa, na época o único hospital geral e de Pronto Socorro da cidade. Em final de 1990, junto com os colegas Lenício de Almeida Cordeiro e Walter Siqueira, fomos visitá-lo em sua residência, onde as recordações dos anos ficaram marcadas. Na ocasião, muito emocionado, ele agradeceu a nossa visita e disse que se considerava campista pelo trabalho e também pelos liames do coração. Aqui iniciou a sua carreira e trabalhou 49 anos na profissão. Faleceu em 31 de outubro de 1994. ••• 22 - Makhoul Moussallem Em 5 de setembro de 1975, realizou-se eleição da diretoria para o biênio 1975/77, sendo eleito Makhoul Moussallem, que foi reeleito para o biênio seguinte – 1977/79. Os seus dois períodos na presidência da Sociedade foram marcados pelo dinamismo próprio do seu temperamento. De início integrou a Sociedade nos movimentos comunitários e fez a reforma da área física do auditório. Na sua gestão foi fundado o Sindicato dos Médicos de Campos, como também o Clube dos Médicos. Outro fato marcante no seu mandato foi o pagamento da Unidade de Serviço (US) aos clínicos e pediatras, no atendimento do INAMPS. Na sua presidência a Sociedade conseguiu a instalação do Pronto Socorro Municipal na Santa Casa de Misericórdia de Campos, em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde e o INAMPS. A Santa Casa cedeu as instalações físicas e equipamentos, a Prefeitura ficou 63
_SFMC_90 anos.indd 63
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
responsável pelo pagamento dos salários dos médicos plantonistas, e o INAMPS responsável pelo pagamento à Santa Casa e aos médicos pelos serviços prestados aos seus segurados e aos indigentes (naquela época o atendimento não era universal). Campos foi, portanto, o precursor do Sistema Único de Saúde. Makhoul instituiu e presidiu o 1.º e 2.º Congresso Médico Cidade de Campos em 1977 e 1979. Nasceu no Líbano, veio para o Brasil com 9 anos de idade. Formou-se pela Faculdade Fluminense de Medicina (UFF) em 1969, especializando-se em Neurocirurgia. Trabalhou no Serviço do Prof. Feliciano Pinto, no Hospital Central do IASERJ e no Hospital Adventista no Silvestre. Veio para Campos como médico em 1972. Trabalhou na Santa Casa, no Hospital dos Plantadores e Cana e na Beneficência Portuguesa. É possuidor de um vasto e invejável currículo. Além de presidente da Sociedade em dois períodos, foi vicepresidente da AMB (1980/1982) e vice-presidente da AMF. Foi presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes – entidade mantenedora da Faculdade de Medicina de Campos, do Hospital Escola Álvaro Alvim e diretor do CSU de Custodópolis, onde deu prosseguimento à obra iniciada pelos Drs. Geraldo Venancio e Elpídio Manhães, ativando totalmente o Hospital Álvaro Alvim como Hospital Escola. É membro titular da Sociedade e da Academia Brasileira de Neurocirurgia e do Conselho Estadual de Saúde. Foi Diretor Superintendente do HEAA, entre 1997 a 2008, acumulando a chefia o serviço de Neurocirurgia. ••• 64
_SFMC_90 anos.indd 64
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
23 - Luiz Augusto Nunes Teixeira Em setembro de 1979, foi eleita nova diretoria para o biênio 1979/1981, tendo como presidente Luiz Augusto Nunes Teixeira e vice José Ferreira Couto. Em agosto de 1981, os dois são reeleitos para o biênio 1981/1983. Como presidente da SFMC, no período de 1979/1983, Luiz Augusto desenvolveu um exaustivo trabalho de reforma e restauração das suas instalações, bem como da sua aparelhagem e mobiliário. Passamos a contar com um confortável salão de reuniões, salas de lazer, novos sanitários e outras benfeitorias. Ainda sob sua direção, tivemos a oportunidade de assistir inúmeros conclaves, jornadas médicas e outras reuniões que contribuíram para projetar, em outros centros, a melhor imagem desta Sociedade. Luiz Augusto, em 1965, fez parte, ao lado de vários colegas, da Comissão de Implantação da Faculdade de Medicina de Campos, criada pela Fundação Benedito Pereira Nunes. Por merecimento, foi titular da Cadeira de Dermatologia e seu Diretor, de abril de 1985 até sua morte (25/01/1986). No desejo constante de se revelar e manter-se em dia com a evolução da sua especialidade, fez-se presente em vários eventos, não somente aqui no Brasil, como também no exterior. Publicou inúmeros trabalhos. Extrovertido, culto, inteligente, era um líder completo, amava as causas que abraçava. Seu caráter bem formado, sua incrível capacidade de trabalho e sua fé religiosa impressionavam a todos. Como membro da família Leonística (Lions Clube de Campos), e um dia seu presidente, participou de várias ações comunitárias. Criou, na sua gestão, a Casa do Estudante Universitário (CEU), no bairro do Matadouro. 65
_SFMC_90 anos.indd 65
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
Foi ele o iniciador e incentivador do movimento de Cursilhos da Cristandade em Campos. Foi um baluarte na construção da Casa de Oração, na Tapera, onde, por uma concessão especial das autoridades, foi enterrado; era a homenagem justa que a Diocese de Campos fazia ao seu benfeitor. Deixou viúva sua amada Denise Aline. De Luiz Augusto restam-nos, sobretudo, o exemplo, a saudade eterna e a importante lição de vida que nos deu. ••• 24 - José Ferreira Couto Em seguida, após eleição, assumiu a presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia José Ferreira Couto pelo período de 1983/1985. Durante o seu biênio foram realizadas várias jornadas e o Congresso Médico Cidade de Campos. Um fato marcante na sua gestão foi a participação da SFMC na criação da SOMERJ, que foi a fusão da AMF com a SMCRJ, cuja primeira diretoria teve como presidente o colega Irapuan Pimenta, de Cabo Frio. A vice-presidência coube a Campos, na pessoa de José Ferreira Couto, que ocupou a presidência por 2 meses, por motivo de viagem do presidente Irapuan. É bom assinalar que os Estatutos da SOMERJ tiveram a sua redação encerrada em Campos, em nossa Sociedade, com a presença dos presidentes das entidades regionais e da AMF, SMCRJ e AMB, representada pelo seu presidente, Nelson Proença. José Ferreira Couto, mineiro de Pirapetinga, formado pela Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, em 1962, especializou-se em Anestesia. Foi interno do Serviço de Anestesiologia do Hospital Pedro Ernesto (Serviço do 66
_SFMC_90 anos.indd 66
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
Professor Bento Gonçalves). Foi diretor clínico e chefe do Serviço de Anestesia do Hospital dos Plantadores de Cana. Chefiou também o Serviço de Anestesia do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos. Foi Secretário de Saúde do nosso Município. Com o seu temperamento sereno, aliado a boa formação médica, é um dos anestesistas mais requisitados e queridos de Campos. ••• 25 - Lenício de Almeida Cordeiro Para o biênio 1985/1987 foi eleito Lenício de Almeida Cordeiro. Retornou, após eleição, para o biênio 1989/1991. Temperamento irrequieto, não se confinava inteiramente na função de presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Participava de quase todos os movimentos reivindicatórios da comunidade. Era um colega extremamente voltado para as lutas sociais. Travou polêmicas em várias áreas médicas e não médicas. Algumas vezes discordamos de suas colocações, mas não ao ponto de ameaçar as nossas relações de mútua estima. Era um conversador animado e pitoresco. Em nossos encontros, nos corredores dos hospitais, sempre tinha uma história para contar do seu vitorioso Flamengo ou do meu modesto Fluminense. Quando se encontrava internado no Instituto Nacional de Câncer, iniciando o tratamento da leucemia mieloide aguda, que não conseguiu vencer, dedicou-se a escrever o texto do qual transcrevemos abaixo alguns trechos: 67
_SFMC_90 anos.indd 67
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
“Lenício de Almeida Cordeiro. Nascido na Fazenda do Carmo (Campos), em 29/12/46. Filho de Laura e Ulysses Gomes Cordeiro. Casado há 19 anos com Sila Maria (Mariinha), tenho 3 filhos: Rogério, 18 anos, Cynthia, 16 e Bruno, 15. Sempre estudei em escola pública (...). Cursei Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (...). Retornei a Campos em 1977, trabalhando no Hospital dos Plantadores de Cana, Beneficência Portuguesa e Santa Casa de Misericórdia. Sempre exerci, apenas, a especialidade de Cirurgia Plástica (...) Presidi a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (85/87 e 89/91). Foi uma casa que me acolheu com amor e à qual dediquei parte de minha vida, nas lutas em defesa da classe médica. Em 1991, presidi durante dois anos, a Sociedade Médica do Estado do Rio de Janeiro (SOMERJ). Alegria pessoal: vitória no movimento médico de Campos (...) Após mandato na SOMERJ, fui eleito vice-presidente Leste/Sul da AMB, cargo que ocupo (...). No dia 16/10/94 fui acometido de uma infecção bacteriana no pé esquerdo. Após duas semanas de tratamento clínico-cirúrgico, sofrendo dores rebeldes a todos os medicamentos, com o quadro geral comprometido, alterações no exame de sangue, fui transferido para São Paulo. Dois dias depois os médicos comunicavam o diagnóstico: Leucemia mieloide aguda (...). As demonstrações que tenho recebido (solidariedade, empenho, ajuda material, apoio pessoal e à família) muito têm contribuído para eu ter forças para vencer todas as dificuldades, com a graça de Deus (...). A todos os médicos do Brasil, às entidades médicas como AMB, CREMERJ, SFMC, UNIMED/Campos, dirigentes e instituições hospitalares de Campos, São Paulo e Rio de Janeiro, agradeço. À minha família, aos meus amigos – todos querem que eu vença, querem vencer comigo.” Em 14 de dezembro de 1994, tombou sereno e resignado na sua fé de católico fervoroso. 68
_SFMC_90 anos.indd 68
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
••• 26 - Ezil Batista de Andrade Reis Entre as duas gestões de Lenício Gomes Cordeiro, foi eleito o colega Ezil Batista de Andrade Reis – 1987/1989. Campista, formado pela nossa Faculdade de Medicina em 1977, especializou-se em Clínica Médica. Foi o primeiro ex-aluno a ocupar a presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. A sua gestão foi marcada pelo enfrentamento político em prol da melhoria da assistência médica do município. Delas participando, apoiou as duas greves ocorridas na ocasião. Como presidente da Sociedade, apoiou a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), em Campos. Ainda na sua gestão, esteve em Brasília, no Encontro de Entidades Médicas. Além do VI Congresso Médico da Cidade de Campos, realizou o 1.º Fórum Norte-Fluminense sobre Emergência Médica, em parceria com o CREMERJ e o Sindicato de Campos. Participou ativamente, pressionando o prefeito da época, de movimento pela abertura do Pronto Socorro no Hospital Ferreira Machado. Ezil Batista, além de um excelente profissional e professor da F.M.C., é um exímio poeta e ganhador de prêmio de poesia. Por excesso de modéstia, poucos sabem deste seu mérito. ••• 27- José Roberto Crespo de Souza Dr. José Roberto Crespo de Souza, mais um ex-aluno da nossa Faculdade (turma de 1980) a assumir a presidência 69
_SFMC_90 anos.indd 69
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, depois de ter sido tesoureiro e membro da comissão editorial do Boletim desta casa. Na sua posse, recebeu como convidado de honra o Dr. Júlio Sanderson de Queiróz, cirurgião geral, homem de reconhecido saber e médico escritor, com um passado de importantes participações no desenvolvimento da Medicina, principalmente no campo da cirurgia. De temperamento leve, porém incisivo e de espírito realizador, o gastroenterologista José Roberto movimentou sua gestão presidencial com encontros, fóruns, jornadas, simpósios, palestras, conferências e reuniões em todas as áreas médicas, abrangendo os diferentes segmentos das especialidades. Dedicou-se também aos temas sociais, com mesas sobre “Erro Médico”, problemas éticos, criação da Cooperativa Médica e promovendo encontros com a comunidade. Sua atuação na presidência registrou o seu pendor político-criativo, formalizado como uma característica a mais no seu currículo. Foi em sua gestão que surgiu a Cooperativa Médica de Campos – UNIMED, dando início a sua caminhada de sucesso. Procurou manter com todas as entidades médicas do Estado um alto grau de relacionamento, na busca do engrandecimento do profissional médico. ••• 28 - Otávio Antonio Leite Cabral Otávio Antonio Leite Cabral assumiu a presidência da SFMC no biênio 1993/1995). Como seus dois antecessores, foi também formado na Faculdade de Medicina 70
_SFMC_90 anos.indd 70
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
de Campos (turma de 1980). Especializou-se em Oftalmologia, num dos melhores Serviços de Olhos do Brasil – Clínica de Olhos Santa Beatriz. Pela sua formação médica, pelo seu dinamismo e pela vontade de sevir, em pouco tempo tornou-se além de um excelente médico de “VISÃO”, um líder comunitário. Pertence à família Leonística (Lions Clube de Campos), onde foi membro das Comissões de Saúde e Bem Estar, e de Conservação da Vista e Ajuda aos Cegos (Sight First). Em sua gestão, manteve e estimulou a discussão das Políticas de Saúde, além da Educação Médica Continuada. Entre os inúmeros eventos realizados destacam-se o 1.º Curso de Pós-Graduação em Medicina e Enfermagem do Trabalho e o 9.º Congresso Médico Cidade de Campos, no qual contou, entre muitos convidados importantes, o famoso e respeitado antropólogo brasileiro e professor titular da Universidade Notre Dame, em Indiana, nos Estados Unidos – Dr. Roberto da Matta, que fez a Conferência de Abertura daquele Congresso. Apoiou e organizou reuniões clínicas, cursos, jornadas e palestras nas diversas especialidades. Coordenou a implantação do Serviço de Urgência em Oftalmologia no Hospital Ferreira Machado, tendo chefiado-o. ••• 29 - César Ronald Pereira Gomes No período de 1995/97, a presidência da SFMC foi ocupada pelo colega César Ronald Pereira Gomes, autêntico campista da Baixada, criado que foi em Beira do Taí. Colega de inteligência ímpar, lutou e lutou muito, a tudo vencendo. Atualmente é professor titular de Saúde 71
_SFMC_90 anos.indd 71
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
Coletiva da F.M.C. e também professor da UFRJ. Na sua gestão foi realizada a 1.ª Jornada Sul Americana de Saúde do Trabalhador, contando com a presença de especialistas das entidades médicas do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai. Incentivou e apoiou a criação da Regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, empenhando-se para que a sede fosse localizada no Município de Campos. Deu início à discussão e valorizou a importância da crise ambiental na saúde pública, obtendo convênio com a Petrobrás, a partir de 1996, para a realização de Cursos de Educação Sanitária e Ambiental direcionados aos professores de 1.º e 2.º Graus da rede pública dos municípios do Norte e Noroeste Fluminense. ••• 30 - Francisco Almeida Conte No biênio 1997/1999, assumiu a presidência o colega Francisco Almeida Conte, que foi reeleito para o biênio seguinte. Dr. Francisco Conte é pernambucano de Recife, onde nasceu na década de 40. Fez residência médica no Rio de Janeiro, no Hospital dos Servidores em Clínica Médica e Reumatologia. Veio para Campos a convite para lecionar Clínica Médica em nossa Faculdade, onde desejou implantar a cadeira de Reumatologia, mas não obteve êxito. Uma das medidas mais importantes e interessantes de seu mandato foi a criação do boletim “Corinto”, que se propôs a, de maneira descontraída, informar ao sócio tudo que ocorre na Sociedade, dando assim, início ao que chamou “Biênio da Ciência”. Nesse período foi dotando o ambiente de trabalho e 72
_SFMC_90 anos.indd 72
9/1/2012 23:24:47
SFMC 90 anos de história
lazer de maior conforto, serviços e disponibilidades, facilitando a vida do associado na presteza das informações. Criando a “Galeria de Artes Dr. Mario de Mattos Goulart, não só prestou homenagem ao saudoso ex-presidente, como conquistou um valioso acervo de pinturas e esculturas dos melhores artistas plásticos da comunidade e da família médica. Uma grande preocupação sua foi a atualização dos Estatutos e Regimento Interno da Sociedade, colocando-os em sintonia com os tempos atuais, medidas que conseguiu com oportuna reforma. A criação de encontros de confraternização, em semanas festivas, marcou com distinção os dias dedicados aos pais, mães e à família médica. O Congresso “Medicina do Terceiro Milênio”, realizado em abril de 1999, foi o maior evento da Sociedade. Abriu-se neste biênio o ano da arte e da cultura (1998) e o ano do esporte, com a Olimpíada da Sociedade. Criou também os slogans “Mexa-se doutor” / “O médico em primeiro lugar, e por que não?” / e o “Saúde para quem cuida da saúde”. Inovadores foram os Cursos Especiais de Cerimonial, Etiqueta, Qualidade no Atendimento ao Cliente, Oratória, Informática e até de degustação de vinhos. A realização do I e II Encontros no Dia do Diabético; o lançamento do Plano de Aposentadoria do Médico; palestras sobre Ética e Responsabilidade Civil do Médico; debates empenhados na complementação salarial dos médicos do Estado, e ainda sobre ISS e Alvará de Funcionamento, rechearam as reuniões médicas do biênio. Conte cumpriu a seguir o biênio 1999/2001. Em 2000, no dia do médico, três colegas falecidos foram reverenciados, tendo seus nomes perpetuados em placas de ruas, 73
_SFMC_90 anos.indd 73
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
propostas pela SFMC à Câmara Municipal. Na sede, o Centro Administrativo reformulado ganhou o nome do Dr. Plinio Bacelar da Silva. A área de lazer passou a ser denominada “Área de Lazer Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira”, e após uma grande reforma da cúpula foi inaugurado o “Memorial Dr. Osvaldo Luis Cardoso de Melo”, que contém instrumental antigo usado e doado por médicos. Seu produtivo mandato culminou com a realização, em maio de 2001, do XII Congresso Médico Cidade de Campos, tendo idealizado e dado incondicional apoio ao lançamento da edição do livro que marcou os 80 anos da SFMC. ••• 31 - Marco Aurelio França Alvarenga Assumiu a presidência da SFMC no período de 2002 a 2005, eleito que foi para dar continuidade ao excelente trabalho executado pelo seu antecessor, o colega Francisco Almeida Conte. Especializado em Otorrinolaringologia, é professor de nossa Faculdade de Medicina, da qual foi também aluno. É médico concursado do Ministério da Saúde. Recebeu da SOMERJ a Medalha Peter Brian Medawar, por serviços prestados ao associativismo médico no Estado do Rio de Janeiro. Realizou uma gestão profícua, sóbria e condizente com a sua formação ética. Liderança nata, filho de “Leão”, foi presidente do Lions Clube de Campos, do Clube de Regatas Saldanha da Gama (onde recebeu o título de grande benemérito), do Clube dos Médicos, da Associação dos ex-alunos da FMC, usando nas realizações todo o seu entusiasmo e fulgor. 74
_SFMC_90 anos.indd 74
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
Foram inumeráveis as promoções sob o seu comando em nossa Entidade maior, tais como: a) Implantação do Programa de Atualização Médica Permanente para os médicos, através de convênios com a Rede Conexão Médica, via satélite, de abrangência nacional, em sala especial; b) Realizou e presidiu o XIII Congresso Médico Cidade de Campos, em 2004, com ilustres e renomados conferencistas brasileiros, e mais de quinhentos inscritos; c) Manteve, sob sua presidência, o Fórum dos Médicos Dirigentes de Entidades e Instituições Médicas de Campos; d) Criou a Revista da SFMC, de edição trimestral; e) Criou o Informe SFMC, editado mensalmente; e) Realizou, com parcerias, mais de 60 (sessenta) eventos científicos (cursos, palestras, jornadas e simpósios); f) Realizou várias reformas necessárias na sede, para melhor conforto dos associados. Com toda timidez que ele mesmo evoca, fez por conquistar os elogios da classe médica, justificando, com grande justiça e sabor de vitória, a sua indicação para a presidência. ••• 32 – Frederico Paes Barbosa é formado pela Escola Médica da Universidade Federal Fluminense (UFF) desde 1981, com estudos especializados em Oncologia pela Sociedade Brasileira de Cancerologia e Oncologia Clínica. É Professor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Campos. Foi agraciado médico do ano de 2007 pela Associação Médica Fluminense, e tem inúmeros trabalhos publicados em revistas nacionais. Ao assumir a Presidência da Sociedade Fluminense 75
_SFMC_90 anos.indd 75
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
de Medicina e Cirurgia. para cumprir o triênio 2005/2008, elaborou um extenso plano de trabalho e realizações. Após formar uma equipe aguerrida, que se aliou às suas pretensões, deu iniciou o seu desenvolvimento. Assim foram campanhas referentes à saúde da população regional, e, paralelamente, a luta em defesa do Ato Médico, contra a realização de exame preventivo por profissional não médico. Foram também feitas denúncias sobre a realização da auto-hemoterapia no município, levadas aos órgãos de classe estaduais e nacionais. Projetou e realizou vários Simpósios e Jornadas, incluindo os Cursos de Laboratório para o Clínico, Enfermagem, e Farmácia e Urgência em Oncologia. Organizou pela primeira vez um Seminário de Responsabilidade Civil do Médico, realizado em conjunto com a Fundação Benedito Pereira Nunes e a AMAERJ, com a presença de Juízes e Desembargadores do Rio de Janeiro. O XIV Congresso Médico Cidade de Campos teve recorde de participação em 2007. Proporcionou aos funcionários da SFMC um Plano de Saúde, dando-lhes um inestimável apoio. Ultimamente, criou uma nova “Galeria da Saudade” dando-nos (a mim e ao colega Walter Siqueira) a honra da participação, o que fizemos com muito prazer e orgulho. Realizou reforma total do auditório “Lenício de Almeida Cordeiro”, do hall e dos banheiros da SFMC, com novas cadeiras, novo sistema de som, iluminação e projeção. Instalou a internet a cabo, modernizou o programa de gerenciamento financeiro, e adotou normas e critérios para a utilização do auditório, com assinatura de contrato, gerando recursos para a casa. Implantou o site da Sociedade Médica, ganhando 76
_SFMC_90 anos.indd 76
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
adeptos e oferecendo conhecimento das atividades, seu funcionamento e o exercício cotidiano do trabalho empreendido na sua gestão. Com isso, valorizou e favoreceu o desempenho futuro dos seus sucessores, ao mesmo tempo em que destacou a sua liderança indiscutível e tão assimilada por todos os que lhe acompanharam na execução brilhante de sua gestão. ••• 33 - Angela Regina Rodrigues Vieira Nascida no Rio de Janeiro em junho de 1955, prestou vestibular em 1974, sendo aprovada na Faculdade de Medicina de Campos, onde realizou seu curso superior. Formou-se em 14 de dezembro de 1979. Após seis anos fora, retorna a Campos e aqui começa seu aprendizado em Nefrologia, tendo trabalhado na Pró Rim, Clínica de Doenças Renais e no setor de Nefrologia do Hospital dos Plantadores de Cana. Fez Pós Graduação em Auditoria Médica e trabalha desde 1993 no Setor de Auditoria Médica da Unimed, Cooperativa de Trabalho Médico de Campos dos Goytacazes. Em 1988 torna-se associada da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, e tempos depois passa a integrar o Departamento Feminino da SFMC, onde atuou por 3 anos. Na gestão seguinte participa do Departamento Social por mais três anos. Foi Vice-Presidente na gestão do Dr. Frederico Paes Barbosa, tendo colaborado no novo modelo de gestão imprimido na entidade. Recebeu da Academia Fluminense de Medicina, no ano de 2010, a medalha de Médica do Ano. Elegeu-se Presidente da Sociedade Fluminense de 77
_SFMC_90 anos.indd 77
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
Medicina e Cirurgia para o triênio 2008/2011, tendo sido a primeira mulher a assumir este cargo. Na sua gestão realizou vários eventos científicos, incentivando as reuniões de especialidades e a discussão de casos clínicos. Apoiou a realização do IV Fórum Regional de Discussão da Dengue, em plena época de epidemia, organizado pela Secretaria Municipal de Saúde. Atendeu a solicitação da Secretaria de Saúde do município na recepção ao Secretário de Saúde do estado, Dr. Sérgio Côrtes, para avaliação da epidemia do Vírus Influenza A H1N1. Recebeu a Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro para a posse, como membros titulares, de alguns de nossos associados. Em sua gestão, com ajuda e apoio de seus companheiros de diretoria, promoveu palestra sobre o Vírus Influenza A H1N1 no adulto, na criança e na gestante. Realizou o XV Congresso Médico Cidade de Campos e o XXV da SUPEM, com o segundo maior número de inscritos e o maior número de adesões de patrocinadores. Participaram do evento a Federação das Unimeds, a Central das Unicreds e a SOMERJ. Trouxe por duas vezes o CREMERJ para a realização do Espaço Cultural em nossa cidade, com a participação de mais de 200 pessoas, entre médicos e seus acompanhantes. Recebeu a Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro para a realização da I Jornada de Pediatria do Norte Fluminense. Durante sua administração na SFMC, foi reformada e modernizada a área de lazer, que passou a se chamar Espaço Cultural Dr. Luis Augusto Nunes Teixeira. Foi também reformado o espaço da secretaria, facilitando o atendimento das secretárias. Por fim, foi reformada a sala da presidência, tornando-a um local mais agradável, in78
_SFMC_90 anos.indd 78
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
clusive para recepção a associados e visitantes. Um dos maiores destaques da sua gestão, foi a realização de um grande sonho, a instalação de um moderno elevador, facilitando o acesso às dependências da SFMC. Segundo a própria Drª Ângela, sua gestão “foi pautada sempre pelo bom relacionamento entre os médicos, aumentando o interesse dos nossos associados pelos eventos científicos e sociais da nossa entidade”.
79
_SFMC_90 anos.indd 79
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
Geraldo da Silva Venancio (in memoriam)
Cirurgia Geral e Traumalogista. Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Campos. Membro Emérito da Academia Fluminense de Medicina. Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes de 1966 a 1991. 80
_SFMC_90 anos.indd 80
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
História da Fundação Benedito Pereira Nunes e de suas instituições: Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Álvaro Alvim Geraldo da Silva Venancio (in memoriam) Lisonjeado com a indicação de meu nome, pelo Dr. Francisco de Almeida Conte, presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, para elaborar um dos capítulos da história de nossa Sociedade, desenvolvi uma pesquisa nos arquivos da referida instituição e, também, nos da Sociedade Fluminense de Gastroenterologia e Nutrição, da Fundação Benedito Pereira Nunes, e da Biblioteca do Dr. Wellington Paes. Os fatos aqui relatados foram retirados de atas das referidas instituições, de vários pronunciamentos meus, de um do Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva, de arquivos da biblioteca do Dr. Wellington Paes, assim como de muitos episódios de que, num apelo à minha memória, consegui me lembrar. Este é, portanto, um relato histórico referente a duas das entidades anteriormente mencionadas — Sociedade Fluminense de Gastroenterologia e Nutrição e Fundação Benedito Pereira Nunes — e às entidades por esta última mantidas, a saber: Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Álvaro Alvim. 81
_SFMC_90 anos.indd 81
9/1/2012 23:24:48
SFMC 90 anos de história
A Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia foi fundada em 24 de janeiro de 1921. Em 14 de janeiro de 1922, o Dr. Benedito Gonçalves Pereira Nunes sucedeu na presidência da entidade ao Dr. Ignácio de Moura. Com recursos provenientes de eventos esportivos e sociais, organizados por médicos e suas famílias, de contribuições de vários segmentos da sociedade e da expressiva doação de um grande comerciante da cidade, Sr. Admardo Torres, o Dr. Benedito G. Pereira Nunes construiu o edifício na esquina da Avenida Alberto Torres com a rua Voluntários da Pátria. Este edifício, inaugurado em 1926, recebeu o nome de Policlínica Admardo Torres. No andar térreo funcionaram consultórios de algumas clínicas e, no superior, a sede da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Dr. Benedito Pereira Nunes, com doações várias e grande ajuda do governo Manuel Duarte, liderou então a construção do segundo edifício, inaugurado em 1934, que recebeu o nome de Maternidade Zina Duarte, em homenagem à esposa do Governador do Estado do Rio de Janeiro. Em 06 de dezembro de 1934, a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, presidida por Dr. Abelardo Bastos Tavares, instituiu a Fundação Policlínica e Maternidade de Campos. Em 14 de janeiro de 1935, registraram-se seus estatutos, sendo essa denominação formalizada por escritura pública, em 16 de janeiro de 1936. Em 1941, o Dr. Antonio Pereira Nunes assumiu a presidência da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Angariando donativos de inúmeras pessoas e com grande ajuda do governo Amaral Peixoto, construiu o terceiro edifício, que recebeu o nome de Hospital Infantil Dr. Antonio Pereira Nunes. Em 22 de dezembro de 1944 este Hospital foi doado pela Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia à Fundação Policlínica e Maternidade, que então passou a se chamar Fundação Policlínica, Maternidade e Hospital Infantil de Campos, denominação formalizada em 20 de dezembro de 1946. 82
_SFMC_90 anos.indd 82
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
Estava, assim, terminado o conjunto de edifícios, de grande beleza arquitetônica, que constitui patrimônio da classe médica de nossa cidade. Em 07 de janeiro de 1961, por escritura pública, a referida instituição passou a denominar-se Fundação Benedito Pereira Nunes, tendo como finalidade, segundo os próprios estatutos, atender às classes desprovidas de recursos em assistência médica, ambulatorial e hospitalar. A história que se relata a seguir revelará que a Fundação, numa reforma estatutária, ampliou suas finalidades para o ensino médico e paramédico, recebendo de uma Assembléia Geral e Extraordinária a missão de implantar e consolidar, na condição de Mantenedora, a Faculdade de Medicina de Campos. Relação dos Presidentes da Fundação Benedito Pereira Nunes Presidentes
Gestão
Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo Dr. Edgar Alvarenga Dr. Osvaldo Menezes Póvoa Dr. Renato Nunes Machado Dr. Manoel Ferreira Paes Dr. José Alves de Azevedo Dr. João Barcelos Martins Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo Dr. Geraldo da Silva Venancio Dr. Elpídio Manhães Dr. Nilson Bastos Guitton Dr. Makhoul Moussallem Dr. Marcos Bruno Dr. Wilson Paes
1936-1937 1938-1940 1941-1945 1946 1948-1950 1951-1955 1956-1960 1961-1965 1966-1991 1991-1994 1994 1994-1997 1997-2000 2000
83
_SFMC_90 anos.indd 83
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
O mandato da diretoria da Fundação tinha a duração de um ano, da mesma maneira que os mandatos dos diretores de seus hospitais: Policlínica, Maternidade e Hospital Infantil. No período de 1948 a 1960 , o presidente nato da Fundação Benedito Pereira Nunes era o Prefeito de Campos. SOCIEDADE FLUMINENSE DE GASTROENTEROLOGIA E NUTRIÇÃO – EMBRIÃO DA FACULDADE DE MEDICINA – Em 31 de outubro de 1949, na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, um grupo de médicos, liderados pelo Dr. Plinio Bacelar da Silva, fundou a Sociedade Fluminense de Gastroenterologia e Nutrição. Esta recebeu o apoio e a ajuda entusiasta do Secretário Geral da Federação Brasileira de Gastroenterologia e Nutrição, Professor Geraldo Siffert de Paula e Silva, o qual, além de apoiar a sociedade, visitou-a em 03 de dezembro de 1950, quando foi saudado pelo seu conterrâneo — Dr. Ruy Amado Henriques — e pronunciou uma bela conferência sobre “Distúrbios Motores do Sistema Biliar Extra-Hepático”. A Sociedade foi responsável pela organização de quatro seminários. O primeiro, realizado nos dias 29 e 30 de março de 1952, em Campos, contou com a presença do Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia e Nutrição, Professor Felício Cintra do Prado. Esse acontecimento bastou para consolidar a Sociedade. O segundo ocorreu em julho de 1956, também em Campos, e versou sobre “Parasitose Intestinal”. O terceiro realizou-se em Volta Redonda e contou com a participação da Sociedade Médica daquela cidade. O quarto, nos dias 10 e 11 de setembro de 1966, em Petrópolis, teve a colaboração da Sociedade Médica de Petrópolis e da Regional do Colégio 84
_SFMC_90 anos.indd 84
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
Internacional de Cirurgiões, versando sobre o tema “Hemorragias do Trato Digestivo”. Esses seminários tiveram sempre a participação de professores e especialistas provenientes de regiões do norte ao sul do país. Campos fôra, até então, a única cidade do interior a sediar Congressos Brasileiros de uma especialidade médica. A Sociedade organizou o V Congresso Brasileiro, em março de 1953, e o XII, em junho de 1960. O primeiro, no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, e o segundo, em Campos. Em ambos, o Secretário Geral foi o Dr. Plinio Bacelar da Silva. O Congresso realizado em Campos teve sua Comissão Organizadora constituída por: • Dr. Geraldo da Silva Venancio – Presidente • Dr. Plinio Bacelar da Silva – Secretário Geral • Dr. Paulo Travassos Filho – Tesoureiro • Dr. Paulo de Miranda Carneiro – Integrante da Comissão Organizadora • Dr. Jayme Martins Faria – Integrante da Comissão Organizadora. A Sociedade fez-se responsável, ainda, pela organização do XXIV Congresso Brasileiro, também realizado no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, sendo Presidente da Comissão Organizadora o Dr. Jorge Ferreira Machado, e Secretário Geral o Professor Dr. Guilherme Eurico Bastos da Cunha. A Sociedade realizou inúmeras reuniões científicas, conferências, jornadas e Mesas-Redondas, inclusive em Niterói, onde se tratou do tema “Colecistopatias”. Para participar de todos esses eventos, trouxe a Campos inúmeros Professores, dos quais nos lembramos: Benedito Montenegro, Mário Degni, Plínio Bove, Carlos Monteiro, Augusto Paulino Filho, Fernando Paulino, José Carlos Vinhais, Mariano de Andrade, Mário Monteiro, José Hilário, Maga85
_SFMC_90 anos.indd 85
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
lhães Gomes, Felício Cintra do Prado, Geraldo Siffert e, por duas vezes, o cirurgião português Lima Basto, além de muitos outros. Os citados médicos não só proferiam palestras, mas também realizavam demonstrações cirúrgicas no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Grandes radiologistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte ministraram um Curso de Radiologia do Aparelho Digestivo. Chegavam a Campos nos finais de semana, no avião da tarde, faziam Conferências à noite, no Salão Nobre da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e, no dia seguinte, realizavam demonstrações práticas, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, em pacientes previamente selecionados pelo Dr. Alberto Cruz. Campos, naquela época, possuía uma hotelaria precária. Os visitantes eram hospedados em residências de médicos, de clientes e de amigos. Vários integrantes da referida Sociedade eram freqüentadores assíduos dos Congressos Nacionais, organizados pela Federação Brasileira de Gastroenterologia e Nutrição. Os novos conhecimentos, então hauridos de Professores e especialistas brasileiros e estrangeiros, eram partilhados, em Campos, em reuniões frequentes com os colegas que lá não podiam comparecer. Presidiram a Sociedade os Drs. Plinio Bacelar da Silva, Paulo de Miranda Carneiro, Geraldo da Silva Venancio, Jayme Martins Faria, Mário de Matos Goulart, Luiz Carlos Mendonça da Silva, Paulo Travassos Filho e Guilherme Eurico Bastos da Cunha. Plinio Bacelar afirmava, com muito acerto, que a atividade intensa da Sociedade Fluminense de Gastroenterologia e Nutrição, em toda a região, repercutiu na Medicina Assistencial, que passou a ser exercida de forma acadêmica. Tratava-se de um movimento precursor — verdadeiro embrião 86
_SFMC_90 anos.indd 86
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
da Faculdade de Medicina de Campos. A Sociedade funcionou em Campos até a década de setenta, quando a direção da época, em decorrência da fusão dos Estados do Rio de Janeiro e Guanabara, resolveu unificá-la com a da Guanabara. Criação da Faculdade de Medicina de Campos Janeiro de 1965, dia 04, Sessão Ordinária da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. O Dr. Almeida Gusmão apresenta a idéia da criação de uma Faculdade de Medicina em Campos. Segundo consta em ata, “admitiu que a Faculdade teria o patrocínio da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e seria provida pela Fundação Benedito Pereira Nunes”. Ficou, então, marcada para o dia 08 uma Assembléia Geral Extraordinária e conjunta das duas Entidades.
Em pé: Dr. Almeida Gusmão, Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira, Dr. Luiz Carlos Silva, Jornalista Latour Arueira, Dr. Wilson Paes, Dr. Oswaldo da C. Cardoso de Melo e Dr. Plínio Bacellar da Silva Sentados: Dr. Nilson Lobo de Azevedo, Dr. Geraldo da Silva Venancio, Dr. Honor Lemos Sobral, Dra. Josepha São Paulo Meirelles, Dr. Osvaldo Luís Cardoso de Mello (o primeiro diretor) e Dr. Décio Lobo de Azevedo
87
_SFMC_90 anos.indd 87
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
••• Janeiro de 1965, dia 08, Assembléia Geral Extraordinária da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia em sessão conjunta com a Fundação Benedito Pereira Nunes, sob a Presidência do Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo. Nesta sessão, o Dr. Plinio Bacelar da Silva indagou se a Fundação Benedito Pereira Nunes, por seus estatutos, poderia entrar com o seu patrimônio para a instalação da Faculdade. Os Drs. Everaldo Landin e Tasso Alvarenga, convidados pelo Presidente Osvaldo Luiz Cardoso de Melo para prestar esclarecimentos sobre os aspectos jurídicos da questão, teceram considerações. O Dr. Tasso Alvarenga afirmou que, de acordo com o Código Civil, a Fundação Benedito Pereira Nunes, por disposição estatutária no capítulo de suas finalidades, de modo algum poderia ceder seu patrimônio para a instalação da Faculdade. Por proposta aprovada pela Assembléia, foi designada uma Comissão constituída pelos Drs. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, Almeida Gusmão, Plinio Bacelar da Silva, Wilson Paes e Décio Lobo de Azevedo, assessorada juridicamente pelos Drs. Everaldo Landin e Tasso Alvarenga. À Comissão competia: 1 – estudar o parecer elaborado pelo Dr. Almeida Gusmão; 2 – verificar como proceder, em face da lei, para fundar a Faculdade, cujo patrimônio seria o da Fundação Benedito Pereira Nunes; 3 – apresentar conclusão final. Por proposta do Dr. Alberto de Vasconcelos Cruz, aprovada por todos, a Assembléia ficou em sessão permanente, sendo marcada nova reunião para o dia 27 de janeiro de 1965. ••• 88
_SFMC_90 anos.indd 88
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
Janeiro, 1965, dia 14 – Sessão Ordinária da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. O Dr. Plinio Bacelar da Silva, eleito, assumiu a Presidência e concedeu a palavra ao Professor Deoclécio Dantas, Reitor da Universidade Federal Fluminense, que colocou a Universidade à disposição da classe médica de Campos, no sentido de possível ajuda na criação de uma Faculdade de Medicina. ••• Janeiro, 1965, dia 27 – Assembléia Geral Extraordinária conjunta e permanente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e da Fundação Benedito Pereira Nunes. Dando continuidade à reunião do dia 08 de janeiro, o Presidente da Assembléia, Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, indicado para dirigir os trabalhos, deu a palavra ao relator da Comissão Especial, Dr. Wilson Paes, a fim de apresentar os estudos das condições para a criação de uma Faculdade de Medicina em nossa cidade. Esta Comissão, formada pelos consócios Plinio Bacelar da Silva, Wilson Paes (relator), Osvaldo da Costa Cardoso de Melo e Décio Lobo de Azevedo, foi acrescida, nesta reunião, de quatro companheiros: Luiz Carlos Mendonça da Silva, Honor de Lemos Sobral, Geraldo da Silva Venancio e Nilson Lobo de Azevedo (Assessor Jurídico da Comissão). Deliberou-se continuar a Comissão com a responsabilidade de encaminhar os estudos de viabilidade da Faculdade de Medicina e de se manter a Assembléia permanente. Por proposta do Presidente, Plinio Bacelar da Silva, passou a integrar a Comissão, logo em seguida, nosso colega Luiz Augusto Nunes Teixeira. Os membros da Comissão já haviam concordado com a idéia da criação da Faculdade de Medicina, mas discordavam dos modelos propostos, que eram os das Faculdades de Medicina das Universidades Federal Fluminense e 89
_SFMC_90 anos.indd 89
9/1/2012 23:24:49
SFMC 90 anos de história
Federal do Rio de Janeiro, considerados totalmente superados. A Comissão iniciou uma série de visitas a várias faculdades de medicina, entrevistando grande número de professores, em busca de um modelo que se apresentasse moderno, atualizado. Assim, os Drs. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo e Wilson Paes visitaram as Faculdades de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo e da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, inteirando-se do funcionamento delas. Os Drs. Décio Lobo de Azevedo e Osvaldo da Costa Cardoso de Melo conheceram a Faculdade de Medicina de Juiz de Fora e, em Belo Horizonte, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, assim como a Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica, entrevistando o Professor Oromar Moreira (titular de Bioquímica), o Professor Hilton Rocha (titular de Oftalmologia) e ainda o Professor Geraldo Queiroga (titular de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas). Os Drs. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo e Décio Lobo de Azevedo visitaram também as Faculdades de Medicina de Campinas e de Ribeirão Preto. Em companhia do Professor Walter Leser, detentor de grande experiência em ensino médico, o Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo visitou a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e a Escola Paulista de Medicina. Conheceu, na Escola de Medicina da Santa Casa de São Paulo, o responsável pelo Departamento de Morfologia, Professor Orlando Jorge Haidar, o qual mostrou novas técnicas e materiais para o ensino daquela disciplina. Enquanto isso, em viagem ao Sul, os Drs. Luiz Carlos Mendonça da Silva, Décio Lobo de Azevedo e Geraldo da Silva Venancio visitavam as Faculdades de Medicina de Curitiba e de Porto Alegre e entrevistavam o Professor José Martins Job. Essas entrevistas levaram a Comissão ao Professor José 90
_SFMC_90 anos.indd 90
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
Roberto Ferreira, jovem conhecedor do moderno ensino médico, e, por sua sugestão, o Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo foi conhecer o Presbiterian Hospital, em Nova York, e as faculdades de medicina de várias universidades norteamericanas, tais como University of Maryland, University John Hopkins, University George Washington, University of Pensylvania, Jefferson University e Columbia University. Paralelamente a essas visitas, os Drs. Geraldo da Silva Venancio e Osvaldo da Costa Cardoso de Melo entraram em contato com a Universidade de Brasília, onde, durante uma semana, puderam acompanhar o dia-a-dia do ensino médico. O Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, em encontro no Rio de Janeiro, convidou para visitar Campos o Dr. José Roberto Ferreira, sob cuja orientação se fez um relatório com estudos minuciosos da região de Campos, que foi apresentado na Sessão Permanente Conjunta e Extraordinária, realizada em 02 de agosto de 1965. O detalhamento dessas providências não tinha outro objetivo senão o de deixar patenteado o esforço, o cuidado e o empenho da Comissão em dotar nossa cidade de uma Instituição Médica que não significasse o resultado de um entusiasmo repentino e impensado. Desejava-se, isto sim, implantar uma Faculdade de Medicina de bom padrão e de que pudéssemos orgulhar-nos sempre. ••• Agosto, 1965, dia 02 – Assembléia Geral Extraordinária Conjunta e Permanente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e da Fundação Benedito Pereira Nunes, sob a Presidência do Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, que, iniciando, concedeu a palavra ao Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, para que o mesmo expusesse o relatório realizado sob a orientação do Dr. José Roberto Ferreira. Por este relatório, 91
_SFMC_90 anos.indd 91
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
concluiu-se não só pela viabilidade, mas também pela necessidade de se implantar uma Faculdade de Medicina em Campos — o que foi aprovado pela Assembléia, por unanimidade. Nesse momento, decidiu-se pelo encerramento da Assembléia Permanente. Por proposta do Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva, a Fundação Benedito Pereira Nunes deveria tomar as providências, no sentido de reformar seus estatutos, ampliando suas finalidades para o ensino médico e paramédico. O relatório apresentado pela Comissão, por sua importância, foi registrado em Cartório, no Registro de Títulos e Documentos. ••• Novembro, 1965, dia 09 – Assembléia Geral Extraordinária da Fundação Benedito Pereira Nunes, sob a Presidência do Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo. Este concedeu a palavra ao Dr. Nilson Lobo de Azevedo, para iniciar a leitura do anteprojeto redigido por uma Comissão que modificou os estatutos da Fundação, ampliando suas finalidades para o ensino médico e paramédico. Os novos estatutos, após aprovação pela Assembléia Geral Extraordinária, foram encaminhados a Cartório para se lavrar a competente escritura. ••• Fevereiro, 1966, dia 07 – Assembléia Geral Extraordinária da Fundação Benedito Pereira Nunes, convocada para eleição de sua diretoria. Segundo os novos Estatutos, foram eleitos: • Presidente – Dr. Geraldo da Silva Venancio • Vice-Presidente – Dr. Décio Lobo de Azevedo 92
_SFMC_90 anos.indd 92
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
Conselho Curador: Efetivos: • Dr. Almeida Gusmão • Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo • Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva • Dr. Nilson Lobo de Azevedo • Dr. Wilson Paes Suplentes: • Dr. Honor de Lemos Sobral • Dr. Antonio Pedro Serrão • Dr. Marcio C. de Vasconcelos Cruz • Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira • Dr. Hugo Nunes de Carvalho Minha eleição ocorreu sem o meu consentimento. Não havia comparecido à Assembléia. A surpresa e a consciência da grande responsabilidade a recair sobre mim levaram-me a relutar em aceitar a incumbência. Decidi correr os riscos e enfrentar, com humildade, o desafio, julgando que se me oferecia uma oportunidade de cumprir um destino social. ••• Março, 1966, dia 24 – Assembléia Geral Extraordinária – Posse da nova Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes. O Presidente indicou os demais membros da diretoria que, segundo os estatutos, exerceriam cargos de confiança do Presidente. Assim a Diretoria ficou constituída: • Dr. Geraldo da Silva Venancio – Presidente • Dr. Décio Lobo de Azevedo – Vice-Presidente 93
_SFMC_90 anos.indd 93
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
• Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo – 1º Secretário • Latour Arueira – 2º Secretário • Dra. Josepha de São Paulo Meireles – 1ª Tesoureira • Dr. Wilson Paes – 2º Tesoureiro • Dr. Nilson Lobo de Azevedo – Consultor Jurídico ••• Os Diretores da Fundação Benedito Pereira Nunes, então membros do Conselho Curador, foram substituídos por seus Suplentes. A Comissão de Implantação da Faculdade, acrescida de dois integrantes, por fazerem parte da Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes — Josepha de São Paulo Meireles e Latour Arueira — ficou assim constituída: • Dr. Plínio Bacelar da Silva — Presidente da Comissão • Dr. Geraldo da Silva Venancio — Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes • Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo • Dr. Wilson Paes • Dr. Décio Lobo de Azevedo • Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva • Dr. Almeida Gusmão • Dr. Honor de Lemos Sobral • Dr. Nilson Lobo de Azevedo – Assessor Jurídico • Latour Arueira • Dra. Josepha de São Paulo Meireles Esse grupo passou a ser designado como Grupo Executivo de Implantação da Faculdade de Medicina de Campos. A Fundação Benedito Pereira Nunes tinha, nesse momento, a missão, como Mantenedora, de implantar e conso94
_SFMC_90 anos.indd 94
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
lidar a Faculdade de Medicina de Campos. As reuniões da Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes e dos demais membros da Comissão se sucederam nas tardes de sábado, manhãs de domingo e, muitas vezes, à noite. Fizeram-se várias viagens ao Rio de Janeiro, em busca de assessoramentos diversos. Assim, em outubro, quando se recebeu a primeira parcela da verba do Estado, paga pelo Governador Theotônio Ferreira de Araújo, já se dispunha das plantas da área física para abrigar a direção da Fundação Benedito Pereira Nunes, da Faculdade, os Laboratórios das Cadeiras do Ciclo Básico, a Biblioteca, o Almoxarifado e os Anfiteatros. As obras de adaptação foram realizadas em exatamente um ano, trabalhando-se sob o regime de administração direta, das sete às vinte e duas horas, com 150 homens, mais os empreiteiros, que realizaram os serviços de água, esgoto, eletricidade e gás. Este último serviço teve projeto e execução da White Martins. Firmas especializadas do Rio de Janeiro responsabilizaram-se pelos projetos dos demais serviços, tendo a Fundação a assessoria do engenheiro Luiz Cardoso de Melo. Todas as bancadas tiveram tampos de peroba impermeabilizados com negro de anilina e foram confeccionados na própria obra por dois carpinteiros especializados. Chegou-se a essa solução através da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Professor Bruno Alípio Lobo) e da indústria (Engenheiro Químico Francisco da Silva Venancio). A rede de esgoto, com Laboratórios que trabalhariam com ácidos e bases fortes, forçou o grupo implantador a optar por tubos de cerâmica que, colocados no solo sobre base de concreto, evitariam o desnivelamento provocado pela erosão decorrente das águas de chuva e os consequentes vazamentos. Um artesão apresentou-se para confeccionar todos os basculantes no quintal de sua própria residência, evidente95
_SFMC_90 anos.indd 95
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
mente com preços que correspondiam a pouco mais de 50% daqueles cobrados pelas serralharias. Com tomadas de preços nas compras de material, conseguiu-se sempre o valor mínimo do mercado. Engenheiros e mestres-de-obras conseguiram manter uma disciplina de tal ordem, que permitia se levassem visitantes a qualquer hora. Por essa ocasião, Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira liderava o grupo na mobilização da comunidade, a qual participou da obra de várias maneiras. Os Doutores Celso Araújo e Antonio Pinto Ferreira doaram todo o mármore necessário, incluindo todas as mesas do setor de Anatomia. O Grupo de Implantação não parou de trabalhar. As decisões eram tomadas pela maioria, sendo atribuídas missões aos integrantes, de acordo com as respectivas habilidades. O Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva foi o principal responsável pela redação do Regimento Interno, e recebeu também a tarefa de organizar, em poucos dias, durante seu período de férias no Rio de Janeiro, o corpo docente dos dois primeiros anos. Teve, para isso, a ajuda do Reitor da Universidade Federal Fluminense, Professor Barreto Neto, do Professor Bruno Alípio Lobo e grande auxílio do Professor Amadeu Cury, então Diretor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A organização do corpo docente, por acordo com o Reitor da Universidade Federal Fluminense, caberia ao diretor de sua Faculdade de Medicina, Professor His Martins Ferreira, que, após grande delonga, comunicou sua impossibilidade de realizar essa tarefa. A segunda parcela da verba estadual foi quitada ao apagar das luzes do Governo Theotônio Ferreira de Araújo. O Presidente da Fundação e um de seus tesoureiros, Dr. Wilson Paes, foram chamados a Niterói, à Secretaria de Fazenda do Estado, para dar quitação da referida importância no processo lá existente. A Fundação dispunha de procuração do Prefeito 96
_SFMC_90 anos.indd 96
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
de Campos, mas, inexplicavelmente, o cheque saiu em nome da Prefeitura. O Prefeito negou-se a visá-lo. Numa decisão rápida, o Presidente da Fundação viajou na manhã do dia imediato a Niterói e conseguiu, através da alta Direção do Banco do Estado, o recebimento da importância. O trabalho incessante da Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes e de seus companheiros da Comissão Organizadora permitiu a montagem do processo de autorização de funcionamento da Faculdade em quatro noites, trabalhando-se até as três horas da manhã. Esse processo foi entregue ao Egrégio Conselho Federal de Educação, de modo a ser apreciado na reunião de setembro. Nasce a Faculdade No dia 18 de setembro de 1967, a Comissão de Implantação da Faculdade viajou com o Prefeito de Campos, Sr. José Carlos Vieira Barbosa, para almoçar com o Senador Vasconcelos Torres, em sua residência, em Niterói. Dirigiram-se, em seguida, ao Ministério da Educação e Cultura, na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro. Naquela tarde seria apreciado pelo Conselho Federal de Educação o Processo de Autorização de funcionamento da Faculdade. Ao chegarem ao Ministério, a reunião já começara. O Presidente do Conselho, Professor Deolindo do Couto, interrompendo a sessão, ressaltou a presença da comitiva e, quebrando o protocolo, convidou o Senador Vasconcelos Torres para fazer parte da mesa. O processo foi apresentado, discutido e aprovado. Inesquecível a emoção do grupo que vinha trabalhando pela implantação da Faculdade — vê-la nascer oficialmente naquele momento. 97
_SFMC_90 anos.indd 97
9/1/2012 23:24:50
SFMC 90 anos de história
Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia - Faculdade de Medicina de Campos
Nos primeiros dias de outubro de 1967, a cidade já respirava um clima festivo. O cidadão comum abordava, com freqüência, os membros do Grupo de Implantação, para cumprimentos. Para ilustrar, recordo que o barbeiro recusou-se a receber de mim por seu serviço e o alfaiate não aceitou que lhe pagasse o terno que eu usaria na solenidade. Já se percebia a importância da existência de uma Faculdade de Medicina em Campos. Marcada para o dia 14, o ato de instalação da Faculdade revestiu-se de toda a pompa possível. A Polícia Militar, por iniciativa do seu oficial médico — Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira —assumiu o controle do trânsito do aeroporto à Faculdade. Esse fato permitiu que os 98
_SFMC_90 anos.indd 98
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
automóveis conduzindo as autoridades chegadas no avião das 11 horas, num percurso ininterrupto, só estacionassem no pátio da Faculdade, causando estranheza ao Sr. Ministro da Educação e comitiva. Explicou-se a eles constar da programação uma visita, antes da solenidade inaugural, às dependências da Faculdade, para que se pudesse avaliar o planejamento detalhado de sua área física, bem como o planejamento minucioso de cada setor. Exatamente às 14 horas instalava-se, no Fórum Nilo Peçanha, a Sessão Solene de inauguração da Faculdade de Medicina de Campos. O ato foi precedido de uma caminhada de homens engravatados, mulheres bem vestidas, jovens alegres e esperançosos, autoridades, pessoas representativas da comunidade, que partiram da Faculdade até o Palácio da Justiça. Interrompeu-se o trânsito na avenida Dr. Alberto Torres. Coube ao Presidente da Entidade Mantenedora iniciar aquela Solenidade com o seguinte pronunciamento: Hoje, 14 de outubro de 1967, estamos fazendo história em Campos. Hoje, pela primeira vez, creio eu, em nossa cidade vemos tantas personalidades ilustres participantes de uma mesa comum. São representantes do Poder Público nos seus vários escalões —Ministro, Governador do Estado, Secretários de Estado, Prefeitos, Senadores, Deputados Federais e Estaduais, Vereadores. São autoridades do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura — seu Diretor — Reitores, Diretores de Faculdades, Professores. É a inauguração da FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOS e sua entrega à Comunidade pelo Grupo Executivo de Implantação. 99
_SFMC_90 anos.indd 99
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
Também pela primeira vez, Campos recebe um Ministro da Educação e Cultura, acompanhado de seu Diretor de Ensino Superior. Como cidadão, acredito poder afirmar que Campos, neste momento, sente-se orgulhosa e agradecida. Em 04 de janeiro de 1965, na Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, o Dr. Almeida Gusmão apresenta a sugestão de se criar em Campos uma Faculdade de Medicina. Em 02 de agosto, uma Assembléia Conjunta da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e da Fundação Benedito Pereira Nunes conclui sobre a viabilidade da implantação da Faculdade de Medicina de Campos. Essa assembléia elege, sob a presidência do Dr. Plinio Bacelar da Silva, uma comissão composta dos Drs. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, Luiz Carlos Mendonça da Silva, Décio Lobo de Azevedo, Wilson Paes, Honor de Lemos Sobral, Almeida Gusmão, Luiz Augusto Nunes Teixeira, Nilson Lobo de Azevedo e este que vos fala, e acrescida mais tarde do Sr. Latour Arueira e da Drª. Josepha de São Paulo Meireles. A Comissão visita várias Faculdades, entrevista vários professores em busca de uma orientação correta e segura. Grande quantidade de material sobre organização de Escolas Médicas é coletado. Visita, ainda, a Associação Brasileira de Escolas Médicas e a Federação Pan-Americana de Associações de Faculdades de Medicina, quando se trava conhecimento com os respectivos diretores, Drs. José Roberto Ferreira e Ernani Braga. Ambos são reconhecidos especialistas em Educação Médica. 100
_SFMC_90 anos.indd 100
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
O primeiro visita Campos duas vezes, a convite da Comissão. Sob sua orientação direta realiza-se um relatório onde estudos são feitos sobre: - avaliação da conveniência do empreendimento; - planejamento do tipo de estrutura educacional; - implantação da Instituição. Para avaliar a pertinência do primeiro desses itens, foi realizado o levantamento de toda a região geoeconômica que tem Campos como centro, num total de onze municípios, com área territorial de 13.933 quilômetros quadrados e uma população de 759.765 habitantes. Existiam, em 1965, para atender a esta população, apenas 205 médicos. As correlações quantitativas entre o número de médicos e de habitantes são verificadas no Estado, na Capital e no Interior. Acham-se para Campos 3.000 habitantes por médico, e, para sua área de influência, 3.700 habitantes por médico. Estuda-se a dinâmica do grupo médico de Campos e faz-se a previsão dessas correlações para 1970 e 1975. Os números encontrados são respectivamente 4.200 e 4.400 habitantes por médico. Calcula-se a demanda de matrículas. Enfim, conclui-se não só pela conveniência, mas, pela necessidade mesma de se implantar uma Faculdade de Medicina em Campos. Quanto à sua exeqüibilidade, o Relatório verifica as disponibilidades hospitalares e materiais. Da mesma maneira são planejados o tipo de estrutura educacional e a implantação da Instituição. Este relatório, que constitui peça do processo de autorização de funcionamento da Faculdade, apre101
_SFMC_90 anos.indd 101
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
sentado ao Egrégio Conselho Federal de Educação, contém um estudo muito bem feito de nossa região. Daí em diante, será o cartão com que a Comissão de Estudos se apresentará. Com ele, todos os contatos serão facilitados. Nele, sente-se a seriedade que se quer imprimir à Instituição. Com este relatório, o Professor José Roberto Ferreira, Educador Médico da nova geração, dos melhores deste país, ex-Diretor Executivo da Associação Brasileira de Escolas Médicas, atualmente Vice-Reitor da Universidade de Brasília, norteia o rumo e baliza os caminhos a seguir pela Faculdade de Medicina de Campos. É o seu grande inspirador. A Fundação Benedito Pereira Nunes, Entidade Mantenedora da Faculdade, possui três prédios: o da Policlínica Admardo Torres, o da Maternidade Zina Duarte e o do Hospital Infantil Antônio Pereira Nunes. Os dois primeiros, fechados desde 1962, e o último, funcionando precariamente, também por carências de recursos. Esta Fundação tinha como finalidade prestar assistência à maternidade e à infância desvalidas. Seus estatutos são modificados e ampliadas as suas finalidades também ao ensino médico e paramédico. Uma Assembléia de sócios da Fundação Benedito Pereira Nunes muda o destino de seus prédios. Aqueles edifícios continuarão seu caminho glorioso, pois a eles agora acorrerão jovens, talvez alguns ali nascidos ou ali tratados, para estudar Medicina e, com sua ciência e sua arte, aliviar a dor e o sofrimento, enfim, proteger a saúde de milhares e milhares de homens e mulheres não só de Campos ou de nosso Estado, mas de regiões outras de nosso imenso Brasil. Os estudos de adaptação são realizados pelo 102
_SFMC_90 anos.indd 102
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
Professor José Roberto Ferreira. Recebem, mais tarde, contribuição valiosa do grande engenheiro da Secretaria de Saúde do Estado do Rio, Professor Orlando Campofiorito. Especialistas do Rio de Janeiro projetam as instalações de gás, água e esgoto e eletricidade. Vários professores de medicina nos auxiliam no planejamento dos detalhes de cada Laboratório, de cada setor. Merecem destaque especial, pelo muito que nos ajudaram, os Professores Bruno Alípio Lobo, Rogério Benevento e Mayna Verna. Era Prefeito de Campos o Dr. Rockfeller Felisberto de Lima, que doa à Fundação Benedito Pereira Nunes a importância de duzentos mil cruzeiros novos (NCR$ 200.000,00) de quotas devidas pelo Estado ao Município. A Câmara Municipal aprova a deliberação do Prefeito. O Governador Paulo Torres concorda em efetuar o pagamento, o que, no entanto, só se concretiza no governo de seu sucessor, o ilustre campista Dr. Theotônio Ferreira de Araújo Filho, que ainda faz consignar, no orçamento estadual de 1967, importância idêntica. O nosso atual Governador Geremias de Matos Fontes, logo ao assumir o governo, diz-nos de sua disposição em participar de nossa obra. Quando solicitado a cumpri-lo, o Governador traz, ele próprio, o processo que autorizava o pagamento da verba orçamentária. Consideramos esses dois ilustres homens públicos — Drs. Theotônio Ferreira de Araújo Filho e Geremias de Matos Fontes — os grandes beneméritos no que se refere à parte material da obra que, dentro de instantes, todos poderão percorrer. Senhor Ministro, Campos aguarda, com an103
_SFMC_90 anos.indd 103
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
siedade incontida, uma manifestação de Vossa Excelência, que corresponderá ao coroamento do esforço da comunidade: autorização do aumento do número de vagas, incluindo mais 32 excedentes de concursos vestibulares, com o que se completará a autorização de funcionamento com 96 alunos neste ano. E temos que nos referir também às palavras de Vossa Excelência que, numa homenagem ao esforço de nossa comunidade e à Campos Universitária, autorizou também a matrícula dos campistas excedentes da área da Guanabara. ••• Chega o momento de agradecermos a todos os que participaram deste empreendimento: Na área Legislativa: à Câmara de Vereadores de Campos, à Assembléia Legislativa do Estado, aos Deputados Federais Sadi Coube Bogado, Afonso Celso Ribeiro de Castro, Ernani do Amaral Peixoto, Paulo Biar e à atuação valiosa, em hora difícil, do Senador Vasconcelos Torres. O Executivo Municipal, na pessoa de seu dinâmico e jovem Prefeito, de quem muito espera o Ensino Superior de nossa cidade, também esteve presente nesta obra. Fez o máximo dentro de suas possibilidades. Estendemos nossos agradecimentos ao Magnífico Reitor da Universidade Federal Fluminense, Professor Manoel Barreto Neto, incentivador da aceleração de nossas obras e da antecipação do funcionamento de nossa Faculdade, ao Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Professor Leme Lopes, ao Professor Amadeu Cury, aos Professores que, prestigiando a Faculdade de Medicina de Campos, concordaram em 104
_SFMC_90 anos.indd 104
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
figurar no seu Corpo Docente — Bruno Alípio Lobo, Mayna Verne, José Rodrigues Coura, Mário Ulisses Viana Dias, Ênio Goulart, Nérton Pinto Fernandes Távora, Lafayette Rodrigues Pereira, Rogério Benevento e Mauro Sérgio Operti. Agradecemos ainda ao Magnífico Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor Raimundo Moniz de Aragão, relator de nosso processo no Egrégio Conselho Federal de Educação. A ele, uma vez, a emoção impediu-me de dizer-lhe “muito obrigado”. Mas, para mim é altamente emocionante verificar que neste país, onde há tanta apatia e tanta descrença, existem, também, homens de sua têmpera, para os quais nem mesmo a doença é empecilho para o cumprimento do que julgam ser seu dever. Somos gratos à imprensa escrita e falada, ao comércio, enfim, à comunidade campista. À massa de colaboradores que, pelo seu número, seria impossível mencionar aqui, uma placa de mármore à entrada de nossa Faculdade testemunha o penhor do nosso reconhecimento. Quero ainda estender, em meu nome e no do Grupo Executivo, nosso agradecimento também aos descrentes. Àqueles que não acreditaram em nossa capacidade de execução. Àqueles que descreram de nossos homens públicos, aos que não acreditaram nas qualidades positivas de nossa comunidade. Pois sua falta de fé constituiu estímulo salutar para que vencêssemos nosso próprio cansaço e superássemos nossas próprias deficiências. Em outubro de 1966 iniciamos, após receber a primeira verba do Estado, a reforma e as obras de adaptação dos prédios onde funcionarão as disciplinas do Ciclo Básico. 105
_SFMC_90 anos.indd 105
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
Naquela época eu já era o Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes. Com Décio Lobo de Azevedo na vice-presidência, havíamos formado a Diretoria com vários companheiros da comissão organizadora. Comissão e Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes já constituíam uma equipe única de trabalho, tal a sua integração. Compúnhamos, assim, o GRUPO EXECUTIVO DE IMPLANTAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOS, integrado por homens de temperamentos diferentes, mas com muitas características comuns: nenhuma reivindicação pessoal em relação ao empreendimento, grande capacidade de trabalho, espírito de sacrifício, grande independência de atitudes e boa dose de humildade. A qualquer um deles podia-se confiar uma missão e ter a certeza antecipada de que ela seria cumprida. Movia-os uma ambição comum — implantar a Faculdade de Medicina em nossa cidade no melhor padrão, dentro de nossas possibilidades. Por um imperativo da verdade, devo declarar aqui que todos, sem exceção, cumpriram e bem o seu dever. Peço licença aos presentes para enunciar seus nomes: Décio Lobo de Azevedo, Oswaldo da Costa Cardoso de Melo, Luiz Carlos Mendonça da Silva, Luiz Augusto Nunes Teixeira, Almeida Gusmão, Latour Arueira, Josepha de São Paulo Meireles, Plinio Bacelar da Silva, Nilson Lobo de Azevedo, Wilson Paes e Honor de Lemos Sobral. Mas, por um dever da verdade, devo destacar, entre eles, três nomes: Oswaldo da Costa Cardoso de Melo, jovem, inteligente, idealista puro; estuda a organização do ensino médico, torna-se conhecedor 106
_SFMC_90 anos.indd 106
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
de detalhes dos laboratórios do Ciclo Básico, visita Faculdades nacionais e algumas no estrangeiro, entrevista professores, recolhe todo o material que pode. É um organizador. Faz notar sua presença marcante em todas as fases desta obra. Nenhum elemento do grupo o sobrepuja. Luiz Carlos Mendonça da Silva — inteligente e brilhante. Coloca toda sua inteligência a serviço do empreendimento. O seu trabalho, como um dos principais responsáveis pela redação do Regimento e quando da organização do Corpo Docente, seria o suficiente para torná-lo digno de nossa admiração. Sua participação eficaz foi convocada sempre que se fez necessária. Nunca falhou. Luiz Augusto Nunes Teixeira — possui qualidades inatas de administrador. Insinuante, tenaz, discreto, é o arquiteto da participação da comunidade campista nesta obra. Devo mencionar ainda dois nomes não pertencentes ao grupo de trabalho: Dra. Zuleima de Oliveira Faria e a Professora Maria Thereza da Silva Venancio. A capacidade de trabalho e a experiência de ambas tornaram possível a montagem do processo de autorização em algumas noites. Exatamente um ano após o início das obras, o Grupo Executivo entregou os prédios reformados e em condições de funcionar. Fatores decisivos para que tal ocorresse foram a dedicação e o esforço de nossos engenheiros Samir Hissa e Fued Kury, de nossos funcionários José Rodrigues e Zeneth Pires Pinto, de nossos mestres-de-obras Salvador e Nélson, de nossos subempreiteiros Alcebíades, Jair e Machado, e de nossos operários. A estes últimos demonstramos 107
_SFMC_90 anos.indd 107
9/1/2012 23:24:51
SFMC 90 anos de história
nosso reconhecimento conferindo a um deles o título de Sócio Benemérito, e o fizemos exatamente àquele que, trabalhando conosco desde o primeiro dia, possuía a versatilidade do operário brasileiro: hábil pedreiro, manilheiro e assentador de piso e azulejos. Numa demonstração de amor ao trabalho, quando sofreu um acidente, medicou-se e voltou a executar sua tarefa. É um operário-padrão. Chama-se Manoel Barbosa. A Faculdade, com o material mínimo indispensável ao início de suas atividades, já está devidamente autorizada a funcionar pelo Egrégio Conselho Federal de Educação e com o Corpo Docente das suas duas primeiras séries devidamente organizado. Estas palavras todas constituem uma tentativa de fixar a verdade histórica. O Brasil é um país pobre e ainda sem recursos suficientes para solucionar todos os seus problemas. Necessário se torna, pois, levar a iniciativa privada à Universidade, através de esforço concentrado, com medidas salutares e inteligentes por parte do Governo e o desenvolvimento do espírito comunitário, diligente e operante. A concentração de recursos assim obtidos permitirá tranqüilidade econômica aos professores, para que possam aliar o ensino à pesquisa e, desse modo, atuar verdadeiramente sobre a mentalidade do estudante universitário. Aqui, nesta cidade, a Universidade é uma velha aspiração de todos os homens lúcidos. Mas, não aspiramos a ela nos moldes clássicos. Aspiramos, sim, a uma Universidade que transponha seus próprios muros ou que não os possua, solucionando os problemas da comunidade à qual deve servir; que seja agressiva em relação a esses problemas e que procure solucioná-los 108
_SFMC_90 anos.indd 108
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
pela pesquisa e pelo trabalho. Desejamo-la para, além de formar doutores tão necessários e úteis, preparar também toda aquela gama de profissionais intermediários imprescindíveis ao desenvolvimento deste país e que darão nova perspectiva de vida a milhares de jovens. Acreditamos na Universidade como fator preponderante no desenvolvimento nacional. O Brasil, em sua vasta área territorial, possui problemas regionais específicos. A interiorização do Ensino Médico é um imperativo dentro da realidade brasileira. Além de permitir melhor distribuição dos médicos e de formá-los familiarizados com os problemas locais, concorrerá ainda para fixar lideranças em áreas mais pobres e evitará a superconcentração desses profissionais em centros mais adiantados, ocasionando tempo ocioso para grande número deles. Esta superconcentração significa um desperdício, em decorrência do alto investimento necessário para a boa formação de um médico. Não receamos afirmar que a Faculdade de Medicina de Campos é a resposta da fé, da coragem, da imaginação, da tenacidade e do trabalho ao desafio histórico desta região no rumo do desenvolvimento. É um largo passo no sentido da Universidade. Mas, é também a expressão das ideias aqui expostas. A Faculdade de Medicina de Campos estará sempre, estamos certos, numa posição de vanguarda e de luta. Aos jovens estudantes campistas, fluminenses, paulistas e paranaenses, que constituirão a primeira turma da Faculdade de Medicina de Campos, eu me permitirei dizer que a medicina é uma profissão que exige sacrifícios, estudo, trabalho, dedicação, compreensão e humildade. Nem sempre traz recompensa econômica 109
_SFMC_90 anos.indd 109
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
relativa ao esforço despendido. Mas, está entre aquelas profissões que condicionam uma afirmação positiva na sociedade, que permite independência de atitudes; no trabalho diário é capaz de proporcionar satisfação interior, como, talvez, nenhuma outra. Escolhestes uma bela profissão. Direi, também, que o aluno ajuda a fazer a escola, e que esta participação se faz mais efetiva pelo estudo, pelo trabalho e, sobretudo, pelo que ele realiza depois de receber o seu diploma. Permito-me repetir-vos palavras do atual Diretor de Educação e Treinamento da Organização Mundial de Saúde, Professor Ernani Braga: “Educação médica é uma atividade permanente, nem começa e nem termina nos bancos da Faculdade.” Quando a fita da porta da Faculdade de Medicina de Campos for cortada, estará ela entregue à comunidade, que participou de sua implantação. Será dirigida por dois campistas ilustres — Dr. Oswaldo Luís Cardoso de Melo e Décio Lobo de Azevedo. O primeiro, pelas suas qualidades morais e intelectuais de médico e de homem público, bem como pelos enormes serviços prestados à sua cidade e ao seu Estado, goza do respeito e da admiração de seus concidadãos. O segundo acumula excelentes qualidades de homem de bem e de profissional competente. Seu trabalho à frente do Sanatório Ferreira Machado e do Dispensário de Tuberculose constitui, por si só, o penhor suficiente da confiança nele depositada. Sob a direção destes dois homens, a Faculdade de Medicina de Campos seguirá a sua trilha dentro 110
_SFMC_90 anos.indd 110
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
dos ideais daqueles que, como eles, com ela sonharam e que, como eles, trabalharam para tornar este sonho uma realidade. ••• Nessa solenidade várias autoridades se manifestaram. O Governador Geremias de Matos Fontes iniciou seu improviso com a frase que se tornou conhecida: “Campos não pede que se trabalhe para ela, Campos exige que se trabalhe com ela.” Provavelmente sentiu-se sensibilizado com a rapidez com que um projeto tão bem elaborado foi implementado. A assistência que lotava o Palácio da Justiça o aplaudiu de pé, demoradamente. Aplaudido também foi o discurso do Professor Luiz Carlos Silva, que, na opinião de pessoas presentes, inclusive do Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, constituiu- se na peça oratória daquela tarde. Essa opinião foi a mim transmitida, naquela noite, em minha residência, pelo Sr. Bispo, durante a recepção oferecida às autoridades pela Comissão de Implantação da Faculdade. Esse pronunciamento passou, assim, a fazer parte da história da solenidade de inauguração da Faculdade de Medicina de Campos. Eis a razão de ele estar inserido neste relato. ••• Em algum lugar, no tempo exato, prestam-se as homenagens certas. Fizeram-me, para honra minha, intérprete do pensamento e do desejo da Comissão Organizadora da Faculdade de Medicina de Campos, que decidiu 111
_SFMC_90 anos.indd 111
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
serem, aqui e agora, o local e o momento compatíveis com a homenagem que publicamente, perante tão seleto auditório, ora prestamos a dois companheiros de jornada. Quando da organização desta magnífica solenidade, nossa fala parecia, ao ilustre Presidente da Fundação Benedito Pereira Nune, uma descabida impertinência. O sigilo e o carinho com que guardávamos o seu significado impediam qualquer argumentação racional. Fomos até à lógica do absurdo. Insistimos, persistimos, conseguimos, e aqui estamos dando curso à dinâmica dos nossos sentimentos, impregnando a festa de inauguração da Faculdade de Medicina de Campos com a marca fraterna da afetividade. Encontra-se em marcha uma autêntica ação de surpresa. Geraldo da Silva Venancio, Osvaldo da Costa Cardoso de Melo. Sois, por todos os títulos, os nossos homenageados. Era mister que tirássemos da sombra aqueles que por modéstia nela se abrigaram. Os homens se dividem: OS QUE SERVEM, OS QUE SE SERVEM, OS QUE CUMPREM O DEVER, E OS OUTROS. Pertenceis, seguramente, aos primeiros. Nossa gratidão porque nos ajudastes a formar ao vosso lado. Porque acreditastes ... tivemos fé. 112
_SFMC_90 anos.indd 112
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
Porque valorosos ... sentimos coragem. Porque arduamente trabalhastes ... não desfalecemos. Porque sonhastes ... sonhamos convosco. Ao transferir e sublinhar no metal toda nossa admiração e respeito, promovendo o que chamaríamos de a mais justa homenagem, podemos, agora sim, descansar tranqüilos, pois cremos ter cumprido a última missão. Nos cartões que neste momento recebeis, há um pouquinho de cada um de nós, alma e sentimento, mas muito, muito mesm,o de vós, pela HONRA e pelo MÉRITO. ••• Nesta mesma noite foi pronunciada a aula inaugural pelo Professor José Roberto Ferreira; dois dias após, foram proferidas as duas primeiras aulas do curso regular, por dois grandes educadores médicos: Professor Bruno Alípio Lobo e Professor Rogério Benevento. A sessão inaugural, iniciada exatamente na hora aprazada, e o começo do curso regular, na data prevista, sinalizaram para a pontualidade e a seriedade da instituição que se iniciava; seriedade alicerçada pela presença da figura de seu primeiro diretor, Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo. O Presidente da Fundação Mantenedora e o Diretor da Faculdade estabeleceram a área de atuação de cada uma das duas entidades: a Mantenedora, com personalidade jurídica, tornava-se a responsável pela política econômica e financeira, cabendo-lhe contratar o corpo docente e o pessoal técnicoadministrativo, colocando-os à disposição da Faculdade; responsabilizava-se também pela aquisição de aparelhos, de 113
_SFMC_90 anos.indd 113
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
instrumentos necessários e de todo o material de consumo. À Direção da Faculdade cabiam as questões administrativas, incluindo aí a parte didática e disciplinar dos corpos docente e discente. E assim as duas instituições funcionaram harmoniosamente durante 25 anos. Diretores da Faculdade de Medicina de Campos Impossível deixar de descrever aqui a grande contribuição de cada um deles à instituição que dirigiram. Testemunhei, durante 25 anos, na assistência diária, permanente e espontânea que prestei à Mantenedora, o zelo, a pontualidade, a eficiência e a preocupação desses diretores com o desenvolvimento científico da Faculdade. Assim, ao apresentá-los, falarei de episódios ou fatos mais relevantes, por mim memorizados, ocorridos na gestão de cada um deles. DE CARDOSO DE MELO (OSVALDO LUIZ) A CARDOSO DE MELO (OSVALDO DA COSTA) • Professor Osvaldo Luiz Cardoso de Melo – De outubro de 1967 a novembro de 1968. Escolhido pela Diretoria da Fundação Mantenedora e demais integrantes da Comissão Organizadora para ser o primeiro Diretor da Faculdade, líder político, líder da classe médica de sua cidade, grande orador, ex-Deputado Federal, ex-Secretário de Interior e Justiça, ex-Secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e ex-Prefeito de Campos, Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo foi presidente da Sociedade Fluminense 114
_SFMC_90 anos.indd 114
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
de Medicina e Cirurgia em várias gestões, e também presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes. Presidiu todas as assembléias conjuntas das duas entidades, no período que precedeu à criação da Faculdade. Primeiro professor de Otorrinolaringologia da Faculdade, aprovado pelo Egrégio Conselho Federal de Educação, Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo foi, sobretudo, um grande profissional de medicina de sua terra. Extremamente cordial com seus semelhantes, estimado por todas as classes sociais, era muito respeitado na comunidade, respeito que se sentia apenas com sua presença física. Lembro-me da firmeza com que dirigiu os destinos de nossa Escola em sua fase inicial. A Faculdade começou a funcionar com três grupos de excedentes de vestibulares. O primeiro, oriundo da Universidade Federal Fluminense; o segundo, oriundo do Paraná e o terceiro, um pequeno grupo de campistas excedentes de vestibular da área da Guanabara. Um cronista social de grande jornal diário do Rio de Janeiro iniciou, naquela época, uma campanha para “desmatricular” os alunos procedentes da Guanabara. Chegou ao conhecimento da Faculdade que tal campanha estava sendo incentivada por alguns altos funcionários do Ministério da Educação e Cultura. O Dr. Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, numa única ida àquele Ministério, defendeu essas matrículas com bastante firmeza e encerrou, de imediato, esse movimento. Todos lamentaram que a enfermidade e, logo em seguida, a sua morte privassem a Faculdade — que ele ajudou a fundar — de sua presença inesquecível. Para terminar o mandato do primeiro Diretor, os responsáveis pela implantação da Faculdade escolheram então o Professor Ewerton Paes da Cunha. 115
_SFMC_90 anos.indd 115
9/1/2012 23:24:52
SFMC 90 anos de história
Memória daa SFMC De pé, da esquerda para direita: Doutores João Barcelos Martins, José Rufino de Carvalho Filho, Ary Gregory Barbeitas, Acyr Bello de Campos, Francisco José Pinto Filho, Ary Ribeiro Viana, Plínio Viveiro de Vasconcelos, Carlos Américo Alves e Jornalista Ulysses Martins. Sentados na mesma ordem: Doutor Jorge de Alvarenga Prazeres, Professor Abdon Lins, Osvaldo Luís Cardoso de Melo, Ewerton Paes da Cunha
••• • Professor Ewerton Paes da Cunha – De novembro de 1968 a abril de 1973. Professor de Biologia do Liceu de Humanidades de Campos e da Faculdade de Filosofia de Campos, Professor de Medicina Legal da Faculdade de Direito e da Faculdade de Medicina de Campos, aprovado pelo Egrégio Conselho Federal de Educação, ex-Chefe do Serviço da Previdência Social, ex-Secretário de Saúde do Município de Campos, Dr. Paes da Cunha tinha uma experiência bem sucedida no trato 116
_SFMC_90 anos.indd 116
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
com alunos e professores quando dirigiu, por vários anos, o Liceu de Humanidades. Homem culto, detalhista, exímio pianista, era membro de várias instituições científicas no Brasil e algumas no exterior. Publicou vários trabalhos científicos. Foi responsável pela notável revisão, ampliação e atualização da conhecida obra “Medicina Legal”, do Professor Hélio Gomes. Um grupo de alunos da primeira turma da Faculdade, ao chegar ao quinto ano, iniciou um movimento no sentido de realizar o internato fora de nossa Cidade. Tais alunos elaboraram um documento com críticas graves ao funcionamento de nossas Instituições Hospitalares. As críticas, na sua quase totalidade, não podiam ser comprovadas. Esse documento chegou às mãos do então Secretário Geral do Ministério da Educação e Cultura, Coronel Mauro Costa, que imediatamente designou um excelente Professor da Universidade Federal Fluminense para uma verificação de nossa Faculdade. Designação feita à tarde, na manhã do dia imediato o Verificador estava em nossa cidade, fazendo os questionamentos que julgou necessários, tendo visitado todas as dependências dos hospitais ligados ao ensino. A cada questionamento, o Diretor da Faculdade respondia, apresentando documento comprobatório de sua informação, que era xerocado e passado às mãos do verificador. As inverdades do documento dos alunos puderam ser comprovadas nas visitas aos hospitais ligados ao ensino e pela documentação apresentada pelo Dr. Paes da Cunha. O relatório do verificador deve ter sido altamente favorável à Faculdade, porque, pouco tempo depois, chegou à Direção da Escola mensagem do então Ministro da Educação, Coronel Jarbas Passarinho, recomendando que se comunicasse aos alunos não-satisfeitos com sua Faculdade que pedissem transferência, para o que seriam oferecidas todas as facilidades. Foi o bastante para voltar ao normal o funcionamento da Faculdade. O internato foi organizado dentro do bom senso, 117
_SFMC_90 anos.indd 117
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
ficando em Campos aqueles que desejaram, e os demais indo fazê-lo em unidades hospitalares de outras cidades. O processo de reconhecimento da Faculdade foi montado na gestão do Professor Ewerton Paes da Cunha. Nas vésperas de sua apreciação no Conselho Federal de Educação, foi solicitada pelas direções da Faculdade e da Mantenedora, mais uma vez, a colaboração das Professoras Zuleima de Oliveira Faria, Isabel Maria de Freitas Sodré, Maria Thereza da Silva Venancio e ainda do Professor Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, para acompanhar a tramitação, em Brasília. Em 13 de dezembro de 1972, o Conselho Federal de Educação aprovou, por unanimidade, o reconhecimento da Faculdade de Medicina de Campos. Isso permitiu que, no dia imediato, o Presidente da Fundação Mantenedora, quando da formatura da primeira turma da Faculdade, perante uma assistência que lotava todas as dependências do antigo Cine Teatro Trianon, pudesse afirmar: Hoje, oito anos após os estudos iniciais, estamos reunidos, tomados do mesmo entusiasmo, para assistir nesta noite que passará certamente à história da cidade, à cerimônia de conclusão de curso da primeira turma de médicos formados em Campos. Que o caráter oficial desta hora não apague o brilho de uma festa que não é só vossa, não é só de vossos pais e das pessoas que vos são caras, mas é da cidade inteira. Campos está em festa e agradecida a todos aqueles que concorreram, muitas vezes anonimamente, para que uma ideia, que até pareceu poética, se concretizasse de forma irreversível. Agradecida à ajuda de muitos de vós que aqui comungam conosco desta alegria e de muitos outros que não puderam comparecer, educa118
_SFMC_90 anos.indd 118
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
dores e autoridades de ensino, Ministros de Estado, Governadores, Legisladores, Prefeitos, dirigentes de hospitais, homens de empresa e também de tantos e tantos cidadãos. Graças a esse trabalho infatigável e incessante de todos, a Fundação Benedito Pereira Nunes e a Faculdade de Medicina de Campos têm o seu júbilo aumentado neste momento ao poder afirmar que, com o reconhecimento de nossa Escola pelo Conselho Federal de Educação na tarde de ontem, dia 13 de dezembro de 1972, em Brasília, viram cumprida a última etapa do processo de implantação e coroados de êxito todos os compromissos por nós assumidos perante a comunidade e as nossas consciências. O segundo mandato do Professor Ewerton Paes da Cunha e dos demais Diretores obedeceu aos preceitos regimentais e estatutários da Faculdade e de sua Mantenedora. O Professor Ewerton Paes da Cunha, com sua experiência e inteligência, deu uma contribuição expressiva à consolidação da Faculdade. ••• • Professor Décio Lobo de Azevedo – de abril de 1973 a outubro de 1976. Professor Titular de Tisio-pneumologia, Membro da Academia Fluminense de Medicina, onde ocupou a cadeira do Dr. Luiz Sobral, era também membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Teve apreciável atuação como Diretor do Hospital Ferreira Machado e como Diretor Clínico do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência. Foi Chefe do Dispensário Augusto Guimarães, no Centro de Saúde, cargo que ocupou da inauguração até sua morte. Este 119
_SFMC_90 anos.indd 119
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
último serviço tornou-se uma referência no tratamento da tuberculose na região. Integrou a Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes e participou ativamente da criação da Faculdade de Medicina de Campos. O ensino da Medicina Hospitalar vinha se processando em várias clínicas, desde o início da Faculdade, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Inesperadamente, na gestão do Professor Décio Lobo de Azevedo, a Provedoria da Santa Casa resolveu cobrar pelo ensino lá realizado. Seriam fixados valores idênticos aos da Previdência Social, em todos os exames de laboratório, de raios X, assim como no material empregado no Centro Cirúrgico em todos os pacientes a que os alunos tivessem acesso. O número de pacientes indigentes era, na época, muito grande, e a Faculdade não tinha recursos para arcar com essas despesas. Testemunhamos todos a paciência e a tolerância com que o Dr. Décio Lobo de Azevedo tratou do problema nas várias reuniões que manteve com a Provedoria da Santa Casa. Na última dessas reuniões com a Provedoria, o Conselho Diretor da Faculdade, a Diretoria da Fundação Mantenedora e a Inspetora Federal da época, foram oferecidas várias opções, inclusive a de se realizar o ensino nas enfermarias destinadas ao tratamento dos previdenciários. Todas essas opções foram recusadas pelo Provedor. A Faculdade não tinha recursos para arcar com mais essa despesa, sendo então forçada a transferir o ensino realizado naquele Hospital para o Hospital dos Plantadores de Cana. Contou-se, para isso, com a colaboração do Diretor Superintendente deste último Hospital, Dr. Roosevelt Chrisóstomo de Oliveira, e do seu Diretor Clínico, Dr. Jacinto Simões. Foram notáveis o trabalho e a habilidade do Diretor, 120
_SFMC_90 anos.indd 120
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
Professor Décio Lobo de Azevedo, ao evitar descontinuidade na transferência do ensino de um hospital para outro. O Professor Décio Lobo de Azevedo não completou seu mandato, licenciando-se em outubro de 1976, sendo então substituído pelo Vice-Diretor, Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva. ••• • Professor Luiz Carlos Mendonça da Silva – De outubro de 1976 a abril de 1985 Professor Titular de Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina de Campos, de 1972 a 1996. Ex-Professor Assistente, de 1971 a 1972, e Professor Emérito a partir de 1997. Profissional de reconhecida competência, apresenta um admirável currículo: membro da Comissão Nacional do Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, de 1976 a 1979; especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), em 1964; presidente do Comitê de Ensino da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (TEGO), em 1969; membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões - CBC; sócio da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia; sócio benemérito da Fundação Benedito Pereira Nunes; sócio fundador e membro permanente do Conselho Deliberativo da extinta Liga Campista e Norte Fluminense de Combate ao Câncer, entidade instituidora do Hospital Álvaro Alvim; chefe do Serviço de Obstetrícia e assistente de cirurgia do Hospital dos Plantadores de Cana, de 1963 a 1992; chefe do Serviço de Obstetrícia do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos; médico da Previdência Social, no período de 1952 a 1977. Exerceu a Medicina em cargos não-remunerados, nas enfermarias Santa Inácia e Santa Clara, da Santa Casa de Misericórdia de Campos, de 1952 a 1967; desenvolveu, ainda, atividades médicas não-remuneradas na 121
_SFMC_90 anos.indd 121
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
Policlínica Admardo Torres, na Maternidade Zina Duarte e no Hospital Infantil Dr. Pereira Nunes — unidades da Fundação Benedito Pereira Nunes — onde chefiou os Serviços de Ginecologia, Cirurgia Geral e Cirurgia Infantil, de 1955 a1963; participou de inúmeras reuniões científicas e de vários congressos nacionais, na especialidade que exerce; teve também participação importante na implantação da Faculdade de Medicina de Campos, fato já ressaltado neste relato. No período em que dirigiu a Faculdade, o Professor Luiz Carlos, com inteligência, firmeza e determinação, conseguiu, através de reformulações curriculares — especialmente com o remanejamento de disciplinas da quinta série para a série anterior —, colocar o alunado mais precocemente na Prática Intensiva Hospitalar, dado indispensável para a melhoria do Internato. Em sua gestão, foi criado o LEME (Laboratório de Ensino Médico), órgão encarregado de promover cursos específicos para Monitores, visando a despertar novas vocações docentes e também ao aperfeiçoamento de recursos humanos, quer promovendo Cursos de Atualização na área Pedagógica, quer estimulando docentes a frequentarem os cursos de PósGraduação em outros centros. Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva concentrou esforços no sentido de elevar o padrão do processo ensino-aprendizagem, contribuindo indiscutivelmente para aprimorar a formação do Profissional de Medicina. Ainda na Direção da Faculdade, pudemos testemunhar a admirável ação do Professor Luiz Carlos como principal articulador do movimento que levou a incorporação do Hospital Álvaro Alvim à Fundação Benedito Pereira Nunes. À gestão do Professor Luiz Carlos Mendonça da Silva sucedeu o Professor Luiz Augusto Nunes Teixeira. ••• 122
_SFMC_90 anos.indd 122
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
• Professor Luiz Augusto Nunes Teixeira – De abril de 1985 a janeiro de 1986. Professor Titular de Dermatologia da Faculdade que ele ajudou, de maneira decisiva, a criar, trabalhou como Dermatologista em Enfermarias do Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência e da Santa Casa de Misericórdia de Campos. Na Previdência Social, ocupou vários cargos de chefia. Oficial Médico da Polícia Militar, foi condecorado com a Medalha Tiradentes, por serviços prestados àquela instituição. Obteve o título de livre-docente em Dermatologia, em prova pública de habilitação, em 1975, na Universidade Federal Fluminense. Participou da Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes. Foi presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, de 1979 a 1981, e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Seção do Rio de Janeiro, em 1973. Atuou como delegado nacional do Brasil no Colégio Ibero-LatinoAmericano de Dermatologia, de 1980 a 1983. Participou de inúmeras reuniões e congressos médicos no Brasil e também no exterior — Argentina, Portugal, Estados Unidos, China e outros países. Foi um dos fundadores da Clínica Santa Maria e do Instituto de Medicina Nuclear. Apresentou várias comunicações científicas em Congressos e publicou muitos trabalhos sobre sua especialidade. Liderou movimentos que resultaram na criação de grande número de obras comunitárias e religiosas, destacando-se a Casa do Estudante Universitário – CEU —no bairro do Matadouro, e a Casa de Orações, na Tapera, que leva o seu nome e em cuja capela ele foi, a seu pedido, sepultado. Inteligente, minucioso, detalhista, simpático, alegre e muito comunicativo, conseguiu, nos poucos meses em que ocupou a direção da Faculdade, realizar uma grande abertura no relacionamento com professores, alunos e funcionários. Sua morte, em 25 de janeiro de 1986, criou um clima 123
_SFMC_90 anos.indd 123
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
de imensa consternação entre todos que com ele conviveram. A Faculdade de Medicina de Campos, e por que não dizer, a cidade perdia, naquele momento, um grande realizador. Em seguida, o Professor Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, Vice-Diretor, assumiu a direção da Faculdade de Medicina de Campos. ••• • Professor Osvaldo da Costa Cardoso de Melo – De janeiro de 1986 a abril de 1993. Professor titular de Clínica Oftalmológica da Faculdade, de cuja fundação participou intensamente. Integrou a banca examinadora de concurso para professor titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da UNIRIO, em 1973. É membro emérito da Sociedade Brasileira de Oftalmologia; membro do Instituto Barraquer, de Barcelona, na Espanha, desde 1961. Foi residente no Wills Eye Hospital, na Philadelphia, Pensylvania, USA, de 1956 a 1958. Ainda nos Estados Unidos: Fellow do American College of Surgeons, desde 1974, da American Academy of Ophtalmology, desde 1982, e da New York Academy of Sciences, New York, NY, desde 1991. Como conferencista estrangeiro convidado, participou do Congresso da Pan-Pacific Surgical Association, em 1975, em Honolulu, Havaí. Foi o primeiro Presidente da Sociedade Campista de Oftalmologia, em 1972, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), desde o mesmo ano e da Academia Nacional de Medicina, desde 1974. Ocupa, na Academia Fluminense de Medicina, desde 1975, a cadeira que leva o nome de seu pai, Osvaldo Luiz Cardoso de Melo. Em 1973, tornou-se o primeiro Vice-Presidente da Regional Norte Fluminense do CBC. Desde 1992, ocupa a cadei124
_SFMC_90 anos.indd 124
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
ra Barros Terra, da Academia Brasileira de Medicina Militar. Em sua gestão foi realizada a ampliação e inauguração da Biblioteca “Luiz Augusto Nunes Teixeira”, assim como a comemoração dos 25 anos da Faculdade com uma sessão solene no Palácio da Cultura. Dr. Osvaldo foi responsável, ainda, pela organização do 1º Congresso de ex-Alunos da Faculdade, no Ginasinho do Automóvel Clube Fluminense, quando temas importantes foram apresentados e debatidos por vários daqueles que freqüentaram nossa Faculdade e que pontificam nas atividades assistencial e docente em diversas cidades do país. Também idealizou o Projeto Aldeia, com os objetivos de colocar os alunos em contato com uma comunidade carente e de realizar suas atividades práticas, além de tentar aprimorar os hábitos daquela população. Teve preocupação permanente com os exalunos, no sentido de trazê-los de volta à Faculdade, para que não perdessem o vínculo afetivo e colaborassem na reflexão de eventuais problemas. Ao Professor Osvaldo da Costa Cardoso de Melo sucedeu o Professor Jair Araújo Junior. ••• • Professor Jair Araújo Junior. De abril de 1993 a março de 2005. A Faculdade, desde abril de 1993, tem como Diretor um de seus ex-alunos: Professor Jair Araújo Junior, Titular da Disciplina de Anatomia. Seu Conselho Diretor conta, ainda, como ViceDiretora, com a ex-aluna Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu, Titular das Disciplinas de Biologia e Histologia. Excetuando-se o Prof. Paes da Cunha, até esta data a Faculdade foi dirigida por Professores que participaram dos trabalhos de sua implantação. 125
_SFMC_90 anos.indd 125
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
A ascensão do Professor Jair e da Professora Annelise Maria aos cargos superiores da Administração da Faculdade deu àqueles que a implantaram, e aos que a dirigiram até o momento, a convicção de que o grande legado moral e intelectual de nossa Casa de Ensino já se tornou uma tradição e será preservado. Essa convicção se alicerça no fato de terem tido, o Diretor e a Vice-Diretora, no seu aperfeiçoamento docente, a importante contribuição de dois grandes Educadores Médicos: Maurício Moscovici e George Bittencourt Doyle Maia; alicerça-se no responsável desempenho de ambos em suas funções. Alicerça-se, também, na atuação que teve o Professor Jair Araújo Junior ao organizar o bem sucedido Congresso de Ensino Médico, nas comemorações do 30º Aniversário da Faculdade. A Sessão Solene deste evento, de rara beleza, reuniu, nos Jardins da Vila Maria, Professores, ex-Professores, Alunos e grande número de ex-Alunos e Funcionários, num grande e inesquecível congraçamento. Fundamenta-se essa certeza, ainda, no grande número de medidas implementadas pelo Diretor no sentido de continuar o aprimoramento da Docência, com a realização de vários cursos, visando sempre a elevar o padrão do ensino-aprendizagem. O Dr. Jair Araújo Junior prosseguiu, dessa forma, a conduta que sempre norteou a Direção da Faculdade de Medicina de Campos e de sua Mantenedora, desde os primeiros anos de funcionamento. ••• Nota do revisor: Com o falecimento do Dr. Geraldo da Silva Venancio, em 22 de julho de 2002, os textos relativos ao periodo final da administração do Dr. Jair Araújo Junior (em outra parte do livro) e da administração do Dr. Nélio Artiles Freitas foram escritas pelos próprios. 126
_SFMC_90 anos.indd 126
9/1/2012 23:24:53
SFMC 90 anos de história
••• RELAÇÃO DO CORPO DOCENTE em 2001 e comentários do Dr. Geraldo da Silva Venancio O quadro a seguir relaciona os professores titulares e suas respectivas disciplinas, com ex-professores, e professores atuais. Professor atual: Ex-professores: Professora atual: Ex-professor: Professor atual: Ex-professor: Professor atual: Ex-professor:
Anatomia Jair Araújo Junior Rogério Benevento Ronald Alonso da Costa Maurício Moscovici Biologia Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu George Bittencourt Doyle Maia Bioquímica Antonio José Magalhães da Silva Moreira Mauro Sérgio Operti Biofísica Antonio José Magalhães da Silva Moreira Lafayette Rodrigues Pereira 127
_SFMC_90 anos.indd 127
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Higiene e Medicina Preventiva e do Trabalho I Professor atual: Cesar Ronald Pereira Gomes Ex-professores: José Rodrigues Coura Aírthon Clausen Délio Câmara da Costa Alemão Renato Moretto Higiene e Medicina Preventiva e do Trabalho II Professor atual: Erik Schunk Vasconcelos Ex-professores: José Rodrigues Coura Aírthon Clausen Délio Câmara da Costa Alemão Renato Moretto Nedilson de Oliveira Lariú Histologia
Professora atual: Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu Ex-professores: Bruno Alípio Lobo George Bittencourt Doyle Maia Estudo de Problemas Brasileiros Ex-professor: Paulo de Oliveira Rodrigues Farmacologia e Terapêutica Experimental Professor atual: Luiz Fernando de Oliveira Ex-professor: Lauro Sollero 128
_SFMC_90 anos.indd 128
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Professor atual: Ex-professor: Ex-professor:
Fisiologia Miguel de Lemos Neto Lauro Sollero Psicologia Médica Paulo Sérgio Lima e Silva
Anatomia e Fisiologia Patológicas
Professora atual: Ex-professores: Professor atual:
Eliane Pedra Dias José Maria Pinto Barcellos Honor de Lemos Sobral Diagnóstico Clínico Edino Jurado da Silva Yussef Bedran
Microbiologia e Imunologia Ex-professor: Ex-professor: Professor atual: Ex-professor:
Nérton Pinto Fernandes Távora Parasitologia José Otílio Leite Machado Clínica Médica Geraldo Augusto Pinto Venancio Yussef Bedran 129
_SFMC_90 anos.indd 129
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Ex-professor:
Anestesiologia Antônio Pedro Serrão Clínica Cirúrgica
Professor atual: Fernando Manoel Paes Leme Ex-professores: Guilherme Eurico Bastos da Cunha Geraldo da Silva Venancio Edson Batista Renan Catharina Tinoco Clínica Ortopédica e Traumatológica Professor atual: João Peralva Bousquet Ex-professor: Hervé Linhares Machado Professor atual: Ex-professor:
Clínica Urológica Rubem de Andrade Arruda Nilton Vehnovitsky
Clínica Otorrinolaringológica Professor atual: Magid Abud Ex-professores: Osvaldo Luiz Cardoso de Melo Luiz Rogério Pires de Melo Clínica Oftalmológica Ex-professor: Osvaldo da Costa Cardoso de Melo 130
_SFMC_90 anos.indd 130
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Clínica Ginecológica Professor atual: Ex-professor:
Dib Abdalla Chacur Jean Claude Nahoun
Clínica Obstétrica Professor atual: Aldo Franklin Ferreira Reis Ex-professores: Paulo Belfort Aguiar Luiz Carlos Mendonça da Silva Clínica Pediátrica e Puericultura Professor atual: Renato Alves Moretto Ex-professor: Alberto Amin Professor atual: Ex-professor:
Clínica Psiquiátrica Maurício Lobo Escocard Glauco Octavio Prunes
Medicina Legal e Deontologia Professor atual: Fernando de Carvalho Vasconcellos Ex-professor: Ewerton Paes da Cunha Clínica Radiológica Ex-professor: Miguel Callil Issa
131
_SFMC_90 anos.indd 131
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Clínica Tísio-Pneumológica
Ex-professor:
Professor atual: Ex-professor:
Décio Lobo Azevedo Educação Física Osvaldo Luiz Cardoso de Melo Neto Fernando Fritsch Duncan
Clínica Dermatológica Professor atual: João Luiz Matos de Almeida Ex-professores: Oswaldo Serra Luiz Augusto Nunes Teixeira Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias Professor atual: Nélio Artiles Freitas Ex-professores: Norton de Figueiredo Walter Tavares ••• Surpreendeu a muitos o fato de a Faculdade de Medicina de Campos ter iniciado seu funcionamento com um corpo docente altamente qualificado, reunido pelos implantadores, os quais se constituíam de médicos bem sucedidos na medicina assistencial, mas sem vivência na atividade docente. Ao corpo docente convidado apresentou-se um projeto muito bem formulado, mostrando a seriedade com que se implantava a Faculdade, o que despertou, certamente, em cada um dos seus integrantes um admirável desejo de colaboração. 132
_SFMC_90 anos.indd 132
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Os organizadores da Faculdade já sentiam a necessidade de ter professores que transmitissem know-how àqueles que iriam iniciar atividades docentes, professores que preparassem os seus continuadores. ••• Do universo de 124 docentes exercendo atividade, atualmente, na Faculdade, 67 são nossos ex-alunos. Isso foi possível graças à eficiência dos vários dirigentes da Faculdade, ao corpo de funcionários técnico-administrativos, mas, sobretudo, graças ao permanente cuidado com a seleção dos professores. Assistimos à grande maioria dos 2281 graduados em nossa Faculdade pontificarem na docência ou na atividade assistencial, nas diversas comunidades onde trabalham, merecendo o respeito e a confiança de seus concidadãos. Assim, vários médicos que iniciaram sua docência em nossa Faculdade tornaram-se conhecidos em outras cidades do país. Acrescente-se, ainda, que três deles apresentaram conferências a convite de Associações Internacionais. Comungamos com aqueles que acreditam ser esta a melhor maneira de se avaliar uma Faculdade de Medicina. Julgamos não ser demais repetir o pronunciamento feito no Dia do Professor, na comemoração dos 10 anos da Faculdade, em 1977, quando reverenciamos todos os Mestres. Externávamos, naquela oportunidade, um pensamento não só nosso, mas, acreditamos, de todos os dirigentes da Mantenedora e da Faculdade: Tenho a mais profunda certeza de que nenhuma Organização Educacional, por mais bem estruturada que seja, atingirá altos padrões, se não 133
_SFMC_90 anos.indd 133
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
dispuser de corpo docente bem formado e capaz das adequadas condições de desempenho. As responsabilidades inerentes à função do Professor são extremamente graves e se tornam cada vez mais complexas num momento histórico, caracterizado pela velocidade e pela pressa, em que tudo parece transitório e efêmero. Todos aqueles que se dedicam às tarefas do ensino, e particularmente às do ensino universitário, não encontram respostas às suas perplexidades e às interrogações que surgem a cada passo do exercício de suas funções. Questionam-se os métodos e técnicas de ensino. Questiona-se o conteúdo sob o ângulo do rigor científico. Questiona-se a adequação entre o conteúdo e a forma de transmiti-lo. No contexto universitário, o professor não pode converter-se em simples máquina de formar técnicos. Compete-lhe, irreversivelmente, completar a formação do ser humano, promovê-lo, libertá-lo, desenvolver seu espírito crítico e conduzi-lo à plenitude de suas potencialidades mentais, espirituais e físicas. Na Universidade, e muito especialmente numa Faculdade de Medicina, o jovem deve fortalecer sua capacidade de convivência com seus semelhantes, deve aprender a adaptar-se às mutações sociais e a conservar-se fiel ao permanente e imutável da condição humana. Nessa ordem de considerações, conclui-se ser incomensurável a dívida da Escola com os seus professores. Acrescente-se, no caso de alguns médicosprofessores, a circunstância de, residindo eles em outras cidades, terem de se deslocar com freqüência a 134
_SFMC_90 anos.indd 134
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Campos, certamente com grande sacrifício pessoal. Consciente de que não basta a adequação das instalações e do equipamento, de que não basta a excelência dos vários laboratórios, a Fundação Benedito Pereira Nunes, na medida de suas possibilidades, sempre procurou favorecer o aperfeiçoamento do pessoal docente em cursos de Pós-Graduação, tendo mesmo instituído um fundo especial para preparação de professores do ciclo básico. Reverenciamos, ainda, o educador e são vários no corpo docente de nossa Faculdade: (....) aqueles que não se restringem às funções didáticas na sala de aula, porque eles são conscientes de que educar é formar a inteligência, o coração e o espírito. Eles são conscientes de que, mais do que com palavras, a atuação do educador se exerce pelos seus gestos, pelas suas atitudes, pela sua vida. Eles são conscientes de que devem colocar, sempre, em todos os setores colegiados de que participarem, sua capacidade de liderança, seu equilíbrio, sua inteligência, sua experiência a serviço da moderação e da paz. • Professor Nélio Artiles Freitas Em março de 2005, assume a direção da instituição o Prof. Nélio Artiles Freitas, também ex-aluno desta Faculdade. Com graduação em medicina pela Faculdade de Medicina de Campos (1984) e mestrado em medicina (Doenças Infecciosas e Parasitárias) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), Nélio Artiles Freitas, é atualmente é chefe do serviço de DIP do 135
_SFMC_90 anos.indd 135
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Hospital Ferreira Machado, professor titular da disciplina Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina de Campos. É membro da Câmara Técnica de DIP do CREMERJ, representante do CREMERJ na Seccional Campos dos Goytacazes, membro da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia de Campos, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, da Sociedade Brasileira de Imunização, Coordenador Regional Norte Fluminense da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro e Presidente do FIDESC (Fórum dos Dirigentes do Ensino Superior de Campos). Sua diretoria é formada pelos seguintes membros: Diretor-Geral: Nélio Artiles Freitas Vice-Diretora: Maria das Graças Sepúlveda C. e Campos Diretor Acadêmico: Paulo Gustavo Araújo Diretor Administrativo: Luiz Fernando da Silva Prado Coordenador de Pós-Graduação: Abdalla Dib Chacur Coordenadora de Pesquisa: Regina Célia de Souza Campos Fernandes Coordenadora de Extensão: Vera Lúcia Marques da Silva Coordenador de Graduação do Curso de Medicina: Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos Coordenador de Graduação do Curso de Farmácia: Carlos Eduardo Faria Ferreira Coordenador de Estágio: Márcio Sidney Pessanha de Souza Coordenador de Egressos: Gilson Gomes da Silva Lino. A gestão do Prof. Nélio Artiles Freitas tem compromisso com a formação de médicos e farmacêuticos que sejam mais que profissionais de saúde — verdadeiros cidadãos, para a formação de uma sociedade mais justa e humana. Exerce uma gestão participativa e humanística, onde o foco maior é a formação acadêmica que valorize o ser humano. Teve como marco de sua gestão a reestruturação admi136
_SFMC_90 anos.indd 136
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
nistrativa, que proporcionou grande crescimento institucional e grande equilíbrio econômico e financeiro. Desenvolveu importantes avanços na área pedagógica, como a implantação do internato em dois anos, com a participação de todos os alunos na rede conveniada do SUS, permitindo um grande aprendizado da prática médica. Destaque também para a comemoração dos 40 anos de existência da FMC, onde tivemos momentos festivo que envolveram todos os segmentos da Escola. Mantém como atividades permanentes: Semana Científica e Pedagógica, Encontro de Ex-alunos, incentivo a pesquisa, Semana Cultural com Sarau, mostras de cinema, concurso de pintura em tela, entre outras atividades. Outro marco importante de sua gestão foi a criação do projeto Bairro Saudável, que é sediado pelo CSEC/Custodópolis/ FMC, voltado para a comunidade de Custodópolis e envolvendo várias instituições de ensino de Campos, tendo como objetivo tornar o CSEC um grande Centro Interdisciplinar, com a participação efetiva de mais de 8 (oito) IES de Campos, melhorando a qualidade de vida de mais de 10mil pessoas. Este projeto ganhou o Prêmio Nacional de Gestão Educacional-PNGE 2010, entre 59 escolas do país, trazendo então um reconhecimento nacional para a FMC naquele ano. Em março de 2011 recebeu o Prêmio GEDUC-PNGE 2011, como Gestor Educacional do Ano, que reconhece o desempenho das instituições de ensino no Brasil e valoriza o trabalho do Gestor Educacional, com a missão de incentivar e valorizar práticas eficazes de gestão educacional no Brasil. Grandes mudanças estruturais aconteceram na escola, tais como: reforma da recepção, mudança do piso da área interna, criação do Laboratório de Habilidades e, em fase de implantação, a Farmácia Escola, entre outras. Outro grande destaque foi a mudança completa na forma de receber os calouros, abolindo de vez o trote vexatório, transformando-o em 137
_SFMC_90 anos.indd 137
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
uma semana de atividades saudáveis, com ações culturais e de cidadania, como doação de sangue e arrecadação de alimentos para doação a instituições de caridade. Desta forma prossegue sua gestão com a mesma filosofia que motivou a implantação de nossa escola, respeitando a tradição e sempre buscando proporcionar um ensino de qualidade para formação de médicos e farmacêuticos diferenciados, tanto no conhecimento técnico como nos preceitos éticos e morais. RELAÇÃO DE PROFESSORES TITULARES - 2011 1ª SÉRIE Anatomia I Prof. Jair Araújo Junior Biologia Profª. Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu Histologia Profª. Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu Bioquímica Prof. Antonio José Magalhães da Silva Moreira Fisiologia I Prof. Miguel de Lemos Neto Imunologia Básica Prof. Valmir Laurentino Silva 138
_SFMC_90 anos.indd 138
9/1/2012 23:24:54
SFMC 90 anos de história
Saúde Coletiva I Prof. Cesar Ronald Pereira Gomes Saúde Coletiva Ii Prof. Erik Schunk Vasconcelos Metodologia Científica I Profª Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos Integração/Morfofisiologia Profª Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu Saúde Mental Prof. Maurício Lobo Escocard 2ª SÉRIE Semiologia Prof. Edino Jurado da Silva Fisiologia Ii Prof. Miguel de Lemos Neto Farmacologia I Prof. Miguel de Lemos Neto Saúde Mental Ii Prof. Maurício Lobo Escocard Metodologia Científica Ii Profª Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos 139
_SFMC_90 anos.indd 139
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Microbiologia Geral e Médica Prof. Nérton Pinto Fernandes Távora Parasitologia Geral e Médica Prof. José Otílio Leite Machado Patologia Geral Profª Maria Auxiliadora Peixoto Peçanha Anatomia Ii Prof. Jair Araujo Júnior Saúde Coletiva Iii Prof. Erik Schunk Vasconcelos Imagenologia I Prof. João Bosco de Queiroga Lopes 3ª SÉRIE Clínica Médica Prof. Geraldo Augusto Pinto Venâncio Farmacologia Ii Prof. Miguel de Lemos Neto Dermatologia Prof. João Luiz Matos de Almeida Doenças Infecciosas e Parasitárias Prof. Nélio Artiles Freitas 140
_SFMC_90 anos.indd 140
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Imagenologia Ii Prof. João Bosco de Queiroga Lopes Imunologia Médica Prof. Valmir Laurentino Silva Anatomia Patológica Profª Maria Auxiliadora Peixoto Peçanha Habilidades Médicas Profª Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos Farmacologia Aplicada À Clínica Médica Prof. Miguel de Lemos Neto Metodologia Científica Iii Profª Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos Psicologia Médica Prof. Maurício Lobo Escocard Saúde Coletiva Iv Prof. Erik Schunk Vasconcelos 4ª SÉRIE
Ginecologia Prof. Dib Abdalla Chacur
Obstetrícia Prof. Aldo Franklin Ferreira Reis Pediatria Profa. Carmen Célia de Oliveira Azevedo Moretto 141
_SFMC_90 anos.indd 141
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Cirurgia Geral Prof. Fernando Manoel Paes Leme Urologia Prof. Jorge Sabaneef Oftalmologia Prof. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo Otorrinolaringologia Prof. Magid Abud Traumato-Ortopedia Prof. João Peralva Bousquet Psiquiatria Prof. Maurício Lobo Escocard Medicina Legal/Ética/Bioética Prof. Fernando de Carvalho Vasconcellos Metodologia Científica Iv Profª Maria das Graças Sepúlveda Campos e Campos
142
_SFMC_90 anos.indd 142
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
REALIZAÇÕES DA FUNDAÇÃO BENEDITO PEREIRA NUNES EM 25 ANOS: DE 1966 A 1991(*) A Fundação Benedito Pereira Nunes implantou a Faculdade de Medicina de Campos, e, como sua Mantenedora, consolidou-a. Criou para os alunos carentes um Fundo de Bolsas de Estudos, cuja quitaçãocobriria após o término do curso — proposta idealizada pelo Dr. Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, encampada pela Diretoria da Fundação. Esse sistema de crédito educativo, foi pioneiro e, durante algum tempo, único no país. Para que todos possam ajuizar a importância e o resultado do investimento nesses jovens, temos hoje a alegria de verificar que eles, na sua quase totalidade, são médicos bem sucedidos na docência e na medicina assistencial, alguns ocupando cargos importantes na administração pública. Sobre esse fundo dissemos certa vez: (...) calcado exclusivamente no poder da imaginação, estruturado na força dos que crêem nos padrões de honradez dos jovens de todos os tempos, iniciou-se do nada, sem verba própria. Funcionou nos primeiros seis anos graças à compressão de despesas e, sobretudo, à participação desprendida e graciosa de vários médicos, que exerceram, abnegadamente, atividade de magistério em nossa Faculdade. Nos primeiros 25 anos, 141 alunos foram beneficiados por essa bolsa. Todos ressarciram a Fundação, com exceção de um jovem, que, por cultuar a inadimplência como se fosse (*) Texto produzido pelo Dr. Geraldo da Silva Venancio e publicado no livro “80 Anos de História” - 2001
143
_SFMC_90 anos.indd 143
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
a sua religião, deixou de quitá-la. A Mantenedora e sua Faculdade tiveram, desde o início, como já afirmamos, a preocupação com a formação de docentes, criando um fundo de bolsas para seu aperfeiçoamento. Assim, alguns jovens foram beneficiados, mediante um contrato em que assumiam o compromisso de prestar atividade docente na Faculdade, por período igual ao das bolsas concedidas. Outros jovens foram ajudados, dentro das possibilidades da Mantenedora, com o oferecimento de infra-estrutura para realização de pesquisas fundamentais na elaboração de suas dissertações de Mestrado. A Fundação Benedito Pereira Nunes instalou os laboratórios do ciclo básico com material mínimo necessário, incluindo aí o material importado da Alemanha Ocidental e da Inglaterra para os laboratórios de Farmacologia e Fisiologia. Inaugurou a Biblioteca “Luiz Augusto Nunes Teixeira”. Conforme lembramos em 1991: (...) A complacência dos amigos que me reelegeram, por sucessivos mandatos, para a Presidência da Entidade Mantenedora, deu-me oportunidade de participar do crescimento constante da Instituição. Incorporavam-se a cada ano novas realizações, e, dentre elas, destacaria, na fase inicial, o prédio-sede da Biblioteca, do Centro de Medicina Experimental e de dois Anfiteatros. Graças à liderança do Dr. Luiz Augusto Nunes Teixeira, mais uma vez a comunidade mobilizou-se para colaborar nessa construção. Em 1977, a Fundação contratou a firma CustosOrganização e Métodos Ltda., para ordenar a administração de forma atualizada e racional. Em 1985, recorreu 144
_SFMC_90 anos.indd 144
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
aos serviços da firma Profissionais Liberais Associados Ltda., representada pelo Dr. Renato Faria, para atualizar a administração, uma vez que a Fundação tinha ampliado bastante suas atividades. Contratou a Dra. Letícia Vianna de Alcântara, da última firma mencionada, para relacionar, fichar e numerar todo o patrimônio móvel da instituição. Também foram adquiridos alguns equipamentos que permitiram diagnóstico e tratamento em especialidades até então inexistentes em nosso meio. Assistimos, logo após o início do funcionamento da Faculdade, à criação, pelos alunos, do Diretório Acadêmico Luiz Sobral. Em outubro de 1972, os alunos, liderados pelo então Professor Francisco de Almeida Conte, criaram a SUPEM (Sociedade Universitária de Pesquisa e Ensino Médico), responsável pela co-participação na organização de vários congressos médicos em nossa cidade. Assistimos, ainda, à criação da ADOMEC (Associação de Docentes da Faculdade de Medicina). A Mantenedora sempre teve um grande carinho com essas três instituições, por considerá-las, juntamente com a Direção da Faculdade, as grandes responsáveis por manter a tradição de nossa Escola. Em 1979, por deliberação de uma Assembléia que contou com a participação da Presidente da Liga Campista e Norte Fluminense de Combate ao Câncer, a grande benemérita de nossa cidade —Dra. Josepha de São Paulo Meirelles — e de inúmeros segmentos da nossa sociedade, a Fundação Benedito Pereira Nunes incorporou ao seu patrimônio o Hospital Álvaro Alvim — em fase de construção — e assumiu, em conseqüência, as dívidas da mencionada Liga. O movimento de incorporação do citado Hospital à 145
_SFMC_90 anos.indd 145
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Fundação, iniciado numa conversa informal na Vivenda Dom Bosco, na Praia de Atafona, entre a Presidente da Liga e Diretores da Fundação Benedito Pereira Nunes, teve, conforme já dissemos, como principal articulador o Diretor da Faculdade de Medicina de Campos, Dr. Luiz Carlos Mendonça da Silva. Embora sem auferir recursos advindos de qualquer esfera governamental, a Fundação saldou o débito da Liga Campista e Norte Fluminense de Combate ao Câncer, concluiu a área física do Hospital, reequipou os laboratórios de Análises Clínicas e de Anatomia Patológica e Citopatologia, promoveu a instalação de dezesseis consultórios médicos, implantou os serviços de Ultra-Sonografia, Endoscopia Digestiva, Eletrocardiografia e Radiologia, comprando, para este último serviço, dois aparelhos de Raios-X. Adquiriu, ainda, importantes equipamentos fundamentais para a instrumentação física do Hospital, podendo aqui serem citados: refrigeração setorizada do centro cirúrgico, um grande gerador e a casa de força, a central de vácuo, a central de ar comprimido, um elevador, um incinerador de lixo, as caldeiras, uma lavanderia completa com barreiras, os focos centrais das cinco salas de cirurgia e ainda uma cozinha industrial. Colocou em funcionamento dezesseis ambulatórios, com atendimento em torno de dez mil consultas/mês. Todas essas conquistas criaram as condições que facilitaram às diretorias que se sucederam colocar em funcionamento pleno o Hospital Álvaro Alvim. Recuperando a Assistência Médica Ambulatorial e Hospitalar — interrompida desde 1962, por falta de recursos — e já com a Faculdade de Medicina em pleno funcionamento, a Fundação Benedito Pereira Nunes via 146
_SFMC_90 anos.indd 146
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
cumpridas todas as suas finalidades estatutárias. Em 1986, surgiu uma chapa para disputar a eleição que se realizaria em março. Fui sensibilizado por um grupo de médicos, professores e ex-alunos da Faculdade a concorrer, pleiteando mais um mandato, para dar continuidade ao trabalho até ali realizado. Fui reeleito com votação grandemente expressiva, numa Assembléia inesquecível, que reuniu professores, médicos, ex-alunos e pessoas representativas da comunidade. Entendi que a comovente manifestação dos amigos representava a aprovação do trabalho realizado naqueles 20 anos pelas várias diretorias por mim presididas. Proclamado o resultado, as diretorias do Diretório Acadêmico e da SUPEM, incorporadas, apresentaram cumprimentos à Diretoria eleita. Confirmava-se, assim, a aprovação do corpo discente, também, por seus órgãos representativos, ao trabalho até ali realizado pela Fundação. Nos primeiros anos de funcionamento da Faculdade, a Fundação recebeu verbas da área estadual, nos Governos Theotônio Ferreira de Araújo, Geremias de Matos Fontes e Raymundo Padilha. Nestes dois últimos Governos, teve a ajuda do economista Rinaldi da Silva Venancio, que ocupou cargos importantes naqueles períodos governamentais. Na área federal, a verba prometida, inicialmente, e não paga pelo então Ministro da Educação, passou a constar posteriormente em dois orçamentos com a ajuda do Coronel Renato Póvoa e do economista campista Dilson Queiroz, o qual ocupava alto cargo no Governo Costa e Silva. No término das minhas atividades na Fundação Benedito Pereira Nunes, tive a oportunidade de apresentar: 147
_SFMC_90 anos.indd 147
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Os meus agradecimentos a todos quantos nesta casa trilharam comigo um caminho que teria sido muito mais árduo, não contasse eu, não apenas ao meu lado, mas impulsionando-me adiante, com notável grupo de competentes companheiros, principais responsáveis pela minha presença num capítulo importante da história da Medicina de Campos por mais de duas décadas. Agradeço aos integrantes do Conselho Supremo, do Conselho Curador, da atual Diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes e das Diretorias anteriores. Agradeço de maneira especial ao Professor Nilson Lobo de Azevedo que, durante 25 anos, foi o Consultor Jurídico da Fundação. O fato de não ter nenhuma remuneração, não impediu a sua freqüência constante. Com sua experiência jurídica e administrativa e seu extremo bom senso, contribuiu, de maneira eficiente, para solucionar inúmeros problemas da Instituição. Agradeço a todos os Diretores da Faculdade de Medicina de Campos, a todos os Funcionário, e aqui dirijo uma palavra especial àqueles mais antigos, que fazem parte da história da Instituição. Agradeço aos Professores da Faculdade de Medicina de Campos, aos de hoje, aos de ontem e aos que já se foram. Agradeço aos alunos de agora e de todos esses anos. Reverencio aqueles que tanto nos ajudaram e que já não estão entre nós: os Diretores Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, Ewerton Paes da Cunha, Décio Lobo de Azevedo e Luiz Augusto Nunes Teixeira. Reverencio, ainda, com reconhecimento especial, os funcionários Antonio Francisco Reis de Souza, Célio 148
_SFMC_90 anos.indd 148
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Brito Pinto e sua esposa, Professora Zeneth Pires Pinto. Difícil agradecer, sem diminuir, a tão imenso contingente de pessoas que lutaram comigo e por mim, às quais credito a convicção de que só se constrói uma grande obra através do trabalho partilhado por muitos de forma organizada e responsável. Louvo a iniciativa do Presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia — Dr. Francisco Conte — de constituir um grupo para relatar a história da Instituição. Agradeço a honrosa indicação do meu nome para ser autor de um dos capítulos de tão importante documento. Foi a oportunidade para constatar que a Fundação Benedito Pereira Nunes é responsável por 535 postos de trabalho nas duas Instituições por ela mantidas: a Faculdade de Medicina (516 alunos) conta com 124 professores e 65 funcionários técnico-administrativos e o Hospital Álvaro Alvim, com 234 funcionários administrativos e 112 entre médicos, técnicos e enfermeiros. Oportunidade de vivenciar o extraordinário trabalho dos médicos de Campos durante várias décadas. Eles estiveram presentes para solucionar ou ajudar na solução dos vários problemas de saúde surgidos em todos esses anos — atividades exercidas, na maioria das vezes, sem nenhuma remuneração. Assim, lembro-me de que, na década de 50, durante 10 anos, dois cirurgiões carregaram sobre seus ombros a responsabilidade maior no atendimento das urgências cirúrgicas dos indigentes da Santa Casa de Misericórdia. Nos dez anos seguintes, essa responsabilidade foi partilhada também com outros cirurgiões. Em 1963, quando da inauguração do Hospital dos Plantadores de Cana, foi convocado pelo seu Diretor Superintendente, Sr. Alcides Venancio, e seu Diretor Clínico, 149
_SFMC_90 anos.indd 149
9/1/2012 23:24:55
SFMC 90 anos de história
Dr. Ary Viana, um pequeno grupo de médicos para iniciar o tratamento ambulatorial e hospitalar de parcela expressiva da população do nosso Município, constituída por pequenos fornecedores de cana e operários da lavoura canavieira. Resolveu-se, assim, um grande problema social. Em 1964, quando a quase totalidade dos funcionários da Santa Casa, entrou em greve, um grupo de médicos assumiu a enfermagem daquele hospital. Um dedicado grupo de senhoras da sociedade, dentre as quais se destacavam várias esposas de médicos, responsabilizou-se pela limpeza daquela Casa de Saúde. O Provedor da instituição, naquela época, Dr. Nilson Lobo de Azevedo, conseguiu, com habilidade, encerrar o movimento paredista em menos de 24 horas. Em 1966, uma grande enchente do Rio Paraíba inundou parte da cidade e parte da área rural. Por solicitação do Prefeito Municipal, a S.F.M.C. assumiu a responsabilidade da Saúde Pública. Equipes de profissionais eram designadas em nossa sociedade para prestar assistência médica e proceder à vacinação dos desabrigados, nos próprios locais em que se encontravam. No final de um dia, voltando, num caminhão, de uma dessas missões no interior, encontro próximo à ponte General Dutra, meu amigo e compadre Dr. João Fernandes, montando um lindo cavalo que ele gentilmente me ofereceu. Aceitei a cortesia e, assim, cheguei, não sem provocar espanto geral, à S.F.M.C., levado por um garboso mangalarga, para dar conta do cumprimento da minha tarefa. Relembro esse episódio, com saudades, pois ele me faz transportar à primeira década da minha vida, passada numa fazenda da Baixada Campista, onde, em meio às peraltices de menino, aprendi a cavalgar e a conviver com as enchen150
_SFMC_90 anos.indd 150
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
tes da Lagoa Feia – tão frequentes por lá, naqueles anos. Em 1967, quando da fusão dos Institutos de Previdência Social, o Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência perdeu inúmeros convênios, sofrendo esvaziamento que poderia levá-lo a ser desativado. Este fato não ocorreu graças à ação diligente de alguns médicos, que criaram, com extrema rapidez, os serviços de Clínica Médica, Obstetrícia, Acidentesde Trabalho e Cirurgia Geral. Rememorar tais fatos me emociona profundamente, por ter eu tido a felicidade de dar minha parcela de participação em todos esses serviços. Oportunidade para reviver as noites indormidas de uma semana de setembro de 1967 em que um grupo de idealistas, integrado por membros da Comissão de Implantação e ainda por familiares e amigos meus, se reunia nas salas de minha residência (repentinamente improvisadas em uma espécie de Secretaria), para organizar o Processo de Autorização da Faculdade. Oportunidade para recordar a tarde de outubro de 1967, quando afirmamos que fazíamos história em Campos. Relembrar a noite de outubro de 1997, em que, como Presidente de Honra do Congresso de Ensino Médico, organizado pela nossa Faculdade para comemorar o seu 30º aniversário, tivemos ocasião de dizer que a história continua, a cada ano, com o êxito, nas disputas em concursos públicos, dos graduados em nossa Faculdade. A história continua com tantas outras atividades e, ainda, com o pleno funcionamento do Hospital Álvaro Alvim. Realmente, a consolidação da Faculdade, o término da área física e a montagem do Hospital Álvaro Alvim exigiram esforço gigantesco da diretoria da Mantenedora, só passível de avaliação por aqueles que dela participaram. A história continua no Hospital Álvaro Alvim, com 151
_SFMC_90 anos.indd 151
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
os setores de Cirurgia Cardíaca, Hemodinâmica, Neurocirurgia e Ginecologia, que se constituem em centros de referência. A história continua com a presença de dois ex-alunos ocupando a Direção e vice-Direção da Faculdade — cargos que ambos exercem com admirável dedicação e competência. A história continua com a eleição dos Drs. Elpídio Manhães, Nilson Guitton, Makhoul Moussallem e Marcos Bruno para Presidentes das Diretorias que me sucederam na Fundação Benedito Pereira Nunes. A história continua com a eleição, para presidir a Fundação Mantenedora, do Professor Wilson Paes, um dos Fundadores da Faculdade de Medicina e seu professor desde a fase inicial — médico com relevantes serviços prestados à nossa cidade. E assim a história continua...
152
_SFMC_90 anos.indd 152
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de hist贸ria
153
_SFMC_90 anos.indd 153
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
Jair Araujo Junior
Cirurgia Geral, Mastologia e Anatomia. Médico, ex-aluno da Faculdade de Medicina de Campos – turma de 1977. Professor Titular de Anatomia da FMC desde 1995. Diretor da Faculdade de Medicina de Campos de 1993 a 2005. Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes de 2006 a 2008. Reeleito para o triênio 2009 - 2012,licenciou-se em 2009. Diretor do Hospital Escola Álvaro Alvim desde 2010. 154
_SFMC_90 anos.indd 154
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
História da Fundação Benedito Pereira Nunes e de suas instituições: Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Escola Álvaro Alvim Jair Araujo Junior E assim a história continuou... O convite feito pela presidente da nossa, sempre, Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, doutora Angela Regina Rodrigues Vieira, e pelos organizadores, representados pelos doutores Wellington Paes e Walter Siqueira, para que eu escrevesse a continuação da magnífica história da Fundação Benedito Pereira Nunes e de suas instituições — Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Escola Álvaro Alvim —, no livro comemorativo dos noventa anos da Sociedade, fez-me agradecido por tamanha honraria e muito preocupado em continuar, à altura, o relato inigualável, na forma e no conteúdo, do Dr. Geraldo da Silva Venâncio, nosso mestre e líder, nesse projeto de desenvolver educação e assistência de qualidade para a saúde da população, principalmente a mais carente. Acredito que a visão que tenho de ex-aluno, professor e ex-diretor da FMC, presidente da FBPN e diretor do HEAA, tenha contribuído para a con155
_SFMC_90 anos.indd 155
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
fiança depositada pelos formuladores do convite, agregando, desde já, a justificativa para o viés de subjetividade apaixonada que nutro por essas instituições, nos mais de 39 anos de convívio diuturno. Assim, dividi a história, a seguir relatada, em módulos, que permitam a compreensão não da fragmentação, mas da relevância das ações de cada instituição, entrelaçadas na harmônica consequência finalística para a saúde. Fundação Benedito Pereira Nunes A Fundação Benedito Pereira Nunes-1961, inicialmente Fundação Policlínica e Maternidade de Campos-1934, após Fundação Policlínica, Maternidade e Hospital Infantil de Campos-1946, nos seus setenta e seis anos de existência, foi dirigida, por presidentes eleitos – 1934 a 1948; pelos Prefeitos de Campos – 1948 a 1960, e novamente por presidentes eleitos – 1961 até os dias de hoje. A história escrita pelo Dr. Geraldo Venancio descreveu, com riqueza de detalhes, o período de 1934 a 1991, término do inesquecível, inigualável e profícuo período de 25 anos em que se dedicou a essa instituição, tendo fundado a Faculdade de Medicina de Campos e incorporado o Hospital Álvaro Alvim, possibilitando a concretização do sonho de contarmos com um hospital comprometido com o ensino e a luta contra o câncer. A seguir, os presidentes e as diretorias que o sucederam foram os seguintes, com seus destaques: •Dr. Elpídio Manhães-Presidente – 1991-1994; Dr. Jacinto Simões-Vice-presidente; Dra. Afaf Ibrahim Khenaifes-1ª secretária; Dr. Paulo André Chaves-2º secretário; Sr. Décio Alencar-1º tesoureiro; Dr. Milton Marques-2º tesoureiro; Dr. Francisco de Assis Cardoso Ribeiro-Consultor Jurídico.
156
_SFMC_90 anos.indd 156
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
“Organização e austeridade”. Se pudermos estabelecer diretrizes marcantes na gestão do Dr. Elpídio Manhães, essas foram as que preponderaram. Preocupado em preservar o equilíbrio financeiro da FBPN, a história de autonomia da FMC e em definir o perfil e a auto-suficiência do HAA, o Dr. Elpídio sempre foi cauteloso nas despesas e exigente nas responsabilidades dos gestores. Seu compromisso com a FBPN passou a ser uma marca da sua vida, ao participar, a partir de 1994 e até seu falecimento em 2006, de todas as diretorias, em diversos cargos, sem nunca sentir diminuída a sua importância. Contribuir sempre foi o seu lema. Iniciou sua gestão, enfrentando cortes de 50% na verba SUS, reduzindo a receita para R$ 4.200.000,00 anuais, para uma despesa de R$ 9.000.000,00 anuais, do HAA. Encarou as necessidades e as providências para funcionamento pleno do HAA. Estabeleceu equivalência proporcional entre a gratificação da Direção da FMC e do HAA. O crédito educativo não repassava os recursos, contribuindo para o desequilíbrio financeiro da FMC. Criou a assessoria jurídica da FBPN. A situação deficitária do HAA obrigou-o, em 1992, a propor o não pagamento por 6 meses dos salários e demissões dos que pouco produziam. Contraproposta de piso inferior ao praticado, com doação à FBPN da diferença, foi aceita. Proposta do CREDUC de assinar quitação do 2º semestre de 1991, sem que a mesma tenha ocorrido, em troca de manter os futuros pagamentos em dia, foi negada. Concedidas 30 bolsas, pela FBPN, para recomposição do fundo de bolsas. Possibilidade de instalação do Instituto Paes da Cunha de Medicina Legal, na FMC, com verbas da Prefeitura, foi aventada, mas não concretizada. Foi concluído o mandato dos Profs. Cardoso de Melo e Annelise na Direção da FMC em 1993, seguindo-se mandato dos Profs. Jair Araujo Junior e Annelise M. W. de Abreu na Direção da FMC, eleitos por unanimidade dos votos da Diretoria da FBPN. Extinta a gratifi157
_SFMC_90 anos.indd 157
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
cação do Diretor e do Vice-diretor da FMC e instituída a verba de representação. foi desvinculada gratificação do Diretor da do HEAA do Diretor da FMC, ficando aquela equiparada a do Chefe do Departamento de Pessoal, criado pela disciplina de Pediatria um atendimento ambulatorial no HAA e no CSU de Custodóplis. Firmando acordo entre FBPN/FMC e HFM para estágio curricular dos alunos do internato. Realizado viagem à Federação da UNIMEDS em São Paulo para projeto de parceria, não concretizado. Celebrando parceria com a UNIMED Campos para ocupação do HEAA, discutida e não concretizada por dificuldades de ambas as partes. Assim transcorreu o mandato da Diretoria, sendo eleita a seguinte para o período 1994 a 1997: • Dr. Nilson Bastos Guitton-Presidente – 1994 / Dr. Makhoul Moussallem – 1995-1997; Dr. Elpidio Manhães-Vice-presidente; Sr. Adailton Rangel-1º secretário; Dr. Jacinto Simões-2º secretário; Sr. Amaro Barcelos Paravidino-1º tesoureiro; Sr. Décio Alencar-2º tesoureiro; Dr. Francisco de Assis Cardoso Ribeiro-Consultor Jurídico. Dr. Nilson Guitton – Presidiu por menos de um ano a FBPN. Seu perfil, de comprometimento comunitário e organizacional rígido, antagonizou-se à dinâmica participativa que já se estabelecia como modelo de gestão da FMC. Houve por bem não continuar, numa atitude corajosa e que, deve se reconhecer, foi tomada pensando na harmonia e no desenvolvimento necessários à Fundação. • Dr. Makhoul Moussallem-Presidente 1997 / Dr. Marcos Bruno-Presidente em exercício 19972000; Dr. Marcos Bruno-Vice-presidente; Dr. El158
_SFMC_90 anos.indd 158
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
pídio Manhães-1º secretário; Dr. Wilson Paes-2º secretário; Dr. Benilson Amaro Paravidino-1º tesoureiro; Dr. Magid Abud-2º tesoureiro; Dr. Carlos Augusto da Silva Alves-Consultor Jurídico. Os períodos de mandato da Diretoria e do Conselho Curador, liderados pelo Dr. Makhoul, foram iniciados com o referido presidente substituindo, na presidência, por eleição, o Dr. Nilson, para completar o mandato até 1997. Apesar do imprevisto período de transição, foi implantado em janeiro de 1995 o Plano de Cargos, Carreiras e Salários para os docentes da FMC, elaborado em 1991 pela Associação de Docentes de Medicina de Campos-ADOMEC, estabelecido como condição para “firmar acordo em torno do valor das anuidades”, pelo Diretório Acadêmico Luiz Sobral-DALS. Essa ação foi marcante na busca pela profissionalização docente na FMC e pela sensibilidade dos estudantes em lutar pela melhoria profissional dos seus professores. Iniciava-se assim a gestão participativa na FMC. Já em 1997, o Dr. Makhoul é eleito para a Presidência, tendo como vice-presidente o Dr. Marcos Bruno, que assumiu, a partir dos fins de 1997, o exercício da presidência, devido ao licenciamento solicitado pelo Dr. Makhoul para assumir a Superintendência do HEAA. Assim, não sofreu solução de continuidade a política institucional exercida por ambos, sendo a expressão mais real de todo o período o relatório realizado pelo Dr. Makhoul, que, por um dever de justiça à autoria, passo a transcrever: “FUNDAÇÃO BENEDITO PEREIRA NUNES Relatório de Gestão 1995 a 2000. Ao assumirmos a Presidência da Fundação, fizemos um 159
_SFMC_90 anos.indd 159
9/1/2012 23:24:56
SFMC 90 anos de história
levantamento, e nos chamou a atenção, dentre outras questões, o seguinte: A administração da Fundação Benedito Pereira Nunes se confundia com a da Faculdade, não no aspecto pedagógico e acadêmico, e sim no tocante ao econômico-financeiro. As fontes de renda da Fundação eram as mensalidades da Faculdade de Medicina e o faturamento do SUS do Hospital Álvaro Alvim. Não havia fundo de reserva, e, para pagarmos o mês de dezembro e o 13° salário, tivemos que aguardar o recebimento das mensalidades de janeiro e o pagamento do SUS, referente ao mês de novembro de 1994. No orçamento da Faculdade, 10% do valor das mensalidades eram destinadas à Fundação a título de aluguel, depreciação e manutenção dos imóveis. O Diretor da Faculdade dirigia a Faculdade, mas não interferia na movimentação financeira. Tinha que solicitar ao Presidente da Fundação a liberação de qualquer verba, até para comprar giz. Quem assinava os cheques para pagamento das despesas da Faculdade era o Presidente da Fundaçã, em conjunto com o Tesoureiro. A Faculdade tinha a mensalidade mais barata do Estado. Não havia plano de cargos e salários na Fundação. A Fundação concedia as bolsas para estudantes carentes, cujo processo de concessão era alvo de críticas. Existiam 3 linhas telefônicas na Faculdade e 3 linhas no Hospital. Não havia mesa telefônica na Faculdade nem no Hospital. Havia um conceito equivocado de que Professor da Faculdade não podia ser Presidente da Fundação, pois não podia receber da Fundação. Havia uma multa de mais ou menos R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) lavrada pelo fiscal do INSS contra a Fundação. 160
_SFMC_90 anos.indd 160
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
Havia o desejo coletivo da Comunidade Acadêmica, tanto discente quanto docente, de ter mais um Hospital Escola. Após estas constatações, tomamos as seguintes medidas: 1. Propusemos à Diretoria da Fundação que esta não mais concedesse bolsas de estudo para alunos carentes, e instituímos uma comissão formada por alunos e professores, assessorados pela Assistente Social. A crítica era que a Fundação concedia bolsas sem o devido critério. Após esta medida, não mais se ouviram críticas. A única bolsa que concedemos pela Diretoria da Fundação foi para a filha do Dr. Lenício Cordeiro, logo após o seu falecimento. 2. Demos ao Diretor da Faculdade a sua real função de dirigir a Faculdade, não só do ponto de vista acadêmico, mas financeiro também. 3. Instituímos o plano de cargos e salários, cujo alicerce começamos, junto com colegas, 10 anos atrás, quando fundamos a ADOMEC. Este plano foi melhor estudado pela Diretoria da Faculdade e aperfeiçoado pelo Dr. Jair Araújo, Diretor da Faculdade de Medicina, e por nós implantado em conjunto com ele, isto em relação aos professores. Em relação aos funcionários administrativos, contratamos, o Sr. Carlos Sérgio de A. Guimarães que iniciou o trabalho que depois foi completado pelo Prof. Wainer Teixeira de Castro. O Plano de Carreiras, Cargos e Salários foi implantado pelo Dr. Jair Araújo, já na sua real função de Gestor da Faculdade. O Plano de Carreiras, Cargos e Salários do Hospital Escola Álvaro Alvim, embora praticamente pronto e com as funções já definidas desde o trabalho do Sr.Carlos Sérgio de A. Guimarães, ainda não foi possível ser implando. 4. Adquirimos 5 linhas telefônicas para a Faculdade e 7 linhas para o Hospital. Naquele tempo, linha telefónica custava dinheiro e era preciso ter prestígio para conseguir comprar. 5. A energia elétrica na Faculdade era problemática, pois 161
_SFMC_90 anos.indd 161
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
a central de força estava totalmente inadequada à necessidade atual. Contratamos uma firma especializada que refez toda a parte elétrica e a adequou para o momento e para o futuro. 6. Desmistificamos a questão do professor não poder ser Presidente ou assumir outro cargo de Direção, fazendo uma consulta à Curadoria das Fundações, que respondem que não havia problema. 7. Resolvemos todas as pendências da Fundação com os poderes públicos e equacionamos em definitivo: as questões da Filantropia e da Utilidade Pública Municipal, Estadual e Federal. 8. Acabamos com a querela de 30 anos entre a Santa Casa e a Fundação. Compramos os 02 terrenos ao lado da Faculdade por R$ 120.000,00. O Hospital Escola Álvaro Alvim deu a entrada de R$ 60.000,00 que eram serviços prestados ao SUS e recebidos pela Santa Casa e a Faculdade pagou os R$ 60.000,00 divididos em 12 prestações de R$ 5.000,00. 9. Constituímos o GAP (Grupo de Acompanhamento Participativo) em conjunto com o Diretor da Faculdade. O GAP é constituído pelo Presidente da Fundação, Diretor e Vice da Faculdade de Medicina, Superintendente e Diretor Clínico do Hospital Escola Álvaro Alvim, Presidente da ADOMEC ou seu representante. Este Grupo é para planejamento estratégico da Fundação, Faculdade e Hospital. Não é executivo. 10. Solicitamos ao Conselho Diretor da Faculdade a confecção do Regimento Interno do Hospital Álvaro Alvim e trocamos o seu nome para Hospital Escola Álvaro Alvim. 11. Solicitamos à Coordenação Pedagógica que incluísse, no currículo da Faculdade , língua inglesa, língua portuguesa e informática para os alunos. 12. Iniciamos as negociações com o INCOR para parceria com a finalidade de instalar a sessão de Hemodinâmica e Cirurgia Cardíaca. O contrato desta parceria, além de pas162
_SFMC_90 anos.indd 162
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
sar por todas as instâncias da Fundação ( Diretoria, Conselho Diretor, Conselho Supremo), foi aprovado pela Curadoria das Fundações e pelo Ministério Público. 13. Iniciamos a ativação do Hospital Escola Álvaro Alvim para internações e nomeamos o Dr. João Luiz de Matos Almeida para o cargo de Superintendente no final do ano de 1996. Após a inauguração, ele nos solicitou para ser dispensado do cargo, que foi por nós assumido, pedindo licença da Presidência da Fundação, para não acumularmos. A nosso ver era muito importante ativar o Hospital. O Dr. Marcos Bruno, Vice-Presidente, assumiu a Presidência. Queremos deixar bem claro que todas as ações foram discutidas com a Diretoria da Fundação, da Faculdade, com o Conselho Supremo e aprovadas por todos e postas em prática após sua aprovação. Não foi trabalho de uma só pessoa, e sim de uma equipe. Dr. Makhoul Moussallem” •Dr. Wilson Paes-Presidente – 2000-2006; Dr. Marcos Bruno-Vice-presidente; Dr. Elpídio Manhães-1º secretário; Dr. Makhoul Moussalem2º secretário; Dr. João Luiz Matos de Almeida / Sr. Elbert Tavares-1º tesoureiro; Dr. Benilson Amaro Barcelos Paravidino-2º tesoureiro; Dr. Carlos Augusto da Silva Alves-Consultor Jurídico. Dr. Wilson Paes – Médico, fundador e professor da FMC, ex-prefeito de Campos, ex-presidente da Liga Norte Fluminense de Combate ao Câncer, ex-presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, fundador e presidente do Lions Clube de Campos, entre outros. Por sua biografia de atuação permanente nas causas comunitárias e da saúde, o Dr. Wilson configurou-se como o candidato ideal para liderar a Fundação 163
_SFMC_90 anos.indd 163
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
Benedito Pereira Nunes, no início de um novo século, no momento que as suas mantidas FMC e HEAA encontravam-se em pleno desenvolvimento. A sua moderação e prestígio asseguraram dois períodos de mandato em que houve avanços e harmonia institucional. Alinhamos, a seguir, alguns destaques desse período. 2000 – Empréstimo de R$ 2.118.304,00 junto à Caixa Econômica Federal, para investimentos no HEAA, com garantia do pagamento pelos créditos futuros, oriundos do SUS, chegando mesmo ao aval pessoal da Diretoria. = Lançamento, em 04 de agosto, da pedra fundamental para a construção, por iniciativa da Faculdade de Medicina de Campos, em parceria com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica - Regional RJ, do Centro de Educação e Cultura para a Saúde de Campos, com auditório para 300 pessoas. = Expansão da biblioteca e sede para a Regional, com inauguração marcada, em sua totalidade, para março de 2005. = Convênio com a UENF para o Núcleo de Diagnóstico Molecular. 2001 – Reeleição dos Drs. Jair Araujo Junior-Diretor e Annelise Maria de Oliveira Wilken de Abreu-Vice-diretora, da Faculdade de Medicina de Campos, período 2001-2005. = Mudança dos estatutos, para permitir a criação de cursos de nível médio, na área da saúde. 2002 – criação do Curso de Graduação em Farmácia. 2003 – Reeleição do Dr. Wilson, com diretoria para o período de 2003 a 2006, à frente da FBPN. = Começou a vigorar a regra de que a filantropia, pela área educacional, seria concedida pela gratuidade de bolsas integrais, aos alunos carentes, no valor total correspondente a 20% da receita bruta, o que acrescentou uma dificuldade grande ao cumprimento orçamentário, uma vez que, anteriormente, tal exigência se restringia à atividade voltada para a assistência à saúde, cabendo o mínimo de 60% para o SUS, o que vinha sendo cumprido de forma ple164
_SFMC_90 anos.indd 164
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
na. = Foram realizados ajustes orçamentários importantes na FMC, com integral apoio da FBPN. 2005 – Eleição e posse do Dr. Nélio Artiles Freitas-Diretor e Dra. Maria das Graças Sepúlveda Campos e CamposVice-diretora, para o período de 2005 a 2009, à frente da FMC. = Inauguração do auditório, que foi denominado “Prof. Jair Araujo Junior”, por indicação da Dra. Anellise, Vice-diretora da FMC, com aprovação da diretoria da FBPN e do Centro de Educação e Cultura para a Saúde de Campos. 2006 – Encerramento do mandato, com eleição e posse da nova Diretoria e Conselho Curador da FBPN, para o período 2006 a 2009, tendo à frente o Dr. Jair Araujo Junior. • Dr. Jair Araujo Junior-Presidente – 2006-2009; Dr. Luiz José de Souza – Vice-presidente; Dr. Elpídio Manhães e Dr. Almir Jesus do Nascimento - 1º secretário; Dr. Eraldo Mothé Bacelar da Silva - 2º secretário; Dr. João Luiz Matos de Almeida - 1º tesoureiro; Dr. Rubens Antônio Brás Loureiro - 2º tesoureiro; Dr. Élvio Granja de Abreu – Consultor Jurídico. Contando com duas candidaturas — uma, vista como de situação, liderada pelo Dr. Dib Abdala Chacur, e outra como de oposição, liderada pelo Dr. Jair Araujo Junior — o processo eleitoral para a FBPN causou preocupação. Essa visão, inicialmente dicotômica, foi estabelecida pela tradição de não haver disputas nas eleições e pelo receio de que pudessem ser estabelecidos grupos que enfraqueceriam, no futuro, a própria Fundação. Nada disso se confirmou, resultando numa posição póseleitoral de confluência e harmonia de todos, em benefício da Fundação, a ponto de o Dr. Wilson Paes declarar, publicamente e por várias vezes, “acreditar no acerto do resultado eleitoral e 165
_SFMC_90 anos.indd 165
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
na vocação dos atuais gestores, para o que propõem”. Iniciou-se a gestão com a irreparável perda do Dr. Elpídio Manhães, nosso primeiro secretário e ex-presidente, no dia 13 de maio de 2006, deixando a nossa eterna gratidão pelo exemplo de honradez e compromisso com o próximo e a comunidade. Indicado pela diretoria, para substituí-lo, o Dr. Almir Jesus do Nascimento, do alto das suas mais de oito décadas de vida, disse presente, na humilde e permanente disposição de colaborar com as causas comunitárias. Aumentou assim a nossa determinação em fortalecer a identidade social e operacional da Fundação, pela implantação da Sede Administrativa em imóvel ao lado da Faculdade de Medicina, adquirido e inaugurado em 06 de dezembro de 2007, o qual hoje sedia a Presidência e a Diretoria, a Secretaria Executiva, a Tesouraria, o Departamento Jurídico, a Contabilidade e a Assessoria de Comunicação, e para onde se reportam as Direções da Faculdade e do Hospital, o Patrimônio, o Administrador Geral e o Departamento de Gestão de Pessoas. Construiu-se o auditório “Honor de Lemos Sobral”, inaugurado em 2007, no Hospital Escola Álvaro Alvim, com 140 lugares, para o desenvolvimento do ensino. Ambos imóveis contaram com recursos de parceria com o SANTANDER. Aconteceu a certificação do HEAA, como Hospital de Ensino, pelo MEC/MS, através da portaria 1677, de 10 de outubro de 2006, o que ensejou a contratualização com o SUS, mediante convênio com a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, nos moldes do Ministério da Saúde. O HEAA passou a trabalhar com teto orçamentário pré-fixado, envolvendo metas qualitativas e quantitativas, cujo conteúdo foi integralmente formulado pelo Dr. Makhoul Moussalem, Diretor geral do HEAA. As relações humanas e institucionais foram ampliadas, sendo realizados: o I Seminário de Responsabilidade Civil do 166
_SFMC_90 anos.indd 166
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
Médico, em conjunto com a Escola da Magistratura do ERJ e com a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia; o recebimento do prêmio Parceiro de Destaque-2006, concedido pela Câmara Júnior de Campos-JCI; a sessão solene comemorativa dos 72 anos de criação da Fundação, realizada no dia 06 de dezembro de 2006, com outorga de títulos honorários aos Doutores Alexandre Marcos Mocaiber Cardoso, Benedito Marques, Luiz Maurício Tavares Crespo e Durval Silva Ferreira; a parceria, nas comemorações natalinas, com a AFAMEC e a AFAHE; a parceria, em 2007, com a Clínica Santa Maria, sob a responsabilidade do Prof. Frederico Paes Barbosa, para a instalação do Oncocentro e o futuro UNACOM, resgatando assim a finalidade primeira daquele hospital. Dificuldades importantes aconteceram para que o Poder Executivo municipal efetivasse o pagamento das bolsas de estudos sob sua responsabilidade. Criado o Balanço Social, a partir de 2007, destinado a “dar visibilidade às atividades desenvolvidas pela FBPN, FMC e HEAA”, ampliando-se, assim, a participação da sociedade nas decisões e na definição de metas, além de permitir que as próprias ações sociais sejam elaboradas em sintonia com as necessidades de saúde da população. O avanço na ordenação do orçamento e seu acompanhamento, e a operacionalização administrativa sugerida pela GWM Auditores e Consultores, bem como a implantação da Comissão de Controle Geral de Despesas e Receitas, aprimoraram em muito o diagnóstico dos processos de compra, venda, fluxo de receitas e despesas, dividas e receitas a serem saldadas ou concretizadas. Com tais medidas, obteve-se, também, um significativo aporte de benefícios, na forma de bolsas de estudos que, oriundas de várias fontes, favoreceram mais de 40% dos nossos mais carentes alunos, permitindo ainda o atendimento a aproximadamente 80 % dos nossos pacientes, através do Sistema Único de Saúde, fatos que reafirmaram o nosso pa167
_SFMC_90 anos.indd 167
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
pel filantrópico. Um projeto que não prosperou foi o de Desenvolvimento do Programa de Saúde da Família, em convênio com a Prefeitura Municipal de Campos, interrompido por força de liminar concedida pela Justiça Federal, em ação proposta pelo MPF, cujo mérito não chegou, ainda, a ser cogitado e provavelmente não será, por término do prazo previsto de onze meses para a sua execução. Registre-se, a esse respeito, a surpreendente decisão da instância superior, que permitiu que convênio semelhante fosse firmado com instituição congênere, não se vislumbrando vantagem real nesta mudança de instituição. Lamentamos não ter podido corresponder à imensa expectativa que se criou, na população e nos profissionais, assim como lamentamos o imenso dispêndio de energia e esforço conjunto das pessoas comprometidas com esse Projeto. 2008 – A saída do Dr. Makhoul da direção do HEAA, após dez anos de importantes trabalhos efetuados, no sentido do funcionamento pleno e desenvolvimento do Hospital. Sua saída foi considerada como o término exitoso de uma etapa, para ensejar outras atividades ao mesmo. O Dr. Ralph Dias Pessanha, foi o novo Diretor indicado, pelo consenso entre a FBPN e a FMC, pela sua experiência e capacitação com expectativas de novas metodologias na gestão hospitalar entre elas a gestão colegiada, envolvendo os diretores geral e técnico e o próprio presidente da FBPN. Estabelecemos um levantamento junto a mais de 200 funcionários, sobre os problemas do HEAA, ensejando um planejamento estratégico situacional, em que as duas ações, principais, foram voltadas para as necessidades ampliação da credibilidade, somente prometendo o que se pudesse cumprir e a regularização do pagamento dos salários mensais, tudo sempre pautado em tratamento respeitoso a todos e entre todos. O destaque maior é para a constante harmonia existente 168
_SFMC_90 anos.indd 168
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
entre a FBPN, Faculdade de Medicina de Campos-FMC e Hospital Escola Álvaro Alvim-HEAA que, nesse ano, ampliaram sobremaneira a confluência e cooperação no planejamento, execução e avaliação das ações, individuais ou coletivas otimizando, ao máximo seus potenciais em ultrapassar problemas em benefício da Instituição como um todo. Realizamos, mais uma vez, a “promoção da saúde e educação, para a população, principalmente a mais carente”. Bons indicadores, dessa realidade são: a)os mais de 200.000 atendimentos prestados pelo HEAA e pela extensão existente no Centro de Saúde Escola de Custodópolis, dos quais mais de 165.000 (81%) foram referentes ao SUS. b) os mais de R$ 3.000.000,00 concedidos, como gratuidade, aos alunos mais carentes, da FMC, correspondendo a mais de 21% da receita bruta de aproximadamente R$ 14.000.000,00, proveniente dos serviços educacionais. O reflexo global mais evidente, da prática austera, confluente e comprometida de todos os responsáveis pela gestão institucional, apoiados pelos inestimáveis serviços prestados por professores, médicos, funcionários técnicos, administrativos e de apoio, além da plena confiança manifestada por pacientes e alunos, sempre respaldada pela comunidade, representada em seu Conselho Supremo estendida a todos os comprometidos com as boas causas, manifestou-se nos números finais do balanço anual que resultaram em um superávit de R$ 1.136.826,54, como produto de uma Receita de R$ 32.122.589,88 para uma despesa de R$ 30.985.763,34. Maior valor ainda é o fato de que o balanço referente ao ano de 2007 apresentou um déficit de R$ 1.574.486,28. Assim, sentimo-nos compelidos a buscar mais um mandato à frente da FBPN, montando um projeto de gestão que consolidando as conquistas, avançasse na direção do desenvolvimento comprometido, participativo e harmônico.
169
_SFMC_90 anos.indd 169
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
• Drs. Jair Araujo Junior-Presidente – 2009/2010 e Almir Jesus do Nascimento – Vice-presidente em exercício da Presidência – desde 2010; Dr. Almir Jesus do Nascimento – Vice-presidente; Dr. Denílson Sales de Souza-1º secretário; Dr. Walter Siqueira-2º secretário; Dr. João Luiz Matos de Almeida/Dr. Geraldo Augusto Pinto Venâncio-1º tesoureiro; Dr. Rubens Antônio Brás Loureiro/Dr. Valdebrando Mendonça Lemos-2º tesoureiro; Dr. Élvio Granja de Abreu – Consultor Jurídico. O processo eleitoral, que contou com chapa de oposição liderada pelo Dr. Marcelo Gazineu, demonstrou que a Fundação, em seus 75 anos de existência, continuava jovem, despertando desejos de participação em pessoas e Instituições da nossa comunidade, fruto do permanente desenvolvimento aliado à credibilidade e lisura, que a sua história registra. O nosso agradecimento é sempre presente, na forma da perseguição, incondicional, em cumprir as diretrizes que estabelecemos em nosso Projeto de Gestão, que são: Compromisso – Participação – Harmonia. Iniciamos o ano de 2009 com o impacto da perda física do nosso ex-presidente e fundador da Faculdade de Medicina de Campos, Professor Doutor Wilson Paes. É impossível não ter como referência os inúmeros bons exemplos deixados por Dr. Wilson, na vivência junto à família, à medicina, ao ensino, à gestão fundacional, aos Clubes de Serviço (Lions), aos movimentos religiosos, à política e a tudo o mais que significasse uma possibilidade de, demonstrando amor ao próximo, promover ações efetivas em benefício da qualidade de vida dos nossos irmãos mais carentes. Todo o reconhecimento à sua trajetória, de 29 de setembro de 1925 a 03 de janeiro de 2009, será sempre insuficiente, mas registrar como ala Wilson Paes o local onde são internadas as pacientes ginecológicas do Hospital Escola Álvaro Alvim e promover, com 170
_SFMC_90 anos.indd 170
9/1/2012 23:24:57
SFMC 90 anos de história
a FMC e o HEAA, a Ação de Responsabilidade Social Wilson Paes com o Lions Club de Campos Planície e a Usina Paraíso, além de várias entidades oficiais e comunitárias, foi a forma singela de expressarmos essa gratidão pelo seu devotamento à medicina, ao ensino e à comunidade. O compromisso com a causa social, foi documentado, mais uma vez, pelo Balanço Social/2008 que, publicado em fevereiro de 2009, associou como tema a Cidadania ao Desenvolvimento Humano. Dois indicadores das ações assistenciais e educacionais, merecem ser destacados em sua forma evolutiva: a) o número de atendimentos/procedimentos realizados pelo HEAA/CSUCustodópolis evolui de 204.771, sendo 167.380 (81,7%) para o SUS, para 265.028 (+29,4%), sendo 229.086 (86,4%) para o SUS. b) as Bolsas de Estudos que, para um total de 718 alunos, em 2008, propiciaram ou intermediaram assistência para 553 (77%), sendo 206 gratuidades (29%). Em 2009, para 726 alunos, propiciou ou intermediou assistência para 646 (89%), sendo 314 gratuidades (43%). A participação, com a comunidade interna e externa, foi crescente. A gestão participativa se fortaleceu internamente, na FMC e no HEAA, com a elaboração de um orçamento, para 2010, mais uma vez centrado nas reais necessidade e no planejamento detalhado e pactuado. Evoluiu de R$ 39.997.064,00 (2009) para R$ 42.592.082,00(+6,5%) (2010), permitindo-nos prever um custeio adequado às necessidades, investimentos bem dimensionados, resgates progressivos das dívidas contraídas e reajuste salarial em torno de 5,75%. O balanço anual, que expressa a realização do que foi orçado, apresentou-se ao final de 2009 com um resultado de receitas de R$ 39.313.842,77, expressando um resultado operacional (superavit) de R$ 510.918,06 (1,3%). A título de lembrança, em 2008, o resultado de receitas foi de R$ 32.122.589,88, expressando em resultado operacional (superavit) de R$ 1.136.826,54 (3,5%). 171
_SFMC_90 anos.indd 171
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
Houve, portanto, um aumento nas receitas e uma diminuição no superavit, em face da quitação de dívidas passadas com médicos, parcerias e fornecedores do HEAA. O Balanço Patrimonial evoluiu de R$ 35.789.092.68 em 2008, para R$ 37.332.074,32, em 2009 (+4,3%). A comunidade educacional externa elegeu o Diretor da FMC, Professor Nélio Artiles, para presidir o Fórum Interinstitucional de Dirigentes do Ensino Superior de Campos-FIDESC, denotando a permanente participação da Escola junto às demais Instituições de Ensino. Ressalte-se a mobilização em torno da inquietante situação em que o Hospital Escola Álvaro Alvim foi colocado – pela Gestão Plena Municipal – na sua relação com o SUS; essa mobilização envolveu as instituiçõesmembro do Conselho Supremo da FBPN, inúmeras lideranças comunitárias, políticas, legislativas e executivas, no âmbito federal, além do MPE/RJ na real promoção de justiça, em benefício dos direitos difusos da população, dos docentes, funcionários e discentes. Os quatro meses de negociações, envolvendo posicionamentos de ordem conceitual, operacional, financeira e avaliativa, foram sustentados por uma inestimável construção coletiva, de cada passo, redundando sempre em ações e posicionamentos firmes e moderados, que fizeram a Fundação/ HEAA/FMC, orgulhosos de suas origens comunitárias e cientes da imensa responsabilidade depositada em seus ombros. O desenlace aconteceu em forma pactuada, em que não houve vencedores ou vencidos e sim a confluência para um consenso que, preservando a identidade do Hospital como de Ensino, redundará em assistência, educação e pesquisa em benefício da população. A harmonia com que se relacionaram as Direções da FBPN, FMC e HEAA, nos empolgou a todos. É nos momentos de crise que surgem sempre as soluções mais solidárias, oriundas das mentes e corações mais comprometidos. Assim ocor172
_SFMC_90 anos.indd 172
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
reu quando, a partir de 01 de outubro e até 23 de dezembro de 2009, não tínhamos a garantia de repasse de nenhum recurso financeiro, oriundo do SUS. À economia extrema feita pela gestão do HEAA, uniu-se a participação real da gestão da FMC, que compartilhou um protagonismo ativo nos múltiplos fóruns políticos e técnicos, além de disponibilizar recursos já aprovisionados, para manter o pagamento em dia dos funcionários do HEAA. Configurou-se assim uma nova e saudável forma de, mantendo a tradicional e necessária autonomia, compartilhar compromissos, que são de todos, sob a responsabilidade da Fundação Benedito Pereira Nunes. A comemoração dos 75 anos de criação da FBPN foi realizada no dia 06 de dezembro de 2009, com uma Celebração Eucarística em Ação de Graças com o Auto de Natal, na Basílica Menor do Santíssimo Salvador, realizado pela Faculdade de Filosofia e apoio do Município de Campos dos Goytacazes, com a participação da orquestra sinfônica do Centro Cultura Musical de Campos e do Grupo dos Arautos do Evangelho. 2010 apresentou novos desafios. O Dr. Ralph Dias Pessanha considerou ser impossível prosseguir na missão de Diretor Geral do HEAA. Muito realizou, mas seus compromissos, anteriormente assumidos com a Vice-provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Campos, fizeram com que manifestasse sua irredutibilidade em continuar, em decorrência do que a Diretoria da FBPN e da FMC indicaram o Dr. Jair Araujo Junior para dar continuidade ao modelo de gestão em desenvolvimento no HEAA, que era de todos. Assim nos expressamos: Nota de Agradecimento Assumir missões, deixando claras suas possíveis limitações, é próprio dos humildes, responsáveis e comprometidos, com a sinceridade solidária. Assim foi, há dois anos, o posicio173
_SFMC_90 anos.indd 173
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
namento do Dr. Ralph Dias Pessanha em, ao atender ao chamamento da Fundação Benedito Pereira Nunes e da Faculdade de Medicina de Campos, aceitar dirigir o Hospital Escola Álvaro Alvim, deixando claro que havia um comprometimento pessoal, anterior, com a Santa Casa de Misericórdia de Campos, onde é Vice-provedor e Grande Benemérito, que não poderia ser compartilhado, com essa missão, por muito tempo. Atendia ao desejo de poder contribuir com as instituições que o formaram médico há mais de 32 anos. Hoje existe um reconhecimento geral de que não poderíamos contar com melhor pessoa para essa função que o Dr. Ralph, diante das imensas complexidades que a gestão hospitalar impõe. Confiável, cuidadoso, austero, rigoroso, metódico, organizado, afável e ao mesmo tempo firme no trato com as pessoas, sejam pacientes, funcionários técnico-administrativos, alunos, médicos ou professores, gestores internos ou de outras instituições, são algumas das qualidades que distinguem o Dr. Ralph da maioria das demais pessoas. Trata a instituição comunitária com se fosse sua, sem se apossar dela. A gratidão que a Fundação Benedito Pereira Nunes, Faculdade de Medicina de Campos e Hospital Escola Álvaro Alvim sentirão sempre, pelo seu inestimável trabalho entre nós, encontra certamente ressonância na comunidade laborativa interna, docente, discente e usuária, além do Conselho Supremo da FBPN, legítimo representante da comunidade instituidora das nossas entidades. Esperamos que a continuidade do seu trabalho seja mantida pela gestão a ser desenvolvida pelo Presidente licenciado da FBPN, Dr. Jair Araujo Junior, à frente do HEAA, como parte do grande pacto estabelecido em torno do Compromisso, da Participação e da Harmonia. Pedimos a proteção de Deus, para o Dr. Ralph em suas múltiplas futuras missões e esperamos continuar a dignificar o compromisso assumido com a Saúde, através da promoção de 174
_SFMC_90 anos.indd 174
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
assistência, ensino e pesquisa de qualidade, em benefício das pessoas, principalmente as mais carentes. Fundação Benedito Pereira Nunes – Faculdade de Medicina de Campos - Hospital Escola Álvaro Alvim A partir de março de 2010 assumi o exercício da presidência da FBPN. A seguir relatodas atividades no referido ano. “Premidos pela necessidade de substituir, a partir de março, o Dr. Jair Araujo Junior, no exercício da presidência da Fundação, para que o mesmo assumisse, por determinação da Diretoria, em comum acordo com a Direção da Faculdade de Medicina de Campos, a função de Diretor Geral do Hospital Escola Álvaro Alvim, assumimos o compromisso de enfrentar o desafio, respaldados pela convicção de que teríamos o apoio incondicional das mantidas e pela consciência de que a nossa querida comunidade campista merecia mais essa reafirmação pessoal de agradecimento e dedicação, permanentemente estabelecida nas minhas mais de oito décadas de vida. Não estávamos enganados. O trabalho foi grande, o sacrifício pessoal e familiar foi permanente, mas a sensação do dever cumprido, perante o grande arquiteto do universo, justifica todas as limitações. Assim terminamos o ano, revigorados em continuar buscando melhorar o que pudemos fazer, pela análise humilde do que conseguimos e não conseguimos realizar. Destacamos, mais uma vez a Ação de Responsabilidade Social Elmon Tatagiba, com o Lions Club de Campos Planície e a Usina Paraíso, além de várias entidades oficiais e comunitárias, que nos permitiu, com a FMC e o HEAA, prestar serviços educacionais e de assistência à saúde a mais de 180 pessoas, realizando 364 consultas médicas e odontológicas, vacinando 103 vezes, dispensando 4.173 unidades de medicamentos e realizando 60 medidas de glicemia. Envolvemos 120 pessoas nessa ação voluntária, 175
_SFMC_90 anos.indd 175
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
realizada na manhã do dia 12 de junho de 2010. O compromisso, com a causa social foi documentado, mais uma vez, pelo Balanço Social/2009, que publicado em fevereiro de 2010, versou sobre as nossas diretrizes de gestão: Compromisso – Participação – Harmonia. Os indicadores das ações assistenciais e educacionais merecem ser destacados em sua forma evolutiva, sendo os seguintes, já incluídos os de 2010: a) número de atendimentos/procedimentos realizados pelo HEAA/CSU Custodópolis, em 2009 – 265.028, sendo 229.086 (86,4%) para o SUS –, para em 2010 – 277.996 (+4,9%), sendo 243.875 (87,7%) para o SUS. b) as Bolsas de Estudos que, para um total de 726 alunos, em 2009, propiciou ou intermediou assistência para 646(89%), sendo que foram, 314 gratuidades (43%). Em 2010, com a mudança da lei da filantropia e a diminuição do aporte feito pela PMCG, para 718 alunos matriculados, foi propiciada ou intermediada assistência para 432(60,17%), sendo 156 gratuidades (21,73%). A participação com a comunidade interna e externa foi mantida, em alta. A gestão participativa se reafirmou na FMC e no HEAA, com a elaboração de um orçamento para 2011, como sempre, centrado nas reais necessidades e no planejamento detalhado e pactuado. Evoluiu de R$ 42.592.082,00(2010) para R$ 62.841.994,00(+47,5%) (2011), permitindo-nos prever um custeio adequado às necessidades, investimentos relevantes com a Farmácia Escola da FMC e com a ampliação do HEAA, além de resgates progressivos das dívidas contraídas e reajuste salarial em torno de 7%. O Balanço anual, que expressa a realização do que foi orçado, apresentou ao final de 2010 um resultado de receitas de R$ 48.296.948,85, expressando um resultado operacional (deficit) de R$ 800.607,12 (1,7%). A título de lembrança, em 2009, o resultado de receitas foi de R$ 39.313.842,77, expressando um resultado operacional (superávit) de R$ 510.918,06(1,3%). O Balanço Patrimonial 176
_SFMC_90 anos.indd 176
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
evoluiu de R$ 37.332.074,32, em 2009, para R$ 31.916.043,79 em 2010(–14,5%), devido à exclusão do passivo compensado, das gratuidades e da quota patronal previdenciária realizada em 2009, para o grupo de receitas e despesas 2010, conforme previsto pela nova legislação. A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino e a Húmus Consultoria atribuíram, em sua terceira edição, à Faculdade de Medicina de Campos, o Prêmio Nacional de Gestão Educacional – PNGE, na categoria Responsabilidade Social, pelo projeto Bairro Saudável. O novo formato, de contratualização, pactuado entre a SMS/PMCG e a FBPN/HEAA, demandou muitos esforços, visando adequação às novas metas de produção de serviços. Felizmente a quantidade aumentou, alcançando ou mesmo ultrapassando quase todas as metas físicas, e mantendo os 100% de alcance nas metas qualitativas. A harmonia com que se relacionaram as Direções da FBPN, FMC e HEAA e o esforço conjunto para buscarmos no compromisso individual dos seus gestores a força motriz para ultrapassar as dificuldades, inerentes às relações humanas, de forma dialética e solidária, fazem-nos crer ser essa a única e melhor forma de gerir essa septuagenária instituição comunitária. Surgiram sempre, nos momentos mais delicados em que os problemas pareciam intransponíveis, as soluções mais solidárias oriundas, das mentes e corações mais comprometidos. Não detalharmos nenhum dos inúmeros momentos ocorridos é a forma mais eloqüente de atribuir, a todos, a máxima e igual importância. Manter a tradicional e necessária autonomia, compartilhar compromissos e solução de problemas, que são de todos, sob a responsabilidade da Fundação Benedito Pereira Nunes, foi a nossa prática diuturna. O detalhamento que a seguir é relatado pela Faculdade de Medicina de Campos e pelo Hospital Escola Álvaro Alvim impressiona, não somente pelo crescente volume de realizações, como pela expressão costumeira de um conteúdo que privilegia a qualidade em be177
_SFMC_90 anos.indd 177
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
nefício do ser humano. Finalizando, mais uma vez os nossos agradecimentos aos abnegados membros da Diretoria, dos Conselhos Curador e Supremo, que, com seu múnus público, garantem a continuidade e mesmo a existência da Fundação. Agradecemos também, aos Diretores da Faculdade de Medicina de Campos e do Hospital Escola Álvaro Alvim, que continuam liderando executivamente em trono de 1000 funcionários e 1000 alunos, mantendo um equilíbrio coerente com a realidade e buscando permanentemente o sonho, de todos nós: que é servir aos nossos irmãos, principalmente aos mais carentes. Elevemos nossos corações agradecidos a Deus por mais essa jornada que, esperamos, tenha sido digna dos seus ensinamentos. Dr. Almir Jesus do Nascimento – Presidente em exercício da FBPN – Em 2011, atualização estatutária, impôs-se uma, por recomendação da Promotoria da Fundações do MPE/RJ, que definiu a necessidade de um aumento para 2/3 do quorum necessário para aprovações de situações envolvendo o patrimônio, ainda autorização prévia daquela Promotoria para aceitação de doações, alienações e mudanças estatutárias. Foram incluídos no artigo 12º dos Estatutos da Fundação Benedito Pereira Nunes quatro presidentes integrantes do Conselho Supremo, em substituição a instituições que não mais existem, assim nominadas: 1) Presidente do Lions Clube Goitacá; 2) Presidente do Lions Clube Campos Guarus; 3) Presidente do Clube dos Médicos de Campos; 4) Presidente da Associação dos Ex-Alunos da Faculdade de Medicina de Campos. As referidas instituições foram então substituídaspelas seguintes: 1) Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campos dos Goytacazes; 2) 178
_SFMC_90 anos.indd 178
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – 12ª Subseção/RJ; 3) Diretor Geral do Hospital Escola Álvaro Alvim e 4) Presidente da Comissão de Ética do Hospital Escola Álvaro Alvim. Foi ainda prorrogada a vigência do mandato da Diretoria e do Conselho Curador, de três para quatro anos, a fim de se compatibilizar paritariamente com o mandato do Diretor da sua mantida Faculdade de Medicina de Campos, devendo as atuais estender os seus mandatos até março de 2013. A Fundação Benedito Pereira Nunes, filha septuagenária, dileta e profícua da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, continua o seu desenvolvimento. Recebemos em 2005, com um balanço de R$ 22.399.860,47 em receitas e R$ 23.750.738.46 em despesas, representando um déficit de R$ 1.350.877,99, com um patrimônio líquido de R$ 13.392.252,90 para, em 2010, apresentar R$ 48.296.948,85 em receitas e R$ 49.097.555,97 em despesas, representando um déficit de R$ 800.607,12, com um patrimônio líquido de R$ 13.608.896,46 Representa para 2011 um orçamento de mais de sessenta e dois milhões de reais, um patrimônio de mais de trinta milhões. Atende pelo HEAA a mais de duzentos e setenta mil procedimentos assistenciais em saúde, dos quais 87% para o SUS, e ensina a mais de mil alunos nas graduações e pós-graduações, dos quais mais de trezentos bolsistas. Gera em torno de 1000 empregos e funções remuneradas, e principalmente honra a história e os ideais dos nossos antecessores em “promover assistência e educação para a saúde, da população, principalmente a mais carente”. E assim a história continua... com a transcrição da nossa visão da história da Faculdade de Medicina de Campos, escrita para a Associação Brasileira de Educação Médica. Educação Médica na Faculdade de Medicina de Campos Jair Araujo Junior* • Professor, Ex-aluno e Ex-diretor da FMC. 179
_SFMC_90 anos.indd 179
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
• Introdução Documentar, no Caderno de Educação Médica da ABEM, a Educação Médica na Faculdade de Medicina de Campos no contexto das ações desenvolvidas no Estado do Rio de Janeiro é missão difícil para um docente dessa Escola, exaluno, ex-diretor e atual responsável pela Fundação Benedito Pereira Nunes, sua mantenedora. Portanto, não é fácil desvincular sua visão carregada de subjetividades e emoções afetivas, desenvolvidas nos últimos 36 anos de convivência diuturna de uma pretensa neutralidade que a situação exige. Neste sentido, o gentil convite feito pelo Professor João José Neves Marins, editor dos Cadernos, (a quem manifestamos de imediato nossos agradecimentos), honrou-nos e desafiou-nos a compatibilizar a fidelidade na descrição histórica à interpretação do significado pessoal que possa interessar ao grupo seleto de leitores desta publicação. A importância dos 200 anos de educação médica no Estado do Rio de Janeiro, completos de forma pioneira pelo Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, neste ano de 2008, com a participação, até o momento, de mais quatorze outros cursos, enfrenta o desafio de formar, conforme preceituam as Diretrizes Curriculares estabelecidas pelo MEC, em 2001, “Médico, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano”. Este ambicioso, mas necessário perfil profissional, representa a necessidade contemporânea a ser suprida pelo médico, buscando, como foco permanente, as 180
_SFMC_90 anos.indd 180
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
necessidades de saúde da população. Constatar se o egresso da Faculdade de Medicina de Campos está cumprindo aquela missão é tarefa avaliativa desta mesma sociedade, através de processos ou episódios isolados de avaliação, formal ou não, oficial ou popular. Esta avaliação deve ser permanentemente buscada como fonte de orientação para mudanças, no aperfeiçoamento do processo de formação a que são submetidos nossos alunos. A nós, unidades e profissionais formadores, cumpre desenvolver, da melhor forma possível, o papel que nos cabe de facilitadores do processo de formação do médico, que não se esgota na graduação, mas que busca, nesta etapa, a base sólida a ser desenvolvida em seu exercício profissional, por toda a vida. Que processo, histórico e pré-histórico, desenvolveu a identidade que a Faculdade de Medicina de Campos ostenta nos seus quarenta anos de existência? Como se caracteriza sua gestão, com seus atores, instâncias e responsabilidades, na sua sustentação e evolução? Como vem sendo constituído seu corpo docente, e como este indispensável segmento é capacitado, valorizado e desempenha suas atividades? Que estrutura física, de recursos laboratoriais e de informação, além de que cenários dispõe para desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem? Que modelo pedagógico adota e como chegou a este momento? Quem é o aluno que entra, permanece durante 06 anos e busca exercer a profissão médica após esse período? São essas algumas das perguntas que nos afligem a cada momento, e sobre as quais buscaremos oferecer informes para que cada um possa respondê-las, segundo seu juízo pessoal. • Identidade Institucional A data de 14 de outubro de 1967 é o marco inaugural da Faculdade de Medicina de Campos, com seu curso de gradu181
_SFMC_90 anos.indd 181
9/1/2012 23:24:58
SFMC 90 anos de história
ação. Mediante resolução tomada pela Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, por proposta do Dr. Almeida Gusmão, na sessão de 09 de novembro de 1964, de fundar em Campos uma Faculdade de Medicina, a Fundação Benedito Pereira Nunes, como entidade mantenedora, iniciou em outubro de 1966 as obras necessárias à sua implantação. A iniciativa iria atender à forte demanda comunitária para que tivéssemos uma escola que formasse médicos de acordo com as necessidades sociais, e que também contemplasse um contingente grande de jovens universitários, que tinham que se deslocar para os grandes centros, à procura de formação profissional. Estudos desenvolvidos pelo Professor José Roberto Ferreira, na Organização Pan-Americana de Saúde, respaldavam aquela realidade com o diagnóstico de que “Campos, no Norte Fluminense, e Londrina, no Paraná, eram as duas únicas cidades no Sul e Sudeste que, por suas singularidades geográficas e culturais, comportavam a criação, naquela época, de novas Escolas Médicas. Apesar de planejada para funcionar a partir de 1968, a FMC teve que acelerar suas obras para, atendendo às contingências daquele momento universitário brasileiro, ser inaugurada em 14 de outubro de 1967, pondo à prova a capacidade de trabalho, rapidez e organização de seus fundadores. Essa capacidade nos sentimos orgulhosos e gratos em reconhecer, ao enunciar seus nomes, a saber: os médicos Plinio Bacelar da Silva – Presidente da Comissão de Implantação; Geraldo da Silva Venancio – Presidente da Fundação Benedito Pereira Nunes; Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, Wilson Paes, Décio Lobo de Azevedo, Luiz Carlos Mendonça da Silva, Almeida Gusmão, Honor de Lemos Sobral; advogados Nilson Lobo de Azevedo e Josepha de São Paulo Meireles; jornalista Latour Arueira. Não é difícil perceber que a pluralidade profissional dos seus fundadores, associada ao berço institucional represen182
_SFMC_90 anos.indd 182
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
tado pela hoje mais que octogenária Associação (Sociedade) Fluminense de Medicina e Cirurgia, gravaram a vocação comunitária e participativa no destino a ser percorrido por essa Escola Médica. O seu traço filantrópico e não lucrativo, de adotar como finalidade primeira o trabalho em benefício da saúde da população, principalmente a mais carente, decorre da trajetória da Fundação Benedito Pereira Nunes, sua mantenedora, que, desde 06 de dezembro de 1934, quando foi criada, responsabilizou-se, inicialmente, pela Policlínica e Maternidade de Campos, e a partir de 20 de setembro de 1946 pelo Hospital Infantil, mantendo-se assim em sua atividade assistencial, sempre voltada para as necessidades sociais, até que, em 07 de dezembro de 1962, assume a nomenclatura atual, inclui entre suas finalidades as prerrogativas de “criar, instalar e manter estabelecimentos de Ensino Médico e Paramédicos e Institutos Científicos”. Os edifícios ocupados até então por aquelas unidades hospitalares e assistenciais passaram a servir de sede à Faculdade de Medicina de Campos. Em 1º de outubro de 1979, a Fundação Benedito Pereira Nunes incorporou, por generoso gesto da então Diretoria, liderada pela Dra. Josefa São Paulo de Meireles, o patrimônio da extinta Liga Campista e Norte-Fluminense de Combate ao Cancer, e com ela o inacabado Hospital Álvaro Alvim, que hoje funciona de forma plena como Hospital Escola, certificado como de ensino pelos Ministérios da Educação e da Saúde. A caracterização como Escola Médica não foi logicamente fácil, sobretudo por estar localizada na região norte do Estado do Rio de Janeiro, no município de Campos dos Goytacazes, distante cerca de 300 km das capitais Rio de Janeiro e Vitória, com uma população em torno de 300.000 habitantes e uma economia baseada na monocultura do açúcar. Existia, nessa cidade, um claro movimento no sentido de criar diferentes instituições de Ensino 183
_SFMC_90 anos.indd 183
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
Superior, de diferentes origens – públicas ou privadas –, mas com o compromisso de engrossar o caldo de cultura universitária, com que os anos sessenta demandavam contrapor os tempos de exceção política ao regime democrático. Uma grande peregrinação nacional foi empreendida por nossos fundadores, em busca de modelos acadêmicos para formação médica, confluindo para dois cursos que, pela qualidade, tradição e inserção em nosso Estado, propiciariam um salutar intercâmbio de pessoas e ideias. A Faculdade Nacional de Medicina, da então Universidade do Brasil. e a Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense foram a matriz final de currículos e de pessoas, como diretriz para os nossos primeiros passos. Associaram-se ainda ao projeto médicos de notável experiência assistencial e inatas vocações docentes, oriundas de centros de excelência assistencial e de formação pós-graduada, como o Hospital dos Servidores do Estado e o Hospital do Acidentados, além de talentos médicos que desenvolveram suas vidas profissionais em nosso município, sem perder de vista a relação com seus pares de especialidade, em nível nacional e internacional. Foi daí que surgiram professores notáveis e generosos que, com imenso sacrifício pessoal, aqui compareciam – e alguns até hoje comparecem semanalmente –, oferecendo sua experiência e principalmente o modelo de conduta a ser seguido pela recém–nascida Escola Médica e por seus sucessores. A referência ao nome dos seguintes ex-titulares serve como exemplo concreto. e também como grata lembrança, pelo muito que representaram e sempre representarão para a nossa comunidade acadêmica. São eles: Anatomia – Rogério Benevento, Ronald Nyr Alonso da Costa e Maurício Moscovici; Biologia e Histologia – Bruno Alípio Lobo e George Bittencourt Doyle Maya; Bioquímica e Biofísica – Mauro Operti, Lafayette Rodrigues Pereira e Paulo Travassos Filho; Higiene Medicina 184
_SFMC_90 anos.indd 184
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
Preventiva e do Trabalho – José Rodrigues Coura, Aírton Clausem, Délio Câmara da Costa Alemão, Renato Moretto e Nedílson Lariú; Estudo dos Problemas Brasileiros – Paulo de Oliveira Rodrigues; Fisiologia e Farmacologia Terapêutica e Experimental – Lauro Sollero; Psicologia Médica – Paulo Sérgio Lima e Silva e Hugo Nunes de Carvalho; Anatomia e Fisiologia Patológicas – José Maria Pinto Barcellos e Honor Sobral; Parasitologia – José Otílio Leite Machado; Microbiologia e Imunologia – Nérton Pinto Fernandes Távora; Semiologia e Clínica Médica – Yussef Bedram; Anestesiologia – Antônio Pedro Serrão; Clínica Cirúrgica – Guilherme Eurico Bastos da Cunha, Geraldo da Silva Venâncio, Edson Batista e Renan Catarina Tinoco; Clínica Ortopédica e Traumatológica – Hervé Linhares Machado; Clínica Urológica – Nilton Vehnovitsky; Clínica Otorrinolaringológica – Osvaldo Luiz Cardoso de Melo e Luis Rogério Pires de Melo; Clínica Oftalmológica – Osvaldo da Costa Cardoso de Melo; Clínica Ginecológica – Jean Claude Nahoum; Clinica Obstétrica – Paulo Belfort Aguiar e Luiz Carlos Mendonça da Silva; Clínica Pediátrica – Alberto Amim; Clínica Psiquiátrica – Glauco Otávio Prunes; Medicina Legal e Deontologia – Everton Paes da Cunha; Clínica Radiológica – Miguel Calil Issa; Clínica TísioPneumológica – Décio Lobo de Azevedo; Clínica Dermatológica – Osvaldo Serra e Luiz Augusto Nunes Teixeira; Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias – Norton de Figueiredo e Walter Tavares; Educação Física – Fernando Frisch Duncan. As disciplinas acima listadas constituíram nossa primeira grade curricular, segmentada em dois grandes ciclos – básico e profissional –, da forma como se organizavam todos os principais currículos contemporâneos a nossa criação. Criaram-se os laboratórios para o ciclo básico, já com características multidisciplinares: Histologia com Patologia; Microbiologia com Parasitologia, Fisiologia com Farmacologia; Bioquímica com Biofísica. Esse modelo otimizava recursos, espaço e, principal185
_SFMC_90 anos.indd 185
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
mente, promovia integração entre os afins. O desafio do Ciclo Profissional se avizinhava, e, com ele, a busca por um Hospital–Escola único, com dimensões e recursos suficientes para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa clínica aplicada e da extensão era o paradigma que se exigia. No entanto, as possibilidades locais, aliadas à vocação empreendedora pelo novo e o grande espírito comunitário que nos aliava aos hospitais comunitários e filantrópicos, acabaram transformando essas unidades no cenário ideal, em que se uniam as excelências da assistência prestada aos mais carentes ao insumo da ciência médica aplicada no ensino dos nossos futuros médicos. Não contávamos com o perfil de alta freqüência de doenças raras tão comuns nos Hospitais Universitários, pela seleção de referência por que passam, mas sim com a imensa maioria do que hoje denominamos principais carências da população, notadamente com doenças que necessitam tratamento hospitalar. Outra boa oportunidade surgida no início da nossa trajetória, nos anos setenta, foi o desenvolvimento, sob a liderança do inquieto e brilhante Renato Moretto, das pioneiras ações de integração entre docentes e assistenciais e entre hospitalares e ambulatoriais, ampliando e interiorizando, inicialmente, atenção à saúde materno–infantil, representadas pelo Programa Materno Infantil de Campos–PROMAICAM e pelo Projeto de Atenção Integral à Saúde-PAIS, realizados com o apoio do Hospital dos Plantadores de Cana através de sua rede de ambulatórios rurais. Contamos ainda com o apoio logístico da Prefeitura Municipal de Campos, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e do Grupo Othon Bezzerra, além dos apoios técnico e financeiro, respectivamente da Organização Pan-Americana de Saúde da Fundação W. K. Kellog. Agregamos, nos últimos dez anos, uma Pós-Graduação em áreas estratégicas como Ensino Médico, Morfologia, Pedia186
_SFMC_90 anos.indd 186
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
tria, Obstetrícia, Saúde da Família, Geriatria e Gerontologia, Análises Clínicas e Farmacologia, entre outras. Estes cursos contaram com a forte diretriz inicial de que, no mínimo 180 horas/aulas de conteúdos conexos à didática, pedagogia, métodos científico e de pesquisa fossem ministrados, para que os docentes formados na experiência empírica da prática pudessem contar com embasamento teórico para a importante vocação que seu excelente exercício profissional sempre comprovou. Foi criado o Curso de Graduação em Farmácia, que nos seus cinco anos de existência começa a se firmar como de excelência, coerente com as possibilidades institucionais e as diretrizes curriculares oficiais. Todas estas e muitas outras situações configuraram o perfil de escola médica comunitária estabelecida pela jovem tradição de que somos portadores. Hoje, após completar quarenta anos, a Faculdade de Medicina de Campos, mantendo-se fiel às suas origens, conta com o respeito e o bom conceito local e nacional, de uma instituição que já formou 2.971 alunos em 36 turmas, contando atualmente com 561 alunos distribuídos pelas suas seis séries de graduação. Em seu quadro efetivo, regidos por Planos de Cargos, Carreiras e Salários voltados para a valorização e incentivo à capacitação e ao desempenho, possui 127 docentes (em sua maioria ex-alunos), 82 funcionários técnico-administrativos, que, de forma preponderante, associam longo tempo de exercício com compromisso institucional exacerbado, buscando o constante desenvolvimento desta escola médica, além de profissionais da área da saúde, que colaboram com seu desempenho em atividades assistenciais para a integração ensino-serviço, indispensável à formação dos nossos alunos. Estamos sob a responsabilidade de uma eficiente diretoria liderada pelo Professor e ex-aluno Nélio Artiles Freitas, que exercita de forma própria e abnegada a árdua missão de honrar nossas tradições e 187
_SFMC_90 anos.indd 187
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
avançar em direção ao desenvolvimento da excelência na educação médica de qualidade, objetivo final de todos. • Gestão A gestão da Faculdade de Medicina de Campos se desenvolveu segundo um processo que acompanhou – sendo precursor em alguns momentos – a evolução e as necessidades contemporâneas ao seu desenvolvimento. As relações diretas, harmônicas e convergentes com a Fundação Benedito Pereira Nunes, sua mantenedora, nunca impediram que fosse cumprida, por seus diretores, a responsabilidade plena pelos aspectos acadêmicos e administrativos inerentes às suas atividades educacionais. À Fundação compete a responsabilidade final, zelando pelo controle geral, administrativo, jurídico, financeiro–contábil, patrimonial e filantrópico, na atenção e apoio aos mais carentes, submetendo-se fundamentalmente ao controle social exercido desde o seu início pelo seu Conselho Supremo, exercido pelos principais titulares dos seguintes poderes, instituições ou entidades do Município de Campos dos Goytacazes, a saber: Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, Prefeitura Municipal, Câmara Municipal, Fórum da Comarca, Santa Casa de Misericórdia, Sociedade Portuguesa de Beneficência, Associação Fluminense dos Plantadores de Cana, Faculdade de Medicina de Campos, Diretório Acadêmico Luiz Sobral, Sindicato dos Médicos, Associação de Imprensa, Associação Comercial e Industrial, Fundação Cultural, Fundação de Desenvolvimento do Norte Fluminense, Fundação Rural, Faculdade de Filosofia, Faculdade de Odontologia, Faculdade de Direito, Faculdade Cândido Mendes, Clubes de Serviço – Rotary (4) e Lions (4) –, Câmara Júnior, Clube dos Médicos, Associação dos Ex-alunos, Associação dos Docentes e Conselho Municipal de Saúde. Essa configuração garante à Fundação sua caracterização 188
_SFMC_90 anos.indd 188
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
estatutária de instituição de direito privado e domínio público, sem fins lucrativos. A real proprietária da Fundação e, por extensão, da Faculdade de Medicina de Campos, é a comunidade campista, que a instituiu e a acompanha, tornando-se totalmente responsável pela sua condução e destinos. A Fundação é dirigida por Diretoria, eleita por um período de três anos, juntamente com um Conselho Curador. Não é concedida nenhuma remuneração aos seus membros, sendo essa atividade considerada múnus público. Os seus Presidentes, desde a criação da Faculdade de Medicina, foram os seguintes: Dr Geraldo da Silva Venâncio (1966 - 1991), Elpídio Manhães (1991 - 1994), Nilson Bastos Guitton (1994), Makhoul Moussalem (1994 - 1997), Marcos Bruno (1997 - 2000), Wilson Paes (2000 a 2003 e reeleito até 2006) e Jair Araujo Junior (2006 a 2009) quando foi reeleito até 2011, porém no período de 2009 a 2010, ele se licenciou da presidência para assumir a direção geral do Hospital Escola Álvaro Alvim onde está até hoje. No seu lugar, assumiu o vice-presidente, Almir Jesus do Nascimento, que também permanece até hoje no exercício da presidência. Em abril de 2011 foi aprovada pelo Conselho Supremo da Fundação Benedito Pereira Nunes, uma alteração nos Estatutos e se fixou em quatro anos o mandato da diretoria, ficando automaticamente prorrogado por um ano e se extinguirá em março de 2013. A motivação para essa mudança foi à necessidade de se promover uma coincidência de mandatos e períodos de duração, entre a direção da Faculdade de Medicina de Campos e a diretoria da Fundação Benedito Pereira Nunes. É fácil observar que em seus quarenta anos de existência, a Faculdade conviveu com poucos e abnegados Presidentes da sua mantenedora. Um destaque, sem demérito para os demais, deve ser atribuído à gestão, por 25 anos, do Dr. Geraldo da Silva Venancio, que, à frente da Fundação, implantou e manteve a Faculdade, cooperando de forma harmônica e construtiva com 189
_SFMC_90 anos.indd 189
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
todos os Diretores dessa Escola Médica, num período em que consolidou sua jovem reputação de instituição formadora de médicos, séria, modesta nas posses e recursos, mas plenamente competente em realizar a sua finalidade de formar, mais que informar, os profissionais médicos que a nossa população necessitava. A gestão da Faculdade contou em sua história com os seguintes Diretores: Professores Osvaldo Luiz Cardoso de Melo (1967-1968), Ewerton Paes da Cunha (1968-1973), Décio Lobo de Azevedo (1973-1976), Luiz Carlos Mendonça da Silva (1976-1985), Luiz Augusto Nunes Teixeira (1985-1986), Osvaldo da Costa Cardoso de Melo (1986-1993), Jair Araujo Junior (1993-2005) e Nélio Artiles Freitas, de 2005 até os dias de hoje. Cada um destes abnegados gestores acadêmicos, que não abandonaram em nenhum momento suas atividades docentes, representou, por sua característica própria, um tipo de gestão. Dois ciclos podem ser identificados. Os primeiros 25 anos, em que os Diretores foram fundadores desta escola ou conviveram de forma próxima com o seu processo de criação. A competência, com que operacionalizaram cada passo do planejamento, da execução e da avaliação das suas atividades, deixou marcas profundas em nossa identidade. Era absolutamente necessário que a evidente ascendência técnica e moral que tinham sobre toda a comunidade acadêmica, fosse utilizada para a realização dos objetivos dessa mesma comunidade. Os anos seguintes foram assumidos por dois ex-alunos, que buscaram a participação direta de todos os atores da comunidade acadêmica, naquelas etapas da gestão, já referidas no ciclo anterior, acrescidas da pactuação coletiva em torno da solução dos problemas de interesse comum. Inaugurava-se, em 1993, o processo de Gestão Participativa, que, iniciado pela identificação dos atores institucionais –gestores, docentes, discentes e funcionários técnico-administrativos – evoluiu para a elaboração de um orçamento em que 190
_SFMC_90 anos.indd 190
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
todos analisavam as propostas, suas justificativas, e elegiam suas prioridades, chegando a receber a seguinte referência feita por Gallo, no relatório 99/00 do Projeto CINAEM–III Fase: “Redirecionamento de recursos pela modificação da Gestão. Estas experiências não são exatamente de aproveitamento de oportunidades do ambiente externo, mas particularmente de otimização das possibilidades inerentes à natureza privada das escolas, caracterizadas pela captação de recursos das mensalidades e da prestação de serviços. O paradigma é o Orçamento Participativo, implantado em Campos-RJ, que propicia a inversão da lógica tradicional de relação orçamentário-financeira, com conseqüente redefinição do investimento, de acordo com prioridades pactuadas entre os distintos Atores”. Fortaleceram-se as representações da Associação dos Docentes de Medicina de Campos-ADOMEC, da Associação dos Funcionários da Faculdade de Medicina de Campos-AFAMEC, e do Diretório Acadêmico Luiz Sobral-DALS, com a garantia de voz e voto em todas as instâncias e fóruns internos. A institucionalização deste e de outros avanços na gestão foi regulamentada pela reforma do Regimento, realizada em 1999, que criou as seguintes instâncias de decisão e participação: Conselho Supremo – assembléia final – e Departamental – deliberativo em questões didáticas e científicas –; Comissão de Seleção de Alunos – presidida pelo Coordenador de Graduação, com 03 membros docentes e um discente, que coordena e aperfeiçoa o sistema de admissão, além de analisar os processos de solicitação de transferências; Comissão de Assistência ao Estudante – presidida pelo Vice-diretor, com 06 membros docentes, 06 discentes e um Assistente Social, que seleciona candidatos carentes a bolsas e demais programas assistenciais ou de financiamento da mantenedora; Comissão de Pesquisa – presidida pelo Coordenador de Pesquisa, com 05 membros docentes, 01 discente representando o DALS e 01 discente representando a SUPEM, que tem por 191
_SFMC_90 anos.indd 191
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
finalidade estimular a realização de projetos de pesquisa a serem executados por membros do corpo docente e/ou discente, procurando fornecer apoio e subsídios para sua realização, ouvidos o Comitê de Ética em Pesquisa e/ou a Comissão de Ética no uso de animais; Comissão de Planejamento e Orçamento – presidida pelo Diretor, com 03 membros docentes, 01 representante da ADOMEC, 01 representante do DALS e 01 representante da AFAMEC, que elabora a proposta orçamentária anual e acompanha mensalmente a sua execução, a partir das formulações oriundas dos setores, disciplinas e departamentos; Comissão Pedagógica – presidida pelo Coordenador Pedagógico e de Cultura, contando com os representantes da ADOMEC, do DALS, da AFAMEC, além do Coordenador de Graduação e da Assessoria Pedagógica, que desempenha importante papel no apoio e no planejamento das atividades pedagógicas da Escola, contando com a participação, sempre que necessária, dos chefes dos Departamentos. As Coordenações foram também redefinidas da seguinte forma: Coordenações de Graduação, Pós-graduação e Extensão, Pesquisa, Pedagógica e de Cultura. A regulamentação por si só não garante o exercício pleno da gestão participativa. São necessários perseverança e permanente incentivo, para que todos os atores se sintam verdadeiros autores da política e da gestão institucionais, sem intervir logicamente nas responsabilidades executivas dos gestores eleitos. O processo eleitoral conta com etapa fundamental de consulta à comunidade que, através do voto, com pesos proporcionais, como preceitua a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, indica, em chapa vinculada, o Diretor e o Vice-Diretor para o quadriênio, sendo permitida a recondução. Este processo induz os que se dispõem a dedicar-se à gestão dessa Escola, a desenvolverem projetos de gestão e os defendam perante esta comunidade, que se encarregará de permanentemente zelar para que sua realização seja satisfatória. 192
_SFMC_90 anos.indd 192
9/1/2012 23:24:59
SFMC 90 anos de história
A compreensão de qualquer processo, principalmente de gestão, necessita de tempo de observação e convivência com quem o exercita ou vive sob a sua influência. Neste sentido, a Faculdade de Medicina de Campos encontra-se em permanente inquietação e busca pelo aperfeiçoamento, dedicando-se, após nove anos, a nova revisão do seu Regimento, para assim manter contemporâneas regras e práticas. •Docentes – Discentes – Funcionários técnico-administrativos A Gestão Participativa, adotada no segundo ciclo de gestão –1993 a 2008 – como matriz para a implementação das políticas educacionais, organizacionais e de autoconhecimento, não significa visão reducionista do imenso valor que a gestão, desenvolvida no ciclo sob a responsabilidade dos nossos fundadores – 1967 a 1993, representou na criação e consolidação dos nossos corpos docente, discente e técnico-administrativo. Significa, entre outros valores, a evidência sistematizada e metodológica de que estes três atores sempre foram importantes pilares na realidade concreta da nossa existência e de nosso desenvolvimento. A abordagem individual que faremos do perfil de cada um deles significa reconhecimento à singularidade das suas histórias e missões, confluentes para o avanço constante desta escola médica. • Docentes. O corpo docente foi constituído, inicialmente, na Faculdade de Medicina de Campos, mediante convite, cuja aceitação se fez comprometida com a nossa proposta de profissionais de considerável reputação no meio da Educação e da Assistência médicas, em nosso Estado. Um bom exemplo pode ser 193
_SFMC_90 anos.indd 193
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
identificador dentre os nomes, já citados, dos nossos titulares iniciais. A observação retrospectiva deste grupo precursor nos permite, hoje, identificar três tipos de predicados, definidores de subgrupos, tornados pilares estruturais permanentes do nosso corpo docente, espontaneamente criados. O primeiro refere-se aos Professores, em sua maioria titulares da UFRJ e da UFF, lideranças de escola acadêmica, principalmente na área básica, de experiência e largo conceito conquistado junto à educação médica brasileira que, além de organizarem suas disciplinas e departamentos, de ministrarem – semanal e efetivamente – magníficas aulas e estimular através de seu exemplo, preocupavam-se em capacitar, para sua sucessão, os próprios ex-alunos que aqui se radicariam. Alguns exemplos: Anatomia – Rogério Benevento, Maurício Moscovici, Bruno Alípio Lobo, George Bittencourt Doyle Maya, Lafayette Rodrigues Pereira, José Rodrigues Coura, Lauro Sollero, José Otílio Leite Machado, Osvaldo Serra e Norton de Figueiredo. O segundo predicado diz respeito aos jovens Professores, médicos de intenso e conceituado exercício assistencial que se dedicaram à nossa Escola, desenvolvendo um modelo de ensino profissional baseado nas reais necessidades de saúde e excelência da prática assistencial. Alguns exemplos: Yussef Bedram, Edino Jurado da Silva, Guilherme Eurico Bastos da Cunha e Hervé Linhares Machado. O terceiro e último predicado refere-se a jovens, competentes e inquietos Professores, dispostos a enfrentar o desafio de sustentar o dia-a-dia do nosso modelo pedagógico, sempre buscando rediscuti-lo e promover as inevitáveis mudanças. Alguns exemplos: Renato Moretto, José Maria Pinto Barcellos, Honor Sobral, Nérton Pinto Fernandes Távora, Osvaldo Luiz Cardoso de Melo, Osvaldo da Costa Cardoso de Melo, Jean Claude Nahoum, Paulo Belfort Aguiar, Luiz Carlos Mendonça da Silva, Ewerton Paes da Cunha; Décio Lobo de Azevedo, Luiz Augusto Nunes Teixeira. 194
_SFMC_90 anos.indd 194
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
Importante marco na organização e na identidade dos Docentes, foi a fundação, em outubro de 1983, da Associação dos Docentes da Faculdade de Medicina de Campos. Entidade independente, mas sem corporativismo radical, representativa do desejo associativo dos docentes, promove, em seus vinte e cinco anos de existência, uma constante luta pelo aperfeiçoamento cultural e funcional dos nossos professores, participando, de forma ativa e propositiva, de todos os fóruns institucionais, além de incrementar, por seus meios, a busca por soluções para os problemas específicos da categoria, confluentes com as necessidades desta escola médica. Foi marco na sua trajetória o profundo estudo sobre a carreira docente, promovido em 1991, que culminou com a proposta de criação de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários, base para o nosso atual PCCS, implantado a partir de 1995. Esse Plano significou a concretização de uma real política de valorização do corpo docente, cujas diretrizes vão a seguir apresentadas: • Admissão e promoção a Titular somente por concurso de provas e títulos. Mantém-se assim a democratização no acesso e a necessária mescla entre docentes ex-alunos e os vindos de fora, que assumem aqui novos desafios e compromissos. Alguns exemplos são os professores Fernando Manoel Paes Leme, Aldo Franklin F. Reis, Paulo de Assis Melo, Eliane Gomes de Almeida, Tânia Tano, Ana Maria Mendonça, Regina Célia Fernandes, Valdebrando Lemos, Jorge Sabaneff, Sylvia Regina de Souza Moraes, Marlana Ribeiro Monteiro, Andréya Moreira Machado e Consuelo Chicralla Martins. • Valorização diferenciada em horas de desempenho no ensino, na extensão, na pesquisa e 195
_SFMC_90 anos.indd 195
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
na administração, além da titulação, escalonadas nos seguintes níveis, valorados segundo múltiplos da referência mínima de Instrutor: Titular – 3,7 vezes; Auxiliar V (Doutorado ou Livre Docência) – 3,1 vezes; Auxiliar IV (Mestrado com cinco anos de efetivo exercício como mestre) – 2,8 vezes; Auxiliar III (Mestrado) – 2,2 vezes; Auxiliar II (especialista com no mínimo 180 h/a de domínios conexos à didática necessária à Educação Médica) – 1,9 vezes; Auxiliar I (Graduado com pós-graduação em Educação) – 1,3 vezes; Instrutor ou ingressante (Graduado) – 1 vez. Resultados. Contávamos, em 1994, com 121 doentes, dos quais 60% moravam em Campos, com vínculos distribuídos em níveis de Titular, Assistente e Auxiliar, com carga horária padronizada em 20h semanais cumpridas de forma heterogênea. A titulação era de 21% com stricto sensu, 70% de Especialistas e 10% de Graduados, sendo 9%, do total, pós-graduados em Educação ou com mais de 180h/a de domínios conexos necessários à Educação Médica. Contamos, em 2008, com 127 docentes com uma carga horária média de efetivo desempenho de 14,2h, dos quais 84% moram em Campos, com vínculos efetivos no PCCS, distribuídos pelos 07 níveis – 22 Titulares com média de 15,1 horas; 12 Auxiliares V com média de 9,5 horas; 11 Auxiliares IV com média de 14,7 horas; 21 Auxiliares III 196
_SFMC_90 anos.indd 196
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
com média de 14,7 horas; 50 Auxiliares II com média de 15,6 horas; 01 Auxiliar I com 5 horas; e 10 Instrutores com média de 9,6 horas. A titulação é de 41% com stricto sensu e de 59% de Especialistas, sendo 40% desse total de pós-graduados em Educação ou mais de 180h/a de domínios conexos necessários à Educação Médica. Desta forma, contamos hoje com um corpo docente qualificado, motivado ideologicamente pela educação médica de qualidade e que, coerentemente com nossos marcos históricos, é liderado pelos seguintes Titulares efetivos: Anatomia – Jair Araujo Junior; Biologia e Histologia – Annelise M. de Oliveira Wilken de Abreu; Fisiologia e Farmacologia – Miguel de Lemos Neto; Medicina Legal e Deontologia – Fernado Carvalho Vasconcelos; Pediatria – Renato Alves Moretto; Ginecologia – Dib Abdalla Chacur; Obstetrícia – Aldo Franklin F. Reis; Saúde Coletiva I – César Ronald Pereira; Saúde Coletiva II – Erick Schunk; Microbiologia e Imunologia – Nerton P. Távora; Parasitologia – José Otílio Machado; Clínica Médica – Geraldo Augusto P. Venâncio; Semiologia – Edino Jurado da Silva; Doenças Infecciosas e Parasitárias – Nélio Artiles Freitas; Dermatologia – João Luiz Matos de Almeida; Psiquiatria e Saúde Mental – Maurício Lobo Escocard; Traumato-ortopedia – João Peralva Bousquet; Urologia – Rubem Andrade Arruda; Cirurgia – Fernando Manoel Paes Leme; Oftalmologia – Osvaldo da Costa Cardoso de Melo; e Otorrinilaringologia – Magid Abud. A docência foi uma das variáveis de maior impacto na qualidade da Educação Médica, sendo a sua profissionalização meta a ser alcançada, estabelecida coletivamente ao término dos dez anos do processo de avaliação transformadora, desenvolvido pela Comissão Interinstitucional Nacional de 197
_SFMC_90 anos.indd 197
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
Avaliação do Ensino Médico-CINAEM (1991-2000). Valorizar a titulação e o desempenho é ação estratégica na busca por este ideal. A valorização oficial dessas iniciativas é reforço fundamental ainda não exercido pelo SINAES, que continua pontuando, com maior ênfase, indicadores isolados e não os aspectos sistêmicos e seus impactos na singular realidade das instituições onde realmente acontecem. • Discentes A boa formação profissional dos alunos de uma Escola é o principal objetivo de toda instituição responsável e comprometida com sua missão educadora. Não bastam, no entanto, toda uma boa infra-estrutura física, de pessoas e de recursos pedagógicos. Ao aluno cabe a principal tarefa: aprender, nas suas singularidades pessoais, incorporando cognição, habilidades e atitudes, necessárias ao bom desempenho profissional. A Faculdade de Medicina de Campos, ao ser criada em 1967, projetou atender a uma demanda regional, por formação de médicos. Havia uma baixa disponibilidade de novos profissionais para substituir aqueles que encerravam suas atividades, associada à evasão dos nossos jovens em busca de formação médica nos grandes centros. Radicavam-se nesses centros, desenvolvendo, na maioria dos casos, sua vida profissional pósgraduada. Esta realidade fez com que se projetasse, inicialmente, uma Escola com turmas anuais de 64 alunos, preparando-se toda a infra-estrutura de laboratórios para uma capacidade de utilização de 32 alunos em cada turno de prática. Nem sempre o que se planeja encontra ressonância nas demandas sociais futuras. A existência de um contingente expressivo de candidatos, aprovados em vestibular para Universidades públicas, mas não admitidos devido à escassez de vagas nestes cursos, criou a figura do excedente. Esta realidade en198
_SFMC_90 anos.indd 198
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
controu ressonância política, sendo então deflagrado um movimento de incentivo oficial pela abertura de novos cursos privados e ampliação significativamente alta, nas vagas dos cursos públicos. Os reflexos, no nosso cuidadoso e cauteloso projeto, foram imediatos, sendo “sutilmente imposto” um acréscimo de mais um módulo de 32 alunos, ficando nossas turmas com 96 alunos, associando-se uma antecipação no cronograma para a autorização de funcionamento do curso. Passamos também a contar com alunos vindos de outros Estados, alguns bastante longínquos e de realidades socioculturais diversas das nossas. O que poderia hoje parecer um equívoco histórico, tornou-se um importante propulsor do desenvolvimento cultural da nossa região, aliado a uma qualidade sólida, conquistada com a seriedade e a aplicação permanentes da comunidade acadêmica, do sistema de saúde local e de toda a comunidade campista. Diante de um novo contexto, vivenciado nos anos 90, decorrente da proliferação nacional, excessiva e descontrolada, dos cursos médicos, e preocupados com a busca permanente por aperfeiçoamento da qualidade, assumimos novo desafio: reduzir em 20%, inicialmente, o número de alunos por turma, com o objetivo de, em um prazo médio, retornar ao projeto inicial de 64 alunos, melhorando a relação professor/ aluno. Detínhamos, àquela época, a aparentemente meritória posição de curso com anuidades mais baratas do nosso Estado. Isso nos acarretava uma impossibilidade de investimentos em nosso corpo docente e em infra-estrutura física, que os novos tempos impunham. Resolveu-se então, a partir de 1995, reduzir o ingresso para 80 alunos, de modo a alcançarmos, progressivamente, em 2000, a plenitude das nossas turmas com esse número de alunos. Apesar de bem planejada, pedagógica e economicamente, e de ter possibilitado, através de pactução com os alunos a implantação do PCCS para os Docentes, esta mudança encontrou resistência interna e, por incrível que pa199
_SFMC_90 anos.indd 199
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
reça, junto ao MEC, que desconfiava de que alguma intenção subjacente (?) estivesse por trás desta iniciativa. O tempo encarregou-se de mostrar o acerto da medida, e o único reconhecimento público foi uma moção de aplauso estabelecida no Congresso da ABEM, em 1995. Repete-se, assim, a falta de reforço positivo que os processos oficiais de avaliação oferecem às iniciativas inovadoras e coerentes com o bom senso. Nova etapa de revisão do nosso número de alunos ocorreu, a partir de 2006, quando as necessidades de sustentação econômica de um importante projeto de busca do equilíbrio entre os recursos, necessários para continuar a permanente busca pela qualidade e da capacidade dos alunos arcarem com um razoável valor das anuidades, fezeram com que, em 2007, fosse fixado em 90 o número de alunos por turma, e, em 2008 retomados os 96 alunos, conforme nossa autorização e reconhecimento estabelecem. Contamos hoje, portanto, com um total de 561 alunos, distribuídos pelas seis séries. A caracterização dos nossos alunos não se prende apenas ao número de vagas. Alguns importantes papéis são desempenhados, significando uma formação cidadã, que deve acompanhar a profissional. São eles: • O Diretório Acadêmico Luiz Sobral–DALS, que representa, desde 1967, os nossos alunos, com uma intensa atividade cultural, política e esportiva. • A Sociedade Universitária de Pesquisa MédicaSUPEM, criada em 1970, que é gerida por estudantes, tendo incentivado, através de inúmeros cursos, jornadas e congressos, a pesquisa e a discussão pública dos seus resultados. Assumiu atualmente a criação das Ligas Acadêmicas. A política de apoio aos alunos é bem representada pelos 200
_SFMC_90 anos.indd 200
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
seguintes exemplos: a) Apoio Bio-psico-social – Existem fatores de ordem bio-psico-social que influenciam a formação profissional. Desenvolvemos os seguintes programas: Serviço de Apoio aos Estudantes – SAE, estruturado com Médico Clínico, Médico Psiquiatra, Psicólogos, Pedagoga e Assistente Social. Ligado diretamente à Coordenação Pedagógica, o SAE faz acompanhamento preventivo de todos os alunos, durante os seus cursos de graduação. Busca a identificação de fatores de risco, individuais e coletivos, orientando e encaminhando a profissionais especializados, para a solução dos mesmos. b) Programa de Bolsas de Estudo. A carência econômica que os alunos e suas famílias enfrentam é um fato que prejudica o desempenho do estudante, exigindo da IES a busca por soluções que minimizem o seu impacto negativo. As bolsas de estudo são oferecidas aos alunos que se candidatam anualmente e se submetem a uma seleção que leva em consideração a necessidade sócio-econômica, classificando e beneficiando dentro dos recursos disponíveis. Este processo é realizado inicialmente pelo Serviço Social da FBPN, que promove a inscrição, preenchimento da ficha sócio-econômica pelo candidato, classificação segundo planilha pré-definida pela Comissão de Assistência ao Estudante, além de visitas aos candidatos para constatação das reais condições de vida. A Comissão de Assistência ao Estudante, formada por 06 docentes e 06 discentes, com o apoio do Serviço Social, analisa os resultados da primeira etapa e classifica os candidatos, atribuindo os percentuais e origem dos recursos para as bolsas, que têm duração de 01 ano, renovável. Outras fontes de bolsas, como monitoria e externas – Prefeituras Municipais e FIES – são facilitadas. Assim são os nossos alunos. Cada vez mais jovens e, como todos, com uma imensa motivação inicial em ajudar ao próximo. Cabe à sociedade e a nós, órgão formador, incentivar, 201
_SFMC_90 anos.indd 201
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
atribuindo reconhecimento meritório e profissional a esta qualidade geralmente ignorada. • Funcionários Técnico-administrativos O grupo de pessoas que trabalha nos diversos setores técnicos e administrativos da Faculdade de Medicina de Campos possui em comum a dedicação exclusiva, aliada a um grande zelo pela Escola, como se a sua casa fosse. O fato de vários estarem na Fundação Benedito Pereira Nunes desde antes da sua criação, os fez desenvolver um espírito de cuidado responsável, que vem sendo assimilado por todos os que, novos, aqui são admitidos. Aqueles funcionários, pessoas simples alçadas à condição de eméritos, são os seguintes: Sr. Antônio Francisco Reis, Sr. Elísio da Silva Souto, Sr. Hamilton Monteiro Braga, Sra. Izaltina Claudino de Oliveira, Sra. Joselita de Sousa Paes, Sr. José Sebastião dos Santos, Sr. Paulo Pessanha da Silva, Professora Ruth Maria Chagas de Oliveira Martins e Sra. Noeuci Gomes das Chagas. Evidência marcante da identidade desse valoroso corpo funcional foi a sua evolução como ator social, com a criação, em outubro de 1997, da Associação dos Funcionários da Faculdade de Medicina de Campos-AFAMEC que desenvolve produtivas atividades políticas, sociais e culturais. Um dos fatos mais marcantes da sua trajetória foi a construção, juntamente com o Departamento de Pessoal, do Plano de Cargos Carreiras e Salários-PCCS, específico para a categoria que, implantado a partir de 1999, valorizou e organizou a carreira com a hierarquização de cargos e salários segundo minuciosa descrição das missões e funções específicas, nos seguintes cargos: A) Supervisor (4 níveis); B) Encarregado (5 níveis); C) Assistente (4 níveis); D) Auxiliar (3 níveis). O apoio para qualificação de servidores técnico-administrativos é estabelecido por uma 202
_SFMC_90 anos.indd 202
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
valorização atribuída periodicamente, aos funcionários que se capacitarem e/ou atualizarem-se em suas áreas de atuação. Oferecemos também cursos de capacitação e atualização, premiação do funcionário destaque do mês, bolsas parciais para frequência aos cursos de pós-graduação e cursos de capacitação de curta duração, desenvolvidos em parceria com a AFAMEC. A organização dos setores obedece ao seguinte formato, com suas ramificações: a) Administração geral – ligada diretamente à Direção, cuida do planejamento, execução e avaliação das áreas financeira, de infra-estrutura e manutenção; b) Apoio ao Estudante – Centro de Apoio Pedagógico-CAP e Serviço de Apoio ao Estudante-SAE, ligados diretamente à Coordenação Pedagógica, exercida pela Vice-Direção; c) Secretaria Executiva – Cuida do fluxo de funcionamento e ações emanadas do Conselho Diretor; d) Secretaria Acadêmica – ligada diretamente à Coordenação de Graduação, registra e valida toda a organização das atividades da graduação; e) Secretaria da Pós-Graduação e Pesquisa — Ligada às Coordenações de PósGraduação e Pesquisa, apóia os Cursos e demais atividades que lhe são afeitas; f) Os laboratórios – contam com corpo técnico específico, ligado diretamente às disciplinas a que se vinculam. A confluência para os Departamentos de responsabilidade geral da Fundação, como Administração, Jurídico, Tesouraria, Patrimônio, Gestão de Pessoas e Contabilidade, faz com que o aspecto sistêmico da gestão seja garantido. • Infra-estrutura A Faculdade de Medicina conta, em sua sede, com: • Salas do Conselho Diretor, dos Professores, das Secretarias Executiva, Acadêmica, de Pós-Graduação, de Internato. 203
_SFMC_90 anos.indd 203
9/1/2012 23:25:00
SFMC 90 anos de história
• Salas da Recepção, Administração, Tesouraria, Departamento de Pessoal, Serviço de Apoio ao Educando, Centro de Apoio Pedagógico, Telefonia, Arquivos, Manutenção e Obras. • Diretório Acadêmico, SUPEM, ADOMEC e AFAMEC. • Auditórios – 01 com capacidade para 300 pessoas; 05 com capacidade para 100 pessoas; 02 com capacidade para 80 pessoas e 04 com capacidade média para 60 pessoas. Espaços de convivência, cantina, estacionamento e sanitários. Acessibilidade garantida por elevador e rampas. • Laboratórios – Anatomia, Histo-Biologia com Patologia, Microbiologia-Imunologia com Parasitologia, Fisiologia com Farmacologia, Bioquímica com Biofísica, Cirurgia Experimental e Informática. • Informatização de todos os setores, com 103 computadores em rede interna, sendo 91 com acesso à Internet. • Biblioteca – (a) Acervo – Livros impressos, 2550 títulos e 7039 exemplares e assinaturas eletrônicas, 51 títulos; Periódicos impressos, 241 correntes, sendo 217 nacionais e 26 estrangeiros e assinatura eletrônica de 87 títulos; monografias 64; teses e dissertações 333; folhetos 109; Vídeos 291 e Base de Dados com mais de 80 títulos de periódicos full text. (b) Política de atualização e expansão do acervo. — Aquisição, permuta e doação, que atendam aos programas dos cursos oferecidos pela instituição, em consonância com seu Projeto Pedagógico, considerados os padrões de qualidade e quantidade estabelecidos pelo MEC/ INEP. A aquisição é feita segundo proposta orçamentária apresentada no ano anterior, baseada nas 204
_SFMC_90 anos.indd 204
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
propostas emanadas das disciplinas e solicitações dos alunos. (c) Informatização – A base de automação do acervo é feita com o software PERGAMUN – Sistema Integrado de Bibliotecas. A consulta ao acervo pode ser feita nos terminais existentes no local e online. (d) Salas para leitura e pesquisa – Sala multimídia com 09 computadores e 20 assentos; 13 cabines individuais, 25 mesas individuais, 2 cabines de estudo em grupo com 2 mesas e 12 assentos; sala de estudos com 12 mesas com 6 lugares cada. (e) Ambiente climatizado, sinalizado, seguro contra incêndios, esterilizador de ar e antimofo, e iluminação fluorescente. Contamos com ampla rede hierarquizada de Serviços de Saúde, nos diferentes níveis, a saber: • Centro de Saúde Escola de Custodópolis – Sede do Projeto Bairro Saudável – conta com várias instituições de ensino superior, reunindo o ensino e a pesquisa de Campos na busca pela melhoria da qualidade de vida desta comunidade. Integrado ao Programa de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde – SUS, funcionando como referência secundária em saúde mental, saúde do idoso, dermatologia sanitária, ginecologia e outros. • Hospital Escola Álvaro Alvim (certificado como hospital de ensino pelo MEC/MS) – 124 leitos, 05 Salas de Cirurgia, Unidade de Terapia Intensiva com 10 leitos, Serviços de Clínicas Médica, Cirúrgica, Pediátrica, Setores de Radiologia, Análises Clínicas, Anatomia Patológica, Hemodinâmica e Cirurgia Cardíaca, Neurocirurgia, Oftalmologia, Oncologia Clinica e Cirúrgica, entre outros. 205
_SFMC_90 anos.indd 205
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
• Hospital dos Plantadores de Cana – 207 leitos, 02 Centros Cirúrgicos, Serviços de Obstetrícia de Alto Risco, Pediatria, Perinatalogia, Cirurgia, Ginecologia e Clínica Médica e Especialidades. • Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos – 198 leitos, 09 Salas de Cirurgia, Unidade de Terapia Intensiva, Serviços de Clínicas Médica, Cirúrgica, Ginecológica e Obstétrica de baixo risco, UTI Neonatal, Endoscopia Digestiva, Tomografia Computadorizada, Ultrasonografia, Histeroscopia, Medicina Hiperbárica, Ortopedia e outras especialidades. • Hospital Ferreira Machado – 170 leitos, 06 Salas de Cirurgia, 08 leitos de Neuro-Cirurgia, 02 Unidades de Terapia Intensiva, Hemocentro Regional, Referência nível 03 do Ministério da Saúde para urgência e emergência, Clínica Cirúrgica, Pediatria, Doenças Infecciosas e Parasitárias, Traumatoortopedia e outras especialidades. • Santa Casa de Misericórdia de Campos – 518 leitos (SUS, particular e convênios), 07 salas de Cirurgia, 30 leitos na UTI, Clínica Obstétrica e Pediátrica, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Hemodinâmica, Cirurgia Cardíaca, Fisioterapia, Endoscopia Digestiva, Tomografia Computadorizada e outras especialidades. A permanente parceria com a comunidade médica de Campos, através das suas associações, sempre permitiu avanços que não existiriam no isolamento a que estamos acostumados. Exemplos eloquentes foram a construção conjunta com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, de um Centro de Educação para a Saúde, com auditório de 300 lugares, e a expansão em 1/3 206
_SFMC_90 anos.indd 206
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
da biblioteca e da sede permanente da referida Sociedade, que, sob a liderança do Dr. Luiz José de Souza vem desenvolvendo significativa e qualificada produção científica, com participação e iniciação científica obrigatória dos nossos alunos. Formar nossos alunos na realidade do SUS só é possível mediante bastante integração de projetos e ideais com os gestores municipais, estaduais e federais. Temos conseguido enfrentar este desafio com a determinação que a nossa história nos impõe, aliada à permanente disposição para o diálogo e, dentro do possível, desenvolvimento de projetos conjuntos, abrindo as portas do SUS para uma importante via de mão dupla, em benefício da saúde da população. • Modelo Pedagógico “Formar o médico geral, com ampla concepção biológico-social de saúde e enfermidades, orientando-o na prática dos princípios éticos e humanitários”, foi como o primeiro Regimento da Faculdade de Medicina de Campos objetivou seus destinos em 1967. Ampliou-se em 1999 para “Formar médicos e outros profissionais de nível superior, da área da Saúde, preservando, elaborando e transmitindo os conhecimentos necessários ao exercício e desenvolvimento profissional, com ampla concepção biológico-social de saúde e enfermidades, orientando-os na prática de princípios científicos, éticos e humanitários”, persistindo até hoje. Cumprir esses objetivos e atender às Diretrizes Curriculares já citadas no início deste trabalho é o que consubstancia, finalmente, a real Educação Médica em nossa Faculdade. O modelo inicialmente implantado, hegemônico — nacional e internacionalmente – biológico, cartesiano, com disciplinas divididas em ciclos básico e profissional, centrados no hospital –, e coerente com o paradigma de qualidade vigente, 207
_SFMC_90 anos.indd 207
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
logo começou a sofrer, nos anos 70, as influências das possibilidades locais em desenvolvermos uma integração docente-assistencial e verticalização com o ensino em ambulatórios rurais. Outra inovação foi o ensino de habilidades em manequins e modelos artificiais, com simulações de atos cirúrgicos simples, além de teatralizações, como cenário para discussão de atitudes. Praticávamos e aprendíamos todos, alunos e professores, o desenvolvimento de competências médicas, para a formação de profissionais e cidadãos. Durante trinta anos esse modelo vigorou, criando uma identidade pedagógica sólida, mescla do ensino tradicional de qualidade com experiências inovadoras. Os anos noventa trouxeram, para a Educação Médica nacional, a necessidade de corrigir a intuída e preconceituosa concepção coletiva de que a formação deficiente dos nossos médicos era produto de “escolas privadas ruins”, decorrentes da “proliferação desordenada dos anos 60”. Logo surgiu proposta de estabelecer o Exame de Ordem em medicina, com toda a carga punitiva sobre o recém-formado, sem atacar de fato as causas da má formação, e sim delimitando um mercado que depende fundamentalmente de qualidade na formação e postura ética, humanística e responsável, para um bom exercício profissional, com fiscalização dos Conselhos, não somente sobre esse exercício, como sobre as condições de trabalho. Surgiu então a CINAEM, que, através de três fases, com duração de 10 anos, não somente diagnosticou, com forte embasamento científico, a deficiência geral – pública e privada – em formar médicos adequados às necessidades de saúde da população, como também estabeleceu um novo paradigma para a formação médica, holísitica, centrado na comunidade, e biopsicosocial. A participação ativa de gestores, professores e alunos da Faculdade de Campos nesse processo de construção coletiva, e as bases estruturantes da nossa história, com gestão participati208
_SFMC_90 anos.indd 208
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
va e incremento pedagógico e profissional dax carreirax docente e técnico-administrativa, fizeram com que um movimento de transformação do nosso modelo fosse deflagrado, no início dos anos 2000, em direção ao novo paradigma, oficialmente assumido pelas Diretrizes Curriculares. Assim, foram necessárias 39 oficinas, 12 reuniões dos Departamentos, 17 reuniões da Comissão Pedagógica, 03 Plenárias e 03 Reuniões do Conselho Departamental, seguidas por 02 do Conselho Superior, com a participação de 155 pessoas (docentes, discentes, funcionários, gestores e representantes da comunidade) para estabelecer as bases para a Atualização Curricular na Faculdade de Medicina de Campos, produzindo os seguintes princípios fundamentais: 1) Médicos humanistas, que exerçam a Medicina com visão e compromisso social, formação biopsicossocial, e aptos à busca da educação continuada. 2) Pacto ético de todos, visando ao compromisso assumido com as Bases da Atualização Curricular. 3) Atualizações de Estruturação (grade) Curricular coerentes com as Bases da Atualização Curricular, dinâmicas e gradativas, integrando pessoas e conteúdos. 4) Definição de que disciplinas são locais em que grupos de pessoas adquirem e aprofundam conhecimentos em uma ou mais áreas específicas do conhecimento e habilidades, e que local ou espaço curricular é onde acontece o processo de ensino e aprendizagem, na estrutura (grade) curricular, preferencialmente de forma interdisciplinar, sendo necessários e desejáveis cursos ou disciplinas com conteúdos optativos. 5) Participação de todos – alunos, professores e funcionários – como sujeitos na construção, execução e avaliação curricular e no cuidado com a comunidade. 6) Promoção da incorporação crítica, por todos, de habilidades e atitudes, principalmente as de características ético-profissionais. 7) Interdisciplinaridade, integrando efetivamente conteúdos, habilidades, atitudes e principalmente pessoas. 8) Preparo de todos os sujeitos, visando à inserção precoce dos alunos 209
_SFMC_90 anos.indd 209
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
em práticas comunitárias promotoras de saúde. 9) Avaliação interna e externa (CINAEM, MEC etc.) como processo mediador de transformações que visem à melhoria da qualidade. 10) Valorização dos processos de formação discente – atual e futuro – e de gestão participativa, assim como das carreiras docente e técnico-administrativa. Os fundamentos de Ética e Humanismo serviriam de pano de fundo para o seguinte desenho curricular: a) Internato em 02 anos, realizado em 05 áreas: Ginecologia/Obstetrícia, Pediatria, Cirurgia, Saúde Coletiva e Clínica Médica. b) Disciplinas distribuídas em 03 áreas de atuação – Fundamentos, Integração e Aplicação. c) Dois períodos semanais de práticas laboratoriais, compartilhados pelas disciplinas de Fundamentos. c) 03 eixos integradores a serem desenvolvidos ao longo das quatro séries: Instrumentalização para o Exercício Profissional (IEP), Recursos Tecnológicos de Diagnósticos (RTD) e Formação Humanística e Biopsicossocial, aplicada à Saúde(FHBS). d) Cursos Optativos. Assim foi feito e, a partir de 2002, foi implantado o novo modelo. Um permanente processo de avaliação interna e externa foi exercido; começaram a surgir precocemente as resistências, fruto da insegurança de muitos docentes, que não participaram ou manifestaram sua contrariedade quanto ao novo modelo, durante processo de construção coletiva, atitude aliada à transitoriedade e imediatismo de alunos que se mantinham impregnados de preconceitos contra o novo. Em agosto de 2005 foram estabelecidas as seguintes diretrizes orientadoras. Além de um processo de adequação curricular: a) Tornar as necessidades de saúde o fator e exposição. b) Racionalização de conteúdos. c) Racionalização da carga horária teórica e prática. d) Integração das ciências básicas e profissionalizantes. e) Possibilidade de módulos optativos. f) Estímulo à pesquisa. g) Racionalização das avaliações. h) Aumento das unidades básicas. 210
_SFMC_90 anos.indd 210
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
Em outubro de 2005 foi realizado o I Seminário sobre Transformação do Ensino na Faculdade de Medicina de Campos, em que, apesar de aprovado um novo modelo pedagógico, ocorreu, de concreto, um ajuste no currículo, que suprimiu os eixos integrados e ampliou a carga horária de algumas disciplinas. “Retroceder um passo para podermos avançar com mais segurança”. Esta foi a lógica aprovada pela maioria dos responsáveis participantes do Seminário. Sábia, porque fruto de decisão coletiva. Talvez prematura, antes da avaliação plena do desenho anterior. Nunca saberemos. Apenas conseguimos comprovar, pela avaliação do ENADE de 2007, que os alunos da única turma que cursou de forma plena aquele currículo, tiveram um desempenho plenamente satisfatório e coerente com a nossa performance histórica, em face de avaliações semelhantes. Hoje continuamos a buscar humanização, integração, otimização dos conteúdos e revisão dos nossos processos de avaliação dos alunos. O cinema e o teatro são ferramentas para humanizar, através do lúdico. Contamos também com um permanente e eficiente sistema de avaliação interna que, ao ouvir as satisfações quantitativas e qualitativas de todos os docentes, discentes e funcionários, estabelece, nos diferentes fóruns, as bases para as permanentes e necessárias mudanças e ajustes que o aperfeiçoamento contemporâneo e a nossa história exigem. • Conclusão Educação Médica na Faculdade de Campos! Desafio imposto, por gentil convite, da ABEM, aceito com satisfação, mas cumprido com muitas dúvidas entre obedecer à fidelidade histórica ou à subjetividade apaixonada que tenho pela escola que me formou, onde desenvolvo minha vida profissional docente e exercito a prazerosa missão de tentar contribuir para o seu desenvolvimento. Ao tentar trilhar a fidelidade, desviei-me para 211
_SFMC_90 anos.indd 211
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
a subjetividade. Deixo a quem ousar ler este ensaio a resposta sobre se cumpri ou não o desafio. Deixo, por fim, a convicção de que Educação Médica não é somente currículo, métodos pedagógicos, docentes, discentes, funcionários, infra-estrutura, mas tudo junto, acrescido de compromisso com a competência, a ética e o humanismo, em benefício da saúde da população. • Algumas leituras e referências complementares, para aprofundamento da Educação Médica na Faculdade de Medicina de Campos. Atenção de Saúde em Pediatria – autor: Renato Moretto. 1ª ed. 1985 – Damadá Artes Gráficas e Editora Ltda. Catálogo Institucional da Faculdade de Medicina de Campos – 2007/2008. Estatutos da Fundação Benedito Pereira Nunes – 1987. Faculdade de Medicina de Campos – site: www.fmc.br Preparando a Transformação da Educação Médica Brasileira – Projeto CINAEM III fase. Relatório 19992000. Regimento da Faculdade de Medicina de Campos – 1999. Revista do Centro de Estudos da Faculdade de Medicina de Campos. V.4, n. 1 e 2, jan./jul.,2002. Revista dos 40 anos da Faculdade de Medicina de Campos. 2007. Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia – 80 anos de História – 1921-2001 –Autores: Francisco Conte, Sylvia Paes, Welligton Paes, Geraldo da Silva Venancio, Osvaldo Cardoso de Melo, Sebastião Siqueira e Walter Siqueira – Grafisa – Apoio: Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima 2001.
212
_SFMC_90 anos.indd 212
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
Hospital Escola Álvaro Alvim Inúmeras vezes ouvimos e repetimos a belíssima história da origem, instituição, construção e funcionamento parcial do Hospital Álvaro Alvim. O seu funcionamento pleno é capítulo importante que deve ser creditado à gestão do Dr. Makhoul Moussalem. Assim, transcrevemos suas considerações até o ano 2000. l. MISSÃO Ser um Hospital Escola estreitamente ligado à Faculdade de Medicina de Campos, onde se possa praticar, ensinar e pesquisar Medicina; onde a interdisciplinaridade seja plena entre os profissionais de saúde, tais como Médicos, Enfermeiros, Nutricionistas, Fisioterapeutas, Psicólogos, Assistentes Sociais, Administradores Hospitalares; onde o objetivo maior é o ser humano, independente de sua condição social. 2. VISÃO Ser um Hospital moderno, modelo de eficácia e efíciência do ensino e assistência médica, dotado de avançada tecnologia, mas sem esquecer que a clínica é soberana, e que da fusão da tecnologia com o conhecimento se oferece o que há de melhor para o paciente, que é o centro e o objetivo maior do Hospital. As clínicas básicas devem ser estruturadas no modelo docente assistencial, centrado em ambulatórios resolutivos, onde o professor, junto com o aluno, examina o paciente, solicita exames que são realizados no Centro Diagnóstico do Hospital; concluído o diagnóstico e instituída a terapêutica, a internação se dará somente nos casos em que não são passíveis de serem tratados ambulatorialmente, ou nos casos cirúrgicos ou de terapia intensiva. Ter internato pleno e residência médica em diversas clí213
_SFMC_90 anos.indd 213
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
nicas. Ser centro de referência e de excelência Municipal, Regional e Estadual em diversas especialidades, tais como Ginecologia, Neurocirurgia, Cirurgia Cardíaca e outras; Centro de Transplante de diversos órgãos, Centro de Oncologia do Norte Fluminense, onde se dará total apoio à pesquisa. 3. HISTÓRICO Assumimos a Presidência da Fundação Benedito Pereira Nunes em 09 de dezembro de 1994, ao sermos eleitos pelo Conselho Supremo para terminar o mandato de 1994-1997, após a renúncia do Dr. Nilson Guitton. Restavam dois anos e quatro meses deste mandato. A primeira providência foi fazer o levantamento da situação da Fundação e definir o plano de trabalho, baseado nos dados colhidos. 3.1. Situação Patrimonial a) Imóvel da Faculdade de Medicina; b) Hospital Álvaro Alvim; c) Imóvel residencial na Rua São João. 3.2. Receitas a) Mensalidades da Faculdade de Medicina; b) Faturamento contra o SUS referente a Ambulatório, RX, Laboratório de Análises Clínicas e Citopatologia. Aguardamos receber as mensalidades de janeiro e o faturamento do SUS de novembro, pago em janeiro, para que pudéssemos pagar o mês de dezembro e o 13°. Com isso, não havia reserva de caixa. Em janeiro de 1995, após os levantamentos feitos, a situ214
_SFMC_90 anos.indd 214
9/1/2012 23:25:01
SFMC 90 anos de história
ação era a seguinte: o ambulatório do Hospital Escola Álvaro Alvim faturava entre R$ 35.000,00 e R$ 46.000,00 (mensalmente) e dava um prejuízo entre R$ 10.000,00 e R$ 20.000,00 (por mês). Concluímos que seria necessário escolher: ou se ativava o Hospital para funcionar in totum, ou se fechava. 3.3. Decisão de abrir o HOSPITAL Após ouvidas as diversas instâncias da Fundação e da Faculdade, decidiu-se pela abertura do Hospital, pois era anseio e sonho da comunidade acadêmica tanto discente quanto docente ter um Hospital Escola. Solicitamos ao Conselho Diretor da Faculdade de Medicina a elaboração do Regimento Interno do futuro Hospital Escola, de forma que ficasse atrelado e estreitamente ligado à Faculdade, o que foi realizado e aprovado nas diversas instâncias da Faculdade e da Fundação. Durante um número incontável de reuniões discutiu-se qual o perfil do Hospital, e tivemos oportunidade de expor as nossas ideias em relação ao perfil não só do Hospital, como das tendências que a assistência médica estava tomando. Demonstramos que não havia mais necessidade de grande quantidade de leitos, pois não se internava mais para se fazer diagnóstico, uma vez que os métodos de SADT estão muito desenvolvidos, e em nível ambulatorial já se podiam fazer praticamente todos os diagnósticos. As internações seriam apenas para intervenções cirúrgicas e para pacientes graves ou politraumatizados. Estas observações renderam grandes discussões, mas por fim prevaleceram com a aprovação do Conselho Técnico Consultivo, já em funcionamento após aprovação do regimento. Outra grande discussão foi a de que se deveria ou não instalar serviços de tecnologia de ponta, e finalmente decidimos que sim. Além dos serviços de ponta seriam instaladas todas as Clínicas Básicas, isto é, Clínica Médica, Pediatria, Ginecologia 215
_SFMC_90 anos.indd 215
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
e Cirurgia Geral para atender ao Ensino. Na época, Campos não tinha Hospital onde se pudesse fazer, por exemplo, estudo angiográfíco, seja coronariano ou cerebral. Em Itaperuna, o Hospital São José do Avaí recebia todos os pacientes de Campos, ou pelo menos grande parte deles. A Santa Casa estava fechando, e no Dr. Beda também não havia esta aparelhagem. Foi decidido que deveríamos instalar um Serviço de Hemodinâmica e Cirurgia Cardíaca. Foi-nos passada a ideia de que o Hospital estava com sua infra-estrutura toda pronta, e era só mobiliá-lo, comprar o instrumental e colocar em funcionamento. Não foi bem assim, conforme veremos no decorrer do relatório. 3.4. Financiamento Uma vez decidida a abertura do Hospital e definido o perfil deste, saímos em busca de financiamento. Procuramos o Banco do Brasil, do qual éramos correntistas há mais ou menos 40 anos e o Gerente Local e a Superintendência nos afirmaram que não haveria problema quanto à fiança bancária. Diante de tal afirmativa contratamos um arquiteto, iniciamos as obras e fizemos um projeto de aquisição de material e instrumental. Quando compramos à Hemodinâmica da G.E., esta nos ofereceu um empréstimo no valor de U$ 132.000,00 para fazer face às obras e instalação da aparelhagem, que seriam pagos em cinco anos junto com a máquina, sendo necessário apenas carta de fiança bancária. Procuramos o Banco do Brasil e para surpresa nossa foi nos dito, pasmem (xerox em anexo) que precisaríamos depositar esta quantia pelo mesmo prazo de duração da fiança. Neste ínterim através da firma Berkeley tínhamos conseguido do governo da Finlândia um crédito de até U$ 10.000.000,00 (dez milhões de dólares) para compra de todo equipamento e instrumental do Hospital. Gastaríamos talvez em tomo de U$ 2.200.000,00 (dois milhões e duzentos mil dó216
_SFMC_90 anos.indd 216
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
lares) com carência de dois anos e prazo de dez anos para pagar com juros de 7% ao ano. Procuramos de novo o Banco do Brasil e outros bancos e nos foi negada carta de fiança bancária e um gerente, vendo a nossa angústia, nos orientou, para que não mais procurássemos, pois nenhum banco nos daria aval sob o seguinte argumento “Ninguém vai infartar se o projeto não der certo, fundação não tem dono”. Já tínhamos iniciado as obras, a Hemodinâmica estava comprada e já embarcando, havíamos adquirido as camas do Hospital, algum instrumental cirúrgico e não havia mais condições de parar nem retroceder. Terminamos as obras da Hemodinâmica, trocamos o piso da entrada e dos apartamentos para granito, que foi doado pelo Sr. Celso Araújo, instalamos a UTI e o centro cirúrgico, e inauguramos o Hospital em 30/11/96, contando apenas com nossos próprios recursos. Equílibrio e desequilíbrio econômico e financeiro. Somando os déficits provocados, não por falta de planejamento, mas sim por motivos alheios à nossa vontade, e fora do nosso alcance, chegamos à conclusão de que não fora isto, estaríamos hoje com superavit e não com déficit. Dívidas até fínal de fevereiro 2000: Funcionários administrativos Médicos (produtividade + salário) Fornecedores GE
Déficit 1997 Déficit 1998 Défícit 1999 Total
R$ 105.000,00 (l mês de salários atrasados) R$ 600.000,00 R$ 700.000,00 R$ 700.000,00 R$2.105.000,00
Déficit provocado
R$ 505.000,00 (quinhentos e cinco mil reais) R$ 777.000,00 (setecentos e setenta e sete mil reais) R$ 740.000,00 (setecentos e quarenta mil reais) R$ 2.022.000,00 (dois milhões e vinte e dois mil reais)
217
_SFMC_90 anos.indd 217
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
Temos ainda a receber do faturamento de janeiro e fevereiro: R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) Total geral R$ 2.422.000,00 (dois milhões quatrocentos e vinte e dois mil reais) R$ 2.422.000,00 _ R$ 2.105.000,00 = R$. 315.000,00 (trezentos e quinze mil reais), que seria o nosso superavit. Mas como não temos maneira de recuperar as perdas provocadas, a não ser mais ou menos R$200.000,00 (laserj + Geap + Hospital Plantadores de Cana e alguns particulares), temos uma dívida real de mais ou menos R$1.700.000,00 _ R$ 200.000,00 se os recebermos, daria R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais) de dívida. Além dos déficits provocados, temos também a considerar que: 1- A tabela do SUS não sofreu nenhum reajuste até a presente data. 2- Os convênios não reajustam os seus preços desde 1997. 3- O salário de funcionários e médicos foram reajustados de acordo com a inflação em cada ano, na seguinte proporção:1997 - 10%; 1998 - 5%; 1999 - 5% (portanto 20% no total em cima da folha salarial). 4- Todos os insumos sofreram alteração de preços, maior ou menor, se são dolarizados ou não. 5- Em janeiro de 1999 o dólar foi de R$ 1,23 (um real e vinte e três centavos) para quase R$ 2,00 (dois reais). Quando adquirimos a hemodinâmica o dólar estava a R$ 0,99 (noventa e nove centavos), daí a nossa dívida com a GE dobrou em reais. Bastariam estes cinco fatores para desequilibrar qualquer orçamento, de qualquer empresa. Onde já se viu? O próprio Governo não aumenta o valor dos serviços que compra e permite que as multinacionais de material e medicamento cam218
_SFMC_90 anos.indd 218
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
peiem à vontade, com aumentos abusivos nos preços dos seus produtos, que são usados pelos que vendem serviços a ele, e ainda por cima desvaloriza o real de uma hora para outra, quase pela metade. Só no Brasil! Apesar disso tudo que já foi exposto, milagrosamente conseguimos manter o Hospital em funcionamento e estamos evoluindo a ponto de hoje já termos atingido o sonhado equilíbrio financeiro e a manutenção dele. Precisamos é pagar as dívidas, o que será feito pelo empréstimo com que o Governo, com vergonha de ter cometido tanta barbaridade contra os hospitais, resolveu socorrê-los com o programa de “Reestruturação financeira e gerencial”, através do Ministério da Saúde, tendo como agente financeiro a C.E.F., que aliás exaure a paciência de qualquer mortal até lhe conceder o empréstimo. Já estamos na última etapa desta epopéia, e não nos faltará fôlego para terminá-la. Acreditamos fortemente que só conseguimos chegar até aqui, graças à providência divina, que sabe que nossos propósitos são nobres e honestos. O milagre tem uma clara explicação. Foi sem dúvida o corpo médico do Hospital, sua compreensão e abnegação, que, aceitando o atraso dos seus salários e da produtividade, continuou trabalhando com sorriso nos lábios, teve fé e acreditou no futuro do Hospital, apesar de todas as adversidades. Não podemos esquecer o corpo de funcionários e os fornecedores, que também acreditaram em nós. Aliás, sentimo-nos muito honrados e orgulhosos deste apoio que tivemos. Acho que até hoje ninguém teve tanto crédito e apoio da Comunidade, e principalmente da Classe Médica, quanto nós. Campos dos Goytacazes, 10 de março de 2000. A DIRETORIA
219
_SFMC_90 anos.indd 219
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
•2000 a 2008 – Sobrevivência difícil. Dificuldades permanentes em compatibilizar receitas e despesas, sempre baseadas no descompasso entre o orçado e o executado, tendo como fonte os recursos oriundos do SUS. Ainda assim foi implantada a UTI no térreo com 08 leitos. Firmado convênio com a UENF, em agosto/2000 para o funcionamento do NUDIM, provisoriamente no 4º andar e, a partir de setembro de 2002, no segundo andar. Obras para ampliação do HEAA, com verba de emenda parlamentar Federal Deputado Paulo Feijó – R$ 1.500.000,00 – que sempre demonstrou boa vontade em direcionar recursos para a instituição, assim como o Deputado Arnaldo Vianna. Fundo de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e Pesquisa em Saúde-FIDEPS, liberado a partir de agosto/2001, representando R$150.000,00/mês, não reajustados até hoje, representando a contrapartida federal para as mais de cem exigências a serem cumpridas, para manter a certificação como hospital de ensino. Reforma, em 2005 do auditório I. Convênio com MS para compra de ambulância. Convênio com o MS para informatização, com licitação ganha pela MV Sistemas. 2006 – Certificação como Hospital de Ensino MEC/MS. 2007 – Convênio com a SES/ RJ para contratualização com o SUS. Estabelecidas metas qualitativas e quantitativas, como nova metodologia de validação dos serviços prestados ao SUS. Toda a cultura, até então, era voltada para a produtividade pura e simples. Aparecia a qualidade, como controle e avaliação importantes e o prépagamento do pré-fixado, na média complexidade como forma estabelecida de remuneração. Surgiu 220
_SFMC_90 anos.indd 220
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
então o Plano Operacional Anual-POA, a ser pactuado entre os gestores estaduais e o HEAA/ FBPN, com a interveniência dos gestores municipais, a vigorar a partir de novembro/2007. Mais uma vez o previsto não correspondia à realidade. A aceitação acrítica, por parte da SES/RJ, de metas quantitativas e qualitativas, a serem cumpridas, oferecidas pela direção do HEAA, como intenção, sem que possuíssemos sequer equipamentos, como tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética fez com que durante os três primeiros meses de 2008, amargássemos sistemáticos cortes, em torno de 30%, decorrentes do não cumprimento das metas físicas pactuadas. • 2008 a 2011 – O início do ano foi mais uma vez de dificuldades e mudanças. Após mais de uma década à frente do HEAA/FBPN o Dr. Makhoul solicitou sua dispensa do cargo de Diretor Geral do HEAA, por motivos de ordem pessoal, plenamente compreensíveis diante dos relevantes serviços prestados. Encerrava-se assim um período de empreendedorismo, com forte dose de voluntarismo em enfrentar adversidades para concretizar novos avanços. Concordamos sempre com a ideologia comprometida com o desenvolvimento da instituição, defendida por ele, e discordamos, de forma respeitosa e sincera da metodologia operacional por ele praticada. O nosso reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação será permanente. A FBPN e a FMC buscaram então, no Dr. Ralph Dias Pessanha e no Dr. Luís Fernando Machado Alves Moreira, o equilíbrio entre a experiência e a competência administrativa do primeiro e a cre221
_SFMC_90 anos.indd 221
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
dibilidade e profundo conhecimento institucional do segundo. Assim, a nova direção iniciava suas atividades, sendo justo transcrevermos o relatório referente ao ano de 2008. A saber: MODELO DE GESTÃO COLEGIADA EM NÍVEL ÚNICO ENTRE A DIREÇÃO GERAL, DIREÇÃO TÉCNICA, PRESIDÊNCIA DA F.B.P.N., ASSESSORIAS COM APOIO DA F.M.C. Assumimos em 21 de janeiro de 2008 o compromisso de: 1. Estabelecer uma forma de gestão que significasse relação, troca e compromisso com os funcionários e médicos, alma do Hospital, em ouvir – dialogar – participar. 2. Honrar todos os compromissos contraídos anteriormente, a saber: a) Salários em dia dos funcionários como prioridade 1; b) Regularizar a cada mês o repasse dos honorários médicos dos profissionais autônomos que prestam serviços aos pacientes do hospital (produto de 17 meses pagos em 10); c) Garantir o pagamento à vista das compras indispensáveis para o pleno funcionamento do Hospital, a saber: Farmácia, Nutrição, insumos para Laboratório de Análises Clínicas, etc; d) Reconhecer o abnegado sacrifício que terceirizados e parceiros têm para com o Hospital, reconhecendo o crédito e amortizando na medida do possível; e) Pagamento dos serviços essenciais, como 222
_SFMC_90 anos.indd 222
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
água, luz, telefone, gás e outros; f) Amortização da dívida com os fornecedores na medida do possível; g) Diminuição do fluxo das admissões e demissões; 3. Avançar para o aperfeiçoamento logístico do Hospital, a saber: Oncologia em parceria com a Clínica Santa Maria Otimização da Farmácia / Almoxarifado Tomografia Computadorizada em parceria com o grupo Ultra-Med Outros 4. Uma das grandes realizações de 2008 foi poder concretizar o cumprimento pleno dos primeiros doze meses (outubro/2007 a novembro/2008) do Plano Operativo Anual – POA, previsto pela contratualização realizada com a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (SESDEC) e a participação do Núcleo de Controle e Avaliação (NCA) da S.M.S. METAS QUALITATIVAS: constam de 25 ações e 25 indicadores que medem a qualidade dos serviços oferecidos, tais como, taxa de óbitos hospitalares, Humanizasus, saúde do trabalhador, atividades de educação continuada, entre outras, com 100% de alcance das metas em todas as avaliações do NCA/SMS. Além disso, há de se ressaltar a evolução de 2008 em relação a 2007, a saber, percentual de ocupação de 40,94% para 55,07% e queda da média de permanência de 6.05 dias para 5.95 dias. 223
_SFMC_90 anos.indd 223
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
METAS FÍSICAS: encontramos um compromisso no POA que projetava o oferecimento de uma série de serviços cujo custo, na tabela SUS, ultrapassava em muito o recurso pré-fixado de média complexidade, sendo que alguns procedimentos, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, e cintilografia não existiam no nosso Hospital. Após três meses de vigência do referido POA, o mesmo foi reformulado através de Termo Aditivo com a Secretaria de Controle e Avaliação (SCA)/SESDEC, com anuência do NCA/SMS em que o número e a qualidade dos procedimentos foram reajustados à realidade da demanda, da capacidade do hospital e dos valores previstos na tabela SUS. A partir de então, logramos alcançar níveis mais próximos do ideal, conforme a curva de produção desses níveis: meses %
Nov/07
Dez/07
Jan/08
Fev/08 Março/08 Abril/08
66,71
79,42
52,24
60,39
meses Maio/08 Junho/08 Julho/08 Agos/08 % 87,16 96,4 96,16 97,25
97,78
98,43
Set/08
Out/08
114,76 99,35
COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DO POA: números de produção e indicadores são excelentes instrumentos para medirmos o alcance das metas estabelecidas. No entanto, nada substitui a análise real, permanente e comprometida com a melhoria constante do processo que significou o trabalho prestado pela Comissão de Acompanhamento, for224
_SFMC_90 anos.indd 224
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
mada pelos seguintes membros: Dr. Ralph Dias Pessanha, Dr. Luís Fernando M.A. Moreira, Drª. Sylvia Regina Moraes, Dr. Ronald Souza Peixoto, Dr. Edson Batista, Dr. João Bosco de Queiroga Lopes, Srª. Reni Maria Gama, Sr. Nilo Sérgio S. Pessanha Filho, Srª. Luciana P. Moulin, Dr. Jair Araújo Júnior e o Dr. Nélio Artiles Freitas, que teve como motivação para sua criação, a existência da Comissão de Acompanhamento do POA estadual, só que com uma singularidade própria, qual seja a participação dos atores internos e externos representativos dos segmentos de gestão, assistência médica, serviços auxiliares, técnicoadministrativo, acadêmico, assistencial e do controle de avaliação do Gestor Municipal de Saúde. 5. Relatório de repasse de honorários médicos para Pessoa Física e Jurídica até 31/12/2008 de SUS – ambulatório, SUS – internação média e alta complexidade, CONVÊNIOS – AMB e SMS – PMCG: I. Pessoa Jurídica: Terceirizados / Parceiros Cardiocampos fevereiro a dezembro de 2007 e janeiro a agosto de 2008 pagos 19 meses de honorários médicos; Mirrow e Crespo (USG) em aberto fevereiro a dezembro de 2007 e pagos janeiro a agosto de 2008 (repasse de 08 meses de honorários); EEG (Dr. Maurício Escocard) fevereiro a dezembro de 2007 e janeiro a agosto de 2008 pagos 19 meses de hono225
_SFMC_90 anos.indd 225
9/1/2012 23:25:02
SFMC 90 anos de história
rários médicos; Centro de Infertilidade fevereiro a dezembro de 2007 e janeiro a dezembro de 2008 pagos 19 meses de honorários médicos, porém com saldo positivo a favor do HEAA (2007 – R$ 27.027,82); Endoscopia Digestiva fevereiro a dezembro de 2007 e janeiro a agosto de 2008, pagos 19 meses de repasse de honorários médicos; Instituto pagos 05 meses de 2007, restando 07 meses e janeiro a agosto de 2008 (repasse de 13 meses de honorários médicos); INCOR pagos fevereiro a março de 2007 (R$ 12.000,00), março a agosto de 2008, perfazendo um total de 08 meses, restando R$ 31.399,05 de 2007 e pagos em 2008 R$ 153.955,95; Radiologia (J. Bosco Ltda) em aberto fevereiro a dezembro de 2007 pagos de janeiro a agosto de 2008 (repasse de 08 meses de honorários médicos); II. Pessoa Física: cerca de 100 médicos, incluindo os que têm dupla situação (PJ e PF) pagos de fevereiro/2007 a outubro/2007 e fevereiro/2008 a agosto/2008 – feitos 16 meses de repasse de honorários médicos em 11 meses de gestão até 31/12/2008. III. Pessoa Jurídica: Internação SUS Prontocárdio (Ecocardiograma) repasse de 10 meses (janeiro a outubro de 2008; Mirrow e Crespo (USG) repasse de 226
_SFMC_90 anos.indd 226
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
10 meses (janeiro a outubro de 2008); Endoscopia Digestiva repasse de 10 meses (janeiro a outubro de 2008); Campos dos Goytacazes, 12 de janeiro de 2009. Dr. Luís Fernando M.A. Moreira Diretor Técnico Dr. Ralph Dias Pessanha Diretor Geral O ano de 2009 não foi diferente, em termos de enfrentamento dos desafios e busca da estabilização. As palavras do Diretor, bem espelham esse período: PALAVRAS DO DIRETOR O Hospital Escola Álvaro Alvim, mantido pela Fundação Benedito Pereira Nunes, constitui importante unidade de formação de recursos humanos e de desenvolvimento científico para a saúde, cujas ações se desenvolvem através do ensino, da pesquisa, da extensão e da prestação de serviços especializados aos usuários do Sistema Único de Saúde. O perfil do HEAA é de prestação de assistência de média e alta complexidade, o que não o impede de, no cumprimento de seu dever social, aliado à sua credibilidade, suprir deficiências da rede pública de saúde, a quem cabem institucionalmente as redes de atenção básica, apresentando, portanto, capacidade de exercer com eficácia e eficiência esta missão. Apesar das dificuldades que o HEAA passou a enfrentar a partir da implantação do sistema de gestão plena na área de saúde em nosso município, conseguimos manter em nosso hospital os ambientes mais acolhedores, mais confortáveis, pessoas 227
_SFMC_90 anos.indd 227
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
que atendem amáveis, simpáticas e sorridentes; melhoramos a informação, o ambiente físico e a incorporação tecnológica. A gerência de Hospital de Ensino (HE) configura-se num enorme desafio. Seu compromisso pode ser definido como aquele que, além de prestar assistência à saúde da população, desempenha atividades de capacitação/ensino de pessoas, além da produção de conhecimento (pesquisa) necessários ao incremento permanente da qualidade. Para habilitar-se à consecução de seus objetivos esta organização necessita concentrar recursos financeiros, tecnológicos e humanos, ao mesmo tempo com capital intensivo e mão de obra intensiva. Dado aos elevados custos com sua manutenção, o HEAA, a exemplo dos demais Hospitais de Ensino, públicos ou não, enfrenta grandes dificuldades financeiras para custear seus serviços e promover os investimentos que são necessários. Mas, racionalizando os gastos e aplicando criteriosamente os recursos financeiros que lhe foram destinados, no ano de 2008 e 2009, os resultados alcançados pelo HEAA foram bastante expressivos, conforme demonstraram o balancete e o relatório de atividades do ano de 2008, e demonstra o presente relatório do ano de 2009. Destacamos o apoio recebido da Presidência da FBPN, Direção da F.M.C., dos nossos parceiros, fornecedores, prestadores de serviços, governo municipal, sociedade civil organizada, parlamentares que disponibilizaram recursos públicos, além e de pessoas representativas de vários segmentos da sociedade campista. Ressaltamos, ainda, a dedicação dos profissionais de saúde, e principalmente de todos os servidores que, com notável e diversificado trabalho, contribuíram para que o HEAA mantivesse o padrão de eficiência e qualidade conquistado ao longo dos últimos anos. Campos dos Goytacazes, 19 de janeiro de 2010. Dr. Ralph Dias Pessanha Diretor Geral 228
_SFMC_90 anos.indd 228
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
A transição da Direção Geral, conforme já relatado, transcorreu sem grandes alterações, contando com a inestimável colaboração do Dr. Ernesto Carlos Pessanha – Diretor Técnico, que continuou a colaboração que vinha prestando, por indicação do Conselho Técnico Consultivo e do Dr. Luís Fernando Machado Alves Moreira-Controlador Geral, sempre incansável defensor das boas causas. A transcrição, a seguir, demonstra o período. PALAVRAS DO DIRETOR O Hospital Escola Álvaro Alvim, mantido pela Fundação Benedito Pereira Nunes, é o responsável por desenvolver a finalidade primeira fundacional, firmada há 77 anos, qual seja: prestar serviços médicos, especialmente às pessoas carentes. Essa missão é fundamental como complementar à formação de recursos humanos e de desenvolvimento científico para a saúde. Assim o tripé acadêmico do Ensino, Pesquisa e Extensão encontra-se sempre presente, na sua aplicação preponderante de prestação de serviços especializados aos usuários do Sistema Único de Saúde. A eficiência em produzir serviços de qualidade necessita funcionar como modelo para que os profissionais de saúde, em formação, possam mais que aprender, “apreender” conhecimentos, habilidades e atitudes, adequadas em suprir as necessidades de saúde das pessoas e desenvolver de forma comprometida e exitosa, suas carreiras profissionais. Eis o grande desafio, que reveste de singularidade o HEAA, nas regiões norte e noroeste do Estado do Rio de Janeiro, por ser certificado com o Hospital de Ensino, pelo MEC/MS. Ao assumir, em março de 2010, a sua Direção Geral, compreendi a grande responsabilidade que tenho em honrar um passado de abnegação e compromisso dos nossos antecessores e dar continuidade ao brilhante trabalho desenvolvido pelo Dr. Ralph Dias Pessanha, no infelizmente curto período em que esteve à frente da 229
_SFMC_90 anos.indd 229
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
sua gestão. Assim, elenco alguns destaques, ocorridos no ano de 2010, como introdução ao profundo relatório que se segue: • A relação com as pessoas, colaboradores e dirigentes institucionais – As Instituições propiciam organização estruturante, para que as pessoas exerçam seus ofícios e cumpram seus compromissos pessoais. Contamos com o apoio incondicional dos dirigentes da FBPN, na figura estoica e exemplar do Dr. Almir Jesus do Nascimento, na qual buscamos conselho e moderação na aplicação da responsabilidade com o equilíbrio e o desenvolvimento. A Direção da Faculdade de Medicina de Campos, representada pelo Dr. Nélio Artiles Freitas, nunca deixou que seus inúmeros compromissos diminuíssem a participação na análise dos problemas e incremento de soluções. A gestão plena da saúde de Campos dos Goytacazes, liderada pelo Dr. Paulo Hirano, propiciou de forma dialética e sincera o avanço considerável no atendimento ao SUS, ao qual somos intrinsecamente vinculados. A Diretoria, controle Geral e ouvidoria do HEAA foram os interlocutores mais atentos e ativos em contribuir para a avaliação, a execução e o planejamento permanentes. Os docentes, profissionais de saúde e funcionários – todos – do HEAA e da FBPN que, com o cumprimento irretocável das suas obrigações funcionais, acrescentaram carinho, atenção e o tão buscado Humanismo, que demonstrou ser uma realidade possível em ser cumprida. Os alunos, formados e em formação, foram, como sempre, a maior e mais produtiva forma de fiscalização de qualidade, mediadora de mudanças. Os pacientes, objetivo maior do HEAA, foram exemplarmente 230
_SFMC_90 anos.indd 230
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
“pacientes” em compreender as dificuldades e confiar seu bem mais precioso às mãos competentes dos nossos profissionais. • A produção de serviços e os indicadores de quantidade e qualidade. A percepção, em tempo real, do que está sendo realizado e de como se apresenta, segundo a nossa própria percepção e a dos que utilizam os serviços, somente pode ser alcançada com um sistema de informações confiável nos dados, metodologicamente bem estruturado e ágil na produção dos resultados, divulgação e incremento das medidas corretivas. Temos nos esforçado para cumprir esses requisitos, e estamos longe da satisfação, mas podemos perceber alguns destaques, elencados a título de exemplo do valor dessa ação estruturante. A saber: § Qualidade dos Serviços prestados: Metas Qualitativas SUS – 25 ações e 25 indicadores – 2009/100% – 2010-100%. § Quantidade dos Serviços prestados: Número de atendimentos/procedimentos – 2009/265.022 (SUS -229.086-86,4% / Particulares e Convênios – 35.93613,6%); 2010/278.402 (SUS – 243.875 – 87,6% / Particulares e Convênios – 34.527 – 12,4%) § Receitas e Despesas: Receitas – orc-2010 – R$ 24.688.629,60; exec-2010 – R$ 25.652.926,37(receitas) e Despesas – exec. 2010 - R$ 21.397.858,78 (só custeio); orc-2011 – R$ 43.328.822,39. § Dívidas com Fornecedores: 2009 R$ 3.896.435,44 2010 R$ 2.562.318,03 • O cumprimento dos compromissos, com o pagamento pelo trabalho e pelo fornecimento de bens e materiais de consumo, além da manutenção e ampliação patrimoniais. Manter folha de pagamento em dia e saldar compro231
_SFMC_90 anos.indd 231
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
missos com fornecedores é obrigação e não virtude. No entanto, no contínuo descompasso entre os valores auferidos pelos serviços prestados e as crescentes despesas exigidas para a manutenção da qualidade, buscamos encontrar um razoável equilíbrio financeiro, elaborando um rigoroso planejamento orçamentário e executando, de forma hierarquizada, nas prioridades, as despesas contraídas. Constatamos, com tranquila satisfação, que não erramos em priorizar a remuneração das pessoas, não nos esquecendo, dentro do possível, de saldar os compromissos passados e presentes. Assim, nossas folhas de pagamentos encontram-se em dia. O repasse dos honorários dos profissionais autônomos e de nossos parceiros, estão em dia com o repasse que o SUS e demais fontes fazem para o HEAA. As taxas de consumo de insumos indispensáveis encontram-se com razoável atraso. O nosso endividamento com os fornecedores reduziu em mais de um milhão de reais, além de mantermos um repasse mensal permanente, próximo da plenitude dos valores faturados. Claro está que, se não contássemos com a colaboração e a compreensão de todos, não chegaríamos aqui. Cabe então um reconhecimento por essa atitude amiga com o HEAA. Finalmente, o desenvolvimento institucional encontrou uma base motivadora quando, inquietos em planejar uma ampliação que satisfaça às necessidades, dos próximos anos, (elevador para pacientes em macas, mais leitos de UTI, salas de cirurgia, leitos de enfermaria e apartamentos, hemodinâmica, radioterapia e verificação de óbitos), contamos com o apoio expressivo de toda a família do HEAA, FBPN e FMC. Então, ousamos mais e encaramos o problema social e seus reflexos na saúde, tendo em vista a ampliação exponencial da população 232
_SFMC_90 anos.indd 232
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
de São João da Barra e de Campos dos Goytacazes, que se avizinha com o empreendimento do Super Porto do Açu, buscando contribuir com um projeto que analise a situação e busque propor e executar soluções para o desenvolvimento adequado do Sistema Único de Saúde de São João da Barra e de seus reflexos em Campos e nas regiões Norte e Noroeste/RJ. Fortalecer a hierarquização da atenção à saúde, com uma atenção básica e secundária resolutiva, organizada, bem instalada e com profissionais adequados e motivados, poderia ser meta a ser executada pelo município e apoiada pelo nosso conhecimento específico com regulação de acesso, prevendo referência e contra-referência para os níveis terciários e quaternários. Nesse sentido, associada ao fortalecimento da estrutura hospitalar existente em São João da Barra, é necessária uma nova unidade hospitalar de nível terciário, que responda às necessidades de atendimento às mais de 50.000 pessoas que, dentro de dois anos deverão residir no município. Surge assim o sub-projeto de construção, instalação e funcionamento, do Hospital Escola Álvaro Alvim de São João da Barra, a ser mantido pela Fundação Benedito Pereira Nunes. O nível quaternário encontrará sustentação na ampliação do HEAA e nas outras unidades de atendimento em alta complexidade de Campos e dos Municípios da região, segundo a regulação estadual. É evidente que um projeto dessa relevância e dimensão, não encontra sustentabilidade em uma única Instituição. Buscamos então, o natural e constitucionalmente previsto protagonismo do gestor público municipal de São João da Barra que, de forma entusiasmada, assumiu a busca pela concretização do projeto, agregando-se o poder catalisador de mobilização de recursos com a EBX que, de forma atenta e responsável, analisa a viabilidade e a sustentabilidade, para efetivar sua participação. Eis o novo desafio que nos faz renovados na busca incessante pela possibilidade de realizar ações que efetivamente 233
_SFMC_90 anos.indd 233
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
beneficiem as necessidades de saúde da população, principalmente a mais carente. Campos dos Goytacazes, 25 de Janeiro de 2011. Dr. Jair Araujo Junior Diretor Geral • Conclusão Evoluiu o HEAA, aprendemos todos, e aguardamos humildes e ansiosos por próximos desafios, dificuldades e possíveis realizações. A evolução dos atendimentos/procedimentos, a seguir demonstrada, aponta para a hegemonia do atendimento ao SUS, conforme preconiza a nossa filantropia e missão educacional. Atendimentos/ procedimentos/ano SUS % do total Convênios e particulares % do total Total geral
2007
2008
2009
2010
163763 167380 229086 243875 79,18% 81,74% 86,44% 87,60% 43058 37391 35942 34527 20,82% 18,26% 13,56% 12,40% 206821 204771 265028 278402
Queira Deus que tenhamos forças e sejamos dignos em cumprir, adequadamente, essa missão para com a instituição que nos disponibilizou todas as principais oportunidades em nossa vida profissional. Palavras finais O futuro traz as incertezas habituais, mas alguns indica234
_SFMC_90 anos.indd 234
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
dores são previsíveis, que seguem. A evolução estável da FMC, pela qualidade dos seus serviços e pela demanda sempre crescente por seus cursos, aliada a uma busca constante por sustentabilidade para os mais carentes. A trajetória assistencial em rota ascendente de qualidade, quantidade e abrangência regional do HEAA, dificultada pela discontinuidade no repasse dos recursos públicos, inconsistente entre o que se pactua e o que se cumpre. A credibilidade comunitária da FBPN, que garantirá a permanência da participação harmônica das mantidas, com o seu natural protagonismo mantenedor. Agradeço aos que se dedicarem à leitura dessas extensas, mas necessárias laudas, acerca da visão que tenho das instituições Fundação Benedito Pereira Nunes / Faculdade de Medicina de Campos / Hospital Escola Álvaro Alvim. E assim a história continua... Jair Araujo Junior – 2011.
235
_SFMC_90 anos.indd 235
9/1/2012 23:25:03
SFMC 90 anos de história
Dr. Osvaldo C. Cardoso de Melo
Sócio da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia. Membro Correspondente Nacional da Academia Nacional de Medicina. Professor Titular de Medicina Oftalmológica da Faculdade de Medicina de Campos. Diretor Clínico do Hospital Escola Álvaro Alvim. 236
_SFMC_90 anos.indd 236
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
A importância política da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia* Osvaldo C. Cardoso de Melo Não resta dúvida que a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, desde a sua fundação, em 1921, tem mostrado influência política na comunidade campista, fluminense e nacional, não apenas pelas suas posições austeras e dignas, além de não partidárias, mas também na projeção que tem proporcionado, desde a sua fundação, a membros de suas Diretorias, que têm galgado posições nas esferas administrativas e cargos públicos nas áreas municipal, estadual e federal. A exemplo disso temos os Drs. Benedito Pereira Nunes e Oswaldo Luis Cardoso de Mello, respectivamente, Vice-Presidente e Primeiro Secretário de sua primeira diretoria, tendo o primeiro sido Prefeito de Campos e o segundo, Vereador, líder revolucionário e Prefeito de Campos, em 1930, Secretário de Interior e Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em 1931, Deputado Constituinte em 1934 e Secretário Estadual de Saúde, em 1966. Através dos tempos, podemos nos recordar dos Drs. Luiz Caetano Guimarães Sobral, Alcindor Bessa, Rufino Filho, João de Almeida Filho, Pinto Filho e Edgardo Nunes Machado, que saíram das tribunas desta Casa e se 237
_SFMC_90 anos.indd 237
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
tornaram brilhantes vereadores. Nos dias de hoje, temos como exemplo da projeção alcançada por Ex-Presidentes o Vice-Prefeito Lourival Martins Beda e o Vice-Prefeito Wilson Paes, que assumiram a Prefeitura com a renúncia dos titulares, Dr. Edson Batista, já com alguns mandatos de Vereador. Também de outras formas, a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia tem mostrado a sua importância política. Em 1930, após ter sido preso como revolucionário em 03 de outubro, o Dr. Oswaldo Luis Cardoso de Mello, ao chegar a Campos, em 06 de dezembro, para ser empossado como Prefeito, durante o percurso feito a pé, da “Estação do Saco” até a Prefeitura, então, na Praça do Santíssimo Salvador, em companhia do Dr. César Nascentes Tinoco, Secretário Estadual de Interior e Justiça, que viera para empossá-lo, fez questão de parar, com a multidão que o acompanhava e, por alguns minutos, subiu as escadas da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, em companhia do Dr. César Tinoco, ali chegando no início de uma sessão em que faria uma conferência, como convidado, o jovem Dr. Sylvio de Abreu Fialho. Foi recebido pelo Presidente de então, Dr. Ovídio Manhães, quando teve a oportunidade de se dirigir aos colegas presentes para agradecer à Sociedade Fluminense a solidariedade recebida durante a sua recente prisão e prestar a essa Casa a sua homenagem, no momento em que estava para ser empossado como Prefeito de Campos, pondo-se a disposição para atender aos anseios daquela que também era a sua Casa. Esses fatos foram-me relatados pelo meu querido mestre e amigo Professor Sylvio de Abreu Fialho e pude constatar o seu registro no livro de atas dessa Sociedade. Tornado prefeito de Campos, o Dr. Oswaldo Luis 238
_SFMC_90 anos.indd 238
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
Cardoso de Mello, desejoso de dotar Campos de um novo Código de Posturas, solicitou à Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia que elaborasse, para aquele Código, a parte que dissesse respeito à saúde no município, o que foi feito e adotado. Em plena ditadura de Vargas, o Interventor Federal do Estado do Rio de Janeiro, Comandante Amaral Peixoto, deu o nome de Colégio Estadual de Campos ao tradicional Liceu de Humanidades de Campos. Partiu da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia apelo veemente ao Interventor para que não tirasse o nome do Liceu, no que logrou ser atendida. O ano de 1965 foi dos mais marcantes para a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia por ter, em memorável Assembléia Geral convocada pelo então presidente Oswaldo Luis Cardoso de Mello, por solicitação do consócio Dr. Newton de Almeida Gusmão, surgido a ideia de fundação de uma Faculdade de Medicina em Campos, ideia que se transformou na realidade de hoje, em que Campos, pelo prestígio de sua escola médica, é reconhecida nacionalmente como dos melhores centros de ensino médico no país. Em 1966, durante a maior enchente do rio Paraíba de que temos conhecimento, coube à classe médica de Campos, por solicitação do então Prefeito Municipal, Dr. Rockefeller Felisberto de Lima, e coordenação da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia, dar assistência e impor medidas de higiene e profilaxia de infecções nas áreas atingidas pela enorme cheia e nos locais que serviam de abrigo aos que haviam sido expulsos, pelas águas, de suas moradias. Todas as noites, em sua sede, reuniam-se todos os colegas que, durante o dia, haviam participado dos trabalhos de proteção e orientação à população, para 239
_SFMC_90 anos.indd 239
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
apresentarem os seus relatórios. Como a Avenida Alberto Torres, na esquina com a rua Voluntários da Pátria tivesse permanecido durante mais de uma semana com mais de meio meto de água em correnteza, a maioria de nós médicos comparecia às reuniões de “short” e pés descalços. O resultado daquele esforço dos membros da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia foi a satisfação de não se ter registrado um caso ao menos de doença infecciosa, que pudesse ser devido àquela enchente. É com grande júbilo que vemos hoje a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia sob a competente presidência do ilustre colega Dr. Francisco Almeida Conte ser reconduzida à respeitável condição de entidade associativa cultural da classe médica, e encarregada, hoje, de coordenar uma Central de Convênios local que, juntamente com o Sindicato dos Médicos e o Conselho Regional de Medicina estará conseguindo trazer condições salariais mais dignas para o exercício da Medicina em Campos. * Texto redigido em 2001 e republicado com autorização do autor.
240
_SFMC_90 anos.indd 240
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de hist贸ria
241
_SFMC_90 anos.indd 241
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
Dr. Sebastião Siqueira
Advogado e Médico Psiquiatra Membro da Academia Campista de Letras 242
_SFMC_90 anos.indd 242
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
A Psiquiatria em Campos dos Goytacazes Sebastião Siqueira O município de Campos, que teve a transformação de Vila em Cidade em 1835, é em extensão territorial o maior município do Estado do Rio de Janeiro. No Século XIX, era um dos municípios mais ricos da Província do Rio de Janeiro. Tinha como fonte de economia principal o açúcar e também o café em menor escala. Em 1883, viria a ganhar iluminação elétrica, sendo a 1ª cidade da América do Sul a ter esse progresso. Também no Século XIX, em 1872, foi inaugurado em Campos o Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência. No século seguinte, em 1974, com a exploração do mar territorial, pela descoberta e produção do petróleo, ocorre um crescimento sócioeconômico muito importante em função do recebimento dos royalties do petróleo. A cidade viria a receber em 1991 a Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF. No que se refere à assistência psiquiátrica, dois hospitais, para tratamento de doenças mentais, haviam sido implantados na década de 1940. O primeiro hospital, chamado Instituto de Doenças Nervosas e Mentais – Sanatório Hen243
_SFMC_90 anos.indd 243
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
rique Roxo, em 1942, foi fundado pelo médico psiquiatra João Castello Branco a quem mais tarde viriam se juntar os doutores Romeo Casarsa e Ary Viana. Por ocasião do fim da década de 1980, o referido hospital tinha 170 leitos, um grande crescimento para quem começou com 45 leitos. Esse hospital foi contratado pela Previdência Social e depois pelo SUS, o que viria a causar alguns problemas, pelo baixo valor pago pelas diárias e o atraso no pagamento das faturas. Apesar de tudo, até hoje o Henrique Roxo presta relevantes serviços à população campista e a de municípios vizinhos. Nessa mesma década (1947), surgiu o Hospital Abrigo João Viana, essencialmente filantrópico, atendendo a quem não tinha condições de pagar internações psiquiátricas. Cabe ressaltar que nessa época os doentes mentais que não tinham onde se internar, muitas vezes eram colocados na cadeia. Esse hospital também teve seus serviços comprados pela Previdência Social, aumentando significativamente o número de leitos. Na década de 1970, surgem os serviços ambulatoriais, contratados pelo INPS a médicos que atendiam em seus consultórios particulares, o que demonstra a tentativa de se implantar serviços extra-hospitalares. Nos anos 80, ocorre o credenciamento de ambulatórios de psiquiatria na Santa Casa de Misericórdia e na Beneficência Portuguesa. Com a implementação do Programa de Saúde Mental e Assistência Psiquiátrica, Campos passa a ter um planejamento de ações e intervenções no campo de saúde mental. Em 1986, foi lotada no Centro de Saúde uma equipe de saúde mental com 2 psicólogos, 2 psiquiatras e um terapeuta ocupacional, oferecendo tratamento ambulatorial aos egressos dos hospitais. Estava constituído um núcleo da Coordenação de Saúde Mental do Estado, em Campos. 244
_SFMC_90 anos.indd 244
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
Em 1991 foi realizada a 1ª Conferência Municipal de Saúde, com o tema “A Municipalização é o Caminho”. Nessa ocasião foram criados o Conselho Municipal de Saúde de caráter deliberativo, normativo e fiscalizador, e o Fundo Municipal de Saúde, que define receitas e distribuição de recursos. Como resultado da Conferência, além de outras propostas, a mais importante é que ensejava a abertura da Emergência Psiquiátrica no PU Central. Além disso, foram votadas com unanimidade a criação de mais um ambulatório de saúde mental e a supervisão contínua dos dois hospitais psiquiátricos, que deveria ser feita pelos técnicos do Programa de Saúde Mental. O serviço de emergência foi aberto em 1992, no PU da Saldanha Marinho. Dessa época em diante, a Assistência Psiquiátrica no município vem se aprimorando cada vez mais. A chegada de novos profissionais, a abertura de Faculdades de Psicologia, a criação dos CAPS Psiquiátrico, CAPS AD e CAPS Infantil, demonstram o avanço do atendimento psiquiátrico no município. Detalhando melhor o Programa Municipal de Saúde Mental/ 2009 passou a apresentar as seguintes modalidades de atenção em Saúde Mental: I – atendimento Ambulatorial Multiprofissional; II – atendimento de crise em Emergência Psiquiátrica; III – atendimento intensivo, semi-intensivo e nãointensivo em Centros de Atenção Psicossocial: a) CAPS Dr. João Batista de Araújo Gomes: adultos; b) CAPSad Dr. Ari Viana: dependência química; c) CAPSi Dr. João Castelo Branco: infanto-juvenil. IV – programa “De Volta Para Casa”: programa do Ministério da Saúde para pacientes egressos de longas internações. Esses programas funcionam de acordo com o perfil 245
_SFMC_90 anos.indd 245
9/1/2012 23:25:04
SFMC 90 anos de história
de cada um. Emergência Psiquiátrica >> atendimento psiquiátrico multiprofissional 24 horas, em situação de crise. CAPS Dr. João Batista de Araújo Gomes >> atendimento interprofissional a pacientes adultos com psicose e neurose graves, e a familiares em regime intensivo, semiintensivo e não-intensivo. CAPSi Dr. João Castelo Branco >> atendimento interprofissional a pacientes infanto-juvenís (até 18 anos) com psicose e neurose graves e a familiares em regime intenso, semi-intensivo e não-intensivo. CAPSad Dr. Ary Viana >> atendimento interprofissional a pacientes dependentes químicos e a familiares em regime intensivo, semi-intensivo e não-intensivo. CAPS III >> atendimento 24 horas. Atendimento interdisciplinar a pacientes psiquiátricos durante todo o dia. Ambulatórios de Guarus e do Hospital São José >> atendimento multiprofissional a pacientes psiquiátrico sem regime ambulatorial. Serviços que estão sendo implantados: Residência Terapêutica >> abrigamento de pacientes psiquiátricos egressos de internação de longa permanência em Instituição Psiquiátrica. Implantação de leitos psiquiátricos em hospital geral >> dois leitos para atendimento a crianças e adolescentes psiquiátricos e dois leitos para desintoxicação. Implantação de equipes de saúde mental no PSF >> acompanhamento na comunidade dos pacientes com transtorno mental. Sebastião Siqueira – ACL
246
_SFMC_90 anos.indd 246
9/1/2012 23:25:05
SFMC 90 anos de história
A morte dá lugar à vida... Welligton Paes Walter Siqueira
Uma das páginas mais belas, poéticas e comoventes de nossa história foi a construção da primeira maternidade de Campos, onde hoje se encontra a Faculdade de Medicina de Campos. A maternidade foi construída no antigo terreno de um cemitério (Quimbira). Deixemos o médico Décio Parreiras falar sobre o assunto: “Tomamos-lhe de assalto uma de suas mais antigas e povoadas habitações, onde, à noite, se ouviam as rapsódias e cânticos com que ela embalava os seus súditos, desde 1850, a velha e tradicional necrópole dos Quimbiras, sobre a qual nos achamos. E, tripudiando dela, Pereira Nunes, Severino Lessa, Ignácio de Moura, entre outros, resolveram erigir uma Maternidade em cima de um velho Cemitério. Determinaram substituir um túmulo por um berço, trocaram o símbolo máximo da materialidade, que é a ossatura humana, por mulheres em cujo ventre se processa a gestação, símbolo máximo da vida”. Manuel Moll, campista, poeta brilhante e grande cultor do verso, recitou o seguinte soneto de sua lavra, na sessão solene do lançamento da pedra fundamental da Policlínica e Maternidade de Campos (15-11-1923): 247
_SFMC_90 anos.indd 247
9/1/2012 23:25:05
SFMC 90 anos de hist贸ria
248
_SFMC_90 anos.indd 248
9/1/2012 23:25:06
SFMC 90 anos de história
A Cruz e o Altar O fogo sagrado no Cemitério do Quimbira, terreno que se destina ao advento da Maternidade. Rolam muitos clarões, sinistros e fugazes, Alta noite no chão considerado santo. É a luz original dos velhos, dos rapazes, das victimas da peste indiana, o que hoje canto. Dos ossos ella surge, em lampejos capazes de tanta maravilha e de prodígio tanto! É a vida a rebrilhar, em suas novas phases, na deserta estensão de um mísero recanto. Parece um duende ultriz, um fantasma do Inferno. Sóbe aos braços da cruz dos martyres sósinhos. e desce aos pés do altar do grande Amor Materno. Eis o maior altar. Certo, cahir não hade, como a cruz cae no chão, nas curvas dos caminhos, espalhando o terror, na hora da saudade. Campos, 15-11-1923 Manuel Moll (Mantivemos a ortografia original) Na mesma sessão solene do lançamento da pedra fundamental, o poeta Otaviano Chaves oferece e recita aos iniciadores da Maternidade e Policlínica, representados pelo médico Benedito Pereira Nunes, e recita, este belo poema: 249
_SFMC_90 anos.indd 249
9/1/2012 23:25:06
SFMC 90 anos de hist贸ria
250
_SFMC_90 anos.indd 250
9/1/2012 23:25:06
SFMC 90 anos de história
De Tumulo a Berço O’ terra santa, aventurada terra Que Deus fadou a divinaes destinos, Foste hontem tumba, teu seio inda encerra Brancas ossadas, prantos crystalinos. Noites e dias, ao passar dos annos, Tu repousaste silenciosa e triste, Guardaste, avára, muitos desenganos, E quanta dor por tua causa existe?... Nestas muralhas, brancas como a neve, Tristes poisaram agoureiras aves, À luz tristonha de uma chamma leve, Que se evolava das funereas naves. Tumba eras tu, mysterioso arcano Onde a materia existe transformada, Final da vida para o ser humano, Porta de accesso ás regiões do nada. Hoje desperta da modorra antiga Já te engalanas por teu novo fim. Abre o regaço, generosa amiga, Enche-o de flores, torna-o de setim. Recebe a pedra, marco miliar Que a caridade lança a novo templo, Templo que vae aos posteros mostrar Nosso altruismo no mais santo exemplo. 251
_SFMC_90 anos.indd 251
9/1/2012 23:25:06
SFMC 90 anos de história
Um dia, breve, meigas creancinhas Terão seu berço no teu collo amigo; Serão teus filhos santas avesinhas, A quem darás um maternal abrigo. Abre o regaço, terra cuja sorte Está em dois misteres definida: Já foste ingresso para o lar da morte; Vaes ser ingresso para o lar da vida. Campos, 15 Novembro de 1923. Octaviano Chaves (Mantivemos a ortografia original) Em 24 de janeiro de 1926, nas comemorações do 5° aniversário da Sociedade, era inaugurado o prédio da Policlínica. A primeira grande obra da SFMC. A maternidade foi inaugurada em 1934. O destino, no seu traçado imutável, não quis que Benedito Pereira Nunes presenciasse a concretização do seu grande ideal. E por uma coincidência histórica, no dia 15 de dezembro de 1934, data fixada para inauguração da maternidade, a morte implacável fulminou-o. A inauguração foi transferida para 23 do mesmo mês. A primeira criança nascida na maternidade recebeu merecidamente o nome de Benedito. Com a criação da Maternidade, o presidente da época da SFMC (Abelardo Bastos Tavares), instituiu a Fundação Policlínica e Maternidade de Campos. Mas, o sonho de Ignácio de Moura, Benedito Pereira Nunes, Cardoso de Mello e outros não tinha terminado. Em 1943, Antônio Pereira Nunes, como presidente 252
_SFMC_90 anos.indd 252
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de história
da SFMC, revive o pai na ereção do Hospital Infantil, que os colegas, com justiça, batizam de Hospital Infantil Antonio Pereira Nunes. Encerrava-se assim, gloriosamente o ciclo das construções. Este Hospital foi doado pela SFMC à Fundação Policlínica e Maternidade, que então passou a se chamar Fundação Policlínica, Maternidade e Hospital Infantil de Campos. Em janeiro de 1961, por escritura pública a instituição passou a denominar-se Fundação Benedito Pereira Nunes, tendo como finalidade, segundo os próprios estatutos, atender às classes desprovidas de recursos em assistência médica, ambulatorial e hospitalar. A Fundação, numa reforma estatutária, ampliou suas finalidades ao ensino médico e paramédico, recebendo de uma Assembléia Geral e Extraordinária, a missão de implantar e consolidar, na condição de mantenedora, a Faculdade de Medicina de Campos! Quatorze de outubro de 1967: inaugura-se festivamente a Faculdade de Medicina de Campos, e atinge o cume a feliz destinação do Quimbira. Longa e ascensional foi a sua cronologia. O Cemitério... A Maternidade... A Faculdade. A Morte... O Nascimento... O Médico.
O saudoso médico, obstetra, Wilson Paes, entre o irmão Welligton Paes e o amigo Walter Siqueira
253
_SFMC_90 anos.indd 253
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de hist贸ria
Dr. Walter Siqueira
Otorrinolaringologista Membro da Sociedade Brasileira de M茅dicos Escritores (SOBRAMES) Membro da Academia Campista de Letras 254
_SFMC_90 anos.indd 254
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de história
A arte de curar Dr. Walter Siqueira Antigamente era assim. O espírito hindu Dhanvantari, no começo dos tempos, admitia que o médico é aquele que traz a taça de amrita como elixir da imortalidade. E ainda mais profetizava : – O médico usará roupas extremamente limpas, não deixará a barba crescer e as unhas compridas. Trajará de branco e ao dirigir ao próximo seu olhar, será doce e sua voz gentil. Os tempos passaram e precisava que fosse assim. E eis que se nos depararmos com Hipócrates, o pai da ciência e arte, que também faz o seu juramentozinho, e do qual o mundo inteiro tirou xerox e anda soletrando por aí – Que ao exercer a medicina seremos fiéis aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. E que, ainda mais, se por acaso formos chamados a domicílio, se o SUS deixar, teremos que unir forças para não permitir que os olhos e os ouvidos revelem o que virem e escutarem. É por isso, e por outras coisas mais, que a sabedoria hipocrática previu que nós, os que ostentamos o título, não nos servimos da honrosa profissão para corromper os costumes e/ou ainda favorecer o crime. Naquela época, uns quase quinhentos anos antes do Cristianismo, o que significa dizer cinco séculos antes do nascimento de Jesus na manjedoura, ninguém falava de atestados falsos 255
_SFMC_90 anos.indd 255
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de história
e assuntos corruptivos. Hoje, comemoramos o nosso Dia do Médico. Antes, era para mim como se comemorasse o dia do sacerdote. Depois, essa ideia foi caindo por terra, porque muita gente achou “careta” essa história de nos compararmos aos discípulos do Mestre. Mesmo assim, por um bom tempo ainda resisti à ideia de, quando em vez, dizer por algum canto aonde eu fosse ou escrevesse, que éramos discípulos de Hipócrates e fazíamos da medicina um sacerdócio. Falava assim, porque aprendi assim e alguns preservaram essa linguagem. Tanto que em Lucas Evangelista, médico, encontrávamos apoio sem descurar do “Médico, cura a ti mesmo” (Cap.IV-23). E ainda fui crédulo até Jamil Haddad: “Põe em minhas mãos o manto que virá enxugar todas as lágrimas para um momento misericordioso, em que todas as feridas irão cicatrizar”. Eu sou médico, tu és médico, e quem ainda não é, vai ser. Hoje todo mundo é. O que é, e o que tem vontade de ser. O que foi, o que não quis ser. O que quase foi e deixou de ser, o que está sendo, e quem mais vier... Não é preciso só curar as dores e os males do corpo para ser. Se és capaz de curar um pouco as dores da alma, assuma o título.
256
_SFMC_90 anos.indd 256
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de história
Um médico Dr. Walter Siqueira Ele acorda, sem ter dormido. Afugenta o cansaço na xícara de café bem quente – e vai rezar sua missa do cotidiano no hospital: lá na ala dos crônicos, que resistem à convenção do tempo de viver, nas dores agudas e nos subjetivos ais que analgésicos não debelaram. É uma prece isolada numa comunhão de aflitos. É um confessionário paciente de inúmeras impaciências. Mas, entrega-se com seu hábito de virtudes à procura heróica de repelir a dor e desviar a morte, conquistando o expressivo silêncio da compensação. É uma prece constante na rotina que fatiga. Na premência dos seus compromissos, esquece de tudo. Não vê a flor desabrochar-se no milagre da fecundação. Não vê a seiva misturar-se em néctar. Nem pássaros, nem cantos no alvorecer da primavera, nem espera o sol fulgir na janela do seu aconchego. Põe-se de pé e sai, ao encontro dos que o procuram e à procura dos que não o encontram. É um médico. Tem alma de artista no seu afago. Tem talento de mestre na hora indecisa de cada um. É o decisor na angústia interrogante dos que lhe confiam. É um moderador de aflições e não vê o tempo passar. Reza o seu terço de responsabilidade ante as ladainhas de inconformações. Fez um juramento: “Sedare dolorem divinum apus est”... Tem a presença de Deus em cada gesto – nos seus preceitos – na sua filosofia de princípios – e, no entardecer dos tempos, descobriu-se em constâncias e apegos para cingir-se nos apelos dos que em dores fazem a sua passagem. 257
_SFMC_90 anos.indd 257
9/1/2012 23:25:07
SFMC 90 anos de história
Vilmar Rangel
Profissional de Comunicação.
258
_SFMC_90 anos.indd 258
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de história
Louvor* Vilmar Rangel
Em tuas mãos, nossa vida. Em teus ouvidos, a confidência. Teus olhos aprenderam a ser cegos ao que é estranho ao seu mistério: não vês o que o profano veria. Tua língua aprendeu a calar o segredo que te confiam: não dizes o que o intrigante diria. Aprendeste a não te omitir quando te chama o dever. Aprendeste a transformar em ação a emoção que te assalta. O zelo te oprime a face. A fronte imerge em sofrido raciocínio e profunda atenção. Entre luvas, pinças, bisturis e aventais, penetras na intimidade da morte, conheces as tênues fibras da vida. Lúcido, caminhas entre os umbrais da morte e da vida. Contudo é bom que te compenetres do heterogêneo que te cerca: avaros, mesquinhos, humildes, sinceros. A tudo resistes, que a ti basta a certeza do bem que praticas: médico, és perseverança, bondade e fé. No silêncio da madrugada, na clara manhã ou na tarde que desmaia, ouve-se o rumor do teu passo. Chegas! E o apenas ver-te já redobra forças, já transfunde otimismo. Um sorriso em teus lábios é doce notícia. Estendes a mão e dela salta esperança. És múltiplo e és uno. Em tuas mãos vibra o coração da vida. Em tua mente tange o relógio insone do dever. * Crônica classificada em 2º lugar no Concurso “O homem da pedra verde”, promovido pelo Lions Clube de Campos, em 1961.
259
_SFMC_90 anos.indd 259
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de hist贸ria
Onde andar谩 o Meu Doutor?
260
_SFMC_90 anos.indd 260
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de história
Hoje, acordei sentindo uma dorzinha... Aquela dor sem explicação e uma palpitação! Resolvi procurar um doutor... Fui divagando pelo caminho... Lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo..., o meu doutor que curava a minha dor! Não apenas a do meu corpo, mas a da minha alma... E que me transmitia paz e calma! Chegando à recepção do consultório, fui atendida com uma pergunta. “Qual o seu Plano?” O meu Plano Ah! o meu plano é viver mais e feliz! É dar sorrisos, aquecer os que sentem frio e preencher esse vazio que sinto agora! Mas, a resposta teria que ser outra! O “Meu Plano de Saúde”... Apresentei o documento do dito cujo, já meio suado, tanto quanto o meu bolso... E aguardei quando fui chamada, corri apressada... Ia ser atendida pelo doutor, aquele que cura qualquer tipo de dor! Entrei e olhei... Me surpreendi... Rosto trancado, triste e cansado...“Será que ele estava adoentado? É, quem sabe, talvez gripado!” Não tinha um semblante alegre, provavelmente devido à febre...Dei um sorriso meio de lado e um bom dia! Olhei o ambiente bem decorado sobre a mesa a sua frente um computador, e no seu semblante a sua dor... O que fizeram com o Doutor? Quando ouvi a sua voz de repente: “O que a senhora sente?” Como eu gostaria de saber o que ele estava sentindo... Parecia mais doente do que eu, a paciente... “Eu? Ah! Sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação”. E esperei a sua reação... Vai me examinar, escutar a minha voz e auscultar o meu coração... 261
_SFMC_90 anos.indd 261
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de história
Para minha surpresa, apenas me entregou uma requisição e disse: “Peça autorização desses exames para conseguir a realização...” Quando li, quase morri... “Tomografia Computadorizada”, “Ressonância Magnética” e Cintilografia”! Ai, Meu Deus! Que agonia! Eu só conhecia uma tal de Abreugrafia”... Só sabia o que era “Ressonar” (dormir), de “Magnético” eu conhecia um olhar... e “Cintilar” só o das estrelas! Estaria eu à beira da morte? De ir para o Céu? Iria morrer assim ao léu? Naquele instante timidamente pensei em falar: “Não terá o senhor uma amostra grátis de calor humano para aquecer esse meu frio? O que fazer com essa sensação de vazio? Me observe Doutor! O tal “Pai da Medicina”, o Grego Hipócrates acreditava que “A arte da medicina está em observar” Olhe para mim... É bem verdade que o juramento dele está ultrapassado! Médico não é Sacerdote...Tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano... Mas, por favor me olhe! Ouça a minha história! Preciso que o senhor me escute e ausculte! Me examine! Estou sentindo falta de dizer até aquele “33”!Não me abandone assim de uma vez! Procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança! Alimente a minha mente e o meu coração... Me dê ao menos uma explicação! O senhor não se informou se eu ando descalça...ando sim! Gosto de pisar na areia e seguir em frente, deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida... Estarei errada? Ou estarei com o verme do amarelão? Existirão umas gotinhas de solução? 262
_SFMC_90 anos.indd 262
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de história
Será que já existe vacina contra o tédio? Ou não terá remédio? Que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor! Cadê o scoot, aquele da emulsão? Que tinha um gosto horrível, mas me deixava forte que nem um “Sansão”! E o elixir? Paregórico e categórico! E o chazinho de cidreira, que me deixava a sorrir sem tonteiras? Será que pensei asneiras? Ah! Meu querido e adoentado Doutor! Sinto saudades... Dos seus ouvidos para me escutar... Das suas mãos para me examinar... Do seu olhar compreensivo e amigo... do seu pensar...Do seu sorriso que aliviava a minha dor... Que me dava forças para lutar contra a doença... E que estimulava a minha saúde e a minha crença...Sairei daqui para um ataúde? Preciso viver e ter saúde! Por favor me ajude! Oh! Meu Deus, cuide do meu médico e de mim, caso contrário chegaremos ao fim... Porque da consulta só restou, uma requisição digitada em um computador e o olhar vago e cansado do Doutor! Precisamos urgente dos nossos médicos amigos...a medicina agoniza... ouço até os seus gemidos... Por favor! Tragam de volta o Meu Doutor! Estamos todos doentes e sentindo Dor! E peço: para o Ser Humano uma receita de “Calor”, e para o exercício da Medicina uma Prescrição de “Amor”! Onde andará o Meu Doutor? (Procura-se pelo autor)
263
_SFMC_90 anos.indd 263
9/1/2012 23:25:08
SFMC 90 anos de história
Primeira Diretoria da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia: Ignacio de Moura, Benedito Gonçalves Pereira Nunes, Oswaldo Luiz Cardoso de Mello, Antonio Bastos Tavares, João Garcia Junior e Otaviano de Brito
90 anos depois... Renato Azevedo Sardinha, Ronaldo Pinto Pessanha, Sylvia Regina de Souza Moraes, Angela Regina Rodrigues Vieira, Almir Abdala Salomão Filho , Israel de Barros Ribas
264
_SFMC_90 anos.indd 264
9/1/2012 23:25:09