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Campinas, domingo, 28 de julho de 2013
Janaína Maciel/Especial para AAN
Essência preservada Investimentos realizados nos últimos 11 anos modernizaram a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência que, ao completar 140 anos, oferece serviços em várias especialidades por meio de equipamentos de última geração. O hospital cresceu junto da Campinas que ontem era povoado e hoje é metrópole. Algo não mudou nesse período por ser essência da instituição: o tratamento humanizado para pacientes e funcionários.
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Hospital acompanha Campinas desde que a cidade era um povoado
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Real Sociedade Portuguesa de Beneficência completa 140 anos de atendimento à saúde dos campineiros e tem motivos para comemorar. Desde sua fundação, em 20 de julho de 1873, enfrentou períodos críticos, desafios que pareciam intransponíveis e teve de travar batalhas gigantescas para manter-se de portas abertas. Mas, uma reengenharia financeira que começou a ser moldada há 11 anos pela atual equipe de administradores empenhados em sua recuperação a recolocou nos eixos e permitiu até mesmo que investimentos fossem feitos em infraestrutura, tecnologia e recursos humanos, que
possibilitaram nivelar seu atendimento ao dos hospitais de referência de toda a região. O resultado representa uma façanha rara em se tratando de uma instituição filantrópica que depende da parca remuneração oferecida pelo Serviço Único de Saúde (SUS) para o atendimento dos impossibilitados de pagar um plano de saúde. Nascida do esforço e voluntarismo de 42 portugueses e três brasileiros em dar amparo e socorrer compatriotas imigrantes que não podiam arcar com despesas médicas no século XIX, quando Campinas era ainda um povoado de 17 mil habitantes, a Beneficência Portuguesa, como é mais conhecida na cidade, ao longo
O prédio imponente faz contraste com a praça repleta de verde: a cidade tinha 17 mil habitantes quando a Beneficência foi criada
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Presidente da instituição fala de planos e conquistas A construção de duas torres de 10 andares cada é sonho a viabilizar O esforço feito pela atual diretoria para tirar a Beneficência Portuguesa da crise em que estava há 12 anos e elevá-la à categoria de hospital de excelência inclui um sonho do atual presidente da instituição, Arly de Lara Romêo, que também preside a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento de Campinas (Sanasa). Está em seus planos a construção de duas torres de 10 andares cada uma a serem erguidas na face do imóvel anexo ao prédio do hospital com frente para a Avenida Andrade Neves. A área em que ele planeja “fincar” os edifícios é ocupada atualmente por imóveis antigos de no máximo dois pavimentos. “A ideia é formar uma parceria com investidores que ficariam com uma das torres para exploração comercial voltada para clínicas e consultórios médicos até a quitação do montante investido enquanto a outra seria destinada ao hospital para novos leitos, centro cirúrgico, serviços ambulatoriais e ampliação do atendimento a pacientes do Serviço Único de Saúde (SUS), pois estamos perdendo atendimento por falta de espaço”, explica. Lara Romêo justifica o investimento como uma forma de tirar o máximo proveito de um terreno de dois mil metros quadrados numa das avenidas mais valorizadas de Campinas. “Seria um desperdício não explorar uma área tão nobre numa região já ocupada por
"Sempre acreditei na recuperação da Beneficência Portuguesa, fruto da nossa união e do comprometimento da equipe toda. Consegui incutir nos nossos colaboradores que para um hospital que está com 140 anos o mínimo que a gente podia fazer é devolver a ele aquilo que foi no passado."
atividades ligadas à saúde”, comenta ele. Para viabilizar seu sonho ele revela que já iniciou contatos com investidores pois a instituição não dispõe no momento dos recursos próprios necessários para tamanha empreitada. Enquanto seu sonho não se viabiliza, o presidente da Beneficência faz investimentos pontuais em áreas mais necessitadas. Nos últimos dois meses aplicou R$ 600 mil em equipamentos já encomendados para o centro cirúrgico, montante que se soma aos R$ 30 milhões aplicados em melhorias para o hospital nos últimos 11 anos. Ele revela ainda que as instalações serão beneficiadas com dois elevadores doados pelo Grupo Arcer à instituição.
ARLY DE LARA ROMÊO Presidente da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência
SUS
Outra frente de batalha travada pela instituição é obter autorização do SUS para realização de cirurgia bariátrica, transplante de medula óssea e cirurgias cardíacas ainda não autorizadas pelo órgão, e oferecidas por enquanto somente a pacientes associados a planos de saúde. Segundo Lara Romêo, o faturamento do hospital com serviços prestados a pacientes do SUS é de R$ 600 mil por mês e representa apenas 15% do total que entra mensalmente nos cofres da instituição por meio do plano Saúde Beneficência e dos demais planos conveniados, entre eles a Amil e a Unimed Campinas, e de particulares.
Coordenadores de várias áreas se reúnem para foto que comemora os 140 anos: empenho e credibilidade
Outra área que foi alvo de atenção por parte da equipe médica do hospital foi o ambulatório de oftalmologia, que presta serviços aos pacientes do SUS. “Em maio de 2012 tínhamos 14 mil pessoas na fila de espera para
EXPEDIENTE
Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Contato: janete@rac.com.br
de quase um século e meio nunca fechou as portas aos pacientes mais carentes por mais difícil que fosse sua situação financeira. Hoje, o hospital oferece serviços em várias especialidades por meio de equipamentos de última geração até a realização de cirurgias da mais alta complexidade, como o transplante de medula óssea. Uma parte dos investimentos de R$ 30 milhões feitos nos últimos 11 anos foram aplicados também na aquisição de equipamentos de última geração em endoscopia, centro cirúrgico, multiplicação dos leitos da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e para o Centro Oftalmológico que atende cerca de dois mil pacientes por mês pelo SUS tanto em consultas como em cirurgias. Com a saúde financeira saneada, uma das primeiras instituições filantrópicas de Campinas está com sua imagem e credibilidade recuperadas perante a classe médica e toda a comunidade.
procedimentos oftalmológicos, mas esse número já caiu para 9 mil”, disse ele. Esforço recompensado
O atual presidente da Beneficência sempre
acreditou na recuperação financeira do hospital. Para ele, pior que o déficit financeiro em que se encontrava a instituição secular foi a crise institucional. “Ninguém queria assumir o hospital. De lá para cá, com muita luta, reformamos e modernizamos a instituição e trouxemos de volta a credibilidade.” Para ele, uma das provas da recuperação de sua imagem é a adesão da população ao plano Saúde Beneficência, que hoje é administrado de forma independente. “Em 2001 tínhamos 5 mil vidas e vendíamos 10 planos por mês com faturamento mensal de R$ 350 mil. Hoje, há 50 mil associados, vende de mil a duas mil adesões por mês e fatura R$ 8 milhões. Isso sustenta o hospital e prova que a credibilidade da instituição está de volta”, afirma. Para comprovar ainda mais sua convicção, acrescenta que a Beneficência está acreditada em nível 2 pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), órgão credenciado pelo Ministério da Saúde.
RAIO X 1.254 - total de funcionários 60 - número de médicos fixos do hospitalar 26 - total de especialidades atendidas na instituição 13.007 - número de pacientes que deram entrada no Pronto Atendimento de janeiro a maio de 2013 2.152 - total de cirurgias realizadas de janeiro a maio de 2013 19 - número de transplantes de medula óssea (15 realizadas em 2012 e 4 até 24/07/2013) 3.464 - total de internações de janeiro a junho de 2013 370 - pacientes atendidos pelo home care 116 - leitos de internação 28 - leitos de UTI Fonte: Real Sociedade Portuguesa de Beneficência
Este suplemento é parte integrante do Correio Popular e não pode ser vendido separadamente
Editora: Janete Trevisani Textos: Angela Kuhlmann especiais@rac.com.br
Cedoc Rac: Gustavo Galvão e William Ferreira Fotos: Janaína Maciel, Cedoc Rac e arquivo da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência
Diagramação: Tadeu Collaço Tratamento de imagem: Eduardo Costa, Laert Marcos, Gilciano de Souza, Marcos Markezin, Leandro Torres e Wanderlei Rosa.
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Pronto atendimento de urgência é ponto forte
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iretor técnico da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, o neurologista e neuro-cirurgião Jorge Facure ingressou no hospital em 1969, portanto, há 44 anos. Sua principal função atualmente é dirigir, coordenar e orientar o corpo clínico da instituição, além de promover e exigir o exercício ético da medicina. Com formação também em administração hospitalar, ele zela pelo desempenho da equipe médica e pela qualidade do serviço prestado pelo hospital. Na visão dele, a instituição acompanha na medida do possível os avanços da medicina, ressaltando que pela velocidade das inovações é praticamente impossível, para qualquer unidade hospitalar, estar o tempo todo equipada com as descobertas mais recentes. "A medicina hoje evolui numa velocidade que torna impossível para qualquer hospital estar em dia o tempo todo em todas as especialidades", comenta. Ele vê como ponto forte da Beneficência os recursos humanos centrados no corpo médico e na equipe de enfermagem. Para ele, o setor em que a instituição que dirige mais se destaca é no pronto atendimento de urgência e emergência pelo qual passaram 13.007 pessoas de
De janeiro a maio deste ano já foram atendidas 13.007 pessoas; plano de saúde do hospital é responsável por 60% do montante que entra nos cofres da instituição
Jorge Facure, diretor técnico: "É um dos poucos hospitais da cidade com atendimento 24 horas em pediatria"
janeiro a maio deste ano. "É um dos poucos hospitais da cidade com atendimento 24 horas em pediatria", ressalta Facure. Segundo ele, o setor adotou o acolhimento humanizado com classificação de risco dividida em cores após triagem inicial na qual são medidos os sinais vitais de cada paciente ao dar entrada no hospital pela porta do pronto atendimento. Facure comenta que, como no Brasil não há a cultura de doar recursos aos hospitais por parte de empresas e pessoas físicas como em países mais desenvolvidos, a prestação de serviços fica dependente dos planos de saúde. Atualmente, o plano Saúde Beneficência, com 50 mil vidas, cuja administração é independente do hospital, é responsável por 60% do montante que entra nos cofres do hospital. Os demais recursos provêm de outros planos de saúde e de particulares. Os últimos representam de 1% a 2% apenas do total. Apesar das dificuldades financeiras encontradas em qualquer hospital filantrópico do Brasil, obrigados a prestar atendimento pelo Serviço Único de Saúde (SUS), cuja tabela de pagamento está defasada há anos, para Facure a Beneficência Portuguesa está hoje em igualdade de condições com os demais bons hospitais da cidade.
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Diretoria voluntária administra Beneficência
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or seu caráter filantrópico que não visa o lucro, a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência é administrada por uma diretoria voluntária eternamente às voltas com a dificuldade financeira crônica por sua obrigação de atender pacientes do Serviço Único de Saúde (SUS), cuja tabela de remuneração aos serviços prestados está sempre defasada da realidade. Ocupam cargos na atual administração Cláudio Amatte, como primeiro vice-presidente; Hélio Pupo, como segundo vice-presidente; Ronaldo de Souza Lente, como diretor-secretário, e José Henrique Moreira Lopes como diretor financeiro. O médico radiologista Hélio Pupo comenta que o setor de radiologia atende em média dois mil pacientes do SUS por mês que representam 30% do total de 6 mil radiografias realizadas a cada 30 dias na instituição. “Quanto mais se atende pelo
Sempre em pauta, a dificuldade financeira não esmorece os profissionais que vestem a camisa da instituição
SUS, mais se inviabiliza um hospital”, diz. Segundo ele, a instituição recebe R$ 7,20 por cada radiografia feita pelo SUS. Além da radiologia, o hospital mantém parcerias com o município de Campinas nas áreas de hemodiálise, litotripsia, raio-X, tomografia e ultrassonografia. Sócios remidos
A Beneficência Portuguesa possui atualmente 4,5 mil sócios remidos e graduados, parte deles descendentes das primeiras pessoas que apostaram no sucesso do hospital. Sua condição dá a eles o direito de participar diretamente da escolha da diretoria executiva, do conselho deliberativo e do conselho fiscal em assembleias. Nesses encontros eles podem ainda apontar prioridades médicas e orçamentárias. De acordo com o diretor-secretário, Ronaldo de Souza Lente, a admissão de novos sócios remidos foi cancelada em 1987 pelo caráter gratuito que conferia
Os diretores José Henrique Moreira Lopes, Cláudio Amatte, Hélio Pupo e Ronaldo de Souza Lente
ao associado. Os remanescentes têm atendimento gratuito vitalício e parte deles não atingiu ainda a maioridade. O diretor-secretário calcula
em 50 anos o tempo que levará para a extinção desse tipo de assistência médica. Para aliviar o custo desses associados ao hospital, foi instituída a cobrança, a
título de doação, de um valor médio de R$ 100,00 por remido mas sem caráter obrigatório. “Paga quem achar que deve”, disse ele. Cerca de 1,5 mil passaram a contribuir com a instituição.
Centros de atendimento ficam fora do hospital O crescimento da população e a falta de espaço no prédio fez com que a Beneficência Portuguesa descentralizasse alguns dos serviços prestados. Um deles é o Centro de Atendimento Oftalmológico, voltado aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e outro é o Centro Clínico Integrado
O Centro Clínico atende conveniados do plano Saúde Beneficência
para atendimento aos conveniados do plano Saúde Beneficência. Com capacidade para atender 1,5 pessoas por
mês, o centro oftalmológico dotado de equipamentos de ponta funciona em um prédio no Guanabara. Além das consultas e exames,
O Centro de Atendimento Oftalmológico é voltado aos pacientes do SUS
realiza em média 400 procedimentos cirúrgicos a cada 30 dias. O atendimento virou realidade após assinatura em agosto de
2012 de um convênio de parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Beneficência Portuguesa. Naquela data a demanda
“Mais que a legenda, mais que o nome, mais Que o tempo que dormiu em seus lajedos, Guardas na tradição, e sem segredos, A história dos avós, netos e pais.” Do poema Real Beneficência Portuguesa, de Luso Ventura, publicado no livro Templo da memória
pelo serviço ultrapassava 10 mil pacientes que aguardavam atendimento pelo SUS. O Centro Clínico Integrado, instalado também no Guanabara, é voltado exclusivamente aos conveniados do plano Saúde Beneficência. Sua capacidade é 400 atendimentos por dia. Entre as especialidades oferecidas estão ginecologia, pneumologia, cirurgia geral, cirurgia toráxica, clínica médica, pediatria, neurologia, neurocirugia e coleta para exames laboratoriais. Dentro de 10 dias entram em operação os exames de ultrassonografia.
CURIOSIDADES
1871
mesmo dia, do centro cirúrgico da instituição.
A colônia portuguesa em Campinas, além de numerosa, era importante por seu domínio do comércio local. Eram donos de lojas e armazéns de diversos ramos, tanto varejistas como atacadistas, localizados na Rua de Baixo. Nesse ano a Câmara Municipal prestou uma homenagem a esses comerciantes ao rebatizar a via como Rua Luzitana, nome conservado até hoje.
1922
1880 A Beneficência Portuguesa constitui seu primeiro defensor na esfera jurídica: o advogado Manoel Ferraz de Campos Sales, que mais tarde foi o quarto presidente da República no período de 1890 a 1902.
Visita, no dia 7 de agosto, dos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que haviam cruzado o Oceano Atlântico em voo inédito do avião Vera Cruz. Foram recepcionados pelo advogado Pedro de Magalhães e alvos de grande euforia popular.
1938 Neste ano, o governo federal, através do decreto 383, de 18 de abril, proibia a separação na vida interna das sociedades entre elementos brasileiros e não brasileiros. Era a chamada “nacionalização das associações estrangeiras”, que tiveram que moldar seus estatutos às novas condições estabelecidas por lei.
1905 Oficiais da unidade naval "Pátria" da Marinha de Guerra Portuguesa visitam o hospital no dia 5 de novembro e participam da inauguração, no
Fonte: Revista do Centenário, publicada pelo hospital por ocasião do centenário da instituição
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Investimentos resultam em ampliação e modernização Centro cirúrgico é dotado de equipamentos modernos e UTI passou de uma para duas adultas, com capacidade de leitos aumentada de oito para 28
A Unidade de Terapia Intensiva (foto) foi ampliada e o laboratório de análises clínicas recebeu equipamentos de ponta
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á 39 anos na Beneficência Portuguesa, o clínico-geral Danilo Glauco Pereira Villagelin Filho é o atual diretor clínico do hospital. Ele comanda uma equipe de 60 médicos fixos, de 26 especialidades. Em quase quatro décadas ele viu e sentiu na pele as dificuldades inerentes a uma instituição filantrópica. Porém, considera que nos últimos anos a recuperação financeira é visível e reflete na modernização de suas instalações e acomodações. Os investimentos feitos nos últimos 11 anos possibilitaram uma ampla reforma no centro cirúrgico, dotado de equipamentos modernos, assim como a ampliação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que passou de uma para duas adultas com capacidade de leitos aumentada de oito para 28 após investimento de R$ 2,5 milhões. O laboratório de análises clínicas, que atende em média 12 mil pacientes por mês, também ganhou equipamentos modernos, assim como a área de endoscopia. Nas acomodações para pacientes, foi realizada uma reforma das instalações e aquisição de mobiliário para os 116 leitos de enfermaria ou apartamentos que ganharam camas novas, ar-condicionado, TV a cabo e frigobar. Outra implantação foi o Serviço Interdisciplinar de Assistência Domiciliar
Danilo Glauco Pereira Villagelin Filho, diretor clínico do hospital: equipe tem 60 médicos fixos de 26 especialidades
(SIAD), prestado aos sócios remidos da instituição e associados aos planos de saúde conveniados com o hospital. Focado nos portadores de doenças crônicas e dependentes, o objetivo é humanizar o tratamento a esses pacientes com a extensão do acompanhamento médico no próprio domicílio. Para Villagelin Filho, a iniciativa tem como objetivo evitar o prolongamento da internação nos casos em que o tratamento pode ser feito em casa. “Hoje temos 370 pacientes crônicos ou dependentes monitorados por uma equipe formada por dois médicos, três enfermeiros, seis técnicos de enfermagem, um motorista, um fisioterapeuta, uma nutricionista e uma fonoaudióloga", revela o diretor clínico. Alta complexidade
A Beneficência Portuguesa investiu nos últimos anos em três procedimentos de média
e alta complexidade, oferecidos a associados de planos de saúde conveniados com o hospital. Um deles é o transplante de medula óssea já realizado em 19 pacientes. De acordo com Villagelin, é o único hospital filantrópico da cidade a realizar o procedimento, assim como é o único também a dispor de uma câmara hiperbárica, cuja finalidade é reduzir o risco de infecções. Outra iniciativa foi a implantação da cirurgia bariátrica. Nos últimos anos, mais de 400 obesos mórbidos já passaram pelo centro cirúrgico. As cirurgias cardíacas também viraram realidade na instituição em vários níveis de complexidade para credenciados da Unimed Campinas. A equipe de nefrologia é outra que foi lembrada e contemplada com a Litotripsia, um moderno equipamento que fragmenta cálculos renais e afasta a necessidade de cirurgia.
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Eles são bem tratados rotina de um hospital não é fácil para ninguém. O ritmo invariavelmente corrido com novos pacientes chegando a todo momento assusta quem passa apenas algumas
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horas acompanhando um paciente ou sendo atendido de alguma indisposição. No entanto, há pessoas que há décadas se dedicam ao próximo e convivem diariamente com esse ritmo acelerado dos atendimentos.
O comerciário FRANCISCO CARLOS TONIN, de 56 anos, apresentou dores no peito há cerca de 20 dias e procurou ajuda médica em um hospital de Campinas. Após ser examinado, foi para casa com algumas receitas de medicamentos. Teve uma ligeira melhora, mas uma dor na lateral do abdome voltou a incomodá-lo há cerca de 10 dias, quando então foi encaminhado para a Beneficência Portuguesa, onde foi diagnosticado com uma embolia pulmonar.
Aos 68 anos, a telefonista APARECIDA DE JESUS completou 39 anos de trabalho na Beneficência Portuguesa. É uma das funcionárias mais antigas da casa e, mesmo aposentada há alguns anos, seguiu trabalhando e garante que não pretende abandonar o posto. "Pelo menos enquanto Deus me der forças, gosto do que faço", diz. A telefonista faz há quase quatro décadas a ponte
São profissionais não só da área médica, mas também de setores que são apoio para que tudo transcorra bem na cadeia de atendimento aos doentes ou acidentados que chegam, seja a hora que for. Uma médica, um motorista de ambulância,
uma telefonista, todos com muitos anos de trabalho na Beneficência Portuguesa, são exemplos dessa dedicação. Não se cansam da rotina corrida e nem pensam em parar. Do outro lado, um dos pacientes que saiu da Unidade
de Tratamento Intensivo (UTI) revela ter recebido um tratamento humano e atencioso por parte da equipe de cuidados intensivos logo depois de saber que estava de alta e que já ia ser transferido para o quarto.
Tonin acabou internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e teve alta cinco dias depois. Satisfeito com o tratamento recebido e com sua recuperação após o susto, ele conta que já havia passado pela instituição uma vez, em 1984, por um acidente de moto. Mas notou a evolução do hospital em todos esses anos. "Fui muito bem tratado aqui, a equipe é muito atenciosa com a gente", elogia. Na quarta-feira passada ele foi para o quarto.
A cirurgiã-pediátrica RITA DE CÁSSIA FERREIRA, de 51 anos, está na Beneficência Portuguesa há 26 anos e há seis assumiu a coordenação geral do Pronto Atendimento do hospital. A médica conta que começou a carreira como plantonista do Pronto Atendimento infantil do antigo hospital Coração de Jesus, onde atuou até o encerramento das atividades daquela unidade de saúde. Nessa época, ela deixou de operar e trocou os bisturis por cargos de gestão, como o que assumiu como médica do trabalho na Beneficência, até que o atual diretor técnico Jorge Facure a convidou para coordenar a equipe do Pronto Atendimento, quando soube que já tinha trabalhado no Hospital Mário Gatti e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Rita de Cássia lembra que há pouco tempo encontrou uma carta em que pedia a compra de cordão cervical para o Pronto Atendimento. O documento a fez relembrar das dificuldades enfrentadas pela instituição em passado recente comparado ao que ela vê hoje. “Quando
assumi, o meu desafio foi fazer com que a equipe aceitasse o fato de uma mulher coordenar um grupo no qual havia até ex-diretores clínicos do hospital que tiveram que se subordinar a mim”, comenta. De lá para cá, segundo a coordenadora, o atendimento deu um salto. “Hoje somos referência para a Unimed-Help, Samu, Autoban, Corpo de Bombeiros e não tem igual nos casos de traumatismos e em casos clínicos", diz. Para ela, a Beneficência está cada vez mais fortificada. “Ela saiu de uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) que nem era UTI, era uma sala de cuidados intensivos e hoje tem 28 leitos”, comenta. Na visão da coordenadora, o Pronto Atendimento prestado atualmente na unidade hospitalar é de ponta, principalmente nas áreas de pediatria e ortopedia. “Nesses 26 anos de casa, aprendi que quando a gente fala ‘vamos fazer juntos’ em lugar de ‘faça’, as coisas mudam. Aqui é a minha casa, é o lugar que eu amo, e agora estou colhendo os louros de tudo o que passei aqui, com certeza”, conclui.
entre os funcionários da instituição com o mundo lá fora e acredita ser essa uma função crucial dentro de um hospital do porte da Beneficência. Segura de si, diz que nunca teve dificuldade para encarar as sucessivas trocas de equipamentos de Pabx. "Em todos esses anos mudaram tudo umas quatro vezes, mas sempre me adaptei com facilidade às novidades, nunca tive problema", assegura.
Lá se vão quatro décadas e JOSÉ CARLOS MENDES DE GODOY, de 63 anos, não aposenta a carta de motorista de jeito nenhum. Como um dos funcionários mais antigos do hospital, ele conduziu pacientes de um lado para outro em ambulância até há poucos anos. Hoje, num ritmo mais calmo, ele serve a presidência da instituição, mas confessa que tem saudades dos tempos de correria ao volante do serviço de urgência do hospital. Para ilustrar um dos momentos de mais estresse que passou ao volante em todos esses 40 anos, ele lembra de
um dia que foi levar uma paciente que havia recebido alta para casa, acompanhado de uma enfermeira. "Naquele dia, não sei o que aconteceu pois a enfermeira começou a se sentir mal e a paciente também piorou logo depois. Coloquei oxigênio nas duas e voltei correndo para o hospital. No fim, deu tudo certo, conta, com seu jeitão meio envergonhado. Para ele, o melhor de seus tempos de ambulância era quando socorria pacientes acidentados ou muito doentes e depois os via vivos e recuperados.
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Local para orar e pedir bênçãos A capela, inaugurada em 1927, já celebrou muitos aniversários do hospital e, aos domingos, é realizada uma missa para pacientes, familiares e fiéis em geral
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a ampla reforma realizada na Beneficência Portuguesa no final da década de 1920 foi projetada uma capela, inaugurada em 18 de dezembro de 1927, com a presença da diretoria da instituição e convidados da sociedade campineira. Uma missa marcou o evento rezada pelo cônego Oscar de Oliveira, secretário do bispado e capelão do hospital. Com as paredes em tons térreos e bancos em madeira, destacam-se em uma das laterais as enormes janelas com vitrais coloridos de motivos religiosos que projetam no interior uma luz tênue que transmite paz aos frequentadores da missa realizada todos os domingos para fiéis da região, pacientes e seus familiares. Trinta e um anos depois de inaugurado, o santuário católico erigido em louvor a São Francisco de Paula sofreu uma ampliação no biênio 1957/1958. A reforma imprimiu à capela um estilo condizente com o que havia de mais apropriado na liturgia romana. No dia 10 de novembro de 1958, a bênção de inauguração foi precedida de uma mensagem evangélica feita pelo arcebispo de Campinas na época, D. Paulo de Tarso Campos. Em 2012, a atual administração investiu R$ 70 mil em novo projeto de reforma das dependências da capela que atualmente abre somente para missa aos domingos.
No espaço já ocorreram várias celebrações para registrar antigos aniversários da Beneficência: santuário foi projetado durante a ampla reforma feita no hospital na década de 1920. No próximo dia 4, às 9h30, será celebrada uma missa pelos 140 anos da instituição, aberta a fiéis, pacientes, funcionários e diretoria.
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Dedicação, amor ao próximo e competência fazem a tradição. Parabéns ao Hospital da Real Sociedade de Beneficência Portuguesa pelos 140 anos cuidando da saúde da população da Região de Campinas.
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Referência histórica no atendimento à saúde da população
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undada em 20 de julho de 1873, a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, após 140 anos de atividades, é uma referência histórica no atendimento à saúde da população campineira. A instituição nasceu no fim do século 19 da falta que sentiam os membros da colônia de imigrantes vindos de Portugal de um órgão assistencial que conferisse amparo e assistência médica a compatriotas impossibilitados de arcar com despesas médicas num solo tão distante de sua terra natal. Numa época em que a cidade tinha apenas 17 mil habitantes, a iniciativa de fundar um hospital filantrópico foi de Francisco Gonçalves Ferreira Novo, agente consular e comerciante português estabelecido na cidade. O chamamento contou com a pronta adesão de 42 portugueses e três brasileiros que se tornaram sócios efetivos,
honorários, benfeitores e beneméritos com aportes mensais para a viabilização da instituição. A partir daí esforços não foram poupados para erguer o prédio. Eventos beneficentes como os “leilões de prendas”, assim chamados na época, foram seguidamente promovidos no salão social do Clube Semanal de Cultura Artística, gentilmente cedido por sua diretoria, com a finalidade de arrecadar recursos para a compra do terreno. Em 22 de fevereiro de 1876, já com o caixa reforçado, o presidente da instituição filantrópica compareceu diante de um tabelião para lavrar a compra de uma chácara com uma das faces voltadas para a Rua 11 de Agosto, adquirida de Jacob Marki por oito contos de réis. Vencida a primeira etapa, veio a seguinte e mais dispendiosa, a de erguer o hospital. A pedra fundamental foi lançada em 6 de janeiro de 1877. Dois anos depois, em 29 de junho de 1879, com
Portugueses aqui radicados se uniram a outros compatriotas para criar a instituição, fundada em 20 de julho de 1873
bandeiras portuguesas e brasileiras hasteadas, foi realizada a solenidade de inauguração do primeiro prédio construído para abrigar o hospital. Em 1907, um alvará expedido por Carlos I conferiu título de nobreza “Real” à instituição que se firmou como filantrópica ao longo dos anos. O documento amarelado e emoldurado tem lugar de honra no salão nobre do hospital, preservado até hoje com sua mesa de reunião em mogno e 40 cadeiras em madeira-de-lei, estofadas com couro entalhado e paredes revestidas de retratos a óleo de todos seus presidentes ao longo dos últimos 140 anos. O documento definitivo foi assinado em 1908 por Manuel II, último rei português, que assumiu o trono aos 18 anos de idade após o assassinato naquele mesmo ano de seu pai, Carlos I, e seu irmão e filho primogênito, Luiz Felipe. O gesto de cumprir a vontade do pai foi interpretado como uma homenagem póstuma.
Em 29 de junho de 1879, com bandeiras portuguesas e brasileiras hasteadas, foi realizada a solenidade de inauguração do primeiro prédio construído para abrigar o hospital.
Prédio e praça compõem belo cenário Novos pavilhões foram sendo acrescentados nos anos que se seguiram, até que, em 1928, uma nova intervenção arquitetônica foi encomendada ao engenheiro, arquiteto, arqueólogo e escritor Ricardo Severo da Fonseca e Costa, um imigrante português que atuou como sócio do escritório de Ramos Azevedo, nome de destaque da engenharia brasileira por ter projetado obras
históricas como o Teatro Municipal de São Paulo, e outras importantes obras de engenharia erguidas na Capital na primeira metade do século XX. Nessa oportunidade o prédio adquiriu o estilo da arquitetura da época do Brasil Colônia, que mescla traços neoclássicos e barrocos com suas gigantescas portas e janelas de madeira e requintadas luminárias, conservados até hoje na sede. Em 1930, a derrocada do ciclo do café após a queda da Bolsa de Nova York, atingiu em cheio o baronato cafeeiro da região e espalhou uma crise econômica sem precedentes da qual a Beneficência não escapou. Registros
históricos da instituição revelam a dificuldade em saldar as dívidas com o autor do projeto que, num gesto nobre e patriótico, concordou de bom grado com o adiamento do pagamento do montante devido. O novo prédio, monumental para a época, foi inaugurado em 28 de junho de 1931. Por seu valor histórico e arquitetônico, a sede imponente da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, que se destaca diante da Praça Luiz de Camões, rica em palmeiras imperiais, pau-brasil e sibipirunas, foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), em 9 de março de 2006.
LIVRO REGISTRA NOMES DE VISITAS ILUSTRES Por sua importante contribuição para a saúde pública, a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência nunca ficava de fora do roteiro dos membros da coroa portuguesa. A primeira a visitar o hospital foi a princesa Izabel em 1884, acompanhada pelo marido, o conde d'Eu. Dois anos depois foi a vez do imperador D. Pedro II (foto), o primeiro a assinar o livro de visitas em sua visita à cidade em 1886. Ele percorreu todas as dependências e deixou uma contribuição de Rs. 200$000 mil réis. No mesmo ano o Conde S. Salvador de Matosinhos, um nobre português, esteve na instituição, assinou o livro de presença e deixou como contribuição um valor correspondente às despesas de um mês.