Revista Jacinto

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Edição 1 | Ano 1 Novembro 2011

ENTREVISTA Jacinto Corrêa fala sobre livros lançados em 2007


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EDITORIAL

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OLHAR DO DESIGNER

04

A visão de um designer sobre o poema

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A visão de um designer sobre o poema

CAPA

FOTOPOEMAS

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CARTA DO LEITOR

CRÍTICA

Entrevista com Jacinto Corrêa sobre seus livros de 2007

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Como foi a criação e produção do primeiro livro

Três novos fotopoemas!

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CURIOSIDADES


O poeta carioca Jacinto Fabio Corrêa, nascido em 1960, surgiu no cenário literário brasileiro em 1989, com a publicação de Entre Dois Invernos, produção independente que anunciava a opção do escritor pela poesia do detalhe, retratando, com particular sutileza, as situações do dia-a-dia. O caos urbano, as chegadas e despedidas amorosas, a potência e a inocência das artes são alguns dos temas que habitam os livros de poesia de Jacinto. Outra particularidade marcante de sua obra é o casamento essencial entre a palavra e o visual - para o poeta, tão importante quanto apresentar os poemas escolhidos é ter a certeza de que eles receberam o tratamento gráfico adequado: “Na verdade, faço mais roteiros do que livros. Conto histórias através de versos e, para isso, preciso de uma parceria visual”. Essa proposta de trabalho é marcada principalmente pelo aspecto artesanal dos seus livros, em que cada exemplar é tratado individualmente, por meio de colagens de papéis, metais, madeiras e de acabamentos que se utilizam de cordas ou silk-screen para traduzir o lirismo dos poemas do autor. Além de Entre Dois Invernos, Jacinto já lançou outros oito livros de poesia seguindo essa mesma linha de trabalho, com a criação visual sempre assinada pela designer Heliana Soneghet Pacheco: Cenas Nuas (1990), Jogos Urbanos (1992), O Derrame das Pedras (1994), Pedaços – O Parasempre da Hora (1996), O Diário do Trapezista Cego (1999), Poemas Casados (2003), Poemas Caseiros e Poemas Simples (2007), e Silenciário (2010). Além disso, em 2008 lançou o DVD Um diário para dois e, em 2005, em conjunto com seu irmão, o cantor e compositor e cantor Paulo Corrêa, o CD de música e poesia Sinais Urbanos, Jacinto, que é jornalista e publicitário, atualmente integra o grupo Nós da Poesia, formado ainda pelas poetas Adele Weber, Lila Maia, Maria Dolores Wanderley e Helena Ortiz, e trabalha como diretor de Planejamento e Comunicação do Senac Nacional. Editores Carolina sessa e Nichole Oliveira Colaboradores Thiers Ferreira

Edição nº 1 – Ano I Novembro de 2011

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Projeto Gráfico Carolina Sessa e Nichole Oliveira

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Jacinto Corrêa

Impressão CopyExpress Contato Revista O Poeta: contato@revistaopoeta.com.br Conteúdo: imprensa@opoeta. com.br Site: jacintocorrea.com.br


Com certeza, Silenciário é o meu livro de cabeceira. Está uma delícia. Também assisti ao vídeo (Trapezista, de Luís Rocha Melo) no you tube. E como qualquer fã de carteirinha, sigo seus passos e encontro alma nas entrelinhas de sua poesia. Margareth Souza, RJ, 15/07/2011 Adorei essa história de Audiopoemas... porque sua voz, sublinhando as palavras, é o que eu sempre escuto quando te leio. Tânia de Vasconcellos, professora, 15/07/2011 Ai poeta, o vídeo (Trapezista, de Luís Rocha Melo) um primor, assim como a tua palavra solta e presa nos arames da sacada. Como pode ser assim? assim, tão assim? Luciana Kamel, poeta e fotógrafa, 15/07/2011 Assisti ao filme (Trapezista, de Luís Rocha Melo) no Youtube, muito bons os textos e a música inspirada no livro. Imagens e edição muito sensíveis, aliás Copacabana é um poema, adoro. Incrível pensar que 1999 já faz tanto tempo, ficou na poeira... Doriana Mendes, cantora, 15/07/2011 Você me sensibilizou a tal ponto de me fazer chorar na frente de todo mundo!. Aliás, foi muita “maldade” juntar mais de 300 pessoas num recinto e mexer com as emoções de pobres mortais. “Quem você pensa que é? Deus?” Cristina Gonzalez, jornalista, 15/06/2011

Sobre o recital Uma vida que roubei para mim) Foi um grande prazer estar presente lá naquele dia. Senti algo especial. Leio sempre seu site e adoro. Ana Maria Paschoal Duarte, RJ, 15/06/2011 (Sobre o recital Uma vida que roubei para mim) Você estava ARRASANTE como sempre, mas dessa vez estava mais ainda...eu não sabia mais onde começava o palco e terminava você ou onde você começava e o palco acabava, os dois - você e o palco - estavam geminados quase xifópagos. Como você é geminiano, achei que o palco fosse “o outro gêmeo” e olha que dominar um palco, por menor que seja, é tarefa para poucos. Roberto Assys, ator, 15/06/2011

você brilha!!! E você pode abandonar qualquer coisa na vida, mas nunca a poesia. É muito dom! Parabéns por chegar aos 50 anos, com as cores de 18. E nunca vou me esquecer de uma das milhares de coisas que já me ensinou. A gente envelhece, mas a nossa alma, não. Parabéns, pelo recital, pela sensibilidade rara, e por mudar a quintafeira de muita gente. Como publiquei no meu facebook, me deu vontade de amar e de mandar muitos recados também (risos). Camila Rosenbrock, jornalista, 15/06/2011 (Sobre o recital Uma vida que roubei para mim)O evento foi bárbaro e adorei conhecer o seu lado “ator” no palco! Tereza Raquel Campos, engenheira, 15/06/2011

(Sobre o recital Uma vida que roubei para mim) O recital foi maravilhoso, emocionante, lindo. Chorei, ri. Sua poesia mexe muito comigo, traduz profundamente o que vem em minha alma, isso é mágico. Que com o amor de Deus e a proteção de São Jorge você sempre tenha energia, disposição e inspiração para nos brindar com seus versos, que são, para mim, um presente. Ana Cristina Lima, jornalista, 15/06/2011

Parabéns pelo recital! Foi lindo demais. Amei os poemas novos e mais ainda de ouvir voce declamando os antigos. No próximo recital, estou achando que irei dormir na fila para ver se consigo entrar! Você está ficando muito requisitado, daqui a pouco terei que marcar hora para chegar perto de você!! Mais uma vez, LINDO LINDO LINDO! Roberta Villela, relaçõespúblicas, 15/06/2011

Te achei mais solto, um brilho nos olhos especial que dá para sentir a bela fase que está vivendo. Adoro pessoas felizes que exalam arte. Como te disse na correria da fila, pós recital, com um pouco de timidez que tento esconder...

Um privilégio poder participar da emoção desse momento tão seu! Seus versos fazem de mim uma pessoa melhor! Obrigada pelo carinho da sua poesia. Elaine Salustiano, assistente social, 15/06/2011

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O Olhar do Designer Ê uma seção onde um designer Ê convidado a expressar grafimente sua visão da poesia do Jacinto F. Corrêa. Nesta edição o convidado foi a designer Carolina Sessa, estudante de Desenho Industrial da Universidade Federal do Espírito Santo. O poema escolhido Ê do livro Poemas Simples, o qual tambÊm teve a parte gråfica desenvolvida pela designer Heliana Soneghet Pacheco.

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Poemas Simples Rio de Janeiro, 2007 94 påginas, 98 poemas Programação visual: Heliana Soneghet Pacheco Editoração eletrônica: Paula Monteiro Revisão: Marcelo Secron Bessa Foto: Fernando Garcia Gråfica: Reproarte

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UMA EXPERIÊNCIA SENSUAL E SENSORIAL Por Marcelo Bessa

Desde o advento da internet, muito se discute a respeito do fim dos livros num futuro próximo. Talvez isso não ocorra por um motivo simples: o objeto livro sempre fascinou leitores, sejam eles especializados ou não. É um fascínio como o explicitado por Clarice Lispector em “Felicidade clandestina”. Neste conto, a narradora relembra o ritual sádico a que teve de se submeter a fim de pegar emprestado com a vizinha rica um exemplar de Reinações de Narizinho. Após sofrer o diabo e ter, enfim, o livro nas mãos, ela vive uma experiência erótica que a transforma de menina com livro a mulher com amante. Essa interpretação não diz respeito apenas ao prazer proporcionado pelo ato de leitura, mas sim ao próprio objeto: “Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o”. Alimentar essa experiência sensual e sensorial do leitor - e aliá-la à palavra - é o que faz o poeta Jacinto Fabio Corrêa, desde seu livro de estréia, Entre dois invernos, de 1989. À margem do circuito editorial, Jacinto toma essa condição a seu favor e investe em publicações quase artesanais para compor o trabalho poético. Os livros Poemas caseiros e Poemas simples, reunidos num único volume, confirmam seu trabalho de artesão de palavras e objetos. Como seus sete livros anteriores - todos com projeto gráfico de Heliana Soneghet Pacheco - por poemas pequenos, fragmentados até, que Poemas caseiros e Poemas simples apostam vão compondo uma imagem estilhaçada, um na criatividade para ganhar o leitor. O cuidado da mosaico. Ambos os livros utilizam esse recurso, edição inclui desde folhas e mas, em Poemas simples, cuja pétalas de rosas coladas em temática é o amor sensual, Os livros Poemas algumas páginas até papel de é mais representativo. No presente e renda para dividir caseiros e Poemas entanto, “Lascívia”, poema de partes dos livros. O volume, foge da brevidade e simples confirmam abertura, além disso, vem dentro de se encarna como uma longa seu trabalho uma caixa de madeira. oração profana à pessoa Todas essas minúcias amada. de artesão de gráficas não são meramente dois livros são distintos, palavras e objetos. poisOstêm ilustrativas, mas se casam linguagens poéticas com a proposta dos poemas: específicas, e somente isso o detalhe sobre cenas banais e corriqueiras do poderia justificar lançá-los separadamente. No cotidiano e sobre as relações afetivas no dia-a-dia. entanto, a opção do duplo lançamento se justifica Muitas vezes, a opção pelo detalhe é responsável pelo fato de terem sido escritos quase ao mesmo 06 | NOVEMBRO, 2011 |

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tempo, e não faria sentido lançar um agora e outro mais tarde. “Às vezes, a poesia exige um tempo diferente do tempo dos humanos”, explica. E é justamente o tempo, tema constante na obra de Jacinto, que marca seu trabalho poético da vida corriqueira. Discorrer sobre esse tempo diferente é o que ele faz especialmente em Poemas caseiros. “Até hoje remendo o tempo surrado, cotidiano”, esclarece um verso de “Celebração”, cujo subtítulo é A história de quando envelhecermos. O ato de remendar, ou mesmo de bilrar o tempo, como sugerem as delicadas rendas que separam partes do livro, parece dizer mais. É um amadurecimento, uma aceitação do conselho drummondiano que prega a vida como

uma ordem, como indicam versos dos poemas “Dança” (“A vida é esta música, ouve / a enganar os demais com seu silêncio. / Dá-se a nós, e tãosomente / segredo de escutá-la sem repetição”) e “Bodas de outro” (“A hora de viver sem se preocupar com a vida chegou”). “A poesia do corpo não admite o tempo”, adverte o poeta num verso de “Corpo e poesia”, que abre Poemas caseiros. Talvez não. Fica patente nos poemas dos novos livros de Jacinto que a carne, o desejo e a paixão também têm uma memória. Por conta dos versos bem talhados e da edição bem-cuidada, são livros para se viver com eles, comê-los e dormi-los. A surpresa em Poemas Simples fica por conta da utilização de papel de presente para marcar as três fases do livro. 3

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SIMPLESMENTE

Por Gustavo Vinagre

Jacinto Fábio Corrêa é poeta do Rio de Janeiro, nascido em 1960. Sua primeira publicação foi o livro de poemas “Entre Dois Invernos”, em 1989. Desde então, o também jornalista, publicitário e atual chefe do Centro de Comunicação Corporativa do Senac Nacional, já lançou outros 9 livros, incluindo a dobradinha “Poemas Simples/Poemas Caseiros”, lançados no dia 2 deste mês de outubro. Os livros, feitos à mão, impressionam pelo cuidado editorial. Ambos os livros vêem grudadinhos, num só, guardados por uma caixa de madeira. De um lado, a capa vermelha de “Poemas caseiros”,que pode ser lido em páginas propositalmente mal cortadas e amareladas, 08 | NOVEMBRO, 2011 |

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com alguns dos poemas delicadamente protegidos por páginas de renda, ou então com uma pétala de rosa grudada no canto da página. Tudo para criar aquela atmosfera de diário, como se fosse um livro realmente “de casa”, e que estivesse sujeito a essas doces pieguices. Virando o livro de cabeça para baixo e ao contrário, vê-se a capa verde dos “Poemas simples”. Protegendo alguns dos poemas estão páginas feitas de papel de presente... Simples e belo, como pretende o título do livro. O homoerotismo permeia os dois livros, embora “Poemas caseiros” tenha como enfoque a vida em casal e a maturidade e “Poemas simples” seja mais um elogio à juventude e à beleza do amante. A idéia de Deus e imagens do cristianismo permeiam muitos dos poemas, de maneira bem resolvida, sem culpas. Os poemas são realmente um primor de economia e simplicidade, passando a mensagem de maneira direta, sem rebuscamentos, quase como haikais. Confira o site do escritor em www.jacintocorrea.com.br. Lá você também encontra o contato de Jacinto, e pode encomendar os livros através dele. A seguir, você lê uma entrevista com o poeta.


Sua poesia está recheada de referências Você sempre publica seu próprios livros de cristãs. Você é católico? Como funciona ser foma independente? gay, religioso e poeta ao mesmo tempo? Sim, desde 1989 edito meus trabalhos poéticos Não, não tenho religião. Tenho uma relação de (com esses, já são 9 livros e 1 CD, de música e amor e ódio profundos com Deus, mas não poesia, realizado ao lado do cantor e compositor preciso de nenhuma religião para conversar, brigar, Paulo Corrêa, meu irmão). me aproximar, me distanciar dele. Tenho a poesia que me coloca em nível de Como você encontra os objetos que farão igualdade, no que há de bom e ruim nisso, com parte deles? Deus. Para existirmos, eu e Deus, precisamos A gestão do livro geralmente dura em torno de ser iguais. Nesse sentido, a homossexualidade 1, 2 anos. Faço sempre com a designer Heliana em nada interfere: nem contra, nem a favor. Soneghet Pacheco, que entende fazer livro Por não ter religião, nunca como eu. A parte visual é uma tive problemas de culpas ou continuidade do poema. É uma Há sempre algo coisa só. Assim, os objetos pecados. Vivo os meus desejos e amores. Às vezes com Deus, vão depender do fio condutor, a mais, que às vezes sem ele. Mas devo história que o livro contará. nem sempre os da confessar que adoro trabalhar, Mais do que livros, acho olhos vêem. poeticamente, a questão que faço roteiros de poesia. sagrado x profano. Em, “Poemas caseiros”, por exemplo, as pétalas de rosa São Sebastião está presente em grande parte traduzem o lirismo da história - foram guardadas da literatura homoerótica - até no Japão, durante três anos em livros e dicionários. As com Mishima. Da onde, em sua opinião, vem rendas traduzem a idéia de vento na janela de a força dessa figura, e o apelo que tem entre casa. E por aí vai. escritores gays? Acredito que seja pela beleza, pela sensualidade E você mesmo “monta” o livro? e pela inocência das imagens construídas. O Eu, a Heliana e alguns parentes. que vejo nos folhetinhos, nas imagens das igrejas, nos livros, acho um belo homem, um Qual é o papel da poesia na cultura brasileira? belo rapaz, um belo santo, quase irresistível Sinceramente, acho que a poesia é uma (risos). Não acredito que tenha relação com a alternativa para uma vida melhor para todos vida propriamente beata de Sebastião. no Brasil. Já se estuda poesia na infância e isso é um acerto. Mas deveria ser mais, muito Quais são seus poetas favoritos? mais. A poesia permite um novo olhar sobre No Brasil, Mário Quintana, Lila Maia e Adele a realidade e pode trazer resposta, conforto Weber. Fora do Brasil, Fernando Pessoa. ousimplesmente prazer. As autoridades, os governantes, só deveriam assumir um posto Por que a escolha de fazer os livros juntos? público após provarem que conhecem de fato “Poemas caseiros” seria o meu próximo alguns poetas de sua língua natal. livro, após “Poemas casados”, lançado em 2003. Mas no meio do caminho, surgiu um Nos seus poemas, a figura de Deus me novo amor, arrebatador, que me fez escrever pareceu um grande coringa, com valores uma nova série de poemas. Dei o nome de muito facilmente intercambiáveis. Em dado “Poemas simples” porque essa era a única momento, Deus é o amante, em outro é você forma poética de me comunicar com esse próprio, entre outras formas que toma. Por novo amor. A série acabou se tornando um que você acha que Deus tem esse papel tão projeto de livro paralelo. Passei quase um ano metafórico em sua poesia? sem saber qual editar primeiro. Até que um dia, Deus é o personagem que eu gostaria de ter vendo TV, assim do nada, ouvi alguém falando a inventado. É fascinante e elástico. Perfeita a sua palavra “juntos”. Aí, não tive dúvida. definição de Deus na minha poesia. Obrigado.

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“Poemas caseiros” e “Poemas simples” realmente são cheios de singeleza quase feminina, retratando a vida a dois, e principalmente, falando de relações amorosas. Você busca simplicidade na literatura? Não acho que eu busque, eu escrevo de forma simples. O valor da minha literatura está nas entrelinhas, nos silêncios, nas sombras, nas sutilezas que acompanham os poemas. Há sempre algo a mais, que nem sempre os olhos vêem. Mas os corações abertos, esses, eu não tenho dúvida que capturam as mensagens que tento passar. Algo como escrever uma mensagem, colocar numa garrafa e jogar ao mar. Quem recebê-la, entenderá e me devolverá o amor ofertado. O amor que não volta, ou que se despede, o namorado que chega em casa tarde, e o elogio à beleza do amante são recorrentes nesses poemas. No entanto, tudo é encarado com muita naturalidade... Parece haver uma plena aceitação do eu-lírico com os fatos que ele próprio “narra”. Qual seria a distância entre você e o seu eu-lírico? Acho que a maturidade só ajuda um pouquinho a acalmar o fôlego e o fogo das sensações e dos poemas (risos). Mas escrevo com a mesma intensidade, com o mesmo coração-na-boca com que escrevia aos 13 anos. Acho que o meu eulírico é um eu-todo-dia, sem chances de disfarces. A poesia não me permite máscaras, feliz ou infelizmente. O eu-lírico deve ter autocrítica. Mesmo sem saber rezar, eu rezo, todos os dias, para que eu tenha e mantenha um mínimo de qualidade e consciência na poesia.

Capa dos livros Poemas Simples e Poemas Caseiros

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por Marcelo Bessa

O poeta carioca Jacinto Fabio Corrêa, nascido em 1960, surgiu no cenário literário brasileiro em 1989, com a publicação de Entre Dois Invernos, produção independente que anunciava a opção do escritor pela poesia do detalhe, retratando, com particular sutileza, as situações do dia-a-dia. Uma particularidade de sua obra é o casamento essencial entre a palavra e o visual. Essa proposta de trabalho é marcada principalmente pelo aspecto artesanal dos seus livros, em que cada exemplar é tratado individualmente, por meio de colagens de papéis, metais, madeiras e de acabamentos que se utilizam de cordas ou silk-screen. Além de Entre Dois Invernos, Jacinto já lançou outros oito livros de poesia seguindo essa mesma linha de trabalho, com a criação visual sempre assinada pela designer Heliana Soneghet Pacheco: Cenas Nuas (1990), Jogos Urbanos (1992), O Derrame das Pedras (1994), Pedaços – O Parasempre da Hora (1996), O Diário do Trapezista Cego (1999), Poemas Casados (2003), Poemas Caseiros e Poemas Simples (2007). Além disso, em 2005, lançou em conjunto com seu irmão, o cantor e compositor e cantor Paulo Corrêa, o CD de música e poesia Sinais Urbanos.


Foto: Anna Agonigi =

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Foto: Jackeline Nigri

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Foto: Juliana Carlantonio

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COMO NASCEU O PRIMEIRO LIVRO por Jacinto Corrêa

Em 1987, motivado principalmente por um grande amor que eu vivia, decidi participar, pela primeira vez, de um concurso literário. Era um concurso da Nestlé, que acontecia em Canoas, Rio Grande do Sul, se não me engano. Era necessário mandar um determinado número de poemas. Foi aí que, lembrando de um poema e outro, e imaginando a ordem que eu ia querer dar a eles, resolvi encaminhar não um punhado de poesias agrupadas, mas um livro. Acabei montando quatro, de uma tacada só: três de poemas (Cenas nuas, meu segundo livro publicado, lançado em 1990; Jogos urbanos, meu terceiro livro publicado, lançado em 1992; e O cavaleiro da lua, que era, na verdade, a reunião dos poemas que haviam sobrado de Cenas nuas e de Jogos urbanos – não era um livro de verdade) e um de contos (À espera do acaso, ainda inédito). Quando comecei a montar os quatro livros que mandaria para o concurso, percebi duas coisas muito importantes. A primeira é que, enfim, chegara com clareza e determinação a vontade de publicar um livro. A segunda, que não estava com a menor vontade de mandar para julgamento alheio o primeiro livro que eu viesse a publicar.

Aí, decidi que esses poemas “escolhidos” fariam parte de um outro projeto – um quarto livro de poemas, meu Deus! - que começava a se tornar mais do que urgente, devendo ser o primeiro a ser publicado e tendo que sair antes do resultado do concurso, que seria em novembro ou dezembro. Sinceramente, nunca achei que ganharia. No final, já torcia com todas as minhas forças para não vencer mesmo, pois, caso ganhasse, poderia haver alguém interessado em lançar algum deles e não era com os poemas de nenhum dos três livros – que eu adoro, menos os de O cavaleiro da lua –, que eu queria estrear na cena literária. Quanto ao livro de contos, tinha praticamente certeza de que não despertaria a atenção de ninguém: eram textos ainda a serem trabalhados, eu sabia. Mas como seria esse primeiro livro a ser publicado? Havia apenas a certeza de alguns poemas, a maioria em prosa poética, e nada mais. Um dia, acordei com o nome do livro nas mãos: Entre dois invernos, e tudo se esclareceu de forma muito rápida: o fio condutor, os poemas restantes, o cheiro, a aura de encantação, tudo. Assim, comecei a montar Entre dois invernos logo em seguida ao envio dos quatro livros para o concurso. Eu tinha pressa, muita pressa, uma pressa que depois virou alívio (sincero): nenhum dos livros enviados foi premiado. Motivo ou motivação redobrados para me dedicar ao meu verdadeiro primeiro livro.

História em quadrinhos, desenvolvida pela designer Heliana Soneghet Pacheco, após uma visita à casa do poeta (2/10/07).

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