EDUARDO
FERIGATO
INTRODUÇÃO Esta publicação foi feita a partir da parceria entre o artista Eduardo Ferigato os alunos: Danielle, Jamile, Kerlem e Nícolas do segundo semestre de Design Gráfico da ESAMC Campinas. Visamos divulgar o trabalho do artista possibilitando que mais pessoas possam prestigiar e aprender com suas obras.
QUEM É FERIGATO? Eduardo Ferigato é um quadrinista, ilustrador e professor natural de Campinas. Seu estilo é bem pessoal e dinâmico, mescla também técnicas tradicionais com digitais. Trabalhou para editoras de quadrinhos estrangeiras como, por exemplo, a Dynamite Entertainment desenhando o clássico Fantasma sob a supervisão do grandioso Alex Ross. Além disso, produz histórias em quadrinhos para o mercado nacional, tendo Opala 76 como seu trabalho autoral publicado mais recente. Também trabalhou com Storyboards, Ilustrações Publicitárias e Concept Art.
O ESTILO Eduardo tem como sua ferramenta principal a mesa digitalizadora Cintiq da Wacom devido a sua praticidade. Na arte tradicional, gosta bastante de utilizar canetas de ponta pincel e bicos de pena. Seu estilo ĂŠ muito caracterĂstico, sendo bem influenciado por quadrinistas como Frank Miler, Mike Mignola, Ivo Milazzo, Marcelo Campos, entre diversos outros.
STORYBOARD No início de sua carreia artística, Eduardo trabalhava com criação de storyboard em agências e, posteriormente, como freelancer. Storyboard é, basicamente o intermediário entre o roteiro e a filmagem de um comercial, filme ou clipe, por exemplo. Constituí uma sequência de artes demonstrando a sequência visual à ser filmada, englobando enquadramento, movimentação de camera e narrativa visual do projeto.
HQ AMERICANA Após ter realizado alguns projetos menores no mercado americano de quadrinhos, Eduardo teve a oportunidade de trabalhar como desenhista regular da série “The Last Phantom” protagonizada pelo personagem clássico “O Fantasma”.
HQ INDEPENDENTE Uma frustração com o roteiro da revista “The Last Phantom” despertou em Eduardo o interesse de criar suas próprias histórias, nisso surgiu o QUAD, um coletivo de quadrinistas brasileiros, o qual se tornou um selo independente onde além de publicarem suas antologias, Eduardo publicou sua mais recente graphic novel “Opala 76”.
CONCEPT ART Concept art, ou arte conceitual, é o trabalho que envolve desde a criação de personagens até ilustrações importantes para guiar o projeto e vendê-lo. Ferigato trabalhou com concept de games para alguns estúdios, inclusive internacionais.
um
PAPO COM
FERIGATO
Entrevistador: Conte um pouco sobre o Opala 76. Eduardo Ferigato: O Opala foi uma história que… Foi uma das primeiras histórias que tentei roteirizar sozinho. Eu sempre gostei mais de desenhar do que de escrever, mas como faz parte do processo de ir para o autoral, de tentar fazer uma coisa mais minha, eu senti também essa necessidade de ter uma história minha também, e também bateu como uma coisa que eu queria fazer em homenagem para meu pai. Ele faleceu há uns anos e eu queria fazer uma HQ que fosse uma homenagem para ele, porque meio que meu pai foi o que me introduziu a esse mundo meio nerd, meio Isaac Asimov, Indiana Jones, e ele me levava no cinema para assistir Retorno do Jedi, e aí eu quis fazer uma história que ele gostasse, tipo as histórias que ele gostava de ler.
E: Você acha que ele estaria feliz em es tar olhando a história que você fez para ele? E.F: Acho que ele gostaria da história. Acho que sim. Eu tive sorte de, enquanto ele ainda estava vivo, ele ter acompanhado minha carreira. Ele já curtia bastante o meu trabalho. Na época em que eu desenhei O Fantasma, que era aquele personagem clássico, que ele lia quando eu era criança e tal, ele ficou super feliz. E aí o Opala foi essa ideia, e ele tinha um Opala quando eu nasci, ele comprou um Opala em 1976. Ele sempre falava assim “Ah, quando você nasceu eu tirei um Opala zero da fábrica” era um dos auges dele. Aí eu quis fazer uma história com um Opala. Um dia eu estava passando na frente de uma oficina e vi um Opala restaurado, então pensei que seria legal fazer uma história sobre um cara que tem que restaurar um Opala. E aí o embrião da história foi esse. A partir daí eu comecei a elaborar, tive que ir atrás de livro de roteiro para aprender a estruturar a história, fiz toda uma pesquisa antes de começar realmente a escrever a de fato, porque eu só tinha peças soltas na cabeça que não faziam muito sentido. E: E sobre o processo da escrita da história. Quanto tempo você demorou para concluir o Opala 76? E.F: Eu tenho um processo assim: a história fica na minha cabeça um bom
tempo antes de eu começar a escrever ela de fato, aí eu vou tentando contar a história para minha mulher, porque se você ficar com a história na sua cabeça e não conseguir explicar para alguém, então ela não está pronta ainda. Enquanto eu não conseguia falar “olha a história vai ser assim: um cara assim, tem que restaurar esse caro que recebe de herança do seu pai, eles tinham brigado há muitos anos e não se falavam, daí ele tem que voltar pra cidade natal dele pra tentar consertar esse carro e meio que refazer o passado com o pai.”, então é uma história que fala do Opala, mas também fala de pais e filhos. E aí eu consegui sentar e falar a história e a pessoa entender. Aí eu comecei a ver estrutura do roteiro. Tem o momento que inicia o conflito da história, tem os pontos de virada de roteiro e toda essa questão. Então, contando tudo, eu acho que foi 2 anos só para escrever o roteiro porque eu não tinha experiência nenhuma em escrever, ele foi o primeiro que eu comecei a roteirizar, porque no meio do Opala eu fiz o QUAD. Eu tinha uma proposta de lançar uma revista no FIQ de 2013, que é o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte. Eu falei: “Não, eu tenho que lançar uma independente no FIQ”. Só que como nessa época o Opala ainda estava muito cru, eu juntei uma galera e falei: “gente, não vai dar pra mim fazer, vamos fazer cada um uma HQ curta de ficção e a gente lança.” Então foi a primeira história que eu escrevi, que foi a do QUAD 1... E: Então o QUAD começou justamente para o FIQ? E.F: Sim, foi para a gente poder lançar no FIQ.
E: E há quanto tempo que vocês fazem o QUAD? E.F: O QUAD desde 2013, o primeiro FIQ que a gente lançou foi em 2013 e depois a gente lançou o QUAD 2 na Comic Con de 2014, QUAD 3 no fim de 2015 e aí o ano passado eu lancei o Opala. E: E cada um de vocês no roteiriza e ilustra o QUAD? Desenham tudo sobre a história ou vocês decidem, por exemplo: “No QUAD edição tal vai ter histórias do tipo...”? E.F: A gente meio que conversa para ter uma coesão, um universo, tendo uma ligação, mas a gente da liberdade também para a pessoa falar “ah eu quero fazer uma história de um boxeador que começa a receber peça de robô”, ta bom (risadas), aí o cara faz e depois a gente lê os roteiros uns dos outros e a partir disso a gente vai dando pitaco “ah, aqui ta legal, aqui não ta legal, eu mexeria nisso e naquilo”, mas todo mundo fica à vontade para fazer o que está afim.
E: O Opala ele tem um valor muito sentimental quando você passou por todo o processo criativo dele e voltou a fazer no tradicional por causa dele. E quando ele chegou da gráfica, como é que foi quando você viu que estava pronto? E.F: Ah, foi bem legal, mas o engraçado é que a gente cria uma relação com o projeto meio que de amor e ódio, porque você fica tanto tempo naquilo que quando você entrega é quase como você tivesse se libertado, é uma coisa muito louca. O Opala é uma história que eu fiz fechada, mas eu tenho vários outros projetos na minha cabeça. É engraçado quando põe uma ideia para fora entra mais duas no lugar e aí você vai colocando as coisas, acho importante o que você dá para fazer. Foi difícil no começo e tal, mas fiz, demorou, mas ficou legal. E agora sim a porteira abriu e vai ter vários outros projetos assim, mas meu projeto favorito é o projeto que eu estou nessa fase do processo de ele estar só cabeça que são só idéias incríveis, aí tudo que passa para o mundo do: “Não, aí você vai ter de trabalhar, aí você vai ter uma limitação financeira, uma limitação de tempo, uma limitação de páginas, pra você fazer isso funcionar, né?” A sua estética, o senso crítico de artista tem que ser posto de lado, você tem que fazer o que dá para fazer naquela hora. Então, quando o projeto termina, quando o Opala terminou eu fiquei um mês sem desenhar depois (risadas). E eu fiquei sem folhear ele uns três meses, acho, de tanto que eu estava saturado daquilo, mas é natural, meus amigos que fazem, falam que é a mesma coisa.
Quando você está no meio do projeto ali, você satura dele porque tudo que está na ideia ainda é empolgante e é fresco na sua cabeça. E: E de onde vem suas inspirações, principalmente para os projetos individuais? E.F: Elas meio que vem de um lugar misterioso (risos), as vezes eu estou dirigindo “Ah, uma ideia assim seria legal, né?” Ai vem a ideia e você começa a tentar, né? E, vem do poço das ideias, sei lá onde. Mas ela vem e aí eu começo. Eu tenho o hábito de gravar no celular assim vou dirigindo. Principalmente quando eu estou dirigindo que me pega. Aí eu vou falando “ah, assim, assado, um cara tal fazendo isso e acaba”. Aí eu deixo gravadinho lá no celular e depois eu vou elaborando, depois passa para essa etapa de estrutura “ah, isso aqui vai ser o que? Vai ser uma HQ de dez páginas, vai ser uma HQ de 100 páginas, vai ser uma série de seis revistas de 22 páginas” começa toda essa parte de tornar aquilo real e físico, como você vai estruturar o roteiro, como você está planejando e ai vai. E: Você tem o QUAD, você tem o Opala, uma coisa sua mesmo, você mesmo roteiriza, monta tudo? E.F: Meu processo como autor independente começou em 2013 com o QUAD, eu já tinha feito com a Marcela Godoy, um projeto independente onde ela era a roteirista e aí eu fiz os desenhos, mas total mesmo, roteiro e desenhos é. Eu comecei com o QUAD e o Opala, são os meus primeiros.
E: E para a criação dos seus livros, o que você utiliza como imagens, mas o que sempre sai primeiro assim é: Papel? E.F: Eu costumo esboçar muito no Photoshop e eu acabei ficando mais preguiçoso, porque o Photoshop te dá muitas ferramentas que o papel não dá e, pelo menos para estruturar a arte, ele facilita pra caramba. Então às vezes eu esboço lá e depois eu finalizo ou na mão, ou ali mesmo dependendo do processo. No caso do Opala eu finalizei na mão com um bico de pena, porque estava meio engessada a arte final, aí eu senti que precisava mudar de mídia pra, sei lá, tentar fazer funcionar melhor. E deu certo, fluiu melhor. Eu tenho um processo meio louco, se eu estou fazendo, mas daí trava o processo, enquanto eu não descubro o que é, a coisa não sai. E eu fazendo o Opala eu já estava com 30 páginas finalizadas no “mundo digital” e não achando legal, aí eu pensei “e se eu imprimir no azul e tentar com o bico de pena” aí ficou legal pra caramba e eu descartei todas as 30 páginas que estavam prontas, só que daí fluiu o processo. É meio louco isso, porque se o processo não está fluindo, eu sinto que sou eu quem está fazendo alguma coisa de errado. Eu não consigo planejar muito ao mesmo tempo e aí vai saindo menos tropeço, mas sai. E: Você trabalha muito com pessoas do exterior. Qual a diferença que você vê entre as pessoas daqui e os que trabalham lá fora?
E.F: Atualmente eu tenho gostado muito do mercado independente, tanto nacional quanto internacional. Para mim isso tem se mostrado um mercado muito… Uma explosão criativa muito legal e eles diferenciam muito estilo, porque comercialmente mesmo, trabalhando para uma editora grande, por exemplo, uma Marvel, ou a DC, o seu o nível de flexibilidade do que você pode alterar ali é muito pequeno, e eles têm um senso estético que geralmente é difícil você sair daquilo, você tem que seguir mais os padrões. É difícil falar, no próprio mercado americano, eu gosto muito do “Hellboy” que é uma história relativamente comercial, não é muito tipo um Batman em número de vendas, mas eu gosto muito, eu gosto muito da linha da Vertigo, da Marvel Max, é mais pé no chão, um ambiente mais de verdade, eu já fui muito fã de super-herói, mas hoje em dia eu não sou mais tão fã assim. Acho que eu faria e me divertiria fazendo, mas se fosse para mim escolher fazer, eu acho que eu não faria mais uma história de super-herói. E: E falta alguma coisa para os artistas brasileiros para chegar ao nível? E.F: Eu acho que não, os brasileiros estão no nível. Cara, tem muito brasileiro trabalhando para lá num nível extraordinário de arte, é um nível de arte tão extraordinário que eu tenho até preguiça de olhar e.... (risadas). Você olha a página do Ivan e você fala “nossa, impossível fazer isso em um dia”. Ele é um monstro do desenho.
E: Você falou um pouquinho na questão artística, mas na questão mercadológica. Em sua opinião, o que você acha que falta para o mercado brasileiro realmente se tornar um mercado em que as pessoas vivem disso como lá fora? E.F: Ah, falta público, é isso. E: Em questão de cultura, mas desenvolver divulgação? E.F: É, eu acho. A gente às vezes pensa, não sei se a própria faculdade é um terreno fértil, mas é engraçado porque o próprio quadrinho, eu acho que ele evoluiu muito como arte nesses últimos 5 ou 6 anos e se desvencilhou de muitos vícios de linguagem e também. O quadrinho de herói era uma esfera extremamente machista que não tinha muito como o público crescer ali de uma maneira como cresceu com o cinema. O cinema abraçou todos os públicos. Hoje você vê os universos da Marvel no cinema e ele abraçou as mulheres e as crianças. O próprio quadrinho evoluiu no sentido de abraçar mais público e não só mais o “nerdão”, o “tiozão” que gosta de Batman e super-herói e gosta de heroína super gostosona e fetichizada... Então isso foi importante para o Brasil ganhar público também.
E: Falando um pouco sobre isso, que você tocou no machismo nessa parte sensualizada, o que você como quadrinista, acha deles estarem fazendo versões femininas de super-heróis masculinos, tipo o Homem de Ferro que agora tem sua versão feminina e essas coisas? E.F: Ah, eu acho legal pra caramba, eu gosto da ideia, mas eu não sei se acaba virando mais alguma virada de marketing da própria editora, então acho às vezes vira um negócio meio vazio. “Ah, vamos transformar o Homem de Ferro em mulher para chamar a atenção para as mulheres”. Acho que eles devem criar boas personagens femininas e não fazer só jogadas de marketing, por que, na verdade, isso é marketing, o Homem de ferro não vai ser uma mulher pra sempre, vai ser por umas seis edições, mas depois o Tony Stark volta, porque ele é uma marca estabelecida, embora eu ache legal, também acho que deve se investir em personagens femininas que sejam o seu próprio Homem de Ferro, assim como esse filme da Mulher Maravilha. Como homem eu não posso opinar totalmente, acho que as mulheres vão saber melhor que eu, porque elas vão saber se representou e tal.
Uma personagem feminina que eu acho incrível é a Furiosa de Mad Max, ela é tão incrível que ela é mais legal que o Mad Max no filme. Isso que eu acho legal, não ter personagens femininas mais só para agradar os homens. Como a Xena, A Princesa Guerreia, que até o público lésbico abraçou, acho legal pra caramba, se apropriou dela, mas inicialmente ela é um fetiche masculino, né? A bonitona lá, vestindo couro. Eu achei muito legal esse exemplo da Furiosa, ela é uma mulher forte, incrível, ela em nenhum momento ali foi explorada de forma indevida. Eu acho que esse é o tipo de personagem feminina que deve ser criado para atrair mais mulheres para os quadrinhos. Porque os quadrinhos de antigamente, realmente, uma mulher olhava e pensava: “nossa, isso aqui é fetiche de moleque. É mente de adolescente de 16 anos” Então a Becky Cloonan, não sei se já ouviram falar, é uma artista americana que faz muitas histórias legais, e ela está escrevendo agora histórias nos Estados Unidos, histórias do Justiceiro e é muito legal, os personagens que ela cria, então eles estão colocando mulheres escrevendo também as coisas, as personagens, como a Batgirl que está agora com uma roteirista mulher, o foco dela está muito para histórias para os adolescentes mesmo se identificarem. Então eu acho que está crescendo esse mundo, para mim ele tem que se abrir para um público maior. O mercado independente brasileiro ele está muito maior, tem muito público, só que ele ainda é pequeno. A gente vai em feira de quadrinho tem de tudo ali, então, o cenário independente é muito vasto culturalmente. E é muito legal você ver essa diferença toda, mas infelizmente é um público pequeno.
A gente imagina aí como um quadrinho independente no Brasil é um público de 3 mil a 4 mil pessoas, no máximo, e isso não sustenta a produção. Não sustenta nem a produção do artista e nem os custos de gráfica, de distribuição, então dificulta um pouco, e é um mercado que às vezes se “auto digere”. E: Você acha que mesmo tendo esse mercado que se auto consome, a Comic Con e outros eventos que estão crescendo com artist alley, que impacto você acha que esses eventos vão ter no mercado? E.F: Eu acho que a Comic Con foi o evento que mudou o parâmetro de quadrinho independente até para cartunistas independentes. Se a gente tivesse, por ano, 4 ou 5 Comic Con que realmente tivessem vendas como na de São Paulo, aí a gente teria um mercado, porque as vendas na Comic Con foram absurdas, a galera
não acreditou na primeira, a gente estava acostumado a levar para vender 100 revistas e voltava com um tanto ainda, aí você vai na Comic Con e a gente vende 100 só no primeiro dia, acabou a revista no primeiro dia, e tem que sair correndo pra buscar mais, mas ela ainda é um evento isolado dentro do mercado de quadrinhos. A gente gostaria que isso acontecesse, que o público crescesse, que existisse pessoas se interessando, mas é tudo um processo difícil de fazer divulgação e as pessoas começarem a ter interesse nessa área. E: De onde veio a sua afinidade com o desenho? Quando você pensou “nossa é com isso que eu vou trabalhar que eu vou conseguir me sustentar, vou ter minha vida voltada para isso”? E.F: Com o desenho desde pequeno. Eu sempre sentava na frente da TV e ficava desenhando, não sei se minha família incentivou isso. Acho que eu consideraria dom de um artista, é o tempo e vontade que a pessoa tem de ficar sentado e desenhando, porque muita gente desenha até uma certa idade e acaba, desencanta, e aí para. Eu sempre desenhei, tenho até hoje pastinhas de desenhos muito antigas, então sempre gostei disso. Eu brinco até que estudei desenho a vida toda, porque eu estudava na aula de matemática, na aula de história (risos). E: Conta um pouco para a gente sobre sua trajetória E.F: Com meus 17, 18 anos, eu li O Cavaleiro das Trevas, do Frank Miller, e nossa, eu pirei naquela história e é uma das minhas favoritas até hoje, eu tenho até hoje, essa é a HQ que meu pai comprou de 1989, sei lá (risadas). Tem uma coisa legal nela, eu passei papel carbono nela quando eu era criança para desenhar o Batman. Então, quando eu li isso eu falei “cara eu quero desenhar isso aqui,
HQ”, me apaixonei por HQ, já gostava porque meu pai lia, então eu já era meio aficionado por esse universo, mas essa HQ foi a que me fez querer trabalhar com isso. E depois eu comecei a fazer cursos na QUANTA Academia de Artes, na época ela tinha o nome de Fábrica de Quadrinhos, fiz acho que uns 6 ou 7 anos de curso lá e também me ajudou a melhorar o meu trabalho. Depois eu saí da escola, um ano depois eu consegui um emprego em um estúdio de publicidade fazendo o Storyboards publicitários, acho que isso foi em 2004, mais ou menos. Fiquei uns 2 anos trabalhando lá aí eu saí deste estúdio para trabalhar em casa e comecei a pegar trabalho de outros estúdios ao mesmo tempo. E enquanto isso tentando fazer material para quadrinho, sempre tentando apresentar um projeto de quadrinho para um agente que vendia alguma coisa para fora e conseguia trabalhos para artistas.
Depois, acho que no terceiro ou quarto ano, consegui desenhar a revista O Fantasma, que foi o meu primeiro projeto com quadrinho americano. Eu já tinha feito algumas coisas menores, mas essa eu entrei como desenhista regular, trabalhei por 12 edições com ele. E: Qual tipo de material que você se adapta e gosta mais de trabalhar? E.F: Em termos de produção mesmo, de desenho, acho que eu acabei me adaptando muito com o computador mesmo, com a mesa digitalizadora. É porque, principalmente quadrinho americano, que você desenha no A3, tem que escanear em duas partes, o meu escâner é A4, aí tinha que escanear e montar, e dava muito mais trabalho do que hoje em dia. Escanear uma página parece uma coisa da época dos dinossauros já, porque você faz tudo ali, e é muito mais rápido de fazer. Então acabei me adaptando até pelo tempo mesmo, para agilizar o tempo de produção, acabei focando muito no digital. E: Quando você está desenhando por si mesmo uma coisa que você quer fazer para passar o tempo ou algum estudo, qual material mais tradicional que você se sente mais à vontade para conversar com o papel? E.F: As canetas pincéis. Eu gosto pra caramba por causa da leveza do pincel e, como o pincel comum não gosta muito de mim, essas canetas eu acho mais legais por que me obedecem melhor, são mais comportadinhas.
Bico de pena eu gostei também, ficou bem natural para eu mexer com o bico de pena. E eu utilizo também uma caneta mais grossa que eu preciso chapar de preto ou uma coisa assim. Mas eu não tenho muito. Meu processo é bem simples, eu procuro não complicar muito a produção, geralmente é uma ou duas ferramentas que já resolve o que eu preciso fazer. E: E quem são as suas referências para a produção, principalmente no começo? E.F: O Frank Miller foi uma referência muito forte, o Mike Mignola que é desenhista do Hellboy, que para mim é o desenhista mais incrível do universo. Depois tem o Ivo Milazzo que é um desenhista italiano é.... (pensando). Quem mais? John Romita que é desenhista do mercado americano. É mais o pessoal de quadrinhos que me influenciou. No Brasil o Marcelo Campos, o Otávio Carielo e o Greg Tocchini foram os caras que eu tive aula com eles, então, eu ficava os vendo desenhar e ficava babando. E: E você se vê um dia como referência para alguém? E.F: Eu!? (hesitação). Não, até hoje não me vejo (risos). Eu tenho a “Síndrome do Impostor”, pois eu penso “Esse cara não desenha nada, o que ele está fazendo aqui? ”. Acho que é meio normal do artista.
E: Você já está no mercado, então, o que você pode falar para o pessoal que pensa entrar nesse mercado de quadrinhos? E.F: Puts! É um mercado superdifícil de entrar ou, pelo menos para mim, foi, pois eu sentia que estava nadando contra a corrente. Você tem que chegar num nível muito bom para começar realmente a viver disso e chegar num ponto satisfatório, tanto quanto o cliente olhar para o seu trabalho e falar “legal, é isso, vamos fazer o trabalho” ou quando você mesmo achar que o seu trabalho está num nível legal, mas, puts, tem que insistir. Eu não diria menos para uma pessoa. Continua, vai fazendo, não pare de fazer, tenha um senso crítico de você mudar quando alguém falar “oh isso daqui não está legal, melhora! ”, sabe, tenta sempre melhorar, nunca ache que está bom o trabalho, porque no momento que você olhar e falar “nossa, meu trabalho é demais”, você não vai evoluir mais. Para mim, meu trabalho está sempre ruim, depois de uma semana que eu olho já acho horrível, quero jogar no lixo, então, persistência é o que eu acho mais importante.
E: Você entrou nesse assunto de novos artistas, você falou um pouco das suas referências. Dos artistas novos que estão surgindo nesses novos eventos, qual foi o artista mais jovem que você viu que te surpreendeu e você viu um grande futuro nele? E.F: Foi o Bruno Seeling, eu acho incrível o trabalho dele. Eu até comprei uma arte dele, aí ele mandou em um envelope com o desenho do “Batmóvel”, porque eu tinha comprado um desenho do Batman. Seus desenhos têm uma personalidade muito forte, muito diferente de tudo, ele faz uns caras com as pernas gigantes. E: De onde ele é? E.F: Ele é do Rio Grande do Sul. Acho que é a segunda HQ independente que ele lança essa do “Blitzkrieg” e acho que ele já vai fazer a dois para lançar esse ano. É muito legal o trabalho dele, mas tem muita gente. Tem o Felipe Nunes, o Cobiaco. Bastante galera nova fazendo e é muito legal de ver os caras tirando uns estilos loucos assim do nada.
AGRADECIMENTOS Sabrina Sanfelice Eduardo Ferigato