Nicole Marra Nunes
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rede de espaços públicos na r. augusta
Orientador: Sergio Sandler
AEAUSP - Escola da Cidade Nicole Marra Nunes
Trabalho apresentado à coordenação do curso de arquitetura e urbanismo da Escola da Cidade como normas gerais de apresentação de trabalhos acadêmicos.
São Paulo, SP, 2012
Agradecimentos
agradeço a todos, que de alguma maneira, fizeram parte dessa história e ajudaram a concretizar esse trabalho. a equipe de professores, alunos e funcionários da escola da cidade que partilharam esses seis anos de curso. ao orientador Sergio Sandler, que aceitou o desafio da orientação da melhor maneira: acreditando em novos potenciais, me entusiasmando a desenvolver meu tema, compartilhando suas opiniões, idéias e conhecimentos sempre com sinceridade. professor exemplar. à banca de qualificação com suas questões e carga intelectual que me ajudaram a dar continuidade ao trabalho, qualificando-o e reforçando as idéias. obrigada, Zico e Isabel. aos companheiros de intercâmbio academico, nossa vivência com a cidade e todos os momentos importantes que compartilhamos. ¡visca catalunya! aos meus pais, cujo constante apoio representa um papel crucial na minha formação. e, claro, aos amigos queridos, (quase) arquitetos ou não, que proporcionam um importante intercambio de idéias e me enriquecem em todos os sentidos. obrigada.
São Paulo, SP, 2012
[resumo] O objetivo deste trabalho é refletir sobre a qualificação do espaço público, partindo da premissa de que a falta de dinamismo, entendido aqui como riqueza espacial, usos múltiplos e pessoas em seu entorno, leva ao esvaziamento, abandono e a degradação do lugar público. São conceitos que conferem uso constante do espaço. Com a intenção de estudar a Baixo Augusta, mais específicamente seus vazios e a sua relação com os pedestres, analiso as relações entre espaço público e as manifestações sociais e culturais esporádicas, com atenção especial às que valorizam o uso noturno da cidade, o pedestre em São Paulo e o constante adensamento urbano que muitas vezes deixa de lado o espaço público e a relação arquitetura-cidade. Para isso, proponho o redesenho de um trecho da Rua Augusta e a ressignificação de seus vazios a partir da criação de pequenos espaços públicos associados a uma estrutura transitória capaz de abrigar programas efêmeros em diferentes lugares. Dessa forma entende-se regionalmente a partir da intervenção microlocal em pequenos vazios que tornamse espaçoes de convívio público, além de entender como desenhar uma praça em meio ao adensamento urbano.
[índice] Introdução................................. ..................................................08 A Rua Augusta........................... ..................................................10 introdução
I Parte - Conceitos Espaço público..............................................................................12 Pocket parks.................................................................................17 O pedestre.....................................................................................19 Vazios urbanos.............................................................................24 e o constante adensamento da cidade
Arquitetura transitória.................................................................28 e uso noturno
Rua Augusta Primeiro olhar.............................................................................32 Análises..................................... ..................................................36
II Parte - O Projeto Estratégia.................................. ..................................................42 Área de interveção.................... ..................................................43 A nova Augusta............................................................................45 A praça........................................................................................46 Estrutura transitória................ ..................................................54 Elementos urbanos................... ..................................................60 Bibliografia................................ ..................................................62
[introdução] Segundo a Internacional Situacionista, a deriva é um “modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica de passagem rápida por ambiências variadas.” (1), é um método que nega os motivos de se deslocar e agir, exigindo que quem a pratique se entregue às solicitações do terreno e das pessoas que nele venham a encontrar. Sendo um procedimento do estudo psicogeográfico, quem se lança à deriva deve deixarse guiar pelo meio urbano. Em contraponto existe o ‘Flaneur’, que, de acordo com Baudelaire, representa “uma pessoa que anda pela cidade a fim de experimentá-la”, é um percurso aleatório capaz de compreender fenômenos urbanos e a modernidade. Algumas vertentes da arte e do urbanismo, fazem uso do ato de deslocar-se como ferramenta de trabalho, registrado-o de diferentes formas. Isso porque caminhar representa um importante exercício para a compreensão urbanística e uma prática reflexiva. Meu interesse em estudar a importância vital do espaço público, veio da experiência de caminhar despretenciosamente pelas cidades, deixando que meu rumo surgisse a partir de sua geografia e situações. Essa importância se dá pela necessidade humana da comunicação, expressão cultural e convivência social,
e é justamente no espaço público que tais necessidades desenvolvem-se e ganham sentido. A realização de um intercâmbio acadêmico em Barcelona me fez perceber uma realidade distinta em relação ao espaço público ao qual estava habituada. Nesta cidade eu (e todos os outros cidadãos) participava ativamente desses lugares mais do que em São Paulo. Então pude compreender como isso é saudável tanto para as pessoas quanto para a cidade. Em busca de experimentar o mesmo em São Paulo, constantemente me deparei com praças e parques subtilizados que me levaram a sentimentos desconfortáveis de insegurança e monotonia, além de uma considerável quantidade de terrenos baldios. Isso deve-se a diversos fatores, dentre eles a falta de dinamismo resultante do entorno que conforma o espaço público, assim como da sua relação com o entorno, muitas vezes dificultada por barreiras físicas e visuais ou acessos inadequados. Assim como as áreas públicas de estar, o percurso do pedestre também encontra diferentes problemas, por conta da priorização do automóvel. Logo o exercício de caminhar deixa de ser reflexivo, tornando-se confuso e desagradável.
público e o privado, e define os acessos e enlaces da cidade. Enquanto que a praça ou parque representam momentos de fuga urbana, de respiro da cidade. Esse é um trabalho que busca compreender a relação de diferentes tipos de lugares público, levando em consideração a importância da diversidade de usos e de culturas, de eventos efêmeros – como os identificados pela “Post It City”- a fim de criar novas situações nas praças e ruas, e do papel do pedestre para conformar uma cidade viva.
A Rua Augusta é uma via com várias faces e fases que desde de 1875 vem se transformando. Sempre foi um importante eixo viário e a partir de certo momento começou atrair muitos comércios e logo tornou-se uma rua boêmia. Com lojas, residências, galerias, cinemas e clubes noturnos, passa por uma fase mais subversiva durante os anos 80 e há mais ou menos uma década retoma seu caráter de rua boêmia, ponto de encontro entre jovens e hoje é tida como ícone da cidade, onde culturas se mesclam e inúmeras atividades acontecem. Devido à seus diversos serviços de escala local, é uma rua atraente à pedestres 24 horas por dia. Infelizmente, o trânsito diário por ser uma via de importância metropolitana - e a quantidade A rua, espaço público por de estacionamentos deixam excelência, representa o eixo claro a submissão do pedestre conector entre programas ao carro, principalmente se públicos, já que o térreo comparados à quantidade desenha a transição entre o quase nula de espaços
(1) JACQUES, Paola Berenstein, organização. Apologia da Deriva: Escritos Situacionistas Sobre a Cidade/Internacional Situacionista. Rio de Janeiro, RJ: Casa da Palavra, 2003.
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públicos. Além disso, esses estacionamentos e sua crescente valorização do solo são grandes atrativos ao mercado imobiliário, que com seus novos empreendimentos segregam a cidade e dificultam ainda mais o espaço público. [ENTRE] é o resultado de questionamentos em torno de conceitos que definiram as premissas de projeto e levaram ao desenvolvimento de um projeto urbano e arquitetônico para um trecho da Rua Augusta. Atualmente, com uma economia aquecida, um plano diretor que favorece a construção na região e uma quantidade de terrenos vazios, a Rua Augusta mostrase atraente aos olhos da especulação imobiliária, que intervém com um padrão arquitetônico de mercado incapaz de incluir o comércio local e pensar na relação das habitações com a rua, ameaçando a dinâmica de vida aí existente, já que propõem empeendimentos aos moldes dos condomínios fechados.
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[RUA AUGUSTA] Na última década, a Rua Augusta - em seu trecho central - demonstrou com sucesso um grande esforço em reativar a vida noturna no centro da cidade. Tanto é verdade seu sucesso que atraiu os olhos da especulação imobiliária, atualmente estão em construção novos empreendimentos comerciais, residenciais e o novo hotel Ca’d’oro. E também conta com algo de investimento público, a reforma da Praça Roosevelt, (que pretende trazer consigo novos equipamentos para servir a população), e uma proposta de conversão do terreno vago da Caio Prado em um parque (o projeto está no papel já faz muito tempo). A Rua Augusta é uma importante via arterial da cidade, que tem como função conectar o centro da cidade à marginal do rio Pinheiros. Apesar disso, a rua manteve durante todos esses anos um caráter local. Passou por diversas mudanças ao longo de sua história, indo de rua chique à rua subversiva e hoje, sua parte central (conhecida como baixo Augusta) se apresenta como uma rua boêmia, de manifestação artística e cultural, repleta de vida 24 horas por dia, como nenhum lugar na cidade. Seu uso noturno difere do centro da cidade, apesar de a prostituição e as drogas também serem presentes
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nessa região, ela apresenta um convívio saudável entre diferentes pessoas, sendo uma rua bastante democrática. A grande quantidade de comércio de rua, edifícios residenciais e comerciais, serviços cívicos, casas noturnas, bares, restaurantes e instituições culturais fazem da rua Augusta, uma rua atraente ao pedestre. Porém, ela não sustenta a quantidade de pedestres que a frequenta. Aqui a priorização do carro contrasta fortemente com o uso das calçadas, onde se concertam as filas do cinema, as mesas de bares e restaurantes. A região é dotada de transporte público, pontos de ônibus são distribuídos durante todo o percurso da rua, o metrô se encontra sempre a alguns minutos a pé e as esquinas se transformam em pontos de encontro. Durante a noite e finais de semana, diversos comerciantes informais surgem vendendo comida, bebida, livros usados, artesanatos, camisetas que fazem referência a cultura underground, dvds piratas e discos de vinil. Tudo isso em uma calçada de 2,3 m de largura contrastando com uma via de 4 faixas - onde a partir das 22h os carros ocupam metade para estacionar – e mais de 20 estacionamentos. O percurso da baixo Augusta é de 1,7 km, aproximadamente 20 minutos caminhando desde a praça Roosevelt até a Avenida Paulista. Conta com 6 paradas de ônibus, duas estações de metrô (Consolação e Paulista) em uma extremidade e uma (República) na outra. O único
espaço público existente são suas calçadas esburacadas e estreitas, onde pessoas se aglomeram todos os dias. Atualmente, seu elevado número de terrenos subutilizados são alvos de grandes empreendedores, que sugerem edifícios residenciais de alto padrão com entrada principal para a Rua Bela Cintra, dando costas à Rua Augusta, criando mais muros e anulando de vez seu quase inexistente espaço público. Isso porque o interesse do mercado está muito mais associado à possibilidade de lucro muito maior que se tem hoje porque pode-se construir mais do que à vida urbana, tanto que os empreendimentos destroém os comércios existentes para serem contruídos. A baixo Augusta se apresenta propensa a receber pequenos espaços públicos, capazes de abrigar atividades efêmeras, que sirvam de pontos de encontro durante a noite e pontos de fuga durante o dia. Espaços públicos que se adequem a vida cotidiana da metrópole. O desenvolvimento de pequenos espaços públicos em terrenos subutilizados permitem que ao invés de a construção de novos empreendimentos, a cidade ganhe respiros para confortar as pessoas no seu cotidiano.
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Espaço Itaú de Cinema, Rua Augusta, 1475. Abriu as portas em 1995 com o objetivo de levar ao público filmes de qualidade artística e cultural, que não são facilmente encontrados nas salas comerciais. Acabou de sofrer uma reforma e agora tem sua fachada requalificada.
Rua Augusta: relação via - calçada - muro.
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[ espa ç o público]
O espaço público, como sabemos, é o lugar apropriado para a sociabilidade, interação e convivência harmônica da sociedade, assim como lugar de expressão democrática, pode apresentar-se em diferentes formas: parques, jardins, praças, centros cívicos, ruas, avenidas, mercados públicos e etc. A idéia de esfera pública e privada existe há muito tempo e durante a Antiguidade Clássica o espaço público define-se a partir da ágora, que representava o espaço coletivo no qual se exercia a cidadania. Em contraponto, durante a Idade Média as cidades européias desenvolvemse desordenadamente e passam por momentos de insalubridade, e então a idéia de espaço público encontrase mais contida. Essa situação vai acontecendo até meados do século XIX, quando instaurase o urbanismo sanitarista com Haussmann em Paris e Cerdà em Barcelona. Suas idéias colocam os espaços públicos como ordenadores da paisagem urbana. Já com o movimento moderno, surge uma releitura da idéia do público; de acordo com este movimento, todo o solo em perímetro urbano deveria ser público enquanto o privado pertenceria a algumas frações ideais desses terrenos, como ocorre em Brasília. Porém, alguns críticos consideravam tais idéias urbanísticas
inaplicáveis, sendo assim uma utopia. Ésse é o caso de Jane Jacobs, jornalisa e importante ativista política que critica tais propostas modernas e sua aplicação na cidade real. O conjunto de suas críticas gera uma valorização da rua como espaço público essencial, como apresenta em seu livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”, no qual defende a diversidade de ocupação e o uso misto das quadras, opondo-se ao planejamento moderno e ao modelo suburbano das “cidadesjardim”. Jacobs discorre sobre o que torna as ruas seguras ou não, os diferentes bairros e suas funções dentro do organismo que é a cidade, além de atribuir um importante papel ao comércio local e a multiplicidade de usos para garantir a vitalidade das cidades, e identificar o automóvel como uma ameaça. Recentemente, o espaço público ganha novos significados políticos, ideológicos, sociais e estruturais. A cidade foi ao longo da história, de acordo com Jan Gehl e Lars Gemzøe, o espaço de encontro e reunião de pessoas, lugar de troca de informações e de bens e serviços, sendo assim um local de proliferação de cultura e diversão. Embora o espaço público se mantenha tradicionalmente, constituindo uma herança que nos foi legada, nota-se o surgimento de novas funções e usos que acabam por dispersar a utilização destes espaços. Ainda segundo Gehl e Gemzøe,
(2) GEHL & GEMZOE, Jan & Lars, Novos Espaços Urbanos, Ed. Gustavo Gili, 2002.
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o tráfego de veículos e os estacionamentos usurparam gradualmente o espaço nas ruas e praças e o ruído e a poluição os invadiram. Além do problema da priorização do automóvel sobre o pedestre, a proliferação de condomínios fechados e o shoppings centers, não dialogam com a cidade e acabam por segregá-la. Suas grandes empenas cegas são hostis, as calçadas descuidadas e as ruas só concentram trânsito. Dessa forma, os espaços públicos são violados pela intrusão e dominação do uso do carro e dos espaços privados, já que a poluição sonora e atmosférica somada a outros aspectos resultantes de essas novas formas, são danosas e desfavoráveis a convivência urbana. A ideia primordial desse trabalho, é desenhar um espaço público adequado à cidade contemporânea, capaz de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e da própria cidade, repensando no uso de alguns espaços resultantes dessa questão do automóvel e do particular.
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“What Makes a Successful Place?” “Great public spaces are where celebrations are held, social and economic exchanges take place, friends run into each other, and cultures mix. They are the “front porches” of our public institutions – libraries, field houses, neighborhood schools – where we interact with each other and government. When the spaces work well, they serve as a stage for our public lives. What makes some places succeed while others fail?” PPS, project for public spaces (3)
número de mulheres, crianças e idosos
donos de comercios locais
redes sociais voluntarismo
uso noturno vida na rua
diversão diversidade valores de propriedades atividade supervisionado vitalidade cooperativo especial cortês real orgulho níveis de aluguel útil amigável sociabilidade usos e nativo
interativo
atividades comemorativo c sustentavel
acolhedor
LUGAR
continuo
seguro limpo
proximidade
acessos e conforto e “verde” dados de transito conectado caminhavel estatísticas de crimes enlaces imagem separar modos
legivel
sentavel
espiritual charmoso conveniente atrativo acessível historico
caminhavel
uso do transito usos de estacionamentos
atividades pedestres
A partir da avaliação de diversos espaços públicos ao redor do mundo, o PPS desenvolveu o diagrama de lugar apresentado a cima. O diagrama é uma ferramenta para ajudar a analisar qualquer lugar, e demonstra que os lugares bem-sucedidos têm quatro qualidades
avaliação do saneamento
edificações
dados ambientais
fundamentais: são acessíveis, as pessoas estão engajadas a atividades lá, o espaço é confortável e tem uma boa imagem, e, finalmente, é um lugar sociável: onde as pessoas se encontram e levam outras quando vêm para visitar. O círculo central no diagrama é um lugar específico, a esquina da rua, um parque, ou
uma praça. É possível avaliar o lugar de acordo com os quatro critérios no primeiro anel. No segundo anel, surgem uma série de aspectos intuitivos e qualitativos para julgar um lugar, e o anel exterior mostra os aspectos quantitativos que podem ser medidos por estatísticas ou pesquisas. De acordo com o PPS, a acessibilidade de um lugar está associada às suas conexões com os arredores, tanto visual quanto fisicamente. Um espaço público de sucesso é fácil de chegar e passar, é visível a curta e longa distância. As bordas de um espaço também são importantes: por exemplo, uma fileira de lojas ao longo de uma rua é mais interessante e geralmente mais seguro do que andar por uma empena cega ou lote vazio. Se um espaço é confortável e apresenta-se bem - tem uma boa imagem - é a chave para o seu sucesso. Conforto inclui percepções sobre segurança, limpeza, bem como a disponibilidade de lugares para sentar - a importância de dar às pessoas a opção de sentarse onde querem é geralmente subestimada. Afirmam ainda
(3) PPS: Project for Public Spaces: www.pps.prg é uma organização norte ameriacana de planejamento, projecto e educação que se dedica a ajudar pessoas a criar e manter espaços públicos a fim de fortificar as cidades.
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[masp vão livre]
que as mulheres e crianças, em particular, são bons juízes em conforto e imagem, porque tendem a ser mais exigentes sobre os espaços públicos que utilizam, em relação a segurança. Os usos e as atividades são as questões básicas de construção de um lugar. Ter algo para fazer dá às pessoas uma razão para chegar a um lugar e voltar. Quando não há nada a fazer, um espaço será vazio, o que geralmente significa que algo está errado. Quanto à sociabilidade de um lugar, é uma qualidade difícil de se alcançar, mas uma vez atingido, torna-se uma característica inconfundível. Quando as pessoas vêem os amigos, conhecem e cumprimentam seus vizinhos, e sentem-se confortáveis para interagir com estranhos, Vão livre do MASP, praça que abriga feiras e é ponto de encontro na Avenida elas tendem a sentir um forte Paulista senso de lugar ou apego a suas comunidades. Isso promove estes tipos de atividades sociais. Sobre esses critérios, ainda colocam algumas questões como “As pessoas podem usar uma variedade de opções de transporte - trem, ônibus, carro, bicicleta, etc - para chegar ao local?”; “Será que a área passa sensação de segurança?”; “O espaço é utilizado ao longo do dia e durante a noite?”; “Quantos tipos diferentes de atividades estão ocorrendo pessoas andando, comendo, jogando xadrez, beisebol, relaxando, lendo?”. As imagens a seguir referem-se a espaços públicos eficientes, a partir desses critérios definidos pelo PPS.
[passagem de pedestre, av. paulista]
Passagem exclusiva para pedestres na Avenida Paulista.
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[plaça del sol, barcelona]
PLAZA DEL SOL, BCN, 1840, 1800m2: a praça que durante a guerra civil serviu de refúgio antiaéreo, hoje é um respiro em meio ao contexto antigo de barcelona de vielas estreitas e grande adensamento, uma praça conformada por um entorno de uso múltiplo, comércios que funcionam dia e noite e dispõe suas mesas pela praça, que também conta com elementos urbanos, arborização e um estacionamento subterrâneo.
[camden town, londres] Camden Town, Londres, bairro que é repleto de pessoas durante o dia, graças as suas feiras, comércios e restaurantes. Durante a noite é ponto de encontro entre jovens em suas casas noturnas e pubs.
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[ rambla catalunya, barcelona]
Rambla Catalunya, Barcelona, desenha um percurso verde na cidade e oferece uma รกrea de passeio e estar bastante simpรกtica a pedestres.
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[ poc k et parks]
Os “pocket park” são praças inseridas em um lote livre, normalmente em áreas muito densas e onde o solo é valorizado. Suas funções podem variar entre playground, pequenos eventos, espaços para relaxar, pontos de encontro, pequenas pausas, etc. é uma opção de espaço público que tem em vista o refúgio da vida urbana inserido na cidade e ao mesmo tempo aproveita espaços residuais. Servem diretamente a população local por serem parques diminutos, de uma escala de vizinhança, mas que buscam comportar uma complexidade de usos.
Muitos desses espaços são o resultado de uma comunidade de bairro, entidades privadas, já que beneficiam diretamente o comércio e resicencias locais. como é o caso da Praça Mateus Grou, em Pinheiros.
GREENACRE 590m2
PARK,
NY,
1971,
É desenhado como um oásis em Manhattan, mas que mantém um diálogo com a rua, com a cidade. Um lugar para sentar-se, não conta com uma multiplicidade de usos, mas é extremamente utilizado por se encontrar em uma zona de alta densidade de trabalhadores, turistas e consumidores.
Propõe
“momentos de serenidade no mundo ‘ocupado’.”. Segundo o Project For Public Spaces (4), é um lugar que oferece um foco e um motivo dramático para se visitar: uma cascata artificial; fora a isso oferece sombras de árvores para se sentar. Um espaço lúdico no meio urbano.
Além de aumentar as áreas permeáveis da cidade, são espaços públicos convidativos, pois estão diretamente relacionados com a rua, sendo visíveis do ponto de vista do pedestre e funcionam como um prolongamento da calçada.
PALEY PARK, NY, 1967, 390m2
(4) idem 3
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PRAÇA MATEUS GROU, SP, 2003, 840m2: um terreno vago público abandonado entre a R. Mateus Grou e a R. Dr. Virgilio de Carvalho Pinto, foi cedido pela prefeitura à comunidade de moradores e comerciantes da área, que uniram fundos para projetar uma pequena praça que faz a passagem de pedestre entre as duas ruas e conta com diversos usos recreativos. A praça é mantida por capital privado, mas seu uso é público. Seus efeitos são positivos no que qualifica seu entorno direto.
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[pedestre] O urbanista Jan Gehl afirma, em entrevista ao blog “Cidade Para Pessoas”, que o congestionamento é um dos maiores problemas das grandes cidades do mundo e a chave para resolvê-lo é entender que a demanda correta não deve ser por uma maior quantidade de transpote público ou sistema viário, mas por mais opções. Conferir maior liberdade de escolha de meios de locomoção é pensar numa combinação de ciclovias e transportes públicos associados a boas calçadas e vias exclusivas de pedestres, assim a cidade torna-se mais interessante e a dependência que se desenvolveu do carro tende a diminuir.
persistentes. Para lhes dar lugar, ruas são destruídas e transformadas em espaços im precisos, sem sentido e vazios para qualquer pessoa a pé.” (5) e a dependência excessiva dos automóveis particulares e a concentração urbana de usos são incompatíveis, assim identifica-se uma situação onde um ou outro deve ceder. E dependendo que qual das pressões ceda, ocorre um dos dois processos: “erosão das cidades pelos automóveis ou redução dos automóveis pelas cidades”. Jacobs explica que a erosão das cidades pelos automóveis provoca uma série de consequências em função do carro: ruas são alargadas e retificadas, mudanças de fluxo são propostas, duplicamse pontes e criam-se vias expressas. Isso acontece o tempo todo nas cidades, enquanto que o contrário, a redução dos automóveis pela cidade, é planejado com menor frequência. Isso porque, segundo a jornalista, o fechamento de ruas para pedestres não significa necessariamente uma redução do número de automóveis, pois vêm acompanhado por uma compensação para os carros, então significa um reordenamento do trânsito.
Além do aumento das opções de locomoção, é interessante pensar em menos lugares para os carros por uma questão de lógica: quanto mais ruas, mais carros e quanto menos ruas, menos carros. Então, diminuir o espaço dos automóveis melhorando o do pedestre, da bicicleta e do transporte público, é uma maneira de garantir que carros sejam menos utilizados, em especial em curtos trajetos. Assim, quem necessita dirigir por uma Em seu livro “Life Between questão de distância, ou seja lá Buildings”, o dinamarquês qual razão, ganha mais espaço Jan Gehl desbruça-se sobre o para tal. fechamento de uma importante Para Jane Jacobs “As avenida de Copenhage, a artérias viárias, junto com Strøget, para dar lugar exclusivo estacionamentos, postos de ao pedestre. A avenida era um gasolinas e drive-ins, são importante local de circulação instrumentos de destruição de pedestres, quando na década urbana poderosos e de 1950 começam a perder
seu lugar para os automóveis, então na década de 1960 surge a proposta de retomar seu caráter inicial, convertendo-a em um calçadão. A mudança dessa via acontece concomitantemente ao lançamento do livro de Jacobs. Impedir o transito de carros em uma importante via da cidade não resolve, em absoluto, seus problemas, mas é uma experiência que pode melhorar a vida das pessoas que por aí circulam e desenvolvem a cidade, colaborando inclusive para a convivência urbana. Pode ser que para alguns, a retirada dos automóveis do centro de São Paulo e seus calçadões seja resposável pelo envaziamento do centro. A meta de desestímulo ao transporte individual alcançada com esse feito, demonstra sucesso do ponto de vista da mobilidade urbana em escala metropolitana. Por um lado, o comércio popular ocupa vigorosamente as lojas nos andares abertos para as ruas e galerias, por outro os andares superiores de edifícios habitacionais são desocupados. Não é certo que devemos atribuir a causa desse esvaziamento à dificuldade de acesso dos automóveis, principalmente porque esse fenômeno também dá-se nas vias onde o tráfego é liberado. Para os representantes da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), as vias de pedestre representam “uma das grandes conquistas dos paulistanos”. O projeto [ENTRE] apresenta um redesenho de rua, no qual
(5) JACOBS, Jane, Morte e Vida de Grandes Cidades, São Paulo, Martins Fontes, 2011, p. 377
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se modifica os fluxos do trecho da chamada Baixo Augusta, que começa na Av. Paulista e termina na Praça Rossevelt, quando a rua passa a chamarse Martins Fontes. Seus 1,7 km são interrompidos para carros e torna-se exclusivo para ônibus, ciclovias e pedestres. Dessa maneira, ganha-se espaço nas calçadas e algumas ruas tornam-se calçadões em pequenos trechos. Assim, a vida social pode desenvolverse de maneira mais confortável fazendo uso do espaço público. Os automóveis têm seu papel na Rua Augusta desde sempre, a música de Ronnie Cord da década de 1960, representa uma determinada situação, quando os jovens faziam uso de seus carros para interagir com os demais.
“Entrei na Rua Augusta a 120 por hora Botei a turma toda do passeio pra for a Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina Parei a quatro dedos da vitrina” Atualmente surge outra canção com o mesmo nome que faz alusão ao carro na Rua, porém revelando seu caráter mais subversivo relacionado à drogas e as garotas de programa ali presentes. “Cortando às hora com um casaco de vizon No olho a cor tá combinando com o batom Atenta nas buzina ela vai pelo som”
passamos por um momento distinto, no qual a cidade está tomada pelo trânsito, o que atrapalha outros meios de transporte como o skate, a bicicleta e o transporte público. Nesse momento, deixa de existir essa interação que uma vez aconteceu e o uso do carro demonstra-se cada vez mais nocivo à cidade. Aliado à essa situação existe a vontade de uma minoria da população em locomover-se por outros meios, mas por conta dos automóveis essa vontade parece não ter espaço para concretar-se. Com esse redesenho, proponho uma reflexão sobre a priorização do automóvel, acredito que seja o momento de pensar em alternativas de locomoção e melhoras no transporte público, que apresenta diversas limitações.
Porém, acredito que agora
(6) CORD, Ronnie, Rua Augusta, 1963 (7) Emicina, Rua Augusta, 2010
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CARRO X BICICLETA
Quantas bicicletas poderiam ocupar a vaga que um carro está ocupando? Os criadores da Cyclehoop desenvolveram um bicicletário com espaço para dez bicicletas que, visto pelo lado da rua, tem formato de um carro estacionado em uma vaga. O mobiliário mostra a diferença de ocupação do espaço que o carro e as bicicletas têm, conscientizando sobre a importância do uso do transporte não-motorizado.
RUA AUGUSTA, LISBOA
A Rua Augusta é uma famosa via da baixa de Lisboa, em Portugal, que começando no famoso arco triunfal, liga a Praça do Comércio, à Praça do Rossio. Tem elevada concentração de comércio, já que toda a rua é ladeada por diversas lojas. Está, desde os finais dos anos, 80 fechada ao trânsito e é frequentemente ocupada por artistas de rua, artesãos e vendedores ambulantes.
CARRO X PEDESTRE
O Elevado Costa e Silva foi inaugurado em 1970 e seis anos depois passou a ser interditado à noite para evitar os constantes acidentes noturnos e diminuir o barulho na região, insuportável para os vizinhos que têm suas janelas distântes 1,5m do elevado. Dessa forma o Minhocão funciona sendo parte do tempo exclusivo para carros e parte para pedestres e bicicletas, tornando-se um parque linear, que por conta do automóvel não tem um desenho apropriado para tal, mas é muito utilizado. [ENTRE]
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até 2km
até 6km
longas distâncias
[transporte] 5km/h
15km/h
40 km/h
não polui
não polui
não polui
não estaciona
estacionamento
estacionamento
mínimo
mínimo
1,5 m²
1,5 m²
1 m²
+ saudável pra cidade e pras pessoas
+ barato $ + amigável [ENTRE]
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l o n g a s
20km/h não polui não estaciona
d i s t â n c i a s
20km/h
30km/h
30km/h
polui, mas pode ser
polui
polui
não estaciona
estacionamento
estaciona
mais ecológico
temporário
30 m²
30 m²
+ saudável
16 m²
16 m²
pra cidade e pras pessoas
+ barato $ + amigável [ENTRE]
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[ vazios urbanos e o constante adensamento da cidade]
os terrenos baldios como sendo terrenos incertos e expectantes, entendendo o vazio “como ausência, mas também como promessa, como encontro, como espaço do possível”. Esses espaços obsoletos convertemse em áreas inseguras, desabitadas e improdutivas, são resultado do processo desindustrialização que “O crescimento acelerado de das cidades, por diversas ocorreu no final do século XX. razões - como a má gestão Devido a toda uma carga territorial, a especulação simbólica, obteve-se no imobiliária, vontades políticas campo das artes plásticas e e interesses econômicos -, da fotografia uma reação de produziu espaços residuais em defesa e preservação destes meio ao aglomerado urbano, espaços alternativos, estranhos que acabam cooperando com e alheios à eficácia produtiva a condição de degradação da cidade. Lara Almarcegui, dos espaços urbanos realiza um interessante contemporâneos” (8). “Guia de Terrenos Baldios de Frequentemente, nas São Paulo”, no qual faz uma metrópoles contemporâneas, seleção dos lugares vazios nos deparamos com espaços que considera interessantes prosaicos e desumanos. São na cidade. A artista defende os espaços de limite, esquecidos terrenos baldios como “lugares pelo desenvolvimento, embora em que quase tudo é possível, sejam resultado dos modelos porque neles não há nada, de crescimento urbano. São são lugares da possibilidade lugares onde, justamente por em que o cidadão pode se não haver nada, existem muitas sentir livre”. Além disso, esses possibilidades. terrenos estão independentes do ritmo de São Paulo e por isso Solà-Morales foi um dos são paraísos para a vegetação. impulsionadores deste tipo de Em seu guia, Lara afirma que pensamento, quem definiu o alguns dos terrenos apontados termo “Terrain Vague”. Terrain, em francês, é uma porção de estão ameaçados e que é solo urbano, refere-se à idéia importante visita-los o quanto de um expectante pedaço de antes, já que encontram-se à terra. Por sua vez, vague no venda ou apenas esperam pela sentido de vago, vazio, livre especulação para determinar de atividade, diz respeito às um novo uso. As imagens a ondas d’água, fazendo apologia seguir foram retiradas deste ao movimento, oscilação e à guia, são vazios localizados instabilidade. Dessa maneira, na Rua Augusta, Rua da Solà-Morales compreende Consolação e Rua Cardeal Arcoverde. O primeiro é um
terreno de 24.000 m2 que corresponde aos restos do colégio Des Oiseaux, e foi cedido a prefeitura, que deveria conservar sua vegetação e transforma-lo em um parque. Atualmente funciona como um estacionamento. Em seguida estão terrenos na Rua da Consolação e Cardeal Arcoverde. A região central de São Paulo é uma área consolidada e densa; em contraste a densidade, inúmeros vazios que destacam as empenas cegas e abrem visuais para outras camadas da cidade. A arquitetura não deve preocupar-se necessariamente em preencher esses vazios, senão qualifica-los como são, permitindo que a cidade contemporânea tenha pausas, momentos importantes na vida urbana cotidiana. Ao contrário, que o vazio preencha o cheio após ganhar um significado. Também é importante que dentro da cidade seja reservado um espaço para a expressão artística. O grafite e a pixação têm como partido a apropriação do espaço público (ou a violação do particular) para expressão artística e social. A arte deve aparecer em suas diversas formas na cidade, configurando seu papel público. A Rua Augusta conta com uma significante quantidade de vazios urbanos, em sua maioria sub-utilizados como estacionamentos, contrastando com nenhum vazio qualificado. Ainda que esses terrenos atendam a outras necessidades da cidade, esse trabalho considera que são
(8) SOLÁ-MORALES, Ignasi de. Territorios. Barcelona, Espanha: Gustavo Gilli, SA, 2002 (9) ALMARCEGUI, Lara. Guia de Terrenos Baldios de São Paulo, São Paulo, SP: COLOFON, 2006
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oportunidades para a criação de pequenos espaços de convívio com a conversão desses estacionamentos à espaços públicos, preservando e qualificando as pausas diárias. A idéia não é que estes terrenos sejam desapropriados, mas que em troca da mudança de uso, seus proprietários sejam incentivados com alguns benefícios pelo bem da cidade, como incentivos fiscais e a possibilidade de construção de comércio em seus terrenos, lhes conferindo um viés econômico e uma dinâmica aos espaços pretendidos. Dessa maneira, os terrenos continuam sendo privados, porém seu uso passa a qualificar a cidade e seu acesso torna-se público. N a t u r a l m e n t e , estacionamentos são um uso temporário, apenas existem por conta da especulação imobiliária, que em certo momento preenche o vazio com alguma construção que (como dito anteriormente) pode aniquilar o espaço público e as relações com a rua. Portanto, a idéia de trabalhar em estacionamentos é o resultado de uma preocupação em preservar alguns vazios em meio ao adensamento urbano, para que a cidade tenha seus momentos de fuga e espaços de convivência. [ENTRE] propõe uma rede de espaços públicos nos terrenos vagos da Baixo Augusta, possibilitando novas frentes para os miolos das quadras e enfatizando o caráter local dessa rua. Que, por sua vez, torna-se um percurso dotado de praças que conecta a Praça Roosevelt (centro da cidade) à Avenida Paulista. [ENTRE]
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RECETAS URBANAS O arquiteto Santiago Cirugeda desenvolveu um conjunto de estratégias de modo a conferir maior dinamismo à vida urbana através de contribuições informais, desde o efemero ao permanente. É autor de edifícios e equipamentos onde utiliza permissões temporárias, como montagem de andaimes ou instalação de containers para criar instalações mais permanentes, reabilitando edifícios e espaços públicos segundo as necessidades existentes.
funcionalidade ao Ordenação e ocupação reduzir os espaços obsoletos uma na cidade de Sevilha. Nessa lugar. Sempre levando em temporária de terrenos intervenção, Cirugeda começa consideração a reciclagem vagos, Sevilha A intervenção utiliza temporariamente os terrenos vagos existentes, revitalizando os espaços vazios e residuais da cidade, através da articulação entre participação cívica e um apoio municipal, a fim de
por demolir os muros desses de materiais dos depósitos lotes abandonados, depois municipais como os sinais de realiza a limepza do terreno trânsito. (10) e em seguida a colocação de pavimentos (geralmente permeáveis) e às vezes alguma vegetação. Por fim, realiza-se a instalação do mobiliário urbano, atribuindo
(10) PEREIRA, Joana, TFG: Espaços Residuais Urbanos: Os “baixios” de viadutos. p. 137.
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VEGIETECTURE A parede verde é uma estrutura de 21 m desenhado pelo escritório Capella Garcia Arquitectura para a cidade de Barcelona. É o projeto pioneiro de um novo campo, chamado de ‘vegitecture’ pelos arquitetos. Este novo conceito de design é essencialmente uma parede verde livre permanente que age como uma camada protetora ao seu edifício adjacente. A parede tem sua própria irrigação por gotejamento e sistema automático de fertilizantes, e até mesmo integrados caixas de assentamento. Os pisos são conectados internamente por escadas, o que reduz muito o custo de manutenção e replantio. Além disso, os pisos são projetados com bancos e fontes para criar uma única configuração semelhante a um parque urbano. O que diferencia a vegitecture é a estrutura física, que funciona de forma independente e pode ser enxertada na empena cega de um edifício. Isso abre oportunidades para reabilitar as empenas cegas.
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[arquitetura transitoria e uso noturno]
e a da sobrevivência, como exemplo dos modos de exclusão social, como por exemplo os vendedores ambulantes, que se utilizam dessas ocupações espontâneas como soluções de sobrevivência.
“O fenômeno urbano (…) ‘Post-it City’ (…) está ligado a uma visão prospectiva da tendência que o espaço público tradicional irá ver evoluir no seu valor representativo do ponto de vista das coletividades complexas, heterogêneas e em contínua transformação cultural e social” (10) Giovanni La Varra concebeu o conceito de ‘Post-it City’ para designar alguns dispositivos decorrentes das dinâmicas alternativas da vida coletiva, tratando diretamente das ocupações temporárias do espaço público segundo as mais diversas atividades fora dos padrões. A realização da exposição “Ciudades Ocasionales” reuniu uma série de situações cotidianas de ocupação temporária do espaço público urbano, mostrando como estes espaços podem ser subversidos pelas ocupações transitórias, que têm em comum a auto-gestão de seus aparecimentos e desaparecimentos.
post-it “os espaços city expõem relações no espaço público, formas de habitação, estruturas de intercâmbio e de comércio que surpreendem, porque nos falam, na materialidade do espaço, de uma comunidade que inventa uma linguagem. (…) Estes lugares contém uma experimentação implícita de novas formas de sociabilidade, quer abertas, quer fechadas, inclusivas ou exclusivas, que dão lugar a um laboratório de sociabilidade difuso, débil, mas que se transforma e se molda incessantemente de acordo comas ocasiões e as oportunidades.” (11) Cada dia na cidade de São Paulo, nota-se uma série de situações espontâneas que foram apontadas pela Post-it City. A vivência na Rua Augusta me fez perceber a dinâmica dessas situações ao longo do dia, nos diferentes dias da semana. Durante a manhã a rua está tranquila, com algumas pessoas caminhando, enquanto que durante o horário de almoço o movimento começa a crescer, muitas pessoas surgem buscando um lugar para fazer sua refeição ou pausa, então lojas e restaurantes se enchem e suas calçadas são ocupadas. Após algumas horas de calmaria, a rua lota-se novamente no horário de fim de expediente, então as calçadas
De acordo com suas definições, as formas de apropriação espontânea do espaço público ramificam-se em duas: a da divergência, associada à tradição situacionista, onde o Post-it City pode funcionar como idéia de valorização do potencial político nas práticas espontâneas;
são ocupadas novamente pelas mesas dos bares e restaurantes e por filas de espera. Dessa forma, surgem os vendedores ambulantes, que intensificam-se aos finais de semana, conferindo uma cara de feira livre espontânea à rua. Madrugada a dentro a rua vai acontecendo, cada dia repetindo esse ciclo, deixando que situações sejam criadas aí. Assim como as ocupações efêmeras espontâneas, a arquitetura móvel é uma forma inteligente de habitar o vazio, pois é capaz de relacionarse com as crescentes mudanças sociais e culturais em cidades complexas e territórios incertos. Portanto, os fenômenos multifacetários contemporâneos necessitam de uma arquitetura mais flexível. A arquitetura portátil é útil em habitações rurais, situações de emergência, necessidades de infra-estrutura, feiras, exibições e eventos culturais. Assim sendo, é uma arquitetura interessada em resíduos espaciais da cidade, lugares ausentes, realidades não aceitas ou ignoradas, ou seja: o vazio urbano. Esses eventos esporádicos são importantes para criar situações e dinamizar os espaços, além de consolidar a vida na cidade e determinar o uso de seus espaços públicos. Tais eventos, quando noturnos, apresentam-se muito eficazes, pois conformam vida para a cidade em um horário alternativo, o que é muito saudável para a segurança urbana durante esse período.
(10) LA VARRA, Giovanni apud KOOLHAAS, Rem (et al.) Mutaciones, 2000, p. 428 (11) LA VARRA, Giovanni apud PERAN, Martí, Post-it City – ciudades ocasionales, 2009, p.47
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Aproveito o caráter noturno da Rua Augusta e seus acontecimentos espontâneos temporários para incentivar que os eventos aí presentes ou futuros tenham novos lugares para ocupar: os espaços de convívio aqui propostos. Portanto, associado a essa nova rede de espaços públicos, deve existir uma estrutura capaz de transitar por seus vazios a fim de abrigar as atividades esporádicas: feiras, serviços móveis (poupa tempo móvel, posto móvel de vacinação), o comércio informal, intervenções artísticas, pequenas mostras culturais ou mesmo o “fazer nada”, o ócio, sendo nessa situação um elemento urbano, uma protecção climática. A cima, Feira Livre em São Paulo e abaixo, um restaurante móvel de Hot Dog em Nova Iorque, são ocupações que propõem um uso temporário do espaço público, conferindo uma dinâmica interessante dos lugares onde venham se instalar.
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“Obras como o Pavilhão comercial da União Soviética, de Berthold Lubetkin, 1926 e o Pavilhão Itinerante da IBM, de Renzo Piano, de 1982 foram concebidas como um conjunto fechado de peças, apesar de partir de elementos industrializados anteriores. Se não formassem uma unidade, as peças não seriam transportadas – o projeto, sim, que seria reconstruído a partir do disponível em cada lugar. Ao longo do século XX, as vedações tornaram-se mais diáfanas, e a própria idéia do insubstancial tornou-se uma poética usual; daí a segunda obra assumir com clareza e vigor seu caráter de espaço que se dissolve. Ambos, de todas as formas, são espaços maiores e mais ricos, e construções mais complexas, do que uma barraca de camping, mas a lógica é similar.” (12) (12) PAZ, Mellado J. Daniel, Arquitetura efêmera ou transitória: Esboços de uma caracterização, in ARQUITEXTOS 102.06 ano 09, nov 2008. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.102/97
[ENTRE]
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O MERCADO E A VIRADA CULTURAL São dois exemplos de eventos recentes que tem como objetivo o uso da cidade no período noturno e o convívio social nos mais diferentes espaços públicos da cidade.
e de um restaurante. A feira efêmeros, a cidade ganha recebeu mais de 1.000 pessoas. uma pausa no cotidiano e assim é possível experimentar Já a Virada Cultural é a maior novos percursos e formas festa de rua de São Paulo, um de convivência, tendo como evento gratuito que em sua partido o espaço público. última edição recebeu por volta de 4 milhões de pessoas. A programação dura 24 horas corridas e espalha atividades culturais por toda a cidade, sendo assim um encontro cultural democrático que reúne as mais diferentes classes sociais, faixas etárias e tribos que habitam a cidade.
O Mercado é uma feira gastronômica que ocorreu pela primeira vez numa madrugada do atual ano, no pátio da Galeria Vermelho, um interessante miolo de quadra que abriga as frentes de uma galeria de arte Com esses eventos culturais
[ENTRE]
31
[RUA AUGUSTA] primeiro olhar
DEBILIDADES
ameaรงas [ENTRE]
32
fortalezas
oportunidades [ENTRE]
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dafo A análise DAFO, conhecida em inglês como SWOT, é uma metodologia para estudar situações baseada em dois momentos: o primeiro é uma análise externa, sendo assim mais prospectivo, que se refere as oportunidades e as ameaças; já o segundo trata-se de uma análise interna que atenta às potencialidades e debilidades intrínsecas à cidade. Consiste em reconhecer como destacar cada força, desfrutar de suas oportunidades, defender suas fraquezas e conter as ameaças de um determidado lugar. As imagens à cima representam um primeiro Calçada da R. Augusta, estreita e insalumbre. olhar para a Rua Augusta, baseado em uma análise como essa. Durante à noite, a Baixo Augusta transforma-se em um pólo sexual, que estão associados ao tráfico de drogas. É uma situação bastante delicada e complexa, portanto não é tema que será tratado neste projeto, apenas o cito aqui como sendo uma fraqueza da rua analisada. Apesar de todos os aspectos negativos, a situação não se apresenta como uma ameaça à Augusta. Como ameaça, destaco seus novos empreendimentos, os quais preenchem seus vazios, por vezes eliminam pequenos comércios existentes e não se relacionam bem com o Augusta vista desde a Fernando de Albuquerque. espaço público. A imagem seguinte é a vista que se tem da Praça Roosevelt para a Radial LesteOeste, com atenção especial para a arte de rua que está bastante presente por todo o percurso da Augusta. A imagem aparece como um ponto forte por algumas razões, a arte de rua está baseada numa apropriação do espaço público, assim como ocupa as diversas empenas cegas da cidade. Também está associada ao skate, e a nova Rossevelt tornou-se ponto de encontro entre essa tribo, que garante vida noturna a rua Augusta. Seus vazios aparecem representados por essa última fotografia, os considero oportunidades Augusta vista desde a Fernando de Albuquerque. para a realização do projeto.
[ENTRE]
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Galeria Ouro Velho
Augusta x Fernando de Albuquerque e bar Vitrine.
Vitrine do Caos, estabelecimento que funciona dia e noite, durante o dia funciona como loja e durante a noite, bar.
Projeção em empena cega.
[ENTRE]
Bar e loja, Caos e ao lado, casa de shows Say.
35
N
vias principais
vias expressas
eixo r. augusta
via fĂŠrrea
[ sistema viĂĄrio]
escala metropolitana
[ENTRE]
36
N
vazios
comercial e serviรงos
privado
educacional
abandonado
[usos]
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37
N
pts de ônibus vias principais raio de influência 150m
pts de ônibus eixo augusta raio de influência 150m
[transporte público]
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N
sudoeste-centro
centro-sudoeste
sul-centro
centro-sul
[ENTRE] intrasponĂveis
[alternativas viĂĄrias Ă rua augusta]
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[ENTRE]
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rua/calçada
FF0000
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Pq. Buenos Aires = 25.000 m2 Vão Livre do MASP = 4.000 m2 Pq. Zilda Natel = 2.386 m2
Pq. Trianon = 48.600 m2
estacionamento
= 36.200 m2
tin ar m r. r. alvaro de ca rvalho
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área construída
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687 m2 390 m2 673 m2 943 m2
977 m2
21.600 m2
29.020 m2
pça roosevelt
[cheios vazios]
prad o
rana guá
40
[estratégia] [ENTRE] é a união de três propostas para a Rua Augusta, em seu trecho que segue desde a Av. Paulista até a Praça Roosevelt: o redesenho da rua tendo em mente o pedestre, o transporte público e a bicicleta como prioridades, portanto a via deixa de receber automóveis nesse trecho, suas calçadas são ampliadas, recebe uma ciclovia e apenas ônibus transitam por aí; a conversão de seus terrenos vazios (a maioria utilizados como estacionamentos) em pequenos espaços públicos; uma estrutura capaz de transitar por esses novos espaços ao longo da via, a fim de conferir uma dinânima à eles, por sua capacidade de abrigar pequenos eventos e/ou
espaço público + estrutura transitória
r. da consolação
redesenho de vias
vias principais que seguem iguais
interagir com as pessoas.
r. costa
r. fernando a. r. peixoto gomide
av. 9 de julho
A estratégia é impulsionada pelas análises feitas da rua, a partir de seus usos do térreo, os usos diurnos e noturnos, a transformação de usos ao longo da via e do período do dia, etc. Dessa forma, cada espaço público criado pode ter um caráter que corresponde a seu entorno direto, porém nunca estagnando, recebendo outros usos espontâneos e esporádicos que podem ser auxiliados por essa estrutura transitória. Em suma, a estratégia é tomar algumas frentes para resolver os problemas da rua, tirando proveito de seu dinâmismo.
cultura mercado hotel
café restaurante, bar, boteco, boate. correio
comercio casa de show
transporte
r. augusta [ENTRE]
diversidade42
[área de intevenção] O QUARTEIRÃO Após as análises, em especial as de uso do térreo, optei em trabalhar uma área próxima a ruas de grandes fluxos e com usos bastante variados. O quarteirão escolhido apresenta diversos problemas como calçadas estreitas, pouco
espaço de lazer e muitos lotes sendo utilizados como estacionamentos. Além disso, com a alteração dos fluxos da Rua Augusta aqui propostos, as ruas Peixoto Gomide, Fernando de Albuquerque e Costa sofreriam modificações. A Peixoto Gomide incia seu fluxo na Rua Augusta e segue até a R. Estados Unidos, seu uso é bastante diverso e a alteração de fluxos dá-se em seu último quarteirão (esquina com a Augusta), parte da rua que pela noite fica lotada de
pessoas tanto na calçada, quanto na própria via. A R. Fernando de Albuquerque é responsável por conectar a Consolação com a Haddock Lobo, seu trecho a ser alterado também é em sua última quadra, esse trecho da rua tem suas calçadas ocupadas por mesas de bares e ainda conta com a R. Dona Teresa, uma vilinha de casas pavimentada em paralelepipedo. Já a R. Costa é uma via curta, começa na Bela Cintra e termina na Augusta, tendo um caráter
mais residencial seu uso é pouco variado e também pouco frequentada tanto por carros quanto pedestres, o redesenho dessa via lhe confere uma “cara de bairro”.
R. bela cintra
r. fernando de albuquerque com r. augusta
R. costa Imagem aérea da quadra.
[ENTRE]
R. FERNANDO A.
R. augusta
43
a
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o lote
O LOTE
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Imagem aérea do lote.
[ENTRE]
Maquete de estudo da quadra
1.100 m2
O terreno esolhido é a interessante junção em “L” de dois lotes onde, atualmente, funciona um estacionamento com entrada para a R. Fernando de Albuquerque. Apesar de ter frente para as duas ruas, na Augusta o estacionamento é fechado por um muro, causando uma sensação desagradável para quem passa por aí a pé, principalmente porque ao lado oposto da rua localiza-se uma usina de distribuição de energia, que também não tem
relação nenhuma com a rua, sendo protegida por um muro alto. Seu entorno próximo é privilegiado pela diversidade de usos em diversos horários, na esquina encontra-se o bar Ibotirama, sempre lotado e em frente o bar /pizzaria Vitrine, que funciona 24 horas e por ser um ponto de encontro, sua calçada fica lotada a madrugada toda. Além disso conta com algumas empenas cegas, que frequentemente são utilizadas para mostra de projeções.
Bar Ibotirama e mostra de projeções nas empenas próximas.
O lote escolhido desde cima e ao fundo outro estacionamento.
Vista do lote desde a R. Augusta
Usina de distribuição de energia.
44
[ augusta hoje] O estacionamento existente gera uma relação hostil entre muro e a calçada, que é muito estreita e dificulta o percurso do
[ENTRE]
pedestre. Além disso, o ciclista também enfrenta dificuldades em seu deslocamento, assim como o skatista, porque já que não têm uma via exclusiva devem locomover-se entre carros e ônibus. Nota-se um contraste entre o tamanho da via e os tamanhos das calçadas,
ambas congestionadas parte do dia.
boa
[ augusta proposta] O estacionamento dá lugar à um espaço público que supõe novas frentes para o miolo da quadra e as mesas dos bares
e restaurantes pode ocupalo. Suas quatro faixas viárias são reduzidas a duas, dessa maneira, as calçadas são ampliadas, tornando o percurso do pedestre mais agradável. Também sobra espaço para o desenho de uma ciclovia nos dois sentidos e para eliminar o
congestionamento, o tráfego é modificado, sendo exclusivo o trânsito de ônibus, priorizando o transporte público.
45
[a praça]
a
b
805
804
803
801
a
b
implantação
N 0
[ENTRE]
5m
20 m
46
[a praรงa]
a
b
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803
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a
b
novas frentes
N 0
[ENTRE]
5m
20 m
47
[a praรงa]
a
b
805
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a
b
รกreas de estar externo [ENTRE]
N 0
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48
[a praรงa]
a
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desenho piso [ENTRE]
de
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5m
20 m
49
[a praรงa] 797.52
801.35
805.47
798.13
806.86
topografia
[ENTRE]
desenho vias
das
N 0
5m
20 m
50
[corte aa] fernando a.
0
[ENTRE]
5m
20 m
52
[corte bb] augusta
0 [ENTRE]
5m
20 m 53
[estrutura transitoria] placas modulares em policarbonato
um pórtico
+
=
a estrutura proposta é uma cobertura simples e leve (tanto visual quanto fisicamente), de montagem e transporte fáceis. a escolha das placas de policarbonato dá-se graças a sua transparência e possibilidades de cor, o objetivo é que graças a esse jogo de sombras coloridas, a estrutura seja capaz de interagir com quem visita a praça mesmo quando não está abrigando algum evento. é uma maneira sensível para não perder a escala humana com a implantação de uma cobertura com pé direito muito alto. a idéia é que essa cobertura sirva para receber eventos como shows, peças de teatros, feiras
livres e etc, a minha preocupação era de que quando não houvesse algum desses eventos, a estrutura ficasse a esmo, acredito que a brincadeira com a transparência e a cor possa ter um êxito nesse sentido. as referências mostradas na página seguinte são alguns exemplos de como esse resultado acontece.
0.5 [ENTRE]
1m
2m 54
[referencias]
soma-se
os pórticos livremente de acordo com a necessidade do evento ou terreno…
…desenhando diferentes percursos pelo espaço...
0.5 [ENTRE]
1m
2m 55
[perspectivas]
perspectiva explodida
perspectiva de dois pontos
placas de policarbonato
terรงas
pรณrtico
perspectiva explodida [ENTRE]
placas de policarbonato ou cabos de aรงo responsรกveis p e l o contravamento entre pรณrticos.
perspectiva de dois pontos 56
[ corte ampliado]
0
[ENTRE]
5m
20 m
58
[ corte ampliado]
0
[ENTRE]
2m
10 m
59
[ elementos urbanos ] Quando, no prólogo do livro “Elementos Urbanos: mobiliário e microarquitetura” (13), Màrius Quitana começa a defender que a expressão ‘mobiliário urbano’ é, em sua opinião, uma tradução literal do francês ou inglês (mobilier urbain ou urbain furniture), e que na verdade deveriamos utilizar ‘elementos urbanos’, enfatiza a sua importancia associada ao uso, à função e não ao mero decoro da cidade. Os elementos urbanos são objetos que se utilizam e se integram na paisagem urbana, devem ser compreensíveis aos cidadãos. Uso, integração e compreensão são os conceitos básicos para a valorização do conjunto de objetos que encontramos no espaço público. É impossível pensar em espaço público sem pensar em seus elementos urbanos que, afinal de contas, também são de bem público. Esses elementos identificam as cidades e através deles podemos reconhecelas, por exemplo as cabines telefônicas na Inglaterra, ou ainda as entradas de metrô em Paris. Para Màrius Quitana, o desenho destes elementos cumpre com três conceitos interrelacionados: funcionalidade, racionalidade e emotividade, que serão resumidamente explicados aqui: esses objetos têm uma função a cumprir que está diretamente associada a seus usos. O espaço público está exposto a uma demanda excessiva
de elementos que criam uma verdadeira especulação do espaço urbano e supera a capacidade de conforto; a racionalidade é necessária enquanto que a razão, a técnica, os mateirais, estão a cima da experiência afetiva para a compreensão da realidade. Devese conseguir que os elementos sejam industrializáveis e resistentes às agressividades do meio urbano, quer dizer, é essencial que haja uma facilidade de fabricação montagem e manutenção; já a emotividade é necessária no que o objeto provoca reações psicológicas e comunica sensações às pessoas. Em particular, o desenho dos elementos urbanos deve alcançar a integração entre o valor artístico e o valor de uso de todos os objetos que participam da vida cotidiana no nosso entorno imediato que é a cidade. A seguir, defino uma série de elementos urbanos que poderiam ser usados nos espaços aqui propostos. São algumas referências de pavimentação, iluminação, assentos e etc. que dialogariam bem com o entorno existente e se adequariam às necessidades cotidianas.
iluminação SERIE FUL Com desenho de Jaume Artigues e Pere Cabrera, esses postes de iluminação em diferentes alturas e angulações são interessantes para serem associados à estrutura proposta, pois suas angulações e alturas gerariam diferentes jogos de luzes durante a noite.
pavimento calçadãS Ladrilho hidráulico e desenho do estado de São Paulo para piso seco das praças e calçadas.
CANTEIRO
MESAS DE ESTAR
(13) SERRA, Josep Ma. Elementos Urbanos: mobiliario y microarquitectura. Barcelona, Espanha: Gustavo Gilli, 1996. PG. 6.
[ENTRE]
60
B A N C O SOMBREADO
piso permeável
bicicletário
O desenho de díez+díez diseño é uma interessante combinação entre descanso e sombreado, garantindo a vegetação das praças.
O bicicletário desenhado por Pep Bonet é a mínima expressão de um elemento que cumpre com sua função e por sua economia de espaço, mostra-se muito eficiente para servir pequenos os espaços públicos. [ENTRE]
61
[bibliografia]
Espanha: Gustavo Gilli, 1996.
JACOBS, Jane, Morte e Vida de Grandes Cidades, São Paulo, Martins Fontes, 2011.
GONDIM, Monica Fiuza. Cadernos de Desenho: Ciclovias. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora http://www.pps.org Ltda., 2006.
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http://www.vitruvius. LYNCH, Kevin. A Imagem da c o m . b r / r e v i s t a s / r e a d / Cidade. São Paulo, SP, Martins arquitextos/08.090/193 Fontes, 1999.
JACQUES, Paola Berenstein, organização. Apologia da Deriva: Escritos Situacionistas Sobre a Cidade/Internacional Situacionista. Rio de Janeiro, RJ: Casa da Palavra, 2003.
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FIN