O Gênio da Lata Já faz seis anos e ainda me lembro daquele dia como se fosse hoje. Estava andando pela rua quando tropecei em uma lata de Coca-Cola, observei-a e vi que estava fechada, mas era leve como se estivesse vazia. Não resistindo a tentação, abri-a e eis que repentinamente surge em minha frente um anão e diz com voz infantil: - Que Alah o proteja adorável amo, aqui estou para realizar o seu pedido. Ainda atônito com a surpresa retruco: - Não acredito! Você é um gênio? - É claro que sou. Ou você está acostumado a ver pessoas saindo de uma lata? Eu sou o gênio da lâmpada de Aladim . - Mas você acabou de dizer lata, como pode ser o gênio da lâmpada? - Meu caro amigo, você não sabe que século é este? Estamos na era do consumo e do supérfluo. - Está certo. Quer dizer que posso fazer três pedidos? - Negativo! Você só tem direito a um. - Isso não é justo! Aladim fez três pedidos. - Isso foi na Arábia há 2000 anos. Aqui é Brasil e estamos contendo despesas. Porém, não precisa se preocupar. Seu pedido é uma ordem e você pode pedir o que quiser. Vejam só! Até na ficção o Brasil é diferente. Encontro um gênio de meio metro de altura, em uma lata de Coca-Cola e só posso fazer um pedido. Bem, antes um do que nada. E agora o que eu peço? Pensei, pensei e respondi: - Já sei! Como disse Salomão. Quero sabedoria! Quero ter toda a sabedoria do mundo. Na hora o gênio desapareceu. Nada aconteceu, fiquei frustrado achando que tinha sido enganado. Mas o tempo passou e agora percebi a realização do meu pedido. Hoje sou um professor. Não me considero nem um pouco sábio, mas a grande maioria dos alunos acham que eu tenho a obrigação de saber de tudo. Têm os seus problemas e acham que sou psicólogo. Têm suas confidências e acham que sou padre. Não sabem uma palavra e acham que sou o dicionário, e quando não vão bem nos exames acham que eu sou o culpado. Talvez aquele gênio tenha sido apenas um sonho. Passados seis anos que me tornei professor, percebo que não me transformei em um sábio da noite para o dia, contudo, a cada dia que passa, aprendo muito mais com meus alunos.
Prof. Nilo Jeronimo Vieira (1997)