Percursos de Azulejaria pelo Porto
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Percurso de Júlio Resende Locais
Sugestão
Ribeira Negra
Os locais que constituem este itinerário localizam-se numa área geográfica próxima, excetuando-se o último, painel, este na Companhia de Seguros Tranquilidade. Apesar de não ser uma longa distância, caso prefira deslocar-se através de transportes públicos, pode optar pelo autocarro 200, que parte do Bolhão, ou pelos 207 ou 302 de cujo trajeto faz parte a paragem Palácio, onde terá de sair para visitar o local mencionado.
Cafetaria Sical Hotel Infante Sagres Estação de Metro do Bolhão Edifício das Union des Assurances de Paris Companhia de Seguros Tranquilidade
Júlio Resende nasceu no Porto, a 23 de Outubro de 1917, desenvolvendo na cidade a sua atividade artística e de docente na Escola Superior de Belas Artes. Apesar de sempre se ter considerado pintor e desenhador, desde 1958 que realizou trabalhos em cerâmica, obras representativas da cerâmica parietal nacional do século XX. Com obra de Norte a Sul de Portugal, são aquelas situadas na cidade do Porto que se evidenciam, sendo prova disso o extenso painel da Ribeira Negra e o da Estação de Metro do Bolhão. Salientando a sua importância, o Museu Nacional do Azulejo realizou, em 1998, uma exposição retrospetiva da sua obra cerâmica. Faleceu a 21 de Setembro de 2011.
Assinatura de Júlio Resende. 2
Este percurso inicia-se no Painel da Ribeira Negra, localizado junto ao Túnel da Ribeira e da Ponte Luiz I. O projeto Ribeira Negra ocupou Júlio Resende entre 1984 e 1986. O artista conseguiu elaborar um painel em polivinil apenas em dez dias, corria o ano de 1984, utilizando pigmentos de negro-de-fumo e óxido de zinco. Este painel, com 140 m2, onde o artista expôs a sua ideia inicial, foi oferecido à Câmara Municipal do Porto e exposto, pela primeira vez na Cooperativa Árvore.Entre 1985 e 1986 Júlio Resende dedica-se aos estudos preparatórios em diferentes técnicas, como a aguarela e a tinta-da-china, desenvolvendo assim em sucessivas variantes o friso figurativo que constituía a matriz do painel anterior. Devido à extensa dimensão da obra final, foi elaborado um grande número de desenhos parcelares e de pormenor que foram, posteriormente redimensionados. No final de 1985 todos estes estudos se concentram num único objetivo – a criação do mural cerâmico. Este é executado em grés vidrado na Empresa Cerâmica do Fojo, já no ano de 1986, e é inaugurado a 21 de junho de 1987. O painel reveste 200m2 de superfície e é considerado uma das maiores obras de cerâmica a nível nacional, sendo de maior importância no panorama da arte portuguesa e da cerâmica de autor.
Sabia que…
A Fábrica Cerâmica do Fojo, situada na Quinta do Fojo em Canidelo, foi fundada, em 1896, por José Maria Rodrigues Ascensão. Em 1898 foi criada a firma Lopes & Ascensão, sociedade entre o primeiro e Joaquim António Lopes. Especializou-se em telha marselha, tijolo, grés e outros materiais para a construção, dedicando-se também à faiança decorativa. Foi, na primeira década do século, uma das mais mecanizadas e modernas do setor e na região do Porto. Em 1920 cede lugar à Empresa Cerâmica do Fojo, dedicando-se sobretudo à produção de material de construção. Ribeira Nega de Júlio Resende.
A composição, dividida em quatro níveis de forma a acompanhar o desnivelamento da rua, retrata o dia-adia do povo portuense, em cenas do quotidiano que vão desde o lavar e estender a roupa até à pesagem do peixe. As várias cenas aqui representadas, sob arcos pontiagudos, lanços de escadas e estruturas rochosas, demostram a familiaridade entre as pessoas e os animais, atitudes eu se estendem dos mais novos aos mais idosos. Por isso mesmo, Júlio Resende realçou o valor da figura humana através dos gestos sinceros e expressivos que as figuras deste painel apresentam. 3
No painel está assim reunida a atmosfera e iconografia da cidade, atentando a grande unidade existente na obra de pintura e cerâmica de Júlio Resende. Esta obra demonstra que Resende prefere o caráter pictórico ao jogo geométrico, e o motivo livre ao padronizado, algo que resulta numa figuração aberta e não numa composição repetitiva. A Ribeira Negra é sobretudo uma homenagem do artista à cidade do Porto, e particularmente à ribeira portuense, lugar recorrente da sua obra.
Ribeira Nega de Júlio Resende.
O próximo local deste percurso é a Cafetaria Sical, onde foram aplicados dois painéis de cerâmica executados por Júlio Resende. Para aqui chegar atravesse o Túnel da Ribeira em direção à Rua dos Mercadores e dirija-se para a Rua de Mouzinho da Silveira ou, se preferir, para a Rua das Flores onde poderá apreciar o comércio local. Vire à esquerda na Rua de Trindade Coelho até ao Largo dos Lóios, seguindo depois pela Rua do Almada até atingir o destino pretendido, a Praça de Dona Filipa de Lencastre. Já dentro do estabelecimento pode visualizar os dois painéis que revestem as suas paredes laterais. Estes representam a história do café, indo desde a sua plantação, à sua colheita, distribuição e consumo, onde já se encontra transformado em bebida. Integram letterings publicitários da empresa, desenrolando-se a narrativa desde os locais longínquos de onde é extraído o café, com fauna e flora próprias, até à intimidade do balcão, surgindo assim dentro e fora do painel. 4
Painel A Grande Árvore.
Painéis da Cafetaria Sical.
Mesmo ao lado da Cafetaria Sical ergue-se o Hotel Infante Sagres. Nesta unidade hoteleira foi instalado um outro painel cerâmico de Júlio Resende. O painel d’ A Grande Árvore foi o primeiro a ser produzido na oficina de Júlio Resende. É uma obra onde o autor explora a matéria e a técnica e uma das poucas onde o autor não representa figuras humanas recorrendo, no entrando, ao motivo maior – a terra. O painel é marcado por ritmos abstratos repetidos e interrompidos apenas por pequenos frisos ou linhas que sugerem formas vegetais. Devido a diversas obras no edifício o painel foi remetido para uma zona mais interior que não permite uma visualização que o favoreça.
Depois do Hotel infante Sagres segue-se a Estação de Metro do Bolhão. Saindo da Praça de Dona Filipa de Lencastre siga pela Rua de Elísio de Melo até à Rua do Dr. Magalhães Lemos. Continue até à Praça de D. João I e aqui vire à esquerda, prosseguindo assim pela Rua de Sá da Bandeira até atingir, virando à direita, a Rua de Fernandes Tomás. Entrando neste edifício cedo reparara no conjunto azulejar do autor aqui supracitado. O painel, datado de 2006, aborda assim as diversas atividades que se desenvolvem no Mercado do Bolhão, retratando a diversidade de negócios que se congregam naquele espaço de comércio. Assim foram representadas figuras femininas vendendo os seus produtos, como legumes, peixes ou flores, colocados nas respetivas bancas. 5
Painel da Estação de Metro do Bolhão.
O nosso próximo ponto localiza-se muito perto deste último. O Edifício da Union des Assurances de Paris situa-se na Rua de Santa Catarina logo após a Rua de Guedes de Azevedo, no nº 274. O painel é composto por figuras de transeuntes ocupados e sinais gráficos, especificamente letterings e sinais de trânsito, que surgem com nitidez inesperada. É assim marcado por um recorte claro, de evocação mecânica e com autómatos despersonalizados.
Painel da Edifício da Union des Assurances de Paris. 6
Tal como sugerimos, para visitar o nosso último ponto deste roteiro, a Companhia de Seguros Tranquilidade, poderá optar deslocar-se através de transportes públicos. Assim dirija-se à paragem do Bolhão de onde parte o autocarro 200, seguindo pela Rua de Guedes de Azevedo e virando à sua esquerda na Rua do Bolhão, ou então, prossiga até à Praça de D. João I e espere pelo 207 ou 302 de cujo trajeto faz parte a paragem Palácio, onde terá de sair. No edifício acima mencionado o trabalho de Júlio Resende exposto é dominado por figuras humanas marcadas pelo anonimato, algo que combina com o local. Como poderá observar estes vultos estão escalonados num ritmo ascendente ao longo do painel.
Painel da Edifício da Union des Assurances de Paris.
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Pontos de Interesse Este percurso, fazendo-se sobretudo no coração da cidade, tem por isso uma grande diversidade de Pontos de Interesse. Deixamos aqui algumas sugestões de locais que merecem ser observados durante a deslocação. Não elencaremos todos aqueles que se encontram durante o itinerário porque isso consistiria numa lista imensa e chamamos à atenção que existem outros dignos de reparo. Junto ao Túnel da Ribeira encontra-se a Ponte Luiz I. Apresentando como motivo a falta de segurança e a fraca resposta ao tráfego da Ponte Pênsil, a Câmara Municipal solicita ao Governo, em 1876, a sua substituição. Em 1880 é lançado o concurso para apresentação de projetos, concorrendo só empresas estrangeiras, na sua maioria francesas. Mas será a empresa belga Société Anonyme de Construction e des Ateliers de Willebroeck a selecionada. Os trabalhos começaram em dezembro de 1881, numa cerimónia oficial assinalada com a presença de D. Luís I, de D. Maria Pia, do príncipe D. Carlos e do infante D. Afonso. As obras foram dirigidas por Arthur Maury e fiscalizadas por José Macedo Araújo Júnior. Com dois tabuleiros, o superior com 392m e o inferior com 174m, foi inaugurada a 31 de outubro de 1886 mas, ao contrário do habitual, D. Luís e D. Maria Pia não estiveram presentes. Deslocando-se para a Cafetaria Sical deparar-se-á com a Avenida dos Aliados. Em 1889 houve uma proposta de Carlos Pezarat para a criação de uma ligação entre a Praça da Trindade e a Praça de D. Pedro. Ficando este projeto sem efeito, em 1913 Barry Parker (1867-1947), arquiteto e urbanista inglês, foi convidado para elaborar uma outra proposta de ligação entre as duas praças. O plano é aprovado, em 1915, e sofre algumas alterações por parte do arquiteto Marques da Silva (1869-1947), responsável pelas obras. Em 1916 começam as obras de abertura da avenida, levando à demolição dos antigos Paços do Concelho, do Bairro dos Laranjais e de ruas como a do Laranjal e a de D. Pedro IV. Recebe o nome de Avenida das Nações Aliadas, em homenagem à vitória aliada da 1ª Guerra Mundial. Em 2005, com o processo de abertura do metro, a avenida ficar parcialmente destruída, sendo recuperada pelos arquitetos Siza Vieira e Souto de Moura. A coroar esta avenida encontra a Câmara Municipal do Porto, projeto da autoria de António Correia da Silva, arquiteto camarário desde 1911, mas também de Carlos Ramos (1897-1969), responsável por algumas alterações. Começada a construir em 1920, o edifício só em 1957 foi concluído e inaugurado. Assemelha-se em muito aos palácios comunais do Norte de França e da Flandres devido à sua robustez granítica e acentuado ecletismo. No exterior destaca-se o torreão com 70m de altura e no interior os frescos expressionistas do pintor Dórdio Gomes (1890-1976). Já junto à Companhia de Seguros Tranquilidade poderá visitar o Palácio dos Terenas e a Torre de Pedro Sem. Esta foi contruída na 1ª metade do século XIV por vontade de Pedro de Sem, chanceler-mor de D. Afonso IV. Por morte de descendentes, a Torre passa a ser propriedade de João Sanches e Isabel Brandão, filha de João Brandão, contador da Fazenda do Porto. Em 1576, Rui Brandão Sanches institui o morgado da família, fazendo parte deste a torre e a quinta onde esta foi edificada. O Palácio só é construído no século XVIII e, durante o século XIX, a propriedade passou dos Brandões, para os Condes de Marqueses de Terena e, posteriormente, para os Marqueses de Monfalim. Em 1919 a Torre e o Palácio são adquiridos pela Diocese do Porto para servir de Paço Episcopal, pois a Câmara Municipal ocupava à altura o atual (1916-1956). Foi residência do Prelado da Diocese e, para isso, foi recuperado todo o interior da torre segundo projeto do arquiteto Abrunhosa de Brito. 8
Informações Ribeira Negra
Cafetaria Sical
Avenida D. Afonso Henriques
Praça de D. Filipa de Lencastre, nº 34
41°08'42.0"N 8°36'39.1"W
41°08‘52.5"N 8°36‘45.3"W
Todos os dias: 5:00-1:00
Seg.-Sex.: 7:30-19:30 Sáb.: 8:00-12:30
Gratuito +351 707 210 220
Gratuito +351 222 056 148
Hotel Infante Sagres
Estação de Metro do Bolhão
Praça de D. Filipa de Lencastre, nº 62
Rua de Fernandes Tomás
41°08'46.3"N 8°36'38.9"W
41°08'59.8"N 8°36'18.9"W
Todos os dias
Todos os dias: 6:00-1:00
Gratuito
Gratuito
+351 223 398 500
+351 225 081 000
Edifício das Union des Assurances de Paris
Companhia de Seguros Tranquilidade
Rua de Santa Catarina, nº 274
Rua de D. Manuel II, nº 290
41°08‘52.6"N 8°36‘23.3"W
41°08‘56.1"N 8°37'32.8"W
Todos os dias
Seg.-Sex.: 8:45-12:30/13:45-16:15
Gratuito
Gratuito +351 707 240 707 9
Nisa Félix ©