ND
nยบ dois
outubro de 2013
Coordenação NITRO Editorial Editores Leo Drumond e Gustavo Nolasco
www.nitroimagens.com.br +55 31 3297 7848
Redação Gustavo Nolasco e Andréia Lima Revisão Gustavo Nolasco Projeto gráfico e diagramação Diogo Droschi e Leo Drumond Colaboradores Bruna Scorsatto, Isabela Young, Hiago Ramos, Andréia Lima, Carlos e Marcela Pereira, Estefania Gavina, Fernando Costa Netto, Gui Galembeck, Tatiana Ribeiro, Arthur Monteiro, Gustavo Baxter, Ricardo Lima, João Miranda, Mídia NINJA, Rodrigo Zaim e Pedro Gontijo Foto da capa Gui Galembeck Foto da contracapa Gustavo Baxter Impressão Margraf Tiragem 2000 testemunhos de que algo está errado
Foto Rodrigo Zaim / RUA / Mídia NINJA
A Nitro agradece à equipe de produção do Festival Hercule Florence através do amigo Ricardo Lima; a equipe do Oficina Cultural Hilda Hilst pelo grande apoio; aos amigos do FotoProtestoSP pelas imagens e pela iniciativa; ao Mídia NINJA, pelo apoio e pela enorme ajuda que estão prestando ao país.; aos novos amigos Gui, Tatiana, Arthur e Izabela pela simpatia e pelo belíssimo material e aos oficineiros, um muito obrigado pela paciência e dedicação!
Na mira
No foco
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Jo達o Miranda
Arthur Monteiro
A gentileza de uma pista Sem rolamento Com fricção foto
Fernando Costa Netto / FotoProtestoSP
O governo me deve fotos
Pedro Gontijo
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Pedro Gontijo e Amanda Lelis
As palavras em tinta adornam as
paredes da casa, a cabeceira da cama, o espelho do banheiro, o freezer da geladeira e o sofá da sala. A casa inteira grita a indignação de um fato ocorrido há 28 anos, que nunca foi esquecido e nem resolvido. E se depender do amapaense Paulo Sérgio Souza da Silva, jamais será silenciado. No dia 16 de julho de 1985, em Macapá, Paulo Sérgio foi atropelado por um carro oficial da extinta Secretaria de Obras e Serviços Públicos. O motorista saiu sem prestar socorro e ele foi salvo graças à ajuda das pessoas que circulavam no local. À época, o Amapá ainda era território federal e só se tornaria um estado brasileiro de fato com a promulgação da Constituição de 1988. Mesmo após tantos anos, as marcas persistem. Como lembranças distintas na pele e nos nervos, as cicatrizes e as dores no corpo insistem em permanecer com ele, na perna e na bacia, locais afetados durante o acidente. Para extravasar essa raiva, o amapaense de 47 anos pinta sua dor onde pode. Suas pinturas estão expostas na fachada de sua casa, nos degraus, em placas de PVC e tampas de baldes. Tudo se converte em estandarte para sua dor e indignação. Para que ninguém, que passe perto de sua casa, seja indiferente à dor que ele não consegue esquecer.
Vossa ExcelĂŞncia me permite um aparte? Tremei, calhorda! foto
MĂdia NINJA
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Remo ções
Estefania Gavina
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Andréia Lima
Quantas camadas de tinta
existem em uma parede? Quantas rugas há em um rosto? Quando se destrói uma casa, ficam nus aspectos que de outras formas não conseguiríamos ver. Há detalhes pelos quais poucos se interessam. Uma casa velha é como um idoso: muitos veem; somente alguns enxergam e poucos lhe dão atenção. O seu cheiro já não é mais tão agradável; necessita de muitos reparos e a atenção demandada é quase que constante. Quando desmanchamos uma casa, a sua história vai junto. Ela não tem família para preservar sua memória e logo algo novo sepulta seu passado. Poucas construções permanecem para se eternizar entre os mortais.
COMPRE: “EcoLife, viver aqui faz bem!” foto
Carlos Pereira
Há cinco anos,
150 famílias esperam a conclusão do sonho embargado pela justiça em Campinas/SP. Foram enganados.
Black Blocks, Campinas, Brasil texto
Gustavo Nolasco
Era junho de 2013. As ruas da cidade
se incendiaram de marchas e revoltas não contra o poder estabelecido, mas contra a opressão de apenas um lado ditar a norma. Pacíficos ou em choque (qual lado tem o poder de decidir a postura correta?), moradores foram às ruas mostrar que a submissão chegava ao fim. As ovelhas negras eram os PMs para um lado e os Black Blocks para o outro. Ambos foram fotografados como documento. Meses depois, suas imagens transformadas em arte com uma colagem em frente ao Museu da Imagem e do Som (MIS) e uma exposição fotográfica em seu interior. A PM não apareceu, mas os Black Blocks marcharam para lá. Questionaram e tentaram censurar o que supunham ser algo ruim. Com palavras e reflexões (sem vidraças quebradas ou pimenta lançada nos olhos), entenderam a fotoarte. Invadiram a exposição do MIS, mascarados e pacíficos (como o outro lado não gosta de vê-los)..
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Ricardo Lima
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Tatiana Ribeiro
Há luto de várias formas, lamentos de múltiplas maneiras e o papel/imagem também grita! foto
Bruna Scorsatto
Inquietude Editorial
O levante
popular-agressivo-pacíficoexplosivo-doce-vinagre-bomba-flor balançou a estrutura de toda a normalidade estabelecida pela moral e cívica. Onde existia quietude, o processo se reverteu em avalanche de revoltas represadas. Assim também nasceu a ND. Uma publicaçãodesafio que busca testar os limites da imagem e de suas aplicações narrativas. Como foi dito no seu manifesto de lançamento: ela tentará “provar que não existem limites para a imagem”. Nesta edição, produzida durante o Festival Hercule Florence, em Campinas/SP, a ND faz uma reflexão sobre outra explosão: a inquietude dos fotógrafos, videomarkers, produtores de imagens e documentos visuais.
Nos levantes populares que fizeram o Brasil borbulhar desde o início de 2013, uma bala de borracha fez a fotografia ir para dentro do cano das escopetas e fez acordar a ira de quem comanda o disparador da câmera. Se a guerrilha urbana contra a ordem estabelecida de cima para baixo mudou o Brasil para sempre, o olho cego de um fotógrafo será eternamente a cabeça de um mártir degolado pela opressão e exposta em praça pública. Não para servir de exemplo para que o povo se mantenha com medo e oprimido, mas sim para que os produtores de imagens mantenham o dedo nervoso no disparador de inquietudes.