Copyright © 2015 by Denise Flaibam
Registrado no Escritório de Direitos Autorais Primeira edição
CAPA
Régis Marley
DIAGRAMAÇÃO
Marcelo Rocha
ILUSTRAÇÕES
Ana Maria Frare
REVISÃO
Denise Flaibam
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Escrever os agradecimentos é a parte mais difícil, definitivamente. Mais difícil do que escrever o livro, arrisco dizer. Há tantos nomes para citar, tanta gente incrível que, nos anos que se passaram (principalmente nos dois últimos), mudou a minha vida completamente... Então vamos lá! Toda a minha gratidão a minha família; em especial aos meus pais, Ana e Nino, e a minha irmãzinha Milena. Vocês são o melhor suporte que eu poderia pedir! Vovós, titios, primos e primas, amo todos vocês. Obrigada por estarem comigo em todos os momentos, por demonstrarem tanto orgulho e apoio a essa carreira que eu escolhi seguir. Às senhoras Carolina Bizo e Gabriela Maia. Obrigada por dividirem tantos anos de amizade comigo, tantos anos tão importantes e marcantes. Vocês são absolutamente insuperáveis. Amo suas maluquices e o fato de que vocês as compartilham comigo. Bianca, Eduarda, Natália, Robson, Jorge e Marcelo. Graças ao nosso “chat eterno” surtar por qualquer coisa nunca foi tão divertido! Vocês são muito especiais para mim. Cada conversa, sugestão e surto me marcaram absurdamente. Especialmente a sua ajuda, Bibs, que se tornou uma beta tão entendedora das peripécias warthianas. Nem eu entendo alguns personagens tão bem quanto você! Obrigada por compreender e ver Jývela de um jeito tão especial; obrigada por amálos como ninguém jamais vai amar! Obrigada, principalmente, por ter se apaixonado tanto por esta história. Já disse e repito: meus dias não são tão felizes sem esse novo chat que chegou para marcar tanto.
Obrigada por estarem ali sempre que eu preciso, e por não deixarem que a distância nos separe! Mari Scotti, que além de escritora incrível, é também uma amiga fantástica. Obrigada pela ajuda com a leitura analítica de Warthia, pela “betagem” e pelos surtos com o Jarek. Agradeço todo e qualquer leitor ou leitora que entrou na minha vida nesse último ano. Meus queridos do grupo Warthianos, futuros marujos do Espírito de Gelo, vocês são muito importantes para a minha carreira. Na verdade, a minha “carreira” existe por causa de vocês! Pensei em citar nomes, mas então percebi que seria injusto porque não conseguiria colocar todo mundo aqui. Não sem que o livro fique maior que a lista do Papei Noel. Então este livro é seu. Isso mesmo, você, que está lendo isso, obrigada, do fundo do meu coração, por ter aceitado se aventurar com a Serafine. Aos blogueiros que me ajudaram tão assiduamente com a divulgação do livro, o meu muito obrigada! Suas resenhas e seus comentários foram excelentes para conquistar mais e mais leitores, fico muito feliz por nossas parcerias. Espero que possamos crescer juntos, mais e mais com o passar dos anos! Aos meus amigos escritores, por serem ótimos companheiros nessa trilha literária. Também não consigo citar todos os nomes aqui, mas estou abraçando vocês mentalmente! Ao Régis Marley, o melhor capista que eu poderia pedir aos céus. Na verdade, você caiu do céu mesmo, menino! Obra do destino, vou te contar. Obrigada por toda a paciência com os meus surtos e por ter criado artes tão maravilhosas para estampar essas obras. Marcelo Rocha, que está lendo este livro em primeira mão – espero que surte bastante e que todo esse tempo de espera tenha valido a pena! Obrigada por essa diagramação incrível e por toda a paciência comigo. Agradeço a Deus pela inspiração e pela santa paciência por me ouvir reclamando o tempo todo. As pessoas devem me achar louca, mas eu converso muito com Ele, e toda essa conversa é meu guia em momentos perturbadores.
Enfim, finalizo esses agradecimentos porque já está na hora de você ler o livro que tanto esperou, né! Ao fim desta obra, vai encontrar uma nova versão do mapa de Warthia, além do glossário (para ajudar com a pronúncia dos nomes difíceis) e um dicionário das novas palavras na Língua Antiga. Desejo uma boa viagem até o traiçoeiro Deserto; mantenha os olhos bem abertos e cuidado com os mistérios que vai desvendar... Seja novamente bem-vindo (a) a Warthia!
Alvorecer o homem solitário. Algo perverso e incomum nas tão conhecidas brumas. Tal situação o colocava em uma posição perturbadora: não deveria sentir medo, deveria? A névoa o venerava, conviviam em harmonia desde que aquele Reino lhe fora imposto. Era uma serva, nada mais. Por algum motivo desconhecido, naquela noite, as brumas estavam agitadas. Algo as deixava apreensivas. Diferente de seres inferiores, como os humanos, o Mago conseguiu entender o que os sussurros insistentes diziam. Não eram simples vozes transportadas pelo vento, mas almas milenares dispostas a cooperar a seu favor. Almas que, naquele momento, desejavam transmitir-lhe um recado. Passos ribombaram pelo silêncio daquele extenso corredor, despertando o solitário admirador das brumas – elas encobriam tudo naquela noite, deixando o ambiente tão mais belo, tão mais misterioso. E ele gostava de mistérios. Gostava de tentar desvendálos. Gostava da maneira como se intrincavam uns nos outros, tornando tudo mais complexo. O que era Warthia senão um eterno mistério? O homem encarou aquele que interrompeu sua meditação, seus olhos dourados capturando os do visitante. Eram íris de prata pura, como se ali tivesse sido derramado o metal aben-
çoado pelos Deuses. – Por que a interrupção? – O solitário indagou. – Sinto muito, meu pai, mas elas chegaram. – O rapaz explicou cuidadosamente, temendo alguma reação negativa do homem. Em seu rosto havia frieza, da maneira exata que ele havia aprendido a manter perto do criador. – Ótimo. – Contrariando as expectativas do rapaz, o homem sorriu. Era o sorriso sem emoção, deformado graças à horrível cicatriz em seu rosto. Ele rapidamente se afastou da varanda, caminhando até o filho. O rapaz esperou que seu pai passasse, curvando-se numa reverência respeitosa, e depois tratou de segui-lo. O caminho até o salão foi marcado pelo som de seus passos, suaves e apressados, e de suas respirações. O rapaz estava ansioso, mas tentava se conter em respeito ao pai. – Lembre-se, Luke... – o homem voltou-se para seu filho, colocando em seus olhos dourados toda a intensidade que faltava em sua voz. – preciso que coopere com qualquer coisa. Honre o sangue que corre em suas veias. Esse acordo é essencial. – Como quiser, meu pai. – o rapaz assentiu, adiantando-se para abrir as portas. Do outro lado, em um grande salão sombrio, ele anunciou a chegada de seu criador. – Recebam Maltrus Tytos, nosso sábio monarca. Governante do Reino das Brumas e Senhor do Sul! – O Rei não usava qualquer indicação de sua origem, como a nomeação de quem eram seu irmão ou mesmo seu pai; a grandeza vinha de si mesmo. Ele renegava os que o haviam abandonado naquele longínquo canto do continente. Apenas cinco figuras ousaram não se curvar, mas Maltrus já esperava aquela reação. Passou por seu filho e pelos lordes da Corte, pouco se importando com eles, e parou bem em frente aos insolentes. Três mulheres, vestidas de negro e vermelho, e dois Amaldiçoados. Uma das mulheres exibia um sorriso suave, quase imperceptível, e seu olhar carregava a marca das sombras que habitava sua alma.
– Majestade. – A voz suave dela chegou aos seus ouvidos ao mesmo tempo em que ela se curvou. Suas acompanhantes imitaram seu gesto, mostrando que fariam tudo que ela fizesse. – Fico feliz em ver que sua Rainha aceitou conversar. – Maltrus disse austeramente, observando as mulheres à sua frente. A única que tinha sua total atenção era a líder, a mesma que carregava o sorriso, e os olhos dela exibiram curiosidade. – Por que minha senhora recusaria uma oferta tão tentadora? Ela sabe que precisa de aliados, e quem melhor do que vossa majestade? – Ela é prudente em suas escolhas – Maltrus comentou. – E sua Rainha tem algum recado em resposta ao meu pedido? – Certamente. – A mulher acenou. Uma das acompanhantes tirou uma adaga da bolsa, mas o Rei não recuou. Tinha conhecimento de seus estranhos rituais. Delicadamente, a lâmina prateada foi em direção ao ombro nu da líder, rasgando a carne para que um desenho fosse marcado ali. Enquanto cortava a mulher, a acompanhante sussurrou coisas na língua profana; linguagem do submundo de Warthia. Palavras que Maltrus conhecia bem. – Nio vani came, Sharowfox. – O Rei terminou a frase junto com a mulher, dando boas-vindas àquela que ele tanto esperava. Recuou quando avistou as brumas invadindo o salão. As nuvens brancas adquiriram formas de braços e mãos, cujas garras cravaram-se no chão enquanto arrastavam na direção dos presentes. Mesmo calmo, o Rei sentiu o temor aumentando em seu coração. Aquilo era poder demais para ser ignorado. O branco daquela névoa transformou-se lentamente num tom escuro, tão denso quanto o manto da noite. As brumas escorregaram pelo chão, assustando os presentes naquela sala, suas formas transmutando-se conforme se aproximavam mais e mais daquelas que as convocaram. Os braços de ébano contornaram a figura imóvel da líder, que recebeu o abraço da névoa negra com um sorriso de euforia. Seus olhos, antes azuis, foram totalmente engolidos pela
cor das Trevas, e avaliaram o Rei com curiosidade contida. A possessão era um poder exclusivo das Feiticeiras. Um poder absolutamente temido. Sharowfox, sorrindo atrás do rosto de sua filha, disse: – O acordo está feito. Você é um aliado das Trevas. Agora serve a mim. *** Observando o encantador nascer do Sol, o jovem Mago conseguiu esquecer um pouco da preocupação que dominara sua mente minutos antes. Por ter sido construída bem no começo das cadeias montanhosas daquele Reino, a Fortaleza era rocha pura. A titânica arquitetura contava com pináculos altos, de tetos quadrados, e torres espalhadas em meio ao palácio central. Pilares cilíndricos estavam por toda a parte, sustentando o teto. A figura solitária encontrava-se parada bem no fim da varanda, apoiando-se na mureta de proteção. Por mais que o deserto parecesse traiçoeiro e monótono aos olhos dos viajantes, quem ali vivia sabia a beleza natural que ele ostentava. Suas dunas gigantescas podiam confundir aqueles que não conseguiam se locomover na região inóspita, mas levavam quem desviava de suas armadilhas a oásis paradisíacos. Precisava-se, no mínimo, de um ótimo guia para se situar nas maravilhas do Reino Árido, e raramente viajantes o tinham. O silêncio, habitado apenas por pensamentos disformes, foi substituído pelo som de passos. O solitário virou-se para observar o visitante inesperado, encontrando o par de olhos azuis que conhecia havia tantos anos. Theodore, aquele que o tirava do momento de sossego, adiantou-se, curvando-se em respeito ao governante. Jon era o mais jovem dos Quatro Reis – irmão legítimo de Demetrius e Red e meio-irmão do bastardo Maltrus. Warthia conhecia as histórias sobre sua bravura, seu senso de lealdade e também que, além de Demetrius, Jon comandava a frente da guarda real – no caso do Reino Árido, era o líder da tropa de ar-
queiros mais famosa daquele mundo. Jon fora levado ao trono quando tinha apenas dez anos, na época em que seu irmão decidiu dividir Warthia. Ficou incumbido de governar o Oeste, a terra mais traiçoeira dos Quatro Reinos. Em seu âmago, o jovem Mago considerava o Sul muito pior, mas jamais comentou tal fato perto de Maltrus. Como líder, deveria cuidar para que seu povo tivesse do melhor, e desde sempre buscou cumprir dignamente esse dever. Era adorado pelas famílias que viviam nos vilarejos dali. Jon Tytos, o destemido, era como o chamavam. Um Rei que lutava pela honra de seu povo. Momentos antes, tivera o sono interrompido por conta de um sonho estranho envolvendo as Trevas. Para maior assombro, o rosto dela viera até sua mente. Mas não podia ser real, ela não podia estar naquelas redondezas. O Rei havia pedido a Theodore para investigar o tal susto, e agora ele trazia as notícias: – Majestade, os patrulheiros relataram que suas suspeitas eram verdadeiras. Os Escorpiões mudaram seu rumo regular, dirigiram-se para localidades próximas daqui. – Jon aguardou, apreensão fincando rugas em sua testa. – A escolhida está em perigo, posso sentir. – O rosto de Theodore assumiu uma expressão sombria, preocupação tomando seus olhos. – Chame a Tropa, vamos partir. Jon estacou depois de dizer aquilo. Repentinamente, um flash estalou em sua mente. Um rápido contato mental tentado por alguém; magia antiga. Pânico e desespero foram passados para ele por esse laço, além da imagem de um gigantesco monstro de aparência mortífera. Jon correu até seus aposentos, vestindo sua capa de viagem e amarrando a aljava de flechas às suas costas – foi rápido, assim como seus soldados. Aqueles arqueiros, em especial, deviam estar preparados para missões urgentes. Tratava-se de um grupo seleto e apto aos desafios que se estendiam cada vez que partiam para o traiçoeiro Deserto.
Os corcéis – trazidos do Sul enquanto ainda filhotes – eram os mais rápidos de toda Warthia. Diziam que um cavalo daqueles corria com a velocidade do vento e que podiam cavalgar em qualquer terreno sem nenhum empecilho. Jon se orgulhava de têlos escolhido para participar das viagens, pois horas se tornavam minutos enquanto eles cavalgavam pelas dunas. E economizar tempo era o que eles mais precisavam agora. Preparados, os soldados já aguardavam seu Rei, vestidos apropriadamente para a ocasião – não sabiam que missão era aquela, apenas que se mostrava urgente. Tudo o que lhes fora informado é que sua coragem seria mais do que necessária. – Meu senhor... – Theodore, veloz e habilidoso, alcançou seu Rei na corrida pelo pátio. – O Deserto deve responder a esse ataque? – Ele pediu sua permissão com ansiedade no olhar. Jon entendeu o que Theodore quis dizer, e acenou positivamente. Mídria responderia ao chamado de seu controlador. A viagem começaria dos portões do Castelo. Seu destino ficava a alguns quilômetros do palácio, curiosa e assustadoramente tão perto. Jon acelerou o passo quando enxergou seu corcel negro e nele montou rapidamente, virando-se para seus homens. – Sei que essa missão parece arriscada, mas peço que confiem em mim e fiquem com seus arcos preparados. As bestas estão atacando. Os portões de ferro tombaram com força no chão, dando passagem para os furiosos corcéis cruzarem sua proteção – os muros daquela fortaleza eram muito altos, e as torres sentinelas nele instaladas tocavam as nuvens. O Sol lançava seus raios para todos os lados, e não havia sinal de nuvens pelo céu anil. Era um clima perfeito para os monstros, pensou Jon, enquanto amarrava um pano preto ao redor da cabeça, deixando só seus olhos expostos. O Rei tentou, então, uma tática que não usava há mais de um ano. Não sabia se funcionaria, mas sabia que ela permitiria sua tentativa se estivesse desperta. Só rezou aos Deuses para que não
fosse tarde demais. Enquanto seu corcel guiava-se sozinho, seguindo Theodore pela estreita passagem aberta no meio da montanha, Jon fechou os olhos e focalizou sua mente numa única criatura. Lembrou-se do dia em que tal técnica lhe fora ensinada. Ele era muito mais jovem na época, mas sedento por sabedoria, e recebeu aquela informação como uma dádiva. Lembrava-se também do sorriso no rosto belo de quem lhe ensinara. Seria impossível esquecer a maneira com que os olhos azuis da criatura havia se iluminado ao fitá-lo. Fora um dos momentos mais marcantes de sua vida. Demorou um segundo para que recebesse algo além da imagem formada por sua própria imaginação. Era apenas o eco de uma voz em meio à escuridão repentina de sua mente. Ajude-nos. Por que aquela desconhecida estava em sua cabeça, quando a procurada era a ondina? Por curiosidade, Jon deixou a barreira cair e tentou contatar aquela voz que ele nunca havia ouvido. Quem é você? Eles estão atacando. Não conseguimos fugir! Tem que nos ajudar, por favor! Ývela está morrendo.