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III Projetos Culturais 2016-2022

PROJETOS CULTURAIS 2016-2022

O objetivo de ambos foi revisitar e digitalizar o conteúdo do Plano de Preservação do Acervo Cultural da Região Metropolitana de Curitiba (PPACRMC), realizado em 1977. Esse processo iniciou-se com o acervo referente à Curitiba, no primeiro projeto, e foi complementada pelo acervo dos demais municípios envolvidos na antiga pesquisa, no segundo projeto.

Em 2016, foi executado o projeto cultural Patrimônio Edificado de Curitiba: armazenamento digital e sistematização de informações das Unidades de Interesse de Preservação (UIPs), por meio da Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba, com recursos do Fundo Municipal de Cultura (Edital nº 27/2015). Entre 2019 e 2022 foi executado o projeto cultural Patrimônio Edificado da Região Metropolitana de Curitiba, contemplado no 2º Edital do Profice.

A documentação original referente ao PPAC-RMC encontra-se, há mais de quatro décadas, bem acondicionada na Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). Encadernações, fichas, pranchas em papel vegetal e negativos fotográficos estão guardados em suas pastas, capas e caixas de origem, que, de um modo geral, bem conservam os suportes físicos das informações.

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Ao longo desse tempo, a documentação foi pesquisada pelos municípios, por profissionais e pesquisadores que se dispuseram a ir até o local. Também era possível consultar essas informações em instituições como o Ippuc, a Fundação Cultural de Curitiba e a Coordenação do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, porém em fotocópias que, em alguns casos, não permitiam sua apreensão total, em função do tamanho e pouca nitidez. Tornou-se unânime entre os pesquisadores da área da arquitetura e da preservação do patrimônio cultural, a importância desse trabalho, tanto por seu embasamento científico, quanto por seu valor de referência temporal. Passados mais de quarenta anos, considerando a dinâmica urbana intensa Região Metropolitana de Curitiba, é possível rever informações e imagens de edifícios e seus entornos imediatos. Entrar em contato com o acervo documental e fotográfico e inseri-lo em suporte digital teve a pretensão de conhecer e difundir as informações, relacioná-las com as informações atualmente existentes e fomentar a produção de novos conhecimentos sobre edifícios e municípios pesquisados.

Para além da pesquisa documental e da pesquisa de campo, o projeto cultural estabeleceu contato com os municípios, por meio de gestores municipais e técnicos envolvidos na área cultural. A interação com os municípios possibilitou compreender a realidade das políticas públicas e da gestão da preservação do patrimônio cultural, no âmbito municipal. Foram realizadas oficinas com gestores, técnicos, integrantes de conselhos municipais e professores, gerando troca de conhecimentos e diálogos que ampliaram a noção de patrimônio cultural dos diversos territórios pesquisados. Para finalizar, foi realizado o seminário Patrimônio Cultural da Região Metropolitana de Curitiba, reunindo representantes dos entes municipais, estadual e federal. O projeto cultural seguiu as seguintes etapas:

PESQUISA NO ACERVO DA COMEC

A documentação se configura em Cadernos Técnicos (Proposta e Plano de Preservação do Acervo Cultural), Fichas de

22 PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Inventário, Fichas Históricas, Pranchas de Levantamento e Negativos Fotográficos.

No processo de pesquisa, foi detectada a ausência das Fichas Históricas de 34 edificações situadas nos municípios de Balsa Nova (5), Bocaiúva do Sul (1), Campina Grande do Sul (3) e Campo Largo (25). Assim como, foram extraviados 26 negativos fotográficos de edificações situadas nos municípios de Araucária (1), Bocaiuva do Sul (19) e Campo Largo (6).

DIGITALIZAÇÃO INTEGRAL DA DOCUMENTAÇÃO EXISTENTE NO ACERVO DA COMEC

Inicialmente foram digitalizados os documentos, fichas e negativos fotográficos referentes ao município de Curitiba e os Cadernos Técnicos gerais. Em um segundo momento foram digitalizados as fichas e negativos fotográficos referentes aos demais municípios participantes da pesquisa.

A etapa de digitalização contemplou na íntegra a documentação existente.

Ficha de Inventário

DOCUMENTO

Cadernos Técnicos: Proposta, Plano de Preservação do Acervo Cultural, Critérios de Avaliação. Fichas de Inventário Fichas Históricas Levantamento Arquitetônico Negativos Fotográficos FORMATO QUANTIDADE

A4 2350 unidades

A4 760 fichas

A4 124 fichas

A3

159 pranchas 5x5cm 2350 unidades Ficha de Levantamento

Ficha Histórica

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ATUALIZAÇÃO DO REGISTRO FOTOGRÁFICO

Com os documentos em ambiente digital, a próxima etapa foi identificar a localização dos edifícios e lugares inventariados. Em 2016 esse processo foi realizado em Curitiba e entre 20192022 nos municípios da Região Metropolitana participantes da pesquisa. Nesse processo de busca, foram considerados os edifícios existentes e os lugares daqueles que foram demolidos. Nos demais municípios da RMC, foram utilizadas as fotos aéreas de 1985, do acervo da COMEC, possibilitando o reconhecimento de alguns edifícios e localidades.

Inicialmente foram utilizados recursos de programas como o Google Maps, Google Earth e Street View para o mapeamento preliminar. Em Curitiba, o Setor de Geoprocessamento do Ippuc, disponibilizou os arquivos digitais da foto aérea e a restituição de 1972, que facilitaram, principalmente, a localização de edifícios demolidos. Nos demais municípios, foram utilizadas as fotos aéreas de 1985, do acervo da COMEC, possibilitando o reconhecimento de alguns edifícios e localidades. Os registros fotográficos de 2016 foram realizados por Maria Angela Biscaia Vianna Baptista, Maria Lucia Vianna Baptista Borges e Letícia Nardi, em 16 dias de incursões a campo.

Entre 2019 e 2022, os registros fotográficos foram realizados por Letícia Nardi e Bernard Cassiano Greim, em 46 dias de pesquisa de campo. O trabalho de campo foi o momento de refazer os caminhos da antiga pesquisa, confrontar informações, reconhecer lugares, constatar transformações. A vivência de encontrar edifícios existentes em bom estado de conservação ou edifícios que não tinham sido encontrados nas buscas virtuais, foi especial.

Os lugares vazios, as transformações abruptas, os edifícios abandonados ou arruinados geraram decepção e tristeza. As maiores surpresas e emoções foram vividas ao encontrar famílias que ainda permaneciam nos imóveis, descendentes dos antigos proprietários, que contaram histórias, que se surpreenderam com as informações e imagens da década de 1970.

O trabalho apresentou dificuldades inerentes a esse tipo de pesquisa: em alguns casos foi difícil encontrar o imóvel ou a sua localização, devido a mudanças de

Foto: 03-009 - Balsa Nova (1977)

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numeração; erros na descrição do endereço; ou alterações na configuração das ruas, principalmente nas áreas mais afastadas do centro e das sedes dos municípios, cujas ruas e estradas, em 1977, não possuíam nomes oficiais. Nesse sentido, apesar dos esforços, não foi possível identificar a localização de algumas edificações, mesmo após a consulta a interlocutores locais. Alguns casos apresentam diferenças do número descrito no endereço, tornando-o sem nexo na configuração atual das cidades; ou os endereços e localidades descritos e os croquis de localização representados na Ficha do Inventário não fornecem informações suficientes para a localização do edifício.

ORGANIZAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO EM AMBIENTE DIGITAL

A etapa de sistematização das informações em ambiente digital considerou a forma de organização utilizada no próprio Plano de Preservação do Acervo Cultural, onde cada município foi designado por um número, em ordem alfabética. Assim como os municípios, cada edifício ganhou um número complementar de identificação, por exemplo, em Almirante Tamandaré, o município 01, os edifícios foram classificados pelos números 01.001, 01.002 (...).

No ambiente digital, os dados foram agrupados em pastas distintas para cada município e, dentro dessas pastas, foi gerada uma pasta para cada edifício, agrupando os arquivos referentes a Ficha do Inventário, Ficha Histórica, Levantamento Arquitetônico, Imagens de 1977 e Imagens atualizadas. No caso de Curitiba, as pastas contendo os arquivos digitais dos edifícios foram organizadas a partir da numeração da Indicação Fiscal do lote, que é a forma como a gestão municipal organiza os dados das Unidades de Interesse de Preservação (UIPs). Para tanto, foi realizada uma pesquisa no Setor de Patrimônio Histórico do IPPUC para que essa integração fosse realizada.

Os arquivos digitais do primeiro projeto, portanto relacionados ao município de Curitiba, foram incorporados nesse projeto. Para cada Prefeitura Municipal foi entregue um jogo contendo um catálogo e uma mídia digital com os arquivos gerais e os arquivos referentes a todos os municípios envolvidos na pesquisa. O material foi disponibilizado também para instituições como Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba, Coordenação do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura e Superintendência do Iphan do Paraná.

MAPEAMENTO DAS EDIFICAÇÕES E LUGARES

Durante o processo de pesquisa de campo e na sistematização das informações foram coletados dados para a atualização dos endereços dos edifícios e para a localização a partir das coordenadas geográficas.

Hoje, com a evolução dos recursos digitais foi possível estabelecer esse mapeamento. Sua forma geral apresenta a dimensão da pesquisa em termos territoriais totais. Com os dados mapeados, é possível estabelecer análises regionais. Dentro de cada município, é possível ter uma visão do patrimônio edificado a partir do acervo pesquisado e daquilo que é remanescente.

Os dados obtidos foram inseridos na plataforma Google Maps e integrados a imagens de cada edifício.

A disponibilização no site do projeto permite que o usuário consulte um conjunto de informações sobre cada uma das unidades pesquisadas.

DIFUSÃO DAS INFORMAÇÕES

Para além da sistematização das informações e da disponibilização para as instituições públicas, desde o início, o projeto se propôs a difundir a pesquisa. Nesse contexto foram criados o site e as redes sociais identificadas com o nome Patrimônio RMC. O endereço www.patrimôniormc.com.br foi sendo construído, modificado e alimentado durante todo o processo de pesquisa. Para além do site do projeto, os arquivos digitais das fichas e imagens de 1977 estão disponibilizados integralmente no site da COMEC, na aba Acervo Técnico - Plano de Preservação do Acervo Cultural.

As redes sociais (Instagram e Facebook) proporcionaram a comunicação direta com um público diverso. Admiradores de imóveis antigos e da história das cidades, moradores dos municípios pesquisados que encontram suas referências urbanas e familiares, familiares que estão longe e reencontram edifícios de sua infância, gestores e pesquisadores da história, da arquitetura e do patrimônio cultural.

O contato estabelecido a partir da temática da pesquisa conecta universos distintos e evidencia a importância da memória urbana para a identidade de cada indivíduo, de cada família e dos grupos sociais. Esse amálgama de vozes e interlocuções evidencia uma trama de relações que não é tão evidente, mas estrutura o viver cotidiano.

Foto: 14-001 - São José dos Pinhais (1977)

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Foto: 06.034 - Campo Largo (1977)

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