Arnaldo Machado &
Marie Luise Wegner
DIAMANTINA DE OUTRORA ÁLBUM ICONOGRÁFICO 1971/1978 -1983 RIO DE JANEIRO - 2015
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DIAMANTINA DE OUTRORA ÁLBUM ICONOGRÁFICO 1971/1978 - 1983 Autores: ARNALDO MACHADO & MARIE LUISE WEGNER Fotografias e textos: ARNALDO MACHADO Produção Gráfica e Editorial: NOEMI RIBEIRO Edição do Autor / tiragem de 100 exemplares Rio de Janeiro/RJ - Novembro de 2015
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Arnaldo Arnaldo Machado Machado
& &
Marie Marie Luise Luise Wegner Wegner
DIAMANTINA DIAMANTINA DE DE OUTRORA OUTRORA ÁLBUM ICONOGRÁFICO ÁLBUM ICONOGRÁFICO 1971/1978 -1983 1971/1978 -1983
RIO DE JANEIRO - 2015
RIO DE JANEIRO - 2015
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apresentação O Museólogo Arnaldo Machado documentou durante uma década os diversos aspectos da cidade de Diamantina. Do maior ao menor dos detalhes, tudo foi estudado com esmero. Cada aspecto artístico, histórico e arquitetônico, acompanhado de anotações e comentários, transformou-se em esplêndido e raríssimo acervo.
Registrar digitalmente o acervo foi prioritário tendo-se em vista a fragilidade do material. A ação dos reveladores, com o passar do tempo, diminuiu os contrastes e intensidade das cores. Algumas fotografias sofreram danos irreparáveis e não permitiram a digitalização. O arquivo digital mantém a sequência original, a numeração e os títulos estabelecidos por Arnaldo Machado. A oportunidade de apreciar os detalhes e a beleza da arquitetura colonial da cidade Em segundo lugar surgiu a proposta de de Diamantina, hoje Patrimônio Cultural da editoração deste álbum. Humanidade, tem sido um raro privilégio. “Diamantina de Outrora” - Álbum iconográfico O acervo em questão abrange fotografias 1971/1978-1983, contém um significativo número (Kodachromes), negativos, anotações diversas de documentos digitalizados. e textos explicativos que documentam os vários aspectos da cidade em tempos passados. O acervo Apesar do número de reproduções não cobrir de fotografias atinge um número aproximado de todo o acervo, pode-se afirmar que a recuperação 1700 documentos. deste importante arquivo torna esta publicação uma fonte de acesso a um documento iconográfico A abordagem para as etapas técnicas da de valor incomparável e único. recuperação deste precioso acervo foram ditadas pelo estado dos documentos.
Em primeiro lugar as fotos selecionadas foram escaneadas. Após o tratamento de imagem passou- se à criação de um arquivo digital. 4
Noemi Ribeiro
Historiadora da Arte e Artista gráfica Rio de Janeiro - outubro de 2015 www.noemiribeiro.com
SUMÁRIO 1.COLUNAS DE CANTARIA 2.BEIRAIS, CIMALHAS E BUZINOTES 3.CUNHAIS, PILASTRAS E COLUNAS 4.CASAS DE TAIPA 5.CASAS TÉRREAS 6.BALCÕES CORRIDOS 7.BALCÕES ISOLADOS 8.ANTE-PORTAS 9.ARRIMOS DE PEDRA 10.SOLARES E MANSÕES 11.CASAS SOBRADADAS 12.CALÇAMENTO 13.BECOS E TRAVESSAS 14.BALCÕES CORRIDOS 15.BALCÕES ISOLADOS 16.ASPECTOS URBANOS 17.ASPECTOS PANORÂMICOS 18.COZINHAS EM RESIDENCIAS 19.DECORAÇÃO EM INTERIORES 20.ESCADARIAS E ADROS 21.ESPELHOS DE FECHADURAS,
22.ALDRABAS, ARGOLAS DE GIRAR E GONZOS 23.FORROS E SOALHOS 24.GRADES DE MADEIRA 25.BANDEIRAS E POSTIGOS DECORADOS 26.GRADES DE FECHAMENTO DE VÃOS 27.GELOSIAS E TRELIÇAS 28.JANELAS FINGIDAS 29.JANELAS DE VERGAS DE NÍVEL 30.JANELAS DE VERGAS DE NÍVEL E DE CURVA 31. JANELAS DE VERGAS DE ARTE APONTADA 32.CORNIJAS MISTAS 33.JANELAS DE VEDAÇÃO COM “ESCUROS” 34.JANELAS DE GUILHOTINA 35.BANDEIRAS E POSTIGOS DECORADOS 36.GUARDA-CORPOS DE MADEIRA 37.GUARDA-CORPOS DE FERRO 38.SUPORTE DE LUMINÁRIAS, PINHAS 39.MERCADO 40.MUSEU DO DIAMANTE 41.MUXARABI 5
42.ORATÓRIOS 43.MOBILIÁRIO 44.CONFESSIONÁRIOS ANTIGOS 45.ÓRGÃO 46.ÓCULOS, LUNETAS E VÃOS INTERNOS 47.PORTÕES SECUNDÁRIOS LATERAIS E DE QUINTAL 48.PÁTIOS, PORTAS E QUINTAIS 49.PORÕES 50.PORTAS – JANELAS 51.PORTAS ALMOFADADAS 52.PORTADAS 53.PASSADIÇO 54.VESTÍBULOS 55.PEDRAS DE MOINHO 56.PUXADOS AVANÇADOS 57.TARJAS 58.TELHADOS COLONIAIS 59.VÃOS ELEVADOS 60.VÃOS ABERTOS EM EMPENAS 61.VÃOS GEMINADOS 62.VARANDAS ABERTAS E GALERIAS
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63.VARANDAS FECHADAS 64.CIMALHAS SOBRE PORTAS E JANELAS 65.VESTÍBULOS E ESCADAS 66.ARTE RELIGIOSA – IGREJA MATRIZ 67.ARQUITETURA RELIGIOSA – RETÁBULOS 68.ARTE RELIGIOSA – Na. Sa. DA LUZ 69.IGREJA Na. Sa. DAS MERCÊS 70.IGREJA DO CARMO 71.IGREJA S. FRANCISCO DE ASSIS 72.CAPELA DO BONFIM 73.IGREJA DO ROSÁRIO 74.IGREJA Na. Sa. DO AMPARO 75.PALÁCIO EPISCOPAL 76.SANTA CASA DE MISERICÓRDIA 77.HOSPITAL Na. Sa. DA SAÚDE 78.CAPELAS PARTICULARES 79.BIRIBIRI O sumário refere-se aos temas catalogados pelo autor. Por sua extensão estão agrupados por temas para a possível elaboração do álbum iconográfico.
CAPÍTULOS
Capítulo I Aspectos Urbanos Igrejas Passadiço Museu do Diamante Mercado Municipal Becos e Travessas Capítulo II Portas Portas-Janelas Portas Almofadadas Elementos Decorativos Fechaduras Gonzos Argolas Forros Decorados Chafarizes Capítulo III Janelas de Vergas em Curva Janelas de Vergas em Nível e Curva Janelas de Vergas em Nível Janelas de Vergas de Arte Apontada Cornijas Mistas Treliças Gelosias Bandeiras Janelas de Guilhotina com “Escuros” Óculos
p. 10 pp. 11, 12,13 p. 14 p. 17 pp. 18, 19 pp. 20, 21,22, 23 p. 24 p. 27 p. 25 pp.28, 29,30 p. 26 p. 26 p. 26 pp. 28, 29 p.31
Capítulo IV Telhados Coloniais Vãos geminados Varandas Fechadas Varandas Abertas em Galerias Cimalhas Beirais Buzinotes Puxado Avançado Fechamento de Vãos
Arnaldo Machado e Marie Luise Wegner Autor e sua esposa p. 55
p. 42 p. 46, 47 pp. 43,50 p. 50 pp. 48, 49 pp. 46, 48 p. 49 p. 50 p. 51
Conclusões pp. 56, 57 Referências Bibliográficas p.58
p. 34 pp. 34, 35, 37 p.36 p. 35 p. 34 pp. 35, 39 pp. 36, 37 p. 38 p.39
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INTRODUÇÃO
O
texto que abre este “Álbum Iconográfico” foi escrito há décadas e publicado em um catálogo editado pela ACADEMIA JUDIAINSE DE LETRAS, relativo ao biênio 1993-1995, sob o título “Diamantina Querida” (pp. 94/95). O autor era, na época, sócio-correspondente da citada Academia, no Rio de Janeiro. Recentemente, voltando o autor a atenção para a antiga coleção de fotografias da cidade de Diamantina / MG, de pronto constatou que se destacavam valiosos registros feitos nos anos longínquos de 1971 a 1983, em paciente pesquisa históricaartística-arquitetônica, material valioso para os atuais estudiosos e pesquisadores que se interessem pelo passado da velha cidade mineira que o Tempo guardou. Movida por essas razões, partiu a decisão de reapresentar o texto “Diamantina Querida”, nesta introdução. Sempre interessado nas raízes históricas do nosso povo, é fácil entender a atração que me desperta o Estado de Minas Gerais, onde ocorreram episódios épicos no começo da formação da Nacionalidade. Uma das experiências mais marcantes da minha convivência com Minas, vivi com o historiador e artista de mérito Geraldo B. Tomanik, meu particular amigo, quando em 1970 preparávamos um projeto de exposição para o Museu do Banco do Brasil, e percorremos um rosário de jóias do Ciclo do Ouro e do Barroco nas Gerais, em duas etapas: na primeira, Congonhas do Campo, Ouro Preto, Mariana e Tiradentes; na segunda, Bento Rodrigues, Camargo, Santa Rita Durão, Catas Altas, Santa Bárbara, Cocais, Caeté, Sabará, São João Del Rei, São Braz do Suaçuí e Ouro Branco.
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Nesse viajar pela História, não chegamos a visitar Diamantina, no norte do Estado. Mas, logo depois fui conhecê-la e a ela retornei muitas outras vezes, de 1971 a 1978, ano após ano, voltando por último em 1983. Diz uma canção intitulada “Diamantina querida” que quem a conhece logo lhe tem amizade. Naquelas saudosas viagens me tornei íntimo da cidade, aprendi a me deliciar com a poesia de suas ruas e becos, entreguei-me de coração ao seu povo acolhedor, conheci seu Carnaval alegre e recatado, sua Semana Santa cheia de fé, sua encantadora Festa do Divino, com episódios de nobreza na coroação e desfile dos Reis. Tanto essas quanto muitas outras coisas belas fizeram nascer em mim profunda amizade por esse doce recanto mineiro. Hoje revivo com nostalgia as lembranças da “Atenas do Norte” mineira, repassando centenas de fotografias, do meu “Documentário Iconográfico de Diamantina”, pequena caixa de mágicas, que sempre reabre intermináveis quilômetros de estradas de rodagem, a partir do Rio de Janeiro, até que sejam sejam alcançados verdejantes campos pontilhados de sempre-vivas, já se aproximando do planalto diamantinense, cercado de densa formação rochosa – a grupiara –, cantada em versos por Augusto de Lima Júnior - e que envolve a cidade como que a guardá-la do Tempo. Indo mais longe, o documentário repõe, ante os meus olhos, as ruas onde andei tantas vezes e renova a emoção de cada passo pelos lajedos e capistranas polidas, aviva a sensação estética das igrejas de torre única, onde a pedra-sabão não teve lugar, a poesia dos sobrados de balcões corridos, um de sacada com muxarabi, outros com janelas ou varanda de treliça, como a casa de Chica da Silva, a beleza das portadas nobres de destacadas mansões, tudo valorizando ruas e becos de nomes com tanta poesia que gostaria de enumerá-los, sem omitir um só.
ARNALDO MACHADO
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CapĂtulo I
Aspectos Urbanos Igrejas Passadiço Museu do Diamante Mercado Municipal Becos e Travessas
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Vista panorâmica de Diamantina com suas estreitas ladeiras e grandes sobrados. Torre da Igreja das Mercês. Foto do autor, de abril de 1976.
Com um valioso acervo de construções do período colonial, o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade foi tombado, em 1938, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Em 1999, a Unesco concedeu a Diamantina o título de Patrimônio Cultural Mundial. O século XIX traz à arquitetura colonial influências e adaptações que se manifestam em enriquecimentos decorativos, aplicações de novos elementos de acabamento como o ferro, o estuque, o lambrequim e as vergas caprichosas. Estátuas de louça vidrada do reino, coroando pilares de portões ou de muros de jardins, em lugar das esculpidas em pedra, aparecem no século XIX. Do mesmo século são os jardins laterais das casas, com terraços e caramanchões e largas entradas abertas em sólidos muros apilarados. Igreja Matriz, atual Catedral Metropolitana. Foto do autor, de janeiro de 1973. 11
Detalhe do óculo da Igreja de São Francisco. Foto do autor, de março de 1973.
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A Igreja de São Fancisco tem paredes de taipa de pilão e adobe e cunhais de madeira. No detalhe, o óculo da fachada que desce para a frisa, exigindo que esta se curve para coroá-lo superiormente.
Retábulo no altar-mor da Capela do Bonfim. Abaixo: texto do autor descrevendo detalhes arquitetônicos da Capela do Bonfim. Foto do autor, de março de 1976.
Capela do Bonfim. Fotos do autor, de janeiro de 1971. 13
Passadiço da Casa da Glória, atual Instituto Casa da Glória. Foto do autor, de 1971. 14
Do conjunto urbano, sobressai o Passadiço da Glória (ligação entre dois sobrados dos séculos XVIII e XIX). Por este local transitou o autor algumas vezes.
O centro urbano de Diamantina possui a configuração característica das cidades do período colonial. Os caminhos estreitos e sinuosos se organizavam de acordo com as condições topográficas mais favoráveis, porém, sem intenção de ordenação geométrica. A técnica construtiva dos sobrados é a mais simples do período colonial, utilizando nas paredes o pau-a-pique, a taipa de pilão ou alvenaria de adobe, ou tijolos cerâmicos, dependendo do local. As coberturas de telha cerâmica sobre madeiramento que raramente incluía tesouras, sendo mais comum apenas terças e caibros. O piso intermediário era sempre de frisos de madeira sobre coçoeiras transversais.
Tropeiro com sua carga no Beco Juca Valongos. Ao fundo Igreja Na. Sra. das Mercês. Foto do autor, de janeiro de 1983.
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Casa da Cultura de Diamantina. Foto do autor, de 1983.
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O edifício possui volumetria desenvolvida a partir de implantação em lote de esquina. Em sobrado de dois pavimentos, a fachada frontal é valorizada pela repetição de vãos e portas. No segundo andar, a inserção de bandeiras envidraçadas, gradis desenhados e estreito balcão, completam harmoniosamente o solar.
Museu do Diamante Foto do autor, de abril de 1971.
Casa de vulto que pertenceu ao Inconfidente Padre Rolim, onde hoje estรก instalado o Museu do Diamante. 17
Antigo Mercado Municipal. Foto do autor, de 1973.
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Cena do cotidiano no antigo Mercado Municipal que centralizava a distribuição de mercadorias. Foto do autor, de 1973.
Localizado em um dos sítios mais agradáveis da cidade, apresenta à sua frente grande área pavimentada de pedras, onde os tropeiros amarram, em rústicos esteios de pau, os burros com as mercadorias. 19
Cruzeiro com Sudário de Cristo e símbolos do martírio, decoração para a Festa do Divino Espírito Santo. Foto do autor, de 1977. 20
Sobrado colonial na Praça Monsenhor Neves. Ao fundo, Igreja do Bomfim. Foto do autor, de janeiro de 1976.
Sobrado com janelas em guilhotina.O segundo andar tem portas com bandeiras fixas sobre portas-janelas e gradil de ferro batido. Foto do autor, de 1971.
Beco do Amparo na esquina com a Rua do Amparo. BalcĂľes com guarda-corpo em ferro batido Ă direita e janela com verga ondulada Ă esquerda. Foto do autor, de 1973. 21
Em alguns sobrados, no período colonial, faziase um piso suplementar ocupando todo o espaço disponível ou apenas parte dele. Quando uma residência tinha dois pavimentos, ou mais, isso significava que a família possuía posses suficientes para manter escravos, para o transporte de mantimentos e água.
Sobrados no Beco do Carmo. Foto do autor, de janeiro de 1978. 22
Mercado Municipal, visto do Beco do Amparo. Foto do autor, de janeiro de 1978.
Beco Tertuliano de Matos, aparecendo a torre da Igreja do Bonfim ao final da rua. Foto do autor, de janeiro de 1983.
Beco do Tecla saindo no Largo da Cavalhada. Foto do autor, de marรงo de 1972. 23
CAPÍTULO II PORTAS PORTAS-JANELAS PORTAS ALMOFADADAS ELEMENTOS DECORATIVOS FECHADURAS GONZOS ARGOLAS FORROS DECORADOS CHAFARIZES
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Decoração em oratório da capela Casa da Chica da Silva. Fotos do autor datadas de fevereiro de 1972.
Anunciação. Pintura no oratório da capela “Casa de Chica da Silva”. Foto do autor, de 1973. Ao lado direito, porta almofadada na capela da “Casa de Chica da Silva”. Praça Lobo de Mesquita, n. 266. Foto do autor, de 1973. Na página à esquerda, porta da Igreja de Santa Luzia. Foto do autor, de 1974.
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Da esquerda para a direita na linha superior: Três espelhos de fechaduras na “Casa de Chica da Silva”. Espelho de fechadura e trinco de porta de entrada em casa situada na Rua da Caridade, 199. Ver a residência à página 51.
Fotos do autor, datadas das visitas a Diamantina entre os anos de 1971 e 1973. 26
Da esquerda para a direita na linha inferior: Aldraba em bronze, em porta interna do prédio do antigo Correio. Porta localizada no corredor de entrada superior do edifício. Argola de girar na porta do antigo Correio. Rua do Bonfim, 59.
Verso da foto com anotações e especificações sobre os frontões – abertos ou vasados, de lanço e interrompido. Foto do autor, de fevereiro de 1972. Na foto à direita, exemplo de frontão clássico do edifício da União Operária Beneficente. No andar superior portasjanelas com guarda-corpos de ferro batido. Foto do autor, de fevereiro de 1972. 27
Motivo ornamental em madeira policromada. Foto do autor, de março de 1973.
Detalhe da porta do Oratório na “Casa de Chica da Silva”. 28
De modo geral, os forros, assim como as paredes, pintam-se de branco a cal, a tabatinga, a gesso e depois a alvaiade. Havia, porém, forros pintados com decorações florais, conchóides,
Florão com arabescos e volutas. Foto do autor, de março de 1973.
grandes painéis, à semelhança dos edifícios públicos, de que dá notícia Antonio de Cunha Barbosa citado Teto em caixotão decorado com filetes torneados e por Sylvio de Vasconcellos, em Vila Rica. caprichosos. “Casa de Chica da Silva” Foto do autor, de fevereiro de 1971.
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Detalhe das cenas do teto da casa do Contratador João Fernandes de Oliveira à Rua Tiradentes, 36, atual Rua Direita. Fotos do autor, de fevereiro de 1971. 30
Casa com forro pintado com cenas pastorais e românticas, à Rua Tiradentes, 36, atual Rua Direita.
As anotações acima referem-se a detalhes de interiores de residências. Anexo em foto do autor, de 1971.
A reprodução das anotações do autor evidenciam aspectos construtivos e contribuem para a memória de importante patrimônio cultural. Estes estudos põem em evidência aspectos esquecidos da cidade que passou por grandes restaurações nos anos 90 do século passado. Chafariz no pátio da “Casa de Chica da Silva”, datado de 1885. Foto do autor, de fevereiro de 1983. 31
Capテュtulo III Janelas Fingidas Janelas de Vergas em Curva Janelas de Vergas de Nテュvel e curva Janelas de Vergas de Arte Apontada Cornijas Mistas janelas de guilhotina Gelosias Treliテァas Bandeiras テ田ulos
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Anotações do autor, de janeiro de 1971.
Nestas anotações do autor acompanhamos as descrições das vergas de portas e janelas que podem ser de segmento de curva, ondulantes em forma de serpentina com curvas e contracurvas acentuadas, além das vergas caprichosas que enriquecem os aspectos arquitetônicos da cidade de Diamantina. Em Diamantina são abundantes os sobrados Torre sineira da Igreja do Bonfim com grimpa sobre esfera armilar. Janelas com vergas em curva. Vista de um dos com bandeiras decoradas, janelas com vergas retas balcões de casa na Praça Monsenhor Neves, 59. e simples, além de portas almofadadas e janelas à Foto do autor, de janeiro de 1974. francesa, ou seja, com bandeiras fixas.
Ao lado, “Casa de Chica da Silva”. As portas-janelas com guarda-corpo em madeiras torneadas enfeitam a pequena sacada com balcão. Foto do autor, de janeiro de 1971. 33
Rua Francisco Sá, sem número. Foto do autor, de janeiro de 1971
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Exemplo de sacadas isoladas com janelas de púlpito e guarda-corpo com vigas torneadas em madeira e beiral com cachorros. Nesta sacada há um exemplo de muxarabi, o único existente em Diamantina.
Vergas de nível e gelosias de treliça com vãos fixos e grades de madeira torneada. Rua do Rosário, sem número. Foto do autor,de janeiro de 1983.
Hospital Na. Sa. da Saúde, pavilhão Barão do Paraúna na Praça Redelvin Andrade, 564. Janela com cornija mista. Edifício construído na administração do Prefeito Mário Guerra Paixão, em 1958. Foto do autor, de abril de 1974. À direita, exemplo de beiral com cachorros de madeira, em residência à Praça Dom Joaquim Silvério de Souza, nº 112. Foto do autor, de janeiro 1983. 35
Janelas de vergas de arte apontadas com bandeiras fixas e caixilhos de vidro colorido. Telhado com guarda-pó no beiral. Rua Macau de Baixo, n. 32 . Foto do autor, de 1974. 36
O romantismo das casas de Diamantina é decorrente da enorme variedade no desenho das bandeiras de portas e janelas. Os vidros coloridos em caixilhos de finas varetas em pinho de riga, dão às casas um requinte de composição.
Prédio do Fórum de Diamantina, antiga Câmara Municipal. Janela com bandeiras, escuros e losangos do caixilho em vidro colorido. Casa imponente que foi construída para ser residência particular. Foto do autor, de março de 1973.
Sobrado na Rua Macau esquina com Rua São Francisco. Exemplo de verga ondulante e meia coluna geminada, angular jônica. Foto do autor, de janeiro de 1972. 37
A foto apresenta um exemplo de janelas de guilhotina com escuros e detalhes decorativos sobre as vergas de nível. Foto do autor, de janeiro de 1983. 38
Praça Olímpio Mourão, 59, aparecendo em primeiro plano parte do prédio do Instituto Profissional Mariana Mourão.
Janela com gelosia e vão fixo com grades de madeira. Abaixo do beiral, óculos para iluminação interna da residência. Exemplo de casa “porta e janela”, à Rua Bonfim, 111. Foto do autor, de fevereiro de 1971. No frontão simples da Igreja do Rosário, um óculo em arco, envidraçado, sacadas laterais com guarda-corpo em ferro batido e portada almofadada, porém, simples. Foto do autor, de janeiro de 1974. 39
Através destas janelas podemos percorrer os ambientes e imaginar as vidas que se passaram no seu interior. Preservar o pouco da memória arquitetônica que escapou à sanha demolidora que marcou o século XX, se converte em responsabilidade. A análise dos diversos elementos arquitetônicos reproduzidos neste álbum iconográfico nos ajuda a ampliar o conhecimento, a valorizar a história singular de uma sociedade, seus hábitos e formas de vida.
Janelas de vergas de nível na lateral da Santa Casa de Caridade. Janelas fingidas na lateral da antiga Casa da Glória, compondo a simétria da fachada. Rua Caminho do Carro, 265. Praça dos Garimpeiros. Foto do autor, de março de 1971. Foto do autor, de março de 1976. 40
Vão de ventilação interna na sacristia da Igreja das Mercês. Foto do autor, abril de 1974.
Rua Macau de Baixo, entre os números 40 e 62. Exemplo de denticulados na decoração arquitetônica. Foto do autor, abril de 1974.
Janelas, no segundo andar, com cornijas mistas. Rua do Burgalhau, 157. Foto do autor, de fevereiro de 1983. 41
Capítulo IV Telhados Coloniais Vãos geminados Varandas Fechadas Varandas Abertas em Galerias Cimalhas Beirais Buzinotes Puxado Avançado Fechamento de Vãos
Festa do Divino Espírito Santo Foto do autor, de fevereiro de 1983.
Para conhecer a vida dos habitantes de Diamantina, o autor planejou um levantamento arquitetônico e fotográfico completo das habitações, igrejas, solares e mansões. Iniciado em 1971, o levantamento teve prosseguimento até 1978. Após um hiato de quatro anos, em 1983, o autor voltou a visitar a cidade e a documentar as mudanças ocorridas. Igreja do Amparo vista do mirante da Casa da Cultura na Praça Antenor Eulálio, n. 57. Foto do autor, de 1977. Rua do Contrato, sem número. Foto do autor, de 1983. 43
Vista dos telhados coloniais de Diamantina Foto do autor, de 1973. Abaixo exemplo de telhado com lambrequim.
Telhado de residência à Rua do Rosário, vista do Beco do Amparo. Foto do autor, de 1973. 44
Os telhados são, por assim dizer, a marca da arquitetura colonial. As telhas são sempre em cerâmica, de capa e canal, ou capa e bica, também chamadas telhas canal ou colonial. Fora do Brasil são conhecidas por telhas árabes ou mouriscas. Inicialmente eram moldadas artesanalmente por escravos. As antigas varandas que eram o lugar de maior convívio das famílias, com o passar do tempo, viram crescer o emprego de caixilhos vedando os vãos que se abrem em todo o correr de uma parede, como nas varandas dos pátios internos dos colégios. Por questões de segurança e isolamento com a rua foram criadas as varandas cobertas. No caso da varanda da foto da página ao lado, o vão foi tratado com caixilhos de vidro para melhor proteção e isolamento. Balcão corrido, rotulado, com cobertura, no Beco do Tecla. A varanda correndo toda a fachada tem guarda-corpo em treliça. Casa na esquina da Rua Guaicuí, sem número. Foto do autor, de janeiro de 1971. 45
Casa de taipa em ruína. Rua Juca Neves. Vão de fechamento com gradeado em madeira. Foto do autor, de fevereiro de 1971.
Observa-se nesta casa, situada na Rua Juca Neves, o prolongamento das ombreiras até o baldrame. As vergas estão mais próximas do frechal do que o peitoril do baldrame. O telhado de quatro águas finaliza a casa assente sobre o solo. Na foto superior à direita vemos um belo exemplo de telhado de quatro águas. Aqui aparecem o exemplo de vãos geminados: portasjanelas. As vergas em curva são vistas nas casas da arquitetura civil. Praça Barão de Guaicuí, n. 131. 46
Obs: O termo Tacaniça designa a madeira que vai da cumeeira até o encontro de dois frechais, sobre os cunhais. Nos telhados de mais de duas águas, duas Tacaniças determinam um pano triangular. A essa parte da cobertura costumou-se dar o nome Tacaniça.
Ideia de prédio modesto com janelas de caixilhos retilíneos de vergas em curva, à Praça Dom Joaquim, antigamente Largo do Rosário. Fotos do autor, de fevereiro de 1972. A foto acima, mostra o Largo do Rosário e a casa, em data anterior a 1972.
Analisando-se esta ruína de casa, conclui-se que houve a intenção de se dar maior apuro ao vão que fica para o lado principal da praça, resultando daí dois tipos de vãos de janelas, sendo a lateral, menos importante que a da frente, para a Praça. 47
“Casa de Chica da Silva”, na Praça Lobo de Mesquista, 266. Decoração em cimalha no beiral da fachada lateral do pátio. Ao lado, beiral de telhado na casa n. 112 da Praça Dom Joaquim Silvério de Souza. Fotos do autor, de fevereiro de 1983. 48
Foi comum em alguns telhados o emprego do guarda-pó, isto é, um forramento de tábuas entre caibros e ripas. O emprego mais comum deste recurso foi nos beirais providos de cachorros torneados em madeira.
Praça Monsenhor Neves, 59. Beiral com cachorros de madeira. Foto do autor, de março de 1974.
Praça Monsenhor Neves, 59B. Suporte de luminária em um dos balcões e buzinote. Foto do autor, de março de 1974.
As fotos exemplificam bem o uso dos recursos de acabamento dos telhados. As casas eram alinhadas pela divisa frontal e geminadas nos dois lados – casas em correnteza –, criando a chamada rua corredor. Isto em parte se deve à precariedade das técnicas construtivas. Sabendo-se que a taipa de
Rua Macau de Cima, 115. Beiral de telhado com buzinotes. Foto do autor, de março de 1976.
pilão, ou o pau-a-pique, eram vulneráveis à chuva, um dos modos de protegê-las das intempéries era colar empena com empena, restando somente duas fachadas expostas. Os beirais e varandas se incumbiam da proteção das paredes, além de criar elementos de interesse decorativo. 49
Balcão coberto na “Casa de Chica da Silva”, Praça Lobo de Mesquita, 266. Varanda coberta dos fundos. Foto do autor, de março de 1983. 50
Puxado avançado em sobrado no Beco do Tecla esquina com Rua Guaicuí. O reboco caído deixa ver os tijolos e o madeiramento. Foto do autor, de janeiro de 1971.
A foto mostra a decadência que corroía a cidade de Diamantina na década de setenta. As cimalhas, importante detalhe decorativo e de acabamento dos telhados, emprestam harmonia e elegância. As janelas fingidas, à esquerda da porta, completam a simetria da fachada. Rua Macau de Cima, 115. Foto do autor, de março de 1976.
A beleza dos diversos elementos artísticos contribuem com o colorido especial da cidade que é hoje Patrimônio Cultural da Humanidade, pelo conjunto do seu legado arquitetônico. O imponente sobrado reflete, apesar da decadência, o período áureo das extrações na Chapada Diamantina. 51
O texto do autor explica as particularidades do balcão do sobrado, em que aparecem painéis rotulados e almofadas inferiores em treliça. Este balcão apresenta uma adaptação de antigos muxarabies. Os balcões em balanço, rotulados, cobertos por prolongamentos do telhado principal, como o da foto, são raros em Diamantina como foi documentado por Sylvio de Vasconcellos. Rua Monsenhor Neves, n. 44. Balcão corrido, rotulado, treliças, almofadas e beiral com cachorros fazendo a cobertura. Foto do autor, de fevereiro de 1972. 52
Varandas fechadas passaram a acontecer no início do século XIX, por necessidade de proteção e abrigo. Foto do autor, de fevereiro de 1983.
Vista da varanda fechada que se intercalou entre essas duas casas na Rua da Caridade, ns. 199 e 205. Foto do autor, de fevereiro de 1983. 53
Rua Monsenhor Neves, 44. Balcão corrido, rotulado, com cobertura. Fotos do autor, de janeiro de 1971.
Os painéis de treliça fazem o guarda-corpo da varanda que é protegida por telhado. As janelas em verga de nível, com guilhotinas e escuros do segundo andar são coincidentes com as inferiores, dando harmonia ao conjunto. 54
Arnaldo Machado na varanda da casa à Praça Olímpio Mourão, 59. Ver foto da casa à página 38.
Marie Luise Wegner, na sala da “Casa de Chica da Silva”. Fotos do autor, de 1978.
Arnaldo Machado e Marie Luise Wegner Historiador e Museólogo, nasceu a 14 de abril de 1921, em Ribeirão Preto, São Paulo. Usando uma máquina fotográfica Agfa, o autor, acompanhado de sua esposa Marie Luise, durante os anos em que viajavam a Minas Gerais, estudou detalhadamente a arquitetura colonial de Diamantina. Hoje, aos 94 anos, rememora os detalhes das inúmeras viagens através das fotos que remetem a momentos felizes e de investimento ardoroso. A reconstituição dessa história fotográfica implica em um processo de criação de realidades, pois somos os receptores deste legado cultural ímpar. Como nos diz Roland Barthes em “A câmara clara“: “A vidência do fotógrafo não consiste em “ver”, mas, estar lá”.
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Fotos do autor, de 1983. Festa do Divino Espírito Santo.
CONCLUSÕES A Diamantina de hoje, cidade tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), com o título de Patrimônio Mundial, no dia 4 de dezembro de 1999, não é mais a mesma cidade de profunda beleza que foi exaltada por inúmeros autores que a visitaram no passado. Um acervo arquitetônico único, de riqueza inestimável foi restaurado, porém, a singularidade histórica, a beleza singela de suas janelas, a poesia dos becos e travessas, o movimento dos tropeiros, e a felicidade das crianças vestidas de anjos nas festas religiosas, foram sendo lentamente substituídos por ritos modernos, transportes mecânicos e conversas apressadas. O IPHAN considera o conjunto urbanístico e arquitetônico ainda íntegro, porém, a expressão da Diamantina de outrora permanece como um pálido registro. Este álbum iconográfico tenta resgatar um mínimo da História de um lugar que significou para os autores um paraíso perdido na profunda geografia de Minas Gerais. 56
Diamantina, pequena jóia incrustada na Serra do Espinhaço, preservada por suas características arquitetônicas, é um dos raros recantos restantes do ciclo de mineração do ouro e diamante nas Minas Gerais. Testemunha dos abusos cometidos em suas serras, permanece silenciosa e hospitaleira. Suas histórias de escravos, lendas de assombrações e fantasmas, permeiam a imaginação de quem busca nas suas vielas um Brasil intacto e primordial.
Na foto maior, vista panorâmica de Diamantina. O frontão da Igreja do Carmo aponta entre os telhados coloniais.
Porta janela da Igreja de Santa Luzia. Telhado colonial e torre da Igreja do Amparo. Igreja do Carmo. Fotos do autor, de 1976 a 1983.
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Referências Bibliográficas
ABREU, I. F., CALDEIRA, A. B. Síntese do Atlas Digital de Bens Móveis e Imóveis de Minas Gerais inscritos nos Livros de Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN). Belo Horizonte, 2007. ALMEIDA, L. M. de. Passeio a Diamantina. Colóquio: Letras, Edições 5-10 Fundação Calouste Gulbenkian, 1972. Arquitetura colonial no Brasil (blog). https://brasilarqui.wordpress.com/2-neoclassico-no-brasil-2/ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (portal) IPHAN: http://portal.iphan.gov.br/ bibliografiaPatrimonio / Diamantina VASCONCELLOS, Sylvio de. Vila Rica: Formação e desenvolvimento, residências. Editora Perspectiva. Rio de Janeiro, 1977. –––––––––––––, et alli. Arquitetura, arte e cidade: textos reunidos. Companhia Editora Nacional. Rio de Janeiro, 1968.
Impressão Digital Trio Studio - www.triostudio.com.br Papel do miolo em Offset 120 gm2 Capa em Couchê 160 gm2 Textos em Calibri corpo 12 e 14 Acabou-se de imprimir em novembro de 2015 Rio de Janeiro / RJ
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Arnaldo Machado Autor e o acervo de fotos de Diamantina. Preparação do arquivo para a publicação. Foto de 2015.
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Arquidiocese de Diamantina. Foto de Fernando Bezerra, 1911.
Foto do autor, sem tratamento digital, de janeiro de 1973.