Palavra Ano 2 | Fevereiro/Março/Abril 2015
Edição Especial
Atrás da www.paroquiasdescalvado.com.br
o mistério pascal A unidade do mistério pascal tem algo importante que nos ensinar. Campanha da Fraternidade “Eu vim para servir” Aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade.
Páscoa Festa de são sebastião |
do
Cristo RESSUSCITADO
Eucaristia
| dízimo
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Quaresma | descalvado antigo
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o tempo Pascal
Editorial
a verdadeira
conversão Queridos irmãos em Cristo, Eis que chega a celebração mais importante para os cristãos: a Páscoa. Em nossa reportagem de capa, falaremos sobre a origem e evolução da celebração pascal do ponto de vista histórico e doutrinário. Ao longo do texto, nossos leitores vão notar que Jesus nos convida o tempo todo à conversão. Quando Ele morreu para nos livrar de nossos pecados, deu-nos o testemunho de seu amor benevolente e misericordioso. Com sua ressurreição, somos convidados a também desfrutar da glória da vida eterna por Ele prometida. Para isso basta um “sim” de coração aberto. Essa reflexão faz parte do artigo sobre o tempo quaresmal que nossos leitores encontrarão nas próximas páginas. A Campanha da Fraternidade 2015 é outro importante assunto que trazemos para nossos leitores. Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir”, a Igreja quer lembrar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo com a sociedade. É hora de refletir, meditar, rezar e agir concretamente em prol do irmão. Momento oportuno para isso é o Dia Mundial dos Doentes, assunto abordado dentro da Pastoral da Saúde. Dando continuidade à proposta de resgatar a história de nossa cidade, vamos conhecer um pouco mais sobre a igreja e sociedade descalvadense no inicio do século. Mais um ano, mais uma oportunidade de trilhar o caminho de Deus. Que o Espírito Santo toque todos corações para a verdadeira conversão.
Boa leitura
Pe. Antonio Carlos de Almeida
Nesta Edição
4. quaresma: o grande retiro dos cristãos 6. CAMPANHA DA FRATERNIDADE - EU VIM PARA SERVIR 8. o mistério pascal 11. dízimo não é devolução, mas gratidão 12. RELIGIÃO E COTIDIANO NO DESCALVADO ANTIGO 16. SAúde - dia mundial do doente 17. Por que participo da missa?
A Revista Atrás da Palavra é uma publicação da Pastoral da Comunicação das Paróquias de Descalvado www.paroquiasdescalvado.com.br Coordenação geral Pe. Antonio Carlos de Almeida Conselho Editorial Pe. Alex Sander Turek Machado Pe. Antonio Carlos de Almeida Pe. Valdinei Antonio da Silva Pe. Angelo Rossi Direção Executiva e Editorial Fernando Vicente Serpentino Tiago Serpentino Mauricio Mazola Wanessa Garcia Comercial Sergio Rui | Vagner Basto Jornalista Responsável e Redação Katia Carminatto – MTB 23.255/sp Revisão Renata Marcondes de Paula Projeto Gráfico e Diagramação Thatto Comunicação Colaboradores Pe. Angelo Rossi Pe. Antonio Carlos de Almeida Pe. Alex Sander Turek Machado Pe. Valdinei Antonio da Silva Camila Pedezzi Danilo Servilha Rizzi João Geraldo Martins Filho Lara Danaga Marco Antônio Pratta Impressão Quatrocor Gráfica e Editora Tiragem 1.000 exemplares Fale Conosco Sugestões e comentários podem ser enviados para o email: contato@paroquiasdescalvado.com.br As matérias assinadas são de inteira responsabilidade dos autores, não expressando necessariamente a opinião da revista. A responsabilidade sobre os anúncios publicados é exclusiva do anunciante, no que tange às normas do CONAR. A responsabilidade pelos serviços e produtos anunciados é integral e exclusiva do anunciante, cabendo à revista apenas a veiculação das informações, sem que isso implique em qualquer aprovação ou vinculação ao conteúdo anunciado. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial da revista, exceto por autorização escrita do editor, estando sujeito o infrator às penas previstas em lei. seja um assinante Faça a assinatura da revista Atrás da Palavra e receba seu exemplar em casa. Informe-se junto às secretarias das paróquias ou ligue para um dos telefones abaixo: (19) 3583. 8261 / 3583.5038 / 3583.1282 assinatura@paroquiasdescalvado.com.br
Quaresma
uaresma Q o grande retiro dos cristãos
Na caminhada quaresmal não vamos ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a Ressurreição do Senhor e nossa. QUARESMA Por Pe. José Cipriano Ramos Filho
A
palavra Quaresma vem do latim ”quadragésima”. Esse tempo litúrgico compreende os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa antes da missa da Ceia do Senhor. O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da Bíblia: os 40 anos de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na montanha, os 40 dias de caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os 40 dias de Jesus jejuando no deserto.
O espírito quaresmal é de um grande retiro de quarenta dias, durante os quais a Igreja propõe aos seus fiéis o exemplo de Cristo. A Quaresma não tem sentido isolada da Páscoa. Na caminhada quaresmal não vamos ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a Ressurreição do Senhor e nossa. As origens da quaresma são antigas e estão ligadas a outros acontecimentos, como a preparação dos catecúmenos ao Batismo, e a prática das penitências, muito em voga nos primeiros séculos. Já no século IV se fala de quaresma penitencial; nos séculos II e III, costumavam-se fazer alguns dias de jejum em preparação à Páscoa. 4
Atrás da Palavra
LATIM quadragésima Esse tempo litúrgico compreende os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa antes da missa da Ceia do Senhor.
A Igreja, neste tempo quaresmal, une-se todos os anos ao mistério de Jesus no deserto. Portanto o espírito quaresmal é de um grande retiro de quarenta dias, durante os quais a Igreja propõe aos seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no deserto, e se prepara para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.
As cinzas
O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da Bíblia: os 40 anos de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na montanha, os 40 dias de caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os 40 dias de Jesus jejuando no deserto.
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(que são os ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior) que recebemos em nossa fronte no início da Quaresma, é um sinal de que nos comprometemos com uma verdadeira conversão. As cinzas são o símbolo da fragilidade humana, lembrando-nos a passagem bíblica que diz que ”tu és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19).
A penitência Tradução latina da palavra grega “metanóia”, que na Bíblia significa conversão (literalmente, mudança de espírito) do pecador, designa todo um conjunto de ações interiores e exteriores dirigidas para a reparação do pecado cometido e o estado das coisas que resulta dele para o pecador. Literalmente, mudança de vida se diz do ato do pecador de voltar a
Deus depois de ter estado distante de Deus, o do incrédulo que alcança a fé. A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres da Igreja nos falam de três formas: o jejum, a oração e a esmola, que expressam a conversão com relação a si próprio, a Deus e aos outros. Todos os fiéis, cada um a seu modo, estão obrigados a fazer penitência pela lei divina. Para que todos se
unam na observância de alguma prática, são prescritos dias penitenciais, que devem ser cumpridos com a maior fidelidade (cf. Código de Direito Canônico, 1249). No tempo da Quaresma, prescreve-se jejum e abstinência de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e, as sextas-feiras, como memória da morte do Senhor, são momentos fortes de prática penitencial da Igreja.
praticando as obras de misericórdia. Os católicos, na Quaresma, tem que cumprir o preceito do jejum e da abstinência, assim como confessar-se e fazer
dade. Obriga-se a viver a lei do jejum todos os maiores de idade, até que tenham cumprido 59 anos (Catecismo da Igreja Católica, 1252). A abstinência é a privação de comer carne e seus derivados, e a lei da abstinência obriga todos os que já fizeram 14 anos. (Catecismo da Igreja Católica, 1252) Temos que participar melhor deste tempo que a Igreja nos propõe dentro do mistério pascal. Somos convidados à participação dos sacramentos, da missa, à participação nas comunidades, nas viasacras, nas celebrações penitenciais. ■
A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres da Igreja nos falam de três formas: o jejum, a oração e a esmola, que expressam a conversão com relação a si próprio, a Deus e aos outros.
tempo de participar “Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações como sinal de penitência, as privações voluntárias como jejum e a esmola, a comunhão cristã dos bens obras de caridade e missionárias.” (Catecismo da Igreja Católica, 1438). Somos chamados a concretizar o desejo de conversão realizando as seguintes obras: indo ao encontro do Sacramento da Reconciliação (Penitência ou Confissão), fazendo uma clara confissão e arrependendo-nos de todo coração; superando as divisões, perdoando e crendo no espírito fraterno;
Temos que participar melhor deste tempo que a Igreja nos propõe dentro do mistério pascal. sua comunhão pascal. O jejum consiste em fazer uma só refeição ao dia, ainda que se possa comer menos do que o costume de manhã e à noite. Não se deve comer nada entre as refeições principais, salvo em caso de enfermi-
Boa quaresma a todos! (Diocese de Piracicaba www.catequisar.com.br)
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Foto • diocesedelimeira.org.br
Igreja e Sociedade
“Eu vim para (Mc 10:45)
Ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana.
OBJETIVOS DA CAMPANHA
C
om o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. O documento reflete a dimensão da vida em sociedade que se baseia na convivência coletiva, com leis e normas de condutas, organizada por critérios e, principalmente, com entidades que “cuidam do bem-estar daqueles que convivem”. Na apresentação do texto, o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, explica que a Campanha da Fraternidade 2015 convida a refletir, meditar e rezar a relação entre Igreja e sociedade. 6
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“Será uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade, estejam a serviço de todos”, comenta dom Leonardo.
Proposta do subsídio
O texto base está organizado em quatro partes. No primeiro capítulo são apresentadas reflexões sobre “Histórico das relações Igreja e Sociedade no Brasil”, “A sociedade brasileira atual e seus desafios”, “O serviço da Igreja à sociedade brasileira” e “Igreja – Sociedade: convergência e divergências”.
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Na segunda parte é aprofundada a relação Igreja e Sociedade à luz da palavra de Deus, à luz do magistério da Igreja e à luz da doutrina social. Já o terceiro capítulo debate uma visão social a partir do serviço, diálogo e cooperação entre Igreja e sociedade, além de refletir sobre “Dignidade humana, bem comum e justiça social” e “O serviço da Igreja à sociedade”. Nesta parte, o texto aponta sugestões pastorais para a vivência da Campanha da Fraternidade nas dioceses, paróquias e comunidades. O último capítulo do texto base apresenta os resultados da CF 2014, os projetos atendidos por região, prestação de contas do Fundo Nacional de Solidariedade de 2013 (FNS) e as contribuições enviadas pelas dioceses, além de histórico das últimas Campanhas e temas discutidos nos anos anteriores.
Objetivo geral da CF – 2015 CNBB Aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.
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Objetivos específicos da CF – 2015 CNBB Fazer memória do caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios da situação atual. Apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente humanizantes.
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Identificar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral. Aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas.
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Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa, família e sociedade. Atuar profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária.
o significado do cartaz:
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ORAÇÃO
O cartaz da CF 2015 retrata o Papa Francisco lavando os pés de um fiel na Quinta-feira Santa de 2014. A Igreja atualiza o gesto de Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos. O lava-pés é expressão de amor capaz de levar a pessoa a entregar sua vida pelo outro. E com este amor que todo ser humano é amado por Deus em Jesus Cristo. Ao entregar-se à morte na cruz e ressuscitar, como celebramos na Páscoa, Jesus leva em plenitude o Eu vim para servir (cf. Mc 10,45).
Ó Pai, Alegria e esperança de vosso povo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da história. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão, seja vossa igreja testemunha viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz. Enviai o vosso Espírito da verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário, sinal do Reino que há de vir. Por Cristo Senhor nosso. Amém!
2 A Igreja Católica, através de suas comunidades, participa das alegrias e tristezas do povo brasileiro. O Concílio Vaticano II veio iluminar a missão evangelizadora da Igreja. Evangelizar pelo testemunho, dialogando com as pessoas e a sociedade. No diálogo, a Igreja (as comunidades) está a serviço de todas as pessoas. Ao servir, ela participa da construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica. No serviço, ela edifica o Reino de Deus. ■
Fonte: http://diocesedelimeira.org.br/campanha-da-fraternidade-2015
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Matéria de Capa
A unidade do mistério pascal tem algo importante que nos ensinar. Diz-nos que a dor não somente é seguida pelo gozo, senão que já o contém em si.
O Mistério
Pascal Por Pe. Antonio Carlos de Almeida
Nome e significado teológico
A
língua latina assumiu a palavra aramaico grega páscha, derivada do hebraico pessach. Essa palavra se refere primeiramente ao fato de o anjo punidor passar de largo pelas casas dos israelitas no Egito, mas por extensão também a todo o evento da libertação de Israel da escravidão egípcia. Em sua memória, os judeus celebram, no dia 14 de nisã (primeira lua cheia da primavera), sua festa do pessach. O evento do pessach tornou-se o týpos para o mistério pascal cristão, que se transformou, para os fieis, na fonte de salvação, em virtude da passagem de Cristo, do sofrimento e da morte para a ressurreição. Esse mistério salvífico, culmina na cruz e ressurreição, na exaltação que Cristo experimenta mediante a ação do Pai, livrando-o de sua humilhação (Lc 24, 26; Fl 2, 8s), na travessia do mar de sofrimento rumo a glória junto do Pai. Sua consuma8
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ção se dará no final, na superação definitiva da morte e no pleno estabelecimento do reinado de Deus (1 Cor 15, 24-28). Porém, em Cristo, os fieis já agora foram arrancados da morte e transpostos para o reino do Pai; o agir salvífico de Deus na Páscoa, o mistério pascal, lhes foi proclamado, e nele inseridos pelo batismo (Rm 6, 4); sempre que celebram a ceia do Senhor – Eucaristia –, eles continuam proclamando sua morte até que ele retorne (1 Cor 11, 26). Com outras palavras: na vida da Igreja, na Liturgia, o evento pascal permanece presente e continua eficaz.
O evento do pessach tornou-se o týpos para o mistério pascal cristão, que se transformou, para os fieis, na fonte de salvação, em virtude da passagem de Cristo, do sofrimento e da morte para a ressurreição.
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Sendo assim, a expressão “mistério pascal” se refere ao agir salvífico de Deus em nós, que possui na morte e ressurreição de Cristo seu centro permanente. Por isso, a Constituição sobre a Liturgia do Concílio Vaticano II considerou a posição da Liturgia a partir da ótica do conceito do mistério pascal. Reiteradamente ela se baseia nesse conceito central ao tratar diversos aspectos da Liturgia: o domingo é o centro da semana cristã, de modo especialmente intenso na celebração anual da Páscoa; também nas celebrações em memória dos santos, a Igreja proclama o mistério pascal através dos santos que sofreram com Cristo e foram glorificados com Ele. Assim sendo, nos sacramentos e nas celebrações do ano litúrgico (inclusive na liturgia das horas diária) já está presente de forma oculta o agir salvífico de Deus, que, no final dos tempos, será revelado abertamente em Cristo diante do mundo inteiro.
Matéria de capa
Origem e evolução da celebração pascal Paralelamente ao domingo com o primeiro dia comemorativo semanal do mistério pascal, deve ter havido já bem cedo também uma celebração anual da morte e ressurreição de Cristo, como Paulo deixa transparecer em 1 Cor 5, 7s. A respeito da data da Páscoa houve, no século II, a “controvérsia da festa da Páscoa”: enquanto as comunidades da Ásia Menor e da Síria continuaram a observar a data do pessach judaico (dia 14 de nisã, “quartodecimanos”), o restante da Igreja festejou a Páscoa do domingo subsequente. Segundo o historiador eclesiástico Eusébio, os dois partidos celebravam, cada um na sua data festiva, uma celebração litúrgica com ceia eucarística precedida de jejum. Ambos celebravam o mistério pascal em sentido abrangente. Assim, ao passo que os primeiros séculos celebraram a Páscoa em toda a plenitude de sentido, ou seja, morte, ressurreição e exaltação do Senhor em um só dia, a partir do século IV, essa temática coesa começou a ser fracionada e seus aspectos parciais destacados em virtude de uma visão mais historicizante e uma forma de representação imitativa. Originalmente a celebração da noite de Páscoa, enquanto “mãe de todas as santas vigílias” (Agostinho de Hipona), era marcada até a meia-noite pelo jejum e pesar pela morte de Jesus, mas enquanto vigília noturna também pela expectativa do retorno do Senhor para a sua comunidade; após a meia-noite, porém, instalava-se a alegria pela ressurreição e exultação com o início da celebração eucarística. O conjunto dessa celebração foi substituído, no século IV, pelo “santíssimo tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado” (Agostinho de Hipona). O tríduo pascal com suas celebrações litúrgicas compõe a ce-
lebração anual propriamente dita do mistério pascal, o “ápice de todo o ano litúrgico”: ele “começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor, possui seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as vésperas do domingo da ressurreição”. O tríduo pascal se considerava como três dias de preparação para a festa da Páscoa; compreendia a quinta-feira, a sexta-feira e o sábado da Semana Santa. Era um tríduo da paixão. No novo calendário e nas normas litúrgicas para a Semana Santa, o enfoque é diferente. O tríduo se apresenta não como um tempo de preparação, mas sim como uma só coisa com a Páscoa. É um tríduo da paixão e ressurreição, que abrange a totalidade do mistério pascal. Assim se expressa no calendário: Cristo redimiu ao gênero humano e deu perfeita glória a Deus principalmente através de seu mistério pascal, pois ao morrer destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida. O tríduo pascal da paixão e ressurreição de Cristo é, portanto, a culminação de todo o ano litúrgico. Esta unificação da celebração pascal é mais acorde com o espírito do Novo Testamento e com a tradição da Igreja primitiva. O mesmo Cristo, quando aludia a sua paixão e morte, nunca as dissociava de sua ressurreição. A unidade do mistério pascal tem algo importante que nos ensinar. Diz-nos que a dor não somente é seguida pelo gozo, senão que já o contém em si. Jesus expressou isto de diferentes maneiras. Por exemplo, no último jantar disse a seus apóstolos: “Se entristecerão, mas sua tristeza se trocará em alegria” (Jo 16,20). Parece como se a dor fosse um dos ingredientes imprescindíveis para forjar a alegria. A metáfora da mulher com dores de parto o expressa maravilhosamente. Sua dor, efetivamente, engendra alegria, a alegria “de que ao mundo lhe nasceu um homem”.
O tríduo pascal com suas celebrações litúrgicas compõe a celebração anual propriamente dita do mistério pascal, o “ápice de todo o ano litúrgico”: ele “começa com a missa vespertina da Ceia do Senhor, possui seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as vésperas do domingo da ressurreição”. Especial Páscoa | Revista Católica
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Amar aqueles que lhe amam é fácil, mas amar os inimigos, aqueles que comem na mesma mesa sem ser dignos dela, é ser diferente.
Três faces do mistério do tríduo pascal
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Quinta-feira santa: dia do mandamento novo, do ministério da doação, do lava-pés.
Ele, o Mestre, deu testemunho do que dizia, manda amar a todos e testemunha isso no lavar dos pés: sujos, descalços, pobres, que identificam os seus seguidores. Que amar aqueles que lhe amam é fácil, mas amar os inimigos, aqueles que comem na mesma mesa sem ser dignos dela, é ser diferente. Nessa missa antecipa-se a entrega total da doação eucarística – Última Ceia. Celebramos o amor que se doa, na cruz e na glória. Mergulhamos, portanto, na sublimidade pascal. Tudo nesta Ceia-doação nos leva a descoberta do amor. É o início do Tríduo Pascal.
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Sexta-feira santa: amor levado ao extremo, entrega, sofrimento, paixão e morte.
Nossas igrejas se enchem, choramos aquele que morre na cruz, caminhamos lado a lado com o Senhor Morto. É a sexta-feira da Paixão. Aquele que ontem havia celebrado a Ceia com os seus, mas que havia sido na mesma noite entregue aos “homens deste mundo”, agora jaz no madeiro. Contudo, aqui está a beleza da Liturgia integrada como única celebração da vida: adoramos o madeiro e o beijamos porque ele, o madeiro da dor, é sinal de glória. Nele adoramos Aquele que viverá, que ressurgirá da morte e nos libertará a todos. Identificamo-nos tanto com Ele neste dia que até entendemos que nossas cruzes diárias são parte de nossa humanidade, e que aceitá-las e tentar entendê-las talvez seja um primeiro passo para vida nova, que todos buscamos. A cruz lembra a dor, mas reforça a confiança da vitória. 10
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Sábado santo: saudade, esperança, vigília, luz, vitória, vida nova.
Começamos o Sábado lembrando aquele que jaz no sepulcro. A manhã deste dia ainda é de recolhimento. Mas, fica sempre aquela cepa de certeza, aquele gostinho de esperança que brota do mais profundo da alma. A tarde chega, a noite cai. É hora da Vigília das Vigílias, como dizia Santo Agostinho, da luz das luzes, do poder da vida sobre a morte. Afinal, ressuscitado e vivo é o nosso Deus. É por isso que esta noite é tão cheia de significados e de símbolos: Liturgia do fogo e da luz; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Somos, com Cristo, ressuscitados para uma vida nova; somos banhados na pia batismal como homens novos, porque “ele vive e podemos crer no amanhã”; somos povo que caminha rumo, não mais à terra prometida, mas rumo ao reino dos céus; enfim, comungamos aquele que é o Senhor ressuscitado, nossa Páscoa. Tudo deveria refletir em nós a alegria que estamos sentindo. A Igreja, toda iluminada pela luz do Filho do Deus Vivo, mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a missão de seu Divino Mestre, deveria cantar a uma só voz o “Aleluia”, guardado para este momento tão sublime. E lembrar que a partir deste momento, somos com Ele, ressuscitados para um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor, na concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilha mais intensamente como lugar de partilha, de comunhão verdadeira e de ação. Não podemos esquecer que somos sinais do Cristo ressuscitado. ■ Foto • www.ofielcatolico.com.br
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Matéria de capa
Dízimo
Dízimo
não é devolução, mas gratidão a Dízimo é partilha amorosa, não é esmola, e partilha não é sobra, mas dar o que o outro precisa. Por Pe. Antonio Carlos de Almeida
D
ízimo é a restituição que fazemos ao nosso Senhor de tudo que Ele nos dá, com carinho e muito amor, sendo um dever do cristão, um gesto bem generoso, prova de nossa gratidão. Todos têm de ser gratos a Deus. Nossa gratidão deve ser concreta, não apenas por palavras. Agradecemos concretamente a Deus quando nos abrimos à conversão, buscando viver integralmente o Evangelho e nos comprometendo com as coisas de Deus ajudando a expansão do Evangelho e da Igreja.
Ser dizimista é converter-se, e a conversão implica em deixar de lado nosso egoísmo, o nosso “eu”, é renunciar a si mesmo. É justo que sejamos gratos a Deus. O dízimo é um sinal dessa gratidão. O primeiro sentimento necessário para oferecer o dízimo é, portanto, a nossa gratidão a Deus. O dízimo nos educa para a gratidão e para a generosidade. Ele nos leva a abrir os horizontes da nossa mente, a abrir o nosso coração e as nossas mãos. Ser dizimista é converter-se e a conversão implica em deixar de lado nosso egoísmo, o nosso “eu”, é renunciar a si mesmo. Somente pela conversão é que conseguimos enxergar as necessidades de nossa Igreja, de nossos irmãos carentes dos bens materiais e espirituais. E somente pela conversão
Deus!
atingiremos as três dimensões do dízimo: religiosa, social e missionária. O amor aos irmãos é um gesto nobre que nasce da vontade do coração de cada homem, porque Deus nossa força, habita no coração de cada um de nós, basta a nós encontrá-lo. A com-
paixão é um sentimento de nobreza humana e ao mesmo tempo divina. A compaixão é uma força que nos capacita não somente a sofrer a mesma paixão que o irmão, mas a lutar concretamente pelo bem do próximo com a totalidade de nosso ser.
dízimo transformado em vida Dízimo é um sinal de compromisso, de fidelidade com Deus, com a Igreja e com os pobres. Jesus, na sua bondade infinita, instituiu a sua Igreja para ela evangelizar, catequizar, servir e santificar. E para que ela possa desempenhar a sua vocação evangelizadora no mundo, necessita de recursos materiais e esses recursos, devem provir de nós, seus filhos, que somos e formamos a Igreja viva de Cristo aqui na terra. Com o dízimo você ajuda a transformar a Igreja para que ela seja cada vez mais unida e fraterna, a fim de que possa cumprir a sua missão evangelizadora como Jesus a quer: ser dizimista é ser evangelizador. Na evangelização e nos sacramentos, a Igreja alimenta a vida espiritual do povo de Deus; na caridade, promove a vida com assistência material aos pobres e necessitados. É nosso dízimo transformado em vida; é a porção de vida ofertada no dízimo que nos dá a alegria da participação. É essa alegria que deve nos motivar a contribuir para
que o milagre aconteça, fazendo o que Jesus nos pede: “enchei as talhas de água” (Jo 2,7). Nas Bodas de Caná, Jesus pediu para encherem com água as talhas, para transformá-la em vinho e garantir a continuidade da alegria da festa. Permitiu com isso, que o homem tivesse também a alegria e a honra de cooperar, para o milagre. A água é, assim, fonte de vida e fonte de alegria. O dízimo também. Ser dizimista na sua raiz mais profunda, significa construir comunidade. Ser dizimista é ter posse da maior parte, após entrega do dízimo, a parte da gratidão. Dízimo não é imposição, não é obrigação; é uma forma fácil de sermos gratos a Deus. Dízimo é partilha amorosa, não é esmola, e partilha não é sobra, mas dar o que o outro precisa. Reparta confiante de que nada do que você ofereça lhe fará falta, e é por isso que quanto mais se partilha, mais se tem. ■
Fontes: Matias Augé. Quaresma, Páscoa, Pentecostes. Editora Ave-Maria - Missal Romano - http://www. franciscanos.org.br/ Alexandre SCHMÉMANN – Olivier CLÉMENT, O Mistério Pascal. Bíblia do Peregrino
Especial Páscoa | Revista Católica 11
Sociedade e Igreja no Brasil
Descalvado antigo Religião e cotidiano no
Por Marco Antonio Pratta
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uando alguém chegava ao núcleo urbano de Belém do Descalvado, no início do século XX, vindo, por exemplo, das fazendas São Domingos, São Salvador e Jaguarandy, extremamente populosas na época, entrava pelo bairro de São Sebastião, que na época era um conjunto de sítios e pequenas propriedades rurais que se estendiam do Chão Duro1 até as cercanias da igreja do padroeiro. A devoção e as festas de São Sebastião sempre movimentavam muito o município, como ocorre até hoje. “Festa. Como parte das commemorações2 de São Sebastião, grande leilão de lenha e de rezes no próximo dia 20, ás 8 horas” (jornal O Descalvadense, 17/01/1909, 2).
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Saindo do largo de São Sebastião, descia-se por uma larga estrada de terra, atual Avenida Pio XII, que nada mais era que um caminho ladeado de cercas de bambu e paliçadas de madeira cortada e, finalmente, chegava-se à Estação Ferroviária. Na Estação o movimento era grande: sempre havia carroças, troles e animais para o transporte das mercadorias que chegavam e saíam, além de crianças, jovens e mesmo adultos que transportavam as malas e os apetrechos dos passageiros que se dirigiam para algum hotel ou casa de parentes. Um detalhe: se os passageiros subissem a pé até o centro da cidade, pelo caminho da atual Avenida Guerino-Oswaldo, essas pessoas contratadas
ali no momento também carregavam as malas a pé, fossem as bagagens de qualquer tamanho ou peso. Muito conhecido, por exemplo, era o Chico Mula, ágil transportador. Isso sem falar dos engraxates e dos vendedores de pastéis, amendoins e canudinhos de coco e de doce de leite na plataforma da Estação e mesmo dentro dos trens. As casas e outras construções que se estendiam da Estação Ferroviária até a Igreja Matriz, e da atual Avenida Guerino-Oswaldo até a atual Rua 24 de Outubro, formavam o chamado Bairro Chinês, o bairro chique, como dizia o povo: casas melhores e construções amplas. Tudo o que dizia respeito ao Oriente, na época, identificava-se com o luxuoso e o requintado.
1 Região de terra vermelha, bastante fértil, às margens da atual estrada vicinal Guilherme Scatena, na altura da propriedade da família Govone. 2 Nos textos antigos está mantida a ortografia original da época.
A cidade conta hoje de cerca de quinhentos bons prédios habitados por mais de quatro mil pessoas.
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Fevereiro/Março/Abril 2015
As ruas, por volta de 1904, possuíam as seguintes denominações: Rua 13 de Maio: data da abolição da escravatura (13/05/1888) – depois Rua Campinas e, posteriormente, Avenida Guerino-Oswaldo. Rua Uruguayana: nome de uma cidade gaúcha célebre durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) – atual Rua Coronel Rafael Tobias. Rua Marechal Deodoro: proclamador da República e primeiro presidente do país – atual Rua 24 de Outubro. Rua 07 de Janeiro: data da lei de liberdade de culto no Brasil (07/01/1890) – atual Rua Conselheiro Antonio Prado. Rua Barão do Descalvado3 e Rua José Bonifácio: já possuíam, na época, a denominação atual. O Barão de Descalvado (1816-1894) foi um importante político local e José Bonifácio (1763-1838) herói da independência nacional. No largo central da cidade estava a Igreja Matriz, cuja primeira construção foi finalizada em 1854. Era um prédio que mesclava, inicialmente, partes de madeira e partes de taipa de pilão4 . Em 1864 o telhado da nave central foi erguido e as paredes laterais de madeira foram substituídas por tijolos. Posteriormente a fachada foi construída em alvenaria e duas torres de tijolos levantadas. Todo o comércio e a vida, em geral, giravam ao redor das poucas ruas adjacentes. “A cidade conta hoje de cerca de quinhentos bons prédios habitados por mais de quatro mil pessoas. (...) Apesar5 da crise finnanceira que assoberba o país inteiro, a cidade progride, embora lentamente, estando fada a um risonho futuro” (jornal Correio de Descalvado, 04/03/1907, 1). ■ Anteriormente a via chamava-se Rua do José Elias, que era o nome do barão. 3
Técnica de construção muito comum na época, através da qual o barro amassado era fixado em uma treliça de madeira amarrada com cordas ou cipó, formando as paredes. 4
Alusão à queda do preço do café no mercado internacional.
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6 Entre 1903, data da criação, e 1911, a escola funcionou no prédio da Prefeitura. Em 1911 o prédio atual foi inaugurado.
MAPA DA CIDADE 7
1
E 6
2 3
A
G
B
C
D
4 F
5
J I H
LEGENDA
A – Prefeitura
1 – Rua 13 de Maio
C – Fórum e Cadeia
2 – Rua Barão do Descalvado
D – Mercado Municipal
3 – Rua José Bonifácio
E – Estação Ferroviária
4 – Rua 07 de Janeiro
F – Praça Barão do Rio Branco
5 – Rua Marechal Deodoro
G – Colégio Santo Antônio
6 – Rua Uruguayana
H – Santa Casa de Misericórdia
7 – Córrego Nossa Senhora do Rosário (atual Córrego da Prata)
I – Grupo Escolar Coronel Tobias6
Bibliografia: DESCALVADO. Arquivo de jornais da Biblioteca Pública Municipal “Gérson Alfio de Marco”.
B – Matriz
J – Cemitério antigo Especial Páscoa | Revista Católica 13
Social
Eventos
Fique por dentro das festas e eventos que aconteceram em nossas Paróquias. NOVENA DE SÃO SEBASTIÃO • Paróquia de São Sebastião
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NOVENA DE São sebastiÃO • Paróquia de São Sebastião
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Saúde
11 de fevereiro
23º Dia Mundial do DOENTE Por Danilo Servilha Rizzi*
N
o dia 11 de fevereiro de 2015, comemoramos o 23º Dia Mundial do Doente, data essa instituída por São João Paulo II em 1992, por ocasião de sua visita ao santuário de Lourdes, onde o santo papa, em seu discurso durante a peregrinação, refletiu que desde a aparição à Bernadette Soubirous, Maria curou dores e doenças, restituindo também, a seus filhos, a saúde corporal. Nossa mãe Maria vem realizando, desde então, prodígios muito mais surpreendentes na alma dos fiéis, através da abertura dos corações ao seu filho Jesus, fonte inesgotável de paz e da alegria interior. O Papa Francisco em sua mensagem dirigida a todos os que carregam o peso da doença, instituiu como tema deste ano, uma passagem do livro de Jó: “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo”, onde nos convida à reflexão na perspectiva da sabedoria do coração.
O serviço
Desprender-se do orgulho, da posse, da correria do dia-a-dia, para servir aquele que necessita dar testemunho de fé, não somente nas palavras, mas também nas suas atitudes perante o sofredor. Ser os olhos do cego e os pés para o coxo. Os que se sentem impelidos a servir a Deus através dos enfermos precisam
lembrar que esse chamado deve partir do coração inflamado pelo amor de Cristo, de onde partem as forças necessárias para esse trabalho tão árduo e difícil. É muito fácil falar e agir por um curto período, mas a perseverança exige muito mais do que uma boa ação momentânea, requer uma fé viva e uma convicção na misericórdia de Deus. Fazendo memória às palavras do Padre Lucas Rodrigo, sacerdote camiliano, podemos afirmar que: “As mesmas mãos que sobem para louvar o Senhor, devem ser as mesmas que descem para servir meu irmão”.
Aqueles que se dispõe a ser solidários, o devem fazer na profunda e verdadeira caridade. O enfermo encontra-se sempre em um momento delicado de sua existência, onde a solidão, a dor, a tristeza e o medo, são sentimentos frequentes. Aqueles que se dispõe a ser solidários, o devem fazer na profunda e verdadeira caridade, onde não se julga, e não se tem a pretensão de converter o outro, devendo, no exercício de tão nobre missão, estar desprovido de qualquer sentimento de orgulho ou vanglória. Não existe uma receita, um meio pal-
pável para se conseguir isso. Somente através de uma vida de doação, caridade, oração e temor a Deus, acharemos o caminho para sermos verdadeiramente caridosos. Um grande exemplo dessa caridade verdadeira é São Camilo de Léllis, que viveu entre 1550-1614 na Itália. Dedicou sua vida aos doentes, cuidando deles com o mesmo amor que uma mãe cuida de seu único filho doente. Via na pessoa do doente, o próprio Cristo. Fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos, popularmente conhecidos como padres e irmãos camilianos, que possuem o carisma que se exprime nas obras de misericórdia com os doentes. É proclamado pela Santa Igreja como padroeiro dos enfermos, hospitais e dos profissionais da Saúde. Para exercermos trabalhos com os doentes, precisamos cuidar de nossa própria saúde, pois um doente não consegue cuidar de outro doente. Além de cuidar de nossa saúde espiritual, com vida de oração e busca pelos sacramentos, devemos cuidar também de nossa saúde física, procurando regularmente os profissionais da saúde, buscando uma alimentação saudável, a prática regular de exercícios físicos e higiene. Afinal, devemos zelar pelas coisas de Deus, e nosso corpo é templo vivo do Espírito Santo. ■ *Danilo Servilha Rizzi, seminarista camiliano e enfermeiro
O enfermo encontra-se sempre em um momento delicado de sua existência, onde a solidão, a dor, a tristeza e o medo, são sentimentos frequentes. 16
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Oração a São Camilo Glorioso São Camilo, que destes assistência aos doentes com amor de mãe, do céu volvei um olhar misericordioso sobre todos os que sofrem. Intercedei a Deus por eles para que alivie as dores físicas e as tristezas da alma; console a solidão e enxugue as lágrimas; conceda força para o caminho e paciência para a espera; doe a serena aceitação do cotidiano e a confiante esperança nas realidades futuras. Concedei-nos ser inflamados pela mesma caridade que ardia no vosso coração, para servir o nosso próximo sofredor como nos ensinou Cristo, o bom samaritano da alma e do Corpo. AMÉM
Religião
Por que participo A celebração da missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã.
da
missa? Centro da vida cristã
Por João Geraldo Martins Filho
C
onta certa história que estava acontecendo a construção de uma grande catedral, obra essa que exigia um grande número de trabalhadores. Certo dia, uma comitiva de autoridades civis e religiosas estiveram em visita aos trabalhos de construção do grande templo.
Celebramos assim a paixão, morte e ressurreição de Cristo e, neste mistério do Cristo, celebramos a vida do povo de Deus. Enquanto realizavam a visita, o bispo local resolveu indagar a três operários com uma mesma pergunta. Ao chegar ao primeiro operário perguntou “Meu filho o que você está fazendo?” O trabalhador, voltando-se ao bispo, respondeu: “Estou carregando pedras”. Caminhando mais um pouco, o bispo repete a pergunta ao segundo trabalhador. O funcionário então responde: “Estou defendendo o pão de cada dia”. Continuando com a visita, a comiti-
va seguiu em frente. Depois de caminhar algum tempo, o bispo para diante de mais um trabalhador e pergunta-lhe: “O que você está fazendo?” O trabalhador todo emocionado voltou seu olhar ao bispo e lhe respondeu: “Estou ajudando a construir uma grande catedral, onde muitos louvarão a Deus e meus filhos aprenderão o caminho do céu”. Assim também acontece na Santa Missa. Cada pessoa leva consigo uma intenção. Existem os fiéis carregadores de pedra, como o primeiro operário, que apenas vão à celebração para cumprir o preceito, a obrigação como batizado. Outros, assim como o segundo operário de nossa história, que defendem o pão de cada dia, só vão para pedir. Por fim, temos o terceiro grupo de fiéis que, assim como o trabalhador que estava ajudando a construir a catedral onde muitos louvariam a Deus e seus filhos aprenderiam o caminho dos céus, vão para louvar, bendizer, agradecer e se comprometer com Deus pelo seu imenso amor.
Podemos afirmar com absoluta certeza que na celebração da Santa Missa acontece exatamente a mesma coisa. Numa assembleia heterogênea, encontramos em cada membro os mais diferentes motivos e intenções pela participação. O que todos precisam ter em mente é que a celebração eucarística é sempre a atualização do “mistério pascal de Jesus Cristo”. Celebramos assim a paixão, morte e ressurreição de Cristo e, neste mistério do Cristo, celebramos a vida do povo de Deus. “A celebração da missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja universal como local e também para a vida dos fiéis.” (IGMR 16). “É por isso de máxima conveniência dispor a celebração da Missa ou Ceia do Senhor de tal forma que os ministros e os fiéis, participando cada um conforme sua condição, recebam mais plenamente aqueles frutos que o Cristo Senhor quis prodigalizar, ao instituir o sacrifício eucarístico de seu Corpo e Sangue, configurando-o à sua dileta esposa, a Igreja, como memorial de sua paixão e ressurreição.” (IGMR 17). Especial Páscoa | Revista Católica 17
Religião
É preciso ficar muito claro que, quando dizemos que a missa é atualização do mistério pascal de Cristo, não se trata de uma simples lembrança da última ceia e confirmada na cruz e ressurreição. Trata-se verdadeiramente de fazer acontecer novamente a Páscoa do Senhor, através da Palavra proclamada e do pão eucaristizado.
Experiência pascal Na Santa Missa, Deus se oferece como alimento para seu povo. Primeiramente na Liturgia da Palavra nos alimentamos de sua santa Palavra, através das leituras, do salmo e no centro o Evangelho, em que o próprio Jesus, como Palavra do Pai, o verbo encarnado nos fala. Na Liturgia Eucarística, nós fazemos na missa exatamente o que Jesus fez na última ceia: Ele tomou o pão – na preparação das oferendas o pão e o vinho são levados para o altar; Jesus deu graças – nós rezamos a oração eucarística; Jesus partiu o pão – nós o fazemos também antes da comunhão e acompanhamos esta fração do pão com o canto do “Cordeiro de Deus”; Ele deu o pão os ministros dão o Corpo e Sangue de Cristo na comunhão. Na Santa Missa somos convidados pela Igreja a fazer um profundo mergulho no mistério central de nossa salvação, fazendo assim uma experiência pascal e comunitária. Experiência pascal, pois fazemos em nossa vida, na vida da comunidade e da sociedade a experiência da páscoa de Jesus Cristo. Assim somos arrancados de todas as formas de morte, para fazer nascer a vida em plenitude, a vida eterna de comunhão com o Senhor, desde já no aqui e agora, dentro das limitações de nossa humanidade: “Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedei conviver na terra com as realidades do céu” (oração pós-comunhão – ascensão do Senhor)”. Com Cristo morremos para com Cristo ressuscitarmos” (Rm 6,5). Em nossa vida tem hora que predomina a luz, tem hora que predomina a treva, mas páscoa é passagem, é processo. 18
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Experiência comunitária Uma experiência comunitária, pois enquanto assembleia não são indivíduos isolados que fazem a celebração. A liturgia é necessariamente uma ação e experiência comunitária, experiência de um povo celebrante, experiência de comunhão de santos. É reunindo-se em assembleia, é cantando e orando juntos, é agindo em comum, é comendo juntos de um mesmo pão e bebendo do mesmo cálice, é deixando-nos atingir juntos pelo Espírito do Ressuscitado, que entramos em comunhão com o Senhor. “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”.
A liturgia é necessariamente uma ação e experiência comunitária, experiência de um povo celebrante, experiência de comunhão de santos. Domingo dia do Senhor, participemos da santa missa como preceito, pois reconhecemos o senhorio de Deus em nossa vida, como rezamos no início do prefácio da oração eucarística: O Senhor esteja convosco! Ele está no meio de nós! Demos graças ao Senhor nosso Deus! É nosso dever e nossa salvação. Peçamos também o pão de cada dia, pois o próprio Jesus nos ensinou a fazer isso na oração do Pai Nosso que rezamos em cada celebração eucarística. Mas, acima de tudo, seja nosso encontro de irmãos o louvor mais perfeito ao Pai como rezamos na doxologia em cada missa: Por Cristo! Com Cristo! Em Cristo! A Vós Deus Pai todo poderoso na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda Glória, agora e para sempre. Amém! ■
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