Palavra Ano 2 | Dezembro 2014 / Janeiro 2015
Edição Especial
Atrás da www.paroquiasdescalvado.com.br
celebração em família Mais do que uma simples comemoração, é participar da construção da paz através de nossa religião
“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso,Pai Eterno, Príncipe da Paz. “
Natal
o nascimento do Salvador
Solenidade de Cristo Rei | tradições Natalinas | o jovem na Igreja | Santa Luzia | São Sebastião
Editorial
A Revista Atrás da Palavra é uma publicação da Pastoral da Comunicação das Paróquias de Descalvado www.paroquiasdescalvado.com.br Coordenação geral Pe. Antonio Carlos de Almeida Conselho Editorial Pe. Alex Sander Turek Machado Pe. Antonio Carlos de Almeida Pe. Valdinei Antonio da Silva Pe. Angelo Rossi Direção Executiva e Editorial Fernando Vicente Serpentino Tiago Serpentino Mauricio Mazola Wanessa Garcia Comercial Sergio Rui | Vagner Basto Jornalista Responsável e Redação Katia Carminatto – MTB 23.255/sp Revisão Renata Marcondes de Paula Projeto Gráfico e Diagramação Thatto Comunicação Colaboradores Pe. Angelo Rossi Pe. Antonio Carlos de Almeida Pe. Alex Sander Turek Machado Pe. Valdinei Antonio da Silva Camila Pedezzi Juliana Forte Lara Danaga Luis Pedezzi Marco Antônio Pratta Impressão Quatrocor Gráfica e Editora Tiragem 1.000 exemplares Fale Conosco Sugestões e comentários podem ser enviados para o email: contato@paroquiasdescalvado.com.br As matérias assinadas são de inteira responsabilidade dos autores, não expressando necessariamente a opinião da revista. A responsabilidade sobre os anúncios publicados é exclusiva do anunciante, no que tange às normas do CONAR. A responsabilidade pelos serviços e produtos anunciados é integral e exclusiva do anunciante, cabendo à revista apenas a veiculação das informações, sem que isso implique em qualquer aprovação ou vinculação ao conteúdo anunciado. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial da revista, exceto por autorização escrita do editor, estando sujeito o infrator às penas previstas em lei. seja um assinante Faça a assinatura da revista Atrás da Palavra e receba seu exemplar em casa. Informe-se junto às secretarias das paróquias ou ligue para um dos telefones abaixo: (19) 3583. 8261 / 3583.5038 / 3583.1282 assinatura@paroquiasdescalvado.com.br
O Verbo SE FEZ CARNE
Queridos irmãos em Cristo, Completamos um ano de circulação da nossa revista. Foram seis edições idealizadas com muita dedicação e o desejo sincero de aproximar nossos cristãos do caminho de Jesus. Nesta oportunidade, gostaria de agradecer a cada um dos voluntários que dedicam parte do seu tempo a esse trabalho tão dignificante. Esta edição é dedicada ao Natal, momento de renovação da fé Naquele que se fez homem para nos salvar e de refletir sobre o caminho que estamos escolhendo para honrar esse amor infinito. Que neste Natal possamos comemorar o renascimento de Jesus em cada coração e o fortalecimento da fé cristã em todo o mundo, a começar pelas pequenas igrejas chamadas famílias. Nas próximas páginas o leitor vai encontrar o pensamento do Movimento Familiar Cristão – MFC, abordando a importância da celebração do Natal em família e encontrará também uma profunda reflexão sobre o Natal nas palavras de nosso querido padre Valdinei. A história da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, que encerra o nosso ano litúrgico também será tema dessa edição. Iremos conhecer um pouco mais sobre a vida de Santa Luzia, modelo de amor e fidelidade a Deus e a história de São Sebastião, um soldado romano que foi martirizado por professar e não renegar a fé em Cristo Jesus. Na editoria Descalvado Pela Memória de Seu Povo, vamos conhecer a influência dos imigrantes nas tradições natalinas. Com muita fé, vamos nos juntar em oração para reconstrução das famílias segundo o plano original de Deus, para que elas sejam instrumentos de acolhimento e porta-vozes da Palavra que transforma.
Feliz Natal e um abençoado 2015 a todos! 4. Solenidade de Cristo Rei 6. NATAL 8. OS PRESENTES DO ANIVERSARIANTE 11. Santa luzia 12. As tradições Natalinas 14. São sebastião 16. natal em família 17. O JOVEM NA IGREJA
Boa leitura
Pe. Antonio Carlos de Almeida Nesta Edição
Solenidade de Cristo Rei
História da Solenidade
de Cristo Rei A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, encerra o ano litúrgico.
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Por Pe. Antonio Carlos de Almeida
Solenidade de Cristo Rei Todos nós sabemos que a maneira de contar os anos é a partir de Cristo. A presença de Jesus que se fez carne e habitou entre nós, não só influenciou a vida humana e espiritual, mas de toda a humanidade. Viver a Solenidade de Cristo Rei é chegar ao ápice do caminho do ano, onde temos contemplado os mistérios de Cristo, sua encarnação, paixão, morte e ressurreição. Uma vivência que não é para sempre, mas que todos os dias se renova. Uma memória viva que é celebrada a cada instante da nossa coerência com a Palavra de Deus. São poucos os católicos que se dão conta de que a Solenidade de Cristo Rei é uma festa relativamente recente, pois só foi instituída pelo papa Pio XI em 1925, portanto há menos de cem anos. Mas o que levou o papa Pio XI a dedicar a primeira encíclica - Quas primas (11/12/1925) - de seu pontificado à criação de uma festa de Cristo Rei?
A festa litúrgica
S
abemos que a Igreja tem um calendário próprio que não acompanha o ciclo civil, não porque queira ser diferente ou porque não queira caminhar ao mesmo ritmo do povo, mas para acentuar a historia da salvação através da liturgia que a Igreja reza diariamente.
O ano litúrgico O ano litúrgico inicia-se com as quatro semanas do Tempo do Advento e termina com a Solenidade de Cristo Rei, celebrada sempre no fim de novembro, por ocasião do último domingo do ano litúrgico. Essa Solenidade era, a princípio, celebrada no último domingo de outubro. Depois, o Concílio Vaticano II a deslocou para novembro, para concluir o ano litúrgico. 4
Atrás da Palavra
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No início do século XX, o mundo, que ainda estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial, fora varrido por uma onda de secularismo e de ódio à Igreja, como nunca vista na história do Ocidente. O fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, o comunismo na Rússia, a revolução maçônica no México, anticlericalismos e governos ditatoriais alastravam-se por toda parte. É neste contexto que, sem medo de ser “politicamente incorreto”, o papa Pio XI instituiu uma festa litúrgica para celebrar uma verdade de nossa fé: mesmo em meio a ditaduras e perseguições à Igreja, Nosso Senhor Jesus Cristo continua a reinar, soberano, sobre toda a história da humanidade.
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“Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas as coisas” (Ap 1, 8) Recordar que Jesus é Rei do Universo foi um gesto de coragem do Santo Padre. Com as revoluções que se seguiram ao fim do primeiro conflito mundial, em 1917, o título de Cristo Rei tornara-se um tanto impopular. Se o Papa tivesse exaltado Jesus como profeta, mestre, curador de enfermos, servo humilde, qualquer outro título teria sido mais aceitável. Mas Cristo Rei?! Mesmo assim, nadando contra a cor-
renteza e se opondo ao secularismo ateu e anticlerical, o Vigário de Cristo na terra instituiu esta Solenidade para nos recordar que todas as coisas culminam na plenitude do Cristo Senhor: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas as coisas” (Ap 1, 8). É necessário reavivar a fé na restauração e na reparação universal realizadas em Cristo Jesus, Senhor da vida e da história.
Com esta solenidade, o Papa Pio XI esperava algumas mudanças no cenário mundial: “Que as nações reconhecessem que a Igreja deve estar livre do poder do Estado [...] Que os líderes das nações reconhecessem o devido respeito e obediência a Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Que os fieis, com a celebração litúrgica e espiritual desta solenidade, retomassem com coragem e força e renovassem sua submissão a Nosso Senhor, fazendo com que Ele reine em seus corações, suas mentes, suas vontades e seus corpos”. (Quas primas, 32.31;33). Encerrar o ano litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei é consagrar a Nosso Senhor o mundo inteiro, toda a nossa história e toda nossa vida. É entregar à sua infinita misericórdia um mundo onde reina o pecado. Pilatos pergunta a Jesus se Ele é rei. Nosso Salvador responde que seu Reino não é deste mundo. Ou seja, não é deste mundo “inventado” pelo homem e pelo pecado: o mundo da injustiça, da escravidão, da violência, do ódio, da morte e da dor. Ele é Rei do Reino de seu Pai e, como rei-pastor, desde o alto da cruz, guia a sua Igreja em meio às tribulações.
O Reinado de Cristo dro, não tiveram medo de entregar suas próprias vidas e de morrer aos brados de “viva o Cristo Rei!”. Só é Rei quem ama os outros. ■
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Sabemos que o reinado de Cristo não se realizará por um triunfo histórico da Igreja. É isto que nos recorda o Catecismo da Igreja Católica em seu número 677. Mesmo assim, no final, haverá, sem dúvida, uma vitória de Deus sobre o mal. Só que esta vitória acontecerá como acontecem todas as vitórias de Deus: através da morte e da ressurreição. A Igreja só entrará na glória do Reino se passar por uma derradeira Páscoa. A Esposa deve seguir o caminho do Esposo. É assim que, nesta Solenidade, o manto vermelho de Cristo assinala a realeza de Nosso Senhor, mas também nos recorda o sangue de tantos mártires cristãos de nossa história recente. Foram fieis católicos que, ouvindo os apelos do sucessor de Pe-
Encerrar o ano litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei é consagrar a Nosso Senhor o mundo inteiro, toda a nossa história e toda nossa vida. Fontes: www.carmelitasmensageiras.com.br/ Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr. Momméja, Edith. As festas cristãs – história, sentido e tradição. Ed. Paulus. 2014 Subsídio litúrgico Pão da vida. Edições Shalom.2015
Especial de Natal | Revista Católica
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Natal
Natal
O Verbo estava junto de Deus, o Verbo era Deus. Mas este mesmo Verbo – afirma São João – “fez-Se carne” (Jo 1,14); por isso Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, é realmente o Verbo de Deus que Se fez consubstancial a nós. (art 7 Verbum Domini) Por Pe. Valdinei Antonio da Silva
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os aproximamos de um momento forte na litúrgia da Igreja e para a nossa vida de cristãos, o tempo do Natal. É a hora de celebrarmos o mistério da encarnação de Jesus. Deus vem visitar seu povo. No menino Jesus Ele se coloca no meio do povo oprimido e pecador, para assumir nossas fragilidades e pecados. A Sua singeleza nos encanta e nos atrai ao Seu divino mistério. De Deus-Pai, Ele recebe a missão de vir ao mundo para salvar a humanidade. É tempo de meditação, de oração, de encontro de irmãos, tempo de família reunida para celebrar a vida. Precisamos ter presente nesse Natal de Jesus, como é importante renovarmos nosso compromisso de sermos discípulos Dele hoje. De acordo com nosso irmão Marcelo Barros, o Natal faz um apelo: “É hora de revermos como trabalharmos em nós mesmos a proposta de sermos cada vez mais humanos. Huma-
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Atrás da Palavra
nos como Jesus. A encarnação de Jesus aparece em primeiro lugar no fato de que Ele se deixava comover, enternecer, vibrar de alegria e até chorar diante das situações da vida”. Se nos tornamos desumanos e insensíveis ao sofrimento alheio, é hora de deixar voltar ao coração a capacidade de compreender que podemos ser pessoas melhores do que fomos até agora.
A Sua singeleza nos encanta e nos atrai ao Seu divino mistério. De Deus-Pai, Ele recebe a missão de vir ao mundo para salvar a humanidade. Deixarmo-nos encher do Espírito Santo que fecundou o seio da virgem Maria e permitir que o Espírito gere a vida em nós. Sermos pessoas arrebatadas pelo mesmo Espírito que gerou
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Jesus. O pastor Dietrich Bonhoeffer, condenado à morte pelos nazistas e martirizado em abril de 1945, poucos dias antes de encerrar a guerra, tinha escrito para a festa do Natal: “Esta celebração garante a todos os seres humanos, homens e mulheres: Vocês todos foram assumidos por Deus. Ele não os desprezou. No corpo humano de Jesus, ele carrega a carne e o sangue de vocês todos. Quando olharem a manjedoura, acreditem: no corpo daquele menino que nós cremos ser o filho de Deus feito carne, é a carne de vocês, é toda a miséria humana, a angústia de todos os sofredores, as tentações de todas as pessoas frágeis, e é o pecado de vocês que ali está sendo assumido, perdoado e santificado. Sempre fico impressionado quando encontro ainda cristãos que parecem pensar: “Eu sou mesmo assim e não consigo mais me converter. Cheguei ao ponto que podia e pronto!”.
Última Ceia
o MESSIAS Por isso, meus irmãos, o Natal não pode ser mera comemoração de aniversário do nascimento de Jesus e sim uma atualização dessa presença humana de Deus no mundo. Ele veio pobre e indefeso, e essa visão diferente da vinda do Messias foi uma imensa reviravolta na compreensão espiritual para os homens. Em primeiro lugar, o Messias vem não como um senhor poderoso, mas como pobre mendigo desabrigado. Como Ele vai poder libertar a Israel? Por outro lado, esse Messias, frágil e impotente, vem e está em uma atitude de espera. Não somos nós que esperamos por Ele. É Ele quem espera por nós e faz de cada um de nós o messias esperado que pode trazer salvação para todos. Abre o caminho para nos cristificarmos. Cada um de nós pode e deve se tornar um pequeno salvador que, quando chega, não atrai sobre si as atenções, mas trabalha e ama a todos. A nossa função é revelar que o esperado de Deus é cada pessoa que O procura. Jesus reparte conosco Sua messianidade e o serviço de amor a todos os irmãos.
Quando olharem a manjedoura, acreditem: no corpo daquele menino que nós cremos ser o filho de Deus feito carne, é a carne de vocês, é toda a miséria humana, a angústia de todos os sofredores, as tentações de todas as pessoas frágeis, e é o pecado de vocês que ali está sendo assumido, perdoado e santificado.
Viver em amor Ele faz de todos nós consagrados, ungidos, Cristos de Deus. Sem dúvida, essa é a mensagem mais profunda e transformadora que podemos contemplar no Natal. Todos nós somos filhos de Deus e enviados ao mundo como instrumentos do amor divino e da salvação. Lembramos que Deus enviou Jesus para começar o Seu projeto de uma nova humanidade. É o grande sinal do amor do Pai, e de comunhão entre o Pai e o Filho. Ao mesmo tempo comunhão do Filho com a humanidade e, por conseguinte, de aproximação de Deus que ama imensamente essa
humanidade. O Natal vem nos ensinar que precisamos amar o mundo e a humanidade como Deus ama. Ampliar nossa visão sobre o que viemos fazer nesse mundo e sobre o sentido da vida humana, que vai muito além do “egoísmo”. O novo Deus do mundo secularizado, que está matando a vida. Jesus veio anunciar que o Reino está aberto a todos e que Ele conta com a minha e a sua participação nesse grande projeto. A perspectiva desse Reino precisa nos levar a preparar uma mesa que vai servir o verdadeiro manjar: tornar a vida possível e viável para todos, sem exceção de pessoas. ■
O Natal vem nos ensinar que precisamos amar o mundo e a humanidade como Deus ama.
Especial de Natal | Revista Católica
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Matéria de capa
Os presentes do
Aniversariante “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” Jo 1, 14
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le nasceu em meio aos animais. Seu primeiro berço foi uma manjedoura. Não tinha vestes adequadas e não recebeu as honrarias de um nobre. Foi acolhido apenas pelos pastores e por três Reis Magos, que reconheceram naquela criança um profeta. Cresceu entre os humildes. Foi amado por quem
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O conheceu e odiado por aqueles que invejavam Seu poder. Foi flagelado e morreu na cruz, despido de suas roupas. Ainda assim Seu amor pela humanidade continua infinito. Olhando de perto, a história de Jesus Cristo foi totalmente vivida dentro de um de seus grandes ensinamentos: “Quem se humilha será
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exaltado e quem se exalta será humilhado” (Lc 14,11). Esse preceito é um dos grandes exemplos que Ele deixou para os que escolheram segui-Lo. Trazendo essa reflexão para o Tempo do Advento, que é a preparação cristã para o Natal, cabe uma pergunta: que presentes esse Aniversariante merece ganhar?
1 A festa O primeiro deles, sem dúvida, é uma festa. Mas não uma festa qualquer e sim uma celebração de acolhida, onde se possa repartir com os irmãos menos favorecidos os dons e as graças recebidas de Deus. É o que diz o Evangelho de Lucas: “Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos. E serás bem-aventurado; porque eles não têm com que te recompensar; mas recompensado te será na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14).
“O nascimento de Jesus nos mostra que Deus quis unir-se a cada homem e a cada mulher, a cada um de nós, para nos comunicar a sua vida e a sua alegria”. Papa Francisco Uma festa assim certamente não terá a pompa e o luxo de um banquete, mas com certeza nesta mesa estará o verdadeiro sentido do Natal. A iniciativa não requer sacrifício. Ela pode vir na forma de um convite para pessoas próximas que não têm condições ou companhia para comemorar o Natal ou na preparação de uma festa para comunidades carentes, entidades ou casas de apoio dedicadas a diversas causas sociais.
2 O presente O segundo presente exige uma preparação maior: um coração renovado. “Com o nascimento de Jesus nasceu uma promessa nova, nasceu um mundo novo, mas também um mundo que pode ser sempre renovado. Deus está sempre presente para suscitar homens novos, para purificar o mundo do pecado que o envelhece, do pecado que o corrompe”, disse o Papa Francisco na Hora do Angelus de 05 de janeiro deste ano. “O nascimento de Jesus nos mostra que Deus quis unir-se a cada homem e a cada mulher, a cada um de nós, para nos comunicar a sua vida e a sua alegria”, acrescentou o Papa em sua exortação. Em outras palavras, Jesus espera que seus filhos abram o coração para Ele. E o caminho é um só: “Jesus está presente nas escrituras e, para conhecê-Lo é
preciso ler a Bíblia diariamente. Afinal, como abrir o coração para quem não se conhece?”, reflete o padre Antônio Carlos de Almeida. Sim, é na proximidade com Sua vida e Seus ensinamentos que nasce o encontro íntimo e a verdadeira experiência de um coração renovado. A oração tem um papel fundamental nessa aproximação. É preciso conversar com Deus nos momentos de alegria, tristeza, fartura, privação, saúde ou doença. É um momento de louvar, agradecer, bendizer, pedir, mas é também o momento de receber os dons de Deus.
A oração tem um papel fundamental nessa aproximação. É preciso conversar com Deus nos momentos de alegria, tristeza, fartura, privação, saúde ou doença. Especial de Natal | Revista Católica
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Matéria de capa
Tempo de preparação Os presentes para o Aniversariante são caros e nem todos estão preparados para dá-los. “O Tempo do Advento é uma oportunidade de refletir sobre as escolhas e se aproximar de Deus”, afirma o padre Antônio. “No mistério da Encarnação do Filho de Deus há também um aspecto ligado à liberdade humana, à liberdade de cada um de nós”, avança o Pontífice lembrando o livre arbítrio e as escolhas pessoais.
3 A atitude O terceiro e maior presente é viver o cristianismo na sua essência. Para isso, é necessário vivenciar o mais importante mandamento: amar a Deus de todo o coração. “Quando amamos verdadeiramente a Deus, nossa vida e nossas atitudes são inundadas por esse amor envolvente. Assim é mais fácil amar todos a sua volta”, diz padre Antônio Carlos. Quando disse “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12,30), Jesus não afirmou que seria fácil. Mas uma simples atitude pode ajudar no primeiro passo: dedicar-se ao próximo, independente
E nós somos chamados a testemunhar com alegria esta mensagem do Evangelho da vida, do Evangelho da luz, da esperança e do amor.
de seus defeitos e qualidades, com o mesmo apreço com que se dedica aos seus amigos e familiares. É esse amor fraterno que dá sentido à vida de cada pessoa. Afinal, para viver no amor de Cristo é necessário olhar o próximo como irmão e empenhar-se na construção de um mundo melhor. Em sua primeira Exortação Apostólica, o Papa Francisco destaca que somente graças ao encontro – ou reencontro – com o amor de Deus é que os cristãos são resgatados da consciência isolada e da autorreferencialidade. “Se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?”, questiona.
Dedicar-se ao próximo, independente de seus defeitos e qualidades, com o mesmo apreço com que se dedica aos seus amigos e familiares. É esse amor fraterno que dá sentido à vida de cada pessoa. 10 Atrás da Palavra
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Mas o grande risco do mundo contemporâneo são os prazeres superficiais e a vida fechada nos interesses próprios. Nesse cenário não há espaço para Deus. “Também nós, tantas vezes, O rejeitamos, preferimos permanecer no fechamento dos nossos erros e na angústia dos nossos pecados. Mas Jesus não desiste e não deixa de oferecer a Si mesmo e a Sua graça que nos salva! Jesus é paciente, Jesus sabe esperar, espera-nos sempre. Esta é a sua mensagem de esperança, uma mensagem de salvação, antiga e sempre nova. E nós somos chamados a testemunhar com alegria esta mensagem do Evangelho da vida, do Evangelho da luz, da esperança e do amor. Porque a mensagem de Jesus é esta: vida, luz, esperança, amor”, conclui o Papa Francisco. ■
Santa Luzia
Santa
Luzia Os relatos de milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram em Santa Luzia, cujo nome está associado à visão (Luzia deriva de luz).
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ascida na cidade italiana de Siracusa no ano de 283, Lúcia – que mais tarde veio a ser conhecida como Santa Luzia – cresceu em uma família rica e cristã e era uma das mais belas jovens de sua cidade. A moça, no entanto, tinha uma forte convicção cristã e, consagrando-se a Jesus, fez secretamente um voto de virgindade perpétua. Seu pai morreu quando ela tinha apenas cinco anos. Desde então, viveu apenas com sua mãe, Eutíquia, que sofria de graves hemorragias internas. Conta a história que, em uma peregrinação das duas à cidade de Catânia, para visitar o túmulo de Santa Ágeda, mártir que morreu por não se converter aos ídolos, Eutíquia foi curada. Ao voltar da viagem com sua mãe, a jovem Luzia teve a certeza de que entregaria sua vida a Jesus. Revelou à sua mãe o voto que havia feito e decidiu doar seus bens aos necessitados.
Com o apoio da mãe, Lúcia começou a distribuir seus bens aos pobres. A atitude chamou a atenção do jovem que pretendia se casar com ela. Pagão e politeísta, ele a denunciou pela prática cristã ao prefeito de Siracusa. Este, por sua vez, encaminhou a jovem ao imperador romano Diocleciano.
“Adoro a um só Deus verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade”. Diante da resistência dela em se converter e venerar os ídolos, o imperador a mandou para uma casa de prostituição. Mas, surpreendentemente, nenhum homem conseguiu tocá-la, pois seus pés pareciam cravados no chão como raízes de plantas. Os soldados também tentaram atear fogo em seu corpo, mas as chamas não a atingiram. Vendo que nada convencia Lúcia a converter-se ao paganismo, Diocleciano ordenou que seus olhos fossem arrancados e entregues a ela em um prato. Milagrosamente no mesmo momento nasceram dois lindos olhos em seu rosto. Diante de tamanha resistência, em dezembro do ano de 304, o imperador romano mandou decepar sua cabeça. Suas últimas palavras demonstram o tamanho de sua fé:
“Adoro a um só Deus verdadeiro, e a Ele prometi amor e fidelidade”. O corpo de Lúcia foi sepultado nas catacumbas de Roma e sua fama de santa se espalhou pela Itália, Europa e mais tarde pelo mundo todo. Os relatos de milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram em Santa Luzia, cujo nome está associado à visão (Luzia deriva de luz). Hoje, é considerada a “Santa da Visão”, “Padroeira dos Oftalmologistas” e das pessoas com problemas oculares. A admiração por Santa Luzia se perpetuou na arte. Na obra “A Divina Comédia”, o escritor Dante Alighieri atribui a ela a função da graça iluminadora. ■
Hoje, é considerada a “Santa da Visão”, “Padroeira dos Oftalmologistas” e das pessoas com problemas oculares.
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As tradições Natalinas
SOCIEDADE E IGREJA NO BRASIL1
AS TRADIÇÕES NATALINAS E OS IMIGRANTES NO BRASIL
Os imigrantes trouxeram muitas tradições natalinas que acabaram se fundindo com os costumes locais. Por Marco Antonio Pratta
A
festa do Natal sempre foi cercada, em todo o mundo cristão, de um grande número de práticas e celebrações variáveis de acordo com cada cultura e cada contexto. A tradição do presépio, por exemplo, é de origem italiana, remontando ao período medieval de São Francisco de Assis, no século XIII. A representação do nascimento de Cristo, assim sendo, ganhou toda a Europa, chegou até Portugal e, consequentemente, ao Brasil. Os padres jesuítas portugueses, por exemplo, utilizavam comumente, na catequização, as representações teatrais e encenações de passagens da Bíblia e de festas litúrgicas.
A tradição do presépio, por exemplo, é de origem italiana, remontando ao período medieval de São Francisco de Assis, no século XIII. No interior paulista, as condições econômicas e sociais, inicialmente, eram muito precárias, e os meios de transporte muito primitivos. Não havia variedade de produtos e mesmo de decoração natalina. Com a cafeicultura e a chegada da ferrovia, no final do século XIX, as formas de acesso melhoraram muito. Moradores idosos e antigos da cidade, ainda hoje, relatam que, no final do ano, os pais que possuíam alguma condição mandavam comprar, em
São Paulo, pequenas caixas de madeira com maçãs e figos, que eram transportadas pelo trem. Como eram produtos caros e raros, só em épocas especiais, como o Natal ou a Páscoa, eram consumidos. As castanhas e as nozes eram pouco conhecidas. Entre as nacionalidades imigrantes presentes no interior paulista cafeeiro a mais numerosa foi a italiana. A Itália era, na época, uma nação pobre, agrária, extremamente povoada, com grandes famílias camponesas. Como a possibilidade de adquirir um lote de terras lá era inviável, a imigração para a América era o sonho de uma vida melhor. Além disso, o fato da Itália ter se tornado uma única na-
ção, em 1869, com a unificação de vários pequenos Estados, havia aumentado a carga tributária e surgido novas obrigações, como o serviço militar para os homens. Na então província de São Paulo os italianos fixaram-se, em especial, a partir de Campinas em direção ao interior. O Sertão Novo, como era conhecido, abrangia a direção de Ribeirão Preto, a nordeste; São Carlos do Pinhal, na área central; e a região de Sorocaba, a sudeste. Na década de 1870 entraram pelo porto de Santos 49.927 italianos. Na década seguinte foram 276.724. Na mesma época a província de São Paulo possuía 70 milhões de pés de café. Em 1900, agora como Estado, São Paulo possuía 220 milhões de cafeeiros. O fluxo de imigrantes era contínuo.
Entrada de imigrantes no porto de Santos, Estado de São Paulo. Anno
1897
1898
1899
1900
1901
1902
Número de Imigrantes
76.451
34.391
20.700
15.804
56.325
28.895
Fonte: Hutter, 1986.
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Milhares de homens, mulheres e crianças chegavam, principalmente, no porto de Santos e no porto do Rio de Janeiro, então capital do país. Pelos trilhos da ferrovia São Paulo Railway Company2 (Santos-Jundiaí), essas famílias subiam a Serra do Mar até a capital paulista, onde se hospedavam, gratuitamente, por oito dias na Hospedaria dos Imigrantes3.
Hospedaria dos Imigrantes
Inaugurada em 1887, no bairro do Brás, ela oferecia comida, água e pouso pagos pelo governo paulista. Geralmente os fazendeiros do interior dirigiam-se até a hospedaria para contratar os imigrantes, que já retornavam com eles para o interior. Caso, em oito dias, a família não encontrasse trabalho, teria que deixar o local e buscar outro abrigo.
Os imigrantes
Os imigrantes trouxeram muitas tradições natalinas que acabaram se fundindo com os costumes locais. Em Descalvado, o primeiro grande grupo de italianos que se tem registro chegou em janeiro de 1882. Faziam parte desse grupo as famílias Colombo, Pozzi, Berreta, Casatti, Malamann e Zerbetto. Em um grupo seguinte, logo depois, chegaram as famílias Franzin, Giacomelli, Brassalotto, Romão, Sassi, Taborelli e Casonato. Em 1893 chegou a família Pinca. Todos esses grupos eram provenientes, em sua maioria, do norte da Itália e, geralmente, embarcavam para o Brasil no porto de Gênova.
Como tudo era muito caro e de difícil acesso, enfeitavam-se as árvores com pinhas tingidas com purpurina e com chumaços de algodão, nos galhos, para representar a neve.
As Tradições
Rio Claro, Limeira e a região de Campinas receberam muitos alemães: deles é a tradição do pinheiro enfeitado como árvore de Natal. Em países de cultura germânica, mesmo antes do Cristianismo, a árvore era considerada um ente natural sagrado, motivo pelo qual em muitas culturas, até hoje, uma data especial é marcada com o plantio de uma árvore. No interior, como não havia ainda árvores artificiais, usavam-se galhos secos ou mesmo pequenos pinheiros naturais. A família Prescinotti, que residia em uma casa com um amplo quintal, na Rua Coronel Arthur Whitacker, logo abaixo do cruzamento com a atual Avenida Guerino-Oswaldo4, plantava pinheiros que eram vendidos nas vésperas do Natal. Como tudo era muito caro e de difícil acesso, enfeitavam-se as árvores com pinhas tingidas com purpurina e com chumaços de algodão, nos galhos, para representar a neve.
Após a Missa do Galo, celebrada na passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro, à meia-noite, as famílias se recolhiam e, no dia seguinte, no almoço, comemoravam a data. Aves e suínos eram comuns nessa refeição. A bebida era composta por vinho tinto, cerveja, que era consumida sempre quente, e anisete5. Cada grupo de imigrantes tinha os seus costumes. Os portugueses costumavam cozinhar para a festa muitos doces à base de leite e nata. Entre os espanhóis havia o costume do cabrito assado. Os sírio-libaneses confeccionavam sobremesas à base de frutas cítricas, principalmente o limão, juntamente com frutas secas e cristalizadas. ■
Nos textos antigos está mantida a ortografia original da época. Conhecida como A Inglesa, foi a primeira ferrovia construída em território paulista. 3 Construída no governo provincial do Conde de Parnaíba, Antônio de Queiroz Telles, ficava ao lado da ferrovia. Atualmente o prédio abriga o Museu da Imigração. 4 Parte da família ainda reside no mesmo local. 5 Licor de anis, erva de origem asiática, também usada para a fabricação de xaropes (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 1986, 124). 1
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Bibliografia: DESCALVADO. Arquivo de jornais da Biblioteca Pública Municipal “Gérson Alfio de Marco”. HUTTER, Lucy Maffei. Imigração italiana em São Paulo de 1902 a 1914: o processo imigratório. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros – USP, 1986. Especial de Natal | Revista Católica 13
São Sebastião
A história de
São Sebastião São Sebastião é conhecido por ter servido a dois exércitos: o de Roma e o de Cristo. Por Pe. Antonio Carlos de Almeida
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ão Sebastião era um soldado romano que foi martirizado por professar e não renegar a fé em Cristo Jesus. Sua história é conhecida somente pelas atas romanas de sua condenação e martírio. Nessas atas de martírio de cristãos, os escribas escreviam dando poucos detalhes sobre o martirizado e muitos detalhes sobre as torturas e sofrimentos causados a eles, antes de morrerem. Essas atas eram expostas ao público nas cidades para desestimular a adesão ao cristianismo. São Sebastião nasceu na cidade de Narbona, na França, em 256 d.C. Seu nome de origem grega, Sebastós, significa “divino, venerável”. Ainda pequeno, sua família mudou-se para Milão, na Itália, onde ele cresceu e estudou. Sebastião optou por seguir a carreira militar como seu pai. No exército romano, chegou a ser capitão da primeira guarda pretoriana. Esse cargo só era ocupado por pessoas ilustres, dignas e corretas. Sebastião era muito dedicado à carreira, tendo o reconhecimento dos amigos e até mesmo do Imperador romano, Maximiano. Na época, o império romano era governado por Diocleciano, no Oriente, e por Maximiano, no Ocidente. Maximiano não sabia que Sebastião era cristão. Não sabia também que Sebastião, sem deixar de cumprir seus deveres militares, não participava dos martírios nem das manifestações de idolatria dos romanos. Por isso, São Sebastião é conhecido por ter servido a dois exércitos: o de Roma e o de Cristo. Sempre que conseguia uma oportunidade, visitava os cristãos presos e levava ajuda aos que estavam doentes e aos que precisavam. De acordo com os Atos Apócrifos atribuídos a Santo Ambrósio de Milão, Sebastião teria se alistado no exército romano já com a única intenção de afirmar e dar força ao coração dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas. 14 Atrás da Palavra
Ao tomar conhecimento de cristãos infiltrados no exército romano, Maximiano realizou uma caça a esses homens, expulsando-os do exército. Só os filhos de soldados ficaram obrigados a servirem o exército e este era o caso do capitão Sebastião. Para os outros jovens a escolha era livre. Denunciado por um soldado, o Imperador se sentiu traído e mandou que Sebastião renunciasse à sua fé em Jesus Cristo. Sebastião se negou a fazer esta renúncia. Por isso, Maximiano mandou que ele fosse morto para servir de exemplo e desestímulo aos outros. Maximiano, porém, ordenou que Sebastião tivesse uma morte cruel diante de todos. Assim, os arqueiros receberam ordens para o matarem
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à flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste cristã, e disse que ela encontraria o corpo dele pendurado no estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferinum poço. Ele pediu para ser enterrado nas catacumbas, do, deixaram que ele sangrasse até morrer. junto dos apóstolos. Irene, uma cristã devota, e um grupo de amigos, foram ao loAlguns autores acreditam que Sebastião foi enterrado no cal e, surpresos, viram que Sebastião continuava vivo. O levajardim da casa de Lucina, na Via Ápia, onde se encontra sua ram dali e o esconderam na casa de basílica. Construíram, então, nas catacumIrene, que cuidou de seus ferimentos. bas, um templo: a basílica de São SebasSão Sebastião era um Depois de curado, Sebastião contião. O templo existe até hoje e recebe desoldado romano que tinuou evangelizando e se aprevotos e peregrinos do mundo todo. foi martirizado por sentou ao Imperador Maximiano, professar e não renegar Tal como São Jorge, Sebastião foi um dos pedindo insistentemente que ele soldados romanos mártires e santos, cujo a fé em Cristo Jesus. parasse de perseguir e matar os culto nasceu no século IV e que atingiu o cristãos, mas o Imperador não atendeu ao seu pedido. seu auge nos séculos XIV e XV, tanto na Igreja Católica como Revoltado com a atitude de Sebastião, Maximiano o conna Igreja Ortodoxa. A vida e a história de São Sebastião são denou novamente à morte, mas desta vez o Imperador celebradas no dia 20 de janeiro. Existe também uma capela mandou que o açoitassem até morrer e depois fosse jogaem Palatino, com uma pintura que mostra Irene tratando do numa fossa, para que nenhum cristão o encontrasse. das feridas de Sebastião. Irene também foi canonizada e sua Porém, após sua morte, Sebastião apareceu a Lucina, uma festa é no dia 30 de março.
Significado e Simbolismo A imagem A imagem de São Sebastião, tão conhecida de todos nós, revela um momento importante do martírio deste grande santo. Francês de nascimento, nascido em 256, Sebastião ingressou no exército romano e tornou-se capitão da guarda pretoriana, cargo de confiança do Imperador. Sebastião, porém, era cristão e, sempre que podia, visitava os irmãos na fé que estavam presos, levando-lhes conforto espiritual e consolo. Posicionava-se contra as perseguições e torturas infringidas aos cristãos. Por isso, descoberto pelo Imperador Maximiano, foi preso, torturado e obrigado a renunciar a sua fé cristã. Negando-se a obedecer, o Imperador o condenou a uma morte lenta e exemplar.
As flechas de São Sebastião As flechas de São Sebastião revelam-nos a primeira fase das torturas que o santo enfrentou. Tendo como algozes seus companheiros de exército, ele suportou várias flechadas em seu corpo, sem renegar a fé. Quando todos pensaram que ele estivesse morto, deixaram-no amarrado para ser devorado pelos animais e aves de rapina.
A árvore de São Sebastião São Sebastião é representado amarrado numa árvore em especial: o carvalho. No cristianismo primitivo, o carvalho era o símbolo da perseverança, da tenacidade e da persistência, por causa da dureza desta madeira nobre. Assim, este símbolo nos fala da firmeza, da tenacidade e da perseverança de São Sebastião. E a força que ele recebeu do céu foi tão grande, que ele não morreu em decorrência das flechadas. Ele foi recolhido por outros cristãos e cuidado por Santa Irene até se recuperar totalmente. O carvalho simboliza toda a força de São Sebastião. Especial de Natal | Revista Católica 15
São Sebastião
O corpo seminu de São Sebastião O corpo seminu de São Sebastião simboliza a humilhação que ele sofreu por parte do império romano. Simboliza também o “despir-se do homem velho, fraco e pecador, para vestir-se de Cristo, forte e vencedor.”
A AURA de São Sebastião A aura de São Sebastião representa sua santidade, testemunhada por vários cristãos da época. Esta santidade aparece desde o seu amor dedicado aos cristãos presos e necessitados, até sua disposição de morrer por Jesus Cristo sem renegar sua fé. Trata-se de um grande testemunho, que serviu de exemplo para milhares de cristãos ao longo de séculos.
O pano vermelho de São Sebastião O pano vermelho de São Sebastião, cobrindo suas partes íntimas, simboliza o duplo martírio. O primeiro é este retratado na imagem. O segundo foi aquele que causou sua morte física e teve causa mais nobre ainda. Depois de recuperado, Sebastião voltou a se apresentar ao Imperador, para lhe pedir que parasse com as perseguições contra os cristãos, alegando que o Imperador estava perseguindo o próprio Jesus Cristo na pessoa de seus seguidores. O Imperador, porém, não cedeu e mandou que Sebastião fosse açoitado e decapitado. Assim aconteceu. Por isso, o pano vermelho em São Sebastião representa seu duplo martírio. ■ Fonte: www.cruzterrasanta.com.br/historia/sao-sebastiao
Celebração do Natal
Celebração do Natal Por Luis Pedezzi
em Família
Comemorar ou celebrar o Natal?
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mbora as duas palavras tenham o mesmo significado, sejam sinônimos, celebrar tem uma conotação especial: “Cumprir solenemente um ritual religioso”. Então, celebrar o Natal é mais do que uma simples comemoração de dar e receber presentes e desejos de paz e de amor. É sim, participar da construção da paz através de nossa religião. Para isso somos convidados a fazer parte de momentos especiais como a Novena do Natal, as Liturgias Dominicais do Advento, a Vigília do Natal, a Liturgia do Natal e o Tempo Litúrgico do Natal. Quanta coisa! E cada momento tem um significado particular. Não vamos aqui descrever todos, mas buscar um olhar familiar sobre eles. O Advento é a família de Deus na espera do seu salvador. O Natal é a chegada do salvador através de uma família. O Tempo do Natal é a nossa família celebrando o 16 Atrás da Palavra
amor. Amor que traz a paz. Não a paz da ausência de conflitos, mas a paz de quem sabe qual caminho tomar. Colocando a pessoa acima do conflito – como Jesus faz –, e colocando o pecador acima do seu pecado, não aceitando o pecado e pelo amor libertando-o.
Assim, celebrar o Natal em Família é colocar as pessoas em primeiro lugar, amando-as, respeitando-as e participando de seus sucessos e fracassos.Pais e Filhos só se entenderão quando colocarem suas diferenças de lado e colocarem Jesus de Nazaré no centro de seus conflitos, para que o amor, que se encarnou, se manifeste através deles. ■
Feliz Natal a todas as famílias!
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O Tempo do Natal é a nossa família celebrando o amor. Amor que traz a paz.
O Jovem na Igreja
O Jovem na Igreja:
É possível
ser Santo!
Todos nós podemos ser jovens Santos, assim como Chiara Luce. Por Juliana Forte
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esde muito cedo Deus nos chama, nos encaminha a nossos pais e, às vezes, muitos não ouvem esse chamado. É o que acontece com a maioria dos jovens de hoje. Nossas vidas são cheias de dúvidas. Ao passar dos anos, algumas são esclarecidas e outras seguem em mistério junto a Deus, para que tenhamos conhecimento dos nossos limites. Nós jovens somos assim! A expectativa de conhecer uma nova escola, fazer novos amigos, comprar um calçado da
moda, escolher uma profissão, o otimismo, a ansiedade, o namoro, o casamento, o consumismo, sonhos e mais sonhos. Tudo isso, de certo modo, nos possui. Mas muitos se esquecem do mais importante: Deus acima de tudo.
Se não colocarmos Ele à frente, o que vamos conseguir? É difícil, em nosso cotidiano, explicar para as pessoas o que é ter fé, sentir o coração tocado quando o padre explica o Evangelho e, no silêncio de nosso coração, refletir: “isso foi para mim”. Pessoas que não entendem esse significado procuram desculpas e até palavras ofensivas para falar da Igreja. Não abriram o coração como
realmente deveriam. Sempre acham tempo para o lazer: passear, curtir o fim de semana com amigos, beber, fazer um churrasco. Encontram outros motivos para não participar dos ótimos momentos em família e nas missas dominicais. É possível a conciliação desses dois mundos? Lembre-se: “Não se pode seguir a dois senhores ao mesmo tempo”. Mas, o Pai não quer nenhum de seus filhos infelizes, por isso nos deu a liberdade de desfrutar do que existe no mundo, desde que seja com respeito, calma, sinceridade. Todos nós podemos ser jovens Santos, assim como Chiara Luce. Vocês a conhecem? A seguir, um breve relato sobre essa jovem beata que encontrou a luz e seu coração cheio de amor por Deus.
Especial de Natal | Revista Católica 17
Foto • www.ofielcatolico.com.br
O Jovem na Igreja
Chiara Luce: “A Clara luz do Ressuscitado!”. Aos 29 dias de outubro de 1971 em Sasselo, uma pequena cidade no noroeste da Itália, nascia Chiara Badano. Sua família era de origem humilde e muito católica. Sua chegada trouxe muita alegria, pois seus pais Maria Teresa e Ruggero Badano a esperavam por mais de 10 anos. Era uma menina inteligente, carismática, sempre com amigos em sua volta. Na escola, sua professora chegou a dizer que ela seria uma juíza ou advogada, pois sua autenticidade era incrível. Ela disse à sua mãe que a professora não acreditava em Deus e criticava o Papa da época por suas viagens a outros paises. “Simplesmente disse que não concordo com ela. O motivo das viagens do Papa é evangelizar e levar Jesus Cristo para todos os lugares”, disse Chiara. Passou a fazer parte do Gen 4, que conhecemos como Movimento Jovem, onde acontecem palestras e viagens pela região, levando jovens para o caminho de Deus. Sua fé cada vez mais intensa fazia-se presente em missas e palestras. Chiara, conversando através de cartas com a fundadora do Gen 4, Chiara Lubich, pediu-lhe para que desse um novo nome a ela, desejo de todos que faziam parte do grupo. Lubich demorou a lhe escrever, mas quando retornou disse: Chiara Luce.
“Vem ó Espírito Santo, mande para nós dos céus um raio de tua luz”.
seria o dia de seu casamento com Jesus. E assim foi feito. Após receber a Santa Comunhão pediu que recitassem a oração do Espírito Santo: “Vem ó Espírito Santo, mande para nós dos céus, um raio de tua luz”. Chiara faleceu na madrugada de 7 de outubro de 1990, aos 18 anos. Dom Livio Maritano, bispo de Acqui, Itália, conheceu-a pessoalmente e iniciou o processo de beatificação. Em 25 de setembro de 2010 a Igreja proclamou Chiara Badano como beata.
Se é o que você quer Jesus, eu também quero! Chiara era linda, tinha um sorriso impactante, adorava esportes, especialmente o tênis. Em um desses jogos passou a sentir fortes dores nos ombros, mas não disse a ninguém. Quando as dores se intensificaram, procurou um especialista que iniciou um tratamento para uma costela fraturada, com injeções muito doloridas. Mas as dores continuaram e um diagnóstico mais preciso revelou o inesperado: Sarcoma Osteogênico com metástase, um dos tumores mais cruéis e, na época, sem cura. Alguns dias depois, quando foi dada a noticia a ela, Chiara ficou em silêncio por aproximadamente 30 minutos e disse: “Se é o que você quer Jesus, eu também quero!”. Com seu estado de saúde cada vez mais agravado, pediu que em seu funeral não derramassem nenhuma lágrima e sim cantassem bem alto, pois
“Os jovens são o futuro. Eu não posso mais correr. Porém, gostaria de passar a tocha, como nas Olimpíadas. Os jovens têm uma vida só e vale a pena empregá-la bem!”. Essa é uma das muitas historias de jovens que entregaram seus corações para Deus, mostrando-nos que é possível ser santo em nossa geração! Vamos dizer sim às benfeitorias do Senhor e abrir mão das muitas coisas sujas existentes nesse mundo. Nossa caminhada é difícil, mas seguindo os passos de Jesus ficará mais fácil e ampla e alcançaremos o esperado: a vida eterna. Como a beata Chiara Luce disse: “Os jovens são o futuro. Eu não posso mais correr. Porém, gostaria de passar a tocha, como nas Olimpíadas. Os jovens têm uma vida só e vale a pena empregá-la bem! Empregar a vida da melhor maneira possível consiste em aderir à vida de Jesus Cristo e com Ele viver unicamente”. ■ Fonte consultada: A clara luz de Chiara Luce. Michele Zanzucchi. Editora Cidade Nova
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