5 minute read

JUNHO:TRABALHADORES DO COMÉRCIO

TRABALHADORES DO COMÉRCIO

IMAGENS ALBERTO ALMEIDA

Advertisement

Quem são os Trabalhadores do Comércio?

Os Trabalhadores são hoje um coletivo bem maior do que, originalmente, constituiu o embrião do projeto. São uma espécie de “família” onde cabem diversas tendências musicais, distintas formas de compor e escrever, variados estilos de execução instrumental e vocal e uma pitada de performance teatral com toque satírico. Os Trabalhadores criaram um estilo e uma linguagem com os quais mantêm uma atitude coerente face às mudanças de paradigma. Ao longo destes 38 anos, a banda passou por diversas formações, nas que sempre estiveram presentes diversos elementos fundadores, ainda que, em algum momento não participassem em eventos ou gravações. Desse extenso elenco fazem parte Álvaro Azevedo, João Medicis, Sérgio Castro, Miguel Cerqueira, Jorge Filipe, Pony Machado, Daniel Tércio, Daniela Costa, Diana Basto, Marta Ren, José Santos (já falecido), Isabel Ventura, Luisa Carvalho, Benedita Ribeiro, Ana Freire, Jorge Barros, Quim Pastel, Fiu.

Como começou a vossa história?

Essa estória está na História da banda, ou dos seus primeiros 10 anos, publicada em livro/CD com o genérico “Das Turmêntas Hà Boua Isperansa” que ainda se pode conseguir, pelo menos através da nossa página de Facebook. Os detalhes são mais que muitos e a vossa revista transformar-se-ia num monográfico sobre Trabalhadores se os contássemos aqui e agora. Não queremos que isso possa suceder, pelo que convidamos os leitores a procurar o livro.

Em que medida é que o Norte (neste caso o Porto) influencia o vosso trabalho?

Provavelmente o sentido da pergunta deva ser o inverso. Nós estamos convencidos que foi o nosso trabalho que influenciou o Porto e o Norte em geral, eliminando em grande parte o complexo de inferioridade que parecia impedir este povo de assumir o seu sotaque e linguajar tão genuínos. Trabalhos como os editados pelo conjunto António Mafra, onde a originalíssima forma de cantar do Manuel Barros sobressaía, foram influências inestimáveis para todos e para nós em particular. Mas também as tradições Minhotas, Transmontanas e Beirãs, assim como as margens deste belo Douro que nos refresca toda a área metropolitana, foram outros tantos motes para muitas das nossas canções.

Quais têm sido as vossas fontes de inspiração?

Obviamente o nosso passado de músicos ligados ao Rock e

DISCOGRAFIA

•Trip’s à Moda Do Porto LP, PolyGram, 1981 •Na Braza LP, Polygram, 1982 •Mais Um Membro P’ra Europa LP, TDB, 1986 •Trabalhadores do Comércio Compilação, Polygram, 1989 •Sermões a Todo o Rebanho LP, PolyGram, 1990 •O Milhor dos Trabalhadores do Comércio Compilação, PolyGram, 1995 •O Milhor dos Trabalhadores do Comércio+2 Compilação, PolyGram, 1996 •Iblussom 2CD, Farol/TDB, 2007 •Das Turmêntas Hà Boua Isperansa CD+livro, TDB, 2011

ao Blues, as influências do Jazz e da Música Progressiva que escutávamos ou chegámos a praticar e, afinal, essa abertura que nos impusemos desde o início, estão na origem da diversidade de sonoridades que temos gravadas. De Alfredo Marceneiro a Frank Zappa, para nós, qualquer influência é válida. Creio que uma boa jantarada, um filme de longa-metragem ou uma viajem por terras do Douro, podem dar um belo guião para uma nova composição. Mas também há canções de amor e de desamor ou até de “dor de corno”. Da mesma forma, e porque estamos atentos ao que se passa no mundo, a imigração, a emigração, o massacre e a miséria estão presentes. Somos conscientes, somos gente de bem.

Como é o processo de criação das vossas músicas?

Pode-se fazer uma canção de muitas maneiras e por muitos motivos. Recentemente escrevemos um hino para uma associação desportiva. Entregaram-nos uma letra e construímos uma melodia e uma harmonia para a suportar. Muitos temas são construídos a partir de uma ideia escrita. Muitas palavras já trazem música ou, pelo menos ritmo. Os “rappers” e “hip-hoppers” são um bom exemplo disso. Mas há momentos, principalmente coletivos, em que se criam melodias ou temas instrumentais completos aos que, posteriormente, se lhes adiciona uma letra. Qualquer processo é válido.

Em Matosinhos e no Grande Porto onde costumam dar concertos?

Pois o último concerto que demos no Grande Porto foi a 23 de Junho de 2017, na Avenida dos Aliados e perante um mar de gente que nos recebeu de braços abertos. Um concerto memorável, pelo menos para nós. Infelizmente – ou se calhar não – não temos um “manager”, mas a verdade é que tocamos pouco ou, pelo menos, muito menos do que gostaríamos. O último concerto de Matosinhos ocorreu a 4 de Maio de 2013 na alameda da praia na noite em que – dizem – até os extraterrestres nos vieram ouvir. Há anos que nos prometem um recital no Auditório Constantino Nery, mas nunca acontece: santos da casa...!

Têm concertos agendados para este ano?

Temos, mas realmente são poucos. Ou, pelo menos, muito menos do que gostaríamos e mereceríamos. A questão é que não passamos na rádio “mainstream”, não estamos na moda e não temos o apoio dos media. Para estes últimos somos uma espécie em vias de extinção que lhes serve para preencher programas sobre dinossauros e fenómenos paranormais.

Projetos em desenvolvimento ou projetos para o futuro, existem? Quais?

Nesta altura do campeonato já não se fazem projetos. Ou se executam as ideias ou o tempo as apaga como as ondas do mar apagam a pegadas que deixamos na areia. Temos quantidade de temas que podíamos gravar e sacar novos discos. Mas, para quê, se o pagode ainda nem sequer ouviu os dois últimos com a atenção devida?! No dia em que o pessoal perceba que o “Iblussom”, que foi talvez o álbum mais vendido em 2007 – e só vendeu 6 mil cópias – esgotou e já não se pode encontrar no mercado, entenderá que algo não vai bem na divulgação da música feita em Portugal. Um disco com colaborações incontornáveis dos Vozes da Rádio, do Rui Veloso ou do Berg, com uma produção esmerada do Nuno Meireles e dos Trabalhadores e com uma sonoridade realmente diferente, devia ter merecido outro tratamento da parte dos meios de comunicação. Ainda assim as críticas foram excelentes.

Já estiveram presentes em festivais de referência? Quais?

SuperBock, Vilar de Mouros, Paredes de Coura, Delta Tejo...? É isso? Festivais de referência? Para quem? No Delta Tejo de 2008 havia uma foto gigante dos Trabalhadores que se via desde o outro lado da ponte 25 de Abril. Mas isso era assim porque o Montepio queria que fosse e pagou para tal... Percebem? É tudo uma grande tanga...

Já ganharam algum prémio, distinção ou homenagem?

Creio que sim e, felizmente, não foi dos organismos oficiais, pois isso seria a negação de todo o nosso trabalho. A que me vem à ideia, foi-nos recentemente atribuída pelo Académico Futebol Clube, no Porto e entregue pelo, então, vice-presidente da Câmara, Manuel Pizarro, pelo contributo cultural à região dado pelos Trabalhadores. Esta distinção deixou-nos deveras sensibilizados.

This article is from: