CARTA DA BAM Região Brasil Amazônia – Jesuítas Peregrinos como Inácio, pelos rios e terras da Amazônia
Manaus, 19 de OUTUBRO de 2013 Amigos e companheiros de missão, Outubro já caminha para o seu final e temos muitos motivos para continuar animados na missão que Deus nos convida a ser colaboradores e colaboradoras, sobretudo neste mês missionário. De fato, mesmo em meio a tantas necessidades e falta de maiores recursos humanos e financeiros que experimentamos em nossa região, quando passamos pelas nossas casas e conversamos com os companheiros jesuítas, notamos a sua alegria e vigor apostólico por estarem atuando nas fronteiras mais diversas do nosso mundo, seja aquelas geográficas, que colocam a Amazônia como fim de estrada, especialmente os seus rincões mais remotos, tais como Tabatinga (fronteira com a Colômbia e Peru) e Bonfim (fronteira com a Guiana), seja aquelas da exclusão social como é atuar na reflexão e ação concreta em prol dos indígenas, ribeirinhos, migrantes (especialmente os haitianos), marginalizados das periferias urbanas e defesa do meio ambiente, seja ainda em fronteiras como as do diálogo da fé com a cultura, a ciência, as universidades, as juventudes e as espiritualidades hodiernas, por meio dos diversos serviços que buscamos prestar nas pastorais universitárias, nos serviços de espiritualidade inaciana, na rede inaciana de juventudes, etc. Muito há pela frente a se fazer e a melhorar, mas não estamos sozinhos nesta empreitada. Junto conosco estão tanta gente comprometida com a causa do Reino, estão os nossos bispos, outros religiosos e religiosas consagrados, as lideranças leigas de nossas comunidades e pastorais, homens e mulheres de boa vontade, enfim, com quem vamos aprendendo a tecer juntos uma grande rede de solidariedade e fraternidade universal. A nos encher ainda mais de esperança, está também o desejo dos demais jesuítas do Brasil em caminhar cada vez mais próximos a nós e conosco, na medida em que avançamos na criação da nova Província do Brasil e colocamos dentro da mesma a Amazônia como prioridade. Da mesma forma, as demais províncias da América Latina nos dão novo ânimo, ao apoiar a iniciativa da CPAL de nomear um coordenador para o projeto panamazônico, em vista a termos em breve uma ou mais comunidades jesuítas em nossas tríplices fronteiras. Que outubro, mês da festa da padroeira do Brasil e da Rainha da Amazônia, com os títulos de Nossa Senhora Aparecida e de Nazaré, também nos confirmem no desejo missionário de sempre apresentar ao Filho as necessidades mais profundas do ser humano, agindo e intercedendo por eles, mas também ajudando-os a seguir o conselho mariano: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”. Em união de corações, Pe. Adelson A. Santos sj Superior Regional BAM
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NOVIDADES NA REGIÃO...
NOVO VICE-SUPERIOR EM BONFIM – Durante a visita canônica que fez em setembro aos jesuítas da Estação missionária Pe. Christophe Six, em Bonfim/RR, na fronteira Brasil-Guiana, o superior regional confirmou a substituição do Pe. Roberto Jaramillo pelo Pe. Urbano Mueller, como vicesuperior local da comunidade. O Pe. Urbano também sucederá ao Pe. Setsuro Horie como responsável pela área missionária, que compreende 22 comunidades indígenas e 05 comunidades não-indígenas. Aos companheiros Roberto e Horie fica o agradecimento de toda a Companhia pelo dedicado serviço prestado. E ao companheiro Urbano os votos de feliz êxito em mais estes encargos que assume! MUDANÇAS NA COMUNIDADE DE MARABÁ - Após a visita canônica que fez aos jesuítas de Marabá e depois de ter sido realizada a reunião da consulta da BAM, o superior regional confirmou a nova destinação do Pe. Bruno Schizzerotto, que retornará a Manaus para ser o diretor da Casa de Retiro Ir. Vicente Cañas e assumir outras funções na cúria. A comunidade jesuíta de Marabá, porém, ganhará um novo sacerdote, pois em janeiro chegará o Pe. Cícero Edvan Magalhães, para integrar a missão da Companhia naquela cidade. Ele será vigário paroquial, enquanto o Pe. José Miguel Clemente assumirá como novo pároco da Paróquia Sagrada Família. Que Deus abençoe a todos em suas novas missões!
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CLERO DE MARABÁ FAZ EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS – Na mesma época em que esteve em Marabá visitando os jesuítas da residência Santo Inácio, o superior regional aceitou orientar o retiro anual do clero da diocese, a pedido de Dom Vital Corbellini. Foram quatro dias de introdução dos participantes na dinâmica características dos Exercícios, tais como os cinco passos da oração, o silêncio, a partilha das moções. Um sinal do quanto a experiência repercutiu positivamente foi o pedido dos padres para que se aumente na próxima vez o tempo do retiro para mais dias.
CENTRO MAGIS DE JUVENTUDE TEM NOVO DIRETOR – Uma missa presidida pelo superior regional e seguida de um lanche partilhado entre jesuítas, jovens e colaboradores, marcou a posse do novo diretor do Centro Magis de Juventude, em Belém, no última dia 17 de outubro. Trata-se do estudante jesuíta Bruno Torres, que passou os últimos dois anos na China e agora retornou ao Brasil para fazer o último ano da etapa do Magistério, devendo seguir depois para a Teologia. Bruno substituirá o Pe. Edson Tomé, para que este fique mais liberado para a sua missão primeira, que é coordenar toda a área Juventudes e Vocações da BAM, como também a RIJ – Rede Inaciana de Juventude.
4 ECOAR PERMANECE FECHADO ATÉ A VOLTA DO PE. ANSELMO – Já está no México desde o último dia 15, o Pe. Anselmo Dias, onde fará a Terceira Provação. E no final deste mês o jovem Samuel Martins termina o seu voluntariado e retorna à sua cidade. Por causa disso o Escritório de Comunicação e Arrecadação de Recursos da BAM ficará fechado até princípio de maio de 2014. Continuarão em andamento, porém, o recebimento de pedidos de projetos e de voluntários para as nossas obras, bem como a campanha em favor da formação dos jovens jesuítas. Ao Pe. Anselmo desejamos um tempo de verdadeira graça nesta última etapa da sua formação na Companhia. E a Samuel o nosso muito obrigado pela grande colaboração que deu à BAM neste semestre. Volte sempre! PE. RONALDO CONTINUA ITINERÂNCIA TEOLÓGICA PELA AMAZÔNIA – Pelo segundo ano consecutivo, o nosso teólogo Ronaldo Colavecchio tem ajudado na formação de várias igrejas locais da Amazônia, com seus cursos e seus livros. De 9 a 14 de Julho esteve em Tefé dando retiro com o Núcleo da CRB. De 16 a 23 de Julho foi a Santarém para o Curso de Férias, no Centro de Treinamento da Diocese. De 23 de Julho até 29 de Agosto passou por Belém para dar um curso sobre São Lucas. Já no dia primeiro de Setembro até o dia 29 foi à Prelazia de Coari, novamente para dar um curso sobre São Lucas. Finalmente, de 2 de Outubro até 3 de Dezembro está dando um curso de Seminarística, Literatura Joanina, na diocese de Rio Branco, Acre. Continuará ali até o Natal, ajudando numa paróquia. PROVÍNCIAS DA BOLIVIA E COLOMBIA DESTINAM JESUÍTAS PARA A BAM – A fim de somarem com os quase trinta jesuítas que já atuam na região Brasil-Amazônia, estarão chegando no início de 2014 mais dois jesuítas, vindos das províncias da Bolívia e da Colômbia. São Eles: Pe. Rafael Lería, ordenado sacerdote em julho deste ano; E o “maestrillo” Mario Cabal, que fará o terceiro ano de magistério conosco. Aos dois missionários e às suas províncias de origem a nossa gratidão por nos ajudar a tornar mais real a presença da Companhia nestas terras, rios e florestas, juntos aos mais sofridos e esquecidos. Bienvenidos!
5 CVX (COMUNIDADES DE VIDA CRISTÃ) MUNDIAL ENVIA CASAL PARA O VOLUNTARIADO NA AMAZÔNIA – Com muita alegria recebemos a confirmação da parte do presidente mundial da CVX, Mauricio Lopez, de que em janeiro de 2014 deverão chegar em Manaus o casal Carmen Amaya e Jairo Forero, provenientes da cidade de Bogotá, Colômbia. Tal fato é consequência de uma parceria que se está a cada dia mais se fortalecendo entre a CVX e a Companhia de Jesus na Amazônia (BAM), para fomentar o serviço missionário entre os leigos inacianos do mundo inteiro, em apoio a uma região ainda necessitada de muitas formas ajuda no campo espiritual, social, pastoral, educacional, etc. SIES (SERVIÇO INACIANO DE ESPIRITUALIDADE) DE BELÉM FAZ BALANÇO DE SUAS ATIVIDADES NOS ÚLTIMOS 03 ANOS – Um rico relatório cuidadosamente preparado pelo casal Maria Olinda e Bento Pimentel foi enviado aos jesuítas, pelo qual se pode ver a diversidade de atividades desenvolvidas pelo SIES de Belém, desde o seu nascimento (no segundo semestre de 2009) até os dias de hoje. Entre essas atividades se destacam: Exercícios Espirituais em etapas; Retiro para jovens; Retiro Quaresmal; Exercícios Espirituais de 8 dias; Semana de Espiritualidade; Reuniões ordinárias; Eventos de formação; Palestras e cursos; Estudos sobre temas Inacianos; Organização e/ou participação em missão; Participação em eventos nacionais Regionais; Visitas de apresentação e contato com outras paróquias e comunidades religiosas; Etc. Por aí se vê como as dificuldades não impediram esta pequena equipe de realizar um trabalho frutuoso para o serviço da fé, por meio da espiritualidade inaciana. Parabéns! LANÇADA EM MANAUS A CAMPANHA DE APOIO À FORMAÇÃO DE JOVENS JESUÍTAS – Uma missa presidida pelo superior regional, seguida de um coquetel nas dependências do Centro Loyola de Pastoral, marcou o lançamento da campanha em prol de arrecadação de recursos para ajudar na formação dos futuros irmãos e sacerdotes jesuítas na Amazônia. Familiares, amigos e leigos inacianos aderiram à campanha fazendo-se presente e prometendo engajar-se pelo crescimento das vocações jesuítas na região. Nota dez para a iniciativa do ECOAR. A próxima etapa prevê o lançamento de mesma campanha em Belém.
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Jesuítas se unem a milhares de devotos na Festa do Círio de Nazaré em Belém do Pará A Comunidade Jesuíta da Capela de Lourdes recebeu grande número de companheiros durante a festa do Cìrio 2013 que, sem dúvida, é a maior expressão religiosa popular do Brasil. Estiveram conosco os PP. Carlos Palácio (Provincial do Brasil), Adelson Santos (Superior Regional da AM), Cleomar Oliveira (Ecônomo da BAM), Jair Barbosa (mestre de noviços), Delmar Cardoso (Professor da FAJE), Bruno Schizerotto (Marabá), Luigi Rossini (que trabalhou muitos anos em Belém e hoje vive na Itália) e Dionel Amaral (jesuíta paraense que trabalha na PUC do Rio). Nesses dias também chegou o Escolástico Bruno Torres que fará o seu magistério conosco (Centro Magis). Pe. Plutarco, SJ
Autor do manto que cobre a imagem de Nossa Senhora de Nazaré este ano, o estilista Carlos Amílcar Pereira afirmou à imprensa que pensou em fazer uma homenagem à aproximação dos 400 anos da presença e ação evangelizadora das missões cristãs católicas na Amazônia, desde o século XVII, destacando o papel da Companhia de Jesus, pioneira nesse processo evangelizador. Por isso colocou no manto o brasão do Papa Francisco, em alusão à sua eleição em 13 de março de 2013, sendo ele o primeiro papa latino-americano, primeiro papa não europeu em 1.200 anos e o primeiro papa jesuíta de toda a História.
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Rede do apostolado social da BAM: Um rosto colorido e diversificado A equipe da Rede do Apostolado Social da BAM realizou em setembro, no Centro Loyola, o seu sétimo encontro de articulação das obras e presença apostólicas dos jesuítas que atuam no âmbito do social. A rede teve início de suas atividades em fevereiro deste ano em que o Pe. Alfredo Ferro, SJ do Apostolado Social da CPAL nos motivou a criar maior integração e comunicação entre jesuítas e colaboradores que atuam neste importante apostolado que caracteriza uns dos serviços prestados pela Companhia de Jesus a vinha do Senhor. Em nosso penúltimo encontro foi nos dado, pela BAM, à tarefa pensar e realizar um seminário de formação ético-político. Assim sendo, foi criada uma pequena comissão por elaborar uma proposta de trabalho. Em nossa reunião de setembro, nós nos dedicamos a estudar e avaliar a proposta da comissão. Após um longo e intenso dia de debate cremos ter alcançado um ideal: realizar um seminário que conheça a realidade formativa das obras da BAM e convidar a todos a criamos juntos algo em comum e aplicável no campo da formação sociopolítica. Não é tanto do seminário que desejo falar neste artigo, até por que ele ainda está por se fazer. Mas pegar esta intuição apresentada em nosso último encontro e mostrar que um dos objetivos da Rede do Apostolado Social da BAM, além de ser um espaço de reflexão e debate das obras da BAM, é buscar conhecer o contexto amazônico, que estamos inseridos, a fim de conhecer a problemática amazônica e resultar nas nossas atividades. Há um sentimento que não fiquemos somente no debate e reflexão, mas que estes momentos de encontros e partilhas possa dar frutos. Viabilizar ações que sejam realizáveis e concretas onde estamos presente. Contudo, isto exige de nós maior conhecimento profundo do que fazemos, o que podemos somar. Trata-se de um convite a sair da informação superficial que temos sobre determinadas obras “aquela obra trabalha com isso...” e ganhar mais no conhecimento como corpo. Nós temos na BAM uma riqueza de diversidade de atuações pastorais dentro da perspectiva do apostolado social. Estamos presentes com jovens e crianças, com indígenas e refugiados, na periferia no interior e tantos outros aspectos que poderia elencar. Isto nos revela a imensidão da região, e não me refiro à geográfica, mas a imensidão que é a realidade e identidade desta terra. Que nos vai apresentando o rosto colorido e diversificado do Senhor da vinha e que podemos ver uma ínfima parte presente em nossa Rede. Contamos com a colaboração de todos. Jordano Hernández SJ
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NOTÍCIAS DA NOSSA PAROQUIA NOSSA SENHORA DO PERPETUO SOCORRO EM SANTARÉM/PA (MATRIZ E COMUNIDADE DO MENINO JESUS) ACONTECEU EM SETEMBRO... Visita do Bispo de imperatriz – Maranhão e o Clero de Cametá: Recebemos a visita ilustre do bispo de Imperatriz- maranhão Dom Gilberto Pastana com 20 padres e alguns leigos de sua Diocese. Dom Gilberto e irmão de um paroquiano Gilmar Pastana que e um membro ativo de nossa paroquia. Foi um momento de confraternização entre as paroquias e acabou sendo sediada na nossa paroquia. Esteve presente o Clero de Cametá, estavam a passeio pela região e participaram também deste momento. MÊS DA BIBLIA: Ainda neste mês aproveitamos para fazermos uma boa introdução da Palavra de Deus, ajudando aos paroquianos a compreender de como esta Palavra chegou até aos nossos dias. Iniciamos na primeira semana de Setembro e finalizamos no dia 28 – domingo na comunidade do menino Jesus e na segunda na comunidade Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. SAIRÉ em Alter-do-Chão: Este mês de setembro foi recheado como o Saire tão badalado na cidade. Muitas pessoas vieram para participar desta festa Religiosa e profana que retrata a cultura e formação de uma etnia indígena - os índios borari. Nosso padroeiro Pe. Joao Felipe Bettendorf marcou sua presença nesta formação da cidade de Alter-do-chão e sua população. Ainda na paróquia um grupo de leigos e leigas renovou a consagração a Nossa Senhora.
9 Um dia de Espiritualidade para o núcleo do comércio do MCCCursilho: Foi um dia de aprofundar a fé e rezar a partir da vida se colocando na experiência de silencio, oração e celebração. Foi um dia para renovar as forças. E outro retiro para as pessoas que iriam trabalhar no Cursilho. Tema MEU SENHOR E MEU DEUS. Foi um momento profundo de adentrar no mais profundo de sua existência.
Novena de nossa Senhora do Perpetuo Socorro: Todas as Terças feiras as 17.30, acontece na nossa Paroquia a Novena de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro. E um momento de fé de alegria de oração e de celebração. A cada novena completa se retorna para a primeira novena.
Adoração Jovem: Todas as quintas feira 12 horas – muitos jovens se reúnem para fazer sua adoração a Jesus ... E um momento de muita expressão de fé e comoção. Um bom espaço de evangelização.
Pe. Adilson Almeida sj
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O RELATO DA EXPERIÊNCIA DA PEREGRINAÇÃO, FEITA POR UM NOVIÇO PARAENSE (...) o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles (Lc 24, 15) Muito se ouve que o noviciado é um tempo de graça. Essa frase quase que se repete cada vez que digo a etapa em que estou na formação jesuíta, especialmente se essa pessoa for religiosa consagrada. De fato, Deus se faz presente sim nesse período todo especial, sobretudo pelas aprendizagens colhidas, pela mudança de mentalidade e ideologia, pelo cultivo da vida espiritual e pelas fortes experiências cujo ambiente só essa etapa pode oferecer, forte de aí encontrar pessoas desejosas da ação de Deus. Nos últimos dias, tem ressoado ainda em mim exatamente uma dessas experiências espirituais significativas, que desejo aqui conseguir compartilhar. A partir do dia 19 de setembro, ao desembarcar na rodoviária da cidade de Icó/CE, teve-se início a peregrinação, último dos experimentos do noviciado. O objetivo seria o de chegar ao Santuário Franciscano de Canindé/CE, percorrendo um total de aproximadamente 400 km. Mas não esperava que logo nas primeiras kilometragens algo inesperado pudesse ocorrer. Após almoçar, ao sair da vila de Catavento e retornar para a BR-116, avistei que havia um viajante do outro lado da pista. Era um jovem, por volta de 30 anos, pele bastante queimada pelo sol, mochila na costa, tatuagens nos braços e pernas, barba mal feita e um odor próprio de quem já caminhara bastante. Começamos a conversar paulatinamente, o ritmo de nossos passos combinava. Logo ganhei confiança, passei para o outro lado da margem e ele contou-me sua história. Estava vindo de Vitória da Conquista/BA, tinha recebido uma proposta de emprego, mas ao chegar percebeu que não era como ele pensava, o salário seria apenas o alojamento e a alimentação – quase um regime de escravidão... Após perceber isso, tomou a decisão de fugir em uma madrugada, rumo de volta à casa de sua mãe e sua avó, em Fortaleza/CE. Já havia atravessado todo o estado da Bahia e de Pernambuco, entre dias caminhando e caronas conquistadas. Com a companhia do Edgleison, começamos, pois, a andar em comunidade. Tudo o que possuía reparti com ele, inclusive minha força de vontade, minhas energias ainda plenas para ser gastas, minha confiança – provinda de Deus – de que conseguiria comida e dormida etc. Foi bonito ter lhe dado um pouco de dignidade, quando dividi com ele o meu papel higiênico para poder fazer suas necessidades no mato. Na primeira noite, conseguimos hospedagem e alimentação. Deus ainda providenciou que fôssemos acolhidos como filhos: pudemos tomar banho, lavar nossas roupas e dormir em redes. Fazia tempo que ele dormia ao relento, no chão... O mesmo aconteceu com o almoço do outro dia. Começamos a dizer que estávamos andando juntos, ele mesmo já se sentia parte do grupo. Ao entardecer, contudo, já presentes na cidade de Jaguaribe, estava difícil conseguir outra coisa, senão água. Foi a primeira vez que, ao pedir, me recusaram comida. Sentia um pouco os olhares de desconfiança da população naqueles peregrinos desconhecidos. Tive medo. Contudo, já não mais pensava em mim mesmo (minhas necessidades), estava com minhas forças todas voltadas em ajudar o Edgleison, em tirálo daquele sofrimento de há dias andar pelas estradas nordeste adentro. “Tantos ônibus saiam em direção a Fortaleza. O que poderia ser feito?”, refletia. Foi então que tivemos a ideia de procurar uma missa pela cidade. Quem sabe não poderíamos arranjar uma ajuda por lá. Chegamos, pois, na comunidade de S. Vicente de Paula, que estava realizando sua novena festiva. Ainda estava no terço. Renovamos nossa esperança em Deus, por intermédio de Nossa Senhora. Rezando, pedi
11 a Deus que nos iluminasse, para que pudesse ajudar aquele viajante. Creio que o Espírito Santo ouviu minhas súplicas, mais que aquelas palavras que lhe pedia mentalmente, mas sobretudo aquele desejo sincero que estava em meu coração. Por meio de um jovem da Igreja, que já havia nos convidado a entrar na capela, consegui conversar com o dirigente da comunidade e ele logo me permitiu falar ao microfone. Tudo foi muito rápido! Meu desejo era de apelar para os fiéis no final da celebração, mas quase que imediatamente, antes mesmo da novena começar, tive a oportunidade de contar nossas histórias e pedir uma ajuda a alguém de bom coração. A verdade é que choveram pessoas que vieram nos ajudar: era vinte, dez, cinco, mas em sua maioria cédulas de dois reais que chegavam em minhas mãos. Formou-se quase que uma procissão de ofertório diante de mim! Fiquei até meio que sem jeito, não esperava tanto. Depois de atingir uma boa soma de dinheiro, falava para as pessoas restantes que ainda desejavam nos ajudar para colocar seus dinheiros no ofertório. “É de coração, meu filho, aceite!”, era o que me repetiam, não deixando aquela minha tola vontade se concretizar. Ao todo, arrecadamos R$105,00. Foi interessante, pois ao final da novena – mesmo com fome, ficamos para a celebração com o intuito de agradecer a Deus por seu carinho misericordioso –, o dirigente avisou, na prestação de contas, que a arrecadação do ofertório do dia anterior havia atingido R$98,00, isto é, arrecadamos mais que todo o ofertório recebido no dia anterior... Com o dinheiro, jantamos bem e compramos a passagem de volta para o Edgleison. Dividi um restante com ele, com uma senhora pedinte que se aproximou de nós e ainda coloquei uma quantia por debaixo da porta de uma comunidade no município vizinho. Comigo nada ficou, a não ser uma profunda consolação, alegria espiritual, paz interior e aumento da caridade, fé e confiança em Deus. “Somos simples servos, fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17, 10). Meu esquecimento de mim mesmo foi tão evidente, que naquela noite já extasiado com aquela experiência, não consegui arranjar lugar nenhum para me alojar, já era muito tarde e acabei dormindo na rua, mais precisamente no chão da rodoviária da cidade de Jaguaribe, sujo, cansado e assustado... Entretanto, ao me esquecer de mim mesmo, pensando unicamente naquele Jesus peregrino que andava junto comigo, creio que Deus se lembrou de mim em todo o restante daquela peregrinação que estava ainda a começar: de fato, consegui hospedagem em todas as noites restantes que descansava, arranjei comida em todas as vezes que passei fome, viajei em segurança em todo o restante da viagem, não tive nenhum significativo problema físico que atrapalhasse minha caminhada, enfim... encontrei consolo em Deus cada vez que o cansaço físico e espiritual queria me desanimar. Em resumo, toda a minha esperança que depositei em Deus foi correspondida com cuidado que o próprio Deus teve comigo, ao conduzir-me pelos caminhos, “segurando-me pela mão” (Os 11, 3). Agradeço a Deus por mais essa experiência que definitivamente tocou meu coração e “selou” esse tempo de noviciado. Agradeço também ao Bruno, companheiro fiel, de noviciado e dessa caminhada, com quem venho repartindo não só os frutos dessa experiência, mas também os sentimentos, a vocação, os apelos, os sonhos e desejos nesses já quase três de anos de convivência na Companhia de Jesus. Agradeço as pessoas que certamente rezaram por nós durante essa peregrinação. Por fim, agradeço ao jovem Edgleison, que vem ganhando o rosto de Jesus em minhas orações nesses tempos, rezo para um dia poder reencontrar esse rosto divino-humano e servi-Lo com alegria e prontidão. Arthur Carvalho Moraes Noviço 2º ano
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ANIVERSÁRIO DO CENTRO CULTURAL (BIBLIOTECA) Pe. GABRIEL MALAGRIDA DE MARABÁ No dia 26 de setembro teve a celebração do aniversário de seu primeiro ano de vida à luz da Palavra e “Após tuas pegadas/ as donzelas discorrem no caminho/ com toques inflamadas/ e generoso vinho,/ Dão-te emissões de bálsamo divino” (Cântico Espiritual). Durante a Eucaristia, como resultado do trabalho do Centro Cultural na periferia de Marabá, as crianças apresentam dança e Karaté: Epifania da Juventude animada pela Fé-Cultura que se dá no desejo gozoso e doloroso ao mesmo tempo, ao palpar os limites da educação e da promoção cultural em nossas cidades que se formaram pela migração faz agora cem anos. Nesta condição humana da periferia, Beleza e Corpo têm sentido e dá conta das vicissitudes de ser criança e jovem. A casa da Cultura Pe. Gabriel Malagrida quer aproximar o corpo das crianças e da juventude assim como a cultura mais perto do sagrado, e elas, porém, aproximaram-nos mais como Igreja ao serviço do Reino. O corpo é o território onde o Espírito é experimentado e o sagrado experienciado. Os violões que animam o “cântico espiritual” na periferia de Marabá nos levam a denunciar a falácia de ignorar o próprio corpo na educação integral e na liturgia dos sacramentos para aproximar-se de Deus. É a esse Deus que toma por inteiro corpo e alma da pessoa que quer a casa da Cultura Pe. Gabriel Malagrida levar as Juventudes da Paróquia Sagrada Família. Para agradecer a todas as pessoas que fizeram possível este primeiro ano de vida gostaria terminar lembrando a poesia de Adélia Prado: “Desde a juventude canto./ Desde a juventude desejo e desejo/A presença que para sempre me cale./ As outras meninas bailavam,/ Eu estava querendo/ E só de querer vivi.” (O sacrifício). Na casa da Cultura Pe. Gabriel Malagrida a linguagem humana, na medida em que toma consciência de si mesma, percebe que fala do que lhe foi dado, fala do que ouviu, do que recebeu, do que acolheu como dom primordial, como princípio e fundamento (EE 23). José Miguel Clemente SJ
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Novos Tempos no CAC
No sábado, 28 de setembro, o P. Adelson, Superior Regional dos Jesuítas da Amazônia, presidiu a cerimônia de reabertura da sede do CAC, Centro Alternativo de Cultura em Belém (PA). A benção das instalações contou com a presença de várias pessoas que colaboram mensalmente com a sustentação dos projetos além de voluntários e voluntárias que compõem as diversas equipes de trabalho. O CAC estava bastante deteriorado, com problemas em todos os setores do prédio. Agora, depois de uma ampla reforma, a casa passa a ter condições de atender melhor os seus objetivos. Agradecimentos especiais ao apoio financeiro dos jesuítas do Sul e da ANI, Associação Nacional de Instrução (Jesuítas do Nordeste).
Campanha do Cofrinho Em preparação ao “Dia das Crianças”, o CAC, Centro Alternativo de Cultura (Belém, PA) promoveu uma campanha chamada “Criança presenteia criança”. No início de setembro, em todas as missas da Capela de Lourdes as pessoas recebiam pequenos cofres de plástico para entregar aos seus filhos, netos, sobrinhos, etc. Ao longo do mês as crianças iam depositando suas moedas para devolver no primeiro domingo de outubro. Com este dinheiro foram comprados brinquedos, alimentos e material de higiene para as crianças atendidas pelo CAC em 14 comunidades da periferia de Belém. O objetivo não era apenas arrecadar dinheiro, mas sobretudo incentivar as crianças de classe média a economizarem moedas para comprar presentes para os seus irmãos que não possuem as mesmas condições. O lema da campanha foi justamente “Solidariedade se aprende em casa”. Foram distribuídos cerca de 750 cofrinhos sendo que 75% retornaram. Pe. Plutarco, SJ
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Noviços jesuítas contam como foi o Experimento de Hospital Caros Companheiros, escrevemos para partilhar um pouco dos sentimentos e apelos que foram surgindo durante o nosso experimento de hospital. Durante 30 dias estivemos prestando serviços gerais durante as manhãs e nas tardes convivíamos com os pacientes. Limpamos, lavamos, varremos, conversamos, cantamos, escutamos... experimentamos de perto o que nos diz Santo Inácio: “O amor deve pôr-se mais em obras do que em palavras”.
Experiência de Daniel Santos Na vivencia da fé, olhando para tantos doentes, suas fraquezas e limitações pude perceber o quanto o ser humano é fugaz, a vida é volátil e também o quanto eu preciso cuidar da vida, da minha e dos outros. O sofrimento é a cruz que o povo carrega, muitas vezes injustamente por que é imposto por outros seres humanos e pelo sistema que teima em dizer que o fraco deve continuar fraco e o forte deve ficar mais forte. Descobri que o sentido da vida está em Deus. Foi um momento de enlaçar o ser presença humana e o ser presença cristã. Como cristão acolhi os pacientes assim como são – como diz o Papa Francisco: “A Igreja precisa ser uma mão que abraça”. De fato, foi o Jesus que abraça e esta Igreja que é mãe que procurei levar. Levei Jesus, o tesouro que tenho e sou chamado a ser testemunha dele em todos os lugares. No Campo do conhecimento vocacional minhas motivações ganharam força. O ser presença, a opção pelos sofredores, o fazer-se sofredor com os outros, a busca mais empenhada pela humildade e solidariedade, o ser consolador dos aflitos, principalmente do povo que está esquecido e também o encontro com o Senhor Jesus que está presente em cada paciente... tudo isso se tornou para mim motivações nesta empreitada da construção do Reino de Deus e na entrega de minha vida a Jesus Cristo. O maior desafio que percebi foi o de “cristianizar” o Cristianismo. Sinto que os cristão se distanciaram do verdadeiro sentido de ser cristão. Diante disso me sinto chamado a ser mais cristão também, e anunciar aquilo que Jesus quer, Aquele que Ele realmente é – Amor! Por que só assim eu serei uma pessoa melhor e consequentemente haverá um mundo melhor, a começar por mim. O ensinamento que fica após esta experiência é o do cuidado com a vida, reconhecê-la como dom valioso de Deus para a humanidade. E esse cuidado deve ser integral, continuo e contiguo. Também a percepção do valor que tem a humanidade para Deus, Ele quer cuidar da humanidade, e da humanidade de cada um. A humanidade que luta, sofre e espera a manifestação do poder salvador de Deus através da minha doação. Aprendi que o Senhor está presente de verdade na escuridão da injustiça, do descaso, da ganância, e enfim, na escuridão do mundo desumanizado e desumanizador, por que quer fazer nova todas as coisas. A experiência de hospital representou para mim o encontro com o Senhor que reclama a minha resposta firme, sincera e corajosa ao seu chamado diante do sofrimento vivido por seu povo. Foi um olhar que transparece um desejo ansioso por justiça e condições mais humanas. Foi uma escuta feita a partir de Jesus flagelado, que sofre o peso e a dor de um julgo injusto e infeliz. Enfim, foi ser Cirineu na vida do povo, foi sentir-se humilhado com Cristo humilhado, sofrer com o Cristo que sofre mais, também, alegrar-se com o Senhor que ressuscita no sonho de esperança, de fé e de caridade presente nos pacientes.
15 Experiência de Lucas Alves Esta experiência me fez acreditar muito em alguns valores e limitações que trago. Se pudéssemos, nós seres humanos fugiríamos do sofrimento e da solidão, evitaríamos estes ambientes carregados de tristeza e aflição. À medida que vai sendo assimilada, esta experiência foi me ajudando a querer permanecer aí. Sob qual motivação? Aí estão meus irmãos. Por isso ela também tem me ajudado a querer comungar com os sentimentos dos que estão sofrendo, para ser uma presença mais compreensível, uma presença mais presente O enfermo se dá conta de que não há lugar para arrogância e prepotência nas horas de dependência. Seu corpo frágil e sua alma carente mandam um recado para os que estão perto de que é necessário também que desçamos de nossa arrogância e cuidemos daquele que clama por carinho. Não somos médicos, tampouco enfermeiros o que podemos fazer? Nestas horas somos capazes de acreditar que o cuidado, a atenção, a preocupação e o carinho servem para alguma coisa. Nestas horas eu vi o amor, o amor à flor da pele. Na terceira semana em ITAICI, onde fizemos o retiro de trinta dias, refletia a existência de tantas pessoas no mundo que são obrigadas a ter a morte, o sofrimento e a solidão como direito. Eu me compadecia delas e ao mesmo tempo me indignava com tal situação de muitos seres humanos. Depois me chamou atenção que o sentimento de compaixão garantia a existência de um laço entre mim e estas pessoas. Eu concluía que este cordão que integra nossas vidas, tinha a ver com a mensagem de vida de Jesus de que só podíamos pertencer a uma mesma família, filhos de um mesmo pai, somos todos irmãos. Nos hospitais vivenciava de tal modo esta mística que chegava a me perguntar: O que meus irmãos estão fazendo aqui, tão desprezados, sem um tratamento humano? Trabalhando com os funcionários da higienização, eu percebi muito presente o profissionalismo que ofusca do serviço o seu caráter próprio de doação e gratuidade. O mercado não os recompensará se uma vez se compadecendo da realidade dos pacientes, fizerem do seu trabalho um serviço de amor doação. Pelo contrário, para o mercado, tudo isso é desperdício de energia uma vez que não existe contrapartida. Por isso percebíamos que eram como que obrigados a fazerem “nada mais que sua obrigação”, nada MAIS. Com nosso serviço gratuito, motivávamos cada um dos que tinham a oportunidade de servir ali, a oferecerem uns para os outros, especialmente para os pacientes aquilo que eles não receberiam em contrapartida no final do mês. O ensinamento mais forte destes trinta dias de hospital foi que a atenção, o carinho, a escuta, a compaixão e a dignidade são virtudes que Deus sabe que a humanidade mais necessita. Tenho que levá-los comigo se pretendo oferecer Deus à humanidade sofrida.
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Juventude inaciana realiza Pre-Fórum em Marabá O Centro Profissionalizante Pedro Arrupe da Obra Kolping de Marabá acolheu o encontro Prefórum Anchieta (Belém-Marabá) nos dias 13, 14 e 15 de setembro. Os jovens de distintas organizações e movimentos como a PJ (Pastoral da Juventude) o Segue-me e a Renovação Carismática, assim como jovens das Igrejas Evangélicas nos provocam a buscar como trabalhar em rede respeitando as diferenças, mas unificando os esforços em uma realidade de “juventudes” A participação foi coordenada pelo Centro Magis de Belém com cinco participantes e a participação da coordenadora Diocesana da Pastoral da Juventude de Manaus. A participação das Paróquias de Cachoeiro do Arari (Marajó) com uma participante, a Paróquia de Bragança com dois participantes, a Paróquia Sagrado Coração de Jesus da diocese de Marabá com quatro participantes e a Paróquia Sagrada Família com treze participantes junto com cinco participantes do centro Pedro Arrupe da Obra Kolping com um total de trinta participantes. O fortalecimento organizativo dos grupos representados mais a articulação do trabalho com a Rede Inaciana da Juventude é um desafio que os grupos perceberam. Mas na mesma dinâmica de trabalho a realidade dos\as jovens de Marabá, Bragança e Marajó nos surpreendeu muito, pela mesma necessidade da adaptação da linguagem nos documentos ao linguajar da juventude do interior do estado, assim como a necessidade de uma preparação prévia em cada grupo e instituição presentes no encontro. Na eucaristia do último dia 15 de setembro e com as mãos dadas e os corações aquecidos pela presença do Ressuscitado, percebemos que a parábola do Filho pródigo (Lc 15, 1132) nos anima como jovens ao abraço com as juventudes excluídas sem trabalho ou na cadeia. Que o diálogo e o serviço como abraço da Misericórdia do Pai para conosco seja o que nos une em rede Inaciana da Juventude. A fecundidade do trabalho em rede dependerá em grande medida da nossa capacidade de acolher e dialogar com o diferente. José Miguel Clemente SJ
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Pe. Plutarco faz visita missionária a comunidades ribeirinhas
Acompanhando inicialmente a “Missão Marista de Solidariedade” promovida pelo Colégio Nazaré (Belém, PA), o P. Plutarco esteve visitando algumas comunidades do Baixo Rio Acará, na chamada “região das ilhas” que ficam no entorno de Belém. Essas comunidades tiveram no passado uma boa formação por parte dos Religiosos Xaverianos, e por isso até hoje elas assumem uma linha de Ceb’s, promovem encontros, se visitam mutuamente e sobrevivem como podem. Acontece que elas estão há anos praticamente sem nenhuma assistência por parte da Igreja. Até mesmo um diácono permanente que celebrava o culto da Palavra e acompanhava de vez em quando a catequese nunca mais voltou. Desse modo o povo se sente excluído e renegado. Muita gente, inclusive, já passou para a Igreja Assembléia de Deus que tem forte presença em toda a região. Trata-se do povo ribeirinho, que vive no isolamento dos “furos” e igarapés sem energia elétrica, sem educação, sem saneamento, sem saúde, sem nada. Nestas ilhas o povo sobrevive da pesca e principalmente da cultura do açaí que tem boa aceitação no mercado de Belém. Não seria esta uma missão própria dos jesuítas, ir aonde ninguém vai? Aonde foi parar aquela ousadia dos nossos antigos companheiros que evangelizaram a Amazônia?
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Bélgica: Pe. Fernando Lopes envia carta aos companheiros/as de missão na Amazônia Lovaina, 09/08/2013 Querido Adelson, queridos irmãos e irmãs da BAM: Um forte abraço “amazônico” desde Lovaina, Bélgica. Isso sim, o abraço não é tão suado e quente porque as temperaturas locais são para a gente virar picolé... E dizem que ainda o frio não tem chegado!!! Só algumas linhas para partilhar um pouco de minha vida (apenas levo três semanas) por esta outra “selva europeia”. La cidade de Lovaina é muito antiga e cheia de castelos. É uma cidade pequena porém muito bonita e cuidada, cheia de verdes parques e jardins. Vários igarapés cortam a cidade... É uma cidade universitária. A universidade foi fundada no sec. XV. São mais de 30 mil estudantes que vem de muitos cantos do mundo. Toda a cidade está organizada um pouco em função da Universidade e da vida estudantil. Todo o mundo usa bicicleta; as ruas têm todas via especial para bicicletas, semáforos para bicicletas, estacionamentos para bicicletas e quantidade de oficinas para arrumar bicicletas... Eu cheguei e logo já me adjudicaram na comunidade uma bicicleta para movimentar-me... Vivo numa comunidade pequena (7 companheiros sj) que acolhe estudantes jesuítas de distintas partes do mundo. Quatro dos companheiros são professores na universidade: Marc, Rob e Nicolas são flamencos e Philip é norteamericano. Os estudantes são: Vally, da Índia e que está fazendo mestrado em filosofia; e Oliver, filipino, que faz doutorado em teologia. A comunidade toda é muito acolhedora e está organizada para a missão de estudo que todos os que moram nela temos... A língua oficial da casa é o inglês, ainda que a língua regional é o flamenco... Assim que estou tentando aproveitar para aprender um pouco de inglês... Interiormente estou muito feliz e consolado. É um presente muito grande ter esta oportunidade: um tempo tranquilo, com todos os médios necessários, para “sentir e gostar internamente” toda a intensa vida partilhada com vocês e com os povos amazônicos nestes últimos 15 anos de missão na Região. Deus é bom!!! Sinto-me muito agradecido a Ele e à Companhia (Províncias do Paraguai e BAM) por este tempo privilegiado para rezar, refletir, ler, estudar, organizar, aprofundar e sistematizar a nossa prática e experiência de missão como Equipe Itinerante nestes anos (1998-2013)... Estamos procurando recolher a inspiração dos primeiros companheiros: Cláudio, Paulo Sergio, Abano, Arizete, Paco, Odila e de tantas outras pessoas e instituições que somaram nesta caminhada ao longo destes 15 anos. Sinto muito agradecimento muito grande às companheiras e companheiros de missão com quem tanto tenho apreendido nestes anos... Olhando e classificando todos os materiais produzidos, vendo as fotografias, power points e textos, fico lembrando a cada um e cada uma, agradecendo e pedindo a Deus também por vocês, para que continuem animados na missão. E também a distancia ajuda a ver com mais clareza e
19 tomar consciência dos erros cometidos e por eles lhes peço perdão de todo coração... Meu acompanhante de estudo é muito bom, Jacques Haers sj, diretor do departamento de Teologia da Libertação, muito vinculado a AL, conhece Venezuela, fala espanhol e já conhecia um pouco o Projeto da Equipe Itinerante (em duas oportunidades, em anos anteriores, organizou na Faculdade de Teologia uma apresentação do Projeto para os estudantes e professores). Jacques tem sido uma benção: abriu as portas da universidade e se colocou generosamente a disposição para acompanhar este processo de sistematização da prática e experiência da Equipe. Ele me está ajudando muito a organizar todo este tempo de estudo e aprofundar os temas de “itinerância”, “Interinstitucionalidade”, “fronteiras”, “espiritualidade e ecologia”, “diálogo intercultural e inter-religioso”, etc. Todas as semanas, temos um encontro de mais de uma hora para avaliar o trabalho e planejar os passos seguintes... Temos distribuído este curso acadêmico (Setembro/2013-Junho/2014) em três períodos de trabalho: 3 meses (set-Dez) + 3 meses (Jan-Abr) + 3 meses (MaioJulho). E nos períodos de Natal e Semana Santa vou acompanhar os pais para dar uma força para meus irmãos que agora tomam conta deles. Por agora isso meus irmãos e irmãs, continuamos unidos na oração e missão... Fico animado de saber desse grande I Encontro Amazônico que vai ter a Igreja nos dias 28-31 de outubro de 2013. Deus ilumine y anime a todos e todas nessa importante missão amazônica em favor da VIDA da Humanidade e do Planeta... E conto com suas orações para que aproveite bem este “tempo de graça” e assim possamos melhorar o nosso serviço missionário, especialmente junto aos mais pobres e vulneráveis, prediletos do Pai. Com carinho e agradecimento, Seu irmão, Pe. Fernando SJ
O que há por aqui? Nos corredores daqui há macas e marcas marcadas de esperança; Nos leitos daqui há doces deleites que cansa os que vivem; Há maqueiros, barqueiros que levam a vida e a morte pra lá e pra cá; Há vidas que nascem e morrem olhando a escuridão que dá a luz; Nos altos e baixos, há altas que traz alegria a quem é paciente de tanto esperar; Há um mundo que é mudo por causa da falta de voz que as mangueiras e tubos não deixa falar; Há uma porta que já não comporta a longa jornada que traz o sentido de quem quer viver; Há mentes, ira, mentira... Há verde, idade, verdade... Que matam e fazem viver a cidade; Há pontos que ligam e laminas que cortam para deixar viver; Há susto, atento, sustento... Há presença de um liquido muito volátil chamado viver; Há uma coisa muito fugaz chamada viver; Há uma unidade, humanidade que transforma tudo numa força de vida; Há uma música que nasce de uma orquestra de aparelhos que são regentes de muita gente que pede um punhado de ar para sobreviver. Há Deus... adeus... a Deus! (Poema escrito pelo noviço Daniel Santos Lima, ao final do experimento de hospital)
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SIES – SERVIÇO INACIANO DE ESPIRITUALIDADE DE MANAUS
Para maiores informações, contatar: SIES-Serviço Inaciano de Espiritualidade Centro Loyola de Pastoral Leonardo Malcher, 347 – Aparecida – Manaus Secretaria: (92) 3622-9835 – Miracélia (horário comercial de segunda a sexta-feira)
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DIA: 03. Pe. Antonio Carlos Oza Bértoli, em Belém/PA. 15. Pe. Ilario Govoni, em Recife/PE. 22. Pe. Roberto Jaramillo Bernal, em Bonfim/RR. 29. Pe. Luis Muraro, em Manaus/AM.
AGENDA DO SUPERIOR REGIONAL – OUTUBRO QUANDO 01-06
ONDE Manaus
07-09
Manaus
10-12
Manaus
13
Belém
14-19
Belém
22-23
Manaus
24-29
São Paulo
29-31
Manaus
ATIVIDADE Trabalhos na cúria regional Visita canônica à residência Luis Figueira Trabalhos na cúria regional Círio de Nossa Senhora de Nazaré Reunião da consulta da BAM e com equipe do Centro Magis de Juventude Reunião da coordenação ampliada da Equipe Itinerante Congresso internacional do Fé e Alegria 1º Encontro da Igreja na Amazônia Legal