A chegada à escola

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Capítulo 4

A chegada à escola Superação de dificuldades e medos, o comportamento esperado do iniciante e os pontos de apoio

“Fazei com que as crianças procurem o que são capazes de achar com suas próprias forças.” Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), educador suíço Ilustrações Eduardo Nunes Gráficos Fábio Lucca

47


Capítulo 4 A chegada à escola

49%

É o percentual de professores que acreditam que sua formação inicial não os preparou para enfrentar a sala de aula. Fonte Pesquisa Como o Professor Vê a Educação (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, FVC/Ibope, 2007).

Para garantir uma boa largada 48

O objetivo do professor no primeiro dia de aula é conhecer e conquistar a turma. Especialistas indicam medidas que podem ajudar a dar conta do recado

Apresentar-se. Antes de qualquer coisa,

é fundamental o iniciante dizer quem é, dar pistas de sua personalidade, de seus gostos e de suas expectativas. Nessa conversa, cabe um panorama dos conteúdos e do que é esperado dos alunos.

Tornar o contato inicial agradável.

Essa é uma forma de deixar os estudantes animados para o próximo encontro. A dica é pensar numa uma atividade que permita estabelecer uma aproximação entre professor e alunos e deles entre si. Uma alternativa é a leitura de um texto seguida de uma dinâmica de grupo para apresentações. O professor pode só observar ou também participar – para permitir que a classe o conheça melhor.

Falar sobre o que vão aprender.

É interessante apresentar o programa e contar detalhes sobre cada etapa. Isso permite que os estudantes se sintam parte do processo de construção do conhecimento. Se eles sabem o objetivo da sequência de que participam e o que cada etapa deve agregar, veem mais sentido nas aulas, o que pode se traduzir em motivação para estudar.

53%

É o percentual de educadores que conseguem o primeiro emprego antes de concluir a formação inicial, muitas vezes como consequência do estágio. Fonte Pesquisa O Perfil dos Professores Brasileiros: O Que Fazem, O Que Pensam, O Que Almejam (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, unesco, 2004).

Palavra de especialista Uma atividade eficiente para o primeiro dia de aula é dividir os alunos em duplas, pedir que conversem sobre as coisas de que gostam (como o tipo de música preferido) e propor que um apresente o outro para os demais. Com turmas da Educação Infantil ou dos anos iniciais do Ensino Fundamental é mais interessante utilizar desenhos, colagens ou jogos que ajudem as crianças a se conhecerem ao mesmo tempo que permitem ao docente compreender a dinâmica da classe.” Heloisa Ramos, formadora de professores e colunista da revista NOVA ESCOLA.


O que aprendi

Como um iniciante deve ser comportar em sala para ser considerado um bom professor?

Estratégia quebra-gelo

Independentemente de sua experiência, um bom educador trabalha de acordo com os objetivos do projeto político-pedagógico (PPP) da escola e se sente comprometido com a qualidade do seu trabalho. Isso significa que sempre se dedica a fazer o melhor, buscando o maior número de informações sobre cada conteúdo que vai ensinar e sobre boas práticas em sala de aula. Além disso, nunca deixa de refletir sobre os meios de tornar os conhecimentos mais acessíveis para os alunos, considerando as especificidades de cada turma. Um iniciante talvez tenha de se dedicar mais. No mundo de hoje, porém, em que as mudanças são tão rápidas, nem mesmo os que têm anos de experiência podem se dar ao luxo de não estudar e aprimorar seus instrumentos de trabalho.

“Todo primeiro dia de aula, costumo levar fotos minhas e do meu cachorro chamado Max Weber (pensador alemão [1864-1920], referência teórica na área de Sociologia) para apresentá-lo às crianças. Enquanto mostro as imagens para elas, conto a história do nome do cão, falo dos inconvenientes de seu tamanho exagerado – já que é da raça fila brasileiro – e de outras curiosidades. É o suficiente para quebrar o gelo com a criançada e gerar uma aproximação espontânea com a turma. Essa ideia surgiu há muitos anos, depois de ter tentado promover várias outras atividades e dinâmicas que não produziam os resultados que realmente desejava. Queria algo que tivesse mais a ver comigo, que desse conta de humanizar a figura da professora, mas que, ao mesmo tempo, não promovesse uma exposição muito grande da minha vida pessoal e da minha intimidade. Então, tive uma ideia e resolvi experimentar levar a foto do animal de estimação da minha família na época. Era da raça dálmata e se chamava Beatriz. Eu era responsável por uma classe muito barulhenta e pouco disposta a interagir. Foi incrível! Assim que tirei as fotografias da bolsa e contei uma das aventuras da Bia, a garotada se interessou em me ouvir e quis conversar sobre o assunto. Muitos tinham histórias sobre a convivência com bichos em casa e a troca foi intensa.”

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Silvia Ulisses de Jesus, professora do Ensino Fundamental na rede municipal de Belo Horizonte, coordenadora de estágio do curso Normal Superior e ganhadora do prêmio Educador Nota 10, da FVC.

PEDRO MOTTA

Plantão de dúvidas

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Capítulo 4 A chegada à escola

Associações comuns

72%

Os professores relacionam algumas ideias mais fortemente à rede pública de ensino do que à particular. Conheça três delas e o percentual dos que acreditam serem verdadeiras

74%

Oferece ao professor mais liberdade de trabalhar como deseja.

Dá mais razões para se queixar.

67%

Exige que ele faça o papel de assistente social.

Fonte Pesquisa Como o Professor Vê a Educação (FVC/ Ibope, 2007).

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A agenda da estreia

Saiba o que é recomendável fazer antes mesmo do primeiro dia de aula. Quanto mais fases cumprir, mais embasado será o começo da sua prática

Anote as dúvidas. Uma vez contratado

Circule pela escola. “Caminhe pelas

Marque uma conversa com a direção.

Leia o PPP. Mesmo que o tema não

e com dia marcado para começar, pense em tudo o que gostaria de saber sobre a escola Valem questões práticas (estrutura física e como é a equipe de funcionários) e teóricas (como qual é a linha pedagógica seguida). Tanto na rede privada como na pública, o gestor é a pessoa mais indicada para fornecer esclarecimentos – ou apontar os caminhos para obtê-los.

Procure a coordenação pedagógica.

No encontro com o diretor, tente deixar o papo agendado. “A equipe pedagógica pode dar informações fundamentais, como o que os alunos pensam da escola e o que aprenderam no ano anterior”, explica Dario Fiorentini, docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Isso ajuda a planejar as aulas.

salas, observando o ambiente e a infraestrutura, e tente conversar com alguns dos futuros colegas do corpo docente e com funcionários”, recomenda Heloisa Ramos, formadora de professores e colunista da revista NOVA ESCOLA. tenha surgido espontaneamente na conversa com os gestores, solicite o documento, que reúne as intenções em relação aos alunos que ela pretende formar e indica como deve atuar o corpo docente.

Escolha um mentor. Quem acaba de

se formar na universidade tem contato com vários especialistas em diferentes áreas e teorias. Tente agendar uma consultoria com algum deles que tenha um maior domínio do campo em que você irá atuar profissionalmente. Esse é um recurso extra para aumentar sua segurança.


Você sabia?

A melhor forma de conquistar a turma

O

segredo para ganhar a confiança da turma é ser autêntico, sem forçar espontaneidade – se não for uma característica genuína. Especialistas afirmam que, quanto mais velhos os estudantes, mais importantes as informações sobre a formação de quem ensina. Na falta de um vasto currículo para apresentar, a sugestão é que o iniciante direcione a conversa para sua paixão pela profissão e sua vontade de aprender mais com cada nova turma.

Palavra de especialista A primeira aula pode servir como um ótimo exercício de observação do grupo de estudantes. Uma atividade produtiva é propor que eles pensem sobre o nome da disciplina e relatem suas ideias relacionadas a ela. Com isso, todos acabam contando, espontaneamente, algumas de suas experiências. É interessante também provocar as crianças ou os adolescentes pedindo que falem o que consideram mais interessante entre os conteúdos que já aprenderam e o que ainda gostariam de saber. Com base nessa atividade simples, é possível colher muitas informações, como quanto os estudantes já avançaram, o tipo de contato que mantêm uns com os outros e a capacidade de cada um em responder prontamente a uma questão. Mais tarde, com base no que viu e ouviu, o professor pode fazer adaptações em seu planejamento inicial, buscando atender às necessidades e aos desejos de cada turma em particular, considerando o que já sabem.” Eliane BAMBINI GORGUEIRA Bruno, docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e formadora de gestores e coordenadores pedagógicos na rede municipal de São Paulo.

Errar no planejamento não é exclusividade dos professores iniciantes. Os mais experientes também enfrentam esse tipo de tropeço ao longo da carreira. Isso porque uma turma é diferente da outra e as atividades e sequências didáticas já testadas podem não obter o mesmo resultado em duas classes diferentes. Se os alunos são participativos e perguntam muito sobre um conteúdo que despertou a curiosidade deles, certamente será necessário dispor de mais tempo do que o reservado para ensiná-lo numa turma mais retraída. A saída é nunca perder o foco no objetivo final e ir corrigindo o que for necessário a cada aula, seja retomando pontos que não ficaram claros anteriormente ou abreviando conteúdos que se tornaram supérfluos, explica Karla Veloso Pinto, assessora pedagógica da Martins Pereira Consultoria Pedagógica, em Belo Horizonte, e ganhadora do prêmio Educador Nota 10, da FVC.

1,8%

É o percentual de pais da rede pública da cidade de São Paulo que afirmam não conversar com os filhos sobre o dia a dia deles na escola. Fonte Pesquisa Os pais e a qualidade da escola pública (FVC/ instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, 2008).

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Capítulo 4 A chegada à escola

Plantão de dúvidas Como lidar com o medo de enfrentar a sala de aula pela primeira vez? Conheça as estratégias recomendadas por especialistas n Reconhecer o próprio temor. Ele deve ser usado como estímulo para trabalhar os próprios limites. A estratégia para enfrentá-lo precisa estar relacionada à personalidade de cada um. Quem não é expansivo não pode querer parecer como tal. n Refletir sobre as causas do medo. Uma tática para amenizar o frio na barriga é conversar com alguém próximo. Assim, ideias infundadas perdem a força, como a de que a sala de aula vai estar lotada de inimigos. Na verdade, os estudantes querem aprender e receber atenção e respeito. n Minimizar a importância do primeiro dia. Ele é só o ponto de partida de muitos encontros. Se a troca não pareceu satisfatória, haverá várias oportunidades de reverter o quadro. n Preparar-se bem para a tarefa. Não existe maneira mais eficaz de controlar a ansiedade e a insegurança. É fundamental dominar o conteúdo e ter um bom planejamento, indicando claramente o que quer fazer na aula e como fará isso.

?

Buscar parcerias

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“A aproximação com os pares é fundamental no início da carreira. Por isso, o importante é evitar uma postura desconfiada na chegada e nunca se deixar levar só pela primeira impressão. Às vezes, pensamos que um colega não foi simpático ou não quis partilhar suas ideias e nos fechamos. Em vez disso, vale tentar conhecê-lo melhor, buscando o diálogo e pedindo orientação. Do mesmo modo, é benéfico se dispor a contar suas boas experiências. Quando comecei, há 21 anos, aproveitei muito o contato direto que tive a chance de estabelecer com uma colega que já estava prestes a se aposentar e atuava na mesma série que eu. Chegamos a trocar materiais pedagógicos e atividades. Foi bom para nós duas. Recém-chegada à escola, eu necessitava de apoio e ela me deu a segurança de que precisava com relação aos meus alunos e aos demais docentes. Aprendi bastante no nosso convívio. Em contrapartida, ela contou que consegui deixá-la mais animada. Suas aulas tinham ficado mais dinâmicas e os alunos, mais envolvidos.” Marli Eslompo, professora na rede pública de Ponta Grossa, a 115 quilômetros de Curitiba.

Arquivo pessoal

O que aprendi

Você sabia? Na dose certa, demonstrações de preparo e de segurança são úteis no começo da carreira. São boas para conquistar espaço, tanto junto aos colegas quanto aos alunos. Em qualquer ambiente, no entanto, quem chega indicando uma autoconfiança excessiva (que muitas vezes serve para esconder o medo) vai parecer arrogante e despertar antipatia.


Dificuldades recorrentes Quando perguntados sobre seus maiores problemas, desafios ou dificuldades, os docentes não variam tanto as respostas. Confira as mais citadas em três fontes

Fonte 1

Fonte 2

46%

Falta de disciplina: os alunos não prestam atenção.

34%

Falta de motivação dos alunos.

pesquisa Como o Professor Vê a Educação (FVC/Ibope, 2007).

22% Manter a disciplina em sala.

Motivar os alunos.

21%

livro O Professor Refém, de Tania Zagury (Editora Record, 2006).

Palavra de especialista Se os estudantes fizerem perguntas que o professor não sabe responder, ele não deve dizer qualquer coisa, muito menos enrolar a turma. O melhor é avisar que aquele não era exatamente o tema da aula e que será necessário pesquisar mais a fundo depois. Porém, o retorno precisa ser levado logo na próxima aula. Outra saída é propor um trabalho colaborativo de pesquisa sobre a dúvida que surgiu. A proposta é fazer com toda a classe uma construção coletiva de conhecimento sobre o assunto, valorizando a troca e a parceria. É importante o educador ter consciência de que, no mundo da informação em que vivemos hoje, ele não é mais o único detentor do saber. A garotada sempre pode contribuir bastante.” Karla Veloso Pinto, assessora pedagógica da Martins Pereira Consultoria Pedagógica, em Belo Horizonte, e ganhadora do Prêmio Educador Nota 10, da FVC.

Fonte 3

69%

Falta de tempo para a correção de provas e olhar cadernos.

54,9% Disponibilidade de tempo para as tarefas relacionadas às aulas.

pesquisa O Perfil dos Professores Brasileiros: O Que Fazem, O Que Pensam, O Que Almejam (Unesco, 2004).

A teoria não deve ser desprezada

É

fato que falta experiência ao iniciante e isso gera medo. Mas os conhecimentos adquiridos na formação inicial ainda estão frescos na cabeça – e isso é uma vantagem. Teoria e prática são igualmente importantes e devem conviver durante toda a carreira. Afinal, a primeira serve para orientar a segunda. “Quando é relativa aos conteúdos, ela deve nortear o planejamento e os objetivos das aulas. Quando é pedagógica, guia o modo de ensinar e o comportamento do professor em sala”, esclarece Luís Carlos de Menezes, professor da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da revista NOVA ESCOLA.

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Capítulo 4 A chegada à escola

Você sabia? É comum sentir ansiedade e insegurança, e não só no começo da docência. “Leciono há 32 anos e a cada turma nova tenho o mesmo frio na barriga. Ainda não conheço aqueles alunos e não existem vínculos entre nós”, diz Eliane Bambini Gorgueira Bruno, docente da UMC e formadora de gestores e coordenadores pedagógicos na rede municipal de São Paulo. Uma dica é não se preocupar em acertar tudo, mas buscar fazer o melhor. “O grande prazer da profissão é aprender sempre, pois com cada sala as intervenções são diferentes e nos obrigam a pensar.”

O ideal é se abrir 54

Q

uando compartilhamos medos e inseguranças com os colegas, todos saem ganhando. O receio de se expor demais e demonstrar fraquezas – e com isso prejudicar a carreira – levam o iniciante a se isolar. Mais vale se abrir. Se for com os colegas, é essencial ter sensibilidade para buscar os mais confiáveis e aqueles com os quais há maior afinidade. Uma opção garantida é conversar com o coordenador pedagógico, que tem como principais funções orientar o trabalho dos professores e ajudar a resolver as questões que influenciam o desempenho dos alunos em sala de aula.

Palavra de especialista É normal ter mais afinidade com alguns colegas e estudantes do que com outros, assim como não ter simpatia por alguém em específico. Pensando em minha trajetória profissional, lembro-me de algumas pessoas que, de início, achei que não tivessem ido com a minha cara – e a recíproca era verdadeira. No entanto, depois de um certo tempo de convívio, passamos a ter um relacionamento profissional muito produtivo. Por isso costumo dizer que dar tempo ao tempo é uma boa tática.” laurinda de almeida, professora e vice-coordenadora do Programa de Estudos Pósgraduados em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Plantão de dúvidas

?

Como o professor substituto deve se comportar em uma primeira aula? “É preciso procurar saber antes com a coordenação pedagógica o que o titular vinha trabalhando, olhar os cadernos e verificar o que já estava planejado para as aulas seguintes”, diz Heloisa Ramos, formadora de professores e colunista da revista NOVA ESCOLA. O substituto deve dar continuidade ao que estava previsto. Mas nada impede que ele faça isso seguindo seu estilo. Ao pisar em sala, uma boa ideia é assumir uma postura de escuta sensível, depois de incitar os alunos a contar o que sabem da disciplina e o que pensam em relação a ela. Se a turma insistir em comparar as práticas e os métodos novos aos utilizados até então, é necessário desencorajar críticas ao antecessor e ser firme para se colocar, deixando claro que aquela é apenas uma das muitas formas de ensinar.


Qual estrutura esperar O professor não encontra, com frequência, uma situação ideal, o que inclui um prédio em ótimas condições e variedade de recursos para trabalhar. Menos de um quarto das escolas que possuem turmas nos anos finais do Ensino Fundamental possuem, por exemplo, laboratório de Ciências. Veja mais dados: Ensino Fundamental (anos iniciais)

Ensino Fundamental (anos finais)

Ensino Médio

Quadra de esporte

27,1%

55,3%

74%

Biblioteca

31,2%

58,2%

72,4

7,9%

23,6%

48,3%

33,2%

67,1%

87,4%

Acesso à internet

40%

69,5%

92,3%

Dependências e vias adequadas

12,5%

23,2%

30,4%

Laboratório de Ciências Laboratório de informática

55

Fonte censo escolar 2010

Em cada etapa, um tipo de postura Conforme o ciclo de ensino e a idade dos alunos, há uma conduta mais indicada para capturar a atenção da classe e manter a disciplina

Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental

Em geral, as crianças precisam de uma atenção maior por parte do educador para se sentirem seguras. Ou seja, os limites e as regras devem ficar claros. Ao mesmo tempo, os menores requerem uma abordagem, embora firme, delicada e até mais afetiva.

Anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio

O desafio é achar o equilíbrio entre ser firme e, ao mesmo tempo, flexível. Como os alunos começam a manifestar mais suas opiniões, é preciso ter jogo de cintura para ir adaptando o encaminhamento das aulas às necessidades que surgem. É comum a turma questionar as propostas apresentadas pelo professor. Nesse caso, o ideal é

explicar por que ele pensou em fazer daquela forma e, se forem dadas sugestões pertinentes, acatar algumas delas, sem perder de vista o objetivo final da sequência didática.

Educação de Jovens e Adultos (EJA) A empatia é importante.

Isso significa que o professor tem de ser capaz de se colocar no lugar dos alunos, imaginar e sondar as dificuldades que eles enfrentam no dia a dia fora da escola, transmitir que compreende isso e está empenhado em encontrar formas de ensinar que levem em conta o contexto de todos e de cada um. Isso porque os estudantes de EJA têm uma rotina pesada, trabalhando o dia inteiro e estudando à noite, quando já estão cansados. Por isso, criar um vínculo maior com eles ajuda bastante.


Capítulo 4 A chegada à escola

Plantão de dúvidas Cada escola tem um padrão de conduta formalizado? Nem todas têm um documento específico sobre isso. Quando há, a equipe gestora, certamente, tratará de informar sobre ele aos recémchegados. Mas a ausência de um código formal não quer dizer que inexistam regras e comportamentos desejáveis. É preciso ir atrás das informações. Boas pistas podem ser obtidas no PPP e com a observação do comportamento da equipe pedagógica, dos demais professores e dos funcionários. Em situações específicas, vale procurar os gestores e apresentar a dúvida diretamente.

?

Palavra de especialista É preciso levar a falta de experiência em conta, sem jamais escondê-la dos colegas ou ignorá-la completamente. Isso implica buscar apoio na escola e, principalmente, disciplinar-se para fazer um acompanhamento crítico e permanente do trabalho que está sendo desenvolvido e uma apuração periódica dos resultados alcançados em sala de aula. Em paralelo a essa autoapreciação, o professor inexperiente precisa ter muita disposição para rever seu planejamento e, se necessário, mudar tudo o que não se revelar eficaz nas primeiras etapas da carreira. Essa é uma maneira eficiente e construtiva para aprimorar cada vez mais a prática pedagógica.” Luís Carlos de Menezes, professor da USP e colunista da revista NOVA ESCOLA.

4 deslizes comuns 56

Pela vontade intensa de mostrar logo a que veio ou por medo e insegurança de fazer feio, o novato acaba dando escorregadas que podem atrapalhar seu desempenho. Confira as mais frequentes e como evitá-las

1

Desprezar o que já existe.

2

Isolar-se.

Desde que feitas de um modo simpático, críticas e sugestões de novos procedimentos dentro e fora da sala de aula costumam ser bem-vindas. Mas é preciso estudar o terreno com atenção, escutar e observar o grupo primeiro e tentar descobrir as experiências boas e as ruins pelas quais a escola já passou. Erra também quem escolhe o extremo oposto, ou seja, não opina nas discussões coletivas, foge da troca de experiências para evitar exposição e procura fazer seu trabalho da forma mais discreta e isolada possível. Isso ocorre por medo de encarar novos desafios. Mas é preciso enfrentá-los. O novato – como os demais membros da equipe – tem responsabilidades, direitos e deveres na comunidade escolar e precisa trabalhar bem com isso.

3

Cometer falhas no planejamento das aulas.

É comum que a falta de experiência leve a calcular de forma inadequada o tempo necessário para ensinar determinado conteúdo. Por isso, na hora de planejar, vale redobrar a atenção para as etapas que podem ser reduzidas ou ampliadas e pensar em atividades complementares. O apoio da coordenação pedagógica e dos colegas mais experientes nessa tarefa é essencial.

4

Escolher condutas extremas.

A inexperiência costuma fazer com o que professor tenda entre o autoritarismo e a permissividade para manter a disciplina. A prática, que vem com o tempo, só adianta se for acompanhada por reflexão permanente. O caminho é registrar as aulas, anotando o que chamou a atenção dos alunos, as dificuldades que apresentaram, o que deu certo e estudar teorias sobre comportamento.


Distribuição dos professores por faixa etária

8,8% Até 25 anos.

33,6%

E De 26 a 35 anos.

35,6%

De 36 a 45 anos.

Mais de 45 anos.

Alternativa esperta

21,9%

nquanto não estabelecem relações produtivas com os pares, é útil os novatos voltarem os olhos para além dos muros da escola e montarem uma espécie de grupo de referência paralelo com ex-colegas de curso que estão em outras instituições. Com eles se abre um rico espaço para o intercâmbio.

O que faz a diferença

É claro que uma escola bem equipada oferece um cenário mais propício para o professor – iniciante ou não – desempenhar bem o seu papel. Mas a falta de recursos, como os relacionados à informática, não pode ser motivo para desistir das aulas dinâmicas. Veja o que levar em conta quando a infraestrutura...

... é precária. É preciso trabalhar com o que

há enquanto se luta por uma situação mais próxima da ideal. Isso sem perder o foco no ensino e na aprendizagem e reservando boa parte da energia para o que importa. A excelência se alcança também com criatividade, bom-senso, vontade e trabalho coletivo.

... é adequada. O desafio é saber como utilizar

Fonte pesquisa O Perfil dos Professores Brasileiros: O Que Fazem, O Que Pensam, O Que Almejam (Unesco, 2004).

os recursos disponíveis para enriquecer o ensino. “A sala de informática pode ser utilizada em todas as aulas de modo a torná-las mais exploratórias e investigativas”, diz Dario Fiorentini, professor da Faculdade de Educação da Unicamp. Mas ele lembra que as tecnologias, assim como outros recursos de apoio, são meios e o uso delas só faz sentido quando estão a serviço do conteúdo.

57


Capítulo 4 A chegada à escola

Uma relação delicada Confira como pensam os professores iniciantes e os colegas com mais tempo de docência e de que forma os dois grupos podem formar uma parceria produtiva

Iniciante

experiente

É motivado e tem ideias inovadoras (mas que nem sempre se revelam viáveis). Tende a questionar tudo e a sugerir mudanças já tentadas.

Demonstra autoconfiança. Tende a manter as estratégias e as metodologias que lhe parecem eficazes. Às vezes, essa resistência à mudança gera acomodação.

Características

O que pensa sobre os experientes

58

3 iniciativas indispensáveis Não dá para esperar que alguém diga o que está certo ou errado no trabalho. É preciso buscar pistas sobre o próprio desempenho. Veja como fazer isso

1

Peça feedback

Convidar o coordenador pedagógico para assistir a algumas aulas e pedir que aponte os pontos fortes e fracos é um bom começo. Afinal, ele é responsável por tematizar a prática.

2

Faça autoavaliação

Registrar as atividades ajuda a achar formas de melhorar o trabalho. Ideias que podem ser empregadas em experiências posteriores surgem nessa hora.

3

Encare os alunos como termômetro

Observar a dinâmica da turma dá pistas sobre a eficácia dos métodos empregados. Alunos desinteressados são indicadores de que algo não vai bem. É necessário refletir sobre as estratégias para buscar soluções.

Sentem-se os donos da escola e não querem mudar nada, porque acham que tudo está bom como está. São acomodados.

O maior problema

Pode se deixar contagiar pelo desânimo da ala mais antiga. Para isso deve pensar no que acredita ser o sentido maior da profissão e manter o foco nisso, nos alunos e na aprendizagem.

Como pode progredir

Deve se contaminar pelo lado positivo da experiência. Conseguirá fazer isso se aproximando dos colegas mais antigos, que podem ser fontes de informação sobre a escola e sobre os alunos e interlocutores na reflexão.

Características

O que pensa sobre os iniciantes

São os donos da verdade: sempre cheios de teoria, mas desconhecem a realidade do dia a dia de uma sala de aula de verdade.

O maior problema

Pode considerar o novato uma ameaça e criar dificuldades para ele, como isolá-lo no trabalho coletivo. Precisa ver nos jovens um caminho para se informar sobre as recentes descobertas na área.

Como pode progredir

Espera-se que seja sacudido pelos recém-chegados e se contagie com a vontade deles de acertar e experimentar novidades. Para isso, necessita ser chamado ao diálogo e conquistado para essa parceria, benéfica para a comunidade escolar.


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