A Criação do Mundo

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GERALDO QUADROS

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criação do mundo O que há por trás do Gênesis da Bíblia? TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2 017

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A Criação do mundo: o que há por trás do Gênesis da Bíblia? Copyright © 2017 by Geraldo Vaz de Quadros Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda. coordenação editorial

editorial

Vitor Donofrio Cleber Vasconcelos

João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda Talita Wakasugui

preparação

diagramação

Breno Noccioli

Rebeca Lacerda

revisão

capa

Fernanda Guerriero de Antunes

Dimitry Uziel

aquisições

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Quadros, Geraldo A Criação do mundo: o que há por trás do Gênesis da Bíblia / Gerald Quadros. – Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (coleção talentos da literatura brasileira)

Índice para catálogo sistemático:

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455­‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699­‑7107 | Fax: (11) 3699­‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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AGRADEÇO A DEUS: Pelo privilégio de ter vindo à terra através da família na qual eu nasci – em especial ao meu pai, “in memoriam”. Pela família (as mui queridas três filhas e duas netas), que, juntamente com a minha mulher, proporcionei que viesse à terra. Pelos genros – os filhos e amigos que Ele me deu… Por todas as pessoas que conheci; notadamente os amigos e amigas da infância, adolescência, mocidade e os da maturidade.

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PrÓloGo O TEMA ABORDADO NESTE LIVRO, ao lado de outros dois

oriundos da mesma fonte, começou a sua gestação e se manteve de forma bastante aguda em minha mente entre os anos de 1973 e 1979. Durante todo esse tempo, nos al‑ bores da minha juventude, eu estive mergulhado (em pe‑ ríodos de maior ou menor intensidade) numa cavalar crise existencial/espiritual. Cheguei a acreditar, naquela época, que estava (ou que rapidamente iria ficar) louco. temia, muito, a loucura. A morte não temia; ao contrário, pedia‑a aos céus. Desesperava‑me apenas saber que poderia, de súbito, ser tomado por um sentimento interior de querer, por minhas mãos, antecipá‑la… Diante de uma terrível depressão e da insuportável angústia que se abateu sobre o meu peito, recorri a vários caminhos (à yoga e a segmen‑ tos do espiritismo, por exemplo), buscando restabelecer a paz perdida. À retaguarda e ao lado dos tantos caminhos que per‑ corri lá no fundo do meu coração algo me dizia, porém (quiçá pela formação religiosa recebida na infância), que a resposta para o meu desassossego estava nas palavras da Bíblia. voltei a lê‑la, agora com denodo e intensa me‑ ditação, por muitas e muitas vezes. Para minha surpresa e espanto constatei, todavia, que alguma coisa do que eu 7

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aprendera anteriormente sobre ela, mais de perto em rela‑ ção aos três temas que de maneira indireta foram mencio‑ nados anteriormente (os quais estão descritos nas páginas seguintes), não estava em sintonia com os seus próprios princípios ou mandamentos. esses três assuntos em par‑ ticular impactaram de forma profunda a minha mente, como disse, durante a década de 1970, mas, dali em dian‑ te, a minha alma nunca mais foi a mesma; continuou, sem sessar, embora com um pouco mais de harmonia e tranqui‑ lidade, em busca de uma resposta/solução definitiva para equacioná‑los… em 2008 publiquei o meu primeiro livro (sobre um daqueles três temas), com o título: Deus, qual é o Seu plano? – Uma visão crítica dos dogmas cristãos. Por volta do ano de 2010, comecei a escrever o presente livro – mais uma vez abordando um (o segundo) dos três temas já mencionados. O meu objetivo ao escrevê‑lo era ajudar o leitor a encarar de uma forma mais amena, com‑ preensiva mesmo, o difícil texto “criacionista”. estava con‑ victo, no início, de que uma hipotética história secular (que àquela altura já estava quase pronta em meus pensamen‑ tos), seria, por analogia, a forma ideal para tanto. Depois de aproximadamente um ano e meio em que a escrevia, eis que de repente comecei a perceber, aos poucos, que eu estava sendo “invadido”, suave e amigavelmente, porém, por uma magnífica intuição/visão.1 essa visão (focada, em 1 saliento de logo que a expressão “intuição/visão”, separadamen‑ te ou até na forma invertida, “visão/intuição”, estará sempre pre‑ sente neste livro. lembro que não se deve olhá‑la como se fora uma visão espiritual propriamente dita nem, por outro lado, como uma simples intuição humana. não a reputo uma “visão espiritual” por‑ que, diferentemente do que se deu com Gideão (no livro de Juízes 8

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particular, no próprio texto bíblico da Criação) foi se tor‑ nando cada vez mais forte, a ponto de quase absorver toda a minha mente. Para resumir, pouco tempo depois ela veio a ocupar a sexta parte deste livro, assumindo o lugar que, como disse, era até então ocupado por uma hipotética his‑ tória – a qual, não obstante, foi mantida (embora um pou‑ co mais resumida) na quarta parte. O propósito do livro mudou consideravelmente, após o advento de tal “visão”. Antes, o objetivo maior era concor‑ rer para que o leitor, mormente o não religioso e refratário aos preceitos bíblicos, entendesse (diante da analogia com uma simples história secular) que havia suficiente espaço para ele aceitar, sem abdicar das suas “convicções cien‑ tíficas”, as palavras da Bíblia – em particular, o texto da Criação. Posteriormente, essa pretensão subiu alguns de‑ graus chegando, possivelmente, ao topo. Do ângulo espiri‑ tual e/ou simbólico (para mim de forma objetiva também) aquela visão desvelou a resposta do talvez maior enigma da terra. em sintonia com o texto, contexto e as entreli‑ nhas da Bíblia ela trouxe harmonia e serenidade à minha alma, mas, além disso, paz e júbilo ao coração por poder, ao divulgá‑la (como agora faço), acender, quiçá, uma luz para ajudar a todos os que andam (ou andavam como eu) tateando no escuro, buscando, justamente, encontrar as respostas para as milenares perguntas sobre a origem e o propósito da existência do grande universo e dos “peque‑ nos homens e mulheres” do nosso planeta.

6.36‑40), não tive a ousadia de contestar e, portanto, a “prova” in‑ conteste de que ela veio de Deus. 9

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ao concluir este prólogo, atrevo‑me a afirmar, presun‑ çosamente talvez, que todas as partes deste livro (as quais abordam igualmente vários outros importantes temas da vida e em particular do entorno cristão) irão interessar, muito de perto, aos verdadeiros religiosos. De igual modo, que as primeira, terceira, quarta, quinta e sexta partes (especialmente as duas últimas), pelo caráter mais amplo das suas proposições, deverão ser mais atraentes para os “não (ou menos) religiosos”. itabuna, Bahia, 25 de setembro de 2017.

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Sumário Primeira parte O entorno do mundo cristão  13 Segunda Parte A interpretação dos textos bíblicos  37 Terceira Parte Outras teorias sobre a origem do mundo  65 Quarta Parte Uma história paralela  103 Quinta Parte A origem do Criador e do mundo espiritual  121 Sexta Parte A Criação da Terra, segundo a Bíblia  143 Palavras Finais 177 Referências 191 anexos 195

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PrimEira ParTE

o entorno do muNdo CriSTÃo

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NÃO SOU PRESUNÇOSO A PONTO DE ACHAR que as pala‑

vras deste livro irão solucionar (sob a ótica objetiva, óbvio) os conflitos do texto bíblico da criação, uma vez que não há como conciliar o que ali está escrito com a atual sa‑ bedoria secular. tenho certeza, entretanto, de que, se fo‑ rem observadas sob o enfoque espiritual, elas concorrerão para que os cristãos abram mais um pouco os olhos, a fim de realmente ver a fantástica realidade espiritual, e para que os descrentes, os “sábios deste mundo”, possam rea‑ valiar seus conceitos e admitir, ao menos como hipótese, a fantástica realidade espiritual de que cuida as escrituras sagradas, a Bíblia O título deste livro, A Criação do mundo – O que há por trás do Gênesis da Bíblia, é (não resta dúvidas) pro‑ vocante, mas, diante do seu conteúdo, foi o que entendi como sendo o mais adequado para nominá‑lo. Procurarei demonstrar, nas páginas que se seguem, a procedência dessa assertiva. embora o título não sugira, também fiz referências (especialmente em consideração aos leitores não religiosos) a outras visões, não bíblicas, a respeito do surgimento do mundo/realidade. Asseguro de antemão, porém, para que não pairem dúvidas, que, apesar de fazer robustas críticas à sua literalidade, encaro com reverência 15

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e tenho o texto bíblico da Criação na mais alta conta. Os argumentos e a nova visão adiante apresentados visam apenas torná‑lo mais crível e entendível para o homem e a mulher de hoje. Bem, parece não haver dúvida, segundo o entendimen‑ to deste século, de que a maior distinção entre os homens/ mulheres e os outros animais é o caráter racional/cogni‑ tivo dos primeiros. De igual modo, que quase sempre os homens não fazem bom proveito de tal distinção – não a usam em geral, por exemplo, para algo que deveria ser fundamental à espécie, isto é: “conhecerem‑se a si mes‑ mos”. Para se ter uma ideia, entre 600 e 500 a.c., tales de Mileto, grande sábio da época, já destacava a impor‑ tância de conhecer‑se a si mesmo; sócrates (469‑399 a.C.), um dos mais influentes filósofos gregos, colocou no topo da sua filosofia a necessidade de conhecer‑se a si mesmo; ao referir‑se à angustiante incógnita da existência, William shakespeare (1564‑1616), reconhecido como um dos maio‑ res escritores de todos os tempos, deixou antever o quanto o homem não conhece a si mesmo; sigmund Freud (1856‑ ‑1939), quiçá o maior conhecedor secular da psique huma‑ na, destacou a importância de trazer o inconsciente para o consciente – isto é, conhecer‑se, realmente, quem se é; e Jesus, o Mestre dos mestres, lembrou que pouco adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se ele perder (não co‑ nhecer e cuidar) a sua alma (ver Marcos 8.36). Por essa e outras constatações, concluí que o que mais aflige o ho‑ mem (o de ontem e o de hoje) é saber que ele existe, mas não saber, na verdade, quem é. A conclusão acima faz sentido porque se sabe que o não conhecer-se a si mesmo acarreta (às vezes sem que 16

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se perceba) graves frustrações à mente/psique humana. além do mais, entende‑se hoje, de forma pacífica, que tudo o que a pessoa toma conhecimento (até em sonho) integra‑se à sua memória – ao acervo do seu ser. se, de‑ pois, deliberadamente ou não, aquilo desaparecer do seu consciente (ego), ele vai buscar guarida no inconsciente, ou id particular. “esquecer‑se de quem se é” (algo que na verdade não depende do querer consciente) tem, entre os conteúdos que vão para o id, um lugar de destaque. esses conteúdos não ficam ali, porém, de bom grado; ao contrá‑ rio, insistem, permanentemente, em voltar (quase sempre disfarçados) ao ego – nesses instantes é que eles causam os transtornos ao ego. Por isso é que o homem, nos raros momentos em que tenta recuperar o antigo conhecimento que tinha de si mesmo,2 assim o faz buscando, de viés, as respostas para as famosas perguntas: “Quem ele é?”; “Por que ou para que está na terra?”; “de onde veio?”; “Por que existe a morte e por que ele fatalmente morrerá?”; “Para onde irá depois da morte?”; entre outras. A busca por tais respostas, em regra, é mais visível entre os pen‑ sadores e/ou filósofos. estou ciente da magnitude do tema tratado por este livro, assim como dos meus não tão grandes conhecimen‑ tos a respeito. esses fatos não me inibiram, contudo, de confrontar os intelectuais deste século nem os religiosos (os cristãos em particular). estes últimos, muito especial‑ mente, por não admitirem que se modifique “nem um til” do que está nas escrituras. ressalto de logo, mais uma 2 isso significa que para mim a criança (enquanto tal) conhece‑se a si mesma. tal forma de “conhecer” difere, porém, da humana – algo que será demonstrado ao longo deste livro. 17

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vez, que não há a menor possibilidade de se conciliar al‑ gumas passagens bíblicas (em especial o texto da Criação) com a sabedoria dos nossos dias.3 Ora, uma vez que ainda não existe uma explicação científica para a questão tema deste livro, e que os religiosos não admitem mudanças no texto bíblico que lhe faz referência (o qual é incompatível com a sabedoria secular), a proposta destas páginas es‑ taria fadada ao fracasso? Creio que não. entendo que no mínimo ela pode ser vista, por “gregos e troianos”, como uma síntese (a qual, quando, e se algum dia, surgir uma melhor explicação, possa até ser tomada como tese) das duas outras visões: a dos cientistas e a dos religiosos. É um fato incontroverso que as escrituras sagradas dos cristãos, a Bíblia (o livro/biblioteca mais traduzido e lido em todo o mundo), começou a tomar forma por volta de 1500 a.C.,4 há cerca de 3.500 anos (algo muito extraor‑ dinário), portanto. entre os seus escribas, uns receberam as instruções diretamente da divindade; outros tiveram a ventura de participar dos fatos que narraram; um, o au‑ tor do evangelho de lucas, confessou, inclusive, que teve apenas o trabalho de colocar em ordem os acontecimentos que lhes foram transmitidos por aqueles que os presencia‑ ram. não obstante, mesmo concluída (por volta do final 3 Peço que o leitor cristão reflita antes de tomar‑me como néscio. também sei (mas esse – como se verá no correr deste livro – não é o caso) que, segundo o apóstolo Paulo (1a Coríntios 1.17‑19), a sabe‑ doria divina nada tem a ver com a deste mundo. 4 vê‑se, paradoxalmente, que o “Cristianismo” tem a sua gênese anterior ao nascimento do seu Mestre e Mentor – Jesus, o Cristo. isso porque ele é a continuação (ou, como entende o cristão, a con‑ sumação) de uma religião bem mais antiga, o Judaísmo. 18

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do século i d.c., e definido o seu atual cânon no século iV d.C.), muitos foram os que comentaram – e comentam – sobre certas passagens e/ou pontos particulares acerca do que ali foi escrito. À semelhança destes, também resolvi, depois de muito refletir e meditar, expor alguns pensa‑ mentos a respeito.5 O objetivo inicial e único deste livro era tentar compa‑ tibilizar as lacunas que existem no texto da Criação, em face da atual sabedoria humana. Aos poucos fui perceben‑ do, porém, que por trás desta intenção havia algo mais. A incansável luta da minha alma, para encontrar as respos‑ tas a respeito das questões fundamentais da vida: “Quem eu sou?”; “De onde vim?”; “Por que estou aqui?”; “Para que estou aqui?”; “Para onde vou?”; “Como devo comportar‑me na terra?”; etc. tal percepção deveu‑se, por certo, à intuição de que o sucesso do primeiro objetivo iria me levar (ou ao menos seria bem proveitoso para) à solução do segundo. agora, consciente disso, posso afirmar que além de bus‑ car as pistas para robustecer o entendimento “racional” sobre o texto da Criação, entrelinhas e subsidiariamente, este livro também objetivou encontrar as respostas para 5 este é o segundo livro que escrevo tendo como “pano de fundo” a Bíblia. esclareço, por oportuno, que as transcrições dos textos bíblicos vieram da Bíblia de Jerusalém. adotei‑a pela sua confiabi‑ lidade, mormente por ter sido traduzida diretamente dos originais, em conjunto, por renomados exegetas católicos e protestantes. A propósito, essa Bíblia consigna, no primeiro versículo do Gênesis, que Deus criou “o céu”, em vez de dizer “os céus”, mas, algumas vezes (principalmente no novo testamento) ela também menciona “os céus”. neste livro usei, indistintamente, as palavras céu, e céus, para me referir à “morada” de Deus e seus Anjos. 19

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os primitivos, e até hoje presentes, anseios a respeito da existência e finalidade da pessoa humana (da minha par‑ ticularmente), na terra. na verdade, esse desejo (de conciliar a teoria Criacio‑ nista com o saber secular, e em particular as respostas para as questões básicas da existência) foi, aos poucos, tomando corpo em minha vida. em plena adolescência/ju‑ ventude, vergado por um cavalar conflito existencial e es‑ piritual, clamei, desesperado, por Deus. Pressenti, naque‑ la época, que encontraria a paz se conseguisse harmonizar o meu “ser” (minha alma) com os preceitos das escrituras. isso se deveu, por certo, às impressões da minha infân‑ cia, quando eu era obrigado por minha mãe a frequentar, a pulso, a igreja batista (o meu pai era católico) de mi‑ nha terra. voltei‑me de vez, daí em diante, para o estudo da Bíblia. Percebi, entretanto, desde o início, que havia graves distorções entre o que aprendera na infância (mor‑ mente na igreja) e o que efetivamente constava no texto/ contexto da escritura sagrada. Atônito, concluí que seria imprescindível conhecer e entender, na íntegra, o verda‑ deiro conteúdo e o objetivo das Palavras ali apresentadas. isso me levou a lê‑la com atenção e intensa meditação, muitas e muitas vezes. Além de outros pontos menos com‑ plexos, os quais foram mais facilmente conciliados, três temas (rapidamente mencionados no Prólogo deste livro) me deixavam especialmente intrigado; durante bom tem‑ po não encontrei as respostas para eles. O primeiro era saber qual realmente era o plano de Deus para a humanidade. Quanto a esse tema, após mui‑ tas pesquisas e doloridas reflexões, consegui (mais de 25 anos depois) transformá‑lo em um livro, publicado pela 20

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scortecci editora/sP, no ano de 2008. O segundo tema, a origem do mundo, é o assunto de que trata este livro. O terceiro foi, na realidade, o primeiro a ser questionado e o que mais impactou a minha atenção, atinha‑se à segunda vinda de Cristo e, por conseguinte, ao fim do mundo. Por incrível que pareça, as dúvidas sobre esse tema foram as primeiras a serem apascentadas (a não ser a questão so‑ bre o “fim do mundo”, cujo entendimento, até então, não havia conseguido harmonizar). sei que as palavras a seguir poderão ser consideradas ousadas/subjetivas demais para os religiosos mais conser‑ vadores. Adianto, porém, que não há a mínima possibilida‑ de de se entender que Deus tivesse explicado, de forma obje‑ tiva, para as Suas criaturas como e por que fizera o mundo. O exemplo do oleiro é propício para comparação, pois, assim como a escultura de barro não pode entender como e por que foi feita, da mesma forma, por analogia, o homem não pode entender como Deus o fez6 e fez o mundo (ver os livros isaías 45.9 e Jeremias 18.3‑6). todavia, não obstante possa vir a parecer que este livro se destina mais particularmente 6 esse exemplo é clássico. Pode parecer que a distância entre a escultura de barro e o oleiro seja maior do que a que existe entre o homem e o seu Criador – mormente porque, diferente do barro, o homem pensa, e, porque pensa, é inclinado a pensar que isso o torna quase igual a Deus. É verdade, o pensamento é poderoso. Desloca‑se mais rápido do que a luz; com ele o homem faz maravi‑ lhas: imagina‑se deus, rei, conquistador, ou, às vezes, pusilânime, doente, só etc. Contudo, apesar desse enorme poder, ele (pensamen‑ to) não pode fazer com que coisas que não existem venham a existir. Além do mais, o homem não sabe de onde ele vem, e, depois de pensá‑lo, nem ao menos para onde ele vai. 21

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aos religiosos, reitero que ele tem uma atenção e/ou predile‑ ção especial para com os que não fazem parte desse grupo. Os primeiros, embora possam manifestar algumas reser‑ vas, não encontrarão dificuldades para lê‑lo. visando facilitar a leitura dos “não religiosos”, trans‑ crevi, ao final do livro (em letra pequena), os textos bíblicos que aqui foram citados (os que não foram transcritos logo depois de mencionados). Para facilitar ainda mais, relacio‑ nei os livros, com exceção do Gênesis, na ordem alfabética. e ainda quanto aos meus amigos “não religiosos” (os que tratam com descaso as coisas do espírito), tenho a dizer‑lhes que ao se afastarem, deliberadamente ou não, do transcendental eles abrem mão, infelizmente, de algo capaz de lhes dar alguma segurança, ou conforto, quando tiverem de defrontar‑se com os maiores dilemas da sua vida.7 e não pensem eles que, com isso, estou agindo tal 7 isso é algo inexorável. Desde os primórdios, mais cedo ou mais tarde todos os homens e mulheres da terra se defrontam (conscien‑ temente ou não) com a insolúvel questão sobre a existência ou a essência da vida. a propósito, veja, adiante, algumas significativas palavras, que, segundo consta, foram proferidas em duas ocasiões (num discurso de formatura e pouco antes de morrer) pelo gigante da informática, steve Jobs: “lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar – cai diante da mor‑ te, deixando apenas o que é mais importante”. “Cheguei ao topo do mundo dos negócios. Aos olhos dos outros, minha vida tem sido um símbolo de sucesso. […], minha riqueza é simplesmente um fato a que estou acostumado… neste momento, estou na cama de um hos‑ pital, lembrando de toda minha vida, e percebo que todos os elogios e riquezas […], tornaram‑se insignificantes com a iminência da morte 22

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e qual alguns “religiosos” (para os quais a vida na terra é um vale de lástimas e lágrimas), os quais parecem en‑ tender que o abdicar da individualidade em prol de uma miragem espiritual inacessível é a única solução para esta vida. ao contrário, creio firmemente que todos os homens (inclusive e principalmente os religiosos) devem esmerar‑ ‑se para conhecerem‑se e viver o melhor que possam du‑ rante a sua vida na terra. Até porque Deus tornou claro, através do seu Ungido, que ele quer que tenhamos uma vida plena – em abundância.8 […], Deus fez‑nos de uma forma que possamos sentir amor no cora‑ ção e não ilusões construídas pela fama ou dinheiro, como fiz em toda minha vida e não posso levar comigo […], os bens materiais perdidos podem ser encontrados. existe uma coisa em você que não pode ser encontrada quando perde: a vida. seja qual for a fase da vida em que estamos agora, no final teremos de enfrentar o dia quando a cortina baixar […]; trate‑se bem e cuide do próximo”. 8 ver o evangelho de João 10.10. lembro que a marca de coitado e sofredor que, em tempos mais remotos, identificava o cristão (e era bem‑aceita por ele), não condiz com a realidade. A parábola do Filho Pródigo tem, inclusive, muito a ver com ela. O filho não pró‑ digo representa ali, subliminarmente, o clássico “servo obediente e sofredor” que permanecia, apesar das agruras, ao lado do Pai – deus. É aí que está o erro. O filho que ficou junto ao pai (igual ao que não discordou dele, visto em Mateus 21.28‑31), não é o protótipo do filho bom e obediente; ao contrário, mesmo porque é prazeroso, e não dolorido, ficar junto de quem se ama. ele é, justamente, aquele que disfarça as intenções, para não perder as pequenas benesses de que dispõe, e/ou para angariar vantagens futuras (existem muitos desses em nossas cidades, igrejas e famílias). Por outro lado, o que dilapidou a fortuna (igual aos demais “pecadores”) foi acolhido de braços abertos, porque se arrependeu, de coração, dos seus atos. 23

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Quando me lembro dos que agem como se o transcen‑ dental não existisse chego a pensar que eles se acham (a maioria das vezes sem consciência) protegidos por uma multidão de sábios pensadores, que, às suas retaguar‑ das, agem da mesma forma. isso (se assim for) seria, para mim, a prova cabal do quanto eles se encontram vulne‑ ráveis a respeito de algo tão essencial (imprescindível mesmo) das suas vidas. eles deveriam saber, no mínimo, que têm uma energia vital dentro de si (comumente deno‑ minada de alma), e que ela transcende às simples subs‑ tâncias materiais dos seus corpos. será que pensam que ela (alma) terá o mesmo destino do corpo físico? Falar da alma é muito complexo, mas, apesar desse assunto não ser o foco deste livro, acredito que seja fundamental para qualquer um (para quem pretende conhecer‑se a si mes‑ mo principalmente) entender o mínimo sobre ela. Daí por que resolvi expor em um parêntese, a seguir, algo a seu respeito.9 reitero que, embora me reconheça pequeno, não tenho o mínimo receio de, nesta seara (como se verá nes‑ te parêntese), confrontar‑me com as ideias dos grandes 9 esclareço, de logo, que ao aceitar‑se a crença popular de que o homem e a mulher possuem alma, melhor seria entender que eles têm, na verdade, duas almas. Uma puramente espiritual (imortal), e a outra, humana, que, apesar de também espiritual (por envolver‑ ‑se de perto com o homem e a mulher adultos), é mortal – ver, sim‑ bolicamente, o livro de Jó 28.12,23,28, e 1a Coríntios 14.2,7,14. A propósito, lembro que a ideia de que a alma humana não morre é, para mim, o primeiro, o maior e a base de todos os pecados regis‑ trados na Bíblia, e o seu pai é o Diabo – desde quando convenceu a criatura de que, a despeito da Palavra de Deus, ela não morreria (ver também, sobre esta última observação, os livros de Gênesis 2.16,17; 3.4; ezequiel 33.11 e Mateus 10.28). 24

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– desde sócrates e Platão, ao entendimento atual do po‑ deroso establishment cristão. saliento, por oportuno, que as considerações a seguir visam também, em especial, a alguns amigos que professam o espiritismo. Antes de ir ao parêntese sobre a alma, cabe, natural‑ mente, a pergunta: “Por que a referência aos espíritas?”. Porque eles (numerosos no Brasil) não são vistos, no ge‑ ral, com bons olhos pelos cristãos. “e há motivo para isso?” sabe‑se, a princípio, que eles buscam o espiritual e que têm a Jesus em lugar de honra e professam fé em Deus. “Onde estaria o erro?”. O problema está, na verdade, no enfoque que eles dão ao espiritual, isto é, quando dizem que man‑ têm contato com os espíritos/almas dos que já morreram e que alguns desses, os que não tiveram uma vida impoluta na terra, voltam a viver noutros corpos, em outras encarna‑ ções, até conseguir evoluir e libertar‑se desse eterno ir e vir. Os cristãos, mirando a ética e a moral,10 mas, fundamental‑ mente, a Bíblia (ver, por exemplo, Deuteronômio 18.10‑12; ii samuel 12.22,23 e isaías 8.19), condenam tais ideias e em especial a reencarnação, porque na prática elas torna‑ riam Cristo e a sua missão nada mais do que uma mentira/ engodo. Por sinal, as escrituras, em seu texto mais emble‑ mático a respeito, no livro de eclesiastes 12.7, diz que: Na morte o pó (corpo) volta para a terra e o Espírito para Deus – não faz referência à alma humana. Quanto ao parêntese sobre a alma, a minha “visão/ intuição”, depois de muita reflexão, é a seguinte: a Alma é uma criação, excepcional, do Espírito de Deus e se 10 Por que a ética e a moral? Porque se fosse assim poderia ser que muitos, inconscientemente, abdicariam de um viver probo, por saber que depois da morte terão novas chances de “se salvar”. 25

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apresenta na terra de duas maneiras: quando propicia vida ao homem e/ou à mulher, e quando dá a vida aos de‑ mais viventes terrenos. Apesar de serem igualmente espi‑ rituais, há uma diferença abissal entre elas. Apresentarei, doravante, visando melhor caracterizá‑la, algumas pecu‑ liaridades do seu entorno – em particular, naturalmente, sobre os existentes espirituais. o ESPÍriTo dE dEuS É o vértice e a origem de tudo, e, como tal, extrema‑ mente difícil (impossível mesmo) de explicar. Além do mais, quiçá para complicar, as escrituras O mencionam, muitas vezes, com características diversas – no correr des‑ te livro (mormente na quinta e sexta partes) tecerei algu‑ mas considerações mais consistentes a seu respeito. Para o momento, afirmo apenas que ele é o responsável pela geração da Alma. aS almaS ViVENTES são, como foi dito, criações excepcionais e provisórias do Criador – o resultado da intervenção do espírito de Deus sobre a matéria, que, por sua vez, é uma criação bem mais inferior. Guardadas as devidas proporções, ela é utilizada, na dimensão humana, como “massa de mano‑ bra” do Espírito. todo ser vivo que nasce na terra torna‑se Alma: uma Alma vivente. O tipo de Alma que O Espírito de Deus concede ao homem (e à mulher), como foi dito, não é o mesmo que ele dá aos demais existentes terrenos. A Alma que dá vida à criancinha é excepcionalíssima. A

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ela é atribuída uma missão sui generis: a de atuar como uma espécie de suporte para um ser que, posteriormente, ocupará o lugar onde ela se fazia, inicialmente, presente. a alma ViVENTE HumaNa essa, na realidade, é a que interessa e necessita de maiores explicações. A humanidade em geral acredita na sua existência e a confunde, quase sempre, com a Alma. Quando se fala em alma humana deve‑se entender, po‑ rém, que essa expressão é, na verdade, uma tentativa de o homem querer compreender, explicar e/ou iden‑ tificar o existente subjetivo e indecifrável (a vida) que pulsa no interior de cada pessoa.11 O exame cuidadoso e isento do texto bíblico demonstra que quando a palavra “alma” é ali anotada, a intenção é se referir, apenas e tão 11 Por oportuno, passeando nas páginas da internet (https://wol. jw.org/pt/wol/d/r5/lp‑t/1200004192), encontrei um interessante arti‑ go, o qual, originário, por certo, do ambiente judaico, tem muito a ver com o tema – daí por que resolvi transcrevê‑lo: “Os termos das lín‑ guas originais (hebr.: né‧fesh [ׁ‫ ;]ש‬gr.: psy‧khé [ψυκή), segundo usados nas escrituras, mostram que a ‘alma’ é a pessoa, o animal ou a vida de que a pessoa ou o animal usufrui. […] Mais recentemente, quando a sociedade Publicadora Judaica da América lançou uma nova tra‑ dução da torá, ou dos primeiros cinco livros da Bíblia, o editor‑chefe, H. M. Orlinsky, da Faculdade União Hebraica, declarou que a pala‑ vra ‘alma’ tinha sido virtualmente eliminada desta tradução porque ‘a palavra hebraica em questão aqui é ‘nefesh’. Acrescentou: ‘Outros tradutores a têm interpretado como significando ‘alma’; o que é in‑ teiramente inexato. A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser”. – The New York Times, 12 de outubro de 1962. 27

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somente, ao existente ser vivo – corpo vivente (mormen‑ te o homem). isso se torna cristalino ao se confrontar o mesmo texto com o modo como ele foi traduzido nas versões mais modernas e/ou aperfeiçoadas (a exemplo da Bíblia de Jerusalém, utilizada para as transcrições deste livro). Apesar de haver muitos, resolvi transcrever apenas dois deles, um do novo e outro do Velho testa‑ mento, a seguir. na Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida, por exemplo (a mais usada entre os evangélicos), se vê: “eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.” (ezequiel 18.4) “36Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? 37Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Marcos 8.36,37)

esses mesmos textos, na Bíblia de Jerusalém (e/ou nas versões mais modernas), foram assim traduzidos: “todas as vidas me pertencem, tanto a vida do pai, como a do filho. Pois bem, aquele que pecar, esse morrerá.” (eze‑ quiel 18.4) “36Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo in‑ teiro e arruinar a sua vida? 37Pois o que daria o homem em troca da sua vida?” (Marcos 8.36,37)

É bom relembrar que tanto a alma quanto, e princi‑ palmente, a Alma (porque espirituais) são incognoscíveis

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aos humanos. Para tentar melhor identificar a alma hu‑ mana terei de falar mais um pouco, porém, da Alma. re‑ correrei, de logo, a uma singela e elementar comparação. Peço que o leitor pense numa pessoa dormindo (ou até, grosso modo, num veículo desligado). entende‑se, no ge‑ ral, que quem está dormindo parece‑se com quem está morto, pois (apesar da respiração e do bater do coração) ele se mostra inerte, como se estivesse, em tese, fora des‑ te mundo. sabe‑se, entretanto, que há no interior dele vida – tão logo acorde, de forma espontânea ou através de algum estímulo exterior (no veículo, ao se acionar a chave de ignição), ele mostra para a “plateia em volta” a pulsante energia vital que há dentro dele. A vida que pulsa de forma latente no interior de uma pessoa adulta dormindo pode ser assemelhada, em tese, à vida que ha‑ via naquela mesma pessoa, quando ela era criança. isso é um mistério para o qual não tenho (e creio que nenhum humano tenha) a resposta. Depois dessa elementar diva‑ gação focarei mais de perto nas particularidades da alma humana. recorrerei à intuição/visão que me ocorreu para mostrar, a seguir, alguns caminhos que possam melhorar o entendimento a seu respeito. Com o passar dos dias ou meses do nascimento de uma criança (só Deus sabe o tempo exato), a sua Alma vai cedendo lugar à alma. isso ocorre, em regra, à medida que ela começa a perceber‑se diferenciada do mundo, e, em consequência, a tomar consciência de si mesma (da pessoa que ela é). O paulatino despertar do conhecimento sobre si próprio é que é, na verdade, a matéria‑prima que 29

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serve de base para a formação da alma/pessoa humana.12 Aos poucos, à medida que esse conhecimento vai se soli‑ dificando, a pura Alma divina vai diminuindo a sua par‑ ticipação na criança, até tornar‑se apenas a provedora da sua energia vital. Alguém13 poderia perguntar: “Qual o destino da Alma, após o surgimento da alma numa criança?”. não sei! 12 essa alma/pessoa é, na verdade, quem identifica e representa cada um na terra. e aqui começa a “provação do ser” – doravante inicia‑se a “batalha da alma”. enquanto o espírito de Deus almeja que ela preserve a sua pureza original, o espírito de lúcifer ten‑ ta persuadi‑la com ilusórias e atraentes propostas para que ela se afaste de tal estado (ver, simbolicamente, o livro do Gênesis 3.1‑6 e romanos 5.13). Quando não consegue por bem ele a ameaça com muitos (quase sempre imaginários) perigos. temerosa, em regra, ela é levada a criar uma segunda, terceira, quarta etc., identidades interiores, visando, com isso, proteger‑se – ledo engano: é justa‑ mente quando “sai de si mesma” que ela se torna mais suscetível de cair nas artimanhas do Diabo. Por outro lado, para complicar, o ho‑ mem (e a mulher) não tem como conhecer‑se em plenitude, uma vez que a sua alma é espiritual, mas, na sua constituição, ele também tem a matéria – que é mortal, ou, na verdade, morta. De acordo com a intuição/visão que me ocorreu e que é o “carro‑chefe” deste livro, o mistério sobre a sua identidade, porém (perdoem‑me a assombro‑ sa presunção), ao menos a sua origem e o porquê de estar aqui na terra, será desvelado, de vez, no final deste livro, na sexta parte. 13 esse alguém aparecerá outras vezes no correr deste livro – ele é uma figura de ficção. comparo‑o a um perfeccionista que não tem coragem para executar a obra. Para justificar‑se, vive criticando a tudo e a todos, mas não pisa no chão da rua porque tem medo de ver‑se, ali, despido e desmascarado. ele não é rei, sábio, soldado nem o bobo da corte. impotente tornou‑se, como disse um crítico 30

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insatisfeito e fazendo‑se de desentendido, ele volta à car‑ ga: “afinal, o homem tem ou não uma alma?”. depende de qual alma ele esteja se referindo. se ao existente espiritual (geração de Deus) que originalmente lhe deu forma/vida, não! Mas, se ele se refere ao ser cognoscitivo que pulsa vivo no seu interior e lhe identifica como uma pessoa humana, pode até ser que sim. “Como assim?” isso mesmo; sabe‑se que existe em todos os homens e mulheres da terra um inefável ser interior, que faz com que eles sejam o que são, e que apesar dessa relativa consciência eles não dispõem de meios para se conhecerem plenamente. tal impossibilida‑ de, aliada à intimidade inicial que eles tiveram, na práti‑ ca, com a Alma divina (algo marcante na cultura ocidental judaico‑cristã), os levou a concluir, desde os primórdios, que aquele ser deveria ser também (igual a uma) alma. não há nenhum mal nisso. O único senão, talvez, é que ela, alma humana, às vezes se equivoca e ensoberbece, a ponto de ser levada a pensar que não é outra, mas a própria Alma. se o homem tivesse dado/inventado outro nome para significar ou representar o seu ser/eu interior, talvez houvesse menos confusão a esse respeito. Alguns, inclusive, preferem o nome espírito para identificar o ser/ eu interior. Aliás, esse nome também estaria respaldado na Bíblia, como o que se vê, entre outros, nos livros de Atos e romanos, a seguir transcritos (alma, espírito ou qualquer outro nome, porém, não ajudam em nada ao ho‑ mem na sua desesperada e infrutífera busca para conhe‑ cer, em plenitude, o seu ser interior): azedo – mas, por incrível, às vezes as suas críticas se mostram úteis aos que enfrentam, sem temor, a “roda‑viva” da vida. 31

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“e apedrejaram a estêvão, enquanto este invocava e dizia: senhor Jesus, recebe o meu espírito.” (Atos 7.59) “O próprio espírito se une ao nosso espírito para testemu‑ nhar que somos filhos de deus.” (romanos 8.16)

esse alguém replica: “Que seja, mas qual vantagem terá quem souber diferenciar a Alma da alma?”. Muitas; entre elas, tornar‑se‑á mais fácil para ele chegar a uma conclusão sobre se a alma é mortal ou imortal. “Como as‑ sim?” A partir de quando se entende que uma é a Alma e outra a alma humana e que aquela, em regra, é protago‑ nista do corpo animal somente enquanto a alma não se faz presente; a partir de tal entendimento, essa questão torna‑se mais fácil de ser deslindada (é bom lembrar que a Alma não morre, mas o seu destino só Deus sabe). A alma que identifica a pessoa, embora circunstancialmente espiritual, é, todavia, mortal – as considerações sobre o seu destino final não fazem parte, porém, da proposta des‑ te livro. Contudo, o imbróglio a esse respeito é tão grande e crucial que resolvi antecipar, a seguir, uma minúscula prévia do que exporei a respeito no próximo livro (O fim do mundo e a segunda vinda de Cristo), que, à mercê de Deus, espero escrever. ei‑lo: Depois de Cristo, a alma que não lograr salvar‑se da morte, em vez de ir para um lugar obscuro, onde, apesar das enormes limitações, mantinha alguma perspectiva e/ ou esperança de vida futura (como se depreende, entre ou‑ tros, dos textos que se veem em: Jó 19.25; salmo 146.3‑5; eclesiastes 9.10; isaías 8.19; e i Pedro 3.18,19), transferir‑ ‑se‑á de vez (ver Hebreus 9.27) para o seu destino eterno,

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isto é, para a sua gradativa extinção. O que significa essa gradativa extinção? lembram que Deus disse para Adão, que se ele (que era imortal) comesse da árvore proibida, morreria? no entanto, ele comeu e não morreu. ele não morreu na mesma hora, porque a morte (e aqui está o se‑ gredo: tanto do corpo quanto da alma) dá‑se tal qual um processo – que se estende durante algum tempo, até che‑ gar ao fim. Os detalhes a respeito desse fato (da morte gradativa da alma) e de outros que lhe são próximos serão mais bem apresentados no próximo livro, que, como disse, hei de escrever. alguém, fingindo não ter entendido, perguntaria: “todas as almas vão morrer?”. não! Falei apenas que a Alma (imortal) se afasta quando a alma se faz presente. Apesar de difícil, algumas almas não morrerão. Cons‑ ta na Bíblia, por exemplo, que as de enoque, Moisés e elias sobreviveram espiritualmente. Ainda houve mais duas (acima dessas): as almas de Melquisedec e Jesus – esses, apesar de terem vivido no mundo, não se con‑ taminaram com ele. Depois de Cristo a possibilidade de salvar a alma da morte tornou‑se, em tese, mais demo‑ crática. Doravante, a alma que se arrepender dos seus erros e passar a viver de forma pura e íntegra (mesmo que cometa um ou outro deslize), se ela for realmente fiel a Deus, não morrerá. isso, por causa do sacrifício vicário e porque o espírito santo, juntamente com Jesus Cristo (ver romanos 8.27,34), intercede a Deus, eternamente, por ela. Como se dará o caminho inverso, a passagem da alma para a Alma? Bem, isto também deverá ser visto no próximo livro, que, à mercê de Deus, escreverei – ressalto

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de antemão, porém, que não são apenas os cristãos que serão salvos da morte.14 a alma doS ouTroS ViVENTES da TErra Acredito que as explicações anteriores tenham sido suficientes para dissipar as dúvidas a respeito do desti‑ no da Alma dos demais existentes da terra. Por não ter ocorrido o processo de individuação (por não terem se tornado indivíduos cônscios de si mesmos), ao morrerem a Alma que neles habitava volta, diretamente, para o espírito de Deus. aproveitarei inclusive o final deste parêntese para ex‑ por ao leitor uma ideia que desde muito povoa a minha mente. Acredito que de alguma forma ela poderá ser‑lhe útil, quando das suas avaliações, comparações e/ou even‑ tuais conclusões, a respeito de tais assuntos. Há algum tempo cheguei à conclusão (ressalvadas as enormes proporções) de que Deus está para o seu espírito de um modo muito parecido como a alma do homem está para o seu corpo. Apesar de a alma (o vivente espiritu‑ al interior de cada um) ser, a priori, quem, na realidade, 14 diante de tal afirmação o cristão poderá execrar‑me. tomar‑ ‑me‑á no mínimo por um herético. isso porque em geral ele não sabe que o nome de Jesus é muito maior do que ele pensa (as crian‑ cinhas, os indígenas e muitos outros que não conhecem o seu nome também serão salvos por sua causa – ver isaías 53.6‑12; romanos 2.11‑16; 1a Coríntios 15.26). As outras assertivas deste importante parágrafo podem ser confirmadas, simbolicamente, na Bíblia, entre outros textos, em: Gênesis 5.24; 14.18; João 5.24; 11.25,26; Hebreus 5.5‑10; 6.20; 7.1‑3; 11.5, romanos 2.11‑15 e 8.27,34. 34

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sustenta a existência humana, é o corpo físico, umbilical‑ mente ligado a ela, quem, efetivamente, atua e representa a pessoa na terra. semelhantemente, apesar de saber que Deus é Deus, é o seu espírito quem se apresenta e desen‑ cadeia a sua atuação – tanto na terra quanto nos céus. O diferencial maior nesse caso é o fato de o existente execu‑ tivo de Deus ser um espírito, e, acima de tudo, O Espírito de Deus – O Qual, com ele, é um, infinito, sem princípio e sem fim. enquanto que o existente executivo da alma (essa que é espiritual, mas pode morrer), o corpo, só convive com ela, enquanto houver sinais vitais da pessoa, na terra – isso (ver eclesiastes 12.7) porque ele, corpo, é simplesmente matéria e, como tal, fatalmente finito. Ufa! Pensei que esse parêntese (sobre a alma) fosse menos extenso. Mas voltando ao foco anterior: acredi‑ to que deveria ser bem proveitoso para eles, os que des‑ cuidam das coisas do espírito, que se atentassem para o seguinte: as escrituras sagradas não pedem sacrifícios. afirmam, ao contrário, que querem misericórdia (amor). ser religioso ao molde da Bíblia (e, portanto, de Jesus) sig‑ nifica viver em harmonia; pessoalmente, e com o próximo. no livro de Amós 6.6, por exemplo, se vê: “Porque é o amor que eu quero e não sacrifício, conhecimento de Deus mais do que holocausto”. em Marcos 12.30,31, o próprio Jesus assevera: “Amarás o senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. não existe outro mandamento maior do que es‑ tes”. esse tipo de vida é ruim, retrógrada ou sugere algum sofrimento? então, eu pergunto: será que vocês, cidadãos da grande multidão, continuarão fazendo de conta que isso 35

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nada tem a ver com vocês? Ou justificando a si mesmos, por conta dos maus exemplos de algumas religiões ou de alguns religiosos? e, para finalizar essa parte (lembran‑ do que a responsabilidade é individual), invoco, porque as entendo como oportunas neste momento, as palavras do grande filósofo francês Blaise Pascal (1623‑1662), repro‑ duzidas no site Filosofia clínica Sul catarinense. “Ao apostar que Deus não existe, há a possibilidade de perder muito (a felicidade infinita no céu), ou ganhar pou‑ co (um sentido finito de independência neste mundo). Já a aposta que Deus existe traz o risco de perder pouco ou a chance de ganhar muito. seria mais racional, sob este aspecto, acreditar em Deus” (grifo do autor).

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