A Ilha de Kansnubra e o portal perdido

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Andrews Ulisses

A ilha de ­Kansnubra e o portal perdido

Coleção novos talentos da Literatura Brasileira

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Copyright © 2013 Andrews Ulisses

Coordenação Editorial Capa Diagramação Preparação Revisão

Dados

Nair Ferraz Monalisa Morato Max Oliveira Camila Fernandes Rita Costa

Internacionais de Catalogação na Publicação (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

(CIP)

Ulisses, Andrews A ilha de Kansnubra e o portal perdido / Andrews Ulisses. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2013. -- (Coleção novos talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

13-03182

CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira

869.93

2013 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11º Andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville – SP Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 2321-5099 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Para toda a minha famĂ­lia.

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Sumário

O medalhão..........................................................................................9 A ilha de ­Kansnubra...........................................................................19 O mapa secreto...................................................................................29 O herdeiro...........................................................................................43 A bainha mágica.................................................................................53 Os irmãos G ­ ordon..............................................................................69 Uma visita ao ­anfiteatro.....................................................................79 A loja de ­Yoorkoon.............................................................................87 A profecia............................................................................................93 Invasão ao banco...............................................................................107 Uma visita ­desagradável....................................................................113 Atacados por ­tentáculos....................................................................123 Animais se ­transformam em p ­ essoas................................................133 Os selvagens......................................................................................151 O inimigo..........................................................................................167 Encontro com o inimigo..................................................................169 Encurralados.....................................................................................183 A estrada dos ­espinhos.....................................................................199 O Monte Tylan................................................................................ 209 O retorno à ­cidade........................................................................... 223 Invasão ao palácio.............................................................................243 Premiação......................................................................................... 265 De volta para casa.............................................................................277

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Capítulo 1

O medalhão

Rajadas de chuva caíam sobre a pequena cidade de Kastreen’s Pick. O vento rugia, com clarões de relâmpagos seguidos por trovoadas ­ressoantes. Garley estava voltando de seu colégio, Braghton, embaixo do velho guarda-chuva de seu pai. A rua estava deserta e ele caminhava rumo à sua casa. Naquele dia, sentia-se um pouco mais tranquilo. Achava que dificilmente Victor e seus amigos encarariam aquele temporal só por sua causa. Contudo, ele não sabia que estava muito enganado... Garley era um jovem franzino. Tinha dezesseis anos, os olhos eram castanho-escuros e cabelo preto, farto e liso, igual ao de seu pai. Usava roupas simples, algumas remendadas, pois sua família nem sempre podia lhe comprar roupas novas. Seu modo de vestir era motivo de piada entre os meninos valentões da escola que ele frequentava. Eles o perseguiam e, muitas vezes, batiam nele. Sempre fora muito impopular. Além das roupas e do porte franzino, suas notas eram baixas em quase todas as matérias, o que era mais um motivo para todos rirem dele. Seus únicos amigos eram Juan, tão perseguido quanto ele, e Peter, que era alto e usava grandes óculos, o que lhe valera o apelido de “Olhos de Peixe”.

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Garley não aguentava mais as injustiças que sofria por causa de sua condição financeira relativamente baixa, se comparada com a de seus colegas, e das notas ruins. Precisava dar um jeito de sair daquele colégio e se livrar de uma vez por todas de todos aqueles moleques arrogantes. Mas, naquele momento, não conseguia pensar numa saída. – Pessoal, ele está bem ali! – alguém gritou, ao longe, às suas costas. Era uma voz grave e desdenhosa. Assustado, derrubou o guarda-chuva no chão lamacento da calçada. No final da rua, vislumbrou cinco moleques embaixo de capas de chuva amarelas. Eram Victor e seu grupo, que caminhavam apressados em sua direção. Apesar do medo, que aumentava à medida que eles se aproximavam, Garley sentiu uma louca vontade de enfrentá-los. Não podia fugir para sempre. Conseguiu reunir um pouco de coragem e, hesitante, esperou. Mas eles eram muitos; ele, um só. Que chance teria contra aquele bando de delinquentes? Então, pensou em correr, mas agora era tarde. Eles já estavam bem perto. – Olhem só a roupa dele, pessoal! É do seu avô, é, idiota? – riu Victor, um garoto corpulento, moreno e alto. Tinha cabelos ondulados e rebeldes. Sua voz era calma e solene. – Isso... isso não é da sua conta, Victor – retrucou Garley, escondendo nos bolsos das calças jeans as mãos que tremiam levemente. – Por que você não me enfrenta sozinho? Precisa mesmo desse bando de canibais? Talvez seja tão covarde quanto acha que eu sou. – Covarde? – gritou ele, com os olhos brilhando de fúria, a água da chuva escorrendo por seu rosto. –Você não aprende mesmo, né? Você é o cara mais patético de todo o Colégio Braghton. Acho que precisamos ajudá-lo a lembrar quem manda aqui! – bradou ele, avançando junto com os outros, todos grandalhões e corpulentos. Garley não teve escolha: largou o guarda-chuva no chão e correu com toda a força que conseguiu extrair de dentro de si. Seria realmente loucura enfrentá-los só para ganhar mais cicatrizes. Enquanto fugia o mais rápido que podia, olhou por cima dos ombros e percebeu que uma massa amarela ia ficando para trás. Passado 10

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alguns longos minutos, notou que conseguira, por fim, despistá-los. Nisso, ele realmente era bom: corria mais rápido que qualquer um. Entrou em um beco escuro e deserto, onde se escondeu atrás de um latão de lixo. Estava encharcado e tremia de frio da cabeça aos pés. Não aguentaria ficar ali por muito tempo. Estava congelando e sua respiração estava ofegante. Passados menos de cinco minutos, não aguentou mais esperar. Mudou de ideia novamente; estava cansado de fugir. Mesmo que levasse uma surra, seria melhor perder com honra a escapar feito um covarde, como sempre fizera. Então, após respirar fundo, caminhou lentamente até a calçada. Para seu alívio, não havia mais nenhum sinal deles. Mas não estava seguro. Talvez ainda os encontrasse mais à frente. Em todo caso, já era bastante ruim ficar naquele temporal e ele seguiu correndo para casa, atento a qualquer sinal de perigo. Sua casa ladeava uma larga rua e estava espremida entre duas outras casas, estreitas e altas. O que a distinguia era a pintura vermelho-escura, que estava desbotada, com o acabamento em verde-claro. Tinha dois andares e uma pequena varanda, cercada por um peitoril de balaustrada. Garley morava nela com seus pais, o irmão e o avô, Gobe. Na verdade, era a ele que a casa pertencia. Quando chegou, o Sol já estava se pondo em um tom de laranja avermelhado. Agora, a tempestade se reduzira a uma leve garoa. Girando com dificuldade a grande maçaneta da porta gasta de entrada, entrou na pequena e modesta sala de estar. Havia um sofá preto em frente a uma antiga televisão sobre uma velha cômoda, onde Robert, seu pai, assistia entusiasmado ao noticiário. O chão era de madeira escura e, somado à luz bruxuleante e fraca, dava ao lugar uma aparência decadente. No canto esquerdo, havia uma estreita e velha escada em caracol com corrimão de madeira antigo, levando ao andar superior. Robert tinha a mesma aparência física de seu filho, só que em versão bem mais velha. Tinha a voz grave e era um homem radiante, apesar de toda a sua situação financeira. Era operário em uma fábrica de botões e sempre se referia ao seu trabalho como cansativo e injusto. 11

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– Olá, pai! – Garley cumprimentou-o, ofegante e encharcando o chão de água. –Filho! – exclamou seu pai com a voz grave, levantando-se vagarosamente do sofá.– Você está todo molhado e pálido... O que aconteceu? – Não se preocupe, estou bem – retrucou, com a voz rouca e gélida. Garley nunca contava a ele quanto sofria no ambiente escolar, nem que, quase todos os dias, era perseguido por aqueles garotos. Sentia vergonha de dizer, pois seu pai poderia pensar que ele não sabia se defender sozinho e ainda o criticaria por isso. – Você não está nem um pouco bem! – Robert insistiu, com os olhos estreitos. – Onde está o meu guarda-chuva? – Eu o perdi no colégio. Na verdade, roubaram – mentiu ele, sentindo um assomo de raiva, e se dirigiu à cozinha, que, como todos os cômodos da casa, também era pequena, mas um pouco mais aconchegante. Sua mãe e seu avô jantavam tranquilamente em uma pequena mesa redonda, coberta por uma simples toalha de mesa. Sua mãe, Nancy, era baixa e tinha olhos castanhos-claros e cabelos pretos, lisos e espessos. Ela era muito magra e usava óculos grandes e remendados, que a incomodavam muito. Era uma ótima cozinheira, pelo menos na opinião de Garley. Talvez porque ele odiasse a repugnante merenda de sua escola, que, raramente, comia. Um dia, achara um pedaço de unha postiça no seu prato. Nunca descobrira se caíra ali acidentamente ou fora colocado por algum moleque maldoso. Depois desse dia, sempre ia para casa morrendo de fome. Gobe, o avô de Garley, parou de comer, deixando a colher cair quando o menino entrou na cozinha. Ficou olhando para ele, incrédulo. Era igualmente franzino e tinha cabelos prateados dos lados e atrás da cabeça, mas, no topo, era calvo. Seus olhos azuis eram miúdos e bondosos. Tinha uma longa barba emaranhada e branca. – Meu filho! – exclamou Nancy, saltando da cadeira, assustada. – O que aconteceu? Está todo molhado! – Hã... Perdi o guarda-chuva fugindo de uns garotos – respondeu, com a cabeça baixa, sentindo raiva de si mesmo por não ser páreo para eles. Puxou uma cadeira vazia da mesa e sentou-se, encharcando-a. Para 12

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sua mãe e seu avô, ele contava sobre os seus problemas, com a promessa, é claro, de não contarem ao seu pai. – Ah, meu filho querido! – consolou Nancy, com um olhar de pena. – Vou hoje mesmo reclamar com a diretoria. Aqueles moleques têm que ser punidos! – Não, mãe! – Garley interrompeu-a rapidamente. – Isso só faria tudo piorar! Olha, se você quer mesmo me ajudar... me tire de lá. – Não vou fazer isso! – replicou ela, resoluta e indignada. – Esse é o melhor colégio para você, no momento. Além de ser o mais próximo de casa. –Tá bom, então! Se é isso que você quer... – Garley, você não pode deixar que esses garotos o prejudiquem – aconselhou-o seu avô Gobe, tirando uma colherada de seu jantar. – Não os deixe interferir na sua vida, meu filho! Imponha-se! – Vou pensar sobre isso – disse, suspirando fundo. – Tudo bem, mãe. Pode ir lá fazer uma reclamação, mas, se acontecer algo comigo... – Confie em mim. Tudo vai dar certo! – disse ela, apoiando-se na mesa da cozinha. – Algo tem que ser feito hoje mesmo! Na verdade, Garley sentia um imenso alívio por sua mãe ter ­decidido que resolveria tudo. Agora, Victor nunca mais o atormentaria­. Pelo menos, era uma esperança. Mas sentia também uma estranha ­preocupação se espalhar dentro de si. Terminado o jantar, subiu para o andar superior e, após tomar um longo banho quente, colocou roupas secas e limpas. Em seu quarto, havia uma cama desarrumada, um pequeno ­guarda-roupa e uma escrivaninha encostada a uma pequena janela, onde Garley passava boa parte de seu tempo livre observando a vizinhança e, às vezes, fazendo seu dever de casa. As paredes eram de um verde-claro desbotado e continham alguns de seus retratos. Caminhando pelo chão de madeira, que rangia a cada passo, sentou-se em sua cama e pensou por algum tempo em sua vida, com uma raiva crescente dentro de si. – Gostou de tomar banho naquela tempestade? – perguntou Billy, seu irmão caçula. Tinha apenas nove anos e os mesmos traços físicos 13

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de Garley. Ele estava parado na porta, segurando a roupa molhada de Garley com um sorriso desdenhoso. – Solte isso, seu pestinha – disse ele, saltando da cama e correndo atrás de seu irmão. Da última vez que fizera isso, Billy escondera suas calças e ele não pudera ir para a escola. – Socorro, mãe! – gritou, enquanto corria pelo corredor. Então, após alcançá-lo, Billy largou suas roupas e correu para o quarto, trancando a porta rapidamente. Não frequentavam o mesmo colégio. O local onde Billy estudava era um pouco mais longe. Ele também não sabia o que Garley sofria na escola. Talvez por isso o atormentasse ainda mais em casa.

Na manhã seguinte, Garley se levantou cedo. Jogou-se no sofá da sala e ficou assistindo a um programa engraçado sobre os piores roubos a supermercados. Seu pai caminhava pela casa apressado, à procura de um par de meias que esquecera em algum canto. Garley diminuiu o volume da TV para não acordar seu avô, que roncava baixo no sofá ao lado. Da cozinha, vinha um delicioso cheiro de café que Nancy preparava. Estava um pouco frio, o que fazia Garley sentir ainda mais preguiça­de ter que ir à escola. – Ora, cadê vocês quando mais preciso? – resmungou Robert, esquadrinhando o chão. – Ah! Aqui estão as meias fujonas. Robert rapidamente calçou uma em um pé e, enquanto erguia o outro, chutou o pé da cadeira, soltando um uivo de raiva e dor. Garley não conseguiu se conter, soltando uma gargalhada, o que deixou seu pai um pouco constrangido. Gobe roncou alto e abriu rapidamente os olhos, meio assustado. As horas passaram rápido até o horário de ir à escola. Aquele foi um dia difícil, como todos os outros. Com tudo o que acontecera na tarde anterior, Garley se esquecera de estudar para a prova de matemática e tirou uma das piores notas de sua classe. E, mais uma vez, foi alvo do deboche de seus colegas. 14

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Terminadas as aulas, voltou apressadamente para casa. Então, depois de algum tempo caminhando, ao chutar uma pequena ­pedra, avistou um objeto que emitia uma fraca luz dourada no chão da calçada. Ele se aproximou do objeto com as sobrancelhas franzidas e o pegou com cautela, olhando por cima dos ombros para ver se ­havia alguém por perto. No entanto, a rua estava deserta. Apenas um ou dois gatos passeavam majestosamente. Sentindo-se mais ­seguro, ­Garley contemplou o objeto, boquiaberto: era um pequeno medalhão de ouro. O medalhão estava um pouco sujo. Havia alguns símbolos estranhos nele, além de inscrições em uma língua diferente. Guardou-o no bolso de suas calças jeans, abismado com a ideia de ter encontrado, pela primeira vez na vida, algo interessante e, talvez, valioso. Nesse dia, não precisou enfrentar Victor. Pelas más ações, ele e seus amigos haviam pego uma semana de suspensão das aulas. No entanto, Garley não tinha certeza absoluta de que não seria perseguido. Eles poderiam estar esperando-o em algum lugar, para atacá-lo de surpresa. Seguiu com cautela, mas, por fim, chegou a salvo em casa. Dirigiu-se rapidamente para a cozinha, onde todos estavam ­jantando. – Olá, Garley! Tudo bem? – perguntou Nancy, com ar de ­preocupada. – Estou bem – respondeu ele, sentando-se à mesa, tomado de euforia. – Achei uma coisa interessante na calçada! Seus pais se entreolharam, enquanto o avô Gobe comia tranquilamente, apenas lançando-lhe um sorrisinho e um aceno com a cabeça. Então, tirou do bolso dos jeans velhos o pequeno medalhão, limpou-o na pia da cozinha e voltou para a mesa, passando aos pais o objeto que agora cintilava. – Maravilhoso! – exclamou Nancy. – Será que é de ouro? – perguntou Robert, esperançoso, ­examinando-o em seus finos e trêmulos dedos. – Se isso não for ouro puro, então não sei o que é ouro... – ­exclamou Gobe, abrindo um grande e desdentado sorriso. 15

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– Deixe-me ver! – pediu Billy, avançando no medalhão e tirando-o das mãos de Garley. – Uau! – exclamou ele, boquiaberto. – É de verdade mesmo? – Sim, Billy. Agora, se não se importa, pode me devolver? – pediu Garley, com os dentes cerrados. – Espere um pouco... Onde é que você conseguiu isso? – Eu o achei, tá? – Será mesmo? Você é azarado demais para achar uma coisa assim! – disse Billy, observando os desenhos no medalhão. Depois de suspirar fundo, Garley arrancou-o das mãos do irmão, que mostrou a língua para ele. – Podemos vendê-lo, não? – perguntou Robert. – Deve valer um bom dinheiro. Garley observou o objeto novamente, limpando-o com sua blusa. –Tá bom, pode vender – concordou. – Eu não ligo.

Naquela noite, Garley passou um longo tempo pensando sobre o medalhão. Se fosse mesmo de ouro maciço, deveria valer uma pequena fortuna. Ele poderia ter uma vida melhor e não precisaria mais ir àquele horrível colégio. Caminhou até o banheiro e lavou o objeto novamente, enxugando-o com a toalha. O medalhão brilhava fortemente. Observou-o, incrédulo. Ele nunca havia visto ouro brilhar tanto assim. – O que é isso? – perguntou a si mesmo em voz alta, sentindo uma grande vontade de colocá-lo no pescoço. Voltou ao seu quarto e parou em frente a um grande espelho. Imaginou se o respeitariam mais se ele fosse ao colégio com o medalhão. Então, pensou em Victor roubando-o e decidiu que seria melhor mesmo dá-lo a seu pai para vendê-lo. Mesmo tomando tal decisão, pendurou-o no pescoço. E o medalhão começou a brilhar ainda mais. Havia algo errado! Olhou-se no espelho, pasmado, e tentou tirá-lo, mas já era tarde demais. 16

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Repentinamente, Garley foi envolvido por uma névoa branca. Sentiu seu corpo ficando muito leve e, logo em seguida, rodopiou na escuridão. Em uma fração de segundo, caiu suavemente em uma grama verde e macia e a luz ofuscante do Sol incidiu violentamente em seus olhos. Sentiu uma pequena vertigem, e, levantando-se, aturdido, contemplou uma maravilhosa paisagem: estava em uma praça.

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Capítulo 2

A ilha de ­Kansnubra

A praça era gigantesca. Havia muitos bancos de mármore branco e um vasto arvoredo às costas de Garley. No centro, um belo chafariz, onde a estátua de um mago segurava um cajado apontado para o céu ensolarado, soltando jorros de água. Pequenos prédios estranhos ladeavam o local. Eram bem diferentes dos que Garley conhecia: alguns tinham uma estrutura excêntrica, com janelas em losango, e outros eram feitos de mármore branco, como as construções da Grécia antiga que ele vira em livros. Estava incrédulo com o que via. Pensou estar sonhando. Mas era tão real... Com um forte beliscão em seu próprio braço, confirmou que não era um estranho sonho, mas uma estranha realidade. – Onde estou? – perguntou a si mesmo, com os olhos arregalados. Na praça, pessoas com roupas exóticas e extravagantes caminhavam, conversavam, e outras pareciam seguir para um dia normal de trabalho. Estaria louco? Como fora parar naquele país estranho? Caminhou pela praça sem saber o que fazer. Sentou-se em um banco vazio, de frente para uma imensa e tortuosa árvore, e tentou concentrar-se em entender o que poderia fazer naquela situação. Então, dirigiu-se a um homem que estava sentado em um banco próximo, pensando

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em fazer-lhe uma pergunta, com a quase certeza de que não teria uma resposta nem um pouco delicada. Isso, se a gente daquele lugar falasse sua língua. O homem estava lendo um jornal grande e esquisito. Trajava um casaco de pele vermelho com o pequeno desenho de um dragão. Tinha uma barba emaranhada e negra. Era robusto, usava um chapéu-coco verde-limão sobre seu cabelo ondulado e solto e fumava um pequeno cachimbo negro. – Hã... senhor, que lugar é este?– perguntou Garley em tom baixo. – Ora... Esta é a praça! – o homem respondeu rispidamente, com uma voz rasgada e soltando pequenas espirais de fumaça pela boca, causando-lhe náuseas. Em seguida, voltou-se novamente para seu jornal, com a cara fechada. Garley conseguiu ler a manchete do jornal em preto e branco. “Carolinda está sendo alvo de um golpe de estado?”. – Carolinda? – perguntou, tentando lembrar se já ouvira esse nome antes. – O que foi, moleque? – perguntou o homem, abaixando o jornal vagarosamente. – Vai ficar aqui me importunando? Garley recuou um pouco, enquanto o homem o encarava com o olhar sanguinário. – Desculpe-me, senhor. Mas sabe me dizer onde encontro alguém aqui que seja... uma autoridade? – insistiu, sentindo um assomo de medo e raiva: uma das coisas de que menos gostava era que lhe respondessem de forma grosseira. Isso o fazia lembrar Victor e seus amigos. –Tá bom! A autoridade mais acessível por aqui é Aldrich. Ele mora logo atrás daquelas árvores – explicou o homem, com a cara rígida, como se tivessem lhe perguntado se ele matara alguém. Apontou para um arvoredo que delimitava a praça do lado oposto aos prédios. – Agora, deixe-me ler a droga do jornal, ou juro que... – Obrigado, senhor – disse Garley rapidamente, afastando-se do estranho homem. Acatando a explicação, seguiu até o outro extremo da praça. ­Sentia algum receio do que poderia haver atrás daquelas grandes e 20

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tortuosas árvores. No entanto, se quisesse achar a resposta para tudo aquilo, teria que fazer o que fosse preciso. Criando coragem, passou por entre as árvores. Mal havia começado a caminhar e logo elas rarearam. Estava em um terreno grande e um pouco íngreme, onde havia uma pequena casa e, logo atrás dela, um grande lago. Apreensivo, foi em frente, com os gravetos e folhas secas estalando a cada passo. A casa tinha dois andares, uma chaminé que soltava fumaça e paredes de pedras vermelhas. Uma grande porta de bronze polido, com uma aldrava e uma maçaneta, indicava a entrada. As poucas janelas tinham a forma de losangos e estavam fechadas. Garley empurrou o pequeno portão, que estava entreaberto. Então, aproximou-se da porta e bateu três vezes com a pesada aldrava. Em alguns segundos, ela abriu-se, rangendo. Um homem alto e corpulento, de cabelo preto e ondulado, o atendeu. Usava um colete de couro marrom com calças largas e simples. Seus olhos eram castanhos-claros e exprimiam bondade. – Senhor Aldrich? – perguntou Garley. – Sim – respondeu o homem com uma voz solene. – Em que posso ajudá-lo? – Hã, o senhor é a autoridade por aqui, certo? – Sou, sim, meu rapaz, de certa forma – assentiu Aldrich, ­sorrindo. – Bom, meu nome é Garley – disse ele, pensando em relatar o que estava lhe acontecendo da melhor forma possível. – O senhor provavelmente não vai acreditar no que vou contar, mas preciso... – Se eu não vou acreditar, por que iria querer ouví-la? – Aldrich interrompeu, deixando-o sem saber o que dizer. – Sabe, isso também é uma longa história... – Está bem, vou ouvi-lo – disse o homem, convidando-o a entrar. Eles entraram em uma pequena sala de estar; não era luxuosa, mas era aconchegante, o que lhe fez lembrar ligeiramente de sua casa. Duas poltronas ladeavam um grande sofá em frente a uma ­pequena lareira. Havia dois machados e uma espada pendurados na parede em lilás. Um antigo lustre dourado pendia do teto, com velas apagadas. 21

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O piso era feito de pedra e, no canto direito, havia uma escada em caracol que levava ao segundo andar. – Sente-se enquanto vou buscar um chá para nós – disse Aldrich, indicando o sofá. Ao sentar, Garley observou três retratos que estavam em uma pequena mesa de madeira. Eram todos retratos de Aldrich. No ­primeiro, ainda criança, ele estava sorridente, e a seu lado havia um garoto muito parecido com ele, que deveria ser seu irmão. No segundo, já adulto, apoiado em uma bela mulher, que deveria ser sua esposa. No terceiro retrato ele estava com um belo terno, sorrindo entre dois homens. Um dos homens segurava uma excêntrica bengala, com uma pequena bola de cristal na ponta. Enquanto esperava, olhou ao seu redor. Havia uma cabeça de alce pregada na parede. Em uma grande estante, que estava um pouco escondida no canto da sala, minúsculos objetos metálicos, que pulavam tilintando levemente, chamaram sua atenção. Observou-os atentamente. Pareciam pequenos relógios com perninhas de metal pulando. Então, de repente, eles fizeram um grande barulho e os tímpanos de Garley doeram, fazendo-o saltar do sofá. Aldrich voltou apressado da cozinha com duas xícaras. Colocou-as rapidamente na mesa e correu até os pequenos instrumentos. Então, apertou um botão na estante e o barulho cessou. Havia ­quatro deles ali. – Desculpe-me, Garley. Eles estão totalmente desregulados por um pequeno engano que cometi. Era para despertarem às 6h30 da manhã. – Essas coisas são despertadores? – Claro que são – respondeu ele, quase que impressionado. – Não me diga que nunca viu um desses? Bom, para dizer a verdade, eu também não sabia de sua existência até o ano retrasado, quando meu primo Johnny me deu aqueles ali após eu ter perdido uma reunião de manhã. Garley não conseguia compreender como tinha vindo parar naquela cidade de relógios saltadores e prédios com janelas em losango. Mas não podia pensar muito; precisava sair de lá o mais rápido possível. Aldrich o convidou a se sentar novamente. – Então, o que o traz aqui, meu jovem? 22

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– Bem, eu não sei ao certo por onde começar – disse, enfiando as mãos no bolso à procura do mesmo objeto que, desconfiava agora, era o responsável por ele estar ali. – Tudo começou quando encontrei isto. O senhor vai me achar um louco. Mas... Garley mostrou-lhe o pequeno medalhão. No mesmo instante, Aldrich soltou um pequeno grito e observou-o, boquiaberto. – Olhe, imagino que seja por causa dele que estou aqui! Digo, neste lugar. Então, Garley contou-lhe tudo o que havia acontecido a partir do momento que encontrara o medalhão até aquele instante. Quando terminou, Aldrich estava pálido e pasmo. – O senhor deve estar realmente achando que sou doido, né? – perguntou. – Talvez eu esteja mesmo... – Você encontrou o medalhão encantado! – gaguejou Aldrich, contemplando-o em suas grandes mãos, com o medo visivelmente nítido em seu rosto. – Encontrei o medalhão o quê? – Encantado! – respondeu Aldrich com a voz rouca, pigarreando. – Esta será uma longa história... Espere aqui. Vou preparar algumas torradas para nós. Enquanto Aldrich retornava para a cozinha, Garley, ansioso, observou as chamas dançando e crepitando na lareira, tentando imaginar por que Aldrich ficara tão assustado. O que tinha de tão especial naquele medalhão? Passados alguns minutos, ele retornou com algumas torradas, geleia e mais duas xícaras de chá. Tornou a sentar-se ao lado de Garley, servindo-se. – Bem, por onde eu começo? – perguntou para si mesmo, depois de se recuperar um pouco do susto, mas ainda um pouco pálido. – Esta é a ilha de Kansnubra, uma ilha encantada, por assim dizer, ­secreta e inacessível para as pessoas que vivem fora dela. – Ilha secreta? – perguntou Garley, sorrindo e erguendo as sobrancelhas. – Hã... sim – assentiu Aldrich. – As pessoas que não habitam aqui não conseguem vê-la, muito menos adentrá-la. Nós, os habitantes, 23

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­estamos presos nela. No entanto, houve um tempo em que podíamos sair e entrar novamente. – Você quer dizer que ninguém pode sair e muito menos entrar neste lugar? – perguntou Garley, confuso. – Então, como foi que consegui chegar até aqui? – O único modo de entrar é usando o medalhão encantado – ­continuou ele, com um olhar soturrno. – São dois, no total. E você encontrou um deles, garoto. Os medalhões e o portal estavam guardados no palácio. Juntos, eles eram capazes de teletransportar pessoas s­elecionadas e designadas conforme suas habilidades para cumprir missões externas. Como pode imaginar, são artefatos muito­valiosos e vários ladrões tentavam roubá-los. Por mais que os ­escondêssemos, sempre conseguiam rastreá-los. Então,protegê-los tornou-se seriamente difícil. – Como assim, rastreá-los? – indagou Garley. – Os dois medalhões, juntos, emitem uma poderosa vibração mágica. Por esse motivo, com alguns instrumentos avançados, é possível rastreá-los, meu rapaz – explicou Aldrich. – Depois que um mago chamado Kentrenvisk tentou roubá-los, decidiram que seria mais fácil manter a vigilância se houvesse apenas um deles em nossa ilha. Então, fui voluntário para escondê-lo fora de Kansnubra. – Senhor Aldrich, quando encontrei o medalhão, ele não estava nem um pouco escondido. Na verdade, estava mais perdido no meio da ­calçada! – Eu sei. Cometi um grande erro. Falhei na minha missão – disse ele, coçando a cabeça. – Eu o perdi antes mesmo que pudesse escondê-lo! Garley se lembrou da imagem do medalhão caído na calçada, todo sujo. – E qual é o real poder dos medalhões? – perguntou Garley, que mantinha toda a sua atenção na conversa, esquecendo-se completamente das torradas e do chá. – Ninguém conhece realmente até onde vai o poder deles. Mas sabemos que podem nos teletransportar– disse Aldrich, desviando o olhar para seus próprios sapatos. – Tudo bem. Sem problemas, senhor Aldrich. Então, eu não estou preso aqui. Tenho o medalhão. – Garley o exibiu, com um sorriso torto. 24

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– Você está preso, sim, Garley – respondeu Aldrich com a voz rouca, mantendo o olhar baixo. – Como? – Você está preso aqui, sim. Como todos nós – respondeu o homem, olhando-o como se estivesse com pena dele. – Não há como sair desta ilha. Para sair, precisaríamos do portal. Sem ele, o medalhão é insignificante, pois traz a pessoa para cá, mas não pode tirá-la daqui. Garley sentiu as entranhas se contraírem e a cabeça girar. Não podia acreditar no que acabara de ouvir. Será que nunca mais poderia rever sua família? Mesmo tendo uma vida aborrecida, sua família era tudo o que possuía e ele a amava. – E onde está o portal? – perguntou Garley, disfarçando a fúria que se espalhava por seu interior. – Podemos chegar até ele e assim eu poderei voltar para casa. – Bem... está nas profundezas da floresta. – Está na... floresta? Então, vamos para lá! – disse ele, resoluto. Faria qualquer coisa para rever sua família. – Isso pode não ser tão fácil quanto você imagina... – Por quê? – Garley não entendia qual era a grande dificuldade em entrar numa floresta para achar um portal mágico. Por que é que ninguém havia feito isso ainda? – Como, por quê? Não seja tolo, garoto! Existem criaturas monstruosas na mata. Além disso, é extremamente vasta e não sabemos o lugar exato da localização do portal. – Espere um pouco! O senhor me disse que o portal estava guardado no palácio! – Sim, estava guardado no palácio de Carolinda. Contudo, um de seus guardiões, um mago muito poderoso... – Outro mago? – interrompeu-o Garley, franzindo a testa. – Sim. Existem muitos magos nesta ilha – respondeu Aldrich, esvaziando a xícara de chá de um só gole, lembrando Garley de tomar o seu também. – Zallezeres, um mago excepcionalmente inteligente, usava o portal para trazer a tecnologia do mundo lá fora para cá. No entanto, foi ambicioso, acabou se aproveitando demais de suas vantagen­s e, por fim, tornou-se o mago mais temido de toda a ilha. 25

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– Zallezeres... – murmurou Garley. – Zallezeres e Anarakman eram os principais guardiões do portal e dos medalhões. As tentativas de proteger os medalhões contra ladrões de nada adiantaram. O grande traidor Zallezeres conseguiu roubar ele próprio o portal, condenando-nos a ficar totalmente ­isolados e... – E então ele o levou para a floresta – disse Garley, tentando assimilar tudo. – Mas por que protegeram tanto os medalhões e não tentaram proteger o portal também? Aldrich suspirou fundo, colocando sua xícara em cima da pequena mesa ao lado do sofá. Garley fez o mesmo. – Não nos preocupamos com isso porque não era possível m ­ over o portal, muito menos roubá-lo. Pelo menos, até o que sabíamos. ­Ninguém entende como Zallezeres conseguiu levá-lo para a floresta. É um grande mistério. Então, era para lá mesmo que ele precisaria ir. Para a floresta. Uma onda de coragem percorreu seu corpo. – Vou para a floresta – disse resolutamente. – O senhor vai me ajudar? – Preste atenção, garoto: você morrerá lá! Como eu disse, existem criaturas inimagináveis na mata, além de ninguém saber onde o portal está. – Não importa quanto perigo eu corra! Quero voltar para casa! – disse Garley, sentindo uma grande fúria. – Vou pedir ajuda ao governo desta ilha. O senhor já me ajudou o suficiente. Não vou mais incomodá-lo. Muito obrigado! Então, Garley levantou rapidamente e caminhou pesadamente até a porta, sem a menor ideia de como fazer tudo aquilo que estava dizendo. – Não! Espere! – gritou Aldrich repentinamente, com o medo claramente estampado em sua voz. – Ainda posso ajudá-lo. Se você quiser, pode até dormir aqui, pois, pelo jeito, não tem onde ficar... Mas não vá até o palácio. Eles não podem saber que você encontrou o medalhão, senão, eu serei horrivelmente punido – disse, praticamente implorando. Como já estava quase anoitecendo e Garley não tinha nenhum outro lugar para pernoitar, achou melhor aceitar o convite. 26

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– Está bem, senhor Aldrich. Eu aceito sua ajuda e agradeço. – Obrigado, Garley! Você é um bom garoto. Farei o que puder para ajudá-lo – disse Aldrich. – Mas só digo uma coisa: não será nem um pouco fácil. Ah, e esqueça o “senhor”; pode me chamar apenas de Aldrich. Passaram boa parte da noite conversando e rindo. Mesmo sabendo que estava lá por causa da falha absurda que Aldrich cometera em sua missão com os medalhões, Garley não conseguia sentir raiva dele. Era um sujeito engraçado e uma boa companhia. Além disso, era alguém em quem ele poderia confiar, pois, por seus próprios interesses, faria o que fosse preciso para ajudá-lo. Aldrich mostrou vários de seus porta-retratos, um mais estranho que o outro, e apresentou a Garley uma enorme coleção de marionetes, o que deixou o garoto um pouco entediado. Depois, o homem o acompanhou até o andar superior para mostrar-lhe o quarto de hóspedes onde ficaria. O quarto era modesto: havia uma cama de solteiro com as pernas tortas e um grande travesseiro que lembrava uma pequena nuvem. A seu lado, um banco sustentava um estranho abajur na forma de um crânio pintado de laranja, de cuja boca escancarada saía uma lâmpada. No canto direito, havia um pequeno guarda-roupa de madeira­ escura ao lado de uma grande janela redonda. O chão era de ­madeira clara, que rangia a cada passo, como se fosse partir. Aparentemente, ninguém ocupava aquele quarto havia anos. O lugar cheirava levemente mofo e algumas teias de aranha se estendiam do teto às paredes. Garley demorou a dormir naquela noite, por causa dos pensamentos que inundavam sua mente naquele lugar totalmente esquisito. Ouvia em sua cabeça a voz de seus pais, apavorados por seu súbito e inexplicável desaparecimento. Tudo estava tão estranho... Por que tivera que encontrar aquele medalhão? Por outro lado, aquela podia ser, de alguma maneira, a grande oportunidade de mudar sua vida e a de sua família para sempre­. ­Afinal, estava em uma ilha mágica. Mas precisaria encarar um grande­ desafio. 27

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