Alma despida

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CLÁUDIA FERREIRA

Alma Despida talentos da literatura brasileira

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Copyright © 2014 by Cláudia Ferreira

Coordenação Editorial Letícia Teófilo Preparação Patrícia Murari Diagramação Project Nine Capa Novo Século Revisão Mônica Vieira/Project Nine

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ferreira, Cláudia Alma Despida / Cláudia Ferreira. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- (Talentos da literatura brasileira) 1. Crônicas brasileiras 2. Poesia brasileira I. Título. II. Série. CDD-869.93

14-00902 -869.91 Índices para catálogo sistemático: 1. Crônicas : Literatura brasileira 869.93 2. Poesia : Literatura brasileira 869.91

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA - Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar Bloco A - Conjunto 1111 CEP 06455-000 - Alphaville Industrial - SP Tel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Agradecimentos Obrigada a cada alma que até mim chegou com sua dor e seu riso sem economizar palavra e qualquer sentimento; obrigada a todos que entregaram a mim suas histórias, como Luciene Balbino, Andréia Desiró, Kelly Zucateli, que me ajudaram a concatenar as ideias e os ideais; por derradeiro, meu agradecimento ao Dr. Eduardo Cesar de Oliveira Fernandes, meu mestre. Obrigada Caio e Clara de Ferreira de Castro, meus filhos, pela paciência e compreensão, por serem seres tão singelos e companheiros; pelos extensos momentos que estive envolvida com textos e guardei a maternidade na caixinha; por todos os momentos que deles exigi uma caneta e um papel, na insana vontade de aproveitar o momento de inspiração que me capturava cada dia mais.

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Despir-se Ao estampar no papel a alma que grita aqui dentro, coloco um tanto de minha vida e meus sentimentos pra aliviar o peso da bagagem, a escuridão do fosso, a quentura do sol, a decoração das flores em pleno outono, como se a primavera fosse previsível. Nesta obra, falo da minha vida e da sua, caro leitor. Tudo sem ao menos parar em seus olhos e identificar o rubor de sua retina; sem ao menos participar de sua dor ou ouvir sua voz rouca do outro lado da linha. Não participei, ao vivo, de sua vida, mas estou ali atrás da cortina participando de cada momento seu. Estou presente e fotografo pra lhe mostrar como está indo bem. Falo das nossas questões mais doídas, aquelas menos suportáveis. Há dores que a gente acostuma com elas, tornando-se parte vital de nossos dias. Talvez, uma vaidade aguçada, trancada aqui a sete chaves, aflora num momento de rejeição que não é rejeição; numa situação de abandono que não é abandono e sim, um simples parênteses. Descrevo aqui nossas fantasias e a ardência de nossa pele que, ao toque, se mostra aceita e viva sem pestanejar. Sem assombrar o desejo incesto que nas entrelinhas faz morada. Não posso lhe dizer que faço poesia, poemas ou qualquer outro gênero literário. Falo de nós num mesclar de poesia, filosofia, fotografia, pornografia, ritmia. Descrevo situações minhas e suas. Tão corriqueiras e tão triviais quanto a separação, o divórcio, a conclusão, 7

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o reinício. Mas que quando estão em atividade, vem de forma devastadora romper com sentidos tão esquecidos encalacrados nos recônditos de nossa alma. Rochas descobertas agora, aos quarenta, cinquenta anos. E, quando são descobertas, necessitam ser retiradas, exterminadas, liquidadas. Daí a cirurgia. Esse processo não é fácil, ao contrário disso, mesmo quando descobrimos que precisamos nos livrar daquele peso, daquelas bordas pontiagudas, sofremos porque nos apegamos ao que faz parte de nós. São partes integrantes do nosso ser. Essa cirurgia demanda de muitas etapas e nos caem muitas lágrimas. É um processo que terá o tempo que dermos a ele. Mas depois da restauração, logo no seu início, o sorriso começa a dar força à continuidade do tratamento e a cada dia a evolução é melhor e mais rápida. Parece que toda força daquela rocha localizada, é expandida! Explode e alimenta as células, nossos órgãos vitais. Renasce ali um novo ser! Cheio de vida. Falo de senhoras que a vida inteira entregaram suas vidas aos maridos e filhos e que, aos setenta anos, se separaram; falo de pessoas com setenta anos, mas que têm a vivacidade e animação de vinte, e vice-versa; de outras que não tiveram a oportunidade ou a coragem de decidir seu caminho e depois tentaram retomá-lo com louvor. Falo das coisas que nos acontecem, do amor, da família, amigos, e dos nossos momentos. E de tudo um pouco, conferindo sempre aos nossos momentos a luz que aparece na fresta da janela e que, de repente, toma conta do quarto inteiro. 8

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Por isso, exponho tudo na primeira pessoa. Assumo a cena e sentimentos. Falo de todos como se fosse eu aquela mãe sofrida, cujo amor insano tomou conta e de tão irracional a deixou sem chão. Observo o quarto ao lado e através dele crio um roteiro. Este livro serve de manual pra nossos momentos mais esplêndidos, seja no riso ou no choro, estaremos sempre a postos pra viver um grande e inusitado amor! Estamos aqui pra isso. Vem viajar comigo e daqui extrair o que a vida nos dá.

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Revelando as sombras das palavras

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A poesia O poeta inventa paixões e as dores por elas trazidas. Da dor vem uma poesia, um drama, uma música sertaneja... E todo o mundo curte aquele sofrimento infinito... Se joga no copo de uísque e finge ser Maysa... De Maysa eu só quero os olhos e o delineador.

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Visita Nessa noite alguém de alma, Corpo e ritmo veio me visitar. Foi trazido pela ventania fria Uma magia de dá gosto Vestida de rosa com o corpo solto e sedento Morangos maduros ao tempo, eu esperei. Eu no relento e você dentro de mim Seu corpo nas minhas mãos. Nessa noite, tempestades fortes o trouxeram a mim E de mim, partiu, horas depois E solenemente se foi!

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Lembran as Ela é tão bonita quanto sua dona Tem jeito de menina Se veste de lilás como bailarina Nas pontas dos pés delira! Ela é tão bonita! Quanto ao seu dono Seu santo protetor É pequena e espera o cobertor É suave e espera as mãos dele Leves, intensas Que vira às avessas Como um olhar que passeia discreto, Vai e volta de um canto pro meio Circula, incendeia, gira Como líquido inflamável Jogado no corpo inteiro. Ele é tão bonito! Como seu dono é lindo! E eu busco seu rosto na foto No porta-retratos em branco e preto.

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Don Juan Ele tinha 41 anos e hoje bem mais que isso Mas sua longevidade é aparente Aparentemente farta e sua! Só sua E antes disso (quem sabe), um antigo homem! Um novo nome, sobrenome! Um rosto de implícito mistério Mulheres, suas mulheres e todas elas! A história é a mesma e só uma O que muda é a personagem A dois, a três, a quatro feito procissão Segue o trecho caminhando... Em segundos, outra mulher se ajeitando Todas se ajudando... São gueixas de cabelos presos, batons fortes, brilhos e flores Madonas, Monalisas Marias, Sofias, cinta-liga! Perfume e um cheiro só seu Seu toque cerra os olhos É só sedução, desejo, paixão, desassossego Um homem e tudo isso Uma taça solitária no fundo Que queria champagne pra banhar o mundo E aqui fico em ar fecundo Esperando o dia nascer Me aguarde. Vou voltar. 14

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Meus passos O mundo me abre mil portas, mas Por apenas uma quero passar. Me coloca um vasto mundo de oportunidades Mas é pelo caminho mais simples e belo Que quero trilhar... o mais difícil e complicado talvez Seja esse... Será esse o motivo do meu sentir atônito? Será? Seleciona, amedronta, traz e volta Uma anedota Me chama e me mostra Sinaliza novos horizontes Mas somente de um lado quero enxergar Esse amor grita alto demais Sufoca minhas tardes Me faz suspirar minhas noites E cintila meus olhos de sombra verde Me faz outra menina de uma forma diferente Aí eu respiro fundo com ar de inocente A tranquilidade toma conta de mim É você... só você me faz bem assim.

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