Amores Imperfeitos.

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Rômulo França Pinto

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TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2 017

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Amores imperfeitos

Copyright © 2017 by Rômulo França Pinto Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda.

aquisições

Cleber Vasconcelos

preparação e revisão

Equipe Novo Século capa

Dimitry Uziel

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) França Pinto, Rômulo Amores imperfeitos / Rômulo França Pinto. ­‑ Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (coleção talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira 2. Literatura erótica I. Título. 17­‑1349

cdd­‑869.3

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção: Literatura brasileira 869.3

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455­‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699­‑7107 | Fax: (11) 3699­‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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dedicatória

Aos meus filhos Francisco e a sua Naiara; José Cloves e a sua Débora; e Nicolle e o seu André, por‑ que sempre pensam que sou capaz. Aos meus netos Gabriel, Ana Victória, Jose‑ ph e Isabella que vieram ao mundo somente para enfeitá­‑lo e fazê­‑lo melhor. Às mulheres com quem tive o privilégio e a ale‑ gria de viver vida conjugal, e me ensinaram o que é o amor, e deixaram seus nomes tatuados em meu corpo, mente e coração. Aos que gostam de mim e apreciam minha amizade.

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NOTA DO AUTOR

Este livro é uma invenção. As pessoas mencio‑ nadas também são inventadas. Excluídas a sopra‑ no russa Anna Netrebko e o compositor brasilei‑ ro Erasmo Carlos. E os escritores italianos Dante Alighieri, Nicolau Maquiavel, e o francês Antoine de Saint­‑Exupéry. E também os compositores ita‑ liano Giacomo Puccini, e o francês Jules Massenet e outras personalidades públicas mencionadas; todas as demais personagens e fatos narrados são frutos da mais pura imaginação. Trata-se um trabalho de ficção. Qualquer se‑ melhança com pessoas vivas ou mortas, ou fatos narrados é mera coincidência.

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sumário PRÓLOGO pérola e ônix, o começo 11 CAPÍTULO 1 âmbar, o marido 19 CAPÍTULO 2 PÉROLA, O PRIMEIRO EMPREGO 24 CAPÍTULO 3 PÉROLA, A MUDANÇA DE ESTILO 34 CAPÍTULO 4 ÔNIX, A SEGUNDA VIAGEM 38 CAPÍTULO 5 ESMERALDA, A CHEGADA 41 CAPÍTULO 6 ÔNIX, O REGRESSO 43 CAPÍTULO 7 ESMERALDA, A DESCOBERTA 50 CAPÍTULO 8 PÉROLA, ÂmBAR E ÔNIX, O ENCONTRO 52 CAPÍTULO 9 ESMERALDA, O NERVOSISMO 56 CAPÍTULO 10 PÉROLA E ÔNIX, A PISCINA 59 CAPÍTULO 11 PÉROLA E ÔNIX, O DIA SEGUINTE 65 CAPÍTULO 12 ÔNIX E ÂMBAR, O PRIMEIRO ENCONTRO 67 CAPÍTULO 13 ônix e a ópera de puccini 73 CAPÍTULO 14 ônix, a cantina italiana 75 CAPÍTULO 15 ônix, a primeira viagem 77 CAPÍTULO 16 ô n i x e o p a l a , o e n c o n t r o 7 9

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CAPÍTULO 17 ônix e pérola, a convivência 85 CAPÍTULO 18 axinite, a dor de vidro quebrado 97 CAPÍTULO 19 axinite, a mudança de atitude 105 CAPÍTULO 20 ônix e pérola, a confissão e o juramento 115 CAPÍTULO 21 pérola e ônix, os novos tempos 120 CAPÍTULO 22 pérola e âmbar, a nova vida 123 CAPÍTULO 23 ô n i x e a x i n i t e , a n o v a v i d a 1 3 0 CAPÍTULO 24 pérola e ônix, a experiência 133 CAPÍTULO 25 âmbar e pérola, o tratamento 140 CAPÍTULO 26 pérola e ônix, o medo 153 CAPÍTULO 27 axinite e pérola, o encontro 160 CAPÍTULO 28 pérola e ônix, a profecia 168 CAPÍTULO 29 axinite e ônix, a profecia 175 CAPÍTULO 30 pérola e ônix, o planejamento 180 CAPÍTULO 31 ônix e pérola, nova experiência 184 CAPÍTULO 32 axinite e âmbar, o encontro 188 CAPÍTULO 33 pérola, ãmbar, axinite e ônix, os quatro 199 EPÍLOGO 202 Agradecimentos / Aplausos 206

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“Se você se situar, se identificar, ou se encontrar nesse livro com alguém. Se se sentir em algumas situações nele descritas, ou se vir em qualquer de suas páginas, seja em pensamentos, palavras, atos ou vontade, não se questione. É sinal de que você existe, de que tem coração, que respira e que se emociona. É a certeza de que você é gente, e é justa‑ mente pra você que ele foi escrito.” Pérola de Lausanne Pigalli “Em qualquer perda sempre há um ganho oculto. Basta esperar, que o tempo mostrará a vitória.” Ônix de Porto Paris

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PRÓLOGO perola e ônix, o começo

Isto não deveria estar acontecendo. Eu sei que este beijo poderia ocorrer a qualquer momento. Admito que o dese‑ java, mas preferia acreditar que ele jamais aconteceria. E o mais complicado é ter que admitir que estou gostando. Gosto tanto a ponto de querer que ele nunca termine. Eu sa‑ bia que este beijo não deveria acontecer porque, afinal, sou uma mulher casada. É certo que já não há mais, entre mim e meu marido, a confiança, a intimidade e a aproximação que devem existir entre marido e mulher. Mas eu ainda sou uma mulher casada. Essa é a verdade irrefutável. Contudo, o bei‑ jo proibido está acontecendo, e eu estou desejando que ele não tenha fim. O pecado maior é eu querer mais. Eu quero muito mais do que este beijo. Eu quero esse homem com‑ pletamente para mim. Dentro de mim. Seu beijo é quente e profundo, como eu nunca antes experimentei. É intenso, apaixonado e apaixonante. Domina minha mente, minha vontade, minha língua, e me faz sentir o gosto de sua carne no céu da minha boca. Sinto seu hálito invadindo minhas narinas e a sua saliva entrando pela minha boca. Não há re‑ sistência da qual eu possa me valer. Estou dominada. Desejo esse corpo dentro do meu, com sua carne, seus nervos, seus 11

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músculos e seus fluidos. Quero que esse homem se aposse de mim sem pedir licença, e me invada por todas as vias fí‑ sicas do meu corpo. Agora, depois de um tempo que me parece alguns poucos segundos, ele afasta seus lábios dos meus e fixa seu olhar nos meus olhos tão profundamente que parece querer explorar o interior do meu corpo e da minha alma. Não foram poucas as vezes em que ele me lançou olhares que pareciam atravessar minha roupa e minha pele, causando­‑me a sensação de estar completamente nua diante dele, agitando minhas entranhas e desorganizando completamente tudo em mim. A despeito de seus incontáveis olhares furtivos, esta é a primeira vez que Ônix não resiste à minha presença e voa para cima de mim, como a querer me devorar inteira. Enquanto me mantém re‑ fém do seu olhar, ele traz suas mãos até meus seios e os afaga docemente sobre o vestido. Introduz a mão no decote, encon‑ trando meus seios nus, já que estou sem sutiã nesta manhã. Ele sustenta em sua mão a minha nudez, então engancha o dedo indicador da outra mão no elástico do decote, puxando­ ‑o contra si, e baixa seus olhos para olhar meus peitos, de‑ sesperadamente arfantes. Move sua mão para o vale entre os dois seios, medindo as pulsações do meu coração, que quer sair pela boca. Avalia tudo a seu gosto, enquanto eu, estática e com respiração descompassada, espero. Sei que não devo esperar. Mas espero. Ônix gira meu corpo, abraçando­‑me por trás, e mete as duas mãos nos meus peitos, comprimindo­‑os sem força, enquanto lambe minha nuca, minhas orelhas e meu pescoço. Seu pênis, duro, pressiona meu bumbum com força, para que eu sinta a sua potência. Rejubilo­‑me por estar vestindo uma nova e bonita calcinha de renda, para o caso de ele tirar o meu vestido e me desnudar de vez.

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Enquanto ouço sua respiração ressoar dentro do meu cérebro, ele, sem pressa, puxa para baixo o meu vestido, até descobrir completamente meus seios, expondo minha se‑ minudez de acordo com seus caprichos. Fica a me bolinar com sua língua quente e, com sua respiração ainda mais quente, chega à minha nuca, sem se importar comigo, que já não mais suporto esperar para que ele entre dentro de mim. Eu o quero dentro de mim, agora e sem demora. Mas parece que não é esse seu plano imediato. Ele me quer sua escrava, subjugada, implorando para que ele satisfaça logo esse meu louco desejo. Eu já não penso escrupulosamen‑ te que sou uma mulher casada. Eu já não me importo com mais nada… só quero esse homem dentro de mim. Ele puxa mais para baixo o meu vestido e volta a encarar meus afli‑ tos peitos. Meus mamilos, eriçados, olham para ele supli‑ cando. Ele mete a boca e lambe demoradamente cada um dos entumescidos bicos, sugando­‑os com apetite, enquanto eu, gemendo, continuo a respirar descompassadamente. Quero que ele termine de tirar minhas roupas e me pos‑ sua inteira, saciando finalmente a minha fome. Quero que ele descarregue dentro de mim toda a sua força e vontade, evidentes pela solidez de sua excitação, que, de dentro da calça, força minhas coxas. Ele desce sua mão e suspende minha saia, segurando minha coxa sem se afastar de meus seios, que pulsam em sua boca. Sobe sua mão até minha calcinha e afaga suavemente meu sexo. Penso que chegou a hora pela qual tanto anseio e me preparo para recebê­‑lo em mim. Mas ele ainda me quer implorando pela penetração. Então, enfia a mão dentro da minha calcinha e busca meu clitóris, manipulando­‑o com a experiência de quem sabe o que faz. Leva a mão até o nariz e aspira meu cheiro. Toca os dedos com a língua, sentindo o meu gosto. Deixa meus 13

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seios e volta para minha boca, num beijo quente e sufocan‑ te. Lambe meu pescoço e o mordisca, sem deixar marcas. Beija meus ombros. Volta aos seios, cheirando e lambendo cada parte de mim. Ônix desce cheirando meu corpo sobre o vestido até ajoelhar­‑se diante de mim. Cheira e beija meu sexo, ainda protegido pela calcinha. Lambe minhas coxas e meus joe‑ lhos. Continua a descer, sempre me cheirando. Ele quer sentir meu cheiro de fêmea. Ele me cheira. Cheira como um animal tentando descobrir onde se esconde a caça. E cheira mais. Sinto medo. Medo de quê? Não sei… isso nunca acon‑ teceu comigo. Por que me cheira tanto? E se ele não gostar quando encontrar o cheiro que busca? Ele quer sentir o chei‑ ro natural, que não se perde com o uso de perfume: o cheiro da fêmea. E se o meu cheiro não for do gosto dele? Ele cheira e lambe minhas pernas. Chega aos meus pés. Estaca. O ma‑ cho achou o que queria. Encontrou o que buscava. Está ali, nos meus pés. O ruído de seu olfato acalma­‑se. Lambe, sen‑ tindo vagarosamente o gosto. Aspira profunda e demora‑ damente. Esparrama­‑se no tapete e mete um dos meus pés em sua boca, chupando meus dedos como um filhote chupa a teta da mãe. Eu me apoio na mesa para não cair, deixando que ele faça o que quer, sem me importar com mais nada. Ele suspira e volta a subir por mim, agora com menos ansie‑ dade, umedecendo minha pele com sua saliva, já quase seca. Sua língua chega ao meu centro de desejo, completamente molhado, ardendo e pulsando, na espera de ser invadido. Num só puxão, Ônix arranca minha calcinha, rasgando­ ‑a. Sua língua toca meu clitóris vigorosamente, e eu gemo, trêmula, próxima de um orgasmo. Ele continua explorando meu sexo com sua língua e me faz sair de meu corpo. Enfia dois dedos dentro de mim, em movimentos cadenciados, 14

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proporcionando­‑me um orgasmo doido, que me arranca um gemido surdo e profundo, num gozo que afrouxa meus nervos e músculos. Sem tirar os dedos de dentro de mim, volta a beijar longamente minha boca, girando sua língua em torno da minha, dizendo para eu experimentar o meu próprio gosto. Ele tira os dedos de dentro de mim, afasta seus lábios dos meus e coloca os dedos em minha boca, para depois os levar para sua. – Agora você conhece o seu gosto – disse. Ficamos abraçados por alguns minutos. Esse homem merece um prêmio, penso. Nenhum outro ho‑ mem antes tinha me levado àquele mundo de loucura erótica. Escorrego minha mão pelo seu corpo até chegar ao zí‑ per de sua calça, abrindo­‑o totalmente. Meto a mão dentro de sua cueca e seguro sua ereção quente e latejante. Ajoelho­ ‑me em sua frente, desprendo seu cinto, puxo sua calça para baixo, trazendo junto à cueca, e exponho aquele pênis duro, que me encara sem medo. Como ele fez comigo, agarro o seu cabedal e avalio… Sinto que é de boa qualidade. Toco suavemente minha língua molhada na glande, misturando minha saliva com seu líquido seminal lubrificante. Provo o gosto. É bom. Olho em seus olhos, como a pedir permissão para o que desejo fazer. Seu olhar diz “eu quero”. Com os lábios umedecidos e contraídos, envolvo toda a cabeça, sen‑ tindo suas curvas. Seguro seu pênis com mão firme, para não permitir que ele o enfie todo em minha boca antes que eu queira. Giro minha língua ao redor da glande, quente e vibrante. Fico ali, sem pressa, movimentando minha lín‑ gua em torno daquela cabeça, que pulsa dentro de minha boca, esperando seu gemido implorar para que eu termine o que havia começado. Seu gemido vem junto com um pro‑ fundo suspiro e com a súplica: “por favor”. Então abocanho 15

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seu membro, iniciando o vaivém, apertando com os lábios aquele órgão duro. Aumento a velocidade e a pressão quan‑ do percebo que chegou o momento. Ele explode num orgas‑ mo alucinado, com um gemido alto e inapropriado para um ambiente de trabalho. Por sorte, todos os outros funcionários estão em horário de almoço, e a porta principal está fechada para o público. Vol‑ to a ficar de pé, encarando­‑o de frente, e olho fundo em seus olhos, sem nada dizer. Beijo sua boca, enquanto digo “conhe‑ ça o seu gosto”, girando minha língua em torno da sua. Deixo nela os restos da seiva dele, que eu ainda guardava em minha boca exatamente para devolver a ele a sua semente. Ele torna a me beijar com paixão e afasta­‑se em silêncio. Nenhum de nós fala. Silêncio total. Acho que nós dois compreendemos que quaisquer palavras seriam desnecessárias para tradu‑ zir aquele momento. Os olhos falam tudo o que a boca não consegue dizer. Ele para na porta do banheiro, volta­‑se para mim e convida­‑me a acompanhá­‑lo. Saio do meu estado de êxtase e vou com ele. Diante do grande espelho, arrumo mi‑ nhas roupas e as dele. Retoco meus cabelos, minha maquia‑ gem e dou uma alisada em seus cabelos. Ajeito sua gravata e, enfim, saímos para almoçar. Já na porta, lembro­‑me de minha calcinha. Volto e a apanho do tapete. Ela está comple‑ tamente inutilizável. Coloco­‑a na bolsa e então nós dois final‑ mente deixamos o gabinete de Ônix, na Porto Paris. x0x Ao passar pela recepção, verifiquei que havia uma men‑ sagem na secretária eletrônica da central telefônica. Era do meu marido, pedindo que eu lhe telefonasse. Tentei adivi‑ nhar o motivo daquela chamada, justo na hora em que eu es‑ tava com Ônix. Não era normal meu marido telefonar para o meu trabalho, por isso eu já havia planejado uma resposta 16

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para o caso de isso acontecer e ele me perguntar por que não atendi sua ligação. Diria que estava numa visita a um cliente, cujo escritório ficava no mesmo edifício do meu trabalho, ou inventaria qualquer outra dessas explicações sem pé nem cabeça, mas que são convincentes. Retornei a ligação com uma explicação na ponta da língua, mantendo o canal de voz aberto, para que Ônix também ouvisse a con‑ versa. Meu marido queria que eu almoçasse com ele e estava esperando minha resposta, porque queria combinar a festa de aniversário de nossa filha, Ágata. Ônix fez um gesto para eu tapar o fone e disse o nome do restaurante onde ele iria almoçar, porque também queria participar desse almoço. Respondi ao meu marido com a voz mais alegre que conse‑ gui fingir naquele momento, o que não foi difícil, já que, há poucos minutos, eu tinha acabado de ter um belo orgasmo. Eu disse para ele vir me buscar no escritório, onde eu esta‑ ria à sua espera. Ônix fez um sinal de aprovação com o dedo polegar direito. Desliguei o telefone e o encarei. Ele falou que iria na frente e que eu deveria sugerir para o meu mari‑ do o nome do restaurante em que ele estaria. Como éramos conhecidos na região, e todos sabiam que eu integrava a equipe da empresa de Ônix, seria fácil e compreensível que nós três nos encontrássemos por puro acaso. Se por ventura meu marido insistisse em ir a outro lugar, eu deveria telefo‑ nar para o restaurante em que Ônix estava, perguntar se ele lá se encontrava – como se eu já não soubesse que ele esta‑ va lá – e pedir que alguém lhe informasse aonde eu estaria e que possivelmente eu demoraria para voltar do almoço. Esse seria o código para que Ônix casualmente chegasse ao restaurante escolhido por Âmbar, meu marido. Entre mim e Âmbar já não havia muita necessidade de satisfações sobre atos individuais, porque nosso casamento 17

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andava mal e nossas conversas, além de escassas, já não tratavam de assuntos que abordassem sentimentos corri‑ queiros que ligam o marido à sua mulher e vice­‑versa. Tal‑ vez por saber desse distanciamento, Ônix, que estava tão surpreso quanto eu pelo convite de meu marido para almo‑ çar, tivesse interesse em acompanhar esse encontro pouco esperado e até mesmo inusitado. Alguns minutos depois de desligar o telefone, meu marido chegou. Ele acabou concor‑ dando rapidamente com a sugestão do restaurante que eu havia combinado com Ônix. Quase ri quando Âmbar e eu trocamos mais um daqueles beijos sem sabor e sem calor, que há tempos era apenas o que acontecia entre nós. Senti um ímpeto de cometer a loucura de dizer a ele tudo o que havia ocorrido: que eu tinha transado com Ônix, que estava enlouquecida de paixão e de desejo por ele e por suas atre‑ vidas carícias. Queria dizer que estava inebriada com seu cheiro, com seu hálito, com seu gosto e seu calor. Queria gritar que Ônix possuía um tesão rijo e duradouro, como há tempos eu não via nem sentia. Queria poder dizer ao meu marido que Ônix me fez gozar como uma fêmea enlouque‑ cida, que ele fez eu me sentir uma fêmea em pleno cio, como eu nunca havia me sentido, e que eu queria me deitar com ele sempre que ele me convidasse. No entanto, freei meus loucos impulsos, porque, apesar de tudo, eu amava Âmbar e não podia fazer isso com ele. Ele realmente era um bom homem, que estava passando por um mau momento em sua vida, mas que, com meu apoio e atenção, sairia do esgoto em que se encontrava, se Deus assim quisesse. Engoli mi‑ nhas loucuras, juntando­‑as ao sêmem de Ônix que estava dentro de mim. Saímos então do escritório, eu e meu mari‑ do, de mãos dadas, como um bom casal apaixonado.

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CAPÍTULO 1 âmbar, o marido

Âmbar é um homem alto e bem­‑apessoado. Meu marido é, sem dúvidas, um homem bonito. Sua pele é de um more‑ no claro, e seus cabelos, negros e fartos. Seus olhos são de um castanho médio que se aproxima do mel não refinado, destacando­‑se em relação aos cabelos negros. Naquela épo‑ ca, ele tinha 46 anos de idade. Sempre foi um bom marido e um bom companheiro. Nunca chegou a ser um bom aman‑ te, mas, com algum esforço, podia­‑se dizer que era regular na cama. Ele era representante comercial de uma empresa de produtos de artes gráficas e outros acessórios para es‑ critório. Recebia um salário com o qual dava para bancar algum conforto, até que a empresa em que trabalhava en‑ trou em crise financeira e, sem condições de continuar, encerrou suas atividades. Ele logo conseguiu um novo em‑ prego em outra empresa do ramo, mas que possuía menos recursos financeiros que a anterior, o que provocou uma significativa redução em sua remuneração. Essa queda de rendimentos naturalmente repercutiu dentro de casa, devi‑ do à diminuição do orçamento mensal da família. Com isso, houve uma considerável queda do nosso padrão de vida, que, de razoável, passou para ruim. Eu comecei a pensar em 19

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procurar um emprego para ajudar meu marido com as des‑ pesas de casa. Quando falei com Âmbar sobre isso, porém, ele discordou com uma veemência que me surpreendeu. Ele ficou extremamente bravo com a ideia de eu trabalhar fora de casa. Não consegui entender muito bem a razão de tal nervosismo, mas enfim… Eu sabia que ele era um homem inseguro e ciumento, mas sempre achei que não passava de ciúmes de marido de mulher bonita. No entanto, atiçada pela curiosidade, passei a observar mais cuidadosamente seu comportamento, e fui percebendo que a cada dia ele se mostrava mais inseguro e mais arredio com o mundo em geral. De repente, ele passou a ter estranhas crises nervo‑ sas, até que um dia eu o encontrei prostrado numa espécie de transe, caído no chão do quarto. Apavorada, pedi socor‑ ro para um vizinho que era enfermeiro. Ele veio ver o que estava acontecendo e, ao entrar no quarto, bastou dar uma olhada para o meu marido para me dizer, coçando o queixo, que eu não me preocupasse, porque ele ficaria bom em duas ou três horas. Disse que ele não estava clinicamente doente e que eu não precisava chamar um médico. Estranhamente, como se eu soubesse o que se passava, o homem falou: – Você sabe que basta dar água pra ele… muita água. E esperar, porque ele logo vai se levantar. E o vizinho então se foi, sem mais nada dizer. Fiquei sem saber o que estava acontecendo, mas tinha certeza de que em breve descobriria a razão daquilo tudo. A conversa com o enfermeiro me despertou para um fato ao qual eu não estava atenta. Percebi que já fazia um tempo que meu marido estava se comportando de maneira dife‑ rente. Eu atribuía essa mudança à falta de dinheiro, já que as coisas começaram a complicar, pois a cada dia havia me‑ nos dinheiro para as nossas necessidades básicas. Nossas 20

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roupas, embora bem cuidadas, começavam a parecer gastas e surradas. E eram poucas. Âmbar, que antes consumia be‑ bidas alcoólicas sem muita frequência, passou a permane‑ cer mais tempo em bares e a chegar em casa com sintomas do que eu pensava ser embriaguez. Ele, que já não era muito bom amante, ficou ainda pior, e eu tinha cada vez menos do meu antigo e regular parceiro sexual. Mas eu não dei‑ xava de sentir por ele um amor incondicional, porque, ape‑ sar de tudo isso, ele era um bom homem. Nossos filhos já se perguntavam o que estaria acontecendo com o pai, que estava tão mudado. Com o tempo, comecei a observar que as bebedeiras apresentavam novos sintomas, diferentes da conhecida embriaguez. Havia alguma coisa que me deixava intrigada, e passei a pensar que meu marido pudesse estar usando drogas ilícitas. Era isto: meu marido realmente estava viciado em dro‑ gas. Um frio percorreu minha espinha quando pensei que ele poderia morrer por causa disso. Confirmei que ele es‑ tava usando maconha com frequência. Procurei conhecer mais sobre o assunto e aprendi que maconha era o tipo de entorpecente mais usado entre viciados, mas que havia ou‑ tras drogas muito perigosas, como cocaína, ácido lisérgico e uma substância pouco usada, denominada mandrix, que era uma desgraça na vida de qualquer um que se viciasse. Finalmente eu havia entendido aquilo que nosso vizinho enfermeiro me disse naquele dia em que viu meu marido prostrado no quarto. Tentei conversar com Âmbar e ajudá­ ‑lo a deixar aquilo, mas, a despeito de todas as promessas, ele nunca deixava o vício. Pensei que já não havia mais re‑ médio para a situação, então procurei me acostumar com aquilo e decidi que deveria manter a família unida, por‑ que Âmbar era um homem de bom coração, tinha um bom 21

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caráter e amava a mim e aos nossos filhos. Nossos filhos o adoravam, e eu realmente amava aquele homem, mesmo não podendo mais contar com ele como chefe da família e parceiro de cama, visto que, em razão de seus vícios, sua libido estava muito baixa. Ele sentia pouca vontade de fa‑ zer sexo e, quando tentava, não conseguia ereção suficiente para concluir o ato. Perdi a confiança, mas não o amor por ele. Difícil foi aprender a conviver com o cheiro de álcool misturado com outros odores desagradáveis que ele trazia da rua. Eu já não tinha mais prazer em sentir seu toque em meu corpo e, mesmo amando­‑o como meu marido, eu rejeitava a ideia de ter alguma convivência íntima com ele. Eu já não tinha qualquer interesse em ter relações sexuais com Âmbar, o que para ele não fazia a menor diferença, por sua falta de apetite sexual. Parecia que sua cabeça havia deixado de pensar em sexo e que ele havia se tornado impotente, pois seu pênis já não conseguia permanecer enrijecido pelo tempo necessário para uma relação sexual normal. Ele se recusava a procurar qualquer tipo de tratamento para solucionar esse problema, dizendo que não estava interessado. Sabendo­‑o usuário de drogas, passei a temer deixar nossos filhos sozinhos com ele, mas faltava dinheiro para as nossas necessidades, e eu precisava trabalhar para trazer dinheiro para casa. Esses fatores contribuíram para que ele finalmente concordasse com a ideia de eu começar a trabalhar fora. Exigiu, contudo, que seria ele a procurar um emprego para mim, porque ele que decidiria onde eu poderia ou não trabalhar. Concordei com sua vontade e esperei pelo tempo que ele pediu para me arranjar o emprego. Foi então que, certo dia, Âmbar chegou em casa anunciando que havia conversado com o diretor de 22

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uma empresa de advocacia sobre um trabalho para mim. Ouvi com atenção o que ele dizia a respeito das vantagens de eu trabalhar no escritório desse cliente dele, que lhe pa‑ recia ser uma boa pessoa. Âmbar falou que o escritório era bem localizado, que a remuneração não era ruim e que ha‑ via possibilidade de o salário aumentar rapidamente, se eu demonstrasse aptidão para as atribuições, tivesse interesse e um bom desenvolvimento funcional. Ele aparentou estar entusiasmado com esse trabalho, avisou até a data em que ele próprio me levaria ao escritório para me apresentar ao diretor e eu poder começar. Âmbar estava feliz por atender à minha vontade, sentindo­‑se vitorioso por ter sido ele a ar‑ ranjar o trabalho para mim. Tinha um bom coração o meu marido. Eu o amava. Ele não era o único homem de minha vida, mas foi o que mais amei, com quem me casei e tive fi‑ lhos. Agora, porém, por causa dessa sua doença, ele não era mais o mesmo companheiro. Pode ser que meu amor tenha assumido uma nova forma, mas eu não deixei de amá­‑lo. Talvez com mais fraternidade ou com um quê de materni‑ dade, mas ainda o amo. Beijei sua testa e fui fazer alguma tarefa doméstica, como de costume.

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