Reunião
É noite em Vanaheim, no céu não é possível ver nenhuma estrela e a escuridão domina os céus e todo o território cercado por árvores em torno da principal cidade, onde reside a famíliamãe dos Vanir. As luzes da cidade estão acesas, desde o portão e por todo o caminho até a residência principal no centro da cidade onde se encontra Njord, um dos líderes maiores do clã e onde fortes luzes iluminam a entrada. Em nenhuma outra construção se vê luz, não há criatura que ouse interferir no que está para acontecer. Criaturas de quase todas as raças aliadas aos Vanir passam pelo portão principal. Líderes de raças são seguidos por alguns de seus guerreiros, dirigindo-se à casa de Njord, que os havia convocado para uma reunião grandiosa. O mundo está em guerra. Desentendimentos do passado afloraram deixando claro que o clã dos Vanir e o dos Aesir não podem viver em paz apesar dos acordos que firmaram. Njord lidera esta batalha representando seu clã, os Vanir, seguido pelos seus filhos, Frey, deus patrono da fertilidade e senhor dos elfos da luz de Álfheim, e Freya, sua irmã.
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Gigantes passam pelo portão, e também magos, elfos e alguns anões. Em certo momento chega ao conhecimento do porteiro que todos os previstos a comparecerem à reunião já se encontram na cidade. O porteiro fecha o grande portão jogando uma magia dada a ele por Frey, uma magia de proteção completa contida em um pó incomum criado especialmente pelo deus que o deu ao porteiro. A magia lacra o portão e toda a área em volta da cidade. Njord vai ao encontro dos convidados no hall de entrada de sua casa e os conduz pelo longo corredor à esquerda de uma grande estátua expondo a imagem de um homem não muito alto, com um remo numa das mãos e uma capa sobre um manto cobrindo um corpo de braços e tórax um tanto fortes, essa é a representação do anfitrião. Todos passam pelo corredor bem iluminado indo ao final deste. Todos os corredores são extremamente grandes, permitindo a passagem dos gigantes presentes. Logo se encontram frente a uma grande porta com escritos numa língua antiga dos deuses dizendo Salão Celeste. Esse escrito significa para todos que o uso da sala ocorrerá devido a um assunto importante para ser discutido, sendo um lugar especial e pouco conhecido, poucos dos presentes já estiveram nesta sala, não é comum Njord oferecê-la para uma reunião formal entre as raças. Apesar de ser grande a passagem, o anfitrião pede para que os gigantes presentes se tornem criaturas de altura normal, e estes utilizando de magia, atendem o pedido. As portas são abertas. Um corredor espaçoso e escuro conduz a uma mesa redonda no centro da sala, iluminada por apenas uma luz que seria considerada comum, se não estivesse vindo de cima, onde não é possível enxergar o teto, apenas a grande luz atravessando a escuridão do alto e iluminando todas
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as cadeiras em volta da mesa. Na sala, não há janelas, mas não é quente como deveria ser uma sala naquela posição, pode-se sentir uma corrente de ar vindo sabe-se lá de onde, talvez do mesmo lugar de onde vem a luz divina. Todos entram na sala, os líderes e conselheiros de cada raça presente aos poucos se ajeitam em seus assentos nada confortáveis sendo estes de pedra, ocupando-os todos e deixando em pé alguns de seus guerreiros que ficam em volta da mesa. A movimentação para, e os olhos atentos seguem os movimentos do anfitrião, que fecha a porta e devagar dirige-se ao seu assento, perto de seus filhos. Ao se aproximar do assento sem se sentar põe as mãos sobre a mesa de pedra e olhando em volta dá início a reunião. – Todos sabem o porquê de estarmos reunidos esta noite! – disse Njord tranquilamente. – As coisas com os Aesir não têm estado muito boas, apesar de estarmos em um grande número, eles são poderosos guerreiros, o que é um fato que não podemos ignorar! E vemos que muitos de vocês não têm concordado com nossos motivos, a guerra... – o anfitrião para de falar e fica em silêncio observando os rostos que o fitam, alguns com uma feição tensa e rude. – Perdi homens valorosos, Njord! – interrompe Thrym, rei dos gigantes de Jotunheim. – Por que vocês se envolveram outra vez nesta guerra? Você são deuses, não têm preocupação com a morte, mas meus gigantes não são da mesma maneira. Nossa amizade não vale a segurança do meu povo! Levanta-se alterado, cerrando os punhos. – Silêncio, Thrym! – impõe-se Frey, colocando seu forte corpo em pé e fitando o gigante com veemência. – Estamos aqui para nos organizarmos nesta guerra, não contarmos quantos homens perdestes!
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O gigante, indignado, dá um passo se afastando da mesa em direção ao seu desafiador seguido por um de seus guerreiros, porém para antes de poder andar mais, acalmado por uma doce voz vinda do lado oposto da mesa, onde uma jovem de cabelos e olhos negros como os cantos da sala está sentada o fitando com uma das mãos apoiadas no braço do assento, e a outra tirando fios de cabelo que lhe caíram sobre o rosto. – Senhores, por favor! Somos de distintas raças, temos nossas diferenças, mas mantenhamos a calma, certo? A voz que sai por seus lábios é tão calma que parece definitivamente contagiar todos os inquietos na sala, e principalmente o seu irmão, que se sentou, e Thrym, que fez o mesmo, instante depois. – Obrigado, querida! – diz Njord calmamente. – Thrym, sei que perdeste guerreiros, mas não podemos parar a esta altura do combate, de que valeria a morte destes teus companheiros? Os olhares se cruzam e o silêncio volta a tomar conta da sala. O anfitrião começava a pensar que a filha colocara definitivamente a paz nesta reunião, porém vê que se enganou quando o representante dos feiticeiros de Niflheim se levanta de maneira rude e desafiadora para se pronunciar. – “A esta altura do combate”, Njord? Aonde chegamos até agora, o que conseguimos? Nada além de derrotas. Com a tua liderança nunca conseguiremos derrotar os Aesir! Proponho uma votação para elegermos uma nova liderança. Eu me candidato! – declara em alto tom. Essa declaração desencadeia um alvoroço infernal, todos na sala se levantam, e uma discussão é iniciada. Logo, as palavras já faltam para discutir e confusões são vistas. Njord empurra Thrym, que estava prestes a atacar um
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dos magos presentes, e em seguida tem de segurar um elfo que desembainha a espada. – Está certo! Votemos! Eu me candidato! – ouve-se na sala aleatoriamente. O anfitrião já parece desesperado e começa a gritar pedindo silêncio e atenção. Tentativa essa que não funciona, nem parecem ter ouvido, nem mesmo notaram sua presença. Seus filhos também tentam acalmar a situação, mas nada funciona. De repente ouve-se uma alta risada, vinda da escuridão próxima à porta da sala. Uma risada incontrolável, que aos poucos vai interrompendo as discussões e resolvendo o tumulto.
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