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Autoterapia Shelly Zaclis Bronstein
TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA
SÃo Paulo, 2017
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Autoterapia Copyright © 2017 by Shelly Zaclis Bronstein Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda.
coordenação editorial Vitor Donofrio aquisições Cleber Vasconcelos
ilustração de capa Alexandre Santos
editorial João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda
edição de texto e arte Equipe Novo Século
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Bronstein, Shelly Zaclis Autoterapia Shelly Zaclis Bronstein. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (Coleção Talentos da literatura brasileira) 1. Literatura brasileira 2. Crônicas brasileiras 3. Poesia brasileira I. Título. 17‑1353
cdd‑869
Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura brasileira 869
novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699‑7107 | Fax: (11) 3699‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br
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Para Sergio, Felipe e Camila. Obrigada por transbordarem meus dias de amor e alegrias.
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4.0 (Prólogo) | 9 1. Aqui e agora | 13 2. Questão de Tempo | 15 3. Incongruência | 19 4. Feliz em retrospecto | 21 5. Domingo bom | 25 6. Ventríloquo | 27 7. Gosto por contrastes | 31
sumário
8. Nem sempre o vilão | 33 9. Pele | 37 10. Amigos, encontros e desencontros | 39 11. Bifurcação | 43 12. Intolerância à frustração | 45 13. Intolerância | 49 14. Sobre selfies, tatuagens e bumbuns | 51 15. Abismo | 55 16. Tantrum de mãe | 57 17. Autoconhecimento | 59 18. Contraponto | 61 19. Inexistência | 65 20. Só não esquece o celular porque está grudado | 67
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21. Pedaços de mim | 71 22. A deusa da boa sorte | 73 23. Calendário | 75 24. Paixão vs. Amor | 77 25. Meditação | 79 26. Charme | 81 27. Farm | 83 28. Síndrome da descontinuidade | 85 29. Perspectiva | 87 30. Plágio | 89 31. Seus quarenta, meus quarenta | 91 32. Vazio | 95 33. Always beta | 97 34. Amor tranquilo | 101 35. Terapia | 103 36. Smart watch | 107 37. Última chama | 111 38. O menino e as cores | 113 39. Como Nossos Pais | 119 40. Game over | 125
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4.0 (Prólogo)
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inalmente chegaram os tão temidos e tão cli‑ chês 4.0. Acho que depois de quase uma dé‑ cada consciente da proximidade dessa data, ela chegou sem sofrimento, com muito mais ale‑ grias do que angústias. O lado bom dos quarenta é que realmente cai a ficha de que não há mais tem‑ po a perder. Mesmo. Apesar de ser uma noção que existiu desde sempre para mim, era uma ideia que pairava como um conceito etéreo, sem nenhuma aplicabilidade prática. Agora virou uma ideia con‑ creta: se tenho vontade de fazer alguma coisa, faço hoje. Se tenho um sonho importante, dou o primei‑ ro passo para realizá‑lo. Daqui a dez anos, chego nos cinquenta! Daqui a vintinho, nos sessenta. Não preciso ser nenhuma gênia da matemática para me
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conscientizar. E, ainda, sem contar que uma estra‑ nha força da natureza faz com que cada ano passe significativamente mais rápido que o anterior, e isso não é apenas uma mera impressão. Foi nesse estado de espírito dos “enta” que re‑ solvi tomar coragem, dar uma pequena surtada e publicar alguns textos que escrevi ao longo dos anos. Afinal, já tive meus queridos filhos e já plan‑ tei uma árvore – um lindo resedá de flores bran‑ cas! Alguns destes textos são novos, mas muitos estão guardados no meu hard drive há anos – al‑ guns há décadas – sem nunca terem sido compar‑ tilhados com ninguém. E quando digo ninguém, incluo até meu marido e minha irmã, que são pes‑ soas mais próximas do que meu próprio espelho. Foram palavras que, em algum momento, ao lon‑ go de muitos anos, coloquei no papel para derra‑ mar algum sentimento transbordado, organizar o pensamento bagunçado, entender uma angústia escondida, como uma autoterapia. Ou, então, fo‑ ram palavras escritas pelo simples e puro prazer de escrever. Textos que escrevi e que ficaram total‑ mente esquecidos por mim. Palavras quase mor‑ tas, empoeiradas em uma pastinha amarela de uma estante virtual qualquer. Até que, neste ano, empolgada com minha mu‑ dança de casa e no mood de organização das coi‑ 10
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sas, resolvi dar uma geral no computador também. Foi então que me deparei, totalmente atônita, com essa tal pasta. O que vou fazer com estes textos? SHIFT+DEL foi uma opção bastante plausível; che‑ guei a fazer o dedilhado, porém não tive coragem de finalizar. Apesar de esquecidos e sem propósito, são textos que, de alguma forma, traduzem um pouco de mim. Confesso que algumas ideias já nem reco‑ nheço mais, mas não deixam de representar algum momento da minha vida. Pensei em subi‑los à nu‑ vem para tirá‑los da frente e não ocuparem espaço. Mas para quê? Para quem? Será que um dia, quan‑ do eu morrer, alguém irá encontrá‑los empoeirados em algum data center em um deserto distante na Índia? E foi aí que me ocorreu uma ideia: por que não aproveitar o ensejo dos meus quarenta anos para publicá‑los? Uns vão gostar, outros nem tan‑ to. Em qualquer empreitada é assim. Mas o bom é que nessa idade não estamos mais tão preocupados com isso. Poder compartilhar esse meu lado B com pessoas de que gosto, a coragem de revelar uma parte desconhecida de mim e a alegria de ter dado vida a palavras moribundas superam infinitamente o inevitável medo do ridículo. Então, com isso, escancaro aqui 40 textos da tal pastinha. Espero que gostem!
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Aqui e agora
Meu sonho já esteve no passado; Como na lembrança de um antigo amor ao lado. Meu sonho também já esteve no futuro; Na expectativa de algum momento de êxtase puro. Hoje, meu sonho vive no presente; No estar consciente do que se sente. Está no barulho das crianças ou no silêncio da natureza; Está na inquietude da dúvida ou na calma da certeza. Está no sorriso, na atenção, Está no afeto, na respiração. Está no cheiro, no toque, neste dia, nesta hora; Está no coração deste momento, no aqui e no agora.
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Questão de tempo
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sses dias assisti a um filme lindo, que me deixou um tanto sem respiração, me pegou de forma profunda. Chama‑se Questão de Tempo (About Time), escrito e dirigido por Ri‑ chard Curtis, roteirista de Quatro Casamentos e um Funeral, O diário de Bridget Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill, entre outros. O paradoxo é que se trata de uma comédia romântica bem água com açúcar e fantasiosa, mas que, por trás, carre‑ ga uma mensagem poderosa e verdadeira. É uma mensagem da qual não me canso de lembrar e, por isso, quis deixar registrado. O protagonista descobre que tem o poder de voltar no tempo, não para um passado longínquo,
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mas para momentos de sua própria vida, e acaba usando isso em diversas situações, principalmen‑ te para conquistar o grande amor da sua vida. Ele também usa o tal poder para reviver momentos bons e importantes, para tentar consertar alguns desvios de rota ou evitar situações complicadas. Mas o bacana da história é que, com o passar do tempo, ele vai precisando utilizar cada vez menos esse recurso na própria caminhada para fazer as coisas de forma diferente, e começa a entender que o grande barato da vida é tentar viver cada dia, por mais rotineiro que seja, consciente de suas bele‑ zas, de seus momentos especiais, com muito mais presença e atenção. Para mim, o auge do filme é quando ele decide reviver um dia qualquer, inclu‑ sive um particularmente monótono e cansativo, mas, desta vez, enxergando a graça e a beleza dos pequenos acontecimentos, conseguindo vivê‑los e absorvê‑los de forma muito mais especial. Essa curta cena me tocou e me sensibilizou. Todos temos a opção de escolher como viver nossos dias. Posso viver o dia no piloto automá‑ tico, na pressa que a rotina me impõe, ou posso escolher, mesmo na correria absoluta, apreciar a espuma quentinha do café com leite e o queijo der‑ retido no pão do café da manhã. Posso aprender algo totalmente novo durante a reunião semanal 16
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de vendas. Posso dar boas risadas no almoço com uma das minhas melhores amigas, que, por uma benção da vida, trabalha na mesma empresa que eu. Posso voltar para casa cantando Bob Marley no volume máximo, no carro, para desviar a aten‑ ção do trânsito caótico. Posso chegar em casa e curtir a bagunça das crianças, as letrinhas gordas e fofas da lição de casa, as histórias desestruturadas no jantar em família, quando nem consigo con‑ versar com meu marido, pois as crianças sempre dominam o papo à mesa. Os dias mais rotineiros podem ser particularmente especiais e cheios de aprendizados se prestarmos bastante atenção. É lógico que é difícil viver assim 100% do tem‑ po. Há dias difíceis, duros, em que não há forma de transcendência para deixá‑los mais leves. Há dias com acontecimentos especiais e que se tornam na‑ turalmente memoráveis e significativos. Mas há dias que são simplesmente corriqueiros, e nesses, sim, há a opção consciente de vivê‑los em estado de graça, capturando o mágico dentro do banal, a fim de não deixá-los escapar entre as horas.
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