Como fracassar em quase tudo e ainda ser bem-sucedido

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S M A D A SCOTT como

fracassar em

quase tudo

e ainda ser

bem-sucedido uma espécie de história da minha vida tradução

Tássia carvalho

SÃO PAULO, 2016

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Como fracassar em quase tudo e ainda ser bem-sucedido How to fail at almost everything and still win big Copyright © 2013 by Scott Adams, Inc. All rights reserved including the right of reproduction in whole or in part in any form. This edition published by arrangement with Portfolio, a member of Penguin Group (USA) LLC, a Penguin Random House Company. Copyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial Lindsay Gois

gerente de aquisições Renata de Mello do Vale

editorial João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda Vitor Donofrio

assistente de aquisições Acácio Alves

tradução Tássia Carvalho

diagramação e capa João Paulo Putini

preparação Liana do Amaral

revisão Gabriel Patez Silva

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Adams, Scott Como fracassar em quase tudo e ainda ser bem-sucedido : uma espécie de história da minha vida Scott Adams ; tradução Tássia Carvalho. São Paulo : Figurati, 2016. Título original: How to fail at almost everything and still win big. 1. Adams, Scott, 1957- 2. Cartunistas - Estados Unidos - Biografia 3. Motivação (Psicologia) 4. Orientação profissional - Humor I. Título.

16-00789

cdd-741.56973

Índice para catálogo sistemático: 1. Cartunistas : Estados Unidos : Biografia 741.56973

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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sumário Agradecimentos

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Introdução

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Capítulo 1 — Na época em que eu era louco

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Capítulo 2 — O dia da palestra

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Capítulo 3 — Paixão é besteira

25

Capítulo 4 — Alguns de meus muitos fracassos,

29

de forma resumida Capítulo 5 — Meu espetacular fracasso absoluto favorito

44

Capítulo 6 — Metas versus métodos

47

Capítulo 7 — Meu método

54

Capítulo 8 — Minha carreira corporativa fracassou

62

Capítulo 9 — Decidir versus querer

68

Capítulo 10 — A ilusão egoísta

69

Capítulo 11 — A métrica da energia

74

Capítulo 12 — Administrando sua atitude

92

Capítulo 13 — Já está funcionando

103

Capítulo 14 — Meu dedo mindinho enlouquece

105

Capítulo 15 — Minha carreira de palestrante

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Capítulo 16 — Meu problema de voz ganha um nome

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Capítulo 17 — A solução de voz que não funcionou

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Capítulo 18 — Reconhecendo talentos 116 e sabendo quando parar Capítulo 19 — A prática é a sua praia? 124 Capítulo 20 — Gerenciando suas chances de sucesso 127 Capítulo 21 — A matemática do sucesso 135 Capítulo 22 — Reconhecimento de padrão 191 Capítulo 23 — Humor 196 Capítulo 24 — Afirmações 203 Capítulo 25 — Timing também é sorte 208 Capítulo 26 — Algumas vezes as afirmações funcionaram 212 Capítulo 27 — Atualização da voz 214 Capítulo 28 — Especialistas 217 Capítulo 29 — Programação associativa 220 Capítulo 30 — Felicidade 225 Capítulo 31 — Dieta 236 Capítulo 32 — Fitness 270 Capítulo 33 — Atualização da voz 2 285 Capítulo 34 — Sorte 289 Capítulo 35 — A start-up CalendarTree 291 Capítulo 36 — Atualização da voz 3 293 Capítulo 37 — Uma nota final sobre afirmações 296 Capítulo 38 — Resumo 302

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Agradecimentos

gostaria de agradecer à minha pesquisadora de ciência e da área médica, Zora DeGrandpre, por me manter muito perto do pensamento racional. Um grande obrigado a Adrian Zackheim por, de alguma maneira, saber que este livro estava em mim antes que o escrevesse. Algum dia você tem de me explicar como faz isso. Obrigado a Dave, meu irmão, que uso como modelo para escrever. Quando estou tentando encontrar a maneira perfeita de organizar um pensamento engraçado, basta que imagine como diria isso a meu irmão. Quando os editores dizem que a minha escrita é “sonora”, as razões estão aí. Obrigado a Maria Gagliano por suas edições magistrais neste livro. Obrigado a Emily Libresco, minha assistente adjunta de Princeton para revisão, que fez um trabalho fantástico criticando o primeiro rascunho. Se alguém de vocês está preocupado com a próxima geração, não fique. Ela nos fará parecer com chimpanzés.

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Introdução

se você já é tão bem-sucedido quanto deseja, pessoal e profissionalmente, tudo o que pode conseguir deste livro é uma história meio que divertida sobre um cara que falhou na busca pelo sucesso. Mas, além disso, você também notará algumas características familiares na minha narrativa que lhe darão a confirmação (ou o viés de confirmação) de que seu próprio sucesso não veio totalmente da sorte. Esse é o tipo de validação que você não consegue de sua família e de seus amigos, que o veem como uma lamentável desgraça. Esta é a história do improvável sucesso de uma pessoa em um contexto de inúmeras falhas constrangedoras. Se você está apenas iniciando sua jornada em direção ao sucesso — não importa a definição que dê a ele —, ou está se perguntando o que tem feito de errado até agora, espero que encontre algumas ideias originais aqui. Talvez a combinação do que você sabe com o que eu acho que sei seja suficiente para evitar que dê com os burros n’água. Meu eventual sucesso resultou, principalmente, de talento, sorte, trabalho duro, ou do casual equilíbrio perfeito de cada um deles? Tudo o que sei com certeza é que desenvolvi uma estratégia consciente de administrar minhas oportunidades, desse modo facilitando que a sorte me encontrasse. Minha estratégia fez a diferença, ou é sorte e apenas sorte, e tudo o mais representa simplesmente racionalização? Honestamente, não sei. E é por isso que lhe sugiro comparar a minha história com as de outras pessoas que encontraram o sucesso e notar se há algum padrão. Esse é exatamente o método que uso desde a infância, e talvez ele tenha funcionado para mim, ou simplesmente tive sorte. Jamais vou saber a razão. Se você pinçar algumas ideias neste

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livro e conquistar um grande sucesso, também não saberá exatamente o que fez a diferença. Mas você pode pensar que sabe, e isso provavelmente vai depender dos seus muitos níveis de dificuldade. é assim que o cérebro humano funciona. Mas, veja bem, talvez no seu caso seja verdade. No meu caso, prefiro assumir minha ignorância e deixar a resposta como uma questão em aberto. Este não é um livro de conselhos. Se você já tiver seguido o conselho de um cartunista, há uma boa chance de não ter se dado bem. Para começar, é difícil saber quando esse sujeito está falando sério e quando ele ou ela está querendo pregar uma peça em você. Criei pegadinhas que se estenderam por anos, às vezes não havendo ninguém envolvido a não ser eu. Algumas delas ainda permanecem ativas. Tenho me assumido como outra pessoa on-line e até mesmo pessoalmente. Uma vez usei um disfarce profissional e me infiltrei em uma reunião de negócios de alto nível só para conseguir material para a tira de quadrinhos Dilbert. Além de tudo, estou sendo pago para escrever este livro, e todos nós sabemos que o dinheiro distorce a verdade de uma forma absurda. E não vamos esquecer que sou um estranho para a maioria de vocês. Nunca é uma boa ideia confiar em desconhecidos. Sob qualquer aspecto objetivo, talvez eu seja uma das pessoas menos confiáveis na Terra. Não me sinto muito orgulhoso de admitir que se tiver de escolher entre dizer o que é verdade e dizer o que é engraçado, vou optar pelo caminho com mais valor em termos de entretenimento. Eu também não sou um especialista em coisa nenhuma, incluindo o meu próprio trabalho. Desenho como um bugio bêbado, e meu estilo de escrever fica em algum lugar entre desconcertante e imaturo. Portanto, continua um mistério permanente para mim por que ainda estou sendo pago. Para piorar a situação, há problemas inerentes à ideia de uma pessoa dando conselho a outra em forma de livro. Um mesmo tamanho

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de sapato não serve em todos os pés. Eu ficaria surpreso se existisse qualquer coisa neste livro que fizesse sentido para todas as pessoas o tempo todo. Este é um bom momento para saltar à frente e dar a você uma visão geral dos tópicos “fracassando para o sucesso” que virão a seguir. Faço isso para antecipar sua curiosidade. Embora você não vá aprender muito com a minha resumida lista, se ela lhe despertar interesse talvez seja uma razão para terminar o livro.

LISTA DE PROVOCAÇÕES 1. Metas são para perdedores. 2. Sua mente não é mágica. é um computador que você pode programar. 3. A métrica mais importante a ser monitorada é a sua energia pessoal. 4. Cada habilidade que você adquirir duplica suas chances de sucesso. 5. Felicidade é saúde mais liberdade. 6. A sorte pode ser gerenciada, mais ou menos isso. 7. Supere a timidez sendo um grande impostor (no bom sentido). 8. Adaptação é a alavanca que move o mundo. 9. A simplicidade transforma o normal em extraordinário. Se eu fizer bem o meu trabalho, não vou precisar de qualquer credibilidade para aprová-lo. Nos capítulos em que me refiro a pesquisas, citarei minhas fontes, como um piloto de corrida esboçando a credibilidade de pessoas que a mereceram. (Bom trabalho, pessoas confiáveis!) Mas a maior parte do tempo relato minhas próprias experiências, as quais, garanto, são reais. Adoro uma boa piada, mas uma promessa é uma promessa. Assim, tudo o que você lê neste livro sobre a minha vida é exato, tanto quanto eu saiba.

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Lá pelos meus vinte anos, não conhecia ninguém que me dissesse como me tornar um cartunista, como escrever um livro, ou como ser bem-sucedido em geral, o que representou um grande obstáculo para o meu sucesso. Era como se outras pessoas estivessem se beneficiando muito com o conhecimento de seus amigos e familiares. Esse é exatamente o tipo de desigualdade que me deixa louco da vida e me motiva ao mesmo tempo. Como resultado, em relação ao tema sucesso, já passei décadas tentando descobrir o que funciona e o que não funciona. Se você quiser ser bem-sucedido em praticamente qualquer campo, permita-me ser o seu ponto de partida. Ao longo do livro, descrevo uma espécie de modelo para o sucesso que talvez sirva como sua plataforma de lançamento. Nem sempre tenho a fórmula certa para cada situação específica, mas posso ajudá-lo a limitar suas escolhas. Antes de decidir se alguma coisa que digo neste livro é útil, é necessário que você tenha um método para separar a verdade do lixo. A maioria das pessoas pensa que possuem detectores de mentira infalíveis. Mas, se esse fosse o caso, os júris em tribunais seriam sempre unânimes, e todos teríamos as mesmas crenças religiosas. Na realidade, a maioria das pessoas tem filtros deficientes para separar a verdade da ficção, e não há maneira objetiva de saber se você é particularmente bom nisso ou não. Considere as pessoas que rotineiramente discordam de você. Vê como parecem confiantes mesmo quando estão totalmente erradas? é exatamente assim que você parece para elas. Quando se trata de qualquer questão importante ou complicada, o único ponto de vista sensato é a humildade. Ainda assim, nós, mortais, precisamos dar um jeito de navegar por nosso mundo como se entendêssemos isso. A alternativa — agir aleatoriamente — seria absurda. Para minimizar o sentimento de absurdo em sua vida, recomendo-lhe o uso de um método específico para separar a verdade da ficção, o que será útil para a leitura deste livro, e é possível que seja ainda mais importante em sua vida. O método reconhece que há pelo

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menos seis formas comuns de separar a verdade da ficção e, curiosamente, cada uma é um desastre total.

OS SEIS FILTROS PARA A VERDADE 1. Experiência pessoal (percepções humanas são duvidosas). 2. Experiência de pessoas que você conhece (isso é ainda menos confiável). 3. Especialistas (eles trabalham por dinheiro, não em nome da verdade). 4. Estudos científicos (correlação não é nexo de causalidade). 5. Bom senso (uma boa maneira de ser enganado com total confiança). 6. Reconhecimento de padrões (padrões, coincidências e tendências pessoais são parecidas). Em nossas vidas, imperfeitas e confusas, o mais próximo que podemos chegar da verdade é a coerência. Coerência é a pedra fundamental do método científico. Os cientistas se aproximam da verdade não só por meio da realização de experimentos controlados, mas também de tentativas para observar resultados consistentes. No seu dia a dia, na vida de não cientista, você faz a mesma coisa, mas não é tão surpreendente, nem tão confiável. Por exemplo, se comer um saco de pipoca e, uma hora mais tarde, você peidar com tanta força que inflará suas meias, é razoável presumir que pipoca faz você ficar com gases. Isso, apesar de não ser ciência, ainda assim é um padrão plenamente útil. A coerência é nosso melhor indicador da verdade, por mais imperfeito que seja. Quando você buscar a verdade, a melhor aposta é procurar confirmação em pelo menos duas das dimensões listadas anteriormente. Por exemplo, se uma pesquisa indica que comer nada além de bolo de chocolate é uma excelente maneira de perder peso, embora seu amigo, ao tentar a dieta, esteja ficando cada vez mais gordo, você tem

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duas dimensões fora do acordo (três, se contarmos o bom senso). Isso é falta de coerência. Uma vez que você tenha seu filtro de besteiras funcionando, pense em como inicia o processo de enfrentar qualquer problema novo e complicado. Há um passo que você vai sempre fazer primeiro se for IntrodUCtIon

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possível: perguntar a um amigo inteligente como ele abordou o mesOnce you Um haveamigo your bullshit filter pode working, think about how you e mo problema. inteligente lhe poupar muito tempo begin Vários the process of tackling anyounew complicated problem. esforço. de vocês já têm um doisand amigos inteligentes, e você There’s one step you will always do first if it’s available to you: You’ll tem sorte nesse sentido. Mas constato que uma percentagem surpreask a smart friend how he or she tackled the same problem. A smart endente da população adulta literalmente não tem amigos inteligenfriend can save you loads of time and effort. Many of you have a tessmart para ajudá-los emalready, sua busca sucesso e felicidade. friend or two andde you are lucky to have them. But my Portanto, sinto-me honrado em empossar a mim mesmolitercomo observation is that a startling percentage of the adult population has no smart friends help them their quest success and já seually amigo inteligente (ou to estúpido) nainforma destefor livro. Se você happiness. tem alguns, ótimo. Mas eles não podem ser muitos. O que trago de I hereby deputize myself to be your smart(ish) friend in the form of bom é a disposição de discutir uma vasta gama de tópicos relaciothis book. If you already have some smart friends, that’s great. You nados a sucesso, o que seus amigos podem considerar uma conversa can’t have too many. What I bring to the party is a willingness to estranha um jantar. discuss durante a wide range of success-related topics that your in-person Não sou especialista qualquer um dos tópicos que discutirei aqui. friends might considerem awkward dinner conversation. I’m not an expert in any of the topics I’ll discuss here. But am a Mas sou um facilitador profissional. Meu principal trabalho nasI últimas professional simplifier. My main jobé for past few hastira décadas foi criar Dilbert. Fazer cartuns um the processo pelodecades qual você been creating Dilbert. Making comics is a process by which you strip o ruído desnecessário de uma situação até restar tão somente o núcleo out the unnecessary noise from a situation until all that is left is the absurdo-mas-ainda-verdade. Um cartunista tem de conseguir essa absurd-yet-true core. A cartoonist has to accomplish that feat with asfaçanha apenas umas quatro I’ve frases curtas. Játhat apresentei esse nine truque few em as four short sentences. performed trick nearly thousand times, sometimes successfully. quase nove mil vezes, algumas delas com sucesso.

QUAL É A CHAVE DO SUCESSO?

Contrate os funcionários certos.

Como você sabe que contratou os certos?

Você sabe porque o negócio é bem-sucedido.

Então a Sim, porque chave do raciocínio sucesso é um circular é raciocínio a chave. circular?

The best example of the power of simplicity is capitalism. The central genius of capitalism is that all of its complexities, all of the differences across companies, all of the challenges, decisions, successes, Como falhar em quase tudo_MIOLO REVISADO.indd and failures can be14boiled down into one number: profits. That sim-

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O melhor exemplo do poder da simplicidade é o capitalismo. A genialidade central dele é que todas as suas complexidades, todas as diferenças entre as empresas, todos os desafios, as decisões, os êxitos e os fracassos podem ser resumidos em um só item: lucros. Essa simplificação permite que o capitalismo funcione. A complexidade subjacente ainda existe no mundo dos negócios, mas a criação de uma medição clara e simples do progresso torna o capitalismo possível. Nenhum investidor inteligente compraria ações de uma empresa sem conhecer seus lucros passados e projetados. Os lucros dizem à administração quando eles estão fazendo algo certo e também quando precisam fazer algo diferente. Essa única simplificação, a ideia de lucro, fica acima da máquina do capitalismo, e em grande medida a conduz, embora por vezes na direção errada. Talvez você até questione a moralidade de considerar o lucro como prioridade nos negócios, mas não pode argumentar que ele não funcione. No máximo, pode dizer que algumas empresas levam isso longe demais. Mas esse é o risco de qualquer ferramenta. Um martelo só é bom se você parar de batê-lo após o prego ter entrado todo. Continue batendo e você quebra a madeira. Mais à frente neste livro, relatarei uma simplificação com todos os passos para o seu sucesso pessoal. é o equivalente humano do lucro. Algo simples que você pode avaliar, e que trará clareza a todas as decisões complicadas em sua vida. Porém, isso é para mais tarde. Gostaria de poder transmitir-lhe uma fórmula infalível para o sucesso, mas a vida não funciona desse jeito. O que posso fazer é apresentar um modelo que você compare com a forma atual como faz as coisas. A resposta certa talvez seja alguma combinação do que você já está fazendo com o que lê aqui. O melhor juiz do que funciona em sua vida é você mesmo, desde que conquiste esse conhecimento por meio da percepção de padrões, experiência e observação.

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Em resumo, permita-me dizer que, se você acha que estou cheio de merda sobre uma ou outra ideia em particular, há uma chance saudável de estar certo. Mas estar 100% certo não é meu objetivo. Apresentarei neste livro algumas maneiras novas de pensar a busca pela felicidade e pelo sucesso. Compare-as com o que você sabe, com o que você faz e com o que outros sugerem. Cada pessoa encontra a sua própria receita especial.

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capítulo 1 na ÉPoca em que eu era Louco

na primavera de 2005, meu médico me diagnosticou com um tipo de doença mental. Ele não usou exatamente essas palavras, nem nada parecido com elas, mas me encaminhou ao consultório de um psicólogo da Kaiser, meu plano de saúde. Posso entender uma indireta. A psicóloga ouviu a minha história e chegou à mesma conclusão: louco. Mas, como meu médico, ela não usou a palavra real. Então, sugeriu Valium e manifestou, com toda polidez, que a redução no meu nível de estresse poderia fazer com que eu readquirisse algum tipo de comportamento normal. Descartei o Valium, porque não me sentia louco. E nem sequer tão estressado assim, ou pelo menos não me sentia dessa forma até um médico e uma psicóloga concordarem que eu talvez estivesse perdendo o juízo. Certamente entendi por que ambos os profissionais tenderam para esse diagnóstico. De qualquer maneira, meu comportamento recente parecia louco, até mesmo para mim. Meu sintoma era a repentina perda de minha habilidade de falar com os seres humanos, mesmo que falasse normalmente quando só ou quando conversava com meu gato. Meu médico e os especialistas da Kaiser haviam eliminado sistematicamente cada uma das mais prováveis causas para o meu problema de fala. Alergias? Não. Problema respiratório comum? Não. Refluxo ácido? Não. Tumores ou pólipos em minha garganta? Não. AVC? Não. Problema neurológico? Não. Minha saúde era aparentemente perfeita, exceto pelo fato de que, de uma hora para outra, tinha perdido a capacidade de falar

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com outros seres humanos. Conseguia falar normalmente com meu gato. Conseguia falar normalmente quando estava sozinho. Conseguia recitar um poema. Mas, ao telefone, mal conseguia formular uma frase inteligível. Eu tinha algum estranho tipo de laringite social. Em resumo: doido. Insanidade é sempre um diagnóstico razoável quando você está lidando com escritores e artistas. Às vezes, a única diferença real entre pessoas loucas e artistas é que estes escrevem o que imaginam estar vendo. Nas últimas décadas, dificilmente passava uma semana sem que um leitor do meu blog questionasse minha saúde mental. Entendo isso; eu também leio o que escrevo. A parte racional do meu cérebro sabe que, se um número significativo de pessoas sugere que posso estar louco, preciso considerar essa possibilidade. Carrego também alguma loucura em meus genes. O pai da minha mãe passou algum tempo no hospício, ou qualquer que fosse o nome naquela época. Se bem me lembro, ele foi tratado com eletrochoques. Aparentemente eles não funcionaram, porque, mais tarde, minha mãe e minha avó o abandonaram para sempre, levando nada mais que as roupas do corpo, enquanto ele as perseguia pela estrada com um objeto sem corte nas mãos e, aparentemente, homicídio na cabeça. Assim, eu não descartaria a possibilidade de ter herdado o que quer que tenha feito o vovô pirar. Viver como uma pessoa presumivelmente louca era difícil. Quando tentava falar com seres humanos, minhas cordas vocais se fixavam involuntariamente em algumas consoantes, dando a impressão de uma chamada muito ruim de celular, aquela que cai a cada terceira sílaba. Pedir uma Coca Diet em um restaurante se transformava em “…oka iet”. Eu geralmente terminava recebendo um olhar de simpatia e uma Coca-Cola normal. Ou, pior, o atendente dizia: “Eu estou bem. Obrigado por perguntar”. E nada de bebida. Isso era um problema confuso e enlouquecedor. Eu conseguia cantar fluentemente, embora de forma horrível, o que era bem

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normal para mim. E conseguia, sem muita dificuldade, recitar obras memorizadas. Mas não conseguia produzir uma frase normal e compreensível no contexto de uma conversa. Como um gago, aprendi a evitar sílabas problemáticas que iriam me fazer tropeçar. Se quisesse chiclete, eu sabia que ia sair como “quete”, então, em vez disso, tentava uma solução alternativa, como “quero aquela coisa que se mastiga”. Esse método geralmente falhava. As pessoas não esperam enigmas nas conversas informais, e, independentemente da clareza com que eu definisse as pistas, tudo o que recebia em troca era uma expressão perplexa e um “hein?”. Perder a capacidade de falar é, obviamente, um pesadelo social. é tão surreal que você se sente como um fantasma em uma sala lotada. Literalmente, é a sensação de fantasma mesmo, ou pelo menos como se imagina que seja. A solidão era debilitante. Pesquisas mostram que a solidão afeta o corpo de forma muito parecida com o envelhecimento.1 Com certeza era mesmo assim. Todos os dias me sentia em uma luta perdida. Aprendi que não se cura solidão ouvindo outras pessoas falarem. Você só consegue curá-la com sua própria fala e — mais importante — sendo ouvido. Pelos três anos e meio seguintes, experimentei uma total desconexão da vida normal e um profundo sentimento de solidão, não obstante o amor e o apoio da família e dos amigos. Minha qualidade de vida estava mergulhando abaixo do ponto de valer a pena o esforço. Nos primeiros meses vivenciando meus problemas de voz, tinha um problema mais imediato do que a minha solidão. Além de ser um cartunista sindicalizado com Dilbert, era um palestrante profissional muito bem remunerado, e tinha um evento agendado para dali 1

CYRANOWSKI, J. M. et al. Assessing Social Support, Companionship, and Distress: National Institute of Health (NIH) Toolbox Adult Social Relationship Scales. Health Psychology 32, n. 3 (2013), p. 293-301; SHIOVITZ-EZRA, Sharon & LEITSCH, Sara A. The Role of Social Relationships in Predicting Loneliness: The National Social Life, Health, and Aging Project. Social Work research 34, n. 3 (2010), p. 157-67.

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a algumas semanas, o primeiro desde que perdera minha habilidade de falar. Era impossível prever se a minha voz funcionaria com meu discurso enlatado da mesma forma que funcionava quando cantava ou repetia um poema. Será que minhas cordas vocais se fechariam no palco e ficariam desse jeito? Será que ficaria na frente de milhares de pessoas emitindo sons incompreensíveis? Informei o meu cliente por e-mail sobre a situação e dei à sua organização a oportunidade de cancelar o evento. Porém, eles decidiram seguir em frente e assumir o risco. Concordei em aproveitar a chance também. Felizmente para mim, não sinto constrangimento da mesma forma que as pessoas comuns, assunto que discutirei em um próximo capítulo. A perspectiva de humilhação na frente de milhares de estranhos, muitos dos quais provavelmente estariam gravando em vídeo o desastre, não era um problema tão sério como se poderia pensar. Para mim, valeu a pena o risco, porque eu precisava saber o que aconteceria com a minha voz nessa situação. Eu precisava determinar o padrão. Será que minha voz funcionaria se eu mantivesse minha rotina de apresentar um texto na maior parte memorizado à frente da plateia enorme? Só havia uma maneira de descobrir.

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