Como nasce a poesia

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Fรกtima Gabriel

Como nasce a Poesia

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

Sรฃo Paulo, 2014

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Copyright © 2014 by Fátima Gabriel Coordenação Editorial Diagramação Capa Preparação Revisão

Nair Ferraz Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Monalisa Morato Equipe Novo Século Cristiane Toledo

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no- 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gabriel, Fátima Como nasce a poesia / Fátima Gabriel – 1-a ed. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. 1. Poesia brasileira I. Título. 14-07387

cdd-869.91 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11-o andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SP Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br

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Agradecimentos

QUEM inventou esse tópico foi muito sábio porque ninguém produz nada sozinho. Nada é único, somos parte de um todo, um contexto celular onde cada um representa um importante e fundamental papel em função do outro e assim todos se complementam. Portanto, o meu primeiro agradecimento é à própria Natureza que me provê de condições para captar, redigir, formatar e consolidar esse trabalho, aliado à minha experiência de vida. À chamada Inspiração, que me surpreende com a oportunidade de uma nova trajetória. Agradeço a meu esposo, filhos e todos os meus amigos e familiares que vêm injetando-me doses de incentivo a esse nobre trabalho. Em especial aos meus pais Lázaro e Maria (in memorian) que me deram a oportunidade de nascer, viver, estudar e me mostraram o legado da humildade de alma. A minha queridíssima irmã Dirce (in memorian), que se aqui estivesse, sem sombra de dúvida, seria a minha maior incentivadora. Abro um apêndice para contar uma passagem em que ela certa vez me disse que se pudesse escolher quem seria, ela gostaria de ser eu. Aquela colocação me emocionou e me surpreendeu muito e só veio a consolidar ainda mais o nosso intenso amor. Percebi que também gostaria de ser como ela: amiga, simples, direta,

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também buscava o sentido da vida. Acho que o que ela admirava em mim era o arrojo por desbravar minhas próprias fronteiras. Agradeço aos Inconscientes Protagonistas do Acaso porque participam inconscientemente desse livro sendo as minhas fontes de inspiração e que nem minimamente imaginam que estão me ajudando a compor esse livro. São como caricaturas poéticas, delas são extraídas as mais diversas e inimaginadas poesias...

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“Ambiciono que o idioma em que eu te falo possam todas as línguas decliná-lo possam todos os homens compreendê-lo.” (Augusto dos Anjos)

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Introdução

COMECEI a escrever esse meu primeiro livro no dia 7 de Junho de 2012 porque até o dia 15 de maio de 2012 julgava-me um ser comum, com estilo de vida mediano. Alguém que acorda cedo e sai para o trabalho no intuito de continuar ganhando dinheiro para pagar as contas – importantes essas referências de data já que somos subjugados pelo tempo e também para melhor entendimento do que começou a ocorrer comigo e a evolução dos fatos. Casada, mãe de um casal de filhos maravilhosos, formada, aposentada e com sonhos também medianos de ter mais tempo na vida para poder curtir melhor o mundo e a mim mesma. Viajar e viajar. Um roteiro comum, não fosse o fato surpreendente que começou a ocorrer comigo no dia 16 de maio daquele ano, se desenrolou de modo intrigante e que aqui passo a descrever e a chamar de “Processo” sendo esse, portanto, um dos propósitos deste livro. Resolvi divulgar todo esse trabalho porque certamente há pessoas espalhadas pelo nosso imenso planeta aguardando por absorver esse conteúdo e, como não há coincidências, você, meu caro leitor, é uma delas. Posso praticamente afirmar que, como escritora iniciante, estou totalmente desprovida de ego porque nunca havia pensado em escrever um livro. No entanto, minha sensibilidade aponta 13

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que estou contribuindo para levar o meu melhor para a humanidade. Tenho a certeza de que o querido e respeitado leitor se encantará com o que vem ... Segundo Heráclito1, “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, o que significa que tudo o que existe está em constante mudança e transformação, nem o rio e nem nós seremos os mesmos depois desse encontro.

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Heráclito, filósofo pré-socrático originário de Éfeso, viveu aproximadamente entre 540 e 480 anos A.C.

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Um pouco da autora

NÃO pretendo desenrolar aqui um corolário da minha trajetória, sabedora de que de certo modo ela é muito importante somente para mim mesma, visto que a cada ser vivente cabe a incumbência de carregar a sua com responsabilidade e lhe atribuir a devida importância. Portanto, essa abordagem é para que o querido Leitor possa conhecer um pouquinho do meu contexto pessoal e criarmos uma identidade e proximidade. Utilizarei sempre a denominação Leitor mas, por óbvio, estarei me referindo a ambos: leitor e leitora. Talvez a minha formação em Letras esteja contribuindo para esse Processo, até porque, o que mais fiz em minha vida foi trabalhar, ler e ler, sempre muito preocupada em acertar. Na época em que cursava a faculdade, nos idos de 1978, já trabalhava em empresa o dia todo, levantava muito cedo e chegava à casa beirando meia-noite feito um robô que cumpre rigorosamente a sua rotina, com o estômago vazio mas sem vontade de comer porque o cansaço e o sono eram maiores do que a fome – roteiro comum da massa trabalhadora. Engolia um arroz com feijão e um bifinho seco e frio na panela, as outras misturas já haviam sido devoradas e só sobrava aquele amontoado de pratos sujos na pia, cujo cheiro de tempero passado e cascas de laranja, a única opção de sobremesa, impregnavam-me o nariz, pudim de leite, só aos domingos. 15

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Mamãe era exímia na limpeza, penso que, dessa forma, ela conseguia demonstrar um carinho que se camuflava na insegurança de ter que criar sete filhos pequenos, sem a mínima condição, além do que, infelizmente não pôde estudar e guardava um sério complexo por isso. O seu entendimento do mundo limitava-se à interpretação daquilo que os olhos viam e os ouvidos escutavam e decodificavam erroneamente. Sendo assim as pronúncias saiam bem distorcidas aliadas ao sotaque interiorano. Mamãe era limpa e fina, falava baixo, gestos contidos, passos moderados, comia pouco, não tinha mau-hálito, magra e vaidosa; jamais ofendeu alguém, chamava a nossa atenção quando ríamos e falávamos alto. Ela costurava nossas roupas com uma máquina Vigoreli ou Singer – já nem me lembro –, e reaproveitava todos os retalhinhos para fazer aquelas colchas de retalhos, tipo patchwork. Às vezes interrompia esse trabalho e fazia uns bolinhos de chuva de colher que eram o máximo. Acho que dela herdei o vício de tomar café. Um dia pedi para ela costurar uma peça de roupa e a minha irmã Dirce esperou que ficássemos a sós e me disse: “Fátima, ela não consegue mais costurar, a mamãe envelheceu!” Naquele momento percebi que o tempo havia passado e eu não me dera conta, sempre atolada com o trabalho e os estudos. Todos os dias ela reclamava de uma dorzinha de cabeça, mas se resolvia com seus chás caseiros. Que saudades, Mamãe... Quantos abraços e beijos me privei de te dar em nome de um respeito imposto aos mais velhos ou por falta desse hábito. Hoje, com certeza, te sufocaria de carinho. Penso que tenho o direito de registrar aqui uma frase que nunca te falei, pelo menos olhando nos teus olhos e te segurando as mãos: “Mamãe, EU TE AMO! e, por favor, ME PERDOA.” O que fiz por ti foi a milionésima parte do que recebi...

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Poesia

DEFINIÇÃO: [Do gr. poíesis, ‘ação de fazer algo’, pelo lat. poese, + -ia1.] Substantivo feminino. 1. Arte de escrever em verso. 2. Composição poética de pequena extensão. 3. Entusiasmo criador; inspiração. 4. Aquilo que desperta o sentimento do belo. 5. O que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas. 6. Encanto, graça, atrativo. (Fonte: Dicionário Aurélio)

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Modo de uso

“POESIA é remédio balsâmico, revigora a alma e recupera o ânimo” Esta é uma leitura transcendental pode ser lida pelas manhãs às tardes às noites nas madrugadas a qualquer momento com uma ressalva... sem perturbação estar com as ideias alvas fora do metrô em momentos de reflexão E com a mente retrô Dirigindo jamais para não confundir os pedais Aviso Importante! 19

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Corres o risco de te desligar a ponto de hibernar nas delícias desta obra onde tudo é pontual nada sobra desde o início até o final Se sentires uma leve tontura é natural sinal de que tua alma é pura.

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Quisera

Quisera entender a vida! súdito de suas estradas ébrio de suas avenidas mendigo de suas esquinas encoberto de suas verdades despidas aprendiz das lições ferinas Quisera desnudá-la com toda a calma degustá-la com as minhas mãos, olhos, lábios e alma preenchê-la com os meus desejos vãos reescrever os seus desígnios cruéis para o meu deleite com meus suaves pincéis Quisera....

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Posologia

Poesias recomendo que as leiam todos os dias por que não dizer todas as horas homens crianças senhoras Não são alopáticas nem homeopáticas ao contrário de qualquer remédio as Poesias desfazem o tédio seu único efeito colateral a observar é a possibilidade de por elas se apaixonar.

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Minha alma se situa

Minha alma se situa bem ao lado da sua ora nas estradas ora nas ruas ora assentada ora na Lua ora encoberta ora nua ora madura ora crua ora agrava ora atenua ora desbrava ora recua ora recolhe ora atua É assim  que minha alma se situa... e alternadamente com a tua ela compactua. 23

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À mãe que já se foi

Feliz de quem ainda a tem saudades de te pertencer hoje sem ti pareço não pertencer a ninguém Longe de ti já me contento com um vintém... Nada me conforta tanto como foram os teus abraços em minhas horas de pranto Hoje tento ser pros meus filhos o que para mim fostes e ainda és mas nem que caminhasse sobre trilhos chegaria eu próxima dos teus pés Neste teu dia aqui prostrada sem mesmo poder te tocar tendo que prosseguir minha estrada enquanto são todos teus o Céu e o Luar. 24

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Era a evidente síndrome da luta de um casal sem eira e nem beira, cujos filhos nasciam por teimosia um atrás do outro, sem a mínima sombra de programação – imaginem as condições daquela época. Meu pai trabalhou na roça e mais tarde como carpinteiro. Seu instinto de defesa traduzia-se numa certa brutalidade sagitariana que, por glória, se manifestava numa compulsão pelo trabalho e excesso de humildade e respeito. Tento pensar o que se passava na sua imaginação e então visualizo um pássaro que sai à caça de alimento deixando o ninho cheio de passarinhos com aqueles biquinhos famintos apontados para o céu, como que rezando para que aquele fosse mais um dia de sorte. Para meu pai, a saga também não foi nada fácil, era como arrebanhar permanentemente as ovelhas para que nenhuma se desviasse do rumo e, felizmente, assim foi. Em 1960, influenciado pelos seus irmãos, papai resolveu sair com toda a família de Fernandópolis, nossa cidade natal, para a capital de São Paulo, num caminhão tipo “pau de arara”, com três filhos e quatro filhas numa escala de 5 a 20 anos, uma carga-viva, sem nota fiscal e destino incerto. Eu era a mais nova; eles carinhosamente me chamavam de Timinha, sufixo do diminutivo de Fátima, ou então, Pipoca, porque eu era muito branquela e sardenta. Papai nos deixou um grande legado com sua bandeira da coragem e dignidade, principalmente para meus irmãos e irmãs, que com muito carinho foram me criando com alguns privilégios de ser a caçula da família. Peguei a “rabeira”, por assim dizer. Consegui estudar, mas não escapei de trabalhar, felizmente, porque... “...trabalhando, o mundo se apresenta.” Assim como a teimosia por viver, insisti em me formar, ainda que sem a mínima condição. Mas no meu íntimo prevalecia o 25

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ânimo de ser alguém na vida e, inconscientemente, o que eu queria mesmo era mudar os capítulos daquela história surreal, trazendo melhores condições para todos, principalmente para os meus pais. Preenchendo uma característica taurina, havia também uma necessidade intrínseca de reconhecimento do meu potencial, que pulsava como uma bomba atômica, mas que parecia nunca chegar o momento de explodir. Por conta das necessidades financeiras que vivemos, o meu ingênuo instinto de pré-adolescente levou-me a buscar salvação na carreira profissional. Entrei, então, numa bolha onde só enxergava o futuro no intuito de angariar esse crescimento profissional e material. Formei-me no curso de Letras, que nos socava livros em finais de semana. Hoje lembro-me de que por vezes passava os olhos naquele amontoado de letras, mas não estava lendo, estava cumprindo uma obrigação com um misto de cansaço e responsabilidade. Li o King Lear de Shakespeare, em inglês. Essa passagem me faz retomar à infância, lá pelos seis anos de idade, naquela família de sete filhos onde, um dos meus irmãos, o mais paciente, soletrava as palavras e me ensinava a ler aquelas letras do disco em espanhol. Assim, por volta dos cinco anos, comecei a ler... Aquilo ficou em minha memória, como aquele nostálgico som do rádio. Feliz de quem se lembra... Ainda não havia televisão, as pessoas conversavam e a luz tênue nos convidava a dormir bem cedo. Acho que esse hábito saudável contribuiu também para que meus pais beirassem os noventa anos sem grandes problemas de saúde. A natureza é muito sábia e, por sorte, minha intuição da época em que cursava Letras falou mais alto. Aquele curso, apesar de tudo, me ajuda hoje a tentar cumprir talvez a minha verdadeira programação de vida, formando assim, a colcha de retalhos... 26

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