Confronto

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CAPÍTULO 1

Depois de quatro noites na estrada, finalmente eu estava segura, acomodada em uma cama e aproveitando o sono profundo dos mortos... Até que os mortos decidiram que me queriam acordada. Começou com uma risada que atravessou o sono e me acordou. Assim que apoiei os cotovelos na cama, piscando e tentando me lembrar de onde estava, um sussurro preencheu o ambiente e palavras indistinguíveis penetraram em minha mente. Esfreguei os olhos e bocejei. Uma luz esbranquiçada e opaca reluzia através das cortinas. O quarto estava extremamente quieto. Nenhum fantasma, graças a Deus. Havia lidado com fantasmas o suficiente na semana passada para estar satisfeita por uma vida inteira. Um barulho na janela fez com que eu pulasse de susto. Por esses dias, qualquer som de galho arranhando o vidro me lembrava algum zumbi que eu provavelmente tinha invocado da morte, tentando me alcançar. Fui até a janela e abri as cortinas. Estava quase amanhecendo quando tínhamos chegado à casa, então eu sabia que deveria ser pelo menos umas dez da manhã. Entretanto, a neblina lá fora estava tão densa que eu não conseguia ver nada. Aproximei o rosto da janela, pressionando o nariz contra o vidro gelado. Um inseto se espatifou na janela e eu dei um pulo para trás. Uma risada soou atrás de mim. Eu me virei para olhar, mas Tori ainda estava na cama, murmurando em seu sono profundo. Ela havia jogado as cobertas para longe e estava encolhida no canto da cama, com os cabelos escuros arrepiados e espalhados pelo travesseiro.


Outra risada eclodiu atrás de mim. Definitivamente era a risada de um garoto. Mas não havia ninguém. Não, mentira. Na verdade, eu apenas não conseguia ver ninguém ali. Mas, para uma necromante, isso não queria dizer que não havia de fato alguém por lá. Forcei a vista, tentando enxergar qualquer sombra de um fantasma, quando vi à minha esquerda o lampejo de uma mão, que desapareceu antes que eu pudesse ver o resto. – Procurando por alguém, pequena necromante? Eu me virei rapidamente e perguntei: – Quem está aí? Uma risadinha cínica me respondeu, o tipo de risada que toda garota de quinze anos já tinha ouvido milhares de vezes dos garotos arrogantes. – Se quiser falar comigo, pare de se esconder – eu disse. – Falar com você? – ele disse, com uma voz prepotente de estrela do time de futebol da escola. – Acho que é você quem quer falar comigo. Bufei e voltei para a cama. – Não? – Sua voz deslizou ao meu redor. – Hum. Pensei que estivesse interessada em saber mais sobre o Grupo Edison, os experimentos Genesis, Dr. Davidoff... Parei imediatamente. Ele riu e comentou: – Foi exatamente o que pensei. Nós quatro – Tori, Derek, Simon e eu – estávamos fugindo do Grupo Edison depois que descobrimos que éramos cobaias do Projeto Genesis, um experimento que modificava geneticamente os superdotados. Minha tia Lauren fora uma das doutoras envolvidas no projeto, mas ela traiu seus colegas ajudando-nos a escapar. Agora ela estava aprisionada. Ou pelo menos era o que eu acreditava. Na noite passada, quando o Grupo Edison estava nos rastreando, um fantasma tentou me ajudar... E ele se parecia muito com a minha tia Lauren. Estávamos supostamente em uma casa segura, mantida pelos membros que se opunham ao grupo e a seus experimentos. Agora, um

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fantasma de um adolescente aparecia, dizendo saber sobre o projeto? Não deveria bani-lo, por mais tentador que isso fosse. – Deixe-me ver você – ordenei. – Que necromante mandona, não? – Sua voz ecoou ao meu redor. – Você só quer ver se eu sou tão gostoso quanto minha voz. Fechei os olhos, imaginando vagamente uma figura masculina, e dei um puxão mental. Ele começou a se materializar. Um rapaz de cabelos escuros, com dezesseis ou dezessete anos, nada especial, mas com um sorriso convencido, como se ele achasse que era muita coisa. Ainda conseguia ver através dele, como se fosse um holograma. Então fechei os olhos e dei outro puxão. – Sei, sei – ele disse. – Se quiser mais, precisamos nos conhecer melhor. Ele desapareceu novamente. – O que você quer? – eu perguntei. Ele sussurrou em meu ouvido: – Como eu disse, quero conhecer você melhor. Não aqui, claro. Vamos acordar sua amiga. Ela é bonitinha, mas não é meu tipo. – Sua voz se moveu em direção à porta. – Sei de um lugar onde podemos ter uma conversinha em particular. Sim, claro. Será que ele achava que eu tinha começado a falar com fantasmas ontem? Bom, era quase isso – na verdade, fazia duas semanas. Mas eu já tinha visto o suficiente para saber que enquanto alguns fantasmas queriam ajudar ou apenas conversar, havia outros que preferiam causar problemas, só para agitar um pouco a vida espiritual. Aquele com certeza se encaixava nessa última categoria. Ainda assim, talvez ele fosse outra cobaia do Grupo Edison, alguém que havia morrido naquela casa. Eu precisava descobrir o que tinha acontecido com ele. Mas queria alguma segurança. Tori não tinha nenhuma experiência com fantasmas e, ainda que estivéssemos nos conhecendo melhor, ela ainda não era o tipo de pessoa em quem confiaria para me ajudar. Então segui o fantasma até o corredor, mas parei em frente à porta de Simon e Derek.

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– Sei, sei – ele disse. – Você não precisa trazer um garoto junto. – Eles gostariam de falar com você também. – Aumentei minha voz, rezando para que Derek me ouvisse. Ele normalmente acordava com o menor sussurro, graças à sua audição aguçada de lobisomem. Mas tudo o que consegui escutar, entretanto, foi o ronco de Simon. Não havia ninguém no andar de cima. Andrew, o cara que tinha nos trazido até lá, ocupava o quarto do andar de baixo. – Vamos logo, garota necro. É uma oferta por tempo limitado. Você sabe que ele está tramando alguma coisa, Chloe. Sim, mas eu também precisava saber se estávamos em perigo naquele lugar. Por isso, decidi prosseguir com extrema cautela. A voz do meu subconsciente não argumentou, o que eu interpretei como um bom sinal. Comecei a andar. Fomos direto para a cama depois que chegamos aqui, então sequer houve tempo para fazer um tour pela nossa nova casa. Só sabia que era enorme, de estilo vitoriano, vinda diretamente de algum filme de terror gótico. Enquanto seguia a voz pelo corredor, tive a sensação estranha de realmente estar em um daqueles filmes, atravessando um corredor infinito, passando por diversas portas fechadas até finalmente alcançar a escadaria que levava ao andar superior. Pelo que pude ver da casa quando nos aproximamos de carro, sabia que havia três andares. Os quartos estavam no segundo e Andrew havia dito que o terceiro era o sótão. Então, o fantasma estava me guiando para o escuro e assustador sótão? Eu não era a única que tinha visto filmes de terror demais. Eu o segui até a escada. Ao chegar ao topo, havia duas portas. Parei. Uma mão apareceu através da porta que estava à minha frente, fazendo um sinal para que eu abrisse. Levei um segundo para me preparar. Mesmo estando escuro, não podia deixar que ele percebesse meu medo. Quando me senti pronta, segurei a maçaneta e...

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Estava trancada. Era uma daquelas maçanetas que apenas são abertas pelo lado de fora. Então virei o trinco e ela se destravou facilmente. Outra respiração profunda, outro segundo para a preparação mental. Hesitei por mais um instante e em seguida entrei... Uma rajada de ar frio me jogou para trás. Eu pisquei. Em minha frente, a neblina tomava o horizonte. Um trinco para o lado de fora em uma porta para o sótão, Chloe? Não, eu estava no telhado.

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