Guerra das raças - a caça aos desertores

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Daniel Jahchan

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

S ã o P au l o , 2 0 1 6


Guerra das raças - a caça aos desertores

Copyright © 2016 by Daniel Jahchan Copyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda.

aquisições

Cleber Vasconcelos

produção editorial

revisão

SSegovia Editorial

Andrea Bassoto Paulo Franco

diagramação

Claudio Tito Braghini Junior

imagem da capa

Preparação Tamires Cianci

montagem da capa

Rafael Pen Dimitry Uziel

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Jahchan, Daniel Guerra das raças : a caça aos desertores / Daniel Jahchan. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2016. (Coleção Talentos da literatura brasileira) 1. 1. Ficção brasileira I. Título 16-0660

cdd-869.3

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção brasileira 869.3

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br


D e d i c a tó r ia Dedico este livro a todos aqueles que, assim como eu, buscam na fantasia um escape da realidade. Dedico a todos que concordam que os personagens maldosos, ou corruptos, nunca deviam ter saído dos livros. Este livro é dedicado a você, querido leitor.

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A g ra d e c i m e n t o s Diversas pessoas foram essenciais durante a produção deste livro e colaboraram de alguma forma. A elas devo meu agradecimento, mas aqui irei ressaltar algumas. Gabriela, Matheus, Gabriel e Gustavo, vocês foram os meus primeiros leitores. Vocês me incentivaram a publicar. Se este livro está nas mãos de alguém hoje, saibam que os principais responsáveis são vocês. Eu devo muito a cada um de vocês. Eu não poderia também deixar de destacar o meu pai, Alexandre, que se animou muito quando soube que eu iria lançar um livro. Tenho que agradecer também à minha avó, Yolanda, que, sem dúvida, é a melhor pessoa deste mundo. Mas dentre todos os agradecimentos, entre tantas pessoas especiais, existe uma que é a mais especial: minha mãe, Franceli, a responsável por hoje eu ser quem sou. Eu te amo mais do que tudo, mãe.

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Te rra s Vi rg e n s

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P ró l o g o

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ão tempos difíceis. O mundo está afundado em uma guerra. Quase seis séculos se passaram desde o seu início, mas parece não haver nada que indique que as batalhas caminham para um fim. Seres de todas as raças nascem predestinados a viverem a guerra até que ela arranque suas vidas. Tanto tempo se passou que alguns nem se lembram do motivo pelo qual estão lutando. Muitos morrem pela honra, mas sem saberem ao certo o que estão honrando. Anões, humanos, elfos e orcs, não existem diferenças na guerra; só existem dois lados: daemon e angeli. E tudo o que importa na guerra é de que lado você luta. Os daemon são criaturas horríveis e, em alguns casos, é difícil até de entender o que dizem. Não têm uma forma definida, ou seja, podem se parecer com anões, humanos e até mesmo com animais. Além disso, podem ser diferenciados pelas grandes armaduras negras que protegem seus corpos e pelos olhos vermelhos que parecem estar sempre sangrando. Dizem que os daemon vieram do próprio inferno. Qualquer um que encontrasse um não iria perguntar o porquê. O único momento em que um daemon parecia estar satisfeito era quando lhe aparecia a oportunidade de matar alguém. Em geral, os daemon eram apoiados por anões, orcs e alguns humanos. Mas a maldade também pode ser encontrada na flor mais bela e a prova disso estava no lado oposto, os angeli. Criaturas aparentemente divinas, era raro encontrar tanta delicadeza e beleza em um ser. 9


Em geral, tinham forma de humanos ou elfos, com olhos bem claros como joias. Assim como os daemon, os mais poderosos tinham habilidades sobrenaturais, como telecinese e telepatia. Diferentemente dos daemon, sabiam falar diversas línguas e esbanjavam tamanha cortesia que chegavam a surpreender até mesmo os elfos das mais nobres linhagens. No entanto, tinham a mesma sede por sangue que os daemon. Só que eram mais espertos, pois, antes de matar, sempre torturavam o inimigo para obter dele alguma informação. Os angeli tinham ao seu lado os elfos e a maioria dos humanos. Apesar de tantas diferenças e de quase seis séculos lutando uns contra os outros, os angeli e os daemon já foram aliados e juntos protagonizaram a maior guerra de todos os tempos. Foi nessa guerra que tudo mudou. Depois dela, a Ordem Igualitária das Raças passou a ser chamada apenas de Velha Ordem. A Ordem Igualitária das Raças era o sistema pré-guerra moldado pelos donmen e que tinha como principais características a igualdade e a prosperidade para todas as raças. Os donmen eram portadores de um poder sobrenatural incrível; eram até mais poderosos que os daemon e os angeli, e tinham uma filosofia altruísta. Sempre queriam ajudar. Muitos se referiam aos donmen como sábios ou até como presentes de luz, pois eles sempre esclareciam as coisas. A diplomacia dos donmen, com muito sacrifício, promoveu a paz e a cooperação entre as raças nesse período. Já fazia muito tempo que os donmen não eram vistos e, por isso, dizia-se que haviam sido extintos pelos daemon e pelos angeli na guerra que dera fim à Velha Ordem. Mas também existia quem acreditasse que todos os donmen haviam fugido para as chamadas Terras Virgens e que lá estariam montando um poderoso exército para surpreender os daemon e os angeli. Assim, libertariam todas as raças e trariam a harmonia de volta ao mundo. Porém, depois de quase seis séculos, essa história ia perdendo a credibilidade e se tornando cada vez mais uma mera oração. No en10


tanto, por todas as raças, os donmen eram sempre lembrados em canções que homenageavam os “Dias Felizes” ou “Dias Iluminados” referentes à Velha Ordem. As Terras Virgens, de fato, existiam e quase seiscentos anos de guerra não tinham sido o suficiente para preencher o mundo todo com batalhas. “Virgens” é uma referência ao fato de que essas terras ainda não haviam sido tocadas pela guerra e, para muitos, chegar até elas era sinônimo de esperança. Entretanto, para alcançar o paraíso, o mais difícil não era fugir da guerra, mas sim o caminho até ele, que era muito árduo, pois não havia nenhum mapa para servir de guia. A fome, a sede e o calor escaldante de um enorme deserto, conhecido como Deserto dos Ossos, estava à espera de quem se arriscasse. Esta história começa no paraíso, longe, muito longe da guerra.

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T E R R A S V I R GE N S “Os fortes atravessavam o deserto, mas para ser digno do paraíso não basta apenas força...”

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queles que conseguissem atravessar o Deserto dos Ossos seriam recompensados com a visão da mais verde floresta, conhecida como Floresta Virgem, indicando que, finalmente, teriam alcançado seu objetivo: haviam chegado às Terras Virgens. Era inimaginável que em meio a uma guerra de quase seis séculos, poderiam existir terras em tão perfeitas condições, com o verde da grama intocado, o canto dos pássaros e o cheiro da natureza. Isso tudo era algo inédito para quem até então só tinha pisado em terras mortas, acordado apenas com o bater de espadas e sentido somente o odor de corpos se decompondo. Viam-se animais por todo o verde da floresta, só que, para a decepção de quem chegasse até ali, nenhum sinal de vida inteligente era detectado. Os inteligentes, de fato, não ficariam na divisa entre a Floresta Virgem e o Deserto dos Ossos. Não era raro que alguns daemon contornassem os arredores em busca de um desertor, o qual pagava com a própria vida por ter abandonado a guerra. Depois de ter atravessado um inferno de areia para salvar a própria pele, morrer no paraíso era deplorável. Os fortes atravessavam o deserto, mas, para 12


ser digno do paraíso, não bastava apenas ter força; os menos dotados de inteligência poderiam muito bem informar onde os desertores estavam escondidos, por isso a morte destes na fronteira não era lamentada pelos outros. Após atravessar o grande deserto, algo devia ser estudado com muita delicadeza: os locais onde os desertores poderiam se esconder. Sozinhos, eram fracos e incapazes de se defenderem caso fossem capturados e, por isso, viviam em grupos, o que tornaria mais fácil a divisão de tarefas e a formação de pequenos exércitos. Todas as opções de esconderijo deviam ser analisadas friamente, pois uma decisão precipitada poderia custar a própria vida. Muitos já haviam morrido por terem sido impulsivos no momento de decidir onde iriam viver. A Floresta Virgem era muito vasta e uma fonte magnífica de madeira e de água. Alguns pensavam que adentrar a floresta seria o suficiente, mas, de fato, não era. Quando se fazia uma fogueira, a fumaça e o cheiro de lenha queimada indicavam a localização dos fugitivos. Além do mais, a floresta não era o melhor lugar para se travar uma batalha, porque muitos daemon adquiriam a forma de animais e se movimentavam muito bem ali, algo que conferia grande vantagem aos demônios caso uma batalha acontecesse. Alguns grupos tomavam a não tão sábia decisão de viverem como “nômades” na floresta, nunca permanecendo no mesmo local por muito tempo. Assim, podiam desfrutar da água e da madeira da floresta, mas essas coisas, apesar de essenciais, eram provavelmente as únicas vantagens. Mover um grupo pequeno de pessoas já não era algo tão simples como caminhar sozinho e os menores grupos tinham pelo menos cinquenta membros; então, andar pela floresta era demasiadamente lento e, muitas vezes, algumas pessoas se perdiam do restante do grupo. Assim, havia novamente o risco de serem capturados. Uma boa opção estava mais além: onde algumas montanhas se erguiam, parecendo cutucar o céu com suas extremidades pontudas. 13


Entre as duas maiores montanhas, existia um grande Vale que era uma ótima opção de local para se viver. O acesso à água era fácil e as fogueiras poderiam ser acesas sem preocupação, pois a fumaça seria coberta pelas montanhas para quem visse da floresta. Foi nesse Vale e além dele, ao norte das montanhas, que se ergueram os únicos grupos que conseguiram crescer e prosperar.

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O VA L E “... as crianças nascidas no Vale já não viam a diferença entre as raças...”

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grupo que mais se estruturou e cresceu foi o que escolheu viver entre as duas grandes montanhas. Ele era diferente dos demais por aceitar que seres de todas as raças vivessem ali. Para que isso fosse possível, era essencial que as rivalidades da guerra fossem superadas, afinal, no campo de batalha, elfos e anões tornaram-se inimigos naturais, assim como humanos e orcs. Para que tudo ocorresse bem, as diferenças deviam ser deixadas de lado e a cooperação era essencial. Esse grupo que vivia entre as montanhas se tornou mais populoso que qualquer outro das Terras Virgens. Devido à sua posição geográfica, o vilarejo que se ergueu ali entre as montanhas passou a ser chamado pelos seus moradores de “Grande Vale” ou de “Vale” apenas. O Vale era visto como a oportunidade de um recomeço. Era um dos poucos lugares daquele mundo onde era possível ver crianças correndo, divertindo-se e aprendendo sobre agricultura, em vez de estarem sendo treinadas para matar ou morrer. Após muitas brigas internas, principalmente devido à rivalidade entre raças, a comunidade do Vale começou a prosperar. Com o tempo, conforme as diferenças foram sendo deixadas de lado, a miscigenação foi se tornando mais fre15


quente e as crianças que nasciam e cresciam no Vale já não viam a desigualdade entre as raças. Aos olhos delas, os outros eram semelhantes. Muito trabalho duro foi necessário para que as coisas caminhassem bem e, após inúmeras discussões, foi elaborado um sistema de trabalho que pareceu o mais conveniente, composto por quatro setores: educativo, defensor, alimentício e médico. O setor educativo foi considerado o mais importante, pois era dele que dependia o futuro do Vale. Era o setor que fornecia a base para que as crianças pudessem escolher o setor no qual trabalhariam quando fizessem 15 anos. Antes disso, ao completarem 14 anos, os jovens passavam três meses em cada setor para adquirir uma visão prática do que escolheriam. O setor de defesa (defensivo) era o responsável pela segurança daqueles que viviam no Vale; era onde ficavam os guerreiros. Era um dos dois setores que fazia um teste com os jovens antes da admissão. Os guerreiros e os médicos eram os únicos que iam além das montanhas. Sendo assim, só eles, e alguns poucos médicos, tinham contato com a floresta. Nesse percurso, se, algumas vezes, as coisas não saíssem como planejado, não havia comida ou água. Por isso era necessário que os guerreiros estivessem preparados mental e fisicamente para as eventuais dificuldades que pudessem surgir. O setor alimentício era o responsável pela manutenção da colheita e, provavelmente, o setor mais cheio de todos. A adequada higiene dos alimentos para evitar que doenças se espalhassem fazia parte do trabalho do setor alimentício, assim como o estoque de frutas e vegetais para o inverno. O setor médico tinha como objetivo cuidar da saúde de todos. Assim como no setor de defesa, antes da admissão, os jovens eram testados para verificar ou não suas aptidões para a medicina. Os jovens só se tornavam médicos oficialmente aos dezessete anos, após dois anos de prática como auxiliar. Esse setor era o único que estava presente em todos os outros setores, afinal, todas as pessoas precisavam de cuidados. 16


O Vale tinha seus líderes: um casal que oficialmente o fundou e ajudou a formalizar as regras para a boa convivência das raças. Além dos líderes, havia os conselheiros, que eram ao todo quatro, um de cada setor, eleitos por meio da votação feita em seu devido setor. Graças à sua organização e à cooperação de seus residentes, o vilarejo do Vale existia já fazia quase dezessete anos e oferecia uma oportunidade para aqueles que queriam viver longe da guerra.

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