JANE AUSTEN - UMA VIDA REVELADA

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S茫o Pau l o 2 0 1 4

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Jane Austen – a life revealed Copyright © 2011 by Catherine Reef Copyright © 2014 by Novo Século Editora Ltda. All rights reserved.

Coordenação Editorial Mateus Duque Erthal

Tradução Kátia Hanna

Preparação Silvia Almeida

Diagramação Project Nine

Revisão Lílian Moreira Mendes Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Reef, Catherine Jane Austen : uma vida revelada / Catherine Reef ; [tradução Kátia Hanna]. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. Título original: Jane Austen : a life revealed. 1. Austen, Jane, 1775-1817 - Literatura juvenil 2. Romancistas ingleses - Século 19 - Biografia - Literatura juvenil I. Título. 14-01089 CDD-823.7

Índices para catálogo sistemático: 1. Romancistas : Século 19 : Biografia : Literatura inglesa 823.7 2014 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à Novo Século Editora Ltda. Alameda Araguaia, 2190 — 11º andar Alphaville Industrial, Barueri — SP — CEP 06455-000 Tel. (11) 2321-5080 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Para Jennifer Greene

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Sumário

u m  .   Gentil tia Jane?   13 d oi s  .   Nasce uma romancis ta   27 t r ê s  .   Amores e amarguras   5 7 q u a t r o  .  Desenraizada  81 c i n c o   .   Um des tino ex traordinário  107 s e i s   .   Leve, alegre e animado  12 9 s e t e  .   Vício e vir tude  14 9 oito  .   “Se eu viver para ser velha...”  16 9 n o v e  .  Palavras duradouras  19 3 p o s f á c io  .   Nos s a Jane Aus ten   211

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Família Austen Rebecca Walter

William Austen (1701–1737)

Philadelphia Austen

George Austen

(1730–1792)

(1731–1805)

Tysoe Saul Hancock (1723–1775)

Elizabeth “Eliza” Hancock (1761–1813)

Jean-François Capot de Feuillide

Henry Austen

(ca. 1750–1794)

Hastings de Feuillide (1786–1801)

James Austen

George Austen

Edward Austen Knight

Henry Austen

(1765–1819)

(1766–1838)

(1767–1852)

(1771–1850)

Eliza de Feuillide

Anne Mathew

Mary Lloyd

Elizabeth Bridges

(d. 1795)

(1771–1843)

(1773–1808)

Anna

James Edward

(1793–1872)

(1798–1874)

Caroline (1805–1880)

Fanny (1793–1882) Edward (1794–1879) George Thomas (1795–1867) Henry (1797–1843) William (1798 –1873) Elizabeth (1800–1884) Marianne (1801–1896) Charles Bridges (1803–1867) Louisa (1804 –1889) Cassandra Jane (1806–1842) Brook John (1808–1878)

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Família Leigh Jane Walker

Thomas Leigh (1696 –1763)

(1704 –1768)

Cassandra Leigh

Jane Leigh

James Leigh-Perrot

(1739 –1827)

(1736–1783)

(1735–1817)

Edward Cooper

Jane Cholmeley

(1728–1792)

(1744 –1836)

Jane Cooper

Thomas Williams

(1771–1798)

(ca. 1762–1841) Indica continuidade do ramo

Conexão por matrimônio

Conexão por nascimento

Cassandra Austen (1773–1845)

Francis “Frank” Austen (1774 –1865)

Mary Gibson

Martha Lloyd

(1785–1823)

(1765–1843)

Jane Austen (1775–1817)

Charles Austen (1779–1852)

Frances Palmer Harriet Palmer (1790–1814)

Mary Jane (1807–1836)

Cassandra Esten (1808–1897)

Francis William (1809–1858) Henry Edgar (1811–1854) George (1812–1903)

Harriet Jane (1810–1865) Frances Palmer (1812–1882) Elizabeth (1814)

Cassandra Eliza (1814–1849) Herbert Grey (1815–1888) Elizabeth (1817–1830) Catherine Anne (1818–1877) Edward Thomas (1820–1908) Frances Sophia (1821–1904) Cholmeley (1823–1824)

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Em todo caso, não posso mais considerar as pessoas agradáveis. – Jane Austen, 13 de maio de 1801

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um

G ent i l t i a J ane ? Seja sincero: o que você admirava em mim era a insolência? – Orgulho

e

P r e c o n c e i to

Charlotte Heywood, vinte e dois anos, cresceu saudável, prestativa e atenciosa. Longe de casa pela primeira vez, a jovem aguarda na sala de estar da mansão Sanditon para ser recebida pela anfitriã e duas vezes viúva Lady Denham. O século XIX apenas começou, e, enquanto aguarda, Charlotte pondera. Por que um quadro grande, de corpo inteiro, do segundo marido de Lady Denham está pendurado sobre a lareira? Por outro lado, por que o eminente primeiro marido, Sr. Hollis, o homem que . 13 .

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A maioria dos manuscritos de Jane Austen se perdeu, mas o último romance inacabado é um dos que sobreviveram. Austen lhe deu o título de Os Irmãos, mas após sua morte a família mudou para Sanditon.

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construiu a mansão Sanditon, está representado numa miniatura que caberia na palma da mão de Charlotte? E o que o sobrinho de Lady Denham, Sir Edward, estaria dizendo, naquele exato instante, à pobre Clara Breton? Charlotte entrevira os amantes secretos do lado de fora, mantendo uma conversa particular, ao se aproximar da ampla e elegante mansão Sanditon... Naquele momento, os personagens de Jane Austen foram enfeitiçados. Quando ela soltou a caneta, doente demais para acrescentar outra palavra à história, em 18 de março de 1817, suspendeu o tempo para Charlotte e os outros. Por dois séculos, nenhum relógio fez tiquetaque na mansão de Lady Denham ou na pequena cidade da redondeza; nenhuma partícula de pó caiu no local. Pensativa, Charlotte Heywood aguarda, os olhos pregados no pequenino retrato do Sr. Hollis, sem jamais piscar. Lady Denham permanece congelada no lugar, um pé erguido, posicionada para entrar na sala de espera. Clara e seu pretendente estão sentados lado a lado, imóveis, para sempre. Como Austen teria terminado seu último romance, Sanditon, permanece um mistério, um dos muitos que intrigam os fãs dessa autora tão adorada. Ao redor do mundo, milhões de pessoas leem e apreciam os livros

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Cassandra Austen pintou o único retrato autêntico da irmã. Aqueles que conheceram Jane Austen não a reconhecem nessa mulher séria e circunspecta.

de Austen; ela e seus romances são temas de incontáveis filmes e adaptações. Entretanto, sabe-se muito pouco sobre a mulher em si. Qual a sua aparência? Seus cabelos eram “finos e naturalmente cacheados, nem claros nem escuros”, como se recorda uma de suas muitas sobrinhas, ou eram “cabelos negros, compridos até os joelhos”, como é lembrada por outra? Embora certa vez um sobrinho tenha eleito Austen e a irmã, Cassandra, “duas das mais bonitas moças da Inglaterra”, uma sobrinha escreveu que a escritora não se sentia tão segura “de ser decididamente uma mulher bonita”. Jane Austen morreu antes da invenção da fotografia. A única pintura de Austen que sobreviveu é uma aquarela

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de autoria de Cassandra Austen, mas os que conheciam a autora alegavam que o retrato era pouco condizente com a realidade. Ninguém sabe as opiniões de Jane Austen sobre religião ou política, ou mesmo o que fizera ou pensara por semanas ou meses durante determinados períodos. Cartas e antigos diários podem revelar muito sobre pessoas famosas do passado, mas Austen não deixou nenhum diário. Após sua morte, os parentes destruíram muitas das cartas que a autora escreveu, por razões que podemos apenas supor. Seriam pessoais demais? Poderiam ferir o sentimento de alguém ou revelar uma faceta de Jane Austen que sua família preferia esconder? Pelo fato de seus romances terem sido publicados anonimamente, quando Jane morreu, aos quarenta e um anos, os leitores estavam apenas começando a descobrir que a filha de um pároco do interior – esta modesta solteira – havia escrito Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito e outros romances populares que perscrutavam o coração humano. Sua família a descreveu para o mundo da forma como gostaria que fosse lembrada. “A doçura de seu temperamento nunca falhou. Ela sempre foi amável”, escreveu o sobrinho Edward Austen-Leigh. “Ela mesmo sendo impecável,

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tanto quanto é permitido à natureza humana, sempre buscava, diante da falta dos outros, algo para desculpar, perdoar ou esquecer”, descreveu o irmão Henry. “Acredito que ela nunca tenha dito uma única palavra áspera”, declarou uma das sobrinhas. Nunca? É difícil acreditar que uma criatura tão amável e bondosa tenha escrito linhas como estas: Não quero que as pessoas sejam muito agradáveis, assim fico livre do problema de gostar muito delas. Para que vivemos, se não para divertirmos nossos vizinhos e rirmos deles quando for a nossa vez? A senhorita Allen pertencia à numerosa classe de mulheres cujo único sentimento que conseguiam provocar na sociedade era o espanto de haver no mundo algum homem que pudesse gostar delas o suficiente para desposá-las.

A sagacidade e os comentários cortantes sobre a natureza humana tornam divertida a leitura de seus romances.

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Jane Austen viveu e escreveu quando o século XVIII chegava ao fim e um novo se iniciava. Os romances ainda eram uma forma nova de literatura, popularizada na Inglaterra por escritores como Daniel Defoe e Henry Fielding. Em 1719, Defoe escreveu sobre o sobrevivente de um naufrágio vivendo numa ilha em Robinson Crusoé. Em 1749, Fielding entreteve leitores com as aventuras cômicas e audaciosas de Tom Jones, um jovem forçado a abrir seu próprio caminho no mundo. No início do século XIX, Sir Walter Scott recorre à história para escrever livros emocionantes, como Ivanhoé e Rob Roy, repletos de romance, torneios e assaltos a castelos. Os romances desses autores são ricos em ação. Eles transportam os personagens para locais exóticos, onde escapam, por pouco, de perigos mortais. São retratos pintados em telas de grandes proporções, mas Austen faz seus esboços em “um pouco (cinco centímetros) de marfim”, como expressou a autora, trabalhando “com um pincel muito delicado”. Jane Austen escreveu sobre o tipo de gente que ela conhecia bem, ladies e gentlemen da Inglaterra rural. A trama é confinada ao âmbito da vida familiar, dos círculos de amizades, dos galanteios e casamentos. Seus romances oferecem aos leitores “breves impressões da verdade humana, breves lampejos de uma

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visão inabalável, breves golpes de mestre da imaginação”, declarou o romancista norte-americano Henry James. Jane Austen começou a escrever histórias durante a infância, na residência paroquial do pai. A escritora lapidou seu trabalho, e, em 1811, aos trinta e cinco anos, é publicado seu primeiro romance. Razão e Sensibilidade apresenta uma visão desacreditada de uma sociedade em que o dinheiro tem mais valor do que o caráter e as pessoas fazem o melhor que podem para esconder os seus sentimentos daqueles com quem se relacionam. Razão e Sensibilidade, a exemplo de todos os outros romances de Austen, ocupa-se de mulheres em idade para o casamento e sua busca por um matrimônio feliz com o marido ideal. Entre os romances que se seguiram estão o espirituoso Orgulho e Preconceito, em que a articulada e sem papas na língua Elizabeth Bennet ensina o rico e bonito Fitzwilliam Darcy a superar sua arrogância, enquanto vai aprendendo a amá-lo; Emma, que descreve um ano numa aldeia, durante o qual Emma Woodhouse adquire a maturidade necessária para se casar com o homem certo; e Persuasão, em que a heroína mais velha de Austen ganha uma segunda chance no amor.

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No livro As Aventuras de Robert Drury (1807), de Daniel Defoe, um navio naufraga na costa de madagascar. os leitores da 茅poca de Jane Austen saboreavam hist贸rias de perigo em terras distantes.

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Jane Austen escrevia numa linguagem simples e concentrava-se nos personagens. Os romances revelam um profundo entendimento psicológico de como as pessoas pensam, se comportam e se expressam. Embora ela tenha escrito sobre homens e mulheres do seu próprio tempo e lugar, seus personagens ainda soam verdadeiros, pois a autora capturou a essência da natureza humana.

Keira Knightley e Matthew Macfadyen representam Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy na versão de 2005 de Orgulho e Preconceito. Os dois personagens estão destinados a se apaixonar, apesar do desagrado inicial que sentiram um pelo outro.

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Um leitor do século XXI que inicia a leitura de um romance de Jane Austen entra num mundo distante, onde dinheiro e classe social tornavam alguns melhores do que outros. O tema do casamento quase sempre se resume à questão econômica: para muitas pessoas, escolher o marido certo ou a mulher certa tinha mais a ver com obter um rendimento do que com o amor. As opções para as mulheres eram limitadas. O casamento dava a elas segurança social e financeira, com ou sem amor romântico, mas trazia o fardo das constantes gestações e da criação dos filhos. Uma mulher solteira, sem proventos, tinha pouca liberdade, porque dependia da família para abrigo e sustento. As mulheres qualificadas podiam ensinar ou cuidar dos filhos dos outros, mas ensinar era um trabalho árduo e pouco remunerado, e o trabalho de governanta estava na base da pirâmide social. “Mulheres solteiras possuem uma terrível propensão à pobreza”, escreveu Austen. Jane Austen pertencia a esse mundo e a uma família numerosa, com muitas ramificações. Não recebeu quase nenhuma educação formal e nunca se aventurou fora dos limites de um pequeno condado da Inglaterra. A escritora viveu num pequeno nicho, mas encontrou ali uma rica fonte de inspiração para sua ficção. Reunir personagens

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os ornamentos delicadamente drapeados vistos na antiga arte greco-romana inspiraram a moda graciosa e simples da época de Jane Austen. muitas mulheres optavam por vestidos de musselina, um tecido fino de algodão, dando preferência aos tons claros e pálidos, ao invés das cores escuras e sombrias. os vestidos tinham cintura alta e decote baixo, e as mangas passavam dos cotovelos. Esta ilustração é de uma revista de moda publicada em 1800.

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e assistir a como se misturavam tornou-se “o prazer da minha vida”, declarou. “Três ou quatro famílias em uma aldeia é tudo de que preciso para trabalhar.”

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