Labirinto de ilusões – trilogia labirinto livro 2

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TRILOGIA LABIRINTO – LIVRO

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TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2015

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Labirinto de ilusões (Trilogia Labirinto – Livro 2) Copyright © 2015 by Bárbara Negrão Copyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

editorial

Lindsay Gois Cleber Vasconcelos

João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda Vitor Donofrio

preparação

revisão

Fernanda Guerriero

Denise de Camargo

projeto gráfico

capa

Claudio Tito Braghini Junior

Marina Avila

aquisições

diagramação

Equipe Novo Século

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Negrão, Bárbara Labirinto de ilusões Bárbara Negrão Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015. (Coleção Talentos da literatura brasileira. Série Labirinto ; v. 2) 1. Fantasia 2. Ficção brasileira i. Título. ii. Série. 15­‑09451

cdd­‑869.3

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.3

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455­‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699­‑7107 | Fax: (11) 3699­‑7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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Dedico a todas as pessoas que assim como eu não se contentam em viver apenas uma vida e vivem diversas vidas através das mais incríveis aventuras nos livros

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Capítulo Um

Finalmente o verão havia chegado, e com ele o calor e minhas férias – tanto do colégio quanto do trabalho. Enquanto os adolescentes normais iam a lagos, parques de diversões, sorve‑ terias e piscinas, eu treinava fechar minha mente contra meu namorado vampiro e todos os outros que pudessem chegar à cidade atraídos por meu sangue. Não é uma ótima forma de começar as férias? A impressão que eu tinha era de que tudo o que eu passara nos últimos meses havia acontecido em outra vida, ao mesmo tempo que ter tantos vampiros ao meu redor me trazia de volta à realidade e não me deixava esquecer o ocorrido por completo. No entanto, eu não estava mais sentindo medo, e sim querendo arrumar um modo de conviver com o que fora descoberto sobre mim. Certo tempo havia se passado desde que tive o “encontro” de final catastró‑ fico com Leo. Tentava não pensar muito nisso, ou no fato de ele estar morto. Nas primeiras semanas, não conseguia esquecer o que tinha acontecido, e era inevitável ter pesadelos com Leo, nos quais ele me perseguia sem parar por aquele labirinto. Sua imagem aparecia por todos os cantos, e não importava o quanto eu corresse, ele sempre estava lá. Depois comecei a pensar dia sim, dia não. Agora, porém, somente em momentos como este, quando certos detalhes me vêm à memória – por exemplo, meu antigo aparelho de celular sendo des‑ truído naquele dia.

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Hoje estava em minha casa com Willian assistindo a um filme, tendo em minhas mãos um celular novinho em folha que ele acabara de me dar. E nem era meu aniversário! Eu tinha plena consciência de que Willian estava ao meu lado esperando por uma reação minha, afinal ele havia acabado de me dar um presente. Olhava­‑me com aquela sobrancelha levantada naquele rosto maravilhoso, com aquele sorri‑ so nos lábios que eu tanto amava, sem mostrar os dentes. Eu tinha duas opções: poderia ser do tipo namorada pé no saco e falar “não, isso é muito, não posso aceitar”, ou simplesmente evitar todo o drama dele tentando me persuadir a aceitar o presente. No final das contas, sei que iria me convencer. Desde o “ocorrido”, tenho usado um aparelho velhinho da minha mãe, mas ele é tão ultrapassado, que a tecnologia da internet passou longe dele. Só aceita chamadas e mensagens de texto. – Obrigada – agradeci, olhando para aqueles olhos verdes. – Gostou? – Ele é lindo. – Vai aceitar sem discutir? – dissimulou surpresa. – Ah, sim – disse, revirando os olhos. – Quem ouvir isso vai pensar que sou uma namorada muito difícil de lidar. – Não. É perfeita. Só achei que seria mais difícil de convencê­‑la a aceitar. – Para que lutar contra o inevitável? – falei, dando­‑lhe um abraço. – É mais fácil ceder. – Que bom que estamos nos entendendo nesse quesito. Fico feliz que con‑ corde comigo sempre. – Sempre não. Só quando está certo – bufei. – E, de qualquer forma, você sabe que não precisava me dar um celular novo, não é? – Precisava sim. Não gosto de não poder me comunicar com você sempre que quiser. Revirei os olhos para isso também. Para que pudéssemos nos falar sempre que quiséssemos, era necessário apenas virar a cabeça para o lado e começar a falar, pois estávamos passando todos os dias de férias juntos. Não que isso fosse uma coisa ruim. Por mim eu passaria todos os segundos do dia com ele. Nunca era o bastante. E, graças aos céus, Willian parecia sentir o mesmo. – Então aceita? – perguntou Willian. 8

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– Claro – aceitei, me rendendo. – Obrigada. Adorei! Como agradecimento, eu o beijei. Aproveitando, estiquei o braço e virei o celular para nós dois, a fim de registrar aquele momento com uma selfie nossa, que, com certeza, colocaria como plano de fundo do meu celular. Willian sorriu com os lábios colados aos meus ao ouvir o barulho da foto sendo tirada. – Certo, muito bem – disse ele, apoiando as costas de volta no sofá. – Mas agora chega de descanso. Já vimos o filme; você aceitou seu presente. Feche os olhos e respire fundo para que possamos continuar a treinar. Inspirei profundamente. Nossos treinos diários têm sido muito mais difíceis do que imaginei que seriam. – Pense em uma imagem que traga paz a você – pediu gentilmente. Respirei fundo mais uma vez e pensei em pássaros, sons de floresta, grilos, pequenos ruídos, gotas de chuva, água caindo pela terra e formando pequenas poças na lama, muita lama, um poço… – Eva. Abri meus olhos, ofegante. Willian segurava minhas mãos, que estavam suadas. – No que pensou? – perguntou preocupado. – Em sons de floresta. – O que senti vindo de você foi algo beirando o desespero. – Uma coisa levou a outra. Floresta, chuva, água… poço. Willian levantou uma sobrancelha ao entender aonde eu queria chegar: à noite em que caí no poço e quase morri soterrada por quilos de lama; se não fosse ele para me salvar, não estaríamos aqui hoje. – Tudo bem. Vamos pensar em outra coisa. Uma coisa que não a faça ter tanto medo. Um anúncio de televisão, talvez. – Não sei – disse pensativa. Cada vez que treinávamos, eu tentava pensar em uma imagem diferente. Quando uma delas não funcionava muito bem, eu a descartava e imaginava outra coisa. Talvez isso estivesse atrapalhando e me fazendo pensar mais no que estava acontecendo ao meu redor do que na imagem que tentava fixar em mi‑ nha mente. Às vezes, eu podia jurar que minha mente estava contra mim. Que cabeça­‑dura a minha! Em uma das primeiras vezes que treinamos, eu mentalizei uma barra de ferro, que me levou a pensar em trilhos de trem. Nos trilhos, colocamos 9

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moedas para serem achatadas quando o trem passa por cima delas. No en‑ tanto, mais coisas podem ser achatadas, como pessoas, causando acidentes e desastres horríveis. Para o meu azar, essa linha de raciocínio se repetia com quase tudo o que pensava. Era frustrante não ter controle sobre meus pró‑ prios pensamentos. – Que tal uma flor? – sugeriu. – Vamos tentar – disse, dando de ombros. Procurei em minha mente por uma flor que poderia me acalmar. Sempre gostei de flores. De todas as cores. Flores não podem ferir. Mentalizei um botão de rosa e me prendi a ele. – Imaginou? – perguntou ele baixinho. – Feche os olhos. Balancei a cabeça concordando, já sabendo, mesmo de olhos fechados, que Willian me observava de forma contrariada por eu não ter respondido à sua per‑ gunta com palavras. Contive um pequeno sorriso, mordendo meu lábio inferior. – Agora fixe essa imagem em sua mente e comece a pensar em cada detalhe dela: a cor, o formato, o aroma, as sombras que ela forma dependendo de onde está a luz. Se concentre nisso, e não em mim. Revirei os olhos mesmo fechados. Falar era fácil. Fazer é que estava sendo a parte difícil. – Vou tocar em você agora – sussurrou em meu ouvido. Minha barriga gelou. Sei que parece estúpido, pois nos tocávamos o tempo todo, mas ouvir essas palavras sussurradas ao pé do ouvido fazia tudo ter outra perspectiva. Uma perspectiva cheia de ansiedades e vontades. Engoli em seco e continuei a imaginar cada parte daquele botão de rosa: a superfície aveludada de cada pétala, seu caule verde com alguns espinhos, seu perfume… o perfume de Willian, Willian subindo suas mãos pelos meus braços, suas mãos em meu pescoço… Não! A rosa. Pense na rosa. Não sei por que, mas a rosa que imaginava tinha as pétalas pretas. Pétalas negras como piche. A luz que batia em cada uma delas era prateada, dando a impressão de que o brilho vinha da própria flor. Willian deslizou a mão por meu ombro, fazendo pequenos círculos em mi‑ nha clavícula. Enquanto não sentia sua boca na minha pele, estava tudo bem. Mais ou menos. Bem, eu não tinha pulado em cima dele, então já era um ponto positivo para mim. 10

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Imaginei o toque de camurça das pétalas em minha pele. Um toque como… como os lábios de Willian, que começaram a descer e a subir pela lateral de meu pescoço, inalando profundamente meu perfume a cada ins‑ piração. Seus lábios passeavam por minha pele, deixando beijos quentes e demorados. Sua língua… Nãããããããão! Se controla. Ele estava me testando em nível SUPER HARD e eu sabia disso. Mordi o lábio, impedindo que um gemido saísse por entre eles. Willian, assim como eu, adorava e odiava nossas sessões na mesma propor‑ ção. Pelo menos era isso o que ele sempre dizia. Amava poder se liberar, poder estar comigo e não ter que se conter tanto. No entanto, odiava que eu estivesse me fechando para ele. Só não lidava tão mal com isso, pois eu não estava me fechando somente para ele, mas para qualquer vampiro ou ameaça que pudesse chegar à cidade atraído pelo que eu sou. Nossos treinos estavam sendo diários, o que era uma tortura diária também. Minha única vontade era me deixar levar por essa vontade desenfreada. Ter esse ser magnífico por perto e ter que ser eu a me controlar estava sendo muito mais difícil do que imaginei que seria. No começo, era impossível. Tão impossível, que Edgar chegou a se oferecer para me treinar. No entanto, bastou um rosnado audível da parte de Willian para que a ideia fosse logo descartada. Willian confiava no irmão, mas não deixaria que treinássemos juntos, pois, para que ele soubesse o que eu estava sentindo e se eu estava conseguindo me bloquear, precisaria haver muitos to‑ ques e bastante proximidade. Dante até foi cogitado para os treinos e poderia me tocar, mas, toda vez que sua pele entrava em contato com a minha, seus olhos se enchiam de lá‑ grimas vermelhas. Então seriam muitas roupas arruinadas em cada treino. Se‑ gundo Dante, depois que ele encontrava uma rainha e a tocava pela primeira vez, seu dom de caçador era ativado e ele reconhecia o poder do sangue real dentro dela. Depois dessa primeira vez que chorava lágrimas de sangue isso não acontecia mais. Ele ainda não sabia explicar o motivo de ainda chorar lágrimas de sangue todas as vezes que nos tocávamos. A única explicação que chegou a considerar era a de que meu sangue era tão forte e puro, que fazia essa consciência de caça‑ dor vir à tona sempre. Para mim não importava muito o motivo, o que eu sabia 11

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era que isso era desconcertante e eu queria que parasse. Não que ficássemos nos encostando o tempo todo, mas toda vez que nos encontrávamos o teste era feito: ele encostava em meu braço e esperávamos que daquela vez nada acontecesse, mas seus olhos sempre se enchiam de lágrimas vermelhas. Willian me deitou no sofá e posicionou seu corpo ao lado do meu. Deslizou sua mão do meu pescoço até meu colo, passando pela lateral de meu tórax, che‑ gando à cintura. Seu perfume era insuportavelmente bom. Então, por mais que tentasse me lembrar de como era o cheiro de uma rosa, só conseguia pensar em seu perfume e em como era maravilhoso. – Estou sentindo isso – sussurrou em meu ouvido. Willian havia parado de me tocar. Abri os olhos e me virei para olhá­‑lo. Seus olhos estavam completamente negros e direcionados a mim. Por seus lábios en‑ treabertos era possível ver o branco dos dentes. Agora, olhando direto em seus olhos, entendi por que as pétalas da rosa que imaginei eram pretas. Eram da mesma cor dos olhos do homem que me olhava de volta. Olhos negros de desejo merecem pétalas negras. – Mais uma vez? – perguntou ele. Balancei a cabeça, concordando. – Você está progredindo – tentou me animar – Fiquei um bom tempo sem senti­‑la desta vez – sua voz não demonstrava felicidade, somente aprovação. – Vamos lá – falei e fechei os olhos. Rosa! Rosa! Pense na maldita rosa. Uma rosa negra em um jardim. Não. Em uma floreira na janela. Não. Em um vaso. Não. Só a rosa. Só ela. Flutuando. Se abrindo. Florescendo. Amadurecendo. Isso. Sem pensamentos externos. Só a rosa. Só ela em minha mente. Quase uma hora depois, a única luz que entrava pela janela da sala de minha casa era a da iluminação do poste da rua. Já devia passar das oito horas da noite. – Quer que eu prepare algo para você comer? – perguntou Willian, levantando­‑se. Meu pescoço estava tão rígido que não me arrisquei a olhar para os lados com medo de romper um ligamento ao fazer isso. A tensão causada em meu corpo por ficar me concentrando era gigante. Mesmo só tendo que ficar comple‑ tamente parada, me sentia exausta depois de cada treino que tínhamos. – Não – suspirei, massageando meu pescoço. – Só quero ir para a cama.

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Minhas mãos foram substituídas pelas de Willian um segundo depois, o que me fez relaxar no mesmo instante. – Não está se alimentando direito nesses últimos dias – disse em tom de reprovação. – Não tenho tido tanta fome. Ele ficou em silêncio. Eu sabia muito bem que sua vontade era me sentar no balcão da cozinha e me fazer comer, nem que fosse à força. Meu bem­‑estar estava acima de tudo o que ele fazia, sempre, mas Willian era incrivelmente controlado com seu gênio quando o assunto era eu. Willian não estava acostumado a ouvir a palavra “não” sendo quem era: um vampiro poderoso que podia controlar mentes. Mas paciência, já tinha entendido quem estava namorando havia tempos: a humana/rainha mais teimosa que ele iria conhecer nesta e na próxima vida. Sorri com a ideia. – Estou divertindo você? – perguntou, parando a massagem por apenas um segundo. – Um pouquinho. – Ah, então eu sou o motivo do sorriso? – Pode ser que sim, pode ser que não. – Não está mesmo com fome? – perguntou mudando de assunto repentinamente. – De comida não – disse, virando para ele e olhando em seus olhos. Suas sobrancelhas se levantaram por apenas um segundo, e seus lábios as‑ sumiram aquele sorriso descarado sem mostrar os dentes que só ele sabia fazer. – Quer ir para cama? Concordei balançando a cabeça, porém sem usar palavras, somente para provocá­‑lo. – Para dormir? – quis saber, analisando­‑me com os olhos. Balancei a cabeça negativamente, sustentando seu olhar. Minhas bochechas esquentaram no mesmo segundo. – Seu pedido é uma ordem, minha rainha. Sem nenhum aviso, Willian me levantou nos braços, como se eu pesasse menos do que um quilo. Minha respiração ficou presa na garganta. Ele adorava fazer isso. Acho que, se ele pudesse escolher, não me deixaria andar com meus próprios pés nunca. – Willian! – exclamei alto com o susto. 13

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– Quer que eu a coloque no chão? Na verdade, eu me sentia muito confortável onde estava. E, para quem pode levantar um trator, sem ao menos ofegar, levantar uma pessoa é como pegar uma pena do chão. – Me leve para a cama – ordenei. – Hum! Adoro quando você manda. Contorci­‑me por dentro com aquelas palavras. Ele podia ser um controlador mandão quase o tempo todo, mas simplesmente adorava quando eu pegava as rédeas e conduzia o show. Fazia parecer quase como se eu é que estivesse fazendo o favor para ele. Mentalizei a imagem da rosa. Se era para começar a me controlar, que fosse em uma situação real, e não em todas as horas que passávamos treinando com toques sutis entre nós. Quase tive um pequeno AVC tentando arrancar a imagem daqueles olhos verdes de minha mente e plantar a imagem da bendita rosa negra. O que me fez ter certeza de que o bloqueio estava funcionando foi sua expressão de surpresa ao subir as escadas. Ele só poderia ter parado de sentir o que estava recebendo de mim, pois estreitou os olhos me analisando ao me colocar so‑ bre a cama. – Vou me trocar – avisei, pulando fora da cama. – Um segundo. Espera para dar boa­‑noite? – Claro, meu anjo. Peguei minha camisola e me tranquei no banheiro. Tinha realmente dado certo. Só por sua expressão, eu soube disso. E, se tinha dado certo, não faria mal testar mais um pouco até onde eu conseguiria me bloquear. Afinal, minha mãe não estava em casa e poderíamos passar a noite toda juntos. Normalmente não passávamos a noite juntos. Nós dois tínhamos concorda‑ do que durante este período ele, Dante e Edgar bolariam um plano de como me “esconder” do mundo, até que uma solução permanente aparecesse. No entanto, nós dois sabíamos que a real razão para que não ficássemos juntos era não conse‑ guirmos nos controlar estando na mesma cama. Os dois queriam a mesma coisa, desesperadamente. Quase havia pedido isso de aniversário para ele havia algumas semanas, mas seria demais; eu o estaria colocando contra a parede. Por mais que Willian qui‑ sesse, minha segurança vinha sempre em primeiro lugar e ele não queria arriscar 14

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minha vida por nada. Willian havia me dito que já fazia muito tempo que não se alimentava. Estava evitando sair da cidade para não chamar a atenção, mas logo teria que sair para comprar sangue. Troquei­‑me e olhei para o espelho em cima da pia enquanto escovava os dentes. Você consegue. Só pense na rosa. O tempo todo. Saí do banheiro já pronta para dormir vestindo minha melhor camisola, mas dormir era o que eu menos queria naquele momento. Todo o sono e o cansaço tinham se esvaído de meu corpo. Estava completamente acordada. – Não parece querer dormir – comentou, observando­‑me de onde estava deitado em minha cama. Balancei a cabeça, negando e mordendo o lábio inferior, ao me aproximar e deitar ao lado dele. – O que tem em mente? – quis saber. – Gostaria que passasse a noite comigo – falei, sentindo minhas bochechas esquentarem. – Já conversamos sobre isso. Dante e Edgar estão me esperando para… – Mas eu gostaria muito que ficasse – eu o interrompi. Eu estava apelando. Willian tinha essa fraqueza por querer sempre realizar meus pedidos, mesmo quando era contra. Ele inspirou profundamente algumas vezes e me observou. Quando achei que fosse falar que não poderia mesmo ficar, pois ficou em silêncio muito mais tempo do que minha capacidade de esperar por uma resposta me permitia ficar calada, ele levantou a mão para tocar em meu rosto e eu segurei meu próximo pedido de “por favor”. Sem pensar duas vezes, coloquei a imagem da rosa em minha mente. Uma rosa florescendo. Negra. Brilhante. Flutuando. Girando vagarosamente no ar. Seus olhos se estreitaram, tornando­‑se apenas dois pequenos riscos. O verde deles ainda era visível, o que demonstrava que não estava recebendo nada vindo de mim. Ou eles já estariam completamente negros, tamanha a minha vontade por ele. – Fico até você dormir – falou com um tom desconfiado, deitando­‑se virado para mim. Aconcheguei­‑me nele tendo consciência de que não poderia nem sonhar em tirar a imagem da flor de minha mente. 15

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Tudo bem. Ele ficou. E agora? Respirei fundo e comecei a massagear meu pescoço, que ainda estava tenso. Apertei uma primeira vez e senti a mão de Willian sobre as minhas. Rendi­‑me ao seu toque, relaxando meu corpo. Assim que ele começou a mas‑ sagem me desconcentrei e perdi a imagem em minha mente. Sua mão parou de se mexer na parte de trás de meu pescoço. O mais rápido que consegui, coloquei a imagem de novo em meus pensamentos. Ele voltou a massagear. Agora, porém, eu tinha certeza de que ele já havia sentido minhas vontades e segundas intenções. Com completa consciência de nossa proximidade, parei de mentalizar e olhei em seus olhos, levantando a cabeça e a apoiando em seu braço esticado para que ficássemos na mesma altura na cama. Suas sobrancelhas se curvaram me avaliando. Coloquei a imagem de novo em minha mente por alguns segundos, porém sem perder o contato visual com ele. Deixei a imagem girando por mais al‑ gum tempo e a tirei de novo. Repeti o processo durante um bom tempo. Agora Willian estava completamente concentrado em mim. Ele sabia o que eu estava fazendo: eu estava me testando. Se aquilo estava sendo bom ou ruim para ele, eu não saberia dizer. Willian não demonstrava reação alguma, apenas me olhava de volta enquanto eu deixava meus sentimentos e emoções irem até ele e os bloqueava na sequência. Não sei por quanto tempo fiquei fazendo isso, mas perdi as forças e só fiquei olhando para aqueles olhos verdes. Deus, como eu o queria. Eu o queria mais do que apenas ao meu lado: o queria ainda mais perto. Somente isso não era o bastante. Quando o verde de seus olhos começou a escurecer, plantei em meu cérebro a imagem da rosa negra com todas as forças que conseguia e me lancei para fren‑ te, colando minha boca na dele. Willian não ofereceu resistência nenhuma. Ele estava com tanta vontade de se deixar levar quanto eu. Passei minha perna por cima das dele ficando por cima. Para facilitar, ele ele‑ vou seu tronco da cama, aproximando seu peito do meu. Puxei sua camisa para cima e ele não se opôs. Logo, ela estava no chão ao lado da cama. Então, passei minhas mãos por suas costas, fazendo­‑o ofegar. Abri meus olhos por apenas um segundo. Ele me olhava de volta. Ainda era ele. Cheio de desejo, mas ainda ele. Controlado. E foi nesse exato momento que 16

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decidi que eu o queria, mesmo com os riscos. Precisávamos disso. Todo o resto podia não fazer sentido, mas nós dois, aqui e agora, fazia. Sem pensar, apenas me deixando levar pelo momento, segurei as laterais de minha camisola e a tirei pela cabeça, jogando­‑a na direção de sua camisa ao lado da cama. Meu primeiro pensamento foi colocar as mãos sobre meus seios. Era muita exposição. No entanto, controlei esse impulso ao olhar para o rosto maravilhado do meu namorado, que ofegava ao olhar para mim. Sim, era essa a expressão que eu queria. Ao me aproximar para beijá­‑lo, Willian foi mais rápido trocando de lugar comigo, colocando­‑me de costas na cama e se posicionando em cima de mim. Busquei por seus lábios e eles logo vieram até os meus. Meu corpo inteiro lateja‑ va. Sim. Iria acontecer. Sim. Todo o meu ser gritava em aprovação. Devagar ele desceu por minha mandíbula, deixando pequenos beijos. Quando chegou à lateral de meu pescoço, senti uma pequena pontada de pânico e me concentrei na rosa. Mas não foi preciso. Willian passou direto, descendo para meus seios; depois, por minha barriga, deixando beijos por todo o caminho. Meu coração batia a mil por hora. Todo o sangue de meu corpo parecia pul‑ sar em um único lugar sem parar, tornando­‑o insuportavelmente quente. E era para lá que Willian estava se dirigindo por seu caminho de beijos. Sentei­‑me na cama, pegando­‑o de surpresa. Bastou apenas um olhar entre nós para ele saber que estava tudo bem. Sua boca encontrou a minha no meio do caminho. Com as mãos trêmulas, busquei o zíper de sua calça, porém não conseguiria abri­‑lo sozinha. Mas nem foi preciso, pois, com o meu movimen‑ to, Willian entendeu o que eu pretendia e ele mesmo abriu o botão e deslizou a calça por suas pernas. Ela teve o mesmo destino das outras roupas. Sem pressa, com toda a calma do mundo, Willian me beijava. Sua língua passeava por toda a minha boca, aprisionando­‑me em um beijo eterno. Suas mãos passeavam por todo o meu corpo, fazendo­‑me ter as mais divinas sensações possíveis e indescritivelmente boas. Que rosa que nada. Só conseguia pensar nele, nele, nele. Willian parou de me beijar para olhar em meus olhos. Os seus estavam completamente negros. Meu peito subia e descia rápido com a respiração entrecortada. Essa pausa era para que nós dois pudéssemos nos acalmar: ele, por sentir tudo o que estava vindo de mim; eu, para tentar fazer meu coração 17

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bater em um ritmo que não me levasse a ter um ataque cardíaco durante minha primeira vez. Voltei a deitar com as costas na cama. Aqueles segundos que passamos nos olhando com nossos corpos colados um ao outro foi o que bastou para que nós dois entendêssemos o que iria acontecer. Eu estava pronta. Com muita calma, Willian passou sua perna por cima das minhas, separando­ ‑as e se posicionando entre elas. O que nos separava eram apenas alguns poucos milímetros de roupas íntimas. Minhas mãos passeavam por seus ombros largos. Eu o puxei para que me beijasse. Assim que sua boca se encostou à minha, sua cintura acompanhou o movimento de aproximação, colando ainda mais nossos corpos. Cortei o contato visual não aguentando a pressão e gemendo alto, jogando a cabeça para trás. – Isso – gemi, quase explodindo em um milhão de pedaços. Deslizei minhas mãos por sua coluna, querendo mais, enquanto o puxava para mim novamente. E de novo. E de novo. Willian beijava a curva de meu pescoço com beijos lentos e possessivos. Com cuidado, ele se separou de mim e começou a descer novamente. Não ousei levan‑ tar minha cabeça para olhá­‑lo. Estava alterada demais. Não queria saber como seus olhos estavam, mesmo porque tinha certeza da cor deles. Descendo por entre meus seios, ele foi deixando beijos por minha barriga, rodeando meu umbigo, e continuou descendo sem pressa. – Willian – ofeguei quase implorando. Senti seus lábios sorrindo colados ao meu quadril, o que me fez ter certeza de que ele tinha pleno controle sobre seus atos. Ainda. O próximo barulho que ouvi me deixou confusa. Um estalo seguido de ou‑ tro. Um segundo depois, senti minha calcinha saindo. Ele havia rasgado as late‑ rais dela com os dentes. Achei que ele iria descer ainda mais por meu corpo, mas não. Ele começou a fazer o mesmo caminho de beijos de volta. Sua aproximação foi fazendo meus nervos ficarem à flor da pele. Era como se o mundo tivesse parado e só houvéssemos nós. Minha cabeça estava jogada para trás, pressionando o travesseiro e esperando. Aguardando o momento. Nunca tinha tido tanta certeza de que queria algo na vida.

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Seus lábios brincavam com a lateral de meu pescoço. Seu corpo se colou ao meu ao soltar uma parte de seu peso ao se posicionar. Sim. Sim. Sim, era só no que conseguia pensar. Eu o senti quente e macio sobre mim e apenas um segundo depois a dor aguda veio forte, fazendo meu corpo arquear embaixo do dele. E então ele estava dentro de mim. Firme, forte e possessivo. Sim. Era isso. Nós éramos um só. Isso era certo. Ou não? Aquilo não poderia estar certo. Ou estava? A primeira dose de sangue que saiu de mim fez meu cérebro quase se desli‑ gar. A segunda fez que não sentisse mais as extremidades de meu corpo. NÃO! Willian havia me mordido. A dor aguda que senti não tinha sido nem de longe o que eu havia ima‑ ginado. Foram seus dentes perfurando a pele fina do meu pescoço o que eu sentira. Tentei empurrá­‑lo para longe, mas seu corpo sobre o meu estava tão imóvel quanto concreto. Eu estava presa. Tentei gritar, mas nada saiu por minha boca. Mais sangue saindo. Ele engolia em grandes goladas sem se mover, apenas prensando meu corpo na cama e me mantendo parada. Tentei chamá­‑lo. Ele tinha que parar. Tinha que sentir meu desespero e pa‑ rar. Mas não, ele havia sido desligado por seu lado vampiro que desejava meu sangue. Não era mais o meu Willian que estava no controle. Lutei e me debati. Lágrimas se acumularam em meus olhos e caíram pelas laterais de meu rosto, que estava virado para o lado encarando o porta­ ‑retratos vazio onde a foto de Noah estava virada ao contrário para que não tivesse que encará­‑lo. Nesse momento me ressenti de ter feito isso. Seria provavelmente a última coisa que veria. E ver os olhos de Noah, uma última vez, com certeza seria me‑ lhor do que um porta­‑retratos vazio. Mais sangue saindo. Não sentia mais minhas mãos nem minhas pernas. O quarto começou a girar sem parar. Se não fosse o corpo firme de Willian sobre o meu, com certeza estaria com muito frio, mas o tremor que percorria meu corpo não tinha nada a ver com a temperatura ambiente. Era de completo pavor. Era assim que tudo iria acabar? Eu morrendo e Willian recobrando a cons‑ ciência enquanto se tornava humano por beber o sangue de uma rainha ainda 19

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humana até matá­‑la? E tudo isso por culpa minha. Por querer forçá­‑lo a ir aonde ele havia me falado tantas vezes antes que não poderíamos ir, por mais que qui‑ séssemos, pois ele não confiava nele mesmo com relação a mim. Meu coração, que antes batia como o de um beija­‑flor, começou a se acal‑ mar. Cada vez batendo mais devagar. E mais. E mais. Até que tudo era apenas escuridão e silêncio. E eu me deixei levar. Não havia mais dor. Apenas… o nada!

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