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b e m ‑ v i n d o
a
l o v e c r a f t
escrito por
arte por
São Paulo, 2017
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Locke & Key – Bem‑vindo a Lovecraft Locke & Key – Welcome to Lovecraft Locke & Key script © 2014 Joe Hill, art © 2014 Idea and DesignWorks, LLC. All rights reserved. IDW Publishing, a division of Idea and Design Works, LLC. Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda. All rights reserved.
coordenação editorial
gerente de aquisições
Vitor Donofrio
Renata de Mello do Vale
editorial
assistente de aquisições
João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda
Talita Wakasugui
tradução
Eliane Gallucci
edição de arte
João Paulo Putini Rebeca Lacerda
revisão
Talita Wakasugui
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Hill, Joe Locke & Key : Bem-vindo a Lovecraft / Joe Hill ; ilustrações de Gabriel Rodriguez ; tradução de Eliane Gallucci. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (Locke & Key ; 1) Título original: Locke & Key: Welcome to Lovecraft 1. Histórias em quadrinhos 2. Terror I. Título II. Rodriguez, Gabriel III. Gallucci, Eliane 17-1080
cdd‑741.5
Índices para catálogo sistemático: 1. História em quadrinhos 741.5
novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11º andar – Conjunto 1111 cep 06455‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699‑7107 | Fax: (11) 3699‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br
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Roteiro: Joe Hill Arte: Gabriel Rodriguez Cores: Jay Fotos Letras originais: Robbie Robbins Edição da série: Chrys Ryall Edição da versão encadernada: Justin Eisinger Design da versão encadernada: Robbie Robbins
JOE HILL: Para Tabitha Jane King: chaveira literária, mãe, amiga. Te amo. GABRIEL RODRIGUEZ: Para Catalina: você destrancou os meus sonhos.
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s o d n i v bem‑ à casa de
Hill
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por robert crais Eu estava em Londres para promover um livro chama‑ do The Watchman, transitando entre entrevistas na rádio BBC e sessões de autógrafos em livrarias, quando meu as‑ sessor de imprensa britânico disse: “Temos outro escritor americano na cidade. Vamos almoçar juntos?”. Assim, os dois escritores americanos se reuniram, curvados sobre peixes e fritas em um pequeno restau‑ rante descolado em Londres, não muito longe de Trafal‑ gar. O outro sujeito era um cara alto e amigável com uma barba espessa, jaqueta preta e sorriso fácil – Joe Hill. Depois de trocar algumas das histórias obrigatórias sobre escritores em turnês enquanto nos conhecíamos, descobrimos uma paixão em comum: o beisebol. Sendo de Los Angeles, eu sangro pelos Dodgers. Joe, da Nova Inglaterra, é um membro fanático da nação Red Sox. Foi uma escolha perfeita de assunto, porque muitos ex ‑Dodgers estavam jogando no Boston Sox (Julio Lugo e J.D. Drew entre eles, ambos destinados a fazer médias de rebatida de .330 na vindoura pós‑temporada) e ex ‑BoSox estavam em campo na Chavez Ravine (o ótimo lançador Derek Lowe e o astro da defesa, Nomar Garcia‑ parra, para citar apenas dois). Nossos anfitriões britâ‑ nicos provavelmente não entenderam nada da conversa enquanto Joe e eu falávamos e falávamos – não sobre ro‑ mances de terror e ficção policial, mas sobre a resistên‑ cia de Derek Lowe, a dedicação de J.D. Drew para com o esporte e se o BoSox tinha o necessário para vencer o campeonato de 2007 (eles venceram, esmagando o Co‑ lorado Rockies em quatro jogos, para a grande felicida‑ de de Joe Hill). Depois do almoço, trocamos livros enquanto nossos respectivos assessores de imprensa nos arrastavam para mais entrevistas, e eu passei o resto da minha turnê e o longo voo para casa imerso em A estrada da noite. Eu imediatamente comprei Fantasmas do século XX e devorei os contos. E então Chris Ryall soltou sobre mim os três primeiros roteiros de Locke & Key. Quando os olheiros do beisebol julgam o talento dos jogadores, eles consideram cinco quesitos: média de rebatidas, força das rebatidas, quão rápido o joga‑ dor consegue correr, quão bem ele consegue lançar e quão bem ele consegue receber. Os melhores jogado‑ res – como A‑Rod ou Ken Griffey Jr. – podem fazer tudo isso: marcar um jogador quando é preciso ou lançar a bola para fora do campo, roubar uma base, fazer um corredor ser expulso ou até pegar a bola olhando por sobre o om‑ bro enquanto corre. A maioria dos jogadores nos grandes times tem dois ou três desses talen‑ tos, mas os melhores jogadores têm todos os cinco. Joe Hill é um jogador de cinco talentos. Veja só. Um incrível romance de estreia. Os contos fantásticos, que requerem habilidades dife‑
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rentes das necessárias para escrever um romance. E, ago‑ ra, este surpreendente álbum em quadrinhos, que é uma forma narrativa completamente diferente de romances ou contos. Eu aposto que não vai demorar muito até vermos o nome de Hill em uma grande produção de cinema. Os roteiros para os três primeiros números de Locke & Key me surpreenderam. E isso antes mesmo de eu ver a impressionante arte de Gabriel Rodriguez, que foi as‑ sombrosamente colorizada por Jay Fotos para conseguir exatamente o tom e o clima corretos. Das linhas impo‑ nentes de Keyhouse aos olhos lânguidos e lacrimosos do assassino Sam Lesser, na representação da alienação de Tyler Locke até a dor marcada no rosto de Kinsey, a arte e a história são unidas perfeitamente para revelar não ape‑ nas os personagens, mas também uma tensão constante que vai enervar você, vai surpreendê‑lo e fará com que não consiga parar de virar as páginas. Eu li os roteiros em uma única noite, depois implorei a Ryall por mais. Locke & Key é uma graphic novel das mais ricas, apresentando uma história e personagens concebidos com toda a profundidade de um romance em prosa, porém perfeitamente construída tanto pelo roteirista quanto pelo artista para aproveitar a linguagem dos quadrinhos. Aqui temos três crianças perdidas – o ir‑ mão mais velho, Tyler, que se sente responsável pela morte de seu pai; Kinsey, a irmã do meio, que já salvou seu irmão mais novo antes e agora está tentando salvar a si mesma; e Bode, de seis anos, que pode muito bem ser a chave, por assim dizer, da sobrevivência deles –, transportadas pelo país por sua mãe depois que o pai é assassinado por um aluno homicida. Essas três crian‑ ças se mostram imediatamente reais graças aos segre‑ dos que carregam e à maneira como o autor sutilmente interliga suas histórias pessoais com os mistérios de Keyhouse e às forças que as atraíram para a casa. (Nota para a família Locke: se querem reconstruir suas vidas, com certeza é melhor NÃO mudar para uma cidade chamada Lovecraft.) Locke & Key funciona tão bem, eu acho, porque res‑ soa com os medos básicos que todos nós compartilha‑ mos – nossa perda de inocência; a preocupação de que possamos inconscientemente ferir alguém que ama‑ mos; de que nos revelar em um momento de fraqueza possa levar inevitavelmente à nossa ruína. Ou pior. Esta é a matéria‑prima das grandes histórias, e quando o au‑ tor ainda mistura suspense, sustos e a promessa de coi‑ sas piores à espera, o leitor pode se preparar para uma viagem e tanto. Quando a família Locke chega a Lovecraft, Tyler la‑ menta que um aluno do Ensino Médio só possa assumir um destes papéis: atleta, piranha, nerd ou vítima. Se Joe Hill teve apenas um papel, seria este: um fan‑ tástico contador de histórias. Bem‑vindos a Lovecraft. Bem‑vindos a Locke & Key. Bem‑vindos à casa de Joe Hill.
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vale de mendocino – antes
bem vindo
bem‑vindo a
Lovecraft ‑ capítulo I ‑
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TOC TOC TOC
sra. locke? sou sam lesser. o senhor locke foi meu orientador educacional ano passado.
eu sou al grubb.
sam, al. estÃo bem longe de sÃO francisco.
estou trabalhando pro meu tio em willits. o sr. locke me mostrou umA foto da sua casa ano passado e falou pra eu passar e dar um oi quando desse. até pra conversar com o tyler. ele falou? gostei da sua caminhonete.
não é nossa. só a pegamos.
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do meu tio. ele deixou.
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"por favor, deus. só peço por um terremoto."
"só um terremotozinho pra fazer o telhado do meu quarto ruir. aí não vou mais poder ficar aqui, e meus pais vão ter que me mandar pra baja, pra morar com rod fess e aprender a surfar."
"mais provável me mandarem morar com meu primo orin, que enche as paredes do quarto com obituários de gente famosa porque ele acha que, mais legal que ser uma celebridade, é ser uma celebridade morta."
"porém… ao menos o orin tem um PS3."
achei uma tartaruguinha, mas ela fez cocô na minha mão e fugiu. ó.
o que estão fazendo?
uma tartaruga cagou na mão do bode e ele quer guardar como lembrança de nosso verão inesquecível aqui.
ele está conhecendo a natureza. e quanto a você? estou conhecendo o tédio e a angústia existencial.
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ótimo. pode continuar conhecendo ENQUANTO ajuda a pintar. papai disse que acabou o intervalo.
muito legal ele nos trazer aqui pra trabalhar de graça.
qual é o problema? suas reclamações estão deixando todos nervosos.
só queria ser qualquer um, menos eu, e estar em qualquer lugar, menos aqui.
pois é, eu poderia ser rod fess, lá em baja, fazendo churrasco na praia com garotas seminuas. ou poderia ser orin, em são francisco, indo a shows toda sexta‑feira.
não precisa explicar por que é uma droga ser você. mas por que é tão ruim estar aqui?
você odeia o orin. ele é UM porre.
“nada, exceto que estou enlouquecendo.” “eu mataria pra voltar a são francisco.”
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são francisco – agora
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oi, cara. como você está? quer dizer… desculpa. que pergunta idiota.
meu deus, rolou a maior confusão em baja.
outra hora eu te conto se quiser. foi doideira.
uma gata chegou na nossa fogueira, parecendo solitária, daí comecei a conversar com ela, sabe? nisso apareceu a polícia, a algemou e quase me prendeu também! e eu nem sei o nome dela!
estou aqui se precisar, cara. é ruim ficar sozinho nessas horas.
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ainda não estou acreditando. vi o sam lesser no ozzfest. ele não parecia ser um psicopata. ou não mais psicopata que qualquer outro que estava lá. sabia que eles mataram cinco pessoas? você está bem famoso agora.
só mais umas horas e os urubus vão embora. posso sentar aqui?
* N.T.: Ozzfest, festival anual de rock realizado anualmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, criado pelo cantor Ozzy Osbourne e sua mulher, Sharon. Locke & Key_MIOLO_revisado.indd 16
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sei o que acontece agora. o que vai me contar.
nós quA‑a‑se morremos. acha que aquele cara estava muito bêbado?
ah, tão bêbado quanto você.
não, estava só no estacionamento olhando as estrelas.
mas não era eu que estava dirigindo.
sabe, se alguma coisa acontecer comigo… conosco…
eu sei, eu sei. me fala de novo. já faz umas semanas que não ouço essa.
eles iriam morar em keyhouse com o duncan. o lugar mais seguro do mundo pra eles. seguro de quê? sei lá. de qualquer coisa. abelhas assassinas. forças da escuridão. reality shows.
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se é tão seguro, por que a gente não se muda pra lá?
a casa não me escolheu. escolheu o duncan. bem, faz sentido. a princesa das fadas precisa de um castelo encantado.
ha ha.
olha, não precisa acreditar em mim. diabos, quando estou sóbrio nem eu acredito… acha que pareço louco? parece. mas, pra sua sorte, loucura me dá tesão. e pensar que deixam você trabalhar com crianças.
meu pai sabia. de alguma forma, ele sabia que algo assim aconteceria. como ele podia saber?
ah, garoto. seu pai era como um escoteiro. sempre alerta. só isso.
nós vamos com você. pra massachusetts. pra keyhouse. sim, esse é o plano. tudo bem, tyler? meu deus, sim. por favor, vamos logo embora daqui.
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ANTES
o pessoal do clube de francês foi pra paris. por seis semanas. e daí? você estuda espanhol.
viu como nunca dou sorte? 19 Locke & Key_MIOLO_revisado.indd 19
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e atirou nele?
ele tentou levantar.
ninguém ouviu. ele disse que os filhos estão no vizinho, e não vimos ninguém quando vigiamos a casa. não tem ninguém por aqui.
ele disse que sentia muito, mas ia me fazer escolher.
que porra?
alguém pode ter ouvido o barulho.
então que merda é aquilo?
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