Maldição - Blur – Livro III

Page 1


MALDIÇÃO

Maldição_MIOLO rev.indd 1

23/06/2017 16:26:46


Maldição_MIOLO rev.indd 2

23/06/2017 16:26:46


MALDIÇÃO MALDIÇÃO MALDIÇÃO ste v e n

j a m es

a u t o r b e s t­‑ s e ll e r do T h e N e w Yo r k Tim e s

sé r i e D I S T O R Ç Õ E S

tradução Valter Lellis Siqueira

são paulo, 2017

Maldição_MIOLO rev.indd 3

23/06/2017 16:26:46


Maldição Curse Curse (Book 3 in the Blurred Reality trilogy) © 2015 by STEVEN JAMES Copyright © 2017 by Novo Século Editora Ltda. coordenação editorial Vitor Donofrio

gerente de aquisições Renata de Mello do Vale

editorial João Paulo Putini Nair Ferraz Rebeca Lacerda

assistente de aquisições Talita Wakasugui

tradução Valter Lellis Siqueira

revisão Beatriz Simões Equipe Novo Século

preparação Liana do Amaral diagramação João Paulo Putini

capa Dimitry Uziel

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) James, Steven Maldição Steven James; tradução de Valter Lellis Siqueira. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2017. (Série Distorções ; 3) Título original: Curse 1. Ficção norte­‑americana I. Título II. Siqueira, Valter Lellis III. Série 17­‑0669

cdd­‑813.6

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção norte­‑americana 813.6

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455­‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699­‑7107 | Fax: (11) 3699­‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

Maldição_MIOLO rev.indd 4

23/06/2017 16:26:46


Para Tom e Rhonda, amigos e família

Maldição_MIOLO rev.indd 5

23/06/2017 16:26:46


Maldição_MIOLO rev.indd 6

23/06/2017 16:26:46


As marcas da loucura em minh’alma soam alto. Cada dia conhece um grito e um sobressalto. Destruiu­‑me o eco do pandemônio bisonho, Pois devorou o que havia em mim de sonho. Alexi Marënchivek

Maldição_MIOLO rev.indd 7

23/06/2017 16:26:46


Maldição_MIOLO rev.indd 8

23/06/2017 16:26:46


P

A

R

T

E

I

LL EE VV AA DD OO LEVADO Maldição_MIOLO rev.indd 9

23/06/2017 16:26:46


Maldição_MIOLO rev.indd 10

23/06/2017 16:26:46


1 Sexta­‑feira, 7 de junho Estrada Municipal G A 8 quilômetros de Beldon, Wisconsin

A

noitecer. A floresta, densa dos dois lados da estrada, está mergulhada nas sombras profundas da chegada da noite. O lago Algonquin se aninha em meio a elas. Uma rede de sombras se instala sobre os bosques. Embora eu esteja dirigindo, não há tráfego na estrada e estou sozinho no carro; então, dou uma olhada em meu celular. Nenhuma mensagem de Kyle. A casa dele fica exatamente a doze quilômetros do próximo entron‑ camento; nesta velocidade, vou estar lá em menos de doze minutos e quarenta segundos. Nem tenho que pensar nisso conscientemente. A matemática me vem de maneira natural. Às vezes é útil. Às vezes é apenas aborrecido. Vamos passar algum tempo planejando nossa viagem a Geórgia no próximo sábado. Sob a luz dos faróis, percebo um movimento à minha frente, no lado direito da estrada, e freio. Dois veados de cauda branca olham assustados e saltam diante do carro. Espero até eles desaparecerem, certifico­‑me de que não há mais nenhum deles para cruzar a estrada e avanço.

11

Maldição_MIOLO rev.indd 11

23/06/2017 16:26:46


Duas semanas atrás, quando recebi o convite para conhecer um cen‑ tro de treinamento de basquete em Atlanta, fiquei surpreso. Eu tinha me saído bem na última temporada, mas era um centro de elite, cujas vagas são logo preenchidas; receber um convite, portanto, já era algo importante. Mas como ficava do outro lado do país, chegar lá ia ser um desafio. Devido a compromissos profissionais, nem meu pai nem minha mãe podiam me levar. Aparentemente, havia um benfeitor anônimo que havia doado di‑ nheiro para cobrir o treinamento e os custos de viagem dos alunos de fora do estado, a fim de garantir uma “diversidade”. A princípio, não ficamos muito seguros quanto à legitimidade do apoio financeiro, mas tudo se esclareceu, e meu treinador me disse que eles es‑ tavam obedecendo a todas as regras de recrutamento estudantil, portanto enviei minha inscrição. Mas ainda havia o problema de como chegar lá. O centro fica na Northern Georgia Tech, uma universidade particular nas cercanias de Atlanta. Ir de Beldon, Wisconsin, até lá não é uma viagem curta. Na verdade, são necessárias por volta de dezoito horas para o trajeto. Então, Mia, a namorada de Kyle, disse que tinha uma tia em Atlanta cuja casa não ficava muito longe do campus e nos deixou imaginando coisas. Meu pai nos contou que seu colega de quarto na universidade mo‑ rava cerca de meia hora ao sul de Champaign, Illinois, o que é metade do caminho até Atlanta. Depois que ele nos disse isso, tudo se ajeitou rapidamente. Kyle, Mia e Nicole, minha namorada, iriam até lá comigo. Somos todos estudantes secundaristas, preparando­‑nos para a última série de nosso curso. Três têm 17 anos, mas Mia tem 18, e isso nos ajudou. A tia dela podia levar os outros para conhecer Atlanta enquanto eu estivesse no centro. Era a quantidade certa de liberdade para nós e de controle para os nossos pais. Regras básicas: fazer contato todos os dias; nada de bebidas; nada de drogas; e não se meter em confusão. Nenhum problema com as três primeiras. A última poderia dar um pouco mais de trabalho.

12

Maldição_MIOLO rev.indd 12

23/06/2017 16:26:46


Agora, enquanto eu entrava na curva que acompanha a margem do lago, tornei a vislumbrar um movimento cerca de trinta metros à frente. Diminuo a marcha. Mas desta vez não é um veado. Um garotinho sai do bosque. Ele deve ter uns 5 ou 6 anos e parece distraído enquanto caminha para o meio da estrada. Ele para na linha que divide as duas faixas. Espero para ver se sua mãe ou alguém virá atrás dele, mas depois de um instante fica claro que ele está sozinho. Paro o carro no acostamento, desço e digo a ele: – Ei, você está legal? Apesar de ser um dia de verão, está mais fresco. Há mesmo um ligeiro friozinho pairando no ar. Grilos tagarelam nas sombras. Depois de olhar rapidamente para a floresta, o menino olha para mim. Sua pele é de cor pálida – posso perceber isso mesmo à fraca luz do fim do dia. Ele estende uma das mãos em minha direção, como se, de alguma forma, quisesse me conservar a distância, mas não sai da estrada. Para além dele, entrando na curva, faróis cortam a escuridão do dia que acaba, e o ruído de um caminhão de carga chega até nós, vindo da serraria. Caminho em direção ao menino. – Você precisa sair da estrada. Ele não se move. À medida que me aproximo, embora não consiga identificá­‑lo, tenho a sensação de já o ter visto. – Rápido! Nada. O caminhão não desacelera. Agora estou correndo. Os faróis do caminhão ficam à vista, brilhando em minha direção, iluminando o menino pelas costas. À medida que o caminhão se aproxima de nós, grito mais uma vez para que ele corra. Ele ainda está de costas para o caminhão, enquanto fica completamente imóvel, com o braço estendido para mim. 13

Maldição_MIOLO rev.indd 13

23/06/2017 16:26:46


– Ei! – grito, gesticulando em desespero. – Saia da estrada! Ele permanece lá, mas ergue o outro braço. As duas mãos estão agora estendidas. Ele quer que você o ajude. Ele precisa que você o salve. Corro o mais rápido que posso em direção ao caminhão que se apro‑ xima para tomar o menino em meus braços e colocá­‑lo em segurança. Minha mente está calculando a velocidade, a distância. Matemática. A segunda natureza. Não dá tempo de chegar lá e salvá­‑lo. Dá, sim. Tem que dar. Vá! Eu vou. O motorista buzina e freia, mas o caminhão está indo depressa de‑ mais e não vai conseguir parar a tempo. O cheiro forte de borracha quei‑ mada enche o ar. À medida que o caminhão começa a diminuir a marcha, a carroceria, que está cheia de toras de madeira, começa a deslizar para o lado da estrada. Quando estou a alguns passos do menino, ele finalmente se vira para trás para olhar o caminhão. Estendo o braço para pegá­‑lo, mas minha mão só encontra o vazio do ar. Viro­‑me para ver se ele correu para o outro lado e fico de costas para o caminhão, que atinge meu lado esquerdo e me joga no ar em direção à valeta que ladeia a estrada. De alguma forma, o tempo desacelera e se dispersa enquanto estou na metade da queda. A noite se torna líquida e sinto seu ar frio contra meu rosto, o forte perfume dos pinheiros que ladeiam a estrada, o som dos freios sendo acionados. A luz rápida dos faróis. As pedras do chão abaixo de mim. Aproximando­‑se. O tempo entra em colapso. Rompendo­‑se para frente. O impacto.

14

Maldição_MIOLO rev.indd 14

23/06/2017 16:26:46


Eu caio pela ribanceira, rolando em direção ao lago até bater contra uma árvore e pondo um fim abrupto à queda a cerca de cinco metros da estrada. Respire, respire, respire. Você está legal. Você vai ficar bem. Devia doer. Vai doer, mas, neste momento, a adrenalina está blo‑ queando a dor; durante todos os meus anos de futebol, tomei várias pan‑ cadas. Sei como isso funciona. Mas, neste momento, não me importo com nada disso. Só consigo pensar no menino. Você não conseguiu chegar até ele. Você o perdeu. Ele se foi. Meu braço esquerdo pende solto e inútil de um ombro deslocado. Já me aconteceu isso no futebol e, sempre que acontece, ver o braço nessas condições é chocante, mas a dor ainda não deu o ar da graça. Eu me levanto e subo a ribanceira de volta à pista. O caminhão passa por mim derrapando e finalmente para. Uma das correias que mantinham as toras no lugar deve ter se soltado, pois elas se espalharam pela estrada e a estão bloqueando. Horrorizado pelo que eu possa ver, examino a pista, mas não consigo encontrar o menino. Nada de sangue. Nenhum sinal de um corpo. Olho para a valeta em que aterrissei. Ela está coberta por sombras intensas, mas de onde estou não consigo ver o menino – ou o que pode ter sobrado dele se tiver sido atingido por aquele caminhão. Dei um mau jeito no tornozelo quando aterrissei, e ao dar um passo vacilante à frente para examinar o outro lado da estrada, ele se dobra. O motorista do caminhão corre para mim. – Você está bem? – pergunta ele num grito. Usando só um braço, é difícil ficar em pé outra vez, mas eu consigo perguntar: – Você o atropelou? – Quem? – O menino. O garotinho. – Que menino? – pergunta ele, olhando­‑me com espanto. Uma mistu‑ ra de confusão e medo. – Só estamos nós aqui. Você veio correndo contra o meu caminhão. O que houve com o seu braço? 15

Maldição_MIOLO rev.indd 15

23/06/2017 16:26:46


– Não, não, não. O menino que estava na estrada. – Ouça, eu estou lhe dizendo que não havia mais ninguém. Só você. O que você achou que estivesse fazendo? – diz ele, estendendo­‑me a mão para eu me levantar. – Você podia ter morrido. Você está bem? Dou um passo, mas torno a perder o equilíbrio e agarro o braço dele para não cair. – Você precisa ir para um hospital. O seu braço está…? – Deslocado. Eu estou bem. – Você não deve ficar andando. – Temos que encontrar o menino. A dor está finalmente se manifestando com intensidade. Olho para o meu braço esquerdo. Pelo estranho ângulo que ele forma, qualquer um pode ver que a coisa não está boa. Na última vez que isso aconteceu, o fisioterapeuta me disse que ele poderia tornar a luxar. Então… A previsão dele se realizou. Ou eu mesmo o ponho no lugar ou espero que um médico o faça – mas vai doer da mesma forma. E nesse meio­‑tempo o tecido vai conti‑ nuar a inchar, de modo que só vai ficar mais difícil colocá­‑lo no lugar se eu ficar esperando. – Ajude­‑me – digo ao motorista. – Preciso chegar até o seu caminhão. Ele torna a me dizer que eu não devia ficar andando, mas quando começo a mancar, ele me ajuda, segurando meu braço bom. Chegamos à carroceria, e eu encaixo meu pulso esquerdo num vão entre as tábuas. Ok, isso não vai ser mesmo fácil. – O que você está fazendo? – gagueja o homem. – Tração. Eu tenho que conseguir… Eu travo os dentes e me inclino para trás. Uma intensa explosão de dor. Quase desmaio. Mas não me inclinei o suficiente. O ombro ainda está fora do lugar. Relaxe. Você precisa relaxar os músculos. É a única maneira de conseguir colocá­‑lo no lugar.

16

Maldição_MIOLO rev.indd 16

23/06/2017 16:26:46


– Me dê um segundo – digo eu, respirando fundo, fechando os olhos, me preparando, e torno a me inclinar para trás, com mais força. Giro o corpo um pouco e, por fim, depois do que me pareceram os três segundos mais longos de minha vida, o ombro range enquanto vai para o lugar. Sinto um momento de alívio, mas, ao mesmo tempo, me vem uma onda de dor ainda mais forte e penetrante. – Você conseguiu…? – pergunta o caminhoneiro, pálido. – Consegui. Uso a mão direita para apoiar o braço deslocado e impedir que ele balance. Baseado em como as coisas aconteceram da última vez, vai ficar inchado por, pelo menos, umas duas semanas. – Você deve estar com algum ferimento interno – diz o motorista, pe‑ gando um celular e ligando para a emergência. – Você deve ficar deitado até chegar o socorro. – Precisamos achar o garoto. Por fim, ele cede. – Ouça, eu vou procurá­‑lo. Mas você vai ficar descansando. Enquanto ele chama o socorro, eu peço: – Diga a eles que sou Daniel Byers. Eles vão me reconhecer. – Vão mesmo? – Vão. Meu pai é o xerife.

17

Maldição_MIOLO rev.indd 17

23/06/2017 16:26:46



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.