MEDIADOR E O MISTÉRIO DA CEIFA

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Bruna Figueira

Mediador e o mistério da ceifa

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2014

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Copyright © 2014 by Bruna Figueira Coordenação Editorial Diagramação Capa Preparação Revisão

Nair Ferraz Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Monalisa Morato Paulo Alexandre Rocha Teixeira Rita Costa

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no- 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Figueira, Bruna Mediador e o mistério da ceifa / Bruna Figueira – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. – (Talentos da Literatura Brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. II. Série. 13-13941

cdd-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11-o andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SP Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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Dedico este romance a Marcus Eduardo C. da Silva, pois sem sua empolgação esta história não teria sido escrita.

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“E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda.” (Apocalipse 14:14)

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Sumário

Introdução............................................................................. 11 Primeiro ato........................................................................... 13 Um encontro inesperado..................................................... 15 Um dia após a morte............................................................ 21 Outra ceifa............................................................................... 27 Memórias................................................................................. 31 Resolução................................................................................ 39 Primeira visão......................................................................... 41 Tornando-se real.................................................................... 45 Primeira semana..................................................................... 53 Encontro marcado.................................................................. 59 Primeira descoberta............................................................... 63 Entrega de informações......................................................... 69 Mudanças................................................................................ 71 Um encontro inesperado....................................................... 75 Novos encontros..................................................................... 81 A festa...................................................................................... 85 Amanhecer.............................................................................. 97

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Omissão................................................................................. 103 Compras................................................................................ 109 Considerações....................................................................... 115 Parque.................................................................................... 117 Mudança de opinião............................................................ 135 Passando o tempo................................................................ 139 A ceifa.................................................................................... 145 Uma nova visão.................................................................... 147 Uma nova chance................................................................. 163 A fuga.................................................................................... 175 O templo de Tyriel............................................................... 183 O vilarejo desconhecido...................................................... 189 Anabel das Estrelas.............................................................. 193 A hospitalidade de Thales.................................................. 199 O encontro dos Mundos...................................................... 205 Explicações............................................................................ 207 A primeira Irmã.................................................................... 213 A fortaleza Escudo............................................................... 217 A segunda Irmã.................................................................... 237 O andar secreto..................................................................... 241 A terceira Irmã...................................................................... 247 O ritual................................................................................... 257 Corrida contra o tempo....................................................... 261 Batalha final.......................................................................... 265 Uma nova vida..................................................................... 275

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Introdução

David

Todas as pessoas são iguais. Pode haver mudanças na aparência e no comportamento, mas uma coisa entre elas é inconfundível: todas têm a mesma essência vital, que é emanada de sua aura. As auras, por sua vez, se diferenciam umas das outras em relação à cor. Já vi auras verdes, amarelas e rosas em uma só pessoa, pois essa é a característica primordial delas – elas mudam de cor conforme o estado emocional das pessoas. Nunca havia visto algo diferente em um humano, como uma aura mais fina cuja cor cinza nunca muda... Não antes de conhecer a pessoa pela qual eu coloquei minha imortalidade e segurança em perigo, a pessoa pela qual eu luto e pela qual eu faria tudo outra vez.

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Primeiro ato

– Venha e pegue sua ceifa de hoje, David. Igual a todos os dias, essa é sua sina... Essa é sua vida. Mais um ceifa, menos uma vida, são sempre essas as ordens que David recebia de seu Superior e, como sempre, era isso o que ele iria fazer, ele sempre iria acatar. David era um ser sem vontade desde a eternidade da qual se lembrava de sua existência. Ele era um anjo ceifador, um mediador entre a vida e a morte e ninguém que já viu sua face estava vivo... Não aqueles que ele não permitia. Embora pudesse tornar-se igual a um humano quando bem quisesse, ele nunca teve esse desejo... David nunca teve desejos... Não antes. David pegou o pequeno papel prateado que flutuava no ar, a sua espera, e foi para a Terra cumprir mais uma missão. A morte é fácil, uma passagem... Não há o que temer ao seu lado.

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Um encont ro inesperado

Christine

Era um dia de calor, mas eu estava com frio... Com muito frio. É assim que me sinto todos os dias nesta cidade ao andar de casa para o trabalho, ou melhor, ao andar para qualquer lugar. Meu nome é Christine Couto. Atualmente vivo no Brasil, cidade de Indaiatuba, interior de São Paulo. Geralmente o clima aqui é muito quente comparado aos de outras cidades onde já morei, mas isso não me incomoda muito, parece que o calor não me afeta tanto quanto às outras pessoas – pode fazer o calor que for e eu só me sentirei incomodada quando passar dos quarenta graus. Sou brasileira e sempre vivi no Brasil, embora meu maior desejo e ambição seja viajar o mundo! Sabe como dizem, sem lenço nem documento, apenas viajar, viver um dia após o outro sem me importar com o amanhã, cada dia em um lugar diferente! Conhecer pessoas e ver o deserto (ainda vou escorregar em algumas dunas). Ponto positivo de toda a loucura: sou sozinha, quero dizer, vivo sozinha. Desde que minha mãe nos deixou, 15

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quando eu era pequena, meu pai e eu nos mudamos várias vezes em busca de uma nova vida e há dois anos mudamos para Indaiatuba. Éramos felizes até um ano atrás, mas meu pai sofreu um grave acidente de carro, não resistiu e desde então eu me basto. Trabalho em uma floricultura e essa é uma parte boa em meu dia a dia... Adoro flores! Ponto negativo de toda a loucura: não passo de uma adolescente (convenhamos, não posso ser considerada adulta aos dezoito anos), vendedora em uma floricultura e que mal ganho para sobreviver, quem diria: viajar o mundo! Ainda guardo as economias que papai me deixou e o dinheiro do carro dele que eu vendi, mas são todas as minhas reservas e vão ficar bem guardadas, para caso haja alguma necessidade. Sempre fui muito sozinha, depois que terminei o colégio, principalmente após a morte de papai. Amigas? Bem, apenas duas pessoas que posso chamar assim... A dona da floricultura, senhora Raquel, que tem sido como uma mãe para mim, sempre muito compreensiva e dedicada em fazer com que sua paciência comigo não se esgote (ela sabe que preciso muito do emprego) e sua filha, Paula, que também trabalha lá e tem quase a minha idade – ela é um ano mais velha. Namorados? Sim, como você pode imaginar, os garotos fogem de mim! Não que eu seja feia – sou alta e magra, cabelos loiros e ondulados até a altura da metade das costas, branca, mas não pálida, minha pele é meio bronzeada por natureza (acho que devo isso ao clima quente dessa cidade) e tenho olhos verdes. – Porém minha beleza pode atrair os homens, mas não faz com que eles aceitem minha vida. Não tenho muito tempo para namorar, na verdade não tenho muito tempo para mim – começo a trabalhar às nove, saio às dezoito horas, faço minhas compras diárias (nunca 16

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me lembro de comprar tudo o que preciso, quando vou ao mercado, por isso vou lá quase todos os dias), depois, vou ao parque caminhar e quando chego em casa só tenho tempo de comer qualquer coisa fácil para esquentar e, em seguida, vou dormir... Bem, pensando melhor, não é minha vida que eles temem... Sou eu! Nunca consegui manter um relacionamento sério com alguém; de fato tenho um gênio muito difícil e pessoas como eu geralmente preferem ficar sozinhas. É como estou agora, espero que não para sempre, ainda vou encontrar minha cara metade! – Às vezes, sinto que há alguém neste mundo que existe apenas para mim, mas que por enquanto ainda não me encontrou... Tenho tido paciência em esperar! Este era um dia qualquer, estava voltando do trabalho com a minha superbicicleta rosa desbotada quando algo estranho aconteceu. Estranho é uma classificação muito sutil para o triste fato que ocorreu, seria melhor usar a palavra terrível; mas como posso classificar dessa maneira o fato que também mudou minha vida? Ali, naquele parque, andando com a mesma bicicleta antiga, foi quando o vi pela primeira vez. Tudo estava absolutamente normal, eu andava numa velocidade moderada pela ciclovia, apenas sentindo o vento tocar a minha face, o que era muito agradável, olhando as árvores em volta, todas tão iguais e ao mesmo tempo tão distintas, as pessoas conversando, todas muito educadas ao passar por mim e me cumprimentar. Após trinta minutos percorridos, decidi parar em um quiosque e comprar uma garrafa de água e foi então que tudo começou, rápido demais até para ser descrito: uma senhora e uma menina, que aparentava ter uns cinco anos (acho que eram mãe e filha), andavam pela calçada tranquilamente; a mãe se distraiu por 17

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um instante ao parar para conversar com alguém e, nesse momento, nesses poucos minutos, a menina viu um cachorro atravessar a rua e, sem cuidado algum, o seguiu. Todos que notaram o perigo gritaram, mas não houve tempo suficiente para que a mãe ou qualquer outra pessoa pudesse agarrar a garota, e o inevitável aconteceu. O cão conseguiu escapar, mas a menina não... Houve um barulho ensurdecedor do veículo sendo amassado e de repente nada mais. O tumulto começou a se formar: gritaria, lágrimas, pessoas ligando para a emergência, o desespero da mãe... Mas era tarde demais; todos que presenciaram o acontecido sabiam que seria quase impossível um adulto sair vivo dessa, imagine uma criança. Fiquei muito assustada e comecei a tremer de nervoso, até que ao olhar para o lado eu a vi, linda como era, mas sem nenhum machucado, nem marcas de sangue, sem ferimento algum! Eu que preferi ficar observando de longe, pois nunca tive estômago para ver sangue e não gostaria que tivessem que chamar outra ambulância caso eu desmaiasse, pude notar quando a menina saiu do meio da multidão sem que sequer ninguém notasse e começou a andar ao encontro de outro carro que estava parado ali perto, debaixo de uma sombra; ao olhar para seu local de destino, adiantando sua chegada, pude ver uma sombra se mover, nuvens cinzas que tomaram a forma do que me parecia ser um homem – não conseguia ver direito daquela distância. Então o homem também começou a andar, envolto em sua nuvem prateada, ao encontro da garota. Ao estarem frente a frente, ele estendeu a mão e a garota a segurou sem hesitar. Eles recomeçaram a andar, porém agora para o lado contrário ao do tumulto. A garota sorria satisfeita ao andar e nem olhava para trás. 18

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Instintivamente, sem nem ao menos notar que já estava me movendo, corri atrás dos dois, eu gritava para que parassem, a fim de que a garota voltasse para sua mãe, e também para que pudesse ser analisada, verificar se não teve mesmo nenhum ferimento. Chegando mais perto tive certeza, era um homem. Um homem alto e aparentemente muito forte, não pude confirmar, pois ele vestia um sobretudo longo, e a única coisa visível que não fosse o preto do sobretudo era seu rosto, muito pálido. – Voltem! Ei! Você, seu irresponsável, volte já com essa garota! – Aparentemente ele não me ouviu naquele momento. Eles pareciam estar em uma cena de filme, a garota parecia muito feliz e nem se preocupava que tinha sofrido um grave acidente. – Escute... Você! – Comecei a correr para me aproximar deles e quando cheguei mais perto do homem vi que ele tinha o cabelo prateado. – Você, do cabelo grisalho, volte... Espere, a garota deve estar ferida, ela não pode ir assim! – Nesse momento o homem diminuiu o passo e quase parou. Era como se não acreditasse que alguém estava falando com ele, que alguém houvesse notado o que ele estava fazendo. Sem nem ao menos parar, sem nem ao menos mover muito o rosto, ele me olhou. Olhos desinteressados a princípio, depois se tornaram obscuros, e eu não soube diferenciar se ele sentia raiva ou curiosidade. O que me chocou foi que, da mesma forma inesperada, seus olhos, assim como os cabelos, eram prateados... Claros, iguais aos cabelos, mas inconfundivelmente prateados. – Isso, volte... Venha, vamos levá-la de volta? – Imediatamente, tão rápido e inesperado foi seu movimento que eu duvidei no exato momento que ele um dia havia olhado para mim. Ele virou o rosto e não mais olhou para trás, caminhando tranquilamente como antes para longe. 19

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– Alguém?! Parem-no, não o deixem levar a menina! – E eu estava de costas para o homem misterioso e para a sorridente menina, voltada agora para a multidão. – Ali! Vão, por que não impedem? Não deixem... Você, por favor, eles estão ali... – Nesse momento eu me dirigia a um rapaz forte e sabia que ele podia impedir o homem, apesar de ele aparentemente também ser forte, foi quando me virei novamente para a direção onde os dois estavam, mas não os vi. Eles haviam desaparecido! – Acalme-se, moça, não há ninguém lá. Está tudo bem, a garota não sofre mais... Infelizmente ela se foi... – Não! Eu vi... Ela estava lá, andando... E sorrindo... E... O homem... – Aqueles olhos estranhos voltaram a minha mente e eu não me contive. – Socorro... Por favor... Então, percebi que estava perto demais do local do acidente e notei algo no chão. Antes de pensar estava olhando aquele algo que tinha visto pela visão periférica... Aquele algo era ela! A menina sorridente estava ali... Todo o tempo... E não estava ilesa... Estava ferida... Totalmente ferida... Ela estava morta! E tudo ficou escuro demais...

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