Mediando Conflitos no Relacionamento a Dois

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A finalidade do Casamento

O casamento representa um ato de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece um vínculo de solidariedade fraterna que promove e incentiva a união, o companheirismo e a cordialidade, elementos fundamentais para a boa convivência humana. Sua abolição constituiria um retrocesso sem precedentes. É importante que se deixe claro que por casamento refiro-me a toda união amorosa com intenção de permanência. Assim, salvo os casos em que a pessoa escolhe viver em celibato, o casamento representa grande incentivo para a evolução do Homem. Toda criatura necessita amar e ser amada; e é nessa busca que o matrimônio se sustenta. O Homem é um ser social e isso é comprovado até mesmo por sua constituição física. Desde seu nascimento depende de seu semelhante e é igualmente essencial o convívio para a reprodução que garante a continuação da espécie. Como tal possui carências afetivas que o impulsionam a procurar viver em grupo; é neste sentido que as famílias são formadas. O matrimônio é uma experiência emocional riquíssima que propicia, além da comunhão afetiva, os estímulos vitais preservadores do bem-estar físico e psicológico. Ao mesmo tempo é o palco onde

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encenamos nossos atos experimentais no sentido de forjar valores morais que nos permitam a boa convivência na sociedade universal em que estamos inseridos. Isso porque a experiência de viver lado a lado com uma pessoa que se distingue parcialmente de nós mesmos é um desafio que nos estimula a compreensão e o respeito ao próximo. Amar nas diferenças é o grande enigma desse sentimento que enobrece o ser e nenhuma situação pode ser mais propícia para isso do que a relação matrimonial. Quando escuto falar em estatísticas que comprovam o aumento de casos de divórcio, não me furto ao pensamento de que cresce o número de pessoas que buscam novos consórcios, ou seja, não há nisso o significado de falência na instituição do casamento e sim de fracasso na parceria. A falência é, pois, a do ser humano que, perturbado, mergulha em insatisfações sem se dar conta que o problema está nele mesmo e que, portanto, continuará a transferi-lo nas relações com outros pares. Não havendo uma transformação íntima significativa, os próximos relacionamentos inevitavelmente terão as mesmas dificuldades do primeiro. É assim que os problemas de uma relação são caracterizados: pela ação das pessoas que o compreendem. Desta forma, ninguém é totalmente vítima ou causador. Sempre há um emaranhado de emoções que se provocam e se debatem gerando conflitos e provocando desgastes. O casamento é, assim, uma sociedade onde duas pessoas comungam das mesmas aspirações, seja a prosperidade e a alegria de estar juntos, envolvendo a formação de uma família. Nesse contrato são estabelecidas as normas de comportamento sexual, familiar e a organização de interesses econômicos.

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Os casais costumam acreditar que essas normas estão acordadas, simplesmente porque são consideradas normais pela sociedade. É como se houvesse uma determinação – “Ao unirem-se, os cônjuges automaticamente deverão ter pensamentos, sentimentos e comportamentos recíprocos”. Desta forma, fica estipulada uma relação onde um espera receber do outro algo em troca pelo que tenha feito. O processo de troca é fundado na necessidade do parceiro em manter sua dignidade e autoestima, afinal, considera-se recompensado. Essa expectativa, mesmo que inconsciente, é tão intensa que o cônjuge que não se sente recompensado torna-se inseguro interferindo até na aceitação de si mesmo. Mas, como em qualquer sociedade, os planos podem não se realizar da maneira como se desejava no início e, então, os problemas de convivência começam a aparecer. Os padrões acordados durante o namoro podem não ser mais sustentados e o que se esperava quanto ao comportamento e satisfação mútua se frustram. Poucos casais mantêm-se enamorados para sempre e se não buscarem novas combinações terão conflitos constantes. Devo considerar aqui alguns pontos de suma importância e que tem a ver com o despreparo emocional com que muitos se aventuram na relação a dois. O primeiro é relacionado às fantasias, infelizmente comuns, de que com o casamento as almas se completam, pois pela união o amor se concretiza. Ledo engano! Primeiro porque ninguém completa ninguém, esse é um processo individual; segundo porque o amor é um sentimento e como tal se modifica, jamais adquirindo forma que se possa preservar. Isso me leva a pensar que o amor único e eterno é mais uma interpretação ingênua que acompanha os casais apaixonados provocando não raras vezes

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decepções cruéis. Infelizmente é muito comum a crença dos nubentes, principalmente os mais jovens, no consórcio matrimonial como sendo o reino da felicidade, esquecidos de que esse é um sério compromisso e que, como todo compromisso, exige responsabilidades recíprocas a benefício dos resultados que se deseja alcançar. A tão mistificada “lua de mel” – imagem do paraíso dos amantes pode ser desalentadora quando os cônjuges se deparam com a realidade que, passado o pouco tempo de enlevo, é nesse primeiro período do matrimônio que se evidenciam os desajustes, as inquietações e os receios. O que é muito natural, afinal, é um período de mudança e de adaptação para ambos. O problema aumenta quando os cônjuges, ao invés de procurarem entendimento pelo diálogo, desenvolvem frustrações e revoltas que se alojam e multiplicam em suas mentes com o passar do tempo.

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Lia estava especialmente feliz naquela noite. Era a primeira vez que ela e Marcos saíam, depois de casados, com amigos. No afã de agradar o marido usou um vestido vermelho que o deslumbrara quando ainda namoravam. Decepção total. Marcos ficou a maior parte do tempo conversando com seus amigos solteiros, bebeu demais, passou mal e sequer observou o vestido da esposa. Lia chorou toda aquela noite sem compreender a atitude de Marcos que jamais havia se excedido em sua companhia. Não conversaram racionalmente sobre seus sentimentos diante do acontecido e passaram a ter brigas homéricas cada vez que Marcos demonstrava desejo de sair com os amigos. Marcos passou a considerar

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Lia uma pessoa intransigente e dominadora, enquanto ela se lamentava pela falta de sensibilidade dele olhando para o vestido que jamais usaria novamente.

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É preciso muito cuidado quando se trata de avaliar o relacionamento, já que muitos casais acreditam que perderam seus elos simplesmente porque se depararam com a desilusão de suas fantasias infantis. É assim que muitos desistem logo nas primeiras desavenças, acreditando que se enganaram em relação ao parceiro. Fogem ao ver seu castelo dos contos de fada ruir. Casam-se apaixonados e muito breve, iniciam as primeiras rusgas que se transformam em verdadeiros duelos de egoísmo. Separam-se então, não raras vezes, cheios de ódio e ressentimentos. Romper paradigmas que nos foram impostos culturalmente e buscar novos conhecimentos é a medida que pode evitar sobremaneira esses infortúnios. Por que o amor seria único? Não amamos de vários modos pessoas diferentes? Acredito que o amor seja eterno, mas que na sua essência passe por transformações. Isso de forma alguma diminui a sua intensidade, pelo contrário, o edifica como verbo, ou seja, como ação. Assim o amor se transforma naquilo que fazemos dele, nem mais, nem menos; apenas diferente! É diante desta visão ativa do amor que entendo que os cônjuges devem amadurecer procurando cultivar a amizade e o respeito, colunas indispensáveis para sustentar o amor. Quando o ajuste não acontece, o casamento entra em zona de perigo eminente. Muitos casais diante de crises acabam por

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acreditar que poderão encontrar em outros pares a harmonia que almejam e acabam caindo no engodo da infidelidade. Esse perigoso devaneio só faz aumentar o problema, pois, o cônjuge infiel lesa moralmente a si próprio, não encontrando assim, a satisfação esperada. Para evitar que o casamento chegue à situação de desespero, deve-se compreender, o quanto antes, que ninguém será capaz de satisfazer o outro plenamente e que sempre será preciso ceder em alguns momentos a fim de promover a harmonia no lar. Entretanto, existem situações em que ceder se torna impossível, principalmente quando se evidencia o caráter e a personalidade de cada um, exigindo uma reação séria e disciplinar porque numa relação sadia ninguém pode se anular. É então que a necessidade do diálogo, cultivado com muito zelo no lar se torna mais intensa. Para que essa medida tenha pleno sucesso é importante saber colocar a própria posição, sem ofensas, mas também saber ouvir a posição do outro com paciência. Quando a situação do matrimônio não alcançou extremos perigosos, como as agressões físicas e a violência de forma geral, sempre há algo a ser feito a favor de um relacionamento mais harmonioso, desde que as duas partes desejem isso. É importante abandonar a crença da própria infelicidade, lembrando que ninguém é vítima ou mártir em um relacionamento. Na forte disposição de perdoar e se reformar é possível construir uma nova fase onde cada sócio procure compreender e amar objetivando a harmonia conjugal. Discussões alteradas nunca levam a boas conclusões; brigas geram discórdias desnecessárias e sempre causam desconforto e infelicidade. Por isso, diante de crises nervosas os cônjuges

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devem procurar inicialmente o equilíbrio emocional necessário, para depois conversarem sobre como solucionar os problemas que os afligem. Iniciando, desta forma, o processo de comunicação, fundamental para a edificação de uma família realizada e feliz. Um lar equilibrado é formado por cônjuges que compreendem o afeto e o respeito como alavancas poderosas de entendimento e, nesse sentido, já aprenderam a discernir a paixão transitória do amor verdadeiro.

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Não tenha pressa para seguir a leitura. Pense um pouco sobre o que leu: isso fez sentido para você? Reflita sobre suas ideias em relação à união de duas pessoas. Casamento: o que você acredita ser importante considerar?

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