A Sinfonia dos Anjos

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Neuah Serafim

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Anjos São Paulo, 2017

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A sinfonia dos anjos Copyrigh t © 2017 by Neuah Serafim Copyright © 2017 by Editora Ágape Ltda . aquisições

arte­‑final de capa

Cleber Vasconcelos

Dimitry Uziel diagramação

Equipe Novo Século

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Serafim, Neuah A sinfonia dos anjos / Neuah Serafim. ­‑­‑ Barueri, SP : Ágape, 2017. 1. Serafim, Neuah, 1970 - Biografia 2. Vida espiritual 3. Vida cristã I. Título 17­ ‑1068                      CDD­ ‑920 Índice para catálogo sistemático:

1. Serafim, Neuah, 1970 – Biografia  920

grupo editorial novo século ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455­‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699­‑7107 | Fax: (11) 3699­‑7323 www.gruponovoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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Nota do editor Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabi‑ lidade do autor, baseado em seus estudos e experiências. Nós, da Editora Ágape, acreditamos que a Bíblia é a nossa autoridade final para toda doutrina e prática.

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Com todo meu amor e paixão ao meu mestre Jesus Cristo, o Grande Guerreiro, único intermediador e intercessor de Seu povo. A Ele, somente a Ele, sejam a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém. O autor

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Uma grande e crucial questão nos atinge: ou tomamos uma posição definitiva e partimos para alertar nossa gente numa ação rápida, ou seremos engolidos por tudo o que provém do mal. Jehozadak A. Pereira (jornalista, escritor e editor)

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Apresentação Depois de muito esforço e lutas, esta obra é o resultado de vitórias em batalhas espirituais, pois sofri ataques de pesso‑ as ligadas às trevas – em especial, membros de seitas secretas infiltrados no meio cristão –, que não mediram esforços para barrar todo o projeto. Hoje, sigo com lealdade o verdadeiro Cristo Jesus e defen‑ do Sua causa, mas meu passado foi sombrio e tenebroso. Em A sinfonia dos anjos, eu descrevo parte de minha histó‑ ria e narro como as trevas trabalharam para me cativar, apri‑ sionar e me levar para a Irmandade satânica, bem como o alto preço pago para sair de lá. Aqui eu não relato pormenores do tempo de nove anos que vivi nas trevas, quando fazia parte da Elite satânica; essa nar‑ rativa está em outra obra: Anjos caídos – A revelação.* Apenas faço um salto dessa época, expondo as consequências da de‑ sobediência em deixar o caminho do Senhor Jesus, bem como toda a minha experiência, sendo cobrado de diversas formas a compartilhá­‑las para sua defesa. As informações que eu estou passando para você são de minha experiência, e não pretendo criar nenhuma doutrina por meio dela, ou ter que provar assuntos espirituais. Enquanto escrevia esta obra, debaixo de oração, de pesso‑ as ungidas, uma equipe se propôs a entrar na guerra espiritual comigo, e em oculto intercede por mim. O meu agradecimento a elas é eterno. Cuido que nem mesmo uma frase que tente *  Obra publicada pela Editora Pandorga. 11

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expressar toda gratidão seja suficiente; somente na eternidade e Jesus para recompensá­‑las. Meu desejo é que as pessoas pudessem enxergar o mundo espiritual como eu o vejo, e vissem que tipo de espírito habita nos corpos das pessoas e, uma vez feito isso, analisassem sua origem. Você veria dois tipos de almas: uma totalmente negra ou manchada e outra que porta luminosidade de dentro para fora. As pessoas que são luz variam na sua intensidade; as que estão manchadas provavelmente perderam a luz, e as negras nunca serão luz. Mas, infelizmente, são poucos os que possuem esse dom, e a maioria das pessoas é normal, nunca vira nada além dos olhos humanos, mas acredita na espiritualidade mediante a fé. Se acompanharmos o noticiário, perceberemos que habi‑ tamos em um mundo onde as pessoas são violentas, repleto de crimes, covardia e mentiras, uma política suja, bandidos in‑ corrigíveis, onde impera o medo e a incerteza de um amanhã, seja para você mesmo ou o futuro de seus filhos. Se você reside em uma cidade grande e violenta e pudesse analisar com seus olhos espirituais o núcleo de cada pessoa, veria que a maioria dos criminosos tem a alma negra. Perceberia também que existem outras almas negras que estão no poder e nos governam, estão nos cargos públicos mais disputados, na TV, à frente de grandes igrejas e ministérios, enfim, em todos os lugares. E como saberemos a diferença entre essas almas? Eu não sou o dono da verdade e não conheço quem seja, apenas Jesus o é! Mas a história que vivi talvez desvende esse mistério. O autor

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Sumário Prólogo 15 Capítulo 1 – Os encontros 21 Capítulo 2 – Conversões 27 Capítulo 3 – O contato 31 Capítulo 4 – O sítio mal­‑assombrado 38 Capítulo 5 – Uma família cristã 44 Capítulo 6 – Minha juventude 52 Capítulo 7 – Decisões certas e erradas 57 Capítulo 8 – Período sombrio 68 Capítulo 9 – No ocultismo 76 Capítulo 10 – A volta para Jesus 81 Capítulo 11 – A Irmandade ataca 85 Capítulo 12 – O falecimento de Lucy 93 Capítulo 13 – Consequências 98 Capítulo 14 – Sobre esta obra 105 Capítulo 15 – Temas diversos 109 Capítulo 16 – A Progênie do Altíssimo 114 Capítulo 17 – A primeira queda dos anjos 119 Capítulo 18 – A segunda queda dos anjos 122 Capítulo 19 – A fuga do abismo 125 Capítulo 20 – Seres adâmicos 134 Capítulo 21 – Os reencarnados 142 Capítulo 22 – Ninrode 152 Capítulo 23 – Gênesis 6 155

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Capítulo 24 – Esferas 161 Capítulo 25 – Mundo Astral 164 Capítulo 26 – Marduque (Nibiru) 171 Capítulo 27 – Aha­‑Men­‑Ptah (Atlântida) 178 Capítulo 28 – Guerreiros da Luz 186 Capítulo 29 – Jesus Cristo versus Sananda 189 Capítulo 30 – Evidências dos anjos caídos sobre a Terra Capítulo 31 – A religião do anticristo 200 Capítulo 32 – Atualidade 206 Capítulo 33 – Prepare­‑se 211 Capítulo 34 – Finalizando 220

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Prólogo Florianópolis – SC, Brasil 2001 Relato de como eu era antes de ter um encontro verdadeiro com Cristo Jesus. – Eu não acredito nas histórias que você conta – disse­‑me um zé­‑ninguém. Ignorei e continuei andando. Nunca fui de dar explicações para ninguém. Eu era muito arrogante e de um olhar ébrio e sombrio. Nessa época, sentia­ ‑me o todo­‑poderoso e era muito mau. Forças do mal eram visíveis em mim, marca registrada de atitudes nada sociáveis. Esse zé­‑mané, sem dúvida, tinha escutado nossa conversa no Bar Café próximo à Praça XV, a praça da figueira, e talvez, para se mostrar educado, não quis me abordar enquanto estava à mesa, e esperou eu sair. Voltei­‑me para ele, com o olhar baixo, embriagado de de‑ mônios, com muita frieza, e o questionei: – Obrigado pela audiência… Você é cristão? – Sim, eu sou cristão. Já sabia a resposta. A maioria do povo diz ser cristã, cató‑ lica, e grande parte é não praticante. Todos, porém, possuem conhecimento da Bíblia. Olhei fixamente nos olhos dele para intimidá­‑lo e continuei: – Hum… Responda­ ‑me: você acredita em lobisomens, vampiros, óvnis, sereias, chupa­‑cabras, fantasmas? – Não, eu não acredito. Isso tudo são lendas, são fábulas.

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– Então jamais vai acreditar se alguém lhe contar que viu alguém se transformando em um lobisomem… Jamais acredi‑ taria, não é mesmo? – Isso é ficção. Não viaja! Ouvi sua conversa… Até pa‑ rece que fumou maconha estragada, ou anda assistindo aos Teletubbies. Fui bem objetivo quando lhe disse: – Já procurou um psiquiatra? – Já, sou normal, tenho um laudo! – respondeu em tom de chacota. – Não parece. Recomendo seu caso a outro mais gabarita‑ do. E deixe de ser cristão, otário. – Como disse? – Isso mesmo. Deixe de ser cristão. Você acredita nas his‑ tórias de um livro repleto de fábulas e lendas. Tipo: com um cajado, um homem abre o Mar Vermelho… (ponte pra quê?). Felipe entra em um portal e sai em outra cidade… (pra que carros e aviões?). Sem falar de um cacho de uvas que de tão grande teve de ser carregado por dois homens fortes… Temos um X­ ‑Men: Sansão. Temos gigantes. Temos uma mulher que, ao olhar para trás, converteu­‑se em uma estátua de sal. Temos uma bendita de uma panela mágica, cuja farinha nunca se acaba… Você não acredita em lobisomem, mas, no seu li‑ vro, Nabucodonosor sofre uma licantropia, transformando­‑se em um animal, e pasta como animal por sete anos… Você não acredita em discos voadores, mas o seu Elias subiu aos céus numa carruagem de fogo… Bem reais essas histórias, não é mesmo? Uma viagem e tanto! A cocaína deve ter sido da boa, e anda assistindo à Rede Globo… – devolvi para ele. – É… Pensando bem… – balbuciou. – Falando desse jeito, ficou salgado em acreditar. Mas mesmo assim eu prefiro acre‑ ditar na Bíblia e nas histórias contidas nela. A diferença é que elas foram realizadas por Deus… Filho da mãe…, pensei.

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– E as que conto são realizadas pelo diabo, o opositor do seu Deus… Ou pensa que o diabo também não faz suas maravilhas? A verdade é que ele não quis mais me ouvir. Falou que não queria saber nada do diabo, e que estava tudo debaixo dos pés dele. Demência pura, só pode! Eu o ignorei, e nem sei a razão pela qual dei ouvidos a esse desprovido de inteligência. Ainda na Praça XV, fiquei observando aquele “desprezível e arrogante” indo embora, fulminando­‑o com o olhar. Era as‑ sim que eu via a humanidade. Era assim que eu via a todos que não faziam parte de meu “círculo”: como bichos. Quando estava por Floripa, essa praça era meu ponto de encontro, geralmente, com aqueles ligados ao meu mundo sombrio. Eram pessoas do grupo da Irmandade e, na maioria das vezes, não humanas, ou que já foram. São Entrantes da Unidade de São Paulo. Saí dali e fui para a zona norte da cidade. Floripa era meu êxtase. Um pedacinho de terra, perdido no mar!… num pedacinho de terra, beleza sem par!… […] Ilha da moça faceira da velha rendeira tradicional ilha da velha figueira onde em tarde fagueira, vou ler meu jornal […] (Rancho de amor à Ilha, de Claudio Alvim Barbosa) 17

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*** Os poetas a veem dessa forma. Pessoas espiritualizadas a enxergam além. A vista panorâmica enche os olhos pela beleza. A magia do lugar me arrebatava inexplicavelmente para aquela cidade. Conhecida como “a ilha da magia”, tal terminologia está além da história que contaram ao povo. É muito mais do que aparenta ser. É onde os bruxos se sentem em casa. Sim, os bruxos do mundo todo se sentem em casa.

A energia. A energia que emana do portal dimensional aberto por satanistas por detrás da ilha, no mar, flui de tal maneira que ultrapassa a alma. Qualquer pessoa espiritualizada sente isso. O burucutu é do bom! O melhor do mundo, por isso todo mundo vai pra lá. A sacerdotisa Dona Minerva sabia preparar essa planta alucinógena como ninguém. Ayahuasca é sacramental, é dos deuses, alcunhada de burucutu pelo nosso grupo. As misturas e especiarias que ela usava me viciavam, mas nunca revelava sua receita secreta, passada pelos seus ascendentes druidas. Sim, ela era uma druidisa remanescente. Parece água suja, mas não é; tem gosto de vinho ruim. Ela vicia. Não é uma droga comum. Não estraga o corpo, somente a alma. Ela mescla o mundo físico ao espiritual. Terror para as pessoas comuns; fascinante para os praticantes da alta magia, que buscam se harmonizar e fazer uso da visão espiritual. Fazia parte! Não procure saciar sua curiosidade tentando adquiri­‑la. Não terá efeito em pessoas comuns, pela falta de ritos e conju‑ rações. Somente atribuídos a sacerdotes. Esqueça!

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*** Avenida Beira­‑Mar Norte De frente para o mar, escutei por detrás de mim o farfalhar de asas. Alguém chegou. Sem me mover, continuei olhando a curva do mar e a bele‑ za do lugar com um olhar perdido para o horizonte. Ele se posicionou ao meu lado e me perguntou: – Como é a vida que você leva? Eu vivia esse tempo de alucinação em pleno auge do ocultismo. – Tentadora e contagiante – respondi. Olhei para ele e meus olhos brilhavam pela euforia, pela energia que ele me transmitia. Olhando em seus olhos ver‑ melhos como fogo, eu gesticulava com a cabeça tentando lhe entender, e me expressei da forma que ele me deixava sentir: – Desconcertante. – Uma pausa. Um silêncio amistoso de admiração. Prossegui: – Cara, você… Você me deixa em extre‑ mo êxtase… Havia um “provérbio”, ele me falou: – Lança a semente no campo da noite. Apenas escutei. E ele continuou: – Mata a ti mesmo. Nada disto basta por si só. Ele sorriu, e seu corpo desvaneceu­‑se numa névoa escura. O “provérbio” faz parte de rito e pessoas comuns não en‑ tendem; não é o que aparenta a expressão. Entrei no carro e o coloquei em movimento, para não con‑ tinuar passando por ridículo diante de pessoas normais que transitavam por ali; para eles, eu estava falando sozinho. Eu vivia o que descreve a oração a Hórus, “Faze o que quiseres”. E dirigia endemoniado, e rindo diabolicamente. Não sei como não me envolvia em acidentes. Muitas vezes colocava 19

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a polícia toda atrás de mim pelo excesso de velocidade. Eu su‑ mia! Outras vezes, os policiais ficavam me esperando retornar para me multar. Com uma cara de sem­‑vergonha e cínico, eu ainda os induzia a não me multarem. As multas nunca chegaram!

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capítulo 1

Os encontros Urussanga Velha, Balneário Rincão – SC 1968 O caminho antigo era uma estrada obrigatória para os via‑ jantes que se deslocavam de Porto Alegre para o Norte do Brasil, passando pela vila histórica de Urussanga Velha, ao sul de Santa Catarina. Em um fim de semana, na estrada geral, no centro da vila, era notório o movimento dos nativos e talvez de alguns poucos tropeiros e viajantes que por ali passavam, mas que não para‑ vam diante do movimentado baile, cuja atração era o que tinha de melhor, e podia oferecer o pequeno povoado como lazer. Um rabicho contendo luzes incandescentes, estendendo­‑se desde um poste ao outro, triangulava em um salão típico da época. Em seu interior, havia uma base que aparentava ser o palco, e sobre ela cantavam alguns caipiras desafinados, acom‑ panhados pelo chorinho da viola, das sanfonas e do violão. Ninguém se importava com a ausência de talento da ban‑ da. O que alegrava mesmo a moçada era o arrasta­‑pé, um rit‑ mo que contagiava os casais. Para a cultura da época, isso era o máximo; alguns anos­‑luz distante de um baile de gala, ou de qualquer comparação com uma discoteca da atualidade. A família Freitas havia se mudado para essa região não fazia muito tempo, por motivos que até hoje não são interpre‑ tados, aparentando ser conduzida por forças sobrenaturais. 21

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Salete Freitas e sua irmã Nirze foram a esse baile, sob os olhares vigilantes de seus irmãos. Nessa época, Salete deveria ter seus dezessete anos e, ao que tudo indicava, era bastante tímida. A garota se recuperava de um acidente de trabalho: levara um tombo de uma escada, o que lhe provocara um pe‑ queno traumatismo craniano, que não foi tratado. Tadeu, um sujeito nada tímido, muito folião e bem conhe‑ cido na região, era constantemente visto por ali. Ele obser‑ vava Salete e não demorou muito para abordá­‑la, tirando­‑a para dançar. Ela consentiu. A partir desse dia, Tadeu insistia em encontrar com ela em secreto, pois os irmãos de Salete eram muito ciumentos e não “iam com a cara” de Tadeu. Desde o primeiro encontro após o baile, ela deixou bem claro que não o queria, mas mesmo assim ele insistia, perseguindo­‑a até mesmo quando tomava o ônibus para o trabalho. Ele cuidava para que os irmãos dela não os vissem juntos, pois tinham lhe proibido de encontrá­‑la desde o dia em que fora à casa de Salete para conversar e eles o colocaram para correr de lá. O rapaz insistiu tanto, que um dos irmãos dela lhe jurou de morte. Tadeu se apaixonou pela jovem e acreditou que Salete lhe evitava por causa de seus irmãos nada sociáveis, mas na verda‑ de ela o detestava. Era comum naquela época homens “roubarem” uma moça de família, darem­‑se em fuga e, após o ato consumado, casarem. Tadeu planejou fugir com Salete e formarem uma família. Logicamente, ela não aceitou. Mesmo assim, ele não se intimi‑ dou com os irmãos dela. Certa noite, tomou coragem e arrom‑ bou a janela do quarto dela, fazendo sinal para que o seguisse. Temerosa pela tragédia que poderia se desenrolar caso um de seus irmãos lhes vissem, Salete o seguiu atordoada e com medo.

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– Tu estás louco, seu “Jaguara”? Te manda daqui, eles vão te matar… – disse Salete. Não teve jeito. Tadeu a agarrou pelo braço forçando­‑a a correr com ele. O dia amanheceu com vários homens com facão nas mãos, querendo encontrar o “miseravi” do Tadeu. Encurralado, ele se trancou uns dias na fazenda de seu pai, sem sair por nada. O ato foi consumado, e a notícia chegou até os pais de Salete, que tiveram de aceitar o novo genro a contragosto. Tadeu agora estava de posse de umas “terrinhas” por herança e de uma mu‑ lher para constituir família. Pouco a pouco, as duas famílias tornaram­‑se amistosas e as diferenças e discriminações – ambas as etnias eram diferentes e rivais – foram deixadas de lado. A família Freitas era nativa de Pouso Alto, no município de Gravatal – SC, e depois desse “incidente” voltou para as terras de onde havia partido. Estranhamente, aparenta­‑se que somente foram morar naquela região para que os dois jovens se encontrassem e casassem. E todo esse tempo não passou de oito meses. Eu tenho certeza de que foi “algo” espiritual. Eles foram meus pais. E se mudaram daquela região alguns meses depois. *** Sou natural de Gravatal, uma cidadezinha no interior do sul de Santa Catarina que dificilmente aparece nos mapas. Minha família paterna pratica o ocultismo. Envolvidos com magia negra, disfarçam­‑se como bons católicos praticantes. Já minha família materna não era tão religiosa – seriam como católicos “relaxados”, daqueles que não vão à igreja –, mas a maioria se converteu a Cristo em igrejas evangélicas no decor‑ rer de minha vida.

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Eu nasci em um sítio no alto de um monte, lugar aonde até hoje nem energia elétrica chega. Mais conhecido como: “O lugar onde o diabo perdeu as meias, pois as botas foram perdidas mais aos pés do monte”. Meus avós paternos vende‑ ram o sítio que possuíam em Urussanga Velha e compraram esse sítio em Gravatal. Na época, meu pai era “adepto” de Satanás e batizou­‑me relacionando meu nome a demônios, com referência a bruxa‑ ria e peregrinação. Realmente ele não gostava de mim! De família muito pobre, da roça, de onde se tirava o sus‑ tento da família, meu pai abandonou tudo e foi para a “cida‑ de grande”. Eu tinha dois anos de idade, e fomos morar em Florianópolis. Antes de ser vítima de Yri Saar (alguém de meu futuro), eu sempre tive uma mentalidade exemplar, e lembro­‑me de cenas quando ainda estava no berço, com idade inferior a um ano de idade. Lembro­‑me das brigas entre meus pais, por isso afirmo que passamos muita necessidade financeira. Trago na memória quando discutiam, bem como os locais onde vivíamos de favor. Éramos vegetarianos. A palavra “vegetariano” tem origem indígena e quer di‑ zer “caçador ruim”. Creio que meu pai não era um “bom caça‑ dor”… Eu não me lembro de carne na mesa. Era sempre ovo. Com quatro anos de idade, fiquei feliz da vida quando um tio disse­‑me que me pagaria uma “gasosa” (um refrigerante), pois nunca tinha bebido uma. Não me lembro de brinquedos, colo ou diálogo paterno. Além de mim, havia um irmão menor, e meus pais tinham acabado de fabricar gêmeos. Éramos seis. Tenho registrado em minha mente uma cena dramática. Um dos gêmeos recém­‑nascidos estava com pneumonia e foi le‑ vado para o batismo na igreja católica. Após o padre derramar a água do batistério na cabeça do neném, ele faleceu no ato. Eu vi o desespero de minha mãe e a raiva se instalou em mim. Sempre tive a convicção de que o padre matou meu irmão. 24

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Meus pais se mudaram para outro bairro, e havia muita briga em casa. Minha mãe acusava meu pai de ter amante e, ao averiguar, encontrou­‑o com um homem. Sempre tive certeza de que havia algo errado com o coroa. Ele era muito severo, desligado da família, não se importava com nossa educação, emoções e bem­‑estar. Sujeito típico igual a um jagunço. Piadista. No entanto, quem ria das piadas era somente ele. Naquele dia, minha mãe o encontrou com um colega de trabalho, altas horas da noite, contando piadas no pátio de uma catedral. Ele não tinha pressa de ir para casa após finalizar o expediente. O bicho pegou! Talvez a vingança vença a raiva. Ela se realizou quando jogou um rádio no chão que se arrebentou todo. Para se ter ideia, nessa época, rádio era um utensílio muito caro, e quem tinha zelava muito por ele. Tempo em que uma televisão colo‑ rida de pobre tinha uma película colorida instalada na frente do monitor como acessório. Ao ligá­‑la, levava um século para aparecer a imagem, porque tinha que aquecer as válvulas. Em razão da briga do casal, por motivos que não entendia direito, resolveram dar­‑me à minha avó para que me criasse. Devíamos estar passando fome, só podia! Não deu para entender isso! O causador do problema foi meu pai. Era ele quem deveria ser dado para avó dele, e não eu! Fui morar em Pouso Alto. Lembro­‑me de que chorava muito, com saudades deles. Dormia chorando, pois queria mi‑ nha família de volta. Eles não vinham me ver porque não ti‑ nham dinheiro para a passagem de ônibus. Só voltei para casa próximo dos sete anos, para estudar. Enquanto isso, na casa de minha avó, um tio meio per‑ turbado da cabeça queria sempre me bater. Será porque uma vez eu urinei em um frasco vazio de perfume da “Avanço” e o guardei em cima do armário? Ele, com pressa para ir a um baile, usou o perfume batizado. Ele estava meio endemoniado 25

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aquele dia, queria me pegar a todo custo e me “avançar”, en‑ tão tive que me esconder em uma plantação de milho até a poeira baixar. Eu era um anjinho, ele deveria entender! O Criador, porém, me entendia e tinha planos para mi‑ nha vida.

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