Naturologia

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Copyright © 2014 by Michelly Paschuino

Coordenação Editorial Preparação de texto Diagramação Capa Revisão

Silvia Segóvia Marcio Barbosa Abreu’s System Monalisa Morato Alline Salles

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Paschuino, Michelly Eggert Naturologia: reflexões sobre saúde, terapias naturais e pessoas / Michelly Eggert Paschuino. – 1. ed. – Barueri, SP: Novo Século Editora, 2014. – (Coleção talentos da literatura brasileira) 1. Naturopatia 2. Terapia Natural I. Título. II. Série. 14-06801

CDD-615.535 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93 2. Terapia natural 615.535 2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SP Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br

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D e d ic a t ó r ia

Dedico este livro em primeiro lugar à grande Deusa que, em face de todas as transformações, me deu forças e me amparou diante das dificuldades que poderiam me desviar do caminho e, enfim, me vejo com o mestrado concluído e o sonho do primeiro livro realizado. Em segundo lugar, mas não com menor importância, dedico àqueles que são vitais para minha existência: meus pais José Alfeu Paschuino e Leonita Eggert Paschuino, meus melhores amigos, meus companheiros, meus maiores amores... O amor por vocês é tão grande que nenhuma palavra seria capaz de expressar o quanto sou grata por cada segundo, cada momento de convívio e de aprendizado com vocês. Por fim, dedico à minha avó Maria Moreira de Mello Eggert (em memória), que nos deixou em 2011, de quem recebi o legado de força, luta e persistência para vencer na vida. Vó, a senhora será eternamente o meu anjo protetor. Eu e toda a família te amamos infinitamente.

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”

Carl Gustav Jung

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A g r a d e c ime n t o s

Agradeço do fundo do coração a todos os naturólogos que participaram desta pesquisa, contribuindo com os resultados promissores que favorecem a nossa profissão. Muito, muito obrigada! Agradeço aos coordenadores dos cursos de Naturologia, André Luiz Ribeiro (UAM) e Fernando Hellmann (UNISUL), que contribuíram e contribuem para que a formação atinja a qualidade necessária para tornar o naturólogo um profissional e um ser humano de qualidade. Agradeço também por facilitarem o acesso às informações para esta pesquisa e o desdobramento a favor da Classificação Brasileira de Ocupações que está em andamento. Muito obrigada! Agradeço a você, Marco Fabossi, por ser uma inspiração durante o exercício de Modelagem no curso de Master em Programação Neurolinguística. Graças a você, ganhei força interior extra para dar continuidade ao meu livro. Gratidão!

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Mic h e lly P a s c h u in o

Agradeço a você, que tem este livro em mãos, e desejo que a sua leitura seja rica e proveitosa, e que você possa transformar essas informações em sementes férteis, fazendo com que a Naturologia seja valorizada enquanto profissão e ciência.

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P r e f á c io

Quando Paracelso – nos primórdios do Iluminismo – pronunciou-se afirmando: “Todos são interligados. O céu e a terra, o ar e a água; o homem e a natureza. Todos são uma só coisa; não quatro, não duas, nem três, mas uma. Se não estiverem juntos, há apenas algo incompleto, sem sentido”, houve o chamado para a reconstrução daquilo que as ordens sociais se encarregaram de desagregar. O tempo se incumbiu de confirmar tal assertiva. O conceito de natureza humana vem se impondo de tal sorte que, atualmente, a comunidade científica e o público de forma geral reconhecem a presença das conexões entre homem e natureza; entre corpo, mente e emoções. Somos, como disse Paracelso, uma só coisa. Assim, apenas as manifestações físicas, mecânicas e fisiológicas não são suficientes para conferir plausibilidade às experiências do homem. Por desinformação, ainda, alguns colegas da área da saúde e de outros campos insistem em não aceitar algo que já

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é adotado por natureza e agora reconhecido pela vivência: a formação do sujeito diante da interdependência de sua natureza. Esta obra tem singulares missões históricas, políticas, educativas e de expansão pessoal; por isso, ela atrai diferentes públicos sem se distanciar de seu mais importante objetivo: o convite à descoberta das esferas biofísica, social, mental e sutil que sustentam a Naturologia e sua relação com o ser humano. Prefaciar um livro sobre o assunto que também tem sido minha motivação maior é uma dessas honras que ninguém pode recusar. Primeiramente por se tratar da produção de uma prezada amiga que deixa transparecer nas páginas do livro a mesma paixão e inquietação que vi nos profundos e sinceros olhos da menina que conheci. A menina que hoje é uma pesquisadora incansável e uma mestra inspiradora nas cadeiras que lhes são confiadas por nossa amada Universidade. Este magnífico livro é o reconhecimento da sabedoria de uma colega que luta pela humanização da saúde bem como pela cientificidade dessa humanização. A posteriori, trata-se de uma abordagem urgente, uma vez que nosso país e boa parte do mundo têm posto em questão a necessidade de se construírem pessoas sensatas e verdadeiras e, por meio delas, obter um futuro mais honesto. A respeito da ciência, pode-se dizer que vem sendo desconstruída e também reconstruída sobre novos paradigmas e à luz de nossas necessidades sem desrespeitar as metodologias até então vigentes. Não cabe aqui discutir o que é ou não ciência,

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no entanto enfatizar que ela também é dinâmica e que este trabalho vem a calhar num cenário mais amplo e obviamente sedento de novas propostas. A preocupação em colocar a Naturologia no hall das ciências e, mais precisamente, das ciências da saúde, alicerçando-a nos pilares da complementaridade e do embasamento em evidências, constrói o sujeito-profissional ético e consciente. Brinco: com ciência. A Naturologia como ferramenta de construção do indivíduo – considerando suas particularidades físicas, mentais e emocionais – é a melhor abordagem que vivenciamos diariamente em nossos consultórios pois, ao desenvolvermos nossos papéis de orientação e reequilíbrio desses níveis do ser, estamos sendo convidados a edificar uma estrutura orgânica permeada por dutos sutis de uma forma que ainda não fora experimentada pela pessoa. Essa função de “arquiteto de pessoas” não é vertical, superior à integridade do participante, pois nesse processo ela permite que a própria pessoa se construa apoiando-se nas propostas.As muitas contribuições aqui são úteis para estudantes, naturólogos e pacientes, demais colegas da área da saúde, autoridades públicas, e permitem que este trabalho trace uma linha transversal unindo o conhecimento e todos aqueles que buscam englobar dimensões mais abrangentes em suas vidas. Sim, a sabedoria deve ser compartilhada. A sabedoria não deve ser algo para o repouso de um espírito inquieto e pesquisador, ou o terraço de descanso de uma mente vaidosa, mas, sim, uma ponte para a glória do Criador e, principalmente, para o crescimento de seus filhos e a diminuição do sofrimento.

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Agradeço, orgulhosa, em nome de nossa comunidade, a concepção desta obra, que passa a ser uma fonte de consulta conveniente aos que ingressam na Naturologia e aos demais que desejam passar pela deliciosa experiência de se reconstruir, que é proposta desde Paracelso. Parabéns, minha amiga Michelly, por atender com maestria ao seu chamado. Priscila Esteves, naturóloga. Inverno de 2013.

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In t r o d u ç ã o

Naturologia... “Pera aí, natu o quê?” Estou acostumada a ouvir essa pergunta há nove anos e meio, tempo que representa o meu envolvimento com a Naturologia, mas o meu interesse pelas terapias naturais e complementares começou bem cedo. Com 15 anos entrei em contato com a cultura celta, que me estimulou a ver o sujeito com outros olhos, valorizando suas raízes culturais, crenças, o desenvolvimento espiritual e o relacionamento equilibrado do sujeito com a natureza. Aprofundei-me nos estudos, dedicando-me à filosofia Wicca, e foi por meio dela que conheci a fitoterapia, a aromaterapia, a cristaloterapia e o reiki. Em dezembro de 2003, ao terminar o Ensino Médio e empenhada em meu desenvolvimento acadêmico, busquei uma formação profissional que se relacionasse com as minhas aptidões e crenças pessoais. Apaixonei-me pelas terapias natu-

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rais e complementares e estava decidida a fazer disso o meu futuro profissional, mas desconhecia uma formação acadêmica que abrangesse essa temática. Sendo assim, decidi que em um primeiro momento eu faria o curso de Fisioterapia e me especializaria nas terapias naturais após a graduação. Porém, para a minha felicidade, conheci o curso de Naturologia da Universidade Anhembi Morumbi e, contrariando os sonhos dos meus pais de fazer Direito ou Comércio e Vendas, fui atrás dos meus sonhos. A proposta de estudar as terapias naturais e complementares visando à cientificidade e à abordagem integral em saúde me deixou plenamente segura quanto à minha escolha, tanto que em dezembro de 2007 finalizei o Bacharelado com a pontuação máxima do Trabalho de Conclusão de Curso, e, no mesmo período, fui convidada a fazer parte do corpo docente do curso de Naturologia da mesma universidade em que me formei, e onde continuo até hoje. Em função da carreira acadêmica, optei por fazer pós-graduação lato sensu em Acupuntura pela FACIS IBEHE em São Paulo, concluindo o curso em 2009. O mais incrível, pra mim, é saber que durante a graduação eu detestava a Medicina Tradicional Chinesa, justamente porque, durante a graduação, não compreendia a complexidade do pensamento chinês. Nesse mesmo ano, fiz o processo seletivo para o programa interdisciplinar de mestrado da Universidade Braz Cubas – UBC em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação. A maior dificuldade para a minha área é encontrar uma pós-graduação stricto sensu dentro da complexidade da Natu-

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rologia, e o programa de mestrado na UBC, pelo enfoque em pesquisas interdisciplinares, me acolheu para que pudesse abordar a minha profissão na dissertação. As reflexões a respeito da profissão são claras para mim, naturóloga, mas, a partir das críticas desenvolvidas ao longo da minha formação profissional e como docente do curso de Naturologia, as questões epistemológicas e profissionais da formação me trouxeram uma profunda inquietação sobre se elas estão sendo devidamente passadas aos alunos no âmbito acadêmico e se os egressos do curso conseguem exercer, na prática profissional, essa visão integrada de sujeito e de interdisciplinaridade /transdisciplinaridade. Diante dessas inquietações, tive dois grandes questionamentos que foram transformados nos dois pilares de discussão desta dissertação: 1) O curso de Naturologia oferece subsídios teóricos e técnicos que capacitam o aluno/egresso a ter uma visão integral e interdisciplinar sobre o processo de saúde-doença? Este questionamento é direcionado à formação acadêmica. 2) A formação em Naturologia implicou a abordagem integral do sujeito? Já este é direcionado ao problema da inserção do naturólogo no ambiente social e cultural como agente transformador da saúde na sociedade. Sendo assim, este livro tem por objetivo refletir sobre a contribuição da Naturologia para a formação do sujeito enquanto pessoa e no âmbito profissional, inserido em um ambiente em que a integralidade e a interdisciplinaridade se fazem cada vez mais presentes na abordagem em saúde, con-

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textualizando, por meio da formação acadêmica e da atuação profissional, a construção de uma profissão que propõe uma reformulação de conceito e de aplicabilidade da saúde em favor da humanização. Para tornar essa reflexão possível, o nosso percurso se dá segundo uma perspectiva histórica em que visualizamos as mudanças no conceito de saúde-doença. Esse olhar cronológico nos possibilita compreender o que estava acontecendo na história que favoreceu a fragmentação em saúde. A fragmentação tanto de sujeito como de saúde observada ao longo da história refletiu diretamente na contemporaneidade, resultando na desumanização da saúde. Mas, em contrapartida, com a chegada dos anos 1960 os movimentos políticos a favor da humanização da saúde favoreceram o fortalecimento das terapias naturais e resultaram no surgimento da Naturologia em 1994. A Naturologia apresenta-se como uma profissão que favorece o diálogo entre natureza e ciência, através da interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. A interdisciplinaridade também está presente na integralidade do sujeito, em seus aspectos biopsicossociais e metafísicos, favorecendo a humanização da saúde e a inserção do profissional naturólogo na sociedade. Sendo assim, no primeiro capítulo mostra-se, por meio de uma perspectiva histórica, as mudanças no conceito de saúde e doença que favoreceram a sua consolidação mas resultaram na fragmentação da abordagem do sujeito, originando a desumanização dos atendimentos das necessidades básicas em

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saúde. A favor da humanização da saúde, apresento quais são essas necessidades e a abordagem integral, que é uma das teorias que fundamentam a atuação do naturólogo. No segundo capítulo, apresento a Naturologia, o movimento histórico que favoreceu a sua inserção e seu crescimento como profissão, a relevância científica das terapias naturais, integrativas e complementares, atendendo a demanda sóciocultural, segundo a OMS, e o profissional naturólogo como educador em saúde e como facilitador da recuperação e manutenção da saúde. Já no terceiro capítulo abordo a graduação em Naturologia nas duas únicas universidades reconhecidas pelo MEC – a UNISUL e a Universidade Anhembi Morumbi –, os pilares que fundamentam a graduação e as disciplinas teórico-práticas que formam o perfil do naturólogo. Por fim, no último capítulo apresento a pesquisa qualiquantitativa realizada durante o mestrado, cujo objetivo foi refletir sobre a contribuição da Naturologia como uma nova profissão na área da saúde e na formação do sujeito segundo a abordagem da integralidade, avaliando, através da percepção do egresso, se a formação acadêmica oferece subsídios teórico-práticos para que o profissional possa se desenvolver, atuar em equipes interdisciplinares e, segundo a abordagem integral, se os conteúdos influenciam na sua formação como sujeito. Boa leitura!

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1 AS MUDANÇAS NO CONCEITO DE SAÚDE E DOENÇA

“Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença” William Osler

Para compreender o movimento a favor da abordagem integral e das terapias complementares, é necessário visualizar historicamente como as mudanças na abordagem do processo de saúde e doença criaram condições para que a integralidade do sujeito e a humanização da saúde fossem possíveis na contemporaneidade. Esse olhar cronológico nos possibilita compreender e relacionar os acontecimentos sociais, políticos e econômicos que, a partir dos anos 1960, favoreceram o fortalecimento das terapias naturais, até o surgimento da Naturologia em 1994. As práticas de saúde têm suas origens em rituais religiosos e esotéricos que se diferenciam nas mais complexas vertentes

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culturais e representam uma relação semiótica de interação entre os seres humanos e a natureza, fundindo-se plenamente com a história da humanidade e a constituição do sujeito. Toda e qualquer prática de “cura” (se assim podemos dizer) estava nas mãos de xamãs, curandeiros, benzedeiros... Todos, sem distinção cultural, representavam o sacerdote e lidavam com o invisível, que se manifestava através de dramas visíveis conhecidos na contemporaneidade como sinais e sintomas. As práticas populares e tradicionais estiveram intensamente vinculadas ao imaginário mágico religioso. Porém, a construção da autonomia das ciências da saúde só foi possível depois da ruptura mitopoética com as práticas religiosas e mágicas. A estruturação desse modelo hegemônico de pensamento fundamenta-se em procedimentos políticos que afastam e reprimem as práticas primárias de cura (MORAES, 2007). O modelo de clínica ocidental, tal qual conhecemos na contemporaneidade, está baseado no Positivismo (séc. XVIII), que possibilitou o avanço do conhecimento criando as principais condições que mudaram o estilo de vida, o que resultou na cura de muitas doenças (LUZ, 1997). Esse modelo de clínica favoreceu o conhecimento aprofundado e especializado em todas as estruturas e processos fisiológicos, enfatizando o funcionamento das células e o modo como o processo saúde–doença acontece (TRONCOM, et al., 1998). Essas características são observadas com maior frequência na medicina, que sofreu e vem sofrendo uma visão reducionista e mecanicista, tanto em relação ao homem como à ciência. Observa-se um aumento na realização de procedimentos especializados, diagnósticos, medicamentosos e cirúrgicos.

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Além de um distanciamento entre paciente e profissional, ocorre também uma redução da perspectiva terapêutica com a desvalorização de estilo de vida, valores e fatores subjetivos que humanizam o atendimento e fazem com que a abordagem do sujeito seja interdisciplinar (TESSER e BARROS, 2008). As primeiras mudanças da perspectiva saúde–doença ocorreram na Grécia antiga, quando se tornou possível reconhecer o papel do curandeiro como profissional e não como sacerdote. A partir do século III a.C., Hipócrates, conhecido como o “pai da medicina”, promoveu a cisão entre mente e corpo, que pode ser traduzida como uma cisão entre natureza e ciência (MORAES, 2007). O modelo de saúde grego difere dos demais porque produziu um tipo de pensamento que, pela primeira vez, distancia a natureza do sujeito pensante, produzindo conceitos e categorias que não mais se fundamentam no espírito do sacerdote antigo, que trabalhava com a noção de natureza como continuidade em relação às suas habilidades mentais, inseparáveis (LUZ, 1997). O pensador grego sentia-se separado da natureza e, assim, podia exercitar o pensar analítico e crítico sobre o seu objeto (os fenômenos naturais). Os gregos pensavam “medicamente”, enquanto os antigos praticavam e veneravam seus deuses, acreditando que a doença nada mais era do que um castigo por atitudes e relacionamentos desequilibrados, como se fosse uma lei do retorno (MORAES, 2007). A atividade científico-filosófica implica esse estranhamento, essa antipatia em relação à natureza. Em vez de comunhão

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com a natureza, esta passa a ser analisada como um objeto, algo separado do próprio investigador, e isso se tornou a principal característica do pensamento científico contemporâneo. A simpatia pertence ao xamã, ao mago, ao sacerdote antigo, que não permite pensar, mas viver a experiência. A antipatia pertence ao pensador crítico e analítico fundamentado no distanciamento que proporciona a reflexão diante de um acontecimento ou objeto (LUZ, 1997). Diante dessa visão dualística, Lévi-Strauss, por meio dos conceitos de “pensamento selvagem” e “pensamento domesticado”, aborda a vivência (que é proporcionada por meio da tradição e da natureza) e a reflexão (que é alcançada a partir do modelo científico). A primeira surge a partir da reunião de partes e de categorias do que é vivido, e assim o mito é criado. O mito aqui não é entendido como algo fictício ou ingênuo, mas como uma profunda compreensão da realidade a partir de categorias selvagens. O mito não é algo “inferior”, mas está diretamente relacionado com a vivência de quem o compreende. Ele pode pertencer a um único sujeito, a uma tribo ou população. Já o pensamento domesticado objetiva a realidade, remodelando-a a partir de elementos racionais. Isso estaria na origem do pensamento racional contemporâneo, que pode ser palpável, compreensível logicamente e comprovado (STRAUSS, 1989). O pensamento mítico era, entre os gregos, uma forma imaginativa, poética de se referir aos processos dinâmicos da vida. Aristóteles, ele mesmo médico, e Platão recorriam ao pensamento mítico, mesclando-o ao mais puro discurso racional (LUZ, 1997).

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