O diário de Litat

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Claudemir de Oliveira

O DIÁRIO DE LITAT Litat Dmefinos

COLEÇÃO NOVOS TaLENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Pau l o 2 0 1 2



PREFÁCIO O bem e o mal sempre existiram e sempre existirão, seja por meio dos atos dos homens, ideologias, fanatismos, seja na imaginação fértil: anjos, demônios, vampiros e bruxos... O Diário de Litat descreverá a força do mal nos atos mais odiosos praticados pelas mãos dos homens, e também o quanto o bem é protetor e forte para enfrentar até mesmo os piores atos praticados. Além disso, como pêndulo, a humanidade ainda terá o amor, capaz de ser um ato ainda mais forte que o bem e o mal. Serão descritas, nesta obra, as várias formas de manifestação do amor. O amor entre um homem e uma mulher, pais e filhos, pessoas sem ligações sanguíneas, mas unidas pela verdadeira amizade ou simplesmente o amor entre um grupo de pessoas com o objetivo de alcançarem a felicidade, a paz e a esperança. Litat terá em sua origem, e em seu sangue, a árdua tarefa de representar o mais puro amor na humanidade. Encontrará diversos povos de línguas e hábitos diferentes e junto contigo (leitor), percorrerá as maravilhas do mundo antigo. Terá o encargo herdado de seus avós, transmitidos para seus pais, de propagar o amor, porém ele mesmo só poderá sentir o amor em toda a sua plenitude depois que enfrentar e eliminar a última semente do mal, germinada na época de seus avós. Ele não estará sozinho em seu caminho, tanto o bem quanto o mal terão suas armas e artimanhas, mas Litat terá o amor e esse deverá prevalecer entre as pessoas, mas antes, ele deverá se preparar para encontrar e enfrentar a última semente do mal. Juntos, com nossas almas entrelaçadas, estaremos correndo sobre as nuvens, saltitando sobre as montanhas, observando casebres 9


e arranha-cĂŠus... Enfrentando o mal, transpondo os obstĂĄculos, descobrindo novos caminhos... Encontrando a felicidade nos pequenos detalhes da vida... Compartilhando amor, vivendo um grande amor... Litat Dmefinos

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As informações que estão descritas neste diário fazem parte da história da humanidade e do interior de uma mente em constante transformação, portanto, tudo que aqui estará descrito poderá ser uma história, uma fábula, mesmo havendo provas inquestionáveis de parte desses relatos. O que estará descrito nesse diário é o que meus antepassados contaram para meus avós, e esses, repassaram para meus pais, que repassaram para mim. Agora estou entregando esse diário em suas mãos...



UM Numa época desconhecida, os povos surgiram do lado oriental da Terra. As civilizações deixaram muralhas perfeitas de pedras usadas como proteção ao desconhecido, não apenas uma proteção contra os próprios homens ou seres que se assemelhavam aos homens da época. As muralhas foram instaladas com pedras gigantescas em formas perfeitas, tendo como único acesso grandes portões que necessitavam de dezenas de homens, dos mais fortes, auxiliados por animais acorrentados e parcialmente domesticados para sua abertura e fechamento. Essa arquitetura de autodefesa era extremamente resistente e perfeita, porém não foi eficaz para a proteção plena dos homens da época, pois de forma inexplicável, após alguns anos, nenhuma outra civilização pôde se estabelecer naquele lugar, já que a mãe natureza lacrou toda a extensão derramando lavas de um gigante vulcão, e ainda, um mar cobriu todas as rochas nascendo coloridos corais onde anteriormente era o ponto mais alto das torres e muralhas. Foi uma forma da natureza ou do arquiteto do mundo colocar um fim na disputa pelo domínio do local. O primeiro povoado, de que se tem notícia, que edificou as muralhas e domesticou os animais são anteriores aos deuses gregos. Era uma época em que todos os seres vivos temiam os deuses, sem distinção do bem ou do mal, e esses digladiavam entre si na tentativa de domínio absoluto dos homens. O povo dessa época tinha o hábito de cultuar o corpo perfeito, homens e mulheres possuíam corpos saudáveis. Não existiam, 13


aparentemente, moléstia, doenças contagiosas, muito menos qualquer outro vestígio de uma sequela em qualquer corpo humano. As crianças recém-nascidas e sadias eram entregues as suas mães e marcadas no nascimento com uma cicatriz à base de ferro e fogo para serem utilizadas num futuro não muito distante como instrumento ordenado pelos deuses, a fim de propagarem o bem ou o mal por onde se alcançasse a vida. Muitas mães não recebiam seus filhos após o nascimento e os feiticeiros, que faziam o parto, apenas justificavam que esses já teriam sido escolhidos para a guarda do mundo desconhecido. O choro dessas crianças arrancadas dos braços de suas mães parecia que se eternizava por toda a madrugada, juntamente com o lamento das mães, até o nascer do Sol. Aos poucos o som do choro se distanciava e nunca mais aquela criança retornaria, deixando apenas um sofrimento indescritível para aquela que a gerou por nove meses. Antes do nascer do Sol, os grandes portões eram abertos para a passagem de carroças em madeira negra, com homens totalmente cobertos por roupas negras e eram puxadas por cavalos negros que em poucos metros distantes das muralhas já se confundiam com a escuridão, retornando apenas vinte e quatro horas depois, surgindo da escuridão tal como um dia antes haviam sumido. As mulheres que, por duas vezes, tivessem seu filho retirado no momento do parto, seriam consideradas impuras para a fertilização. Suas cabeças eram raspadas e eram abandonadas por seus maridos, sendo desprezadas por qualquer outro homem, pois todos saberiam que elas não poderiam gerar em seus ventres um novo fruto. Até seus filhos mais velhos as abandonavam nas ruas, obrigando-as a sobreviver das migalhas deixadas nos becos ou a se prostituir em troca da simples subsistência.

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Essas mulheres eram também marcadas a ferro e fogo perto da virilha como forma de tornar público o seu estado, com as quais apenas os bárbaros, de forma brutal e com rostos cobertos, saciavam seus desejos nos corpos quase sem vida. Muitas delas se suicidavam, enforcando-se em árvores às margens das estradas. As crianças eram arrancadas de suas mães por serem consideradas imperfeitas ou doentes, e a permanência em sociedade poderia acarretar, para eles, na impureza dos corpos sadios e perfeitos.

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