A LENDA DOS CRISTAIS II - O MISTÉRIO DO ANEL

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Ana Carolina Jalles

A Lenda dos Cristais II O Mistério

do

Anel

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

São Paulo, 2014

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Copyright © 2014 by Ana Carolina Jalles Coordenação Editorial Diagramação Capa Preparação Revisão

Nair Ferraz Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Monalisa Morato Alessandra Miranda de Sá Rita Costa

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no- 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jalles, Ana Carolina A lenda dos cristais: o mistério do anel / Ana Carolina Jalles – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. – (Talentos da Literatura Brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. II. Série. 14-00692

cdd-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2014 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA. CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11-o andar Bloco A – Conjunto 1111 CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SP Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br

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Para minha mãe, por todas as histórias criativas e todo o esforço. Para Beth, Regina e Rachel, por me introduzirem e me ajudarem nos primeiros passos pelo caminho das palavras e da imaginação.

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Prólogo A ruiva soltou um sorriso divertido e continuou correndo. – Vem me pegar, Cien! Vem me pegar! – ela gritou mais à frente. Ele sorriu também e continuou avançando, correndo atrás da única que lhe fazia feliz. Ela tinha se aproximado do lago. Era uma visão mágica. O Sol se punha e tornava as águas cristalinas quase douradas, como ouro líquido. Cien correu em sua direção, sorrindo, e a enlaçou pela cintura, fazendo com que ela começasse a rir, contente. – Peguei-te agora! Ela riu um pouco mais, uma risada suave e bonita. Cien pegou-a no colo e ela não protestou, apenas se agarrou ao pescoço dele, ainda rindo e balançando as pernas longas e brancas. Ele a levou até a margem do lago, onde os dois se sentaram, os pés nus dentro da água que era como ouro. – Eu te amo, Cien – ela disse. – Eu te amo também. A ruiva sorriu para ele e se aconchegou em seus braços fortes, deixando-se envolver. Cien achava que ela era perfeita; nunca tinha visto ninguém mais bonito ou puro como ela, e ao mesmo tempo era forte e sábia. Só tinha um problema: ele não conseguia ver o rosto do fantasma da garota que segurava nos braços. Nunca conseguia. Fazia milhares de anos que não conseguia. Os dois ficaram admirando o pôr do Sol por

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minutos incontáveis, até que enfim ele disse as palavras para as quais não haveria perdão: – E se tudo isso fosse nosso? E se todo o mundo nos pertencesse? Se nós pudéssemos dominar tudo? – Sobre o que estás falando? – ela perguntou, desconfortável em seus braços. – Estou falando sobre conquistar o mundo. Fazê-lo se ajoelhar diante de nós. Eu seria o Rei de tudo, e tu serias minha Rainha das Sombras. Todos iriam nos temer. – Cien, isso é perverso! – a ruiva disse, fitando-o com os olhos que Cien não podia ver. – Maldade pura! – Não existe isso. O mal e o bem são apenas ilusões. Tudo sempre depende do teu ponto de vista. Se tu achas que isso é mau, então será mau. Mas, se achas que isso é bom, então será bom. – Não vamos falar sobre esse assunto, está bem? – ela sugeriu, procurando uma posição mais confortável nos braços dele. – Aqui é tão bonito! E eu te amo tanto! – ela falou, e Cien podia jurar que existia um sorriso em seus lábios inexistentes. Ele sorriu para o nada. Ela era perfeita e era só dele. Do que mais precisava? Sim, do mundo. Ele não queria mais nada, desde que tivesse o mundo inteiro a seus pés. – Eu também te amo. De verdade. – Ele beijou o topo da cabeça dela enquanto observava os últimos raios de Sol sumindo no horizonte.

Cien abriu os olhos, assustado, mas com uma sensação boa em todo o corpo. Um sentimento esquisito. Era só um sonho. Apenas um sonho, nada mais. Sonhava com sua Rainha das Sombras mais uma vez.

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Capítulo 1 A bolsa era de um rosa cintilante. Os saltos eram os mais lindos da última coleção de verão. A calça era branca, justa e infestada de pequenos ornamentos brilhantes. As joias refinadas e caras combinavam com o resto do visual. O gloss rosa-escuro estava perfeito, exatamente como o restante da maquiagem. Amanda andou como uma rainha há muito tempo perdida que retornava a seu trono. O que ela era de fato. Isto é, se a escola fosse um reino, então Amanda com certeza seria a rainha. Ou, pelo menos, na mente dela. Tudo estava como devia. Nada mudara de um ano para o outro. Os novatos sentiam-se um pouco perdidos e buscavam desesperadamente se encaixar; as líderes de torcida gritavam e pulavam; os jogadores de futebol se exibiam. E Amanda no centro de tudo, como se fosse o Sol e os outros, planetas a seu redor. Ela sorriu, ainda desfilando graciosamente. Mas seu momento triunfal foi interrompido pela irmã mais nova. – Amanda! Amanda! Espere! Amanda revirou os olhos e olhou para trás, esperando Dianne alcançá-la. Dianne era um ano mais nova do que ela e, apesar de não ser sua irmã de verdade, tinha os mesmos cabelos ruivos que agora

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balançavam no ar. Os óculos grandes pulavam em seu rosto enquanto ela corria e tentava jogar nas costas a mochila velha e remendada que pertencera à mãe delas. A garota tinha grandes olhos claros, um nariz não tão grande assim, a boca encontrava-se aberta em uma expressão estúpida e talvez os lábios fossem um tantinho finos demais. Os cílios eram compridos por trás das lentes, que estragavam todo o rosto, e havia apenas algumas espinhas pequenas no nariz. Bom, a seu modo, ela era bonitinha. E Amanda não ficaria na escola para sempre. Aquele era seu último ano. Ela precisava de uma sucessora. Era aí que Dianne entrava. Ela sorriu, cheia de malícia, enquanto Dianne enfim chegava perto dela. A irmã mais nova a olhou com uma cara desconfiada, pressentindo as consequências dos planos que Amanda ainda nem colocara em palavras. – O que foi? – Dianne perguntou. – Nada – garantiu Amanda. – Vamos logo. Vou apresentar você para as pessoas mais legais da escola! – Depois ela olhou melhor para a irmã e fez uma careta. – Onde achou essas roupas? Em uma lata de lixo? – Não. Eu… – começou Dianne, ofendida. – Não importa, não importa. – Amanda colocou uma mão no queixo e a olhou de baixo a cima. – Você tem lentes de contato? – Eu… – Ótimo. – Amanda não a deixou terminar a frase e continuou: – Amanhã vai vir com elas. Ah! E hoje, assim que sairmos daqui, vamos ao shopping comprar milhares e milhares de roupas. Você vai ficar perfeita, Dianne! Todos os garotos na escola só vão ter olhos para você.

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Então, Amanda pegou no braço de uma ainda atordoada Dianne e a levou para dentro da escola, despejando baldes e mais baldes de informações inúteis sobre maquiagem e moda em cima da garota.

Emma estava na confortável e tão bem conhecida casa da avó. Afinal, era horrível passar os dias na própria casa. Sentir o cheiro do pai e ir até o escritório dele, rindo e achando que o encontraria ali, mexendo com os papéis que o trabalho de advogado o obrigava a fazer. Mesmo quando não o encontrava, não era estranho. Ele não parecia ter morrido. Talvez estivesse no quarto dele ou na sala com a mãe. E então, quando ela corria pela casa chamando seu nome e por fim ia até a sala, encontrava a mãe sentada, os olhos vagos e quase dementes olhando para o nada. Nesse momento, Emma se lembrava de algo. Lembrava-se de que o pai não estava fora apenas por algum tempo. Ele não voltaria para casa. Não. Não voltaria nunca mais. Ela se sentava ao lado da mãe e, depois de alguns momentos sem reação alguma, a ruiva mais velha a abraçava, como se tivesse medo de perdê-la, e começava a chorar. Para Emma, era melhor ficar na casa da avó. Lá ela não tinha que aguentar as lágrimas da mãe ou a constante lembrança do pai vagando pela casa. Era verdade que era mais difícil controlar a magia quando se estava muito triste ou muito bravo, por isso, quase toda vez que imaginava de que jeito o pai tinha morrido, ela se transformava involuntariamente em uma raposa; ou então, quando pensava no monstro horrível que devia ser a mulher que matara seu pai e que

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assombrava o sono de sua mãe, o objeto pontiagudo mais próximo voava na direção para a qual ela olhava. Ficara decidido, portanto, que ela poderia faltar à primeira semana de aula para poder se recuperar, e que ela e a mãe ficariam na casa da avó, já que as marcas da morte do pai não estavam presentes ali. Emma agora tinha a estranha sensação de que sua casa ficara marcada depois da morte dele e era como um ponto turístico para espíritos e assombrações. A mãe parecia ter a mesma sensação, já que agora colocara a casa à venda e procurava outro lugar para elas morarem, dizendo que não podia mais se aproximar dali. Enquanto isso, Emma e a mãe moravam com a avó. Três bruxas em um só lugar! Isso era realmente engraçado! Tudo bem que a mãe havia desistido da magia e que não podia mais fazê-la, mas ela tinha nascido bruxa, e seus cabelos eram tão ruivos quanto os de Emma. Além disso, a mãe parecia ter um dedo verde para as ervas usadas nas poções, e respirar tanto ar mágico na horta do fundo da casa da avó parecia estar lhe fazendo muito bem. A cor voltara às suas bochechas e a vida, a seu corpo. Ela estava melhorando depois de tudo o que acontecera. – Mãe! – chamou Emma, parando na porta de vidro e avistando a mulher ajoelhada sobre uma moita de ervas que parecia ficar mais verde a cada dia. Ela se levantou e andou em direção à filha, limpando as mãos no avental que usava para não sujar as roupas de terra. – Oi, Emma. – Ela beijou o topo de sua cabeça. – Algum problema? A garota negou com a cabeça. – Não, mamãe, é só que a vovó está chamando. Terminou de fazer o almoço.

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– Certo. – A mulher sorriu gentilmente para Emma. – Só vou terminar uma coisa e já estou indo. Pode ir primeiro. Emma assentiu e entrou na casa, fechando a porta e ficando de costas para ela, apenas para observar a sala de TV pequena, inutilizada havia muito tempo, já que a magia era a principal fonte de atividades da casa. Quem precisa de TV quando se pode ter magia? Ela andou até a cozinha com passos tranquilos. Mas parou a um passo da entrada. Seu corpo congelou. Havia acabado de sentir algo estranho no pescoço e levou a mão até ele. Não, não era dor. Era mais como um estranho incômodo. Seus dedos encontraram o cristal do colar que ela sempre usava e que tinha uma estranha ligação com Cien, um bruxo das trevas que deveria estar morto, mas que ela sabia que não estava. Só não entendia o porquê, já que ela e algumas amigas haviam feito um feitiço para matá-lo, portanto aquilo não fazia o menor sentido. Será que Cien planejava alguma coisa nova? O que será que fazia naquele momento, para o cristal tê-la incomodado?

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