O Crente - preparado para estar diante do trono de Cristo?

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Sediel PlĂĄcido

Ocrente

Preparado para estar diante do Trono de Cristo?

SĂŁo Paulo / 2012



Prefácio

Esta é uma obra de ficção cujo objetivo é levar o leitor cristão (principalmente, os protestantes, dos quais eu faço parte) à reflexão sobre seu modo de viver, seu relacionamento com Cristo, e sua postura em relação às outras pessoas. Tudo com o intuito de ajudar no crescimento espiritual e no conhecimento dos textos bíblicos. Ainda que se trate de uma obra de ficção, o comportamento das personagens é baseado em circunstâncias e modos de vida reais. O modo de agir e as atitudes de cada personagem foram elaborados a partir do comportamento corriqueiro que tem tomado conta da vida de muitos cristãos e até igrejas. Sendo assim, esta é uma obra de ficção somente por ter como pano de fundo o céu, pela história se passar no Dia do Julgamento. Tudo o mais reflete a realidade da vida de muitas pessoas que ainda acreditam que, por frequentar um templo todo domingo, já estão salvas. Como o livro é uma ficção e seu objetivo é a reflexão do comportamento de muitos cristãos, as cenas, alguns personagens (como o Meirinho Celestial), a ordem do julgamento, a posição de um dos personagens principais, Ocrente, e o modo de agir de Cristo e dos seres celestiais aqui descritos não devem ser vistos


de forma alguma como algum tipo de revelação. Esclareço este ponto para não haver qualquer confusão sobre a realidade do que encontraremos no céu e no dia do julgamento. Também, por esta razão (não levar ninguém a ficar confuso sobre como as coisas acontecerão no dia do julgamento) que mantive a descrição das cenas e a ordem de julgamento como estão, sem muita relação com as descrições encontradas no capítulo 25 do livro de Mateus e no livro de Apocalipse. Há a descrição de dois Tronos distintos em Apocalipse, com circunstâncias diferentes e momentos diferentes. Por se tratar de uma ficção achei apropriado colocar neste livro apenas um Trono para facilitar o entendimento. Mas é importante para o leitor saber a distinção entre o Trono descrito no capítulo 4 e o descrito no capítulo 20 do livro de Apocalipse. A Bíblia, a Escritura Sagrada de Deus, é o único livro que contém as descrições e revelações de como será o Dia do Julgamento e o que nele haverá. Qualquer outra descrição feita em qualquer outro livro é mera conjectura ou ficção! O leitor deve resguardar esta restrição, pois o intuito do livro é levá-lo à reflexão sobre a vida cristã e não a uma nova revelação do fim dos tempos ou de como se dará o Julgamento no Grande Dia do Senhor. Leia e estude a Bíblia!


1 O inesperado (2Co 12.9, Rm 10.13)

Após uma vida inteira de dedicação à Santa Igreja, a vida de um sujeito chamado “Ocrente” chega ao fim. Como se desde sua morte existisse um lapso de tempo e nada tivesse ocorrido, Ocrente agora se depara diante de Cristo no dia do Grande Julgamento... Não se sabe quantas pessoas já foram julgadas, mas Ocrente sente que não é o primeiro a estar ali. Há um silêncio penetrante e aterrador. Ocrente jamais imaginou assim o dia em que se apresentaria diante de Jesus Cristo. Sempre pensou que este seria um dia de festa. Música celestial enchendo o ambiente. Anjos voando de um lado para o outro. No entanto, o que se sente e se vê é um temor quase palpável. Parado no centro da sala sob olhares atentos ao redor e, principalmente, sob o olhar de Cristo, sente-se exposto e nu como nunca. O constrangimento deste momento não o impede de notar a singularidade da sala em que se encontra. Existe muita claridade, mas não há nenhuma fonte de luz, seja artificial ou natural. Não há luzes no teto. Nem se pode dizer que há um teto. Mas também não há nenhuma estrela como o Sol para 11


iluminar o ambiente. A luz parece existir por si só, parece ser o próprio lugar. Assim como no teto, não se pode dizer que haja paredes. De certo, não há. Mesmo assim Ocrente sente que está num recinto fechado. E ele parado, bem no centro, alvo da atenção de todos. Incomodado com o silêncio inquebrável, ele considera a possibilidade de se pronunciar diante de Cristo. Mas a reverência do lugar, onde nem mesmo o ar ou a luz parecem ousar mover-se sem o consentimento d’Aquele assentado no Trono, impede-o de falar ou mesmo mover um músculo do seu corpo. Uma angústia toma conta de seu ser e seus olhos ficam marejados... − Ocrente − finalmente Cristo se pronuncia − e agora... Que farei com você? Atordoado com a pergunta e antes mesmo que Ocrente pudesse pensar em qualquer resposta, ele ouve de Cristo uma proposta que lhe tranquiliza e, ao mesmo tempo, o deixa de certo modo orgulhoso. − Hoje é o Dia do Julgamento − ressalta Jesus. − Ainda há muitas pessoas para julgar. E agora que você está diante de mim gostaria de saber se não deseja ficar aqui ao meu lado? Ocrente, outrora receoso e desconfortável no meio da sala, agora se deleita com tamanha honra. Ele pensa: “Quem mais poderia receber tão grande galardão?” Neste instante, Ocrente começa a pensar que todas as suas “grandes obras” o credenciaram para ganhar esta confiança. Ele caminha para se posicionar ao lado de Jesus. “Nada mais justo visto todo o trabalho duro e tempo que gastei defendendo a honra de Jesus”, pensa o agora “conselheiro 12


de Cristo”. Ao menos era esse o título que Ocrente daria a si mesmo. Já ao lado de Jesus ele diz: − Eu sonhei com este dia desde o momento em que me converti na “Santa Igreja”. Neste mesmo instante, o “Meirinho Celestial” apregoa: − Que entre a próxima alma para ser julgada! Abrem-se as portas e adentra ao recinto outro sujeito. Ocrente fica confuso por um segundo, pois não se lembra de toda esta solenidade em sua chegada. Lembra-se apenas de já estar diante do Trono quando abriu os olhos. Mas seus pensamentos não duraram mais do que um segundo, pois o vulto que emergia dentre as portas abertas lhe era estranhamente familiar. Aproxima-se do Trono um sujeito cabisbaixo com um aspecto cadavérico e triste. − O que você pode dizer a respeito desta alma? − Jesus pergunta para Ocrente sem tirar os olhos do sujeito franzino à sua frente. Fitando o velho homem com certo desdém, Ocrente diz: − Senhor, eu o conheço. Este homem era meu vizinho lá na terra. Ele era chamado de “Zé das Pingas”. Nunca quis nada contigo! Só ficava no bar bebendo pinga até desmaiar pelas calçadas. Com os olhos fixos em Zé das pingas e uma expressão em seu rosto que parecia querer dizer “Eu te disse que isso iria acontecer”, Ocrente prossegue: − Jesus, eu cansei de tentar “evangelizá-lo”, mas quem disse que ele quis? Este homem tem um coração duro. Nunca

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aceitou meus convites para se tornar membro de nossa igreja! E sempre rasgava, sem ler, os folhetos que eu entregava a ele. Passado o susto e agora confortável em sua posição, Ocrente empolga-se e se delicia ao ouvir apenas o som de sua voz ecoando pelo lugar. − Não gaste seu tempo com um ser tão biltre. QUEIMA ELE JESUS! Para que aprenda que com Deus não se brinca e que Deus é fogo consumidor! − Sentencia Ocrente agora tomado pelo “fogo do espírito” e rodopiando com os braços abertos fazendo sons estranhos em meio a línguas mais estranhas ainda que saíam da sua boca. Jesus olha de canto de olho para Ocrente que, ao perceber-se observado por Cristo, começa a conter-se não sem antes dar um pulinho meio torto que quase o faz cair devido a tontura causada pelos rodopios. Jesus volta-se ao homem chamado Zé das Pingas e diz: − Eu o conheço e sei que tudo o que Ocrente diz sobre você é verdade. Mas sei também que ele desconhece outros fatos de sua vida que também são relevantes e, principalmente, o emaranhado de sentimentos que existe em ti. − Ocrente está certo em dizer que você não merece entrar no meu descanso − prossegue Cristo caminhando em direção ao pobre homem. − Mas eu lhe digo: Vem bendito do meu Pai, pois estive com fome e você me deu de comer, estive com frio e você me agasalhou, fui preso e você foi me ver na prisão, estive doente e você foi me visitar. Jesus mostra o tamanho de sua graça: − Eu sei dos seus pecados e das suas falhas. Mas sei também da sua fé. Tenho ainda em meus ouvidos cada palavra 14


dita por você enquanto chorava caído pelas calçadas dizendo-se indigno, miserável e me pedindo perdão pelo pecador que você era. Implorando com uma sinceridade que somente um homem jogado ao chão pelo seu próprio pecado é capaz de pedir, que eu não lhe imputasse seu pecado. Por fim, Jesus diz: − Entrai em meu Reino, pois a MINHA GRAÇA TE BASTA! Sem entender nada e em profundo estado de estupefação, Ocrente questiona: − Senhor, como pode deixar o Zé das Pingas passar? Jesus não se preocupa em responder. Permanece mudo e olhando diretamente para as portas. Ocrente pensa interpelá-lo novamente, todavia, antes que seja possível, ouve-se a voz do “Meirinho Celestial” apregoar novamente: − Que entre a próxima alma para ser julgada!...

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