Planeta AVA II

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H O LO G R A F I A AVA N A : OÁS I S O U M I R AG E M ?

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Planeta AVA: uma gota de orvalho na aridez terrena Copyright © 2016 by Glauco Ramos Copyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda.

aquisições Cleber Vasconcellos

coordenação SSegovia Editorial preparação Elise Garcia diagramação Abreu’s System

revisão Andrea Bassoto Fabrícia Carpinelli capa Dimitry Uziel

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Ramos, Glauco Planeta AVA : holografia avana : oásis ou miragem? : parte II / Glauco Ramos. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2016. – (Coleção talentos da literatura brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. II. Série. 16-00889

CDD-869.3

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira  869.3

novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11º andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br

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D edicatória

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edico este segundo volume a todos os cientistas e pesquisadores da matéria e do universo, em especial aos físicos quânticos, que nos revelaram tantos aspectos que continuam incompreensíveis à mente humana, mas que se desnudam insinuantemente por meio dos experimentos. Estou aqui, mas ninguém pode me ver; existo, mas jamais alguém poderá me captar — é assim que as partículas conversam conosco, mostrando, por meio de sua natureza, a presença inegável do imaterial que permeia tudo.

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Agradeci m entos

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gradeço à AVA, um estado profundo de vida em abundância, uma percepção do real e um toque na divindade por meio do sentir a si mesmo. Agradeço especialmente a você, leitor, tocado pela gota de orvalho da primeira parte desta tríade; a mesma gota que se transforma num manancial por intermédio da “Holografia Avana” e que, ao final, revelará tratar-se de um oásis ou de uma miragem. Agradeço a todos os seres do universo. Obrigado, Hug, por compartilhar conosco tantas experiências. Obrigado, sol, por nos relembrar de que fazermos parte da mesma energia, que somos centelhas da mesma fonte. Obrigado, Noite, mensageira do imaterial cósmico. Obrigado, Corpo Humano, invólucro de tantos avatares. Obrigado, Consciência, estofo de todas as formas. Por fim, um agradecimento especial ao Amor, poder inefável, presente dos deuses.

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S u mário

Apresentação 13 Lista de ilustrações

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Introdução 19

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I. O m u n do holográfico de AVA O homem do barco O enigma da esfinge Princípio Antrópico Pontos cegos da nossa existência Inovações da física moderna Emissor-receptor de hologramas Medicina holográfica Teoria holoinformacional Você participando da criação Acesso ao imaterial

21 22 40 43 48 61 67 74 86 91 102

II. Transcen dência Benefícios terapêuticos Libertar-se do corpo Meditar em AVA Alcance infinito

113 117 120 126 139

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III. A mor em Ava Caudalosas águas do amor Além da vida, além da morte Amor catalogado Amor não se busca

145 157 171 178 182

IV. S i lêncio

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sem buscas

Referências Bibliográficas

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A Terra é um padrão elétrico energético. Um vazio de energia com uma consciência subjacente, que mantém a matéria unida e em um formato. G lauco R amos

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A presentação1

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aro leitor, este não é um livro para ser lido no saguão do aeroporto como um paliativo ao aborrecimento da espera. Ele precisa ser degustado, lido e relido, para que se possa subtrair a essência daquilo que aqui está colocado, em grande medida na forma de alegorias, nas quais o objeto da observação é superdimensionado, provocando uma hipertrofia proposital a enfatizar um ponto específico, mas ligado de forma indelével, a uma cadeia de eventos interrelacionados. É para este formato da exposição feita pelo autor que chamo a atenção — a maneira com que ele é capaz de trabalhar o conceito do complexo. O complexo é quando os componentes que constituem um todo são inseparáveis e existe um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo entre as partes e o todo, o todo e as partes, que precisam ser percebidas na sua plenitude para uma verdadeira compreensão2. Aquele que não consegue unir aquilo que foi deliberadamente fragmentado na esperança de aprofundar um saber 1. Esta apresentação, que ora se transcreve, foi feita pelo Dr. Marcos J. G. Rambalducci, na primeira parte desta tríade. 2. MORIN, E. La tetê bien faite:repenser la reforme, repenser La pensée. Paris: Seuil, 1999.

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acaba se colocando no lado oposto do conhecimento, incapaz de perceber a realidade de maneira holística, tornando-se cego, inconsciente e alienado. Esta obra se propõe a resgatar o entendimento do ser humano como pertencente a dois mundos: o do individual e o do coletivo, do material e do não material, da ação e da contemplação, da vida diária e da vida plena. A realidade da nossa vida diária é-nos posta como um processo ordenado, previamente arranjado em determinados padrões, que nos são apresentados sem que tenhamos participado de sua constituição e de sua valoração3. O que propõe o autor é que nos permitamos levantar essa cortina mirando outro mundo, com significados próprios e uma ordem que pode ter ou não relação com a ordem estabelecida à nossa vida cotidiana. Por meio das experiências narradas por Hug na dimensão denominada AVA, embarcamos para esse novo mundo de percepções — antes desconhecidas ou negligenciadas —, no qual ele se percebe como unidade, mas dentro de um contexto ampliado como parte de uma entidade coletiva, cujo acesso se dá quando sua atenção se volta para seu íntimo, sem, contudo, deixar o vínculo estabelecido com a realidade de sua vida diária, que agora se esvanece, mostrando-se efêmera e tênue na medida em que seu entendimento sobre a natureza das coisas se agiganta. Aqui, Você, Agora — AVA é um imperativo, um apelo à emergência de voltar sua atenção para dentro de si, na busca 3. BERGER, P. L. & LUCKMANN, T. The social construction of reality: a treatise in the sociology of knowledge. Garden City, NY: Anchor Books, 1966.

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de uma compreensão expandida da realidade. Tal possibilidade é legitimada no entendimento proposto pelo autor, no qual a realidade se mostra na forma de um holograma, em que cada parte, cada ser humano, possui a informação do todo. Quanto ao autor, afianço-lhes que os deuses conspiraram com as circunstâncias, que lhe propiciaram um grau de abstração que, se não é concedido a todos de forma direta, a revelação nos é oferecida nas páginas deste livro, a todos aqueles que assim o quiserem. Deixe a racionalidade de lado, permita-se embalar nos sonhos de Hug e embarque nesta aventura do autoconhecimento. Permito-me uma última digressão. Se John Donne estava certo ao afirmar que cada homem que morre nos deixa um pouco menores porque somos todos do gênero humano, mais certo ainda é que quando um homem abre sua alma, deixa-nos um pouco mais ricos, porque somos todos do gênero humano — e isso é o que você, leitor, poderá apreciar nas próximas páginas. Dr. Marcos J. G. Rambalducci4

4. Economista, Administrador, Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutor pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Diretor da Faculdade Pitágoras e Londrina, professor adjunto na Universidade Tecnológica Federal de Londrina, é autor do livro: O sujeito empreendedor: por uma compreensão una e múltipla.

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L ista

de i lustrações

Figura 1. Quadro demonstrativo dos pontos cegos da visão.

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Figura 2. Processo de criação do holograma.

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Figura 3. Homenzinho na orelha. Imagem do feto invertido, visualizado na orelha, nos estudos de auriculoterapia. 77 Figura 4. Quadro exemplificativo das bússolas reagindo à magnetização.

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I ntrodução

N

o primeiro volume desta obra passamos algum tempo em companhia do avano Hug, que foi conduzido ao planeta AVA depois de um profundo mergulho no Sagrado Vazio. AVA nos foi revelada como uma realidade única, uma trindade que forma a eternidade, por meio deste local, neste agora e em você mesmo. A tríade avana entra agora em seu segundo volume, por meio do qual esta realidade una e trina, ao mesmo tempo nos convida a conhecer a holografia avana, de que trataremos neste volume, uma realidade que surge do alinhamento cerebral, e nos conduz à transcendência de nossa própria vida, usando, assim, o Princípio Antrópico a nosso favor. Por intermédio dessa transcendência, localizaremos os pontos cegos de nossa psique e de nossa existência e, embasados em inovações da física moderna, assumiremos nossa real condição de emissores e receptores de hologramas vivos de todos os infinitos universos. Provando da teoria Holoinformacional, abandonaremos nossa condição de vítima das circunstâncias e assumiremos nosso real estado de criadores de nossas realidades e participantes, juntamente com o imaterial cósmico, da dança criativa, dinâmica e eterna de todos os mundos. 19

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Imersos nessa trindade, poderemos provar da transcendência do corpo e de seus benefícios terapêuticos em nossa existência, por meio da meditação avana e de seu alcance infinito. E esse acesso ao imaterial invariavelmente nos religará ao estofo do universo, que é um estado do mais profundo amor, um amor avano, que sequer pode ser compreendido por nossas mentes, mas que pode ser sentido por nossos corações. O livro já está pronto, pois de fato sempre esteve. Basta que o leitor ouse permitir que a leitura saia de dentro de seu peito. Se isso acontecer, terá acontecido e, se nada acontecer, então isso será o acontecimento. Não existem escritores. O que há são escolhidos. E a estes cabe somente seguir o conteúdo que lhe é apresentado. Não há leitores, o que encontramos são conteúdos latentes que brotam de dentro de cada um e que, algumas vezes, encontram-se com o que está escrito, e outras, não. Estas poucas linhas trazem a tentativa de captar um breve momento, um átimo de segundo da trajetória da gotícula de chuva, que explodiu diante da pressão do ar, mencionada no primeiro volume de AVA, em seu capítulo I, no subtítulo “Vazio permeador”. Mas da mesma forma que toda partícula subatômica contém a totalidade do universo, também esta despretensiosa obra contém, de certa forma, toda a existência, incluindo os gritos de nossos ancestrais misturados aos uivos da luz, talvez a angústia dos errantes, os devaneios de todo louco, as pernas trêmulas dos apaixonados em seu primeiro beijo, o pulsar dos corações, o primeiro suspiro dos desencarnados, o medo do desconhecido e a ousadia de avançar, apesar de tudo. 20

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I. O mundo holográfico de AVA

A existência é a não existência, que foi sugada pela força energética da matéria, que tornou rígido o vazio, no momento em que a consciência se voltou para o externo. G lauco R amos

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O

homem do barco

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sta noite, enquanto espreitava em níveis profundos de consciência, talvez no astral1, Hug teve um sonho que o intrigou, parecendo-lhe bastante revelador, por se tratar de um dos grandes problemas da humanidade atual. Havia um pequeno barco atracado numa baía de um grande braço de mar. Dentro da pequena embarcação existia um homem que ali estava durante todo o dia, observando o oceano e seus movimentos, contemplando o sol, desde o seu nascer, passando por sua ascensão ao zênite e seu declive ao lusco-fusco. O homem permanecia ali, meio fascinado com a beleza da natureza e com a força e a imensidão do oceano, e então procurava algum movimento nas águas, alguma manifestação da vida marinha, e ficava feliz e curioso quando se deparava com as brincadeiras das focas e dos leões marinhos que surgiam na superfície, para novamente desaparecerem. 1. De acordo com Osho, todos nós temos sete corpos, sendo o físico o mais denso deles, seguido pelo etéreo, o astral, o mental, o espiritual, o cósmico e, por fim, o nirvânico. Cada um desses corpos desenvolve seus próprios sonhos, obedecendo a leis específicas que os regem. À medida que você se aprofunda nesses corpos, seus sonhos vão se tornando mais sutis, reais e abrangentes, e por isso foi mencionado que este sonho de Hug talvez tenha vindo da terceira dimensão do sonhar, ou seja, do corpo astral, por meio do qual você pode viajar no espaço e no tempo.

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Aquela imensidão de águas escuras esverdeadas, um monstruoso corpo vivo em constante movimento e com vontade própria, provocava uma mescla de admiração e medo. A noite foi caindo muito rapidamente e o homem intuitivamente pensou em abandonar a pequena embarcação e buscar abrigo em terra. Porém, aquele era seu mundo, e por mais que quisesse, ele não conseguia deixá-lo, pois já era tarde e não dava mais tempo de desembarcar, pois a dominância do breu já se fazia presente. Então, nada mais havia para ser feito. O homem distraiu-se com a beleza da matéria, com a força e com o poder do oceano, e não percebeu que a noite caía e engolia tudo em sua escuridão, e agora não havia mais saída, o dia não tinha como voltar e a proteção em terra também não podia ser alcançada. Diante desta constatação, o homem angustiou-se ao perceber que não havia mais retorno e todo o seu conhecimento, inteligência e preparo, que fizeram dele uma pessoa de destaque, rica e poderosa, não mais podiam auxiliá-lo naquele momento. Entrou em desespero, tentando, em vão, sair daquela situação. Aquele sonho conversava com Hug e lhe dizia que aquele homem representava cada um de nós, inclusive ele mesmo, e um dia na embarcação era uma vida inteira passada na Terra. O barco era o porto seguro, um reduzido local que pode ser entendido por pequenas e ilusórias ilhas de segurança, representadas talvez pela família, pelo emprego, pelas finanças, às vezes pelo corpo físico ou por algum atributo especial, capacidade, qualidade ou dom. O sonho se desnudava diante de seus olhos e Hug compreendia aquelas mensagens oníricas, pois ele também havia 23

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perdido boa parte de sua vida buscando esses chamados “portos seguros”, por meio da pseudoestabilidade de um bom emprego, da paz que poderia advir de um relacionamento, da respeitabilidade que achava que teria por ser membro de uma igreja ou por meio da independência que poderia ser adquirida com o acúmulo de dinheiro. Mas, da mesma forma que o barco era muito pequeno diante da imensidão do mar, que neste caso representa a multiplicidade da vida, também esses locais de suposta proteção serão sempre diminutos, por não poderem abarcar as infinitas possibilidades que a vida nos apresenta a cada milésimo de segundo. A vida, por si só, é uma grande insegurança, pois a ninguém é dado saber o que acontecerá no minuto seguinte, e esta é a natural e grandiosa beleza da existência. A cada momento, cada um de nós cria, por meio de escolhas pessoais, novas e imprevisíveis realidades que interferem, de modo igualmente imprevisível, no tecido da realidade geral. Ninguém sabe o que vai acontecer no momento seguinte e é assim que deve ser, pois, de fato, é assim que é. Uma vida previsível, se isso fosse possível, não seria uma vida, mas um interminável exercício de repetição, que sepultaria de vez nossa capacidade de ser surpreendido com o inusitado. Seria algo parecido com uma agenda a ser seguida, sem imprevistos, sem sobressaltos e, naturalmente, sem nenhum encanto. Mas a vida não é uma agenda. Ela não cabe em insignificantes folhas de papel, e o universo é sem tamanho e nada pode abarcá-lo, pois é ele que tudo abrange. Seguir anotações de agendas retira o sal da existência, tornando a vida sem gosto, sem empolgação, sem entusiasmo. 24

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Hug, que havia provado do mel daquela árvore avana, fato relatado na primeira parte desta tríade, sabia que aqueles que, buscando a segurança e a proteção, afastam‑se da colmeia com medo de sofrer picadas, não eram dignos de saborear aquele manjar divino. Só a insegurança dá aquele friozinho na barriga, diante do imprevisível que tudo pode trazer, por intermédio do qual tudo pode acontecer. Isso é vida, um estado em que a única forma de sentir-se seguro é abraçar a natural insegurança. Na vida, a única certeza é a incerteza, e a única segurança que a pessoa pode ter é a de que tudo é inseguro. Dada a sua inerente realidade mutante, já dizia Heráclito, na existência, “nada é permanente, exceto a mudança”. O indivíduo quer a segurança, busca a segurança, mas nem mesmo sabe o que é. O que é a segurança? Um bom emprego, um casamento, muito dinheiro no banco? Isto não é garantia de nada. Um bom seguro de vida? Não é segurança para ninguém, menos ainda para seus familiares. Esconder-se em casa ou num bunker? Isto é segurança? Claro que não. O que é a segurança? É difícil alguém saber dizer, mas todos buscam um estado seguro, num mundo gerido por inseguranças. O sujeito busca algo fixo, numa realidade em movimento. Quer algo perene numa realidade mutante. É como querer ficar absolutamente parado num mar em movimento. Não há como estagnar o mar e não há como garantir o tipo de segurança que cada um deseja em sua vida. O pesquisador quântico quer ter certeza a respeito da posição e do momentum de uma partícula subatômica, mas isso 25

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é impossível, pois quanto mais souber sobre sua posição, menos saberá a respeito de seu momentum2. Estamos falando do Princípio da Incerteza, cujo nome já revela que não existem certezas, ou seja, o indivíduo nunca terá segurança de nada e não conseguirá localizar a partícula. A partícula se esconde caprichosamente do observador, retirando-lhe todas as certezas, toda a segurança de poder localizá‑la, mostrando a existência de um padrão da própria natureza subatômica, que é de incerteza e de insegurança. “Ah, mas eu posso ter uma segurança mínima, pelo menos um salário para garantir minha subsistência”, diria alguém. A resposta é não, não pode não, e a vida nos mostra isso todos os dias, todos os momentos. Basta ter olhos para ver, pois os empregos se vão no momento em que mais se precisa deles. E essa realidade mutante está se tornando ainda mais acentuada nos dias de hoje, pois as mudanças estão ocorrendo cada vez mais rapidamente. Os amores são livres e não obedecem a previsões, e por isso também se vão, pois não é possível aprisionar o poder atômico do sol. Mas o mais interessante de tudo é que eles voltam no momento em que não mais os buscamos. Esta é a natureza do universo: a imprevisibilidade. A insegurança o acompanhará por toda a sua vida, de seu nascimento até a sua morte. Simplesmente não há o que fazer e, quanto mais segurança buscar, mais inseguro se sentirá. 2. Estamos falando do conhecido Princípio da Incerteza, formulado por Werner Heisenberg em 1927, consistindo numa enunciação, fruto de uma constatação da mecânica quântica, a respeito da imprecisão das medidas simultâneas, em nível subatômico, da posição e do momentum de uma partícula, pois quanto mais souber sobre uma dessas medidas, menos saberá sobre a outra.

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Porém, a insegurança é caprichosa, como o coração de uma mulher, e sempre se transmuta em seu contrário quando é acolhida sem medos. Aceitar e acolher a insegurança é tornar-se seguro. A mente gosta da segurança, ou, melhor dizendo, da pseudossensação de segurança, pois é algo que ela conhece, e por isso é muito difícil entender e aceitar a insegurança. Ela causa muito medo.

* * * Para se sentir seguro o indivíduo tem que ter o controle da situação e, para isso, a pessoa tem que saber o que vai acontecer, tem que saber sobre o futuro, para estar preparada quando ele chegar. O sucesso das videntes e cartomantes se deve ao fato de oferecerem certezas quanto ao incerto. Aqueles que aparentam dominar a arte de prever o futuro exercem verdadeiro fascínio em todos, de um modo geral, pois retiram das nossas costas o pesado fardo da insegurança e da dúvida A incerteza sobre o futuro sempre provocou inquietação na humanidade. A necessidade de saber o que o destino lhes reservava levou os gregos a criarem seus sacerdotes, que dedicavam a própria vida à contemplação, buscando a autopurificação como caminho para receber as mensagens divinas, também chamados de oráculos3, que significava a vontade de 3. Segundo dados históricos, a mais antiga referência ao oráculo foi encontrada na Ilíada, porém, é na Odisseia que consta uma menção clara e direta à existência das consultas oraculares.

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Deus anunciada pelos profetas. Os principais oráculos gregos foram o de Zeus, em Dodona, e o de Apolo, em Delphos. Segundo a mitologia grega, Dodona, no Épiro, a 22 quilômetros de onde se situa atualmente a cidade de Loanina, foi o local que abrigou o mais antigos dos oráculos gregos. Vestígios de sua existência remontam ao ano VIII a.C., bem antes do período arcaico, época de Homero4. As atividades oraculares aconteciam nesse local, num santuário dedicado à Gaia, também conhecido por Dione. Instrumento de previsão do futuro, por meio da obtenção das respostas diretamente de Deus, esse primeiro oráculo se constituía num carvalho considerado sagrado, que ficava no centro de trípodes de bronze, sendo que somente no final do século V a.C. é que foi construído o primeiro templo oracular, que foi dedicado a Zeus. Os questionamentos eram gravados em placas de chumbo e trazidos ao oráculo. O movimento das folhas do carvalho e o som por ele produzido, por meio da ação dos ventos, aliado aos ruídos das aves que ali faziam seus ninhos, eram interpretados pelos sacerdotes que traduziam a vontade de Deus, revelando as respostas às perguntas gravadas no chumbo. Esse santuário oracular sofreu ataques, sendo devastado por duas vezes, a primeira em 219 a.C. pelos etólios e a segunda em 168 a.C. pelos romanos. Porém, foi no ano de 391 que o santuário teve seu fim, quando, no terceiro e último ataque, o carvalho foi cortado por cristãos fanáticos.

* * * 4. Poeta épico grego, ao qual é atribuída a autoria da Ilíada e da Odisseia.

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O homem, mergulhado na inconsciência e por não compreender a magia e a constituição do universo, vem tentando conhecer o incognoscível. Por isso, verdadeiro fascínio exercem as videntes e cartomantes sobre todos, por conseguirem, de certa forma, estancar a insegurança na medida em que revelam o futuro. Mas o futuro é imprevisível, e mesmo quando previsto, pode ser mudado, pois inúmeras são as vertentes e quem o cria somos nós. Uma simples mudança de atitude já é o suficiente para alterar totalmente o futuro de si mesmo e dos outros. E o que o vidente pode sentir sobre sua vida, muito mais facilmente seria sentido por você, caso fosse capaz de sentir-se, mesmo porque o futuro é desenhado por você diuturnamente. Você o vem criando, sem saber e sem perceber, e procura oráculos para lhe contar sobre suas criações. Mas a insegurança é a regra, assim como a escuridão, o vazio e o silêncio. Não há como fugir da regra da própria vida. O mais sensato é aceitar e, quando aceitar, a magia avana se fará presente e a insegurança simplesmente desaparecerá. Você entrará num outro nível de existência, em que a insegurança será seu porto seguro. O movimento do mar não assusta os peixes, pois para eles o mar é seguro, mas provoca pânico nos marinheiros, em especial em dias de tempestades, pois o oceano é muito poderoso e absolutamente inseguro e imprevisível. Entregue-se aos oceanos da existência e não mais sentirá insegurança e, por consequência, não precisará de videntes, pois será acolhido por uma nova dimensão da realidade, uma dimensão que não cabe em nossas mentes, mas somente em nosso sentir. 29

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