Psicologia Positiva dos Filmes

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Psicologia positiva dos filmes Usando filmes para construir virtudes e caracterĂ­sticas fortes

Ryan M. Niemiec Danny Wedding

SĂŁo Paulo 2012



Capítulo 1

Introdução Nenhuma arte perpassa a nossa consciência, da forma como um filme faz, e vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossas almas. Ingmar Bergman, cineasta sueco A arte possibilita nos descobrirmos e nos perdermos ao mesmo tempo. Thomas Merton A segunda citação pelo humilde, mas influente, monge trapista Thomas Merton refere­‑se à razão pela qual muitas pessoas gostam de filmes, e por que o cinema é uma das mais influentes e populares formas de arte. É também uma descrição dos benefícios paradoxais do tema mais importante deste livro, o filme de psi‑ cologia positiva.

A linguagem do cinema é universal Essa expressão popular lembra aos espectadores do poder inerente do cinema. Filmes transcendem todas as barreiras e diferenças, sejam essas barreiras cul‑ turais de linguagem, religião, fronteiras geográficas ou sistemas de crenças. A linguagem é uma forma de comunicar pensamentos e sentimentos, e é um sistema que apresenta regras, sinais e símbolos específicos, que lhe dão forma e significado. Regras similares são encontradas no cinema; entretanto, o cinema não está restrito a um país ou grupo de pessoas. Sendo assim, filmes são mais do que uma expressão da sociedade – eles nos informam sobre a condição humana. A trama de um filme fornece infraestrutura e apoia o subtexto do filme. Subtexto refere­‑se à complexa estrutura que se sustenta sobre as várias asso‑ ciações que a narrativa desperta no espectador; a trama fornece significado de superfície, enquanto o subtexto fornece um significado mais profundo (Dick, 2002). Teorias de psicologia positiva, virtudes e forças encontram­‑se no subtexto

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do filme. Elas emergem como temas e tópicos poderosos, e como qualidades dos personagens, mas abaixo da narrativa. Por exemplo, uma história sobre um homem e seu filho em um campo de concentração tem um subtexto complexo que inclui incríveis criatividade, sacrifício, resiliência e amor (ver Capítulo 2 para uma discussão detalhada de A Vida é Bela, 1997). A paisagem psicológica habitada pelos personagens (isto é, seus instintos, motivações, crenças, emoções e comportamento) é parte do subtexto. Outros componentes do subtexto incluem a cultura e hábitos do cenário e localização, bem como as dinâmicas sociais e políticas das comunidades e orga‑ nizações retratadas em um filme. Outro nível de subtexto é criado mediante o uso de metáforas, por exemplo, as rosas utilizadas em Beleza Americana (1999). A técnica cinemática – cinematografia, luz, som, cenografia, efeitos especiais – desempenha um papel importante na exacerbação dos temas de um filme. Considere os efeitos visuais utilizados em Forrest Gump (1994) que seguem uma pena (simbolizando esperança) flutuando até o término do filme. O espectador desempenha o papel mais importante, o de coparticipação no ato de criar significado ao assistir um filme. O entendimento do filme pelo espectador, suas projeções relativamente ao filme e seus personagens, as infe‑ rências que ele faz e as conclusões que tira e sua abertura em relação ao filme, tudo isso influencia o modo como ele será afetado pelo filme. Se um espectador entende algo acerca do subtexto de um filme antes de assisti­‑lo (por exemplo, as forças e virtudes mostradas), isso irá influenciar a forma como ele focaliza sua atenção e, subsequentemente, quanto de benefício ele irá obter ao assistir o filme.

O movimento da psicologia positiva Há uma história de pesquisa e especulação sobre funcionamento ideal e os fato‑ res que contribuem para o florescimento (Gable e Haidt, 2005), que remonta ao trabalho de William James (1902) sobre a intenção saudável e Gordon Allport (1958) e seu trabalho com características humanas positivas, que se estende ao movimento humanista em psicologia. O trabalho de psicólogos humanistas e existenciais, como Abraham Maslow (1971) e seu exame de autoatualização, Carl Rogers (1961) e seu trabalho com a consideração positiva incondicional, e o trabalho de Irvin Yalom (1980) e Rollo May (1953) sobre significado, contri‑ buiu enormemente para ajudar as pessoas a melhorar seu bem­‑estar e encontrar um propósito e significado em suas vidas.

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O psicólogo Martin Seligman (1998; 1999), pioneiro no campo de psi‑ cologia positiva, inicialmente capturou a atenção do público para esse movi‑ mento por meio de um influente discurso presidencial à Associação Americana de Psicologia em 1998. Seligman frequentemente descreve o movimento da psicologia positiva como o estudo do que constitui a vida agradável, a vida empenhada, e a vida significativa (Seligman, 2002a). Em termos simples, a psi‑ cologia positiva é o estudo científico das forças e virtudes humanas (Sheldon e King, 2001). Na edição do milênio da revista American Psychologist3, Seligman e Csikszentmihalyi (2000b) descrevem a importância de entender e aumentar as experiências subjetivas, isto é, o contentamento e a satisfação com o passado, felicidade no presente e esperança e otimismo para o futuro. Esse movimento é necessário porque o campo da psicologia tem predomi‑ nantemente se focado na identificação, categorização e alívio da patologia, isto é, avaliação, diagnóstico e tratamento da doença psicológica. O movimento da psicologia positiva enfatiza o que está funcionando bem para as pessoas, maxi‑ miza suas forças e promove crescimento futuro. Do ponto de vista clínico, não se trata de apenas consertar o que está quebrado, mas também de nutrir o que há de melhor (Seligman e Csikszentmihalyi, 2000). Em seu manual inovador, Character Strengths and Virtues (Forças e Virtu‑ des do Caráter), Peterson e Seligman (2004) compilaram um sistema abran‑ gente de virtudes e forças e delinearam seis virtudes humanas que podem ser encontradas (quase) universalmente em mais de duzentos catálogos de virtudes, abarcando mais de três mil anos e inúmeros países do globo, indo das prin‑ cipais religiões do mundo à filosofia de Aristóteles, dos escritos de Benjamin Franklin aos códigos samurais. Essas seis virtudes são subdivididas em 24 principais características humanas positivas. Cada característica positiva tinha de preencher a maioria de dez critérios explícitos que constituem um bom caráter (por exemplo, cada uma tem seu valor moral, mesmo na ausência de um desfecho vantajoso evidente). Esse texto tem sido chamado, informalmente, de “Manual das Sanidades”, devido não apenas à sua tipologia sistematizada, escopo e análise guiada pelos dados, mas também por seu foco nas forças da experiência humana, ao invés de suas patologias. Esse manual ajuda a promover outros objetivos do movimento da psicologia positiva, como o de investigar o que constitui a vida agradável, a vida empenhada e a vida significativa, e explo‑ rar os ingredientes e fatores da felicidade. A Figura 1 mostra as 24 forças, suas virtudes correspondentes e o núcleo dessa configuração – uma vida de prazer, engajamento e significância. 3

Revista da Associação Americana de Psicologia (NT).

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Figura 1: Forças e virtudes do caráter segundo Peterson e Seligman (2004). Bravura

Persistência

Integridade

Criatividade

Vitalidade

Curiosidade Amor Abertura de Espírito Amor ao aprendizado

Coragem Sabedoria e Conhecimento

Humanidade Inteligência Social

Uma Vida de Prazer, Engajamento e Significância

Perspectiva Cidadania

Imparcialidade

Bondade

Apreciação da Beleza e da Excelência

Transcendência

Justiça

Gratidão

Esperança Liderança

Temperança Perdão e Compaixão

Humor Espiritualidade

Humildade/Modéstia

Autorregulação Prudência

Seligman (2002a) descreve em mais detalhes a missão da psicologia positiva: Não é tarefa da psicologia positiva lhe dizer que você deveria ser otimista, ou espiritual, ou gentil, ou bem­‑humorado; mas sim, descrever as conse‑ quências dessas características […] O que você faz com essa informação depende de seus próprios valores e objetivos. (p. 129)

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Há três níveis conceituais no estudo do caráter (Peterson e Seligman, 2004), categorizados de geral a específico: virtudes, forças, e temas situacionais. Virtudes são aquelas características principais, universais, valorizadas pelos filóso‑ fos morais e pensadores religiosos. Características positivas são os ingredientes psicológicos ou rotas específicas mediante os quais as virtudes são mostradas. Temas situacionais são hábitos específicos que levam as pessoas a mostrar forças em certas situações. Devido ao fato de Peterson e Seligman se concentrarem no nível intermediário de classificação – forças do caráter –, nós também o faremos, mas iremos nos concentrar nas formas em que essas características são mostradas nos filmes. Em menos de uma década, a psicologia positiva prosperou e influenciou a pesquisa e o trabalho clínico ao redor do mundo. O movimento facilitou o trabalho de numerosos pesquisadores, estudiosos e clínicos ao fornecer uma forma diferente de olhar para as pessoas e seus comportamentos. Atualmente há numerosos manuais de psicologia positiva que falam sobre avaliação, teoria, pesquisa e prática (Joseph e Linley, 2006; Keyes e Haidt, 2003; Lopez e Snyder, 2004; Peterson, 2006; Peterson e Seligman, 2004; Snyder e Lopez, 2002, Snyder e Lopez, 2007). Estudos específicos baseados em forças estão aparecendo em organizações (Buckingham e Clifton, 2001), em psicoterapia (Seligman, Rashid e Parks, 2006), em workbooks ou cadernos de exercícios (Bolt, 2004) e em modelos teóricos chamados de terapia centralizada em forças (Wong, 2006). Particularmente, livros e artigos sobre o estudo histórico e científico da felicidade têm proliferado (ver Ben­‑Shahar, 2007; Gilbert, 2006; Haidt, 2006; Hecht, 2007; Layard, 2005; Lyubomirsky, 2001; 2008; McMahon, 2006). Organizações e encontros de estudiosos que promovem o crescimento contí‑ nuo da psicologia positiva incluem o International Positive Psychology Summit, o European Network of Positive Psychology, vários Centros de Psicologia Positiva localizados em universidades e o Positive Psychology Network. O Positive Psychology Network financia mais de cinquenta grupos de pesquisa envolvendo mais de 150 cientistas de universidades no mundo todo (Seligman, Steen, Park e Peterson, 2005). Um vídeo­‑documentário da Noruega, Quão Feliz Você Pode Ser (2005), ana‑ lisa a psicologia positiva e o campo dos estudos da felicidade e integra questões de um cético cineasta produtor de documentários. Ele inclui dicas para aumentar os níveis de felicidade e a perspectiva de vários pesquisadores da psicologia positiva ao redor do mundo, incluindo Sonya Lyubomirsky, Ed Diener, Robert Biswas­ ‑Diener, o sociólogo John Cacioppo e Ruut Veenhoven, o diretor do Banco de

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Dados da Felicidade em Roterdã, que acumula mais de 8 mil estudos de 120 países com dados sobre a felicidade. Além de várias escolas nos Estados Unidos que têm cursos sobre Psicologia Positiva (incluindo a aula mais popular de Harvard em 2006), a Universidade da Pensilvânia tem um popular curso de pós­‑graduação no qual os estudantes podem obter o grau de Mestre em Artes, em Psicologia Positiva Aplicada. Há também duas revistas científicas, que contam com revisão por pares4, especi‑ ficamente direcionadas a constructos da psicologia positiva – o The Journal of Happiness Studies (publicado nos Países Baixos) e o The Journal of Positive Psychology – e muitas outras publicações direcionadas a forças específicas (por exemplo, o Creativity Research Journal). Esse movimento não está tentando contribuir para uma dicotomia artifi‑ cial que contrapõe o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) com Character Strengths and Virtues (Forças e Virtudes do Caráter); em vez disso, busca integrar a totalidade da experiência humana, que inclui tanto os bons como os maus aspectos. Psicólogos positivos entendem e apreciam as limitações associadas com a identificação do campo da psicologia positiva como “felicidadelogia” ou um deslocamento do paradigma na ciência da psicologia (Peterson, 2006). A psi‑ cologia positiva cresce a partir de estudos robustos sobre bem­‑estar subjetivo e forças do caráter e liga­‑se à psicologia humanista e outras vias de investigação que enfatizam o bem­‑estar. É um erro pensar que a psicologia positiva consiste simplesmente em pen‑ samento positivo, psicologia popular ou espiritualidade jubilosa. No fim das contas, o caminho do psicólogo positivo tem que ser o de refle‑ tir sobre a natureza dos sistemas vivos – sistemas nos quais as emoções positivas agem com emoções negativas, forças do caráter agem com as fraquezas do cará‑ ter, e as virtudes humanas agem com os vícios humanos – em nível intrapessoal, interpessoal e extrapessoal (Hogan, 2005).

O florescer e a razão de positividade O “florescer“ significa viver dentro de uma variação ideal de funcionamento humano, acumulando forças, bondade e resiliência (Fredrickson e Losada, 2005). Isso contrasta com o “languescer”, bem como com sua psicopatologia. Estima­‑se que menos de 20% dos adultos floresçam. Um prognosticador do 4

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Da expressão em inglês “peer­‑reviewed“; revisão por pares, revisão paritária ou arbitragem (NT).


florescer é a razão de positividade, a razão entre os sentimentos e sensações agra‑ dáveis e os desagradáveis com o passar do tempo. Fredrickson e Losada (2005) relataram que a razão média era de 2,9 para indivíduos identificados como flo‑ rescentes. [Essa abordagem da mensuração do funcionamento humano positivo é reminiscente da abordagem de Gottman ao prever quais casamentos seriam bem­‑sucedidos. Gottman (1994a) relatou que os casamentos nos quais a razão de comunicação positiva sobre a negativa era menor que 5 para 1 provavelmente iriam fracassar]. Fredrickson e Losada resumem seus achados como segue: O florescer humano é o funcionamento ideal caracterizado por quatro componentes­‑chave: (a) bondade, indexada pela felicidade, satisfação e funcionamento superior; (b) generatividade, indexada pelo aumento dos repertórios pensamento­‑ação e flexibilidade comportamental; (c) crescimento, indexado por ganhos ao suportar recursos pessoais e sociais; e (d) resiliência, indexada pela sobrevivência e o crescimento que vêm após a adversidade. Cada um desses quatro componentes estará ligado a razões de positividade ≥ 2,9 (pag. 685).

A integração da psicologia positiva e o cinema: uma relação harmoniosa O renomado cineasta Stanley Kubrick uma vez comentou: “Se pode ser escrito, ou pensado, pode ser filmado”. O cinema como meio de comunicação, mais do que qualquer outra forma de arte, é capaz de retratar as sutilezas da mente humana – pensamentos, emoções, instintos e motivos – e seu impacto no com‑ portamento. Isso torna os filmes de psicologia positiva um veículo natural para a análise das forças do caráter e como elas são desenvolvidas e mantidas. Forças frequentemente se associam com o sentido do self, ou a consciência, do indivíduo, bem como com seu comportamento. O primeiro representa um desafio à modalidade predominantemente visual do cinema, uma forma de arte mais adequada à reprodução de ações e comportamento dos personagens do que às sutilezas do caráter. Isso é remediado, em parte, pelo talento e pela criatividade dos cineastas que são capazes de explorar a mente, a identidade e o mundo interior dos personagens por intermédio de imagem, som e o poder evocativo dos filmes. Forças de caráter sobejam no cinema. As forças de caráter da psicologia positiva mais comumente retratadas nos filmes são a criatividade, a bravura, a persistência, a esperança, o amor, a gentileza e a espiritualidade. É relativamente

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fácil encontrar personagens em filmes que representam essas forças de caráter, porque cada uma delas se adequa perfeitamente a uma modalidade visual como o filme. As forças de caráter da humildade, amor ao aprendizado e prudência são menos frequentemente retratadas em filmes. Veja a Tabela 1.1 para uma lista de alguns dos melhores filmes de psicologia positiva que mostram o desen‑ volvimento crítico do caráter e mudam de acordo com cada uma das forças categorizadas por Peterson e Seligman. Tabela 1.1: Filmes de psicologia positiva com as forças e virtudes de caráter correspondentes neles retratadas Filme

Personagem

Virtude

Meu Pé Esquerdo (1989)

Christy Brown

Sabedoria

Criatividade

Janela Indiscreta (1954)

L. B. Jefferies

Sabedoria

Curiosidade

Marge Gunderson

Sabedoria

Akeelah

Sabedoria

Antonia

Sabedoria

Perspectiva

Batman Begins (2005)

Bruce Wayne

Coragem

Bravura

Ídolo, Amante e Herói (1942)

Lou Gehrig

Coragem

Persistência

Erin Brockovich (2000)

Erin Brockovich

Coragem

Integridade

Desafiando os Limites (2005)

Burt Munro

Coragem

Vitalidade

Richard Collier

Humanidade

Amor

Chocolate (2000)

Vianne Rocher

Humanidade

Bondade

Quebra de Confiança (2007)

Eric O’Neill

Humanidade

Inteligência social

Justiça

Cidadania

Jurado no 8

Justiça

Imparcialidade

Lawrence da Arábia (1962)

T. E. Lawrence

Justiça

Liderança

Em Minha Terra (2005)

O povo sul­‑africano

Temperança

Fargo – Uma Comédia de Erros (1996) Prova de Fogo ­– Uma História de Vida (2006) A Excêntrica Família de Antônia (1995)

Em Algum Lugar do Passado (1980)

Feliz Natal (2005) Doze Homens e uma Sentença (1957)

Soldados escoceses, franceses e alemães

Herói (2002)

Sem Nome

Temperança

A Rainha (2006)

Rainha Elizabeth II

Temperança

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Força retratada

Abertura de Espírito Amor ao aprendizado

Perdão/Compaixão Humildade/ modéstia Prudência


Filme

Personagem

Virtude

Forrest Gump (1994)

Forrest Gump

Temperança

Asas do Desejo (1987)

Damiel

Transcendência

Feitiço do Tempo (1993)

Phil Connors

Transcendência

Gratidão

Alexander

Transcendência

Esperança

Zorba, o Grego (1964)

Alexis Zorba

Transcendência

Humor

Campo dos Sonhos (1989)

Ray Kinsella

Transcendência

Espiritualidade

A Eternidade e um Dia (1998)

Força retratada Autorregulação Apreciação da Beleza e da Excelência

Vários filmes retratam um personagem mostrando mais de uma força da psicologia positiva (ver Tabela 1.2). Nesses filmes, é interessante considerar qual é a força dominante do personagem, a força que acentua ou mantém outras nele. A força dominante é frequentemente aquela que é mais crucial para o crescimento do personagem. Esses filmes fornecem uma valiosa oportunidade para professores e clínicos discutirem a psicologia positiva e formas de aumen‑ tar suas forças. Tabela 1.2. Personagens de filmes com múltiplas forças. Filme À Procura da Felicidade (2006)

Personagem

Forças retratadas

Força dominante

Amor ao aprendizado, Chris Gardner

esperança, persistência,

Persistência

perspectiva, vitalidade Criatividade, curiosidade,

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

perspectiva, bondade, Amélie Poulain

imparcialidade, gratidão,

Bondade

apreciação da beleza, espiritualidade

O Mágico de Oz (1939)

Dorothy

Matrix (trilogia) (1999)

Neo

Perdão, esperança,

Espiritualidade/

prudência, espiritualidade

significado

Abertura de espírito, autorregulação, amor,

Abertura de Espírito

esperança, espiritualidade A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005)

Curiosidade, integridade, Charlie Bucket

bondade, amor, esperança,

Integridade

gratidão

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Filme A Voz do Coração (2004) The Prize Winner of Defiance, Ohio (2005) O Novo Mundo (2005)

Personagem Clément Mathieu

Forças retratadas Criatividade, persistência, integridade, bondade

Força dominante Criatividade

Perspectiva, prudência, Evelyn Ryan

persistência, vitalidade,

Esperança/otimismo

esperança, otimismo Pocahontas

Integridade, amor, bondade, gratidão, espiritualidade

Gratidão

Além das múltiplas forças retratadas nos filmes, aprecem também múltiplas virtudes. Particularmente admirável é O Mágico de Oz, no qual vários personagens estão em busca cada um de uma virtude em particular. O Espantalho busca a sabedoria, o Leão, a coragem, o Homem de Lata, a humanidade, o Mágico de Oz, a justiça, e Dorothy, a temperança e a transcendência.

Critérios para um filme de psicologia positiva É importante reconhecer que qualquer descrição de um trabalho de arte o limita; categorizá­‑lo é confiná­‑lo. Ainda assim, fornecer critérios para estruturar­‑se a interpretação e discussão de filmes pode ser heurístico e ter algum valor peda‑ gógico. Niemiec (2007) apresentou quatro critérios para o filme de psicologia positiva, com ênfase especial nas forças e virtudes humanas. Ele argumenta que os filmes de psicologia positiva têm as seguintes características: 1) descrição equilibrada de um personagem exibindo pelo menos uma das 24 forças categorizadas por Peterson e Seligman (2004); 2) representação de obstáculos e/ou empenho ou conflitos que o persona‑ gem enfrenta ao alcançar ou maximizar a força; 3) descrição do personagem que ilustra como sobrepujar obstáculos e/ou aumentar e manter a força; e 4) um tom ou estado de ânimo no filme que é inspirador e edificante. Alguns filmes que não preenchem todos esses critérios ainda podem ser filmes de psicologia positiva: no entanto, acreditamos que os filmes que preen‑ chem todos os quatro critérios são os mais importantes e os melhores exemplos de filmes de psicologia positiva.

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Há três níveis aplicáveis nos quais um ou mais desses critérios podem ser empregados: o personagem do filme, o filme em si e o espectador. O primeiro, o personagem do filme, é o nível no qual irá ocorrer a maior parte da discus‑ são neste livro. Por exemplo, a representação de Julianne Moore da persona‑ gem Evelyn Ryan, em The Prize Winner of Defiance, Ohio (2005)5, oferece um modelo poderoso de esperança e otimismo; os quatro critérios descritos acima já estão todos preenchidos. Algumas vezes, a força ou virtude é aparente no segundo nível, no filme como um todo. Por exemplo, o filme Mar Adentro (2004), é claramente um “filme de justiça” que suscita importantes questões de cidadania, equidade, esco‑ lhas humanas e justiça social. Mar Adentro preenche os quatro critérios. Embora não seja parte dos critérios de Niemiec, esse filme posiciona­‑se em relação a um assunto controverso: o direito de um indivíduo escolher quando e como morrer. O terceiro nível é o mais importante – o do espectador. A maior parte das 24 forças de caráter pode ser potencialmente evocada no espectador como resultado direto do filme. A força predominante de um indivíduo é denominada, na literatura de psicologia positiva, de “força de assinatura”. Aplicamos esse conceito ao pri‑ meiro critério e em nossa discussão das forças em personagens de filme no livro todo. Muitos psicólogos positivos sugerem que indivíduos podem reconhecer e identificar suas cinco principais (das 24) forças de assinatura. Filmes de psicologia positiva também são filmes de heróis, tanto os tipos dramáticos como aqueles da vida cotidiana. O American Film Institute6 (AFI) (2003) identificou os cinquenta heróis mais importantes na história do cinema americano. Consistente com nossa discussão sobre filmes de psicologia posi‑ tiva, o AFI definiu um herói da seguinte maneira: Um personagem (ou personagens) que vence(m) em circunstâncias extre‑ mas e dramatiza(m) um sentido de moralidade, coragem e propósito. Embora possam ser ambíguos ou ter defeitos, frequentemente se sacrifi‑ cam para mostrar o que há de melhor no ser humano.

O engrandecimento e a experiência de ir ao cinema Walt Disney uma vez disse: “Então, ao planejar um novo filme, não pensamos em adultos e não pensamos em crianças, mas apenas naquele lugar puro e into‑ 5 6

Ainda não lançado no Brasil, sem título em português: “O Vencedor do Prêmio de Defiance, Ohio”, em tradução livre (NT). Instituto Americano de Cinema (NT).

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