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ROSE ANDRADE
Quereramar Até que ponto o limite da razão sobrepõe o coração?
TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA
São Paulo - 2016
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Querer Amar
Copyright © 2016 by Rose Andrade Copyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda.
aquisições
Cleber Vasconcelos
coordenação
revisão
SSegovia Editorial
Tamires Cianci Andrea Bassoto
preparação
Lívia First diagramação
capa
Marina Avila
Fernanda Salles (AS Edições)
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Andrade, Rose Querer amar / Rose Andrade. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2016. -- (Coleção talentos da literatura brasileira) 1. Ficção brasileira I. Título. II. Série. 16-00915
CDD-869.3
Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.3
novo século editora ltda. Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – Brasil Tel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br | atendimento@novoseculo.com.br
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Dedicatória
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oi sentir o amor através de seu olhar que me fez escrever a respeito da importância do momento em que duas almas gêmeas se encontram e se unem. Prometo amá-lo até o fim de minha vida, meu querido esposo Márcio. Com meus filhos, Milene e Matheus, compartilho a alegria que desabrochou em mim após realização deste sonho. Foi por causa do apoio de vocês que isto se tornou realidade. Vocês que vibraram cada vez que uma etapa foi concluída. Amo-os infinitamente. Aos meus pais, Maria Eunice e Miguel, meus mestres, em quem me espelho a ser uma pessoa melhor e de fé. E à minha querida irmã Roseane, de quem desejei a existência com toda força do meu coração.
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espirando fundo, Lize, antes de se encaminhar ao barzinho de bebida, lançou o último olhar no salão. A festa transcorria maravilhosamente, não havia com o que se preocupar. Todos estavam se divertindo e sendo bem servidos. As músicas selecionadas completavam o clima de alegria no salão. A escolha do conjunto de músicos havia sido excelente. Realmente, merecia uma bebida para comemorar o sucesso da festa, e nada melhor do que uma taça de champanhe. Afinal, era a sua festa de noivado! Encostada no barzinho, Lize ajeitou o seu vestido de cetim bronze que realçava as curvas do quadril. O tom destacava a pele morena, criando um efeito bastante insinuante. Ela havia prendido os longos cabelos cor de mel e lisos em um coque imperfeito e elegante, salientando, assim, o decote V do vestido, colocando as costas à vista. Os expressivos olhos pretos brilhavam, formando um conjunto atraente. Saboreando a bebida, pôs-se a pensar no passado, em como havia conhecido o seu noivo, Thomas. Um ano atrás, em um pleno feriado da Páscoa, Lize estava de serviço, no plantão do hospital de São Francisco. Da janela do seu consultório avistava o céu azul-turquesa. O Sol erguia-se radiante do horizonte, muito convidativo a um passeio matinal. Apoiou-se no parapeito da janela e sorveu as imagens e sons daquela manhã tropical. A madrugada tinha sido
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intensa, com casos graves de pacientes envolvidos em acidentes automobilísticos. Sentia-se exausta. Havia se desdobrado para atender à demanda. Olhou as horas no relógio e faltavam poucos minutos para encerrar aquele plantão. Fechou os olhos para relaxar um pouco. Minutos depois, a porta se abriu e entrou uma enfermeira: — Doutora Lize, há um paciente com um corte profundo na testa — informou em tom calmo e plausível. — A senhora ainda o atenderá? Posso mandá-lo entrar? “Será que o plantão não vai mais terminar?”, pensou. Lize suspirou desanimada. Abriu os olhos e virou-se para a enfermeira. — Pode deixá-lo entrar — assegurou. — E não precisa me chamar de “senhora”, afinal, temos quase a mesma idade… 28 anos, não? A enfermeira assentiu com a cabeça. — Sim, é claro. — Dito isso, encerrou o assunto, saindo logo em seguida. No mesmo instante, entrou um belo homem de 30 anos, com 1,75m de altura, cabelos negros em desalinho, que tingiam suas têmporas e pele morena, quase cor de oliva. Ele usava jeans e uma camisa branca desabotoada. Estava vestido informalmente, mas tinha bom gosto. Com uma das mãos segurava um lenço manchado de sangue na testa. E quando ele direcionou-lhe o olhar, Lize pôde ver que seus olhos acinzentados tinham um brilho intenso. — Escorreguei na escada e bati a testa na quina da minha escrivaninha — comentou ele com um sorriso luminoso. — Posso ver o corte? Lize inclinou-se sobre o rosto dele, analisou o ferimento. — É um pecado deixar uma cicatriz nesse rosto bonito… — antes mesmo que percebesse, havia pronunciado o pensamento em tom alto. 8
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Os olhos do homem reluziram de satisfação com o elogio espontâneo da médica. Desconcertada, Lize tentou aparentar calma e contornou a situação: — Serão apenas alguns pontos para evitar uma grande cicatriz. Após o procedimento, a médica prescreveu o medicamento sob o olhar dele. — Você ficará bem! — ela entregou-lhe o receituário. — Ficarei melhor se você me acompanhar no café da manhã — reforçou Thomas. — A enfermeira avisou-me que você já estava encerrando o plantão. Está com fome? Lize balançou a cabeça, em uma negativa. — Agradeço o convite, mas eu seria uma péssima companhia para você. Estou muito exausta… — ela o olhou nos olhos e completou: — No momento quero apenas um bom banho e cama. Nada mais. — Combinado. Fica, então, marcado para amanhã. Antes que Lize tivesse tempo para argumentar, ele abriu a porta e saiu. Surpresa com a atitude dele, ela permaneceu imóvel, apenas vendo-o desaparecer pelo corredor do hospital. Amanhã será outro dia. Sem plantão e sem essas loucuras, refletiu Lize. Com uma expressão de desdém, ela recolheu os objetos pessoais da mesa e saiu do hospital em direção ao carro. Finalmente, ia descansar. Sua casa ficava a um quilômetro de lá. Morava com os pais em uma bela casa, enorme, cercada com muro alto, com jardim ao redor e uma piscina na lateral esquerda. Era reconfortante chegar ao lar e ser acolhida carinhosamente. Mesmo sendo filha única, possuindo todo o carinho e atenção dos pais, eles sempre exigiram dela muita responsabilidade e seriedade nos compromissos. 9
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No dia seguinte, Lize acordou bem cedo e foi para o seu consultório. A agenda estava lotada. Havia cinco pacientes além dos que estavam marcados no horário normal. Passava das dez da manhã quando recebeu, pelas mãos de sua secretária, um buquê de rosas vermelhas juntamente com um cartão, que continha os seguintes dizeres: Adorável doutora Lize, devido a compromissos inadiáveis, transfiro o nosso café da manhã para um jantar, hoje, às 20 horas. Seu paciente, Thomas. Obs. eu a busco no seu endereço domiciliar. Ela sorriu pensativa. Como ele conseguiu encontrá-la? O melhor seria fingir que não havia recebido nada. Como poderia sair com um estranho? Amassou o cartão e jogou-o no lixo. Pediu à secretária que providenciasse um vaso com água e que colocasse as rosas na recepção. O restante do dia foi muito agitado. Seu último paciente saiu às 19 horas do consultório. Cansada, Lize não sentia nenhuma disposição para jantar fora. E, pior ainda, sair com um paciente… Convite descartado! Em casa, Lize tomou um banho bem relaxante. Ainda estava enrolada na toalha, em frente ao guarda-roupas, procurando seu surrado pijama, quando sua mãe entrou no quarto. — Lize, tem um cavalheiro aguardando-a na sala. Chama-se Thomas — acrescentou com um sorriso malicioso. — Convidei-o para jantar conosco. Tudo bem? — Eu não acredito que acolheu um estranho em nossa casa! — acusou Lize, com olhar de reprovação 10
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— Ele disse que é seu paciente! É muito educado e gentil. Trouxe até rosas para mim! — Ele é bem audacioso, isso sim… — resmungou Lize. Sem alternativa, vestiu algo bem simples e informal. Não tinha a intenção de impressionar ninguém e, além do mais, estava em sua própria casa. Com um sorriso desanimado, Lize entrou na sala. Thomas estava lindo, vestido formalmente, com os cabelos penteados para trás, barba bem feita. Totalmente diferente daquela imagem do hospital. Naquele momento, Lize arrependeu-se por ter optado por um jeans claro e justo e uma camiseta básica amarela, que lhe davam a aparência de uma jovem colegial insegura. Educadamente, cumprimentou-o e sentou-se perto dele, observando-o com o canto dos olhos. Thomas parecia o dono da casa. Estava todo confortável e seguro de si. Os pais de Lize, Mirram e Dora, estavam deslumbrados com a personalidade e o caráter do rapaz e, de forma bem clara, não escondiam sua simpatia por ele. Durante o jantar, Thomas conversou sobre o seu trabalho e família. Trabalhava na empresa de seu pai, como vice-presidente. Também morava com os pais e era o filho caçula. O irmão mais velho havia seguido a carreira militar, morava fora do estado e estava ausente de casa havia dois anos. A sua única irmã, a do meio, era casada e tinha dois filhos. Após a sobremesa, Lize e Thomas foram sozinhos ao jardim para apreciar a noite de verão. Os dois caminhavam pela grama quando Lize o indagou: — Como conseguiu me encontrar? — Muito simples. No final de seu receituário consta o seu endereço do consultório e também o residencial. Lize soltou um riso natural. — Havia me esquecido completamente desse detalhe. 11
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Ele sorriu, divertido, mas falou em tom preocupado: — Errei ao procurá-la? Não obtendo resposta, aproximou-se dela e acrescentou: — Agora é tarde demais para qualquer objeção. Por alguns segundos, Thomas a fitou. Ela era uma mulher diferente daquelas com quem saía nas badalações da sociedade. Atraente, mas natural. Falava o que pensava, não escondia os seus sentimentos. Seu semblante sempre transcrevia o que passava por sua cabeça. Lize era autêntica. Sem dúvida, uma mulher especial! Sem esconder a atração que sentia, ele baixou os olhos até os lábios dela e retornou a fitá-la, como se pedisse permissão para beijá-la. Segurou o rosto de Lize e a beijou leve e vagarosamente, como se estivesse saboreando cada milímetro dos seus lábios. Com a maior naturalidade, ele parou e sorriu, com um brilho diferente no olhar. — Preciso ir embora. Vou me despedir de seus pais — disse e, então, virou-se de repente e entrou na casa, deixando Lize sozinha no jardim. Atônita, ela permaneceu parada, imóvel. Não havia compreendido o motivo daquela saída tão repentina. Frustrada, praguejou baixinho. Dias depois, Lize foi informada por sua secretária de que Thomas era o solteiro mais cobiçado da cidade e que, frequentemente, aparecia nas colunas sociais com belas mulheres. Era um verdadeiro Don Juan, um conquistador irreverente. Decepcionada com as informações obtidas, Lize prometeu a si mesma que afastaria dos seus pensamentos qualquer intenção de encontrá-lo novamente. De certo, não seria a “próxima conquista” dele e nem tentaria se transformar em uma beldade da alta sociedade. 12
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Nas duas semanas que se seguiram, Lize recusou todos os convites de Thomas. Porém, a insistência era demais. Então, arquitetou o plano de aceitar o próximo convite, na certeza de que não iria ao encontro. Apenas o deixaria à sua espera. Ela o faria sentir o gostinho amargo de brincar com os sentimentos das mulheres. Ia se vingar por todas elas. Sendo assim, procedeu ao plano vingativo. Marcou um encontro com Thomas no mesmo dia em que estaria de plantão no hospital. Sábado à noite, Lize iniciou o plantão com um sorriso maroto nos lábios, como uma criança travessa. Estava muita eufórica. Naquela mesma noite, Thomas receberia uma bela lição! Qual seria a reação dele diante do fora? “De certo, nunca mais me procurará”, pensou ela satisfeita. As horas passaram com rapidez. Lize permaneceu constantemente ocupada, esquecendo-se de sua travessura. Parecia que todos da cidade tinham adoecido ao mesmo tempo. Somente conseguiu descansar um pouco quando o dia já clareava, com casos isolados, possibilitando, entre os intervalos, alguns rápidos cochilos. Após o término do plantão, no estacionamento do hospital, para sua surpresa, deparou-se com Thomas encostado em seu carro com uma expressão furiosa. — Que brincadeira mais sem graça! Passei horas sentado naquele maldito restaurante esperando você e nada! — disse em tom áspero e logo continuou: — Fiquei preocupado, remoendo pensamentos ruins... Poderia ter lhe acontecido algo, um acidente ou mesmo um assalto! — Desculpe-me. Eu deveria tê-lo avisado. Foi um imprevisto… — Lize imaginou a cena no restaurante e segurou o riso. Thomas a fitou desconfiado. Depois, reconsiderou e logo propôs: 13
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— Somente a desculparei se passar o dia comigo. — Não posso. Estou muito cansada! — retrucou ela de imediato. — “E quero um banho e cama” — ironizou Thomas, recordando-se da desculpa dada por ela no dia em que se conheceram. Lize franziu o cenho com o sarcasmo dele. — Ótima memória! — alfinetou. — Sinal de que a batida na cabeça não foi tão prejudicial. Ignorando-o por completo, Lize pegou a chave do carro de dentro da bolsa e fez menção de abri-lo. No entanto, sem nenhum rodeio, Thomas tomou a chave dela. — Não aceito nenhuma recusa. Você me deve isso! — explodiu, lançando-lhe um olhar duro. Em vista da expressão irredutível dele, Lize não teve coragem de negar. — Preciso apenas do banho — justificou em seguida. — Sinto-me imunda após uma longa noite no hospital. — Está certo. Passaremos na sua casa. — Ele lhe devolveu a chave e acrescentou: — Poderá ir com o seu carro e, de lá, seguiremos no meu. — Iremos aonde? — Digamos que seja um programa bem familiar... — ele mal terminou de dizer, deu-lhe às costas e entrou no carro. Lize suspirou fundo. Realmente, Thomas era muito insolente. Faria o que ele queria; porém, faria questão de lhe mostrar ser uma péssima companhia. Com certeza, ele se arrependeria de tê-la pressionado. Uma hora mais tarde, ao passar pelo enorme portão da casa de Thomas, Lize se surpreendeu com tanta beleza ao redor. De longe, avistou uma residência de tamanha grandiosidade, situada em um nível mais alto e rodeada por um imenso pátio de pedras. 14
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Ficou apreensiva ao entrar na sala tão imponente. Por sorte, no último instante optou por usar um vestido vermelho de um ombro só, que lhe dava certo ar de elegância. Nos dez minutos seguintes, Lize foi apresentada à mãe de Thomas, Constância. Uma mulher elegante, de gestos simples, cheia de calor humano. O pai, Christian, era um homem alto, com mechas grisalhas nas têmporas. Parecia a versão mais velha de Thomas. Sua irmã, Vivian, era uma mulher linda e simpática. Demonstrava ser uma mãe carinhosa com seus dois pequenos filhos: Luiz, com dez anos, e Maria, com oito anos. As crianças eram adoráveis e logo gostaram de Lize. — Foi você quem cuidou do dodói do tio Thomas? — perguntou-lhe amavelmente Luiz. Lize olhou-o com ternura. — Sim. — Tio Thomas chorou? — perguntou Maria, com os olhos brilhando de curiosidade. — Ele saiu tão rápido do consultório que nem deu para olhar direito em seus olhos — comentou Lize. — Ele ficou com vergonha de chorar na sua frente! — exclamou Luiz, todo sério. Diante da explanação do sobrinho, Thomas soltou uma risada contagiante. Todos caíram na risada. Daí em diante, a conversa fluiu para melhor. O domingo foi tranquilo. Lize se sentiu feliz e satisfeita por desfrutar da agradável companhia da família dele. Nunca se sentira tão bem acolhida. No fim da tarde, durante a despedida, Vivian sussurrou em seu ouvido: — Você foi a única mulher que Thomas trouxe à nossa casa. Gostamos muito de você. Lize sentiu sinceridade nas palavras. Havia, realmente, conquistado uma amiga. 15
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— Fico muito lisonjeada! — Mas logo consertou o mal -entendido: — Não há nada entre nós. Somos apenas dois conhecidos. — Que pena! — lamentou Vivian. Nos meses que se seguiram, Lize foi um grande desafio para Thomas. Nunca o procurava. Sempre a iniciativa de um possível encontro partia dele. Porém, com o decorrer do tempo, a presença amiga de Thomas tornou-se tão marcante na vida de Lize que ela chegou ao ponto de ela mesma começar a procurá-lo.
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