jefferson oliveira
thales
martins e o livro da
maldição
talentos da literatura brasileira
SĂŁo Paulo. 2014
Copyright © 2014 by Jefferson Oliveira
Coordenação Editorial Diagramação Capa Preparação Revisão
Nair Ferraz Dimitry Uziel Monalisa Morato Gabriela Coiradas Rita Costa Luiz Alberto Galdini
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Oliveira, Jefferson Thales Martins e o livro da maldição / Jefferson Oliveira. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- (Talentos da literatura brasileira)
1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.
14-09021
CDD-869.93
Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93
2014 impresso no brasil printed in brazil direitos cedidos para esta edição à novo século editora ltda. cea - Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 - 11º Andar Bloco A - Conjunto 1111 CEP 06455-000 - Alphaville - SP Tel. (11) 3699-7107 - Fax (11) 3699-7323 www.novoseculo.com.br atendimento@novoseculo.com.br
À tia Dani, que me ajudou a escrever as primeiras redações.
Ao Leitor
A narrativa que você vai ler a seguir foi escrita por alguém que aparentemente morava na mansão dos Martins. Possivelmente, o próprio Thales Martins, como a forma de narrar dá a entender. Eu estive na mansão pouco tempo após o incêndio que a destruiu, e ali encontrei o texto que você lerá nas próximas páginas. Ele escapou da destruição por um milagre. Algumas informações batem, o dono da casa era mesmo o senhor Afonso Martins. Ele realmente criou o neto, Thales, na mansão há alguns anos. Toda a investigação que pude fazer em jornais bateu com o Livro da Maldição. Mas há fatos nele muito fantasiosos que me fazem achar que essa narrativa seja improvável, porém, seja você o juiz quanto a isso. O texto era manuscrito e essa é apenas a primeira parte que consegui que fosse impressa. Tentarei enviar mais assim que possível. Por enquanto, lembre-se de que este conto é provavelmente fictício, mas me surpreende o que está sendo dito, ainda mais vendo a forma que as coisas tomam. Se você é o autor do texto, me procure. Talvez você esteja chateado, já que não queria a publicação, mas achei que tudo o que criou precisava ser apresentado ao público. Por favor, me procure. A você que só quer conhecer a história, boa leitura!
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O MACACO CHIHUAHUA
Não sei se você que está acompanhando este texto é dona Nazaré ou algum dos outros empregados da casa, mas quero te pedir que não leia o que está escrito adiante. Não são fofocas que venham a interessar, nem coisa parecida. Não há razão para você ficar olhando o que eu escrevo. Isto é só um jeito de tentar me sentir melhor com tudo o que aconteceu. Às vezes, é difícil ver as coisas acontecerem e só poder contar para as mesmas pessoas. Se mesmo assim você pretende ler, aviso que sou Thales Martins, neto de Afonso Martins, e se você está aqui é porque trabalha para o meu avô. Não leia isto, não quero saber de ninguém fuxicando sobre minha vida. Se eu descobrir que um dos empregados da fazenda anda mexendo nas minhas coisas, vou pedir ao meu avô que o demita, e isso é uma promessa. Linda me aconselhou a escrever para ver se me sentia melhor, e realmente está me ajudando. Precisava contar isso para alguém e, ao mesmo tempo, não podia contar. Perdi um dos meus melhores amigos recentemente. Talvez as fofocas da casa já sejam sobre isso. Isto aqui não é para falar dessas fofocas, são de outras coisas do passado. Então, por favor, largue este caderno! Isso aqui é só um passatempo, nada além disso. 9
Se você não trabalha para mim e está mexendo nisto, deve ser alguém que mora nessa cidade. Meu aviso: já disse quem sou, entendo qualquer movimento que esteja acontecendo na cidade, mas esta história é a minha história, não tem a ver com movimentos políticos e, portanto, eu não quero pessoas lendo algo assim. Então, eu ameaço: se mexer nisto, se eu descobrir que leu, pegou ou passou para alguém, ainda um Pallas, eu acabo com você! Sou um Martins, não se meta, pois posso descobrir quem é você, te pegar e acabar com você, para aprender a não mexer no que não é seu. Escrevo, nas linhas abaixo, algo que é só para mim, lembranças de uma vida amaldiçoada. Acho que a primeira coisa importante que tenho para contar aconteceu quando eu tinha doze anos. Foi em dezembro daquele ano, minha mãe estava me levando para outra cidade para visitar o meu avô. Nós estávamos num trem. Eu estava indo, na verdade, conhecer o meu avô, pois, até então, eu não o conhecia. Quaquer um que me visse do lado de minha mãe, provavelmente não diria que aquela era a minha mãe. Parecia muito jovem para ser mãe de um garoto da minha idade. Ela tinha uma pele tão branca que, quando eu era criança, ouvia a história da Branca de Neve e facilmente pensava em minha mãe, possivelmente a pessoa mais branca que eu conhecia. Tinha cabelos pretos, num tom tão escuro e tão brilhante que provavelmente nunca mais verei cabelos tão bonitos. Eu, por outro lado, era mulato e tinha o cabelo todo encaracolado. Quanto ao meu pai, nem posso falar sobre isso, pois sempre que eu perguntava sobre ele minha mãe chorava, 10
e eu acabei decidindo que não valia a pena tocar nesse assunto. Mas, depois daquele dia, ela nunca mais poderia me falar a respeito dele; e, às vezes, eu penso que poderia ter perguntado mais uma vez, talvez isso tivesse resolvido parte de um dos meus problemas posteriores. Naquela ocasião, nós estávamos viajando de trem. Apesar de ser um pouco estranho viajar nesse tipo de transporte, minha mãe explicou, na época, que esse era o jeito mais fácil, pelo menos para nós. Carro, nós não tínhamos; ônibus, nenhum iria diretamente para lá, só restava a velha via férrea de Vale Abençoado. Por isso, aquele era um dos poucos trens ainda em uso no Brasil; e era a forma mais barata de minha mãe e eu irmos para lá, portanto, a melhor opção para pessoas com o nosso tempo (dinheiro). Ah,Vale Abençoado é a cidade de meu avô. O porquê desse nome eu não sei, mas acho um péssimo nome, considerando tudo. Seja como for, eu estava sentado num dos velhos vagões ao lado de minha mãe; era todo cinza e desconfortável; as pessoas em volta também me deixavam um pouco sem jeito, eram estranhas, havia dois homens na minha frente que falavam sobre um tal contratante que pretendia usá-los para alguma coisa bem ruim, mas minha mãe me tirou dali, creio que fez isso baseada numa frase que ela adorava dizer: – Se você não sabe, ninguém vai te obrigar a contar. Hoje eu tenho certeza de que ela tinha razão, nos sentamos atrás de duas velhinhas que conversavam sobre tricô, e posso dizer que elas eram, provavelmente, as duas pessoas mais parecidas com minha mãe e comigo naquele ônibus. Nós conversávamos sobre muitas coisas que eu já não lembro mais, mas tem uma parte da conversa que acho 11
que nunca vou esquecer. Eu fiz algumas perguntas “daquelas”, sobre coisas que ela não gostava de falar: – Mãe, eu nunca conheci o meu avô, por quê, num repente – não estranhe essa expressão, é igual a de repente, só que eu li num livro, aí quis usar –, nós estamos indo para lá? – Bem, meu filho, uma vez eu fiz algo errado, e isso fez seu avô e eu brigarmos. As brigas estavam se tornando cada vez piores, até que decidi ir embora – ela falava com uma voz tão triste que eu me perguntava quanto tempo mais ia conseguir contar essa história sem chorar –, mas ele quer te conhecer agora, e eu decidi que você deveria conhecê-lo.Você vai gostar dele. – Não sei não, se ele ficou arrumando briga com alguém tão incrível como você, não acho que possa ser tão bom assim. – Fiz o elogio achando que ia consolá-la, no entanto, esqueci, ou simplesmente não entendi, que era do pai dela que ela estava falando. – Filho, não se esqueça de que quem agiu mal fui eu. Seu avô tentou suportar aquilo de errado que eu fiz, só que em... – nesse momento, ela interrompeu o que dizia. Eu sabia que ela já não ia mais segurar as lágrimas – em algum momento ele não aguentou mais, e aí o jeito foi nos distanciarmos. Mas veja que agora ele está disposto a me perdoar. É estranho, mas acho que a palavra perdão havia ganhado um sentido totalmente novo, e maior, naquelas últimas semanas para minha mãe, algo que a deixava realmente feliz. Eu tive de perguntar: – Do que ele tinha de te perdoar? – Às vezes me arrependo de ter perguntado, não gostava de deixar minha mãe triste, e foi como ela ficou, considerando o que aquele dia foi na vida dela... 12
Ela tomou bastante fôlego antes de falar, cheguei a pensar que fosse desmaiar, mas acabou conseguindo contar, sem me dizer exatamente o que eu queria saber. – Sabe,Thales, recentemente eu aprendi que alguém está sempre nos perdoando, porque nós estamos sempre fazendo algo errado, e se não fôssemos perdoados, as consequências seriam realmente sérias. – Mas você só foi perdoada agora. – Eu sabia que essa questão estava fazendo ela sofrer, mas não podia deixar de querer entender tudo aquilo. – Isso se aplica a você? – É verdade, mas eu acho que é melhor perdoar alguém depois de muito tempo do que nunca perdoar. Eu entendi em parte, mas não posso dizer que compreendi, até que ela deu um exemplo que me deixou com um misto de raiva e surpresa com a capacidade que minha mãe tinha de amar. – Em certa ocasião, um homem me fez muito mal. – Acho que ela estava falando do meu padrasto, um homem chamado Tadeu, mas não sei por que tenho poucas lembranças dele, e as que tenho não valem a pena. – Ele chegou até mesmo a me roubar. Mas também me ajudou bastante, com tudo o que fez e com o presente que me deu, acho que só me resta perdoá-lo, pois no fim ganhei algo bom. – Você está falando do Tadeu? Porque não vejo como perdoar alguém como ele, e... – Antes que eu começasse a dizer todas as coisas ruins que conseguia pensar sobre o cara, minha mãe pôs o dedo em minha boca, com uma delicadeza que só ela podia ter. – Não, eu não falo do Tadeu, esqueça ele, mas lembre-se de que perdoar pode sim ser a chave para também ser 13
perdoado. – Minha mãe adorava essas frases com um efeito bem mestre de filme de artes marciais, mas eu nunca mais esqueci essa frase. Queria dizer que depois disso descobri tudo o que queria saber, mas você perceberá que comigo isso pouco acontece. Depois disso, ocorreu algo com o que minha mãe já havia se acostumado, desde que eu tinha uns quatro ou cinco anos. Eu estava abraçando-a quando senti um estalo na minha coluna – não como aquilo que acontece quando puxamos os dedos das mãos, ou apertamos, era algo bem diferente. Naquele momento, senti uma espécie de premonição. Sei que é estranho, mas sinto isso, às vezes, quando um perigo vai nos atingir. Sabendo disso, eu falei para minha mãe que precisávamos sair dali, porém, assim que levantamos do banco onde eu estava sentado já era tarde. As pessoas disseram que não foi dessa forma, acredite nelas se quiser, mas o fato é que vi um banco de areia gigantesco partir o espaço do trem de onde eu havia acabado de levantar com minha mãe. O vagão do trem estava em pedaços, completamente destruído pelo golpe da areia. Poderíamos ter saído pelo buraco que havia sido aberto no vagão, mas ele ficou virado para baixo, o que não devia ter acontecido, pois aquele foi o ponto atingido pela areia. Tentamos correr para o outro vagão, acho que éramos as únicas pessoas que ainda estavam acordadas, graças à minha mãe ter me empurrado para o chão antes que aquela parte do trem fosse atingida. O vagão já estava sem eletricidade e, para piorar, nós ouvimos um barulho bem estranho, como se alguém tivesse se levantado e estivesse um pouco tonto andando por ali, foi aí que um par de olhos vermelhos e brilhantes como o de um gato 14
apareceu me olhando. Não esperei mais, saí correndo com minha mãe para fora do vagão. Antes de sair eu pude escutar uma voz assustadoramente grossa que disse: – Você morrerá, filho da maldição, mas hoje o destino te oferece outro mal. Tive certeza de que a voz vinha dos olhos de gato, mas, a essa altura, eu e minha mãe já tínhamos saído do vagão com medo de que, seja lá o que era aquilo, estivesse nos seguindo. Decidi ir com minha ela para o outro vagão. Ali a situação não era diferente; as pessoas estavam inconscientes e eu estava correndo com ela vagões adentro, sem ter mais o que fazer. É estranho como essas coisas acontecem, a minha sensação de perseguição me mantinha correndo, mas já não via mais os olhos vermelhos; ouvia passos rápidos de alguma coisa pequena, como um chihuahua, quando percebi isso fiquei um pouco mais calmo, mas não posso dizer que tal coisa me faria parar de correr. Lá fora, minha mãe tirou da bolsa o celular e ligou para uma espécie de número de emergência que havia na lateral do trem. Nós estávamos envoltos numa mata tão fechada que eu me perguntava se eles nos achariam naquela escuridão. Na verdade, ela só viu o número do trem por causa da luz do celular, que não nos ajudava muito. Eu senti novamente uma pontada na espinha e avisei: – Mãe, acho que é melhor nos afastarmos daqui – disse sem vergonha de parecer medroso.Afinal, eu estava com muito medo para ter esse tipo de preocupação, e essas minhas premonições, por mais que eu não quisesse, sempre estavam certas. – Tudo bem,Thales, mas temos que estar por perto para o resgate nos encontrar – disse ela, tentando manter a calma. 15
– Mesmo assim, vamos ficar próximos à mata, alguma coisa me diz que devemos nos afastar do trem. – Eu realmente tinha de tirá-la dali e, quando vi que ela ia recusar outra vez, agarrei o braço dela e puxei-a com toda a força mata adentro. Minha mãe acabou me seguindo, o que acho que foi muito bom, pois, logo depois, ouvimos o som de algo saindo do trem. Puxei-a o máximo que pude e ela me acompanhou, o único problema era ver dentro da mata, para isso tivemos de usar o celular como lanterna. Grande erro. Seja lá o que estivesse nos seguindo, orientou-se pela luz. A essa altura, minha mãe estava me guiando, ela já havia percebido que, de fato, algo nos perseguia, e estava com o celular para iluminar o caminho numa mão e me segurava com a outra. Nesse momento, alguma coisa agarrou o meu pé, eu caí no chão. Queria sinceramente dizer que minha mãe fugiu covardemente e me deixou para trás, ninguém imagina o quanto eu queria poder dizer isso, mas minha mãe deu meia-volta e foi até lá me salvar. A coisa que pegou meus pés tinha mãos pequeninas, que não largaram minhas pernas até minha mãe se aproximar o suficiente para que ela saltasse sobre minha cabeça e, logo depois, sobre o estômago dela. Parecia uma pequenina mão de macaco, só que com garras; ele feriu minha mãe, e então desapareceu. Nenhum de nós mais o viu ou sentiu que estivesse por perto, fiz o caminho contrário rumo ao trem. Depois que não vimos mais sinal da criatura, achei que o melhor a fazer seria levar minha mãe próximo ao local onde logo haveria uma equipe de resgate. 16
Com minha mãe apoiada em mim, cheguei ao trem, coloquei-a sentada em um assento, tentei lembrar-me de todos os filmes de médico que já havia visto, mas não me lembrava de nenhum que falasse sobre arranhão causado por macaco. Minha mãe tentava falar comigo, quando ouvi o som de alguma coisa pequena correndo por perto, eu tentei iluminar com o celular, mas não vi o macaco chihuahua. Eu segurei a mão dela com força e tentei ouvi-la, sabia que ela estava tentando falar e queria entendê-la, então conseguiu pronunciar algo um pouco mais alto, aí eu escutei ela dizendo: – Não se preocupe comigo, meu querido. Vai ficar tudo bem pra mim, mas cuide do seu avô, ele está esperando por você na fazenda e quero que se comporte bem com ele. – Minha mãe falava com um esforço tão absurdo que eu não entendia que animal poderia ter causado aquilo. – Mãe, não fale isso, vai estar lá para conferir. Você estará comigo e vamos causar uma bela impressão ao avô. – Eu disse isso já chorando, pois nem eu mesmo acreditava no que dizia. – Só te peço que se comporte, não responda ao seu avô, ele é um bom homem, eu te peço que o trate como me trataria. Promete? – Ela agora continha o choro e olhava para mim com um olhar que me forçaria a aceitar qualquer coisa que me pedisse. – Sim, mãe, eu prometo, se você prometer que estará lá comigo, pois não vou viver sem você – falei isso com uma fé, que não sabia de onde vinha, de que ela pudesse mudar o que estávamos vendo. – Apenas prometa, eu preciso ter essa confirmação antes de ir. – Ela falava e me olhava como se mais nada fosse 17
importar, como se eu precisasse fazer isso para tranquilizá-la. – Eu prometo! – disse sem argumentos, e não vendo mais saída para tudo aquilo. Foi então que aconteceu algo que me fez perceber que estava diante da minha mãe. – Não vou poder comemorar meu aniversário em agosto. – Ela disse isso, e eu sabia o que tinha de responder, pois ela já tinha me dito isso antes. – Por quê? – Porque nasci em julho. Sei que a piada é sem graça, mas, para pessoas como eu e a minha mãe, é muito engraçada. Minha mãe adorava Chaves, um programa humorístico da TV mexicana. Ela me fez ser fã também. Eu acho que naqueles últimos momentos que nós passamos rindo, por incrível que pareça, de piadas que nós dois já conhecíamos, eu sabia que ela queria apenas me distrair. Entretanto, fui na onda dela, até que, apoiado em seu ombro, peguei no sono. Acho que ela dormiu pouco depois. Só me lembro de acordar no hospital e ouvir coisas absurdas sobre o acidente, as pessoas diziam que não havia sido um bolsão de areia, mas sim uma explosão na casa de máquinas, que havia partido a parte mais fraca do trem. Quando falei sobre os olhos vermelhos e a fuga do macaco chihuahua, as pessoas riram e disseram que eu havia delirado enquanto corria com minha mãe já ferida para fora do trem, mas sei que não foi assim. No dia seguinte, meu avô veio me buscar e me levou para sua fazenda.
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